Pai de Carnaval - Episodio 04: Ela é Uma Criança



JÚLIO NARRANDO:
E o que eu mais desejei estava se realizando naquele momento. Minha anja estava na minha porta, finalmente! Vocês não têm noção da vontade que eu tinha de puxá-la para dentro do meu apartamento, e enchê-la de perguntas.
Tipo onde ela estava esses anos todo? Porque ela nunca me procurou, já que pelo visto ela sabe o endereço do meu apartamento? E talvez conseguir a resposta da dúvida que me atormentava nos últimos dias, se Rodrigo realmente é meu filho? Infelizmente essa e outras dúvidas só poderiam ser sarnadas em um outro momento, estava atrasado para voltar para escola.

[CENA 01 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ DIA]
(Júlio e Bruna continuam se olhando)
JÚLIO – Você não imagina o quanto eu esperava por esse momento.
BRUNA – Na verdade, eu nunca imaginei que fosse voltar aqui novamente. (Júlio fica confuso) Será que poderíamos conversar.
JÚLIO – Claro, só que nesse momento estou atrasado para retornar para o trabalho. Tenho aula daqui a pouco.
BRUNA – Sim, entendo. Sem problema então, podemos marcar um outro momento?
JÚLIO – É o que eu mais quero! (sorri, ambos voltam a ficar em silêncio por alguns segundos)
BRUNA – Então, é melhor eu ir. Não quero te atrasar mais.
JÚLIO – Espera. (volta para sala, termina que colocar alguns papeis em sua mochila e volta para porta) Eu vou com você até lá embaixo! (os dois sorriem, Júlio fecha à porta e vai com a Bruna até o elevador)

[CENA 02 – PRAÇA/ DIA]
(Roberto continua conversando com Rodrigo e continua surpreso com o que ouviu do garoto)
RODRIGO – Eu e ela agora não sabemos o que fazer. Se meu pai descobre isso, ele é capaz de me matar.
ROBERTO – Talvez ele quem vá morrer ao saber disso.
RODRIGO – Como assim?
ROBERTO – Nada, você tem certeza que a sua namorada, que é aquela garota, está gravida?
RODRIGO – Tenho, ela comprou um teste de farmácia, e deu positivo.
ROBERTO – (diz baixo) Se isso é uma pegadinha, é uma pegadinha bem macabra do destino.
RODRIGO – Eu tenho que ir agora, se eu me atrasar mais na lanchonete, meu pai vai brigar comigo novamente. E o que eu menos quero nesse momento, é deixa-lo irritado.
ROBERTO – Claro, te atrasei demais nessa história. É... você pode contar comigo sobre isso, tá bem?! Lembra, na escola sou seu professor, mas aqui fora sou seu amigo.
RODRIGO – Valeu. (Rodrigo vai para casa, Roberto não perde tempo, pega o celular e liga para o amigo Júlio)
ROBERTO – Onde você está?
JÚLIO PELO TELEFONE – Estou indo para a escola.
ROBERTO – Hoje à noite vamos ter uma conversar séria, está bem.
JÚLIO PELO TELEFONE – Está bem, o que foi cara? Parece nervoso? Soube alguma coisa sobre o Rodrigo?
ROBERTO – À noite a gente conversa, agora tô saindo da escola. Beleza então, tchau.

Anoitecendo...

[CENA 03 – APARTAMENTO DO JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(campainha toca, e Júlio vai atender)
JÚLIO – Oi. (beija o rosto dela) Não esperava você me visitar! Entra.
VIVIAN – (entrando com Lívia logo atrás de cabeça baixa) Está sozinho. (Júlio beija a testa da filha)
JÚLIO – Estou, eu moro sozinho, esqueceu.
VIVIAN – É que precisamos ter essa conversar em particular. (olha séria para Lívia, Júlio estranha)
JÚLIO – Cadê o...
VIVIAN – Deixei em casa, a conversa que precisamos ter será apenas entre nós.
JÚLIO – Vocês não preferem comer alguma coisa, preparei a sua comida favorita, filha...
VIVIAN – Depois Júlio, primeiramente a Lívia tem algo pra contar pra você. (Júlio repara que ambas estão nervosa)
JÚLIO – O que você tem para me contar, Lívia?
VIVIAN – Anda Lívia, você conta ou devo contar?

[CENA 04 – LANCHONETE/ NOITE]
(Rodrigo está atendendo uma mesa, quando seu pai o chama)
SAMUEL – Ei garoto, vem cá. (Júlio anota uns pedidos, se afasta da mesa, e vai para o balcão) Vou ali comprar umas coisas, e quero que você fique tomando conta da lanchonete, até eu voltar. (Rodrigo estranha o que seu pai iria comprar à noite, mas decide não querer saber)
RODRIGO – Pai, hoje a lanchonete está movimentada, como vou conseguir olhar o caixa e pegar os pedidos?
SAMUEL – Não sei garoto, se virá. E aí de você se algum cliente sair sem pagar. (sai de trás do balcão e vai para a rua)
RODRIGO – Mas essa agora! (preocupado, vai até uma mesa que estava o chamando)

[CENA 05 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
VIVIAN – Então Lívia, você vai contar ou prefere que eu conte?
JÚLIO – Calma Vivian, para de pressionar a menina. Estou percebendo que as duas estão muito nervosas, portanto, o assunto deve ser sério.
VIVIAN – Bastante sério.
JÚLIO – O que você tem para me contar filha?
LÍVIA – Pai, eu... (fica nervosa, e para de falar) ... não consigo. Desculpa pai, eu não queria isso. (senta-se no sofá, de cabeça baixa)
VIVIAN – Engraçado que para fazer você consegue, agora para contar a verdade para o seu pai.
JÚLIO – Deixa ela, Vivian. (senta ao lado da filha) O que está acontecendo, filha? (Lívia pensa em contar novamente, mas desiste, e sua mãe que conta)
VIVIAN – Já que sua filha não tem coragem, eu conto. Ela está grávida de um aluno da sua escola.
JÚLIO – (surpreso) O que?
VIVIAN – Quando você me deu a ideia de matricular nossos filhos onde você trabalha, eu pensei que era para você ficar de olho neles.
JÚLIO – Calma Vivian, isso é verdade filha? (Lívia começa a chorar)
VIVIAN – É sim, você precisa tomar alguma atitude. Ela não quer me contar quem é o pai, e se ele for seu aluno, você deve ...
JÚLIO – (interrompe) Calma aí Vivian, vamos conversar com calma, não ver que a menina está nervosa.
VIVIAN – Calma? Ela só tem 15 anos, Júlio. Uma criança grávida, e você está me pedindo pra ter calma.
JÚLIO – Só que as coisas não vão se resolver assim, na base da discussão. Como você descobriu isso?
VIVIAN – Ela me contou hoje à tarde.
JÚLIO – E você tem certeza filha? (Lívia confirma com a cabeça) Quem é o garoto? Ele é meu aluno?
LÍVIA – Acho que não.
VIVIAN – Acha que não?! Você tá querendo dizer que você não sabe quem é o pai desse filho?
JÚLIO – Assim você está ofendendo menina.
LÍVIA – Eu sei quem é pai, só que ele não é da minha turma. Ele é do 2° ano.
JÚLIO – Ele sabe que você está grávida?
LÍVIA – Contei para ele hoje.
JÚLIO – E qual foi à reação dele?
LÍVIA – A mesma do senhor.
VIVIAN – Você tem que procurar esse garoto, e dar uma boa lição nele e exigir que ele assuma essa criança.
JÚLIO – Eu vou sim procurar esse garoto, mas não vou lá para assustar o menino. Vamos conversa com a família dele, vamos resolver isso na base da conversa, e não na força.
VIVIAN – É, vendo você assim, acho que fiz bem mesmo ter me divorciado de você.
JÚLIO – Sabe de quantos meses pelo menos?
LÍVIA – Acredito que seja uns dois mais ou menos. Ele é meu namorado pai, ele vai assumir sim essa responsabilidade.
VIVIAN – Namorado esse que não veio pedir a permissão de ninguém aqui.
LÍVIA – Tínhamos um relacionamento escondido. Como ele também estuda na mesma escola, e o senhor é professor de lá e meu pai, ele ficou com medo que impedisse a gente.
JÚLIO – Então vocês se amam, né isso? (Lívia confirma com a cabeça)
VIVIAN – Só que amor nenhum vai sustentar essa criança. Júlio, se você está pensando que eu vou ficar de babá desta criança, você está muita enganada viu.
JÚLIO – A Lívia tem um pai, tá legal! Se a mãe não quer cuidar do próprio neto ou neta, não se preocupa, você pode trazer pra cá que eu cuido. Agora, para de chorar tá, amanha você me apresenta esse namorado, e vamos conversar nos três.
VIVIAN – Nos quatro, eu quero conhecer esse garoto.
JÚLIO – Depois que você se acalmar! Nesse estado você não tem condição nenhuma de diálogo. Amanha na escola, apenas eu, a Lívia e o namorado dela.
LÍVIA – Obrigada, pai! (Lívia o abraça)
VIVIAN – Eu ainda acho que prefiro participar desta conversar, porque estou vendo que você não vai tomar decisão nenhuma sobre o assunto.
JÚLIO – Está decidido Vivian, tanto que se a Lívia quiser, ela pode dormir aqui hoje. Assim fica melhor, que vamos juntos para o colégio amanhã.
VIVIAN – Tanto faz!
JÚLIO – Você quer filha? (Lívia confirma com a cabeça, quando limpa as lagrimas do rosto)
VIVIAN – Então, vou em casa buscar seu material.
JÚLIO – Está bem.
VIVIAN – Não demoro. (Vivian sai do apartamento, Júlio segura a mão da filha)
JÚLIO – Vai ficar tudo bem. Se você e esse garoto se amam de verdade, vou resolver tudo.

[CENA 06 – LANCHONETE/ NOITE]
(Rodrigo está arrumando a lanchonete sozinho, quando sua mãe chega)
BRUNA – Boa noite, filho!
RODRIGO – Boa noite, mãe.
BRUNA – Cadê seu pai?
RODRIGO – Ele saiu dizendo que iria comprar algo e até agora não voltou.
BRUNA – E você ficou na lanchonete sozinho?
RODRIGO – Fiquei, mas a Márcia me ajudou. Saiu tem pouco tempo, e fiquei aqui sozinho.
BRUNA – Peço tanto para que seu pai um dia leve jeito na vida. Eu vou lá em casa, trocar de roupa e venho te ajudar.
RODRIGO – Valeu, mãe. (quando a mãe dele ia entrando para a cozinha, Rodrigo a chama) Mãe?
BRUNA – O que foi?
RODRIGO – (pensa em contar sobre o lance dele com Lívia, mas deixa pra depois) Nada não, era algo com o dever da escola.
BRUNA – Pode deixar que te ajudo também com isso.
RODRIGO – Valeu. (ela entra na cozinha, enquanto ele continua arrumando a lanchonete)

[CENA 07 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Júlio entra na sala, e encontra Lívia deitada no sofá, mexendo no celular)
JÚLIO – Arrumei seu quarto já, viu?!
LÍVIA – Obrigada, pai.
JÚLIO – O que você planeja daqui em diante?
LÍVIA – Eu não sei. (senta-se no sofá, Júlio se senta ao lado) O senhor lembra quando eu tinha 9 anos, e o senhor perguntou que carreira eu queria seguir?
JÚLIO – (sorri) Lembro, você sempre respondia que queria ser uma advogada de grande prestígio.
LÍVIA – Agora eu não sei mais se quero isso.
JÚLIO – Ter um filho na sua idade, deve ser assustador. Imagino que os jovens que passam por isso, sintam medo, acreditando que a vida de sonhos deles acabaram. Mas o que eu posso dizer filha, é que não. Não acabou ainda. Um filho não é impedimento nenhum de uma mãe ou de um pai em poder estudar novamente, procurar um emprego, pelo contrário, um filho deveria ser a força para o pai ou a mãe tentarem continuar a vida de onde parou.
LÍVIA – O senhor não ficou tão surpreso, quando soube que eu estava grávida.
JÚLIO – Meu trabalho como professor, já me fez presenciar muitos casos de meninas da sua idade, ou até menos, engravidarem, e algumas até desistiram da escola. Talvez por vergonha, do que os colegas iriam comentar, coisa que já presenciei bastante ou porque a família os tirava, e os obrigavam a trabalhar, obrigava o pai assumir.
LÍVIA – O senhor com certeza vai fazer isso com ele?
JÚLIO – Não, porque eu não tenho esse direito. Ele como você, são criança ainda, nessa situação, devem mais é receber o apoio da família, incentivo em continuar os estudos. Certo que uma criança não vai sobreviver com isso, os pais devem sim procurar um emprego, ter com o que se sustentarem, mas não devem esquecer os estudos. Porque o que abre muito mais caminhos para qualquer individuo, é isso filha, e pode ter certeza, que tudo o que você aprender, ninguém vai te tirar, ele será seu por resto da vida. Você e ele devem sim se preocupar com o futuro dessa criança, mas ele só será possível, se o futuro de vocês existir.
LÍVIA – (sorri e o abraça) Obrigada!
JÚLIO – Eu vou terminar lá dentro a minha aula, quando for deitar só me avisar.
LÍVIA – Está bem. (beija a testa da filha e vai para a cozinha)

JÚLIO NARRANDO:
Que situação. Nunca fui de obrigar ninguém a nada, mas essa situação pedia que fosse um pouco autoritário. Eu não sei quem é esse garoto, mas também não podia criar um perfil para ele sem ao menos conhecê-lo. Vai que ele é um garoto de bem, e apenas não tomou cuidado. De qualquer forma, pretendo ter uma conversa séria com ele amanhã. Realmente quero saber quais são as suas intenções, saber se os dois irão ter condição de ter criarem essa criança juntos e se o que os dois sentem um pelo outro é capaz de resistir diante a responsabilidade de criar um filho.

[CENA 08 – CASA DE RODRIGO/ COZINHA/ NOITE]
(Rodrigo está na cozinha com sua mãe, ela está o ajudando com algumas atividades da escola)
RODRIGO – Só esse e terminamos.
BRUNA – Que bom filho, então quando você termina aí, vou lavando essas louças. (Rodrigo fica terminando atividade, quando sua mãe caminha até a pia. Os dois ficam em silêncio por alguns minutos, Rodrigo termina sua atividade, guarda seu material e tenta criar coragem para conversar sobre Lívia)
RODRIGO – (indo até a pia) Quer ajuda?
BRUNA – Não precisa, estou terminando já!
RODRIGO – Aproveitando que estamos sozinhos mãe... eu quero falar um assunto com a senhora.
BRUNA – É sobre a escola? É aquele professor de novo, que continua de olho em você?
RODRIGO – Não, não. Aquele ali, deixou de me perseguir.
BRUNA – Então, sobre o que é que você quer conversar?
RODRIGO – Nem sei como contar isso, mãe. (se afasta de sua mãe, de cabeça baixa)
BRUNA – (percebe o filho estranho, então para de lava louça e presta atenção em Rodrigo) Parece ser sério, o que foi filho?
RODRIGO – (nervoso) Prefiro contar primeiro para senhora, do que para o pai.
BRUNA – Claro, conta o que foi!
RODRIGO – É que... (tenta criar coragem, mas seu pai chega em casa)
SAMUEL – (entrando na cozinha) Fechou a lanchonete direito?
RODRIGO – (perdendo a coragem de contar, volta a sentar-se na mesa) Sim.
SAMUEL – Amanhã vou conferir se está tudo certo mesmo.
BRUNA – Rodrigo disse que você saiu para comprar algo. O que você comprou?
SAMUEL – Deixei na lanchonete. (sai da cozinha sem dizer nada, e Bruna não acreditou na história)
BRUNA – Esse aí pensa que me engana. Tenho certeza que ele foi jogar apostado com os amigos. (caminha até Rodrigo) Então filho, o que você queria me contar?
RODRIGO – Melhor deixar para uma outra hora. (levanta da mesa, com sua mochila nas costas) Está tarde, tenho que acordar cedo amanhã. (beija sua mãe e sai da cozinha) Boa noite.
BRUNA – Boa noite, filho. (fica pensativa olhando para Rodrigo saindo, volta para a pia)

Amanhecendo...

[CENA 09 – C. E. RICARDO ALVEZ/ SALA DOS PROFESSORES - QUADRA/ DIA]
(Júlio entra na sala dos professores, e tempo depois, Roberto entra)
ROBERTO – Bom que chegou, temos que conversar. Melhor irmos lá pra quadra.
JÚLIO – Eu estava indo exatamente para lá, só ia pegar aqui meu livro.
ROBERTO – Beleza, então te encontro lá. (Roberto sai nervoso da sala, Júlio pega seu livro e vai para a quadra. Chegando lá, ele procura por Roberto, mas encontra sua filha sentada na arquibancada)
[QUADRA]
JÚLIO – Seu namorado chegou?
LÍVIA – Ainda não.
JÚLIO – Você ainda não me contou o nome dele?
LÍVIA – É Rodrigo. O senhor não deve conhecer, porque não é seu aluno, mas já deve ter visto ele por aí.
JÚLIO – Rodrigo! Se bem que, deve ter mais de um Rodrigo matriculado nesta escola. (nem lembra de seu possível filho)
LÍVIA – Quando ele chegar o senhor vai conhecê-lo. (Júlio lembra que o filho de sua anja, também se chama Rodrigo, mas ele não quis acreditar que seja ele, porque seria coincidência demais isso) Ele chegou, vou lá falar com ele. (Lívia se afasta de seu pai, e vai até o Rodrigo que estava na entrada da quadra. Júlio o vê-los juntos, fica surpreso. Roberto aparece ao lado dele nesse exato momento)
ROBERTO – É sobre isso que eu quero falar com você. Estava enganado, eles não são simples amigos, cara.
JÚLIO – Eles são namorados!
ROBERTO – Isso mesmo, eles são... espera, como você sabe?
JÚLIO – Lívia contou para mim.
ROBERTO – Então você sabe que ela...
JÚLIO – Que ela está grávida, e o pai da criança é o Rodrigo!

Continua no Episódio Cinco...

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