O Vidente - Capítulo 01



UMA NOVELA DE NATHAN FREITAS
CAPÍTULO 1
“EU SOU UM VIDENTE”
DIREÇÃO GERAL DE DRAMATURGIA #DNA
HENZO VITURINO

CENA 1. EXTERNA – RUAS DE FORTALEZA/CARRO DE MURILO – NOITE.
CENAS SOBREVOADAS SOBRE A CIDADE, MOSTRANDO AS RUAS, AVENIDAS, O MOVIMENTO FRENÉTICO DOS CARROS, ÔNIBUS ETC. CORTAMOS RÁPIDO PARA O CARRO DE MURILO NA AVENIDA. DESTACAR ELE NO VOLANTE. TOCA UMA MÚSICA BEM RITMADA.
CENA 2. EXTERNA – RUAS DE FORTALEZA – NOITE.
O CARRO DE MURILO DESPONTA NA ESQUINA. ELE PÁRA, DESCE. QUANDO VAI FECHAR O CARRO DOIS HOMENS ARMADOS SE APROXIMA.
HOMEM 1: PASSA A CHAVE DO CARRO. O DINHEIRO, O RELÓGIO. VAMO, VAMO.
MURILO: QUE É ISSO, AMIGO? FAZ ISSO NÃO. POR FAVOR? COMPREI ESSE CARRO HÁ POUCOS DIAS.
HOMEM: CALA A BOCA. TU QUER MORRER? PASSA LOGO.
MURILO TREMENDO PASSA A CHAVE DO CARRO A CARTEIRA E O RELÓGIO. OS DOIS BANDIDOS ENTRAM NO CARRO E SAI. MURILO DESESPERADO.
CENA 3. INTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – SALA – NOITE.
A CÂM/ DETALHA O LOCAL, VENDO SER UMA CASA DE BONS MÓVEIS. BATEM NA PORTA. É MURILO, DESNORTEADO.
MURILO: SORAIA? ABRE AQUI. SORAIA!
SORAIA APARECE DE CAMISOLA, ASSUSTADA. ABRE A PORTA.
SORAIA: O QUE FOI? O QUE ACONTECEU?
MURILO: (ENTRANDO) ROUBARAM MEU CARRO.
SORAIA: QUANDO?
MURILO: AGORA HÁ POUCO. AQUI EM FRENTE A SUA CASA. ELES CHEGARAM ENCOSTARAM O REVÓLVER NA MINHA CARA. NÃO PUDE REAGIR.
SORAIA: MEU DEUS, MURILO. TE MACHUCARAM? FIZERAM ALGUMA COISA COM VOCÊ?
MURILO: NÃO. CHEGARAM E FORAM LOGO PEDINDO A CHAVE DO CARRO.
SORAIA: MAS ELE TÁ NO SEGURO, NÃO TÁ?
MURILO: NÃO. EU IA POR ESSA SEMANA. TANTA COISA PRA RESOLVER.
SORAIA: AH MEU DEUS, MURILO.
APRECE PLÍNIO.
PLÍNIO: O QUE FOI?
SORAIA: ROUBARAM O CARRO DO MURILO, PLÍNIO.
PLÍNIO: NOSSA. FIZERAM ALGUMA COISA COM VOCÊ?
MURILO: NÃO. COMIGO TA TUDO BEM. MAS EU SÓ PENSO DE COMO VOU FAZER PRA IR TRABALHAR. VOCÊ SABE QUE ESSE CARRO É MEUS PÉS E MINHAS MÃOS PRA TUDO.
PLÍNIO: E LEVARAM MAIS COISAS?
MURILO: O MEU DINHEIRO TAMBÉM LEVARAM.
PLÍNIO: QUE COISA. ESSE MUNDO TÁ PERDIDO MESMO.
SORAIA: VOCÊ VAI NA DELEGACIA, NÃO É?
MURILO: QUE DELEGACIA, SORAIA? É MESMO QUE NADA.
MURILO SAI PARA O LADO, ACENDE UM CIGARRO, FICA PENSATIVO. LEMBRA DE ALGO.
MURILO: AH MEU DEUS! FOI ELE. FOI ELE!
SORAIA: ELE QUEM?
MURILO: EU DEVIA TER DESCONFIADO.
SORAIA: DE QUEM VOCÊ TÁ FALANDO?
MURILO: ELE ME AVISOU PLÍNIO. MAS QUE CRETINO! MAS QUE BURRO QUE FUI.
SORAIA: QUEM MEU BEM?
MURILO: O DANIEL. UM AMIGO. ESSE CARA TA APRONTANDO DEMAIS. E COMO ESTÁ SEM O CARRO QUE FOI PRA OFICINA, ARRANJOU UM JEITO DE CONSEGUIR UM CARRO E DINHEIRO. CRETINO! FILHO DUMA FIGA. CACHORRO. MAS EU PEGO ESSE DESGRAÇADO.
CENA 4. INTERNA – APARTAMENTO DE LUZIA – SALA – NOITE.
TOCA A CAMPAINHA. RAQUEL ABRE A PORTA. É DANIEL.
RAQUEL: OI AMOR? VOCÊ DEMOROU. PENSEI QUE NÃO VIESSE MAIS.
DANIEL: O TRÂNSITO INTENSO. QUASE NÃO CONSIGO PEGAR UM TÁXI.
CARMELA CHEGA POR ALI, E SENTA NO SOFÁ. ELA LER UM LIVRO.
DANIEL: BOA NOITE CARMELA?
CARMELA NÃO RESPONDE. O IGNORA.
RAQUEL; EU TOU PRONTA AMOR.
DANIEL: SABE O QUE É QUERIDA? NÃO VAI DAR PRA GENTE SAIR HOJE.
RAQUEL: POR QUE AMOR? ME PRODUZI TODA.
DANIEL: DESCULPA BENZINHO. EU NÃO LEMBRAVA QUE TINHA MARCADO COM MEUS AMIGOS. AMANHÃ, TÁ BOM?
RAQUEL: FAZER O QUÊ.
CENA 5. INTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – SALA – NOITE.
NA CONTINUAÇÃO...
PLÍNIO: ESSE TEU AMIGO É DOIDO OU O QUÊ?
MURILO: É UM CRETINO, IRRESPONSÁVEL. ISSO QUE ELE É.
TECA APARECE.
TECA: BOA NOITE?
SORAIA: ASSALTARAM O MURILO E LEVARAM O CARRO DELE.
TECA: NOSSA. JÁ DEU QUEIXA?
MURILO: QUE QUEIXA O QUÊ, TECA. QUER SABER, VOU FAZER EU MESMO O QUE DEVE SER FEITO.
SORAIA: VER LÁ MURILO O QUE VOCÊ VAI FAZER.
MURILO: NÃO SE PREOCUPE. EU SEI MUITO BEM O QUE TENHO QUE FAZER.
MURILO E SORAIA SAI. TECA AJUSTANDO SEU VESTIDO TOMARA QUE CAIA DE FRENTE PARA O ESPELHO. PLÍNIO FICA OBSERVANDO.
TECA: O QUE FOI, PLÍNIO? NUNCA ME VIU?
PLÍNIO: OLHA AQUI, DONA TECA, A SENHORA DEVERIA USAR UMA ROUPA MAIS DECENTE. UMA MOÇA COMO VOCÊ DEVE VESTIR ROUPAS MAIS FECHADAS. E NÃO MOSTRANDO O CORPO.
TECA: PODE PARAR, HEIN. EU VISTO MINHAS ROUPAS DO JEITO QUE EU QUISER. EU NÃO SOU SUA FILHA PRA VOCÊ QUERER MANDAR EM MIM. TÁ ME OUVINDO? AINDA MAIS COM UM CALORÃO QUE TÁ.
PLÍNIO: NÃO TOU SENTINDO CALOR NENHUM.
TECA: MAS EU TOU.
PLÍNIO: DESAVERGONHADA. (SAI.)
TECA O IGNORA E SAI.
CENA 6. EXTERNA – FRENTE DA CASA DE SORAIA E PLÍNIO – NOITE.
SORAIA: MURILO, VOCÊ VAI LÁ E FAZ A QUEIXA, EU FICO AQUI TE ESPERANDO.
MURILO: NÃO PRECISA ESPERAR MEU BEM. EU POSSO DEMORAR.
SORAIA: VOCÊ TEM CERTEZA QUE FOI COISA DESSE SEU AMIGO?
MURILO: É CLARO QUE TENHO. EU SEI ONDE ELE DEVE TÁ AGORA.
SORAIA: ENTÃO ME LIGA TÁ? ASSIM FICO MAIS TRANQUILA.
MURILO: TÁ BOM. (BEIJA SORAIA E SAI.)
CENA 7. INTERNA – HALL DO APARTAMENTO DE LUZIA – NOITE.
DANIEL E RAQUEL ABRAÇADOS.
RAQUEL: FICA MAIS UM POUCO, VAI.
DANIEL: NÃO POSSO AMOR. MARQUEI COM MEUS AMIGOS.
RAQUEL: VOCÊ NÃO TÁ MENTINDO PRA MIM?
DANIEL: CLARO QUE NÃO, QUERIDA. É SÓ UM CHOPINHO QUE VOU TOMAR.
RAQUEL: TEM CERTEZA?
DANIEL: CLARO.
RAQUEL: ENTÃO, TÁ.
SE BEIJAM E DANIEL SAI.
CENA 8. INTERNA – APARTAMENTO DE LUZIA – SALA – NOITE.
LUZIA DE FRENTE PARA O ESPELHO, PENTEANDO OS CABELOS.
LUZIA: VOCÊ DEVIA SER MAIS DELICADA. TODO MUNDO GOSTOU DO MEU CORTE DE CABELO. SÓ VOCÊ QUE CRITICA.
CARMELA: ACONTECE QUE EU NÃO SOU TODO MUNDO. E OUTRA COISA: ACHO RIDÍCULO UMA MULHER QUE TENTA ASSUMIR UMA JUVENTUDE QUE ELA NÃO TEM MAIS. EU ACHO. E TAMBÉM ACHO QUE AS PESSOAS DEVE ASSUMIR IDADE QUE TEM. NÃO ADIANTA NADA FINGIR PROS OUTROS.
LUZIA: CARMELA, EU NÃO FIZ ISSO PROS OUTROS. FIZ POR QUE QUIS ME SENTIR MELHOR.
CARMELA: (IRÔNICA) BOM, ENTÃO NÃO TEM MAIS PROBLEMAS, NÃO É?
A CAMPAINHA TOCA. LUZIA ABRE A PORTA. É MURILO.
LUZIA: MURILO, COMO VAI?
MURILO: PÉSSIMO. O DANIEL TA POR AQUI?
LUZIA: ACABOU DE SAIR. O QUE HOUVE? VOCÊ TÁ COM UMA CARA.
MURILO: POIS É. EU FUI ASSALTADO. LEVARAM MEU CARRO, MEU DINHEIRO, MEU RELÓGIO, ENFIM...
LUZIA: MEU DEUS.
APARECE RAQUEL.
RAQUEL: MURILO?
MURILO: OI RAQUEL. VIM SABER SE O DANIEL APARECEU POR AQUI.
RAQUEL: ACABOU DE SAIR.
MURILO: DESGRAÇADO.
RAQUEL: O QUE ACONTECEU?
LUZIA: ELE FOI ASSALTADO. LEVARAM O CARRO E TUDO.
RAQUEL: JURA MURILO? QUE LÁSTIMA!
MURILO; FOI ELE, VIU? FOI O DANIEL QUE ROUBOU MEU CARRO.
RAQUEL: O DANIEL? MAS POR QUE ELE FARIA UMA COISA DESSAS?
MURILO: E VOCÊ NÃO CONHECE SEU NAMORADO? UM CRETINO.
LUZIA: MAS POR QUE VOCÊ ACHA QUE FOI ELE?
MURILO: POR QUE ELE ME AVISOU QUE EU SERIA ASSALTADO.
RAQUEL: AVISOU COMO?
MURILO: FALOU QUE EU IA SER ASSALTADO E FUI.
RAQUEL: AH! MAS QUE LOUCURA, MURILO. VOCÊ ACHA QUE SE O DANIEL FOSSE TE ASSALTAR ELE IRIA TE AVISAR PRIMEIRO? VOCÊ TÁ LOUCO.
MURILO: O DANIEL É CAPAZ DE TUDO, RAQUEL. VOU TE DIZER O SEGUINTE: ABRE OS OLHOS COM ESSE CARA. É UM IRRESPONSÁVEL. SEMPRE FOI. MAS EU JURO QUE EU PEGO ELE. BRINCADEIRA TEM LIMITE, E EU NÃO SOU PALHAÇO DE NINGUÉM. (PAUSA. P/RAQUEL) TEM CERTEZA QUE VOCÊ NÃO SABE PRA ONDE ELE FOI?
CARMELA: (SÓ DE PERVERSA) FOI TOMAR UM CHOP COM OS AMIGOS.
RAQUEL E LUZIA OLHA CENSURANDO CARMELA. ELA NEM SE IMPORTA.
MURILO: TOMAR UM CHOP? EU SEI ONDE É O BAR.
MURILO SAI.
RAQUEL: CARMELA, PORQUE VOCÊ FALOU ISSO? O QUE VOCÊ LUCROU?
CARMELA CONTINUA LENDO O LIVRO COMO SE NÃO FOSSE COM ELA.
CENA 9. INTERNA – RESTAURANTE – NOITE.
DANIEL, PABLO, TONY SENTADOS NUMA MESA TOMANDO CHOP.
TONY: CARA A CONVERSA TA BOA, MAS EU PRECISO VAZAR. AMANHÃ ACORDO CEDO. TENHO AULA. AINDA VOU PASSAR NA CASA DA GATA.
DANIEL: VAI COM CALMA NESSA TRANSA COM A MINHA SOBRINHA, VIU? É MOÇA FINA E DE FAMÍLIA. (DÁ UM GOLE NO CHOP) TAMBÉM TINHA UMA SAÍDA COM A RAQUEL. MAS O CARANGO TA NA OFICINA E TIVE QUE ADIAR.
TONY DÁ UM GOLE NO CHOP.
TONY: ABRAÇO AÍ PRA VOCÊS. (SAI)
PABLO: ESCUTA! ELE NAMORA TUA SOBRINHA, É?
DANIEL: É UM FRANGOTE. AINDA USA TALQUINHO. CHEIRANDO A LEITE. (RI).
CENA 10. INTERNA – CASA DE DANIEL – SALA – NOITE.
CÉLIA JOGANDO BARALHO SOZINHA. ESTELA LENDO UMA REVISTA MEIO ENTEDIADA E MARÍLIA PREOCUPADA NA JANELA OLHA PARA FORA. A CAMPAINHA TOCA. MARÍLIA ABRE. É MURILO.
MURILO: BOA NOITE?
CÉLIA: BOA NOITE?
MURILO: O DANIEL JÁ CHEGOU?
ESTELA: AINDA NÃO. O QUE ACONTECEU?
MURILO: JÁ RODEI A CIDADE TODA ATRÁS DELE. EM TUDO QUANTO É BAR. E NADA DELE.
CÉLIA: ACONTECEU ALGUMA COISA COM MEU FILHO?
MURILO: VOU CONTINUAR PROCURANDO.
ESTELA: ESPERA MURILO! TOMA UM CAFÉ COM A GENTE. MARÍLIA PEGA UM CAFÉ PRO MURILO.
CÉLIA: FALA MURILO. O QUE ACONTECEU COM ELE?
MURILO: COM ELE NÃO ACONTECEU NADA DONA CÉLIA. ACONTECEU COMIGO. QUANDO SAIR DAQUI VOU CONTINUAR PROCURANDO. E DIGO MAIS... O DANIEL VAI ENTRAR NA MAIOR FRIA DA VIDA DELE.
ESTELA: VOCÊ TÁ EXAGERANDO MURILO.
MURILO: QUE EXAGERANDO. ENTÃO ELE APRONTA UMA PRA CIMA DE MIM, E EU VOU FICAR DE BRAÇOS CRUZADOS COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO? É ISSO? EU FUI ASSALTADO, ESTELA, DONA CÉLIA.
CÉLIA: E O QUE O MEU FILHO TEM HAVER COM ISSO?
MURILO: ELE ME AVISOU DE QUE EU IRIA SER ASSALTADO. FOI ISSO. E ALÉM DO MAIS ELE É SEU IRMÃO, ESTELA, E VOCÊ A DEFENDE POR ISSO.
ESTELA: NÃO É ISSO. EU CONHEÇO O DANIEL E ELE NÃO É NENHUM MARGINAL, TÁ ENTENDENDO? ELE NÃO IA ASSALTAR VOCÊ. TENHO CERTEZA DISSO.
MURILO: ELE MANDOU. FOI UM MANDANTE DELE.
CÉLIA: MAS QUE LOUCURA MURILO! ELE É TÃO SEU AMIGO.
ESTELA: VOCÊ ACHA QUE SE ELE FOSSE TE ASSALTAR, ELE IRIA TE AVISAR? PASSA PELA TUA CABEÇA UMA BOBAGEM DESSAS?
MURILO: MAS ELE AVISOU, NÃO AVISOU?
ESTELA: PIADA, BRINCADEIRA. VOCÊ SABE COMO É O DANIEL, CHEIO DESSAS BRINCADEIRAS.
MURILO: PIADA OU NÃO, SÓ SEI QUE FIQUEI SEM DINHEIRO, SEM RELÓGIO E SEM O MEU CARRO.
ESTELA: MAS NÃO FOI ELE!
MARÍLIA: MÃE, O TONY JÁ CHEGOU. A GENTE JÁ VAI, TÁ?
ESTELA: CUIDADO, HEIN? NÃO CHEGA TARDE.
MARÍLIA: TUDO BEM, MÃE. (SAI.)
MURILO: ESCUTA AQUI, DONA CÉLIA, ESTELA... EU VOU PEGAR O DANIEL ONDE ELE TIVER. NEM QUE SEJA NO INFERNO.
NESSE CLIMA DE SUSPENSE, CORTA PARA...

FIM DO CAPÍTULO 1

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