O Vidente - Capítulo 03



UMA NOVELA DE NATHAN FREITAS
CAPÍTULO 3
DIREÇÃO GERAL DE DRAMATURGIA #DNA
HENZO VITURINO

CENA 1. INTERNA – CASA DE DANIEL – SALA – NOITE.
NA CONTINUIDADE...
DANIEL: BOA NOITE, MÃE? BOA NOITE PAI?
CÉLIA: ATÉ QUE FIM MEU FILHO. ME CONTA... O MURILO TE ENCONTROU?
DANIEL: IH! CRIOU UM BUXIXO LÁ NO RESTAURANTE. QUEBROU COPO, GARRAFA. E QUEM FOI QUE PAGOU A CONTA? EU, CLARO.
FÁBIO: MAS O QUE HOUVE? VOCÊS BRIGARAM?
DANIEL: MAS O CARA VEIO COM TUDO PRA CIMA DE MIM, QUERENDO BRIGAR. FEITO UM DOIDO. É SIM! MAS O QUE ACONTECEU COMIGO... FOI UM BARATO. DUAS COINCIDÊNCIAS NA MESMA NOITE. É DOSE PRA ELEFANTE. É OU NÃO É?
CÉLIA: QUE COINCIDÊNCIAS?
FÁBIO: AFINAL, O QUE ACONTECEU?
DANIEL: OLHA PAI, MÃE... A PARTIR DE HOJE TUDO MUNDO VAI TER QUE ME RESPEITAR. EU SOU UM VIDENTE.
A CÂMERA FAZ UM ZOOM EM SEU ROSTO. ELE SORRI. CÉLIA E FÁBIO BALANÇA A CABEÇA EM NEGATIVA.
CENA 2. INTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – SALA - NOITE.
SORAIA E MURILO CONVERSA. ELE PREOCUPADO.
MURILO: EU SÓ NÃO ARREBENTEI A CARA DELE POR QUE NÃO ME DEIXARAM.
SORAIA: AMOR, QUEM SABE ELE NÃO FALOU A VERDADE?
MURILO: QUE VERDADE, SORAIA? O DANIEL É UM GOZADOR. ELE FOI SEMPRE ASSIM DESDE CRIANÇA. O CULPADO DO DESQUITE DA IRMÃ.
SORAIA: O QUÊ?
MURILO: CLARO. IMAGINE VOCÊ... A ESTELA ESTAVA CASADA SÓ HÁ TRÊS ANOS... POIS BEM, NAQUELA ÉPOCA QUE ERA GAROTO, COMEÇOU A INVENTAR MIL COISAS CONTRA O CUNHADO. ELE FEZ UM ROLO TÃO GRANDE, MAIS TÃO GRANDE QUE A IRMÃ ACABOU SE SEPARANDO DO MARIDO. QUER DIZER, ELE SÓ APRONTA, É UM IRRESPONSÁVEL.
SORAIA: TÁ BOM, MEU AMOR. AGORA NÃO ENCUCA MAIS. AGORA VOCÊ VAI PRA CASA, DESCANSA. QUEM SABE AMANHÃ TEU CARRO APARECE?
MURILO: DESCULPA EU TER VINDO ATÉ AQUI. PERTO DE VOCÊ EU ME ACALMO.
SORAIA: AMANHÃ A GENTE SE VER LÁ NO TRABALHO.
MURILO BEIJA SORAIA. E SAI.
CENA 3. INTERNA – CASA DE DANIEL – SALA – NOITE.
DANIEL, FÁBIO E CÉLIA SENTADOS, CONVERSANDO.
DANIEL: OLHA PAI, PRIMEIRO EU DISSE PRO MURILO QUE ELE IA SER ASSALTADO. E FOI! E DEPOIS AVISEI A MOÇA NO RESTAURANTE. E ELA FOI ATROPELADA.
FÁBIO: MAS O QUE FOI QUE VOCÊ SENTIU QUANDO FALOU COM A MOÇA?
DANIEL: NÃO SENTI NADA PAI.
FÁBIO: NÃO TEVE UMA INTUIÇÃO? VISUALIZOU ALGUM DESASTRE?
DANIEL: ME DEU VONTADE DE DIZER PRA ELA: CUIDADO QUANDO ATRAVESAR A RUA.
CÉLIA: ASSIM, SEM MAIS NEM MENOS?
DANIEL: NÃO SEI O QUE DEU EM MIM, QUANDO DEI POR SI JÁ HAVIA FALADO.
CÉLIA: MEU FILHO, O PIOR FOI ESSA MOÇA TER SIDO ATROPELADA.
DANIEL: E FOI, MÃE. A MOÇA ATRAVESSOU A RUA O CARRO VEIO E “PUM” EM CIMA DA COITADA. A RUA SE ENCHEU DE CURIOSOS, DEPOIS VEIO A AMBULÂNCIA.
CÉLIA: CREDO MEU FILHO! ATÉ PARECE QUE VOCÊ AGOROU A COITADA.
DANIEL: POIS NÃO É?
FÁBIO: FILHO... VOCÊ OUVIU UMA VOZ, ASSIM, FALANDO NO SEU OUVIDO?
CÉLIA: AI, AI, AI. NÃO VEM COM HISTÓRIA FÁBIO.
DANIEL: NÃO OUVI NADA, PAI.
FÁBIO: MAS SE SENTIU IMPELIDO? COMO SE FOSSE UM INSTRUMENTO?
DANIEL: AH NÃO, PAI. SAI DESSA! ESPIRITISMO PRA CIMA DE MIM, NÃO. AGORA, QUE FOI DIVERTIDO, FOI. (RI.)
DANIEL SAI. FÁBIO PENSATIVO.
CENA 4. INTERNA – CASA DE ESTELA – QUARTO DE ESTELA – NOITE.
ESTELA DE CAMISOLA, ARRUMANDO A CAMA. ENTRA MARÍLIA.
MARÍLIA: MÃE?
ESTELA: PENSEI QUE VOCÊ JÁ ESTIVESSE DORMINDO.
MARÍLIA: É QUE EU ESQUECI DE CONTAR UMA COISA PRA SENHORA. O TONY QUER FALAR COM VOCÊ.
ESTELA APAGA A LUZ.
MARÍLIA: OUVIU MÃE? O TONY QUER FALAR COM A SENHORA.
ESTELA: EU NÃO TOU ENTENDENDO MARÍLIA. QUAL É O PROBLEMA?
MARÍLIA: SABE QUE É MÃE... É QUE O TONY JÁ TEM DEZENOVE ANOS... TÁ CERTO QUE ELE É MUITO JOVEM PRA ASSUMIR RESPONSABILIDADES, ESSAS COISAS. MAS MÃE ELE TRABALHA, ELE ESTUDA, TEM RESPONSABILIDADE.
ESTELA: O QUE VOCÊ TÁ QUERENDO DIZER COM ISSO, MARÍLIA?
MARÍLIA: OLHA MÃE, OS OUTROS NAMORADOS QUE TIVE... SEI LÁ, ERAM MUITO DIFERENTES. AGORA COM O TONY, MÃE. PUXA! A GENTE TÁ NUMA TÃO BOA! AI MÃE, EU TOU TÃO FELIZ! (SAI PARA O LADO.) POIS É...
ESELA: CONTINUA...
MARILIA: (VIRA-SE PRA MÃE) O TONY... O TONY TÁ QUERENDO CASAR, MÃE.
ESTELA CAI NA GARGALHADA. MARÍLIA VER AQUILO COMO DESFAZIMENTO. E VAI SAIR.
ESTELA: ESPERA MARÍLIA! QUANDO FOI QUE ESSE TONY LHE FALOU SOBRE ISSO? HOJE? 
MARÍLIA: NÃO. FAZ TEMPO. MAS HOJE ELE INSISTIU. MÃE, ELE TEM MEDO DE ME PERDER.
ESTELA: E VOCÊ?
MARÍLIA: QUÊ QUE TEM?
ESTELA: TEM MEDO DE PERDER ESSE TONY?
MARÍLIA: TENHO.
ESTELA: MAS ESSE É UM NAMORADINHO IGUAL AOS OUTROS.
MARÍLIA: MAS AÍ QUE TÁ, MÃE. ELE NÃO É IGUAL AOS OUTROS.
ESTELA: AMANHÃ A GENTE CONVERSA SOBRE ESSE ASSUNTO. AGORA VAI DORMIR, VAI.
MARÍLIA: BOA NOITE, MÃE?
ESTELA: BOA NOITE FILHA.
MARILIA SAI. ESTELA SENTA NA CAMA, FICA PENSATIVA.
CENA 5. EXTERNA – TAKES DE FORTALEZA – MANHÃ.
AMANHECE...
CENA 6. EXTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – QUINTAL – MANHÃ.
PLÍNIO SENTADO NUM BANCO PINTANDO UMA PLACA, E COLOCANDO OS DIZERES: ALUGA-SE UM QUARTO. ZULMIRA, A EMPREGADA CHEGA. ELE ESCONDE A PLACA.
ZULMIRA: SEU PLÍNIO, A DONA SORAIA TÁ CHAMANDO.
PLÍNIO: EU JÁ TOMEI CAFÉ.
ZULMIRA PERCEBE O QUE ELE TÁ FAZENDO.
ZULMIRA: O QUE É ISSO, HEIN?
PLÍNIO: NÃO É DA SUA CONTA. SAI DAQUI. VAI PROCURAR O QUE FAZER.
ZULMIRA: A DONA SORAIA NÃO QUER QUE O SENHOR FAÇA ISSO.
PLÍNIO: VAI FAZER O TEU SERVIÇO. VAI, VAI, VAI.
ZULMIRA: ESCUTA AQUI, SEU PLÍNIO. EU NÃO SOU CACHORRO, TÁ OUVINDO?
ZULMIRA SAI.
PLÍNIO: CRIATURA ENXERIDA. METIDA DUMA FIGA.
CENA 7. INTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – COZINHA – MANHÃ.
SORAIA TOMANDO CAFÉ. TECA CHEGA.
TECA: BOM DIA?
SORAIA: OI TECA? BOM DIA.
TECA: DORMI MAL PRA BURRO.
SORAIA: INSÔNIA?
TECA: SEI LÁ. O DOUTOR MIGUEL ME DEU UM REMÉDIO PRA DORMIR. TRÊS HORAS DA MANHÃ TAVA COM OS OLHOS ACESOS.
SORAIA: ESTÁ PREOCUPADA COM ALGUMA COISA?
TECA: E AINDA FUI LÁ NAQUELA MULHER, ONTEM COM A ZULMIRA.
SORAIA: AH NÃO, TECA. NÃO FAZ ISSO! QUE A ZULMIRA ENTRE NESSA TUDO BEM. AGORA, VOCÊ?
TECA: PRA TENTAR A SORTE A GENTE DE TOPA TUDO, NÉ. VOCÊ ACREDITA QUE A TAL CARTOMANTE ACERTOU TUDO!
SORAIA: ACERTOU NADA, TECA!
TECA: FOI UM BARATO. EU NÃO ACREDITO MUITO, MAS... ENFIM, EU NÃO TOU PERDENDO NADA INDO LÁ. AGORA SE ELA VAI RESOLVER MEUS PROBLEMAS, ISSO EU NÃO SEI.
SORAIA: ESCUTA! VOCÊ NÃO TRABALHA COM UM PSIQUIATRA? POR QUE VOCÊ NÃO PEDE A ELE PRA TE AJUDAR?
TECA: DR. MIGUEL VIVE MUITO OCUPADO, SORAIA. ELE NÃO VAI PERDER TEMPO COMIGO NÃO.
ZULMIRA APARECE.
SORAIA: ZULMIRA, CADÊ MEU IRMÃO?
ZULMIRA: TÁ LÁ NO QUINTAL PINTANDO A PLACA.
SORAIA: AH NÃO! DESSA VEZ ELE VAI VER.
SORAIA LEVANTA E SAI.
TECA: TÁ FICANDO DEDO DURO, HEIN, ZULMIRA?
ZULMIRA: DONA TECA, ELA NÃO QUER QUE SEU PLÍNIO PONHA A PLACA LÁ FORA.
CENA 8. EXTERNA – QUINTAL DA CASA DE SORAIA E PLÍNIO – MANHÃ.
PLÍNIO ESTÁ PINTANDO A PLACA. SORAIA CHEGA POR TRÁS DELE.
SORAIA: PLÍNIO?
PLÍNIO: (ESCONDENDO A PLACA) NÃO É NADA!
SORAIA: DEIXA EU VER! (TENTANDO PEGAR) DEIXA EU VER.
SORAIA CONSEGUE PEGA A PLACA.
PLÍNIO: SORAIA, ASSIM FICA MAIS FÁCIL ALUGAR UM QUARTO.
SORAIA: MAS EU NÃO QUERO PLÍNIO. JÁ TE FALEI ISSO MAIS DE MIL VEZES. ESSA PLACA NA PORTA SÓ DAR DOR DE CABEÇA NA GENTE. SERÁ QUE VOCÊ NÃO ENTENDE ISSO?
PLÍNIO FAZ CARA DE REPROVAÇÃO. SAI PARA O LADO CHATEADO.
SORAIA: SE COLOCAR ESSA PLACA LÁ FORA, A ZULMIRA ME CONTA QUANDO CHEGAR.
ELE NÃO FALA NADA.
SORAIA: JÁ VOU TRABALHAR. (SAI LEVANDO A PLACA.)
CENA 9. EXTERNA – TAKES DE FORTALEZA – MANHÃ.
APENAS MOVIMENTO DE CARROS NAS RUAS...
CENA 10. INTERNA – EMPRESA POSITIVO – ESCRITÓRIO DE CÁSSIO – MANHÃ.
SORAIA CHEGA, SENTA Á MESA. ABRE A GAVETA, PEGA VÁRIOS DOCUMENTOS, LIGA O COMPUTADOR, E COMEÇA A ESCREVER. APARECE MURILO.
MURILO: OI AMOR? (BEIJA SORAIA).
SORAIA: OI BEM. ENTÃO, ALGUMA NOTÍCIA DO SEU CARRO?
MURILO: NADA.
SORAIA: NADA, AINDA? MAS VOCÊ VAI CONSEGUIR MEU AMOR.
MURILO: TOMARA! ACREDITA QUE NÃO CONSEGUI PREGAR OS OLHOS? PASSEI A NOITE EM CLARO. NA HORA DO ALMOÇO EU VOU PEGAR O DANIEL DE NOVO.
SORAIA: MAS NÃO VÁ CRIAR CONFUSÃO, MEU BEM.
MURILO: NÃO. DESSA VEZ VAI SER DIFERENTE.
CENA 11. INTERNA – CASA DE DANIEL – COZINHA – MANHÃ.
FÁBIO LENDO JORNAL E CÉLIA À MESA, TOMANDO CAFÉ. APARECE DANIEL.
DANIEL: BOM DIA?
FÁBIO: BOM DIA, MEU FILHO.
CÉLIA: DORMIU BEM?
DANIEL: (SENTANDO) COMO UMA PEDRA.
CÉLIA: CAFÉ COM LEITE?
DANIEL: BEM FORTE.
DANIEL OLHA O JORNAL QUE FÁBIO LER.
DANIEL: ESSE É O RESTAURANTE ONDE EU TAVA ONTEM, QUANDO ACONTECEU O ATROPELAMENTO.
FÁBIO: AQUI DIZ QUE A CULPA FOI DA MOÇA. ELA NÃO OLHOU QUANDO ATRAVESSOU A RUA.
CÉLIA: MORREU?
FÁBIO: ESTÁ GRAVEMENTE FERIDA.
DANIEL: MENOS MAL. MAS BEM QUE EU AVISEI. FOI OU NÃO FOI?
DANIEL DÁ UM GOLE NO CAFÉ. FÁBIO OLHA PRA ELE COM CENSURA.
DANIEL: QUE FOI PAI?
CÉLIA: TEU PAI JÁ TÁ PENSANDO BOBAGEM.
FÁBIO FICA ALI, PENSATIVO.
DANIEL: (LEVANTANDO) TENHO QUE IR. TOU SUPERATRASADO.
CÉLIA: DANIEL, NÃO SE ESQUECE DO ALMOÇO NA ESTELA. PEDIU QUE VOCÊ FOSSE.
DANIEL: TUDO BEM, MÃE. (OLHA PARA O PAI.) QUÊ QUE ACONTECEU, PAI?
FÁBIO: FICO PENSANDO NAS COISAS QUE TÁ ACONTECENDO COM VOCÊ, MEU FILHO.
DANIEL: DEIXA PRÁ LÁ, PAI. QUAL É O GRILO? VAMOS SUPOR QUE EU TENHA ESSA FORÇA. VEJA BEM, SE É QUE EU TENHO ESSA FORÇA ESTRANHA, SEI LÁ. TELEPATIA, PREMONIÇÕES, COISAS QUE A CIÊNCIA PODE EXPLICAR. MAS BEM QUE SERIA BOM QUE EU TIVESSE. PUXA! IA SER UM BARATO. JÁ PENSOU?
FÁBIO: (ENIGMÁTICO) JÁ.
DANIEL: JÁ PENSOU MÃE? (ENCHE O PEITO E FALA COM CERTO ENTUSIASMO) PODER, FAMA, JORNAIS, TELEVISÃO... A GLÓRIA!
FÁBIO: (ENIGMÁTICO) OU A RUÍNA.
DANIEL DESFAZ O RISO, E FICA SEM GRAÇA.
NISSO CORTA PARA...
FIM DO CAPÍTULO 3

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