O Vidente - Capítulo 08



UMA NOVELA DE NATHAN FREITAS
CAPÍTULO 8
DIREÇÃO GERAL DE DRAMATURGIA #DNA
HENZO VITURINO

CENA 1. INTERNA - APARTAMENTO DE LUZIA – SALA – NOITE.
NA CONTINUIDADE...
LUZIA: ATÉ QUE FIM VOCÊ CHEGOU, MINHA FILHA.
RAQUEL: MEU DIA FOI MARAVILHOSO, MAMÃE. EU ENTREI NO ASSUNTO COM O DANIEL E ELE TOPOU.
LUZIA: QUE ASSUNTO?                 
CARMELA: DE COMO FISGAR UM MARIDO.
LUZIA: NÃO FALA ASSIM, CARMELA.
CÂM/ EM CARMELA QUE ESTÁ VISIVELMENTE ARRASADA COM A NOTÍCIA. RAQUEL E LUZIA CONVERSAM À PARTE, SORRIDENTES FORA DE ÁUDIO. DESTACAR CARMELA NUM CHORO CONTIDO, QUE ELAS NÃO PERCEBEM.
CENA 2. EXTERNA – TAKES DE FORTALEZA – NOITE.
CENA 3. INTERNA – EMPRESA POSITIVO – ESCRITÓRIO DE CÁSSIO – NOITE.
SORAIA SENTADA, ESCREVENDO NO COMPUTADOR. ENTRA MURILO.
MURILO: OI AMOR?
SORAIA: MURILO, EU TIVE PENSANDO BEM SOBRE AQUELE ASSUNTO DR. CÁSSIO.
MURILO: O QUE FOI?
SORAIA: ELE ME FALOU TANTO DA FILHA. PEDIU PRA NÓS IRMOS A CASA DELE. A GENTE PODIA IR!
MURILO: SORAIA, A GENTE NÃO É PARENTE DO HOMEM. NÃO TEM POR QUE A GENTE IR LÁ PAJEAR A GAROTA.
SORAIA: É SOMENTE FAZER UMA VISITA. O QUÊ QUE CUSTA? Ô AMOR! VAMOS? EU DEVO MUITOS FAVORES AO DR. CÁSSIO. ELE AJUDOU SEMPRE MEU IRMÃO, QUANDO TRABALHAVA AQUI.
MURILO PENSATIVO, NÃO GOSTANDO DO PEDIDO.
CENA 4. INTERNA – CASA DE DANIEL – SALA – NOITE.
CÉLIA E OSVALDO CONVERSA. ELA TEMENDO QUE FÁBIO INFLUENCIE DANIEL AO ESPIRITISMO.
CÉLIA: TENHO MEDO QUE ELE FAÇA A CABEÇA DO MEU FILHO.
OSVALDO: CÉLIA, O DANIEL É UM RAPAZ ESCLARECIDO.
CÉLIA: POR FAVOR, OSVALDO? FAZ UM JEITO DE O FÁBIO ACABAR COM ESSE NEGÓCIO DE ESPIRITISMO AQUI EM CASA.
OSVALDO: EU GOSTO MUITO DO MEU IRMÃO, E NÃO PRETENDO DISCUTIR COM ELE.
CÉLIA: MAS ELE ADMIRA VOCÊ. RESPEITA!
OSVALDO: E EU, A ELE. POR ISSO NOS DAMOS BEM. MUITA GENTE ME PERGUNTA: ”COMO É QUE VOCÊ, UM PADRE, PODE TER UM IRMÃO ESPIRITA, E FREQUENTAR A CASA DELE?” E EU RESPONDO: POR QUE É MEU IRMÃO, É UM HOMEM DE BEM.
FÁBIO CHEGA. OSVALDO FAZ MENÇÃO DE SAIR.
OSVALDO: BOM, EU TENHO QUE IR. CADE O DANIEL?
FÁBIO: ESTÁ NO QUARTO.
CENA 5. INTERNA – CASA DE DANIEL – QUARTO DELE – NOITE.
DANIEL DEITADO BEM À VONTADE NA CAMA, OUVINDO MÚSICA. O SOM ALTO. OSVALDO ENTRA.
OSVALDO: (ALTO) VIM ME DESPEDIR!
DANIEL LEVANTA E DESLIGA O SOM.
DANIEL: JÁ VAI, TIO?
OSVALDO: SIM. ESCUTA DANIEL! QUANTO A ESSAS PREMONIÇÕES...
DANIEL: AH NÃO TIO. SEM ESSA! A MINHA CABEÇA TÁ A MIL.
OSVALDO: MAS NÃO HÁ NADA DE ANORMAL. O MUNDO ESTÁ CHEIO DE COINCIDÊNCIAS. AS COISAS ACONTECERAM MUITO PRÓXIMAS DA OUTRA. POR ISSO TODO MUNDO SE ADMIROU. MAS NÃO SE PREOCUPE COM O QUE OS OUTROS DISSEREM. E NEM PROCURE EXPLICAÇÕES METAFÍSICAS.
DANIEL: TIO, TUDO BEM. LEGAL! MAS ME EXPLICA UMA COISA: COMO EU PUDE ADIVINHAR QUE O SENHOR TAVA CHEGANDO?
OSVALDO: INTUIÇÃO. TELEPATIA. NÃO É NENHUM BICHO DE SETE CABEÇAS.
DANIEL: TÁ LEGAL. MAS EU AVISEI AQUELA MOÇA DO RESTAURANTE, NÃO AVISEI?
OSVALDO HESITA. SENTA.
OSVALDO: TÁ BOM. O QUÊ QUE AQUELA MOÇA TAVA FAZENDO NO RESTAURANTE? BEBENDO, CERTO? ENTÃO NA CERTA ELA TINHA ENCHIDO UM POUCO A CARA... E VOCÊ PEDIU QUE ELA TOMASSE CUIDADO AO ATRAVESSAR A RUA. EU NO SEU LUGAR TERIA FEITO A MESMA COISA.
DANIEL AINDA NÃO CONVENCIDO.
DANIEL: MAS COMO FUI ADIVINHAR O ASSALTO COM O MURILO?
OSVALDO: DANIEL, EU TE CONHEÇO. VOCÊ QUIS PREGAR UM SUSTO NO SEU AMIGO. (DANIEL TENTAR ARGUMENTAR) E NÃO ME DESMINTA! DANIEL, ISSO NÃO SE FAZ. PODIA TER SIDO MUITO PIOR.
DANIEL NÃO CONFORMADO COM AS EXPLICAÇÕES DE OSVALDO LIGA O SOM NOVAMENTE E DEITA NA CAMA. OSVALDO OLHA PRA ELE, RI E SAI. CLOSE EM DANIEL DESOLADO.
CENA 5. INTERNA – ESCRITÓRIO DE DR. MIGUEL – NOITE.
TECA A MESA FAZENDO ANOTAÇÕES NO CADERNO. ENTRA CARMELA.
TECA: CARMELA, MEU AMOR? QUE BOM QUE VEIO!
CARMELA: EU PRECISAVA FALAR COM VOCÊ TIA.
TECA: VAMOS SENTAR?
AS DUAS SENTAM.
TECA: O QUÊ QUE TÁ ACONTECENDO?
CARMELA: (TRISTE, QUASE CHORANDO) ME FALA TIA. A SENHORA ME ACHA FEIA?
TECA: CARMELA... BELEZA É UMA QUESTÃO INTERIOR. MUITAS VEZES NÃO IMPORTA O QUE ELA TEM POR FORA, E SIM O QUE TEM POR DENTRO DE SI.
CARMELA: TIA, EU FALO DE BELEZA QUE SE VER NO ESPELHO. ME DIGA, POR FAVOR? SOU TÃO DESENGONÇADA COMO DIZEM?
TECA: TALVEZ UM POUCO A CIMA DO PESO. MAS NADA QUE ENCUBRA SUA BELEZA. MAS POR QUE DIZ ISSO? ESTÁ APAIXONADA POR ALGUM RAPAZ?
CARMELA: (DISFARÇA) NÃO. FALEI POR QUE MINHA MÃE E RAQUEL VIVEM PEGANDO NO MEU PÉ.
TECA: EU VOU SER FRANCA COM VOCÊ. HOJE EM DIA AS PESSOAS VALORIZAM MUITA A APARÊNCIA EXTERNA, A BELEZA FÍSICA. EU ACHO UM HORROR ESSA COISA TODA. MAS FAZER O QUÊ? (CARINHOSA) Ô MINHA QUERIDA! VOCÊ É TÃO BONITA. É SÉRIO. NÃO FALO PRA LHE AGRADAR. QUANTA BOBAGEM SE PREOCUPAR COM COISAS ASSIM!
CARMELA: (CHORANDO) SOU FEIA, DESENGONÇADA. A RAQUEL É SEMPRE A MELHOR EM TUDO. ATÉ NA BELEZA. TODO MUNDO SÓ OLHA PRA ELA.
TECA: NÃO PERCA AS ESPERANÇAS, MEU BEM. UM DIA VAI CHEGAR ALGUÉM QUE VAI TER OLHOS SÓ PRA VOCÊ, E MAIS NINGUÉM.
ARMANDO APARECE, CARMELA LIMPA O ROSTO.
ARMANDO: ME DESCULPE.
TECA: PODE ENTRAR.
CARMELA SE LEVANTA. ARMANDO TÍMIDO, BAIXA O ROSTO.
TECA: ARMANDO, ESSA É A CARMELA, MINHA SOBRINHA. CARMELA ESSE É O ARMANDO.
CARMELA: MUITO PRAZER ARMANDO.
ARMANDO: PRAZER É TODO MEU.
TECA: CARMELA, EU E ARMANDO FICAMOS DE IR JANTAR-MOS NO CLUBE. VOCÊ NÃO QUER IR CONOSCO?
CARMELA: NÃO TIA. EU VOU PRA CASA. OBRIGADA.
CARMELA SE DESPEDE DELES E SAI.
CENA 6. INTERNA – CASA DE CÁSSIO – SALA – NOITE.
CÁSSIO SENTADO TOMANDO UM VINHO. A CAMPAINHA TOCA. JOANA, A EMPREGADA VAI ABRIR. É SORAIA E MURILO.
SORAIA: BOA NOITE, DR. CÁSSIO?
CÁSSIO: SORAIA? QUE BOM QUE ACEITOU VIR!
MURILO: COMO VAI, DOUTOR?
CÁSSIO: ENTREM. FIQUE A VONTADE.
SORAIA E MURILO SENTA.
CÁSSIO: ACEITAM UM VINHOZINHO PRA COMEÇAR?
SORAIA: NÃO DR. CÁSSIO. OBRIGADA.
MURILO: EU ACEITO.
CÁSSIO PEGA UMA TAÇA, PÕE VINHO E PASSA PRA MURILO.
SORAIA: O SENHOR FALOU TANTO NA SUA FILHA QUE EU E MURILO RESOLVEMOS VIR.
CÁSSIO: VOCÊS NÃO IMAGIMA A FELICIDADE QUE ME DÃO.
MURILO: ELA JÁ CHEGOU?                
CÁSSIO: SIM. ESTÁ LÁ EM CIMA. SABE, ELA ESTUDA NUM COLÉGIO INTERNO, E VEM SEMPRE NOS FINAIS DE SEMANA.
LUANA APARECE.
LUANA: BOA NOITE?
SORAIA: BOA NOITE.
CÁSSIO: JÁ IA MANDAR CHAMAR VOCÊ. SORAIA, ESSA É MINHA FILHA, LUANA. LUANA ESSES SÃO SORAIA E MURILO. TRABALHAM LÁ NA EMPRESA. ELA É MINHA SECRETÁRIA E ELE SUPERVISOR. ELES VIERAM POR SUA CAUSA. QUEREM LEVAR UM PAPO COM VOCÊ.
SORAIA: LUANA, VOCÊ É MUITO BONITA.
LUANA: OBRIGADA. VOCÊ TAMBÉM.
SORAIA: GRACINHA.
MURILO: DOUTOR, É MUITO BONITA SUA CASA.
CÁSSIO: É MUITO AGRADÁVEL.
CÁSSIO E MURILO CONVERSA À PARTE. CORTA PARA SORAIA E LUANA SENTADA NO SOFÁ.
LUANA: FAZ TEMPO QUE VOCÊ TRABALHA DE SECRETÁRIA DO MEU PAI?
SORAIA: POUCO MAIS DE UM ANO. ANTES ERA MEU IRMÃO QUE TRABALHAVA LÁ. ELE SOFREU UM ACIDENTE NA EMPRESA, FOI AFASTADO. EU ENTREI NO LUGAR DELE.
LUANA: E O RAPAZ? É SEU NAMORADO?
SORAIA: É MEU NOIVO.
LUANA: AH... SEU NOIVO? QUE LEGAL.
CÁSSIO VOLTA PRA ELAS.
CÁSSIO: LUANA, MINHA FILHA, MOSTRE AO MURILO A ESTUFA.
LUANA E MURILO SAI. FICA CÁSSIO E SORAIA.
CÁSSIO: EU ESTOU MUITO FELIZ POR VOCÊS TEREM VINDO. TIVE PENSANDO EM DAR UM AUMENTO A VOCÊS POR ESSA ATITUDE BONDOSA.
SORAIA: O QUE É ISSO, DR. CÁSSIO? IMAGINA!
CÁSSIO: EU SOU MUITO GRATO PRA QUEM ATENDE AOS MEUS PEDIDOS.
ELA FICA SEM GRAÇA, ELE NÃO TIRA OS OLHOS DELA.
CENA 7. INTERNA – CASA DE DANIEL – COZINHA – NOITE.
FÁBIO, CÉLIA E DANIEL À MESA, JANTANDO.
DANIEL: GRAÇAS A DEUS QUE AMANHÃ É SABADO. FICAR MAIS UM POUCO NA CAMA. MEREÇO. UMA BARRA TER QUE AGUENTAR CADA COISA ALI.
CÉLIA: MEU FILHO, DEPOIS QUE SEU TIO FALOU...
DANIEL: MAS NÃO ADIANTOU DE NADA.
FÁBIO: POR QUÊ?
DANIEL: ELE NÃO ACREDITOU. QUE EU NÃO TENHO NADA HAVER COM O ASSALTO COM O CARRO DO MURILO.
CÉLIA: MAS MEU FILHO...
DANIEL: PERAÍ MÃE, A SENHORA TAMBÉM NÃO, NÉ? EU NÃO TIVE NADA HAVER COM AQUELE ASSALTO.
FÁBIO: EU ACREDITO EM VOCÊ.
DANIEL: AINDA BEM PAI. EU VOU ATÉ ONDE O TIO OSVALDO DISSE... QUE PODE SER UMA ESPÉCIE DE INTUIÇÃO. MAS É GOZADO! COMO É QUE EU IA ADIVINHAR O ASSALTO. SEI LÁ. ELE DISSE QUE EU NÃO TENHO NADA DE ANORMAL.
FÁBIO: SÓ POR QUE O OSVALDO FALOU, NÃO QUER DIZER QUE ELA TENHA RAZÃO.
CÉLIA: FÁBIO, ELE É UM PADRE.
FÁBIO: UM PADRE É COMO UM HOMEM QUALQUER. ELE PODE SE ENGANAR.
CÉLIA: EU ACHO QUE ELE TÁ CERTO.
DANIEL: SABE QUE EU TENHO A IMPRESSÃO... É QUE O PAI QUER MESMO QUE EU SEJA UM MÉDIUM. NÃO É PAI?
FÁBIO: EU NÃO QUERO NADA FILHO. AS COISAS QUANDO TEM QUE ACONTECER, ACONTECE.
DANIEL: MAS FICO MESMO É COM O TIO OSVALDO, VIU? ACHO QUE FOI TUDO UMA INTUIÇÃO, COINCIDÊNCIA. O SENHOR NÃO ACHA PAI?
FÁBIO: NÃO. VAMOS DAR TEMPO AO TEMPO.
DANIEL SORRI PRA MÃE QUE BALANÇA A CABEÇA EM DESACORDO.
NESSE CLIMA CORTA PARA...
FIM DO CAPÍTULO 8

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