Episódio 06 - Aconteceu Aos 16



Eram tantos choros, tanto clamor e tanta tristeza. Mas era também tanta falsidade, tanta zoeira, tantos “ainda bem”.
Era um pouco tarde quando Beth e Menteu chegaram ao velório do tal pai do namorado dela.
Eu já conhecia o sujeito de outros lugares onde eu também frequentava, o vi várias vezes em mesas de jogos, em “bocas de fumo” comprando drogas para tentar acalmar a sua respiração, e se não me engano também o vi em um motel próximo a um aeroporto regional e tenho toda certeza que ele estava acompanhado mais não era pela mulher dele, e acho que nem por uma mulher era.
O velório estava chato, é, mas a tal da Beth decidiu encenar A MORTE DO CISNE, e foi então que o reboliço aconteceu naquela casa.
Uma mulher chegou com alho para colocar em seu nariz, Menteu saiu da cozinha e se dirigiu ao lado oposto da sala Subiu as escadas e no caminho do percurso ele raciocinou.
– Se Beth estar desmaiada, quem estar com o namorado dela lá em cima?
Menteu subiu as escadas mais rápido ainda, teve que escolher entre três portas para entrar no quarto certo, mas não se tinha tempo para isso, então ele apenas invadiu as portas tentando ver o que estava ao lado de dentro dela.
Conseguiu abrir as duas portas, todas vazias, mais a terceira estava trancada, e tinha alguém lá dentro, pois ao olhar pelo buraco da fechadura via apenas um lado e a parte de baixo estava escura devido à chave.
– Quando se tem uma porta trancada, e só pular a janela por fora.
E foi o que ele fez, pegou e entrou na porta que estava aberta e sobre a varanda se equilibrou na grade curta que dava acesso a  janela do quarto onde ele queria chegar.
A lua no céu, o movimento das árvores fazia aquela cena parecer algo de filme de cinema, mais não era uma ficção, aquilo era real e eu já sabia o que estava a acontecer.
Havia um jogo de prazeres ali, eles estavam transando.
O Thed estava bagunçado junto aos lenções, eu observei tudo aquilo por um  vidro meio embaçado. Mas era real e eu pude perceber tudo aquilo e indiretamente passei a participar também.
Sentir o calor, as caricias, e tudo que se tem direito quando se trata de alimentar a carne.
Pensei na Beth e eu, como deveria ser magico ter ela em meus braços e ao me desequilibrar eu percebi que não era eu e muito menos a Beth, mas era o Thed com todas as fórmulas, posições e movimentos aquele padrão completo de quando você está vivo em cima de uma cama no seu quarto e seu pai morto em um caixão na sala.
Na sala da casa a atriz Beth se levantou e estava sendo consolada em uma cadeira próxima ao caixão junto a algumas pessoas que perguntavam se ela estava se sentindo melhor.
– Como você está, minha filha?
Disse uma senhora de cabelo preto.
– Precisa ir ao médico?
Perguntou outra com um lenço escuro que cobria seu pescoço.
– Estou bem, podem ir só preciso tomar um pouco de vento agora.
Respondeu Beth para distrair as senhoras.
Logo as anciãs a deixaram de lado e se retiraram para o lado de fora da casa, Beth se levantou e deixou cair o seu anel que foi tirado pelos “socorristas” na hora do “desmaio” o anel rolou e parou atrás de uma bandeira que levava a imagem do Cristo na qual ficava por trás do caixão, Beth não percebeu o ocorrido e foi em direção à cozinha da casa.
Menteu pendurado naquela varanda, queria a todo custo provar a infidelidade do namorado de Beth para com ela, então ele subiu mais um pouco e ficou em pendurado a uma ripa que sustentava uma parte do telhado da casa na tentativa de gravar algumas cenas para usar como prova contra o tal namorado. Porém a tentativa foi inútil, pois o claro que saia do celular dele acabou chamando atenção de algumas pessoas que estavam no quintal da casa.
Foi ai que o show começou.
O cortejo gritava em alta voz.
– Pega ladrão, ladrão, ladrão
A “zoadeira” começou e o movimento foi ganhando força do lado de fora da casa, Beth que estava na cozinha da casa escutou a gritaria e saiu pra ver do que se tratava o tumulto.
Ao olhar para a janela, a roupa de carnaval de Menteu acabou entregando ele, e sem pensar duas vezes ela correu para dentro da casa e ao subir as escadas fez uma ligação.
– Fred ?
– Oi Beth, espero que seja importante, estava meio ocupado aqui.
Falou Fred com voz de sono no outro lado da linha.
– Estou precisando de ajuda. O Menteu está em apuros, vou mandar a localização e venha correndo, tchau.
Ela desligou sem esperar ouvir a resposta de Fred, e subiu as escadas ate chegar aos cômodos de cima.
Pedras estavam sendo arremessadas pelo pessoal que estava na parte debaixo da casa, Menteu se desequilibrou e foi arremessado no chão da varanda após se soltar da madeira que estava pendurado.
– Agora eu acerto.
Disse um senhor logo após lançar um tijolo de quase 4 kg em direção a varanda.
E se ouviu o barulho.
PLAAAAAAAAAAAAA
– O pegamos
Gritaram.
O vidro do quarto que Thed estava acabou sendo quebrado em pedaços, o fazendo levantar da cama junto a sua AMIGA.
Uma parte da multidão subiu as escadas da casa para ver quem era o ladrão.
Beth gritava de uma das janelas em direção a varanda.
-Menteu
-Oi, Beth?
-Corre Menteu, eles estão vindo, venha.
Menteu pulou a janela e se juntou a Beth, barulhos como de um pelotão de guardas cercaram os corredores da casa, uma multidão estava prestes a abrir a porta na qual Beth e Menteu se encontravam. Foi aí que Menteu olhou para Beth e perguntou.
-O que fazemos agora?
-Entra na onda.
Respondeu ela, no mesmo momento que o abraçava e chorava em seu ombro.
E ele a consolou
A porta se abriu, e um dos que liderava aquela multidão pediu desculpa ao casal, e fechou ela novamente.
Thed saiu do quarto ainda vestindo a camisa, a sua acompanhante se escondeu entre os lençóis da cama.
– O que estar havendo aqui?
Thed grita do outro lado do corredor
– Um ladrão, querido sobrinho, ele tentou invadir a casa pela varanda, e precisamos investigar todos os quartos, licença.
Disse um coroa de 58 anos, que se dizia irmão do tal defunto.
– Não tio, aí não
Gritou Thed desesperado.
A multidão invadiu o quarto e ao levantar as cobertas, presenciaram uma verdadeira obra de arte.
– Theddddddddd
Gritou o coroa que desmaiou logo em seguida.
O barulho e questionamentos dentro do quarto começaram, causando uma grande confusão. Foi aí que Menteu e Beth saíram de dentro do quarto, desceram as escadas e saíram pela porta da frente.
Uma luz de um carro encandeou os dois, antes mesmo de saírem da parte da frente da casa.
O carro parou, o motorista desceu e abriu a porta para a pessoa que estava do lado de trás, então saiu dele um cara todo de preto, com uma manta nas costas, e ele carregava em suas mãos um buquê de tulipas, não vermelhas como a cor da paixão ou rosas como de costume, e muito menos brancas que simboliza a paz, as tulipas eram pretas assim como metade da noite daquele lugar.

Um comentário: