O Vidente - Capítulo 17



UMA NOVELA DE NATHAN FREITAS
CAPÍTULO 17
'O CIÚME DE MURILO'
DIREÇÃO GERAL DE DRAMATURGIA #DNA
HENZO VITURINO

CENA 1. INTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – NOITE.
MURILO E SORAIA AINDA CONVERSA.
MURILO: AÍ EU ARRUMO OUTRO EMPREGO E SAIO DAQUELA MISÉRIA.
SORAIA: EXISTEM LUGARES BEM PIORES.
MURILO: E MELHORES TAMBÉM. OLHA! EU TENHO CAPACIDADE PRA GANHAR MUITO MAIS. LÁ NA EMPRESA EU NÃO VOU PASSAR DE UM SUBGERENTE.
SORAIA: MAS VOCÊ PODE CHEGAR A SER UM GERENTE. JÁ PENSOU?
MURILO: QUE NADA. E OUTRA: O DR. CÁSSIO NÃO VAI MUITO COM A MINHA CARA. AGORA, SE ESSE NEGÓCIO DER CERTO COM O DANIEL... SE ELE DE FATO TEM O DOM DE ADIVINHAR AS COISAS... AÍ...
SORAIA: AÍ VOCÊS DOIS FAZEM SOCIEDADE?
MURILO: EXATAMENTE.
PLÍNIO APARECE COM CARA DE POUCOS AMIGOS.
PLÍNIO: SABE QUE HORAS JÁ É, SORAIA? DEZ HORAS. E AMANHÃ O SENHOR TEM TRABALHO, SEU MURILO. NÃO ACHA QUE ESTÁ TARDE PRA ESTÁ NA CASA DOS OUTROS?
MURILO: EU JÁ SEI PLÍNIO.
PLÍNIO: A SORAIA ACORDA COM OS GALOS.
SORAIA: PLÍNIO, POR FAVOR?
PLÍNIO: EU NUNCA CHEGUEI ATRASADO AO TRABALHO.
MURILO: NÃO ENCHE TÁ?
PLÍNIO: O QUE É ISSO? QUE FALTA DE RESPEITO É ESSA? NEM PARECE QUE VOCÊ TRABALHA COM UM HOMEM TÃO EDUCADO COMO O DR. CÁSSIO.
MURILO: TAMBÉM. ELE É RICO. É ISSO QUE IMPORTA PRA VOCÊ PLÍNIO.
PLÍNIO: EU NÃO FALEI ISSO. ELE É EDUCADO, FINO. E SE PORTA COMO UM CAVALHEIRO. HOJE MESMO QUANDO ESTEVE AQUI...
MURILO: (NÃO GOSTANDO) COMO É? O DR. CÁSSIO ESTEVE AQUI? (P/ SORAIA) VOCÊ NÃO ME DISSE ISSO.
SORAIA: EU ESQUECI MURILO.
PLÍNIO: ELOGIOU ATÉ O CAFEZINHO ESPECIAL QUE A SORAIA FEZ PRA ELE.
MURILO: CAFEZINHO ESPECIAL?
MURILO COM RAIVA SAI.
CENA 2. EXTERNA – FRENTE DA CASA DE SORAIA – CALÇADA – NOITE.
MURILO CHEGA POR ALI, ACENDE UM CIGARRO. ESTÁ COM RAIVA. SORAIA CHEGA.
SORAIA: MURILO, MEU BEM...
MURILO: AQUELE NOJENTO VEIO ATÉ SUA CASA, VOCÊ FAZ UM CAFEZINHO ESPECIAL PRA ELE, E NÃO ME CONTA NADA, SORAIA?
SORAIA: NÃO CONTEI POR QUE SABIA QUE VOCÊ IA FICAR DESSE JEITO.
MURILO: E TE PAQUEROU. HÁ TEMPOS QUE VENHO NOTANDO ISSO.
SORAIA: DEIXA DE BOBAGEM. ELE NÃO ME PAQUEROU COISA NENHUMA. É O JEITO DELE. VOCÊ SABE COMO ELE TRATA OS FUNCIONÁRIOS LÁ NA EMPRESA. AH MEU BEM... VAI FICAR COM CIÚME DISSO TAMBÉM?
MURILO: VOCÊ SABE COMO EU SOU.
SORAIA: VOCÊ DEVIA CONFIAR MAIS EM MIM.
MURILO: EM VOCÊ EU CONFIO. NÃO CONFIO NOS OUTROS. PRINCIPALMENTE NO TIPO DE PESSOA COMO ESSE TAL DE DR. CÁSSIO. SÓ POR QUE TEM DINHEIRO? ACHA QUE PODE TUDO?
SORAIA: ELE É NOSSO PATRÃO, MURILO.
MURILO: E DAÍ? SÓ POR ISSO VOU DAR MINHA NAMORADA DE BANDEJA PRA ELE? E OUTRA: EMPREGO É O QUE NÃO FALTA.
SORAIA: ENGANO SEU, MURILO. EMPREGO É UMA COISA MUITO DIFÍCIL HOJE EM DIA, NÃO SÓ AQUI, MAS COMO EM TODO LUGAR.
MURILO: (SUSPIRA) EU TE AMO, SORAIA. EU FICO LOUCO QUANDO PENSO NA IDÉIA DE UM DIA TE PERDER.
SORAIA: BOBAGEM, MEU AMOR. VOCÊ NUNCA VAI ME PERDER.
OS DOIS SE BEIJAM. MURILO SE DESPEDE E SAI.
CENA 3. INTERNA – CASA DE SORAIA E PLÍNIO – SALA – NOITE.
PLÍNIO ESTÁ FAZENDO ANOTAÇÕES NO CADERNO. APARECE SORAIA.
SORAIA: PLÍNIO, VOCÊ NUNCA MAIS FAÇA ISSO, TÁ OUVINDO? O MURILO FICOU CHATEADO.
PLÍNIO: O MURILO É UM MAL EDUCADO.
SORAIA: MAS O QUE VOCÊ TINHA QUE DIZER PRA ELE, QUE EU FIZ UM CAFEZINHO ESPECIAL? VOCÊ SABE QUE NÃO FOI BEM ASSIM.
PLÍNIO: É PRA ELE SABE COMO É QUE UM HOMEM FINO SE COMPORTA.
SORAIA: VOCÊ FEZ DE PROPÓSITO, PRA MAGOAR O MURILO. VOCÊ SABE PERFEITAMENTE QUE ELE É CIUMENTO. AGORA SE ACONTECER ALGUMA COISA NA EMPRESA, EU QUE VOU SEGURAR AS PONTAS. E O MURILO PASSOU UM TEMPÃO SEM TRABALHAR.
PLÍNIO: FALTA DE CAPACIDADE.
SORAIA: FALTA DE SORTE, COITADO. VOCÊ VIVE ENFURNADO AQUI DENTRO, E NÃO SABE O QUE ANDA ACONTECENDO LÁ FORA. O MURILO PRECISA DESSE EMPREGO E LEVANTAR AS MÃOS PRO CÉU.
PLÍNIO: O MURILO É UM ESPERTO. PENSA QUE EU NÃO SEI?
SORAIA: ESPERTO POR QUE?
PLÍNIO: ELE QUE TÁ METENDO NA SUA CABEÇA A IDÉIA DE VENDER ESTA CASA.
SORAIA: MAS QUE ABSURDO! O MURILO NUNCA DEU PALPITE NISSO, PLÍNIO.
PLÍNIO: VENDENDO A CASA, ENTRA DINHEIRO. AÍ ELE CASA COM VOCÊ.
SORAIA: NÃO É VERDADE.
PLÍNIO: INTERESSEIRO, ISSO QUE ELE É. MAS PRA CIMA DE MIM NÃO.
PLINIO SE LEVANTA E SAI. SORAIA EMBURRADA.
CENA 4. INTERNA – CASA DE OSVALDO – SALA – NOITE.
OSVALDO AO CELULAR, FALANDO COM DANIEL NO OUTRO LADO DA LINHA.
OSVALDO: DESCULPA TE LIGAR ESSA HORA. SÓ QUERIA SABER SE VOCÊ VAI ALMOÇAR EM CASA AMANHÃ. (PAUSA) SEI. QUE PENA! E OUTRA COISA: SEU PAI CONVERSOU COM VOCÊ SOBRE O QUE ACONTECEU? (PAUSA. RI) EU SABIA. VAMOS FAZER ASSIM... AMANHÃ A NOITE EU DOU UMA PASSADINHA AÍ, TÁ BOM? EU PRECISO BATER UM PAPO COM VOCÊ. TÁ LEGAL. ATÉ AMNHÃ. (DESLIGA).
CENA 5. INTERNA – CASA DE DANIEL – SALA – NOITE.
DANIEL DESLIGANDO O CELULAR. FÁBIO SENTADO, LENDO UM JORNAL, CÉLIA FAZENDO CROCHÊ.
FÁBIO: O QUÊ QUE O OSVALDO QUERIA?
DANIEL: VAI PASSAR AMANHÃ A NOITE AQUI. E PERGUNTOU SE O SENHOR JÁ HAVIA CONVERSADO COMIGO, PAI.
FÁBIO: SÓ QUE A NOSSA CONVERSA AINDA NÃO TERMINOU, DANIEL.
DANIEL: TEM DÓ HEIN, PAI.
CÉLIA: FÁBIO, DEIXA O DANIEL DORMIR.
FÁBIO: VAI DORMIR VOCÊ CÉLIA.
CÉLIA: EU VOU MESMO.
CÉLIA BEIJA DANIEL E SAI.
FÁBIO: BEM, DANIEL...
DANIEL: OLHA PAI, NÃO ADIANTA O SENHOR COMEÇAR A FALAR NÃO. TOU POR DENTRO DE TUDO O QUE O SENHOR VAI DIZER. SÓ QUE TEM UM PROBLEMA PAI: O SENHOR NÃO VAI ME CONVENCER...
FÁBIO: EU NÃO QUERO TE CONVENCER DE NADA NÃO, FILHO. QUERO SÓ TE EXPLICAR O QUE FOI QUE ACONTECEU.
DANIEL: O SENHOR JÁ ME EXPLICOU... QUE EU TENHO UMA FORÇA MEDIÚNICA, QUE SOU MÉDIUM...
FÁBIO: EXATAMENTE.
DANIEL: MAS POR QUE É QUE O QUE TENHO TEM QUE SER UMA COISA MEDIUNICA?
FÁBIO: POR QUE AS EXPERIÊNCIAS E AS PESQUISAS ESPIRITAS HÁ MAIS DE CEM ANOS, PROVARAM A EXISTÊNCIA DOS FENÔMENOS MEDIUNICOS. E TAMBÉM POR QUE TENHO PROVAS... A MINHA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL.
DANIEL: MAS QUE PROVAS?
FÁBIO: VEJA BEM, FILHO... QUANDO UM PARENTE PRÓXIMO OU UM AMIGO VEM CONVERSAR CONOSCO E SE IDENTIFICA... VOCÊ NÃO PODE CONTINUAR DUVIDANDO.
DANIEL: PERAÍ PAI... O SENHOR ESTÁ SE REFERINDO A UMA PESSOA QUE JÁ MORREU?
FÁBIO: É EVIDENTE.
DANIEL: (SOLTA UMA RISADA) ESSA É BOA, VIU PAI? ME DESCULPA. MAS NESSA EU NÃO ACREDITO. COMO É QUE UMA PESSOA QUE JÁ MORREU VEM CONVERSAR COM QUEM TÁ VIVO? ESSA NÃO! MORREU, ACABOU. ISSO NÃO ENTRA. A VIDA ACABA QUANDO A GENTE MORRE.
FÁBIO: ENGANO SEU. É AÍ QUE A VIDA COMEÇA.
DANIEL: PRO SENHOR, PAI. MAS PRA MIM... NÃO.
DANIEL DÁ UM BEIJO NO PAI E SAI. FÁBIO BALANÇA A CABEÇA DECEPCIONADO.
NISSO CORTA PARA...

FIM DO CAPÍTULO 17

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