Memória DNA | Com Amor | Capítulo 03

Com Amor

Novela de Marcus Vinick

Escrita com

Miguel Rodrigues

Direção

Miguel Rodrigues

Direção Geral

Miguel Rodrigues

Núcleo

#DNA – Dramaturgia Novos Autores

Personagens deste capítulo

ÂNGELO

MARCELO

GABRIELA

SOPHIA

MIGUEL

EVANDRO

CAROLINA

PAULO

LEONARDO

AMÉLIA

Participação Especial

PROFESSORA, ALUNOS

CENA 01. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. SALA. INT. DIA.

SOPHIA DESCE ÀS ESCADAS E DIRIGE-SE À PORTA. ESTÁ PRESTE A SAIR. MARCELO E GABRIELA APARECEM.

GABRIELA          - Onde você pensa que vai?

SOPHIA                - Vou procurar o Miguel.

GABRIELA          - Não vai porque já vamos embora.

SOPHIA                - (SEM ENTENDER) Nós vamos embora amanhã.

GABRIELA          - Não, nós vamos embora hoje, agora!

SOPHIA                - (INCONFORMADA) Como assim?

MARCELO           - (AGACHA-SE) Filha, aconteceu algo muito grave envolvendo o Miguel...

SOPHIA                - Uma coisa muito grave? O que aconteceu com o Miguel? Ele sofreu algum acidente? Como ele está?

MARCELO           - Não foi acidente nenhum, querida... Eu nem sei como te explicar isso.

GABRIELA          - Não sabe explicar ou não quer contar a realidade dos fatos?

MARCELO           - Por favor, Gabriela, não pegue pesado!

GABRIELA          - Pegando pesado ou não, eu tenho que ser realista. Acontece, Sophia, é que o seu amiguinho não passa de um marginal mirim.

SOPHIA                - Por que você está falando isso?

GABRIELA          - Porque ele mexeu na minha mala e roubou aquele colar de pérolas que eu comprei em Paris.

SOPHIA                - Você está mentindo.

GABRIELA          - Eu não estou mentindo. O seu pai está de prova, aliás, todos nessa fazenda estão de prova. Eu encontrei o colar dentro de uma das gavetas da cômoda, no quarto dele.

SOPHIA                - (GRITA) Você está mentindo... Você é uma mentirosa!

GABRIELA          - Pode dizer o que quiser garota, eu não me importo! Aquele seu amigo é um ladrão, um aprendiz de marginal. O destino dele já está traçado: cadeia ou morte.

SOPHIA                - (GRITA REVOLTADA) Você é louca!

GABRIELA PERDE A PACIÊNCIA E DÁ UMA BOFETADA EM SOPHIA.

MARCELO           - (GRITA) Você enlouqueceu Gabriela?

MARCELO PEGA A FILHA PELA MÃO E A ABRAÇA. A MULHER FICA ENCARANDO A MENINA.

GABRIELA          - Eu te rogo uma praga: você vai crescer, vai se tornar uma mulher irá ter uma filha e ela te tratará do mesmo modo que você me trata hoje.

SOPHIA NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS E FICA OLHANDO PARA GABRIELA, ENQUANTO MARCELO A CONSOLA COM UM ABRAÇO.

GABRIELA          - (CONTINUA) Agora, se você tirou alguma roupa da mala, coloque de novo. Nós vamos embora. E já fique sabendo que você nunca mais irá voltar aqui.

MARCELO           - (LEVANTA-SE) Como assim? Aqui é a casa de meu pai. Você não pode proibir nossa filha de visitar o avô dela.

GABRIELA          - (SÉRIA) Não enquanto aquele garoto estiver morando aqui.

MARCELO OLHA PARA GABRIELA, DEPOIS SE ABAIXA E TOCA O ROSTO DE SOPHIA.

MARCELO           - Vá arrumar suas coisas, filha.

SOPHIA RETIRA-SE.

MARCELO           - Você não devia ter agredido a Sophia.

GABRIELA          - Eu apenas estou fazendo o que você não faz Marcelo, que é por limites nessa garota. Ela está crescendo mimada e mal educada. Eu não vou tolerar isso, já fique sabendo.

GABRIELA SE RETIRA E MARCELO FICA OLHANDO PARA A MULHER.

CORTA PARA:

CENA 02. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA DE EVANDRO E CAROLINA. INT. DIA.

EVANDRO E CAROLINA ARRUMAM SEUS PERTENCES PARA IREM EMBORA, ENQUANTO ÂNGELO TENTA CONVENCÊ-LOS A FICAR.

ÂNGELO              - Evandro, nós podemos conversar.

EVANDRO           - (RESISTENTE) Nós já não temos mais nada para conversar, Seu Ângelo, vou embora com minha família e isso já está decidido.

ÂNGELO              - Vocês já trabalham há tantos anos para mim e eu também já estou apegado ao Miguel. Por favor, pensem mais um pouco.

EVANDRO           - Nós fomos humilhados... Acusados de roubo.

ÂNGELO              - A minha nora é quem errou com as palavras, mas isso não é um motivo pra vocês irem embora. Aqui, vocês têm essa casinha, vocês têm a liberdade de fazerem o que quiser na minha terra, como se quiserem fazer uma horta ou qualquer outra coisa para o lazer de vocês.

EVANDRO           - Nós já temos um lugar, Seu Ângelo, eu agradeço por todos esses anos, mas não podemos continuar aqui depois disso tudo que aconteceu hoje. Eu estou envergonhado. Não sei nem mesmo em que buraco enfiar a minha cara.

PAULO APARECE E PARA NA PORTA. ÂNGELO VAI ATÉ O HOMEM PEDIR-LHE AJUDA.

ÂNGELO              - Paulo me ajude... Converse com seu irmão e diga pra ele ficar.

PAULO                 - Eu, minha esposa e a minha filha também estamos partindo, Seu Ângelo.

ÂNGELO              - Vocês não podem fazer isso comigo.

PAULO                 - A verdade, Seu Ângelo, é que eu já queria partir faz um bom tempo. Essas suas terras já não estão dando plantio, o tempo não está ajudando e logo, logo essa fazenda já não irá valer mais nada.

ÂNGELO OLHA PARA PAULO, MAGOADO. FICA CALADO E EM SEGUIDA SE RETIRA. EVANDRO E PAULO CONTINUAM CONVERSANDO.

EVANDRO           - Para onde nós vamos?

PAULO                 - Pra casa da tia Elvira.

EVANDRO           - Mas é aqui perto.

PAULO                 - Sim, mas não temos outro lugar... A tia Elvira está nos recebendo de braços abertos.

EVANDRO MAGOADO, NÃO CONSEGUE CONTER AS LÁGRIMAS.

CORTA PARA:

CENA 03. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA DE EVANDRO E CAROLINA. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.

CAROLINA ENTRA NO QUARTO E VÊ QUE SEU FILHO CHORA EM CIMA DA CAMA.

CAROLINA          - Filho...

MIGUEL               - O que foi mãe?

CAROLINA          - O seu pai já está quase terminando de arrumar as coisas. Nós vamos partir à noite.

MIGUEL               - Achei que fossemos amanhã, cedo.

CAROLINA          - Não. Nós não vamos para muito longe. Estaremos perto daqui.

MIGUEL               - Pra onde vamos?

CAROLINA          - Pra casa da tia Elvira.

MIGUEL FICA QUIETO E CAROLINA SE SENTA NA CAMA.

CAROLINA          - Filho, eu preciso conversar com você.

MIGUEL               - Mãe, eu já disse que não peguei aquela jóia.

CAROLINA          - Eu sei disso, meu anjo, eu sei. Eu acredito que você não tenha feito isso, mas a jóia foi encontrada aqui, em seu quarto.

MIGUEL               - Eu não sei como isso aconteceu. Eu nunca vi aquela jóia e nunca peguei numa.

CAROLINA NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS. O MENINO COMEÇA A CHORAR NOVAMENTE.

MIGUEL               - Eu não queria ir embora... Nunca mais vou ver a Sophia.

CAROLINA          - Eu sinto muito meu filho.

MIGUEL               - (PEGA NA MÃO DE CAROLINA) Mãe, convença o pai a ficar?

CAROLINA          - Meu filho, o seu pai já está decidido a ir embora. E também, o seu tio conseguiu fazer com que ele não mude de ideia. Por um lado, eu acho ruim porque já moramos aqui há um bom tempo e será doloroso partir, mas por outro lado, eu acho necessário.

MIGUEL               - (CHORA) Eu não posso ficar sem a Sophia.

CAROLINA          - Meu filho, não chore, o tempo vai passar e você vai conseguir superar tudo isso.

MIGUEL CONTINUA CHORANDO. CAROLINA O ABRAÇA FORTE E TAMBÉM CHORA.

CORTA PARA:

CENA 04. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. QUARTO DE SOPHIA. INT. DIA.

SOPHIA JÁ ESTÁ PRONTA PARA IR EMBORA, QUANDO GABRIELA APARECE.

GABRIELA          - Você já está pronta?

SOPHIA                - (SEM OLHAR PARA A MÃE) Sim.

GABRIELA          - Nós já vamos embora. Ah, fique sabendo de uma bela notícia: eu ouvi seu avô falando para seu pai que o Miguel e a família dele irão embora.

SOPHIA                - (CHOCADA) O quê?

GABRIELA          - (SORRINDO) Você irá poder vir visitar seu avô, mas nunca mais irá ver aquele moleque. Estou tão feliz, você não está?

SOPHIA FICA UM POUCO PENSATIVA TENTANDO CONTER AS LÁGRIMAS, MAS ACABA NÃO RESISTINDO, COMEÇA A SOLUÇAR E LOGO COMEÇA A CHORAR.

CORTA PARA:

CENA 05. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. VARANDA. EXT. DIA.

MARCELO E ÂNGELO ESTÃO NA VARANDA. OS DOIS CONVERSAM. DESPEDEM-SE.

MARCELO           - Pai, quero lhe pedir desculpas por toda essa confusão.

ÂNGELO              - Você não tem que me pedir desculpas, meu filho.

MARCELO           - O senhor irá ficar bem?

ÂNGELO              - Sim. Podem ir em paz.

SOPHIA APARECE E ÂNGELO A ABRAÇA FORTEMENTE.

ÂNGELO              - Ô minha neta!

SOPHIA                - (TRISTE) Vô, não deixe o Miguel ir embora.

ÂNGELO              - Minha neta querida, eu não posso fazer nada pra impedir que ele vá embora. Isso é uma decisão dos pais dele.

SOPHIA                - Antes de ele ir embora, diga pra ele que eu sei que ele é inocente e que jamais seria capaz de roubar.

ÂNGELO              - Está bem, minha neta... Eu irei dizer.

GABRIELA APARECE E OLHA PARA ÂNGELO, QUE A OLHA SERIAMENTE.

GABRIELA          - Até mais, Seu Ângelo!

ELE APENAS BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE E NÃO RESPONDE NADA. MARCELO ABRE A PORTA DO CARRO.

GABRIELA          - (ORDENA) Vamos Sophia, entre no carro!

SOPHIA OBEDECE. DIRIGE-SE AO CARRO E QUANDO ESTÁ PRESTE A ENTRAR, MIGUEL APARECE.

MIGUEL               - (GRITA) Sophia!

SOPHIA                - (SORRIR) Miguel!

MIGUEL               - (COM OS OLHOS AVERMELHADOS) Sophia, eu vim me despedir de você.

GABRIELA          - (INTERFERE) Sophia, entre nesse carro agora!

SOPHIA NÃO DÁ ATENÇÃO À MÃE E CORRE EM DIREÇÃO AO MENINO, LHE DÁ UM FORTE ABRAÇO JÁ NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS.

SOPHIA                - Eu vou sentir a sua falta.

MIGUEL               - Eu também.

SOPHIA                - Você promete que nunca vai me esquecer, Miguel?

MIGUEL               - Eu prometo Sophia, eu prometo.

SOPHIA                - Eu não quero te perder.

MIGUEL               - Eu te amo, Sophia.

MIGUEL E SOPHIA CONTINUAM ABRAÇADAS ATÉ QUE GABRIELA PUXA A FILHA PELO BRAÇO.

ÂNGELO              - (INTERFERE) Deixe eles se despedirem, Gabriela!

GABRIELA          - (GRITA) Vamos, Sophia!

SOPHIA PEGA A MÃO DO GAROTO E PARECE NÃO QUERER LARGAR DE MODO ALGUM.

GABRIELA          - Largue a mão desse garoto imundo!

GABRIELA CONTINUA PUXANDO SOPHIA.

ÂNGELO              - (REVOLTADO) Deixe os dois.

MARCELO           - Gabriela deixe os dois se despedirem... Por favor?!

CAROLINA E EVANDRO APARECEM. PUXAM MIGUEL. SOPHIA E MIGUEL DESESPERAM-SE.

SOPHIA                - (GRITA CHORANDO) Não!

MIGUEL               - (É SEGURADO POR EVANDRO, TENTA SE SOLTAR) Sophia!

SOPHIA É POSTA NO CARRO A FORÇA POR GABRIELA. SOPHIA FICA DE JOELHOS NO BANCO DO CARRO. DESESPERADA ELA COMEÇA A BATER NA JANELA DO CARRO.

GABRIELA          - (AMEAÇA) Se você continuar batendo nessa janela, eu vou te dar uma surra quando chegarmos em casa.

SOPHIA                - (GRITA) Eu quero sair daqui.

GABRIELA          - (GRITA REVOLTADA) Cale a boca!

MARCELO BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE, APERTA O ACELERADOR E ELES SE VÃO. O MENINO CONSEGUE SE SOLTAR E SAI CORRENDO DESESPERADO. A MENINA OLHA SEU AMIGO PELA JANELA DO CARRO E O VÊ DESAPARECER QUANDO O CARRO SAI PELA PORTEIRA DA FAZENDA, QUE DÁ ACESSO À ESTRADA.

CORTA PARA:

1º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 06. CIDADE DE CURITIBA. STOCK-SHOTS. EXT.

SUCESSÃO DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA. CÂMERA PERCORRE VÁRIOS PONTOS DA CIDADE EM RITMO FRENÉTICO INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LEGENDA: CURITIBA – ALGUNS DIAS DEPOIS.

CENA 07. CIDADE DE CURITIBA. ESCOLA. FACHADA. DIA.

VEMOS AGORA A FACHADA DE UMA TÍPICA ESCOLA PARTICULAR TRADICIONAL DE CURITIBA. OUVIMOS O BARULHO VINDO DE DENTRO DA ESCOLA. AGORA ENTRAMOS NO PRÉDIO E MOSTRAMOS TODA A ESTRUTURA DA ESCOLA POR DENTRO ATÉ CHEGARMOS A UMA DAS SALAS DE AULAS.

CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 08. CIDADE DE CURITIBA. ESCOLA. SALA DE AULA. INT. DIA.

SOPHIA DESENROLA O PAPEL COM O DESENHO QUE MIGUEL LHE DERA E FICA OLHANDO. A PROFESSORA PERCEBE QUE SOPHIA ESTÁ DISTRAÍDA E APROXIMA-SE DA MENINA.

PROFESSORA     - Sophia...

SOPHIA                - Sim, professora?

PROFESSORA     - Está precisando de ajuda nos exercícios?

SOPHIA                - Não.

PROFESSORA     - Então porque não está fazendo?

SOPHIA COLOCA O DESENHO ENTRE AS ÚLTIMAS FOLHAS DO CADERNO, VOLTA A PÁGINA EM QUE ESTAVA, PEGA O LÁPIS E COMEÇA A FAZER OS EXERCÍCIOS.

CORTA PARA:

CENA 09. CIDADE DE CURITIBA.ESCOLA. ENTRADA DA SALA DE SOPHIA. INT. DIA.

O SINAL DE SAÍDA TOCA. MOVIMENTO DE ALUNOS E PROFESSORES SAINDO DE SUAS RESPECTIVAS SALAS DE AULA. MARCELO ESPERA SOPHIA NA ENTRADA DA SALA. SOPHIA CAMINHA PARA ENTRADA. VÊ MARCELO E DIRIGE-SE A ELE.

SOPHIA                - Pai?

MARCELO           - (SORRINDO) Vim te buscar hoje.

SOPHIA                - E a Lídia?

MARCELO           - (ABAIXA-SE/TOCA O ROSTO DA MENINA) A Lídia está em casa. Eu vim te buscar porque me bateu uma vontade imensa de ver a minha filha amada.

SOPHIA DÁ UM LEVE SORRISO. BEIJA O ROSTO DE MARCELO. A PROFESSORA APARECE NA PORTA.

PROFESSORA     - Doutor Marcelo?

MARCELO           - (LEVANTA-SE/FITA A PROFESSORA) Sim?

PROFESSORA     - Eu preciso conversar com o senhor.

MARCELO           - (SEGURA A MÃO DE SOPHIA) Vamos, filha?

PROFESSORA     - Não, a Sophia fica aqui fora. É uma conversa em particular.

MARCELO           - (PARA SOPHIA) Fique aqui, filha, não vá sair daqui.

SOPHIA BALANÇA A CABEÇA PARA O PAI. MARCELO BEIJA A TESTA DE SOPHIA E EM SEGUIDA CORTA IMEDIATO PARA: SALA DE AULA. INT. DIA. MARCELO ACOMPANHA A PROFESSORA QUE SENTA-SE À SUA MESA E MARCELO SENTA-SE EM UMA DAS CADEIRAS DOS ALUNOS.

MARCELO           - O que a senhora deseja falar comigo?

PROFESSORA     - O senhor já deve imaginar que seja sobre sua filha.

MARCELO           - Ela aprontou alguma coisa?

PROFESSORA     - Não, Doutor Marcelo, ao contrário, a Sophia é uma menina muito comportada, respeita a mim e os seus colegas, mas há algo que está me deixando preocupada.

MARCELO           - O que seria?

PROFESSORA     - Eu fui professora da Sophia no ano passado e ela sempre teve um ótimo rendimento, ótimas notas. A aluna mais bem aplicada. O que acontece é que, nesse início de ano letivo, ela não está prestando a atenção na aula, parece sempre estar com a mente em outro lugar. Está acontecendo alguma coisa? Eu quero saber por que quero ajudá-la a continuar tendo um bom desempenho e não venha a tirar más notas.

MARCELO FICA QUIETO POR ALGUNS SEGUNDOS, RESPIRA FUNDO E VOLTA A FALAR COM A PROFESSORA.

MARCELO           - A Sophia perdeu um amigo durante as férias.

PROFESSORA     - Eu sinto muito. Deve estar sendo muito difícil para ela enfrentar essa situação.

MARCELO           - Esse amigo não morreu se é isso que a senhora está pensando. Ela perdeu esse amigo no sentindo de que ela nunca mais irá revê-lo.

PROFESSORA     - Por quê?

MARCELO           - Porque aconteceu algo muito grave. Esse garoto também não mora aqui, ele mora na fazenda de meu pai, quer dizer, morava.

PROFESSORA     - Ah... Bom, Doutor Marcelo, eu vou fazer o possível para que isso não prejudique o desempenho escolar de sua filha.

MARCELO           - Eu agradeço.

MARCELO E A PROFESSORA LEVANTAM-SE. CUMPRIMENTAM-SE COM UM APERTO DE MÃO. CORTA IMEDIATO PARA: ESCOLA. PÁTIO. INT. DIA. SOPHIA ESTÁ SENTADA EM UM BANCO. MARCELO E A PROFESSORA SAEM DA SALA DE AULA.

MARCELO           - Vamos, filha?

SOPHIA                - Vamos!

SOPHIA LEVANTA-SE, SEGURA NA MÃO DE MARCELO E OS DOIS SE VÃO.

CORTA PARA:

CENA 10. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA DE JANTAR. INT. TARDE.

SOPHIA NÃO COME DIREITO E APENAS REVIRA A COMIDA COM A COLHER. GABRIELA A OLHA SERIAMENTE.

GABRIELA          - Pare de revirar essa comida e coma de uma vez.

SOPHIA                - Eu não estou com fome.

GABRIELA          - Você está comendo pouco já faz uns bons dias. Se você ficar anêmica, eu não fazer exatamente nada, está entendido?

SOPHIA                - (OLHA SERIAMENTE PARA GABRIELA) Eu não me importo.

MARCELO           - As duas vão discutir agora, na hora do almoço? (PARA SOPHIA) Sophia, você ainda está em fase de crescimento e precisa comer direito. Não pode ficar apenas revirando a comida e não comer nem que sejam algumas colheradas.

SOPHIA                - Eu não consigo comer pensando que, na próxima vez que eu for à fazenda do vovô, eu não irei ver o Miguel.

GABRIELA          - (INDIGNADA) Esse moleque ainda?

SOPHIA                - Eu gosto do Miguel.

GABRIELA          - Você tem que esquecer que gosta dele, você tem que esquecer que ele existe.

SOPHIA                - (SE RETIRA) Jamais.

MARCELO           - Filha volte aqui!

GABRIELA          - Deixe Marcelo.

MARCELO           - Gabriela, você está cada vez mais dificultando as coisas.

GABRIELA          - Eu estou dificultando ou a Sophia é quem está se tornando uma menina impossível?

MARCELO           - Você está estragando sua relação com sua própria filha, essa é a verdade. Você não tem paciência, só sabe gritar e tratar a menina como se ela fosse uma qualquer.

GABRIELA          - Você está sendo exagerado.

MARCELO           - Não. Quem vive exagerando aqui é você. A Sophia pode acabar ficando anêmica e você disse a ela que não iria fazer exatamente nada; isso não é coisa que se diga para uma criança.

GABRIELA          - Não me venha dizer como devo tratar a minha filha, Marcelo, até porque você não é nenhum exemplo.

MARCELO           - Mas eu garanto que a Sophia gosta mais de mim do que gosta de você.

GABRIELA          - (ALTERA A VOZ) Agora você foi longe demais, Marcelo!

MARCELO           - Você não quer admitir que eu tenho toda a razão. Se você continuar tratando a Sophia do jeito que você vive tratando, ela irá perder uma boa parte do afeto que sente por você.

GABRIELA          - Uma filha não tem que ter afeto pela mãe, tem que ter amor. Uma filha jamais perde o amor que sente pela mãe.

MARCELO           - Você é quem acha isso.

MARCELO LEVANTA-SE E SE RETIRA. GABRIELA FICA PENSATIVA. FRIA, A MULHER VOLTA A COMER.

CORTA PARA:

2º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 11.CIDADE DE CURITIBA. STOCK-SHOTS.PASSAGEM DE TEMPO.

SUCESSÃO DE IMAGENS EM MOVIMENTO FRENÉTICO INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO DO DIA PARA O OUTRO. MÚSICA ADEQUADAMENTE FRENÉTICA. MOSTRAMOS A CIDADE DE CURITIBA EM VÁRIOS PONTOS ATÉ CHEGARMOS À FACHADA DE UM ENORME PRÉDIO: A EMPRESA DE MARCELO.

CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 12.CIDADE DE CURITIBA. EMPRESA. ESCRITÓRIO DE MARCELO. INT. DIA.

VEMOS MARCELO TRABALHANDO EM MEIO A UM TURBILHÃO DE PAPÉIS. LEONARDO ENTRA NO ESCRITÓRIO. FECHA A PORTA.

LEONARDO        - Marcelo.

MARCELO           - Leonardo.

OS DOIS SE CUMPRIMENTAM COM UM APERTO DE MÃOS E DEPOIS O HOMEM SE SENTA NA POLTRONA À FRENTE DA MESA DE TRABALHO DE MARCELO.

MARCELO           - O que o trouxe aqui?

LEONARDO        - Nós temos que conversar meu amigo.

MARCELO           - Até imagino o que seja.

LEONARDO        - Pelo menos, você já parece estar consciente do que está acontecendo, não é, Marcelo?

MARCELO           - Mas eu não quero falar sobre esse assunto.

LEONARDO        - Como assim? Marcelo... São os seus negócios que estão em jogo. Você pode acabar perdendo tudo.

MARCELO           - (COM UMA EXPRESSÃO TRISTE NO ROSTO) Isso tudo está muito difícil pra mim.

LEONARDO        - Eu até imagino. E o pior é que não podemos mais reverter a situação. Eu, como seu amigo e advogado, te aconselho a já ir tomando as primeiras providências.

MARCELO           - Primeiras providências?... Como assim?

LEONARDO        - Já começar a anunciar a venda de alguns de seus patrimônios, como imóveis e outras coisas referentes.

NA POLTRONA, MARCELO SE JOGA PARA TRÁS E PASSA AS MÃOS PELOS CABELOS COM NERVOSISMO.

CORTA PARA:

CENA 13. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

DAMOS UM GIRO POR TODA A CASA DE MARCELO E GABRIELA, ATÉ CHEGARMOS À SALA DE JANTAR, AONDE VAMOS DE ENCONTRO COM GABRIELA QUE ESTÁ SENTADA À MESA SOZINHA. GABRIELA JANTA. MARCELO CHEGA. ATRAVESSA A SALA DE JANTAR. PARECE ESTAR CONTRARIADO E COM UMA EXPRESSÃO SÉRIA NO ROSTO. ELE VAI EM DIREÇÃO À ESCADA E GABRIELA O INTERROMPE.

GABRIELA          - Tome um banho e venha jantar.

MARCELO           - Eu não estou com fome.

GABRIELA          - Porque está com essa cara, Marcelo?

MARCELO           - Meu dia não foi muito legal, só isso.

MARCELO SE RETIRA. SOBE AS ESCADAS. GABRIELA CONTINUA JANTANDO.

CORTA PARA:

CENA 14. CASA DE MARCELO E GABRIELA. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.

AGORA PERCORREMOS TODO O QUARTO DO CASAL ATÉ CHEGARMOS À CAMA. VEMOS MARCELO DEITADO E GABRIELA PREPARANDO-SE PARA SE DEITAR TAMBÉM. CONVERSA COM O MARIDO.

GABRIELA          - Você não quer me falar o que está acontecendo?

MARCELO           - Eu não tenho nada pra te falar.

GABRIELA          - Você nunca me falou nada em relação ao seu trabalho, como andam as coisas e os negócios...

MARCELO           - Você nunca se interessou em saber como os negócios andam Gabriela.

GABRIELA          - Mas se alguma coisa acontecer, você tem que falar, afinal sou a sua esposa.

MARCELO           - (MENTE) Não há nada de grande relevância nos meus negócios que eu precise te falar.

GABRIELA          - (DISFARÇA) Hum...

MARCELO           - (MUDA DE ASSUNTO) Sábado, pela manhã, irei para Campo Bonito e irei levar a Sophia.

GABRIELA          - (PASSA CREME NAS PERNAS) Pode levá-la. O aprendiz de marginal já não está mais morando na fazenda mesmo.

MARCELO           - Você não quer vir junto?

GABRIELA          - Não.

MARCELO VIRA-SE PARA O LADO. GABRIELA TERMINA DE SE AJEITAR PARA DEITAR-SE.

CORTA PARA:

CENA 15. IMAGENS AÉREAS. STOCK-SHOTS.

IMAGENS AÉREAS DE TODA A REGIÃO DO PARANÁ. VEMOS UMA SUCESSÃO DE IMAGENS ATÉ CHEGARMOS À CIDADE DE CAMPO BONITO.

INSERIR LEGENDA: CAMPO BONITO – SÁBADO.

CORTA PARA:

CENA 16. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. VARANDA. EXT. DIA.

MARCELO E SOPHIA CHEGAM À FAZENDA DE ÂNGELO MEIRELLES. PASSA DO MEIO-DIA. ÂNGELO ESTÁ SENTADO EM SUA CADEIRA DE BALANÇO, LEVANTA-SE PARA RECEBER O FILHO E A NETA.

ÂNGELO              - (DÁ UM ABRAÇO FORTE EM SOPHIA) Minha neta querida.

SOPHIA                - Só vim porque estou com saudade do senhor, porque senão eu não teria vindo.

ÂNGELO              - Até sei o porquê.

MARCELO           - Ô, pai!

OS DOIS SE ABRAÇAM. ÂNGELO PERCEBE QUE O FILHO NÃO ESTÁ MUITO BEM.

ÂNGELO              - Porque está com essa cara, Marcelo?

MARCELO           - Vim porque preciso conversar com o senhor... Preciso de um conselho.

ÂNGELO              - Vamos conversar então... (OLHA PARA SOPHIA) Sophia, vá até a cozinha porque a Amélia fez um bolo hoje de manhã. Está muito delicioso.

SOPHIA VAI ATÉ A COZINHA. OS DOIS A OBSERVAM. ÂNGELO OLHA PARA O FILHO, PÕE A MÃO EM SEU OMBRO.

ÂNGELO              - Vamos conversar na biblioteca.

MARCELO           - Vamos.

MARCELO E ÂNGELO SE RETIRAM À CAMINHO DA BIBLIOTECA.

CORTA PARA:

CENA 17. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. COZINHA. INT. DIA.

SOPHIA COME UM PEDAÇO DE BOLO. ESTÁ PENSATIVA. LARGA O BOLO NO PRATO E FALA COM AMÉLIA.

SOPHIA                - Amélia.

AMÉLIA               - Sim, Sophia?

SOPHIA                - Amélia, você sabe onde o Miguel está morando?

AMÉLIA               - (NERVOSA) Não sei não.

SOPHIA                - Se não soubesse, não teria ficado nervosa... Ele mudou de cidade?

AMÉLIA               - (AINDA NERVOSA) Sophia, eu já disse que não sei. Eu preciso fazer o meu trabalho. Com licença!

SOPHIA CALA-SE. OBSERVA AMÉLIA QUE ESTÁ NERVOSA. SOPHIA PEGA NOVAMENTE O BOLO E VOLTA A COMÊ-LO.

CORTA PARA:

CENA 18. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. BIBLIOTECA. INT. DIA.

VEMOS MARCELO E ÂNGELO NA BIBLIOTECA. A CONVERSA JÁ ESTÁ INICIADA. ÂNGELO OLHA PARA O FILHO, QUE ESTÁ DESESPERADO. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.

ÂNGELO              - Se eu pudesse te ajudar, filho.

MARCELO           - Eu só preciso de um conselho, mais nada.

ÂNGELO              - Um conselho não irá salvar a sua situação financeira. Só digo que você tem que conversar com a sua esposa e vocês terão que se acostumar com as condições que terão que viver daqui pra frente.

MARCELO           - E se a Gabriela quiser me deixar?

ÂNGELO              - Você terá que viver sem ela e enfrentar seus problemas de cabeça erguida. A Gabriela não é a única mulher do mundo. E digo que você ainda pode encontrar uma mulher de verdade que te ajude, e não uma serpente peçonhenta que só sabe soltar veneno e te sugar.

MARCELO           - A Gabriela tem os defeitos dela, não tem paciência com a Sophia, o que me deixa revoltado, mas eu amo muito e não sei o que seria de mim sem ela ao meu lado.

ÂNGELO              - (INDIGNADO) Eu não te falo mais nada, Marcelo.

MARCELO OLHA PARA O PAI, QUE ESTÁ BASTANTE REVOLTADO. OS DOIS SE ENCARAM.

CORTA PARA:

CENA 19. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. DIA.

SOPHIA CAMINHAVA E PAROU EM CIMA DA ELEVAÇÃO DO GRAMADO. DE REPENTE, OUVIU UMA VOZ CONHECIDA CHAMAR SEU NOME.

MIGUEL               - (ATRÁS DE SOPHIA) Sophia...

A MENINA PARA, JÁ COM UM SORRISO NO ROSTO, VIRA-SE. PERCEBE QUE É MIGUEL.

SOPHIA                - (SORRINDO) Miguel...

OS DOIS FICAM SE OLHANDO E SORRINDO UM PARA O OUTRO. CONGELA NO PERFIL DE “SOPHIA E MIGUEL”.

CORTA PARA:

FIM DO 3º CAPÍTULO