Memória DNA | Com Amor | Capítulo 04

Com Amor

Novela de Marcus Vinick

Escrita com

Miguel Rodrigues

Direção

Miguel Rodrigues

Direção Geral

Miguel Rodrigues

Núcleo

#DNA – Dramaturgia Novos Autores

Personagens deste capítulo

ÂNGELO

MARCELO

GABRIELA

SOPHIA

MIGUEL

EVANDRO

CAROLINA

PAULO

LEONARDO

RAUL

Participação Especial

ELVIRA, RONALDO, LÍDIA

CENA 01. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. DIA.

CONTINUAÇÃO DA CENA 19 DO CAPÍTULO ANTERIOR. SOPHIA E MIGUEL CONTINUA SE OLHANDO E SORRINDO UM PARA O OUTRO.

SOPHIA              - (DÁ UM FORTE ABRAÇO EM MIGUEL) Miguel, eu não estou acreditando que você está aqui.

MIGUEL             - (PASSA A MÃO PELOS CABELOS DE SOPHIA) Eu sabia que você iria estar aqui.

SOPHIA              - (COM OS OLHOS MAREJADOS) Eu achei que nunca mais fosse te ver.

MIGUEL TOCA O ROSTO DA MENINA E SECA COM A MÃO A LÁGRIMA QUE PERCORRE O ROSTO DELA.

MIGUEL             - Algo me disse que você estava aqui e eu vim.

SOPHIA              - Como você entrou aqui, na fazenda?

MIGUEL             - Eu pulei uma cerca.

SOPHIA              - Você poderia ter se machucado, sabia?

MIGUEL             - O importante é que eu estou com você.

SOPHIA              - Eu estou tão feliz... Onde você está morando?

MIGUEL             - Não é muito longe... É aqui perto.

SOPHIA              - (ENCANTADA) Ainda não consigo acreditar que você está aqui.

MIGUEL             - (SORRINDO) Então trate de acreditar.

SOPHIA              - Você vai vir passar todos os finais de semana comigo?

MIGUEL             - Ainda não sei... Você vai continuar vindo nos finais de semana?

SOPHIA              - Eu também não sei... Acho que sim... Eu sempre venho com meus pais.

MIGUEL             - A sua mãe também está aqui?

SOPHIA              - Não, ela não quis vir. E até é melhor porque assim podemos brincar pelo dia inteiro em paz.

MIGUEL             - Não sei se vou ficar aqui o dia todo, Sophia... Mas vamos aproveitar cada minutinho.

SOPHIA              - Os seus pais sabem que você está aqui?

MIGUEL             - Não, eu menti que iria à casa do Pedrinho!

SOPHIA              - Então você não pode demorar muito, seus pais iriam estranhar.

MIGUEL             - É... Mas o que importa é que eu pude te ver novamente. Estou muito feliz, Sophia, muito feliz.

SOPHIA              - E eu não consigo me segurar de tanta felicidade. Eu não quero que a nossa amizade acabe, Miguel.

MIGUEL             - Nós já juramos um pro outro, que nossa amizade será eterna. E ela será.

SOPHIA DÁ UM LINDO SORRISO NOVAMENTE E PEGA NA MÃO DE MIGUEL.

SOPHIA              - Eu te amo, Miguel.

MIGUEL             - Eu também te amo, Sophia. (OS DOIS SE ABRAÇAM. MIGUEL CONTINUA) Quando sua mãe disse que eu era um ladrão, eu achei que você nunca mais fosse querer ser minha amiga.

SOPHIA              - Eu acredito em você. Eu sempre vou acreditar em você. Nada irá acabar com que eu sinto por você, nada.

MIGUEL E SOPHIA CONTINUAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES. VALORIZAR O MOMENTO DOS DOIS.

CORTA PARA:

CENA 02. STOCK-SHOTS. EXT. DIA.

SUCESSÃO DE IMAGENS MOSTRA UMA TRANSIÇÃO ENTRE CAMPO BONITO E A CIDADE DE CURITBA, NO MESMO INSTANTE. PERCORREMOS À CIDADE DE CURITIBA ATÉ IRMOS DE ENCONTRO À FACHADA DE UM LUXUOSO RESTAURANTE DE CURITIBA, FAMOSO NOS ANOS 70.

CORTA IMEDIATAMENTE PARA:

CENA 03. CIDADE DE CURITIBA. RESTAURANTE. INT. DIA.

EMENDADO COM A CENA ANTERIOR ADENTRAMOS O RESTAURANTE E DAMOS UMA GERAL POR TODO AMBIENTE ATÉ CHEGARMOS À MESA DE GABRIELA, QUE PARECE ESPERAR POR ALGUÉM. EM SEGUIDA, LEONARDO CHEGA. SENTA-SE. GABRIELA O OLHA SERIAMENTE.

LEONARDO        - Por que pediu para que eu viesse ao seu encontro?

GABRIELA          - Você devia me cumprimentar primeiro, assim como qualquer pessoa que seja educada faz.

LEONARDO        - Gabriela eu tenho que ir pra casa... Minha esposa está me esperando.

GABRIELA          - Ela pode esperar um pouco mais... Não acha?

LEONARDO        - Fale de uma vez, Gabriela... O que você quer?

GABRIELA          - Eu quero saber como anda a situação financeira do Marcelo. Ele tem estado muito nervoso e só pode ser por causa disso. É tão grave?

LEONARDO        - (CONCLUI) Então o Marcelo já conversou com você.

GABRIELA          - Não, ele não conversou comigo. Eu estou sabendo de algumas coisas, mas não posso falar como fiquei sabendo. Eu preciso saber se é tão grave.

LEONARDO        - Eu não posso lhe dizer nada, Gabriela. Eu sou advogado do seu marido e, acima de tudo, amigo.

GABRIELA          - Mas por isso mesmo... (t) Vocês são amigos, você é advogado dele e deve saber o que está acontecendo.

LEONARDO        - Eu não posso te informar nada... É uma questão de ética e sigilo.

GABRIELA          - Uma questão de ética e sigilo?... Leonardo, você não está falando com qualquer pessoa, você está falando com a esposa do seu amigo e cliente.

LEONARDO        - (LEVANTA-SE) Infelizmente, Gabriela, não posso te dizer nada. Agora eu tenho que ir pra casa.

GABRIELA          - (LEVANTA-SE) O Marcelo está preste a perder tudo... Eu sei disso.

LEONARDO        - (DESCONFORTÁVEL) Até mais, Gabriela!

LEONARDO RETIRA-SE. GABRIELA SENTA-SE À MESA E FICA PENSATIVA.

GABRIELA          - O Marcelo vai perder tudo... (PERGUNTA-SE) E agora?

GABRIELA OLHA PARA O NADA, PENSATIVA.

CORTA PARA:

CENA 04. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. CAMPO. EXT.DIA.

MIGUEL PEGA A MÃO DE SOPHIA E A AJUDA A DESCER UM PEQUENO BARRANCO E DEPOIS ELES CAMINHAM ATÉ UMA CACHOEIRA.

SOPHIA                - (SORRINDO) É lindo!

MIGUEL               - Vamos entrar na água?

SOPHIA                - Não. Eu não posso chegar molhada na fazenda, meu pai pode acabar desconfiando.

MIGUEL               - Se você não vai entrar, eu também não vou.

O TEMPO FECHA. AS NUVENS FICAM CARREGADAS E O TEMPO ESCURECE. SOPHIA OLHA PARA O CÉU.

SOPHIA                - Miguel, nós temos que voltar... Acho que vai chover.

MIGUEL               - Está bem.

MIGUEL VAI À FRENTE. SOBE O PEQUENO BARRANCO. ESTENDE SUA MÃO PARA SOPHIA.

MIGUEL               - Venha!

SOPHIA PEGA A MÃO DELE, FAZ FORÇA PARA SUBIR, MAS ACABA TROPEÇANDO EM UMA PEDRA, DESPRENDE SUA MÃO DA MÃO DE MIGUEL E LEVA UM TOMBO AO CAIR NO CHÃO.

CORTA PARA:

CENA 05. CAMPO BONITO. CASA DA TIA ELVIRA. INT. DIA.

CAROLINA VAI ATÉ A JANELA PARA FECHÁ-LA. OLHA PARA O CÉU. COMENTA COM O MARIDO.

CAROLINA          - Vai vir um temporal.

EVANDRO           - O Miguel não chegou ainda?

CAROLINA          - (PREOCUPADA) Não.

EVANDRO           - Ele tem que chegar antes da chuva.

CAROLINA          - Não é melhor você ir buscar ele na casa do Pedrinho?

EVANDRO           - Vamos esperar mais alguns minutos.

CAROLINA OLHA PARA O CÉU E EM SEGUIDA OLHA PARA O MARIDO. MOSTRA-SE MUITO PREOCUPADA.

CORTA PARA:

CENA 06. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. VARANDA. DIA.

MARCELO VAI ATÉ A VARANDA E VÊ QUE O TEMPO ESTÁ SE ARMANDO PARA UM TEMPORAL.

MARCELO           - Onde será que a Sophia está?

ÂNGELO              - Ela deve estar por aí. Não se preocupe que ela não pode ter ido muito longe.

MARCELO           - Não tem como eu não ficar preocupado, a Sophia é uma menina de apenas oito anos.

ÂNGELO              - A Sophia é tão esperta quanto nós dois juntos. Ela já estar chegando. Ela conhece muito bem as redondezas aqui, da fazenda.

MARCELO           - Se ela não voltar em dez minutos, eu vou atrás dela.

MARCELO OLHA ÂNGELO E EM SEGUIDA OLHA PARA O TEMPO COM AR DE PREOCUPAÇÃO.

CORTA PARA:

CENA 07. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. CAMPO. EXT. DIA.

MIGUEL DESCE O PEQUENO BARRANCO E AMPARA SOPHIA.

MIGUEL               - Sophia, você está bem? Se machucou?

SOPHIA                - Não, eu apenas ralei o meu joelho. Não está doendo.

MIGUEL               - Venha!... Eu vou te ajudar a se levantar.

MIGUEL ESTENDE A MÃO À SOPHIA. SOPHIA SEGURA A MÃO DO MENINO. LEVANTA-SE.

SOPHIA                - (GRITA) Ai!

MIGUEL               - (PREOCUPADO) O que foi?

SOPHIA                - (COM A RESPIRAÇÃO OFEGANTE) A minha perna começou a doer. Eu não consigo caminhar direito.

MIGUEL               - Eu vou te ajudar a caminhar até a fazenda... Se apóie em mim.

AGORA OUVIMOS BARULHOS DE TROVÃO. SOPHIA ASSUSTA-SE. TREME DE MEDO E AGARRA-SE EM MIGUEL.

SOPHIA                - Eu tenho medo de trovões.

MIGUEL               - Não tenha medo, Sophia... Eu estou com você... Agora nós temos que ir.

NESTE MOMENTO UMA FORTE VENTANIA COMEÇA E IMPOSSIBILITA AINDA MAIS, O CAMINHAR DE SOPHIA E MIGUEL

CORTA PARA:

CENA 08. CAMPO BONITO. CASA DA TIA ELVIRA. SALA. INT. DIA.

CAROLINA ESTÁ CADA VEZ MAIS PREOCUPADA. OLHA PARA O TEMPO. OLHA PARA EVANDRO. CAMINHA DE UM LADO PARA O OUTRO JÁ IMPACIENTE.

CAROLINA          - Evandro, já está ventando... Vá atrás de Miguel!

EVANDRO           - Está bem!

CAROLINA          - (ABRAÇA EVANDRO) Vá com Deus!

EVANDRO PEGA O CHAPÉU E SE RETIRA. BATE A PORTA DA CASA. CAROLINA MOSTRA-SE BEM PREOCUPADA.

CORTA PARA:

1º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 09. FAZENDA DE ÂNGELO. CAMPO. EXT. DIA.

MARCELO E ÂNGELO PROCURAM POR SOPHIA. O VENTO ESTÁ MUITO FORTE.

MARCELO           - (GRITA) Sophia!

ÂNGELO              - Será que ela não ficou com medo e foi para o celeiro?

MARCELO           - Vamos até lá.

ÂNGELO BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE. OS DOIS CAMINHAM ATÉ O CELEIRO.

CORTA PARA:

CENA 10. FAZENDA DE ÂNGELO. CAMPO. EXT. DIA.

MIGUEL E SOPHIA CONTINUAM CAMINHANDO. COMEÇA UMA FORTE CHUVA, ACOMPANHADA POR UM VENDAVAL E POR RAIOS IMPOSSIBILITANDO AINDA MAIS O CAMINHAR DAS CRIANÇAS.

MIGUEL               - Vamos para aquela caverna.

SOPHIA BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE. MIGUEL LEVA SOPHIA PARA A CORTA IMEDIATAMENE PARA: FAZENDA DE ÂNGELO. CAVERNA. INT. DIA. AS CRIANÇAS SE ABRIGAM NA CAVERNA QUE FICA PRÓXIMO A CACHOEIRA.

MIGUEL               - A sua perna ainda está doendo?

SOPHIA                - Sim.

MIGUEL               - Meus pais já devem estar me procurando. Eles irão até a casa do Pedrinho e não me acharam lá. Eu estou ferrado.

SOPHIA                - Meu pai e meu avô devem estar muito preocupados.

MIGUEL               - O seu pai não pode saber que você estava comigo.

SOPHIA                - Eu não vou falar nada.

MIGUEL               - Assim será melhor. Se ele descobrir, a gente pode se afastar de novo.

SOPHIA                - (AFIRMA) Ele não irá ficar sabendo de nada.

MIGUEL DÁ UM SORRISO PARA SOPHIA E TOCA O ROSTO DELA.

MIGUEL               - Eu vou dar um jeito de fazer uma fogueira.

SOPHIA                - (ESTRANHA) Você sabe fazer fogueira?

MIGUEL               - Meu pai me ensinou, mas ele nunca me deixou fazer uma. Ele diz que sou muito pequeno. Na verdade, eu já sei fazer um monte de coisas. Quando se é pobre, tem que aprender a fazer as coisas desde cedo.

SOPHIA OLHA PARA MIGUEL ATENTAMENTE E LOGO DÁ UM SORRISO.

SOPHIA                - Eu te admiro por isso.

MIGUEL               - Obrigado! Eu sou um menino admirável.

SOPHIA DÁ UMA RISADA E CONTINUA OLHANDO PARA MIGUEL. ELE TAMBÉM DÁ UMA RISADA E FICA A OLHANDO.

MIGUEL               - Porque você está me olhando assim, Sophia?

SOPHIA                - Você é quem está me olhando de um jeito estranho.

MIGUEL               - (BRINCA) É porque você está muito seca.

SOPHIA                - (IRRITADA) Não gostei do que você disse Miguel.

MIGUEL               - Não fique brava comigo, eu apenas estou brincando.

SOPHIA                - Brincadeira de péssimo gosto.

MIGUEL               - Você me desculpa, Sophia?

SOPHIA FICA OLHANDO PARA MIGUEL E DEPOIS VIRA A CARA.

SOPHIA                - Desculpo.

MIGUEL DÁ UM SORRISO E FICA A OLHANDO. SOPHIA OLHA PARA MIGUEL E AO VER O LINDO SORRISO DELE TAMBÉM SORRIR.

CORTA PARA:

CENA 11. CAMPO BONITO. CASA DE PEDRINHO. SALETA. INT.DIA.

OUVIMOS BATIDAS NA PORTA DE UMA MODESTA CASINHA. UM HOMEM ABRE A PORTA DA CASA. EVANDRO SURGE DEIXANDO O HOMEM SURPRESO.

RONALDO           - Evandro?

EVANDRO           - Ronaldo.

RONALDO           - O que você está fazendo aqui com esse temporal?... Você está todo encharcado.

EVANDRO           - Eu vim buscar o Miguel.

RONALDO           - (DESENTENDIDO) Buscar o Miguel?

EVANDRO           - O Miguel veio brincar com o Pedrinho.

RONALDO           - Evandro, o Miguel não veio aqui hoje.

EVANDRO AO OUVIR O RONALDO DISSE LEVA UM BAQUE.

EVANDRO           - O Miguel não veio aqui?... Eu não acredito!

RONALDO           - Entre, Evandro... Vamos conversar!

EVANDRO           - Não... Eu tenho que encontrar o meu filho!

RONALDO           - (INSISTE) Espere esse temporal passar.

EVANDRO           - Não, Ronaldo, eu tenho que saber onde meu filho está. Ele pode estar correndo risco.

RONALDO           - Ele já deve estar em casa. E se ele mentiu que viria pra cá, é porque ele sabia muito bem pra onde iria realmente.

EVANDRO           - (DESESPERADO) Eu preciso encontrar o meu filho.

EVANDRO RETIRA-SE DA CASA DE EVANDRO EM MEIO AO TEMPORAL.

RONALDO             - (GRITA) Espere, Evandro!

RONALDO CORRE ATRÁS DE EVANDRO.

CORTA PARA:

CENA 12. FAZENDA DE ÂNGELO. CELEIRO. INT. DIA.

ÂNGELO E MARCELO CHEGAM AO CELEIRO. MARCELO FICA DESESPERADO AO VER QUE SOPHIA NÃO ESTÁ NO CELEIRO.

ÂNGELO              - (PREOCUPA-SE) Meu Deus!

MARCELO           - (DESESPERADO) Pai, eu preciso saber onde a minha filha está.

ÂNGELO              - Meu filho, tenha fé que ela está bem e segura.

MARCELO           - Não, pai... Eu não vou conseguir ter paz enquanto não encontrar a minha filha.

ÂNGELO OLHA PARA OS LADOS. VÊ DUAS CAPAS DE CHUVA.

ÂNGELO              - As capas de chuva do Evandro e do Paulo.

MARCELO           - O que tem isso?

ÂNGELO              - Vamos vesti-las e procurar a Sophia.

ÂNGELO PEGA AS DUAS CAPAS. ENTREGA UMA PARA MARCELO. OS DOIS VESTEM E EM SEGUIDA SAEM A PROCURA DE SOPHIA.

CORTA PARA:

CENA 13. FAZENDA DE ÂNGELO. CACHOEIRA. GRUTA. INT. DIA.

MIGUEL TENTA FAZER A FOGUEIRA, MAS É EM VÃO. SOPHIA TREME DE FRIO.

MIGUEL               - Não está dando certo. Que droga!

SOPHIA                - (TREME DE FRIO) Você não vai conseguir fazer essa fogueira... Só tem gravetos.

MIGUEL               - Só que você está morrendo de frio.

SOPHIA                - (TREME DE FRIO) É, eu estou morrendo de frio.

SOPHIA ENCOSTA-SE À PAREDE E SE ENCOLHE. MIGUEL SE APROXIMA MAIS DELA E A ABRAÇA. ENVOLVE SOPHIA EM SEUS BRAÇOS.

CORTA PARA:

CENA 14. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. SALA. INT. DIA.

CAROLINA ESTÁ MUITO NERVOSA E JÁ NÃO CONSEGUE CONTÊR SEU NERVOSISMO. ELVIRA A CONSOLA.

ELVIRA                - (CONSOLA CAROLINA) Fique calma, Carolina!

CAROLINA          - Eu estou com um mau pressentimento.

ELVIRA                - Te garanto que o Miguel preferiu ficar na casa do amiguinho. Logo, logo quando esse temporal passar, ele já aparece aí com o Evandro.

CAROLINA          - Que Deus ouça suas palavras, tia Elvira!

 A PORTA SE ABRE E EVANDRO ENTRA ACOMPANHADO POR RONALDO. CAROLINA DESESPERA-SE AO VER QUE ESTÃO SEM MIGUEL.

CAROLINA          - (DESESPERADA) Evandro, cadê o Miguel?

EVANDRO           - Carolina, o Miguel sumiu!

CAROLINA          - Não. Cadê o meu filho, Evandro? Eu quero o meu filho.

RONALDO           - (INTERFERE) Carolina, você tem que ficar calma. Nós vamos esperar o temporal passar e vamos procurar o Miguel.

CAROLINA          - (NERVOSA) Ele tinha ido à sua casa.

RONALDO           - Ele não foi à minha casa.

CAROLINA          - (SEM CONTÊR AS LÁGRIMAS) Eu não acredito... Meu Deus!

EVANDRO           - (ABRAÇA CAROLINA A CONFORTANDO) Nós vamos encontrar o nosso filho!

ELVIRA                - Vamos rezar, Carolina, vamos pedir a Deus pra que Ele proteja o Miguel.

CAROLINA ACENDE UMA VELA E COMEÇA A REZAR.

CAROLINA          - Senhor proteja meu filho!

TODOS ACOMPANHAM CAROLINA FORA DE ÁUDIO.

CORTA PARA:

CENA 15. FAZENDA DE ÂNGELO. CACHOEIRA. GRUTA. INT. DIA.

MIGUEL CONTINUA ABRAÇADO À SOPHIA COM A INTENÇÃO DE PROTEGÊ-LA DO FRIO. UMA COBRA SE APROXIMA DAS CRIANÇAS. O MENINO ACABA VENDO O ANIMAL E APERTA A MENINA.

MIGUEL               - Sophia, não se mexa!

SOPHIA                - Por que, Miguel?

MIGUEL               - Só não se mexa! Tente ficar quieta o máximo possível.

SOPHIA                - Não estou te entendendo, Miguel.

MIGUEL               - Faça o que eu estou te pedindo.

MIGUEL CONTINUA OLHANDO PARA A COBRA QUE SE APROXIMA MAIS DELES. MIGUEL APERTA SOPHIA AINDA MAIS. SOPHIA OLHA PARA MIGUEL COMO QUEM NÃO ESTÁ ENTENDENDO.

CORTA PARA:

2º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 16.CIDADE DE CURITIBA. STOCK-SHOTS.

TAKES DA CIDADE DE CURITIBA COMO UM CARTÃO POSTAL, ATÉ CHEGARMOS A FACHADA DA CASA DE GABRIELA E MARCELO.

CORTA IMEDIATAMENTE PARA:

CENA 17. CIDADE DE CURITIBA. CASA DE MARCELO E GABRIELA. QUARTO DELES. INT. DIA.

GABRIELA ESTÁ EM SEU QUARTO, DEITADA. EM SEU ROSTO VEMOS DE LEVE UMA IRRITAÇÃO. LÍDIA, A EMPREGADA, ENTRA.

LÍDIA                    - Dona Gabriela...

GABRIELA          - Você não entendeu que eu não queria ser incomodada?

LÍDIA                    - É que há um homem lá embaixo.

GABRIELA          - (LEVANTA-SE) Um homem? Como você deixa um homem entrar aqui em casa?

LÍDIA                    - Ele disse que é um grande amigo seu.

GABRIELA          - Qualquer um pode se identificar como meu amigo, sua imprestável, para entrar aqui e até mesmo cometer um crime. Só não te demito porque tenho pena do que seria de você sem esse emprego.

GABRIELA RETIRA-SE. LÍDIA A SEGUE.

CORTA IMEDIATAMENTE PARA:

CENA 18. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA. INT. DIA.

GABRIELA VEM DESCENDO AS ESCADAS E FICA SURPRESA AO VER QUEM É O HOMEM A QUEM LÍDIA SE REFERIA.

GABRIELA          - Raul?

RAUL                    - (SORRINDO) Gabriela.

GABRIELA          - O que você está fazendo aqui?

RAUL                    - Vim te rever depois de tanto tempo.

GABRIELA          - Você não devia ter vindo aqui na minha casa... Se esqueceu que...

RAUL                    - (SORRINDO A INTERROMPE) Não, eu não me esqueci, Gabriela.

GABRIELA          - Vá embora!

RAUL                    - Só se marcarmos um encontro para matarmos as saudades dos velhos tempos.

GABRIELA          - Você está louco!

RAUL                    - Louco: essa é a palavra certa... Você sabe porque eu estou louco.

GABRIELA          - (DIRIGE-SE ATÉ A PORTA E ABRE) Vá embora, Raul!

RAUL                    - Eu vou embora, mas irei voltar.

GABRIELA          - Se você voltar, eu sou capaz de cometer uma loucura.

RAUL                    - Eu sei que tipo de loucuras você comete. Tenho saudades delas.

RAUL DÁ UMA RISADA E VAI EMBORA. GABRIELA BATE A PORTA E SE DEPARA COM LÍDIA A OLHANDO.

GABRIELA          - Porque está me olhando? Não tem o que fazer não?

LÍDIA                    - (SE RETIRANDO) Com licença!

GABRIELA          - Espere, Lídia.

LÍDIA VOLTA-SE PARA GABRIELA.

GABRIELA          - Não comente nada com o Marcelo sobre a vinda desse homem aqui em casa.

LÍDIA                    - Eu só falo com o Doutor Marcelo quando ele me faz uma pergunta.

GABRIELA          - E que continue assim. Faça de conta que você sonhou com a vinda desse homem aqui. Ele não vale nada, é um infeliz que quer me atormentar. Agora pode se retirar.

LÍDIA RETIRA-SE E GABRIELA FICA PENSATIVA.

CORTA PARA:

CENA 19. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. CACHOEIRA. GRUTA. INT. DIA.

MIGUEL CONTINUA APERTANDO SOPHIA QUE NÃO SE MEXE.

MIGUEL               - Não olhe pra baixo.

SOPHIA                - Porque não?

MIGUEL               - Por que você não pode ver o que eu estou vendo.

SOPHIA                - Miguel, você está me deixando assustada... É algum bicho?

MIGUEL               - Você tem que me prometer que não vai se mexer nem mesmo gritar, promete?

SOPHIA                - Prometo.

SOPHIA OLHA PRA BAIXO. VÊ A SERPENTE. FICA COM MEDO, MAS DISFARÇA.

MIGUEL               - Se você continuar quieta, ela não vai nos pegar. Ela não pode se sentir ameaçada.

SOPHIA                - Está bem, mas eu estou com medo.

MIGUEL               - Não fique com medo... Eu estou aqui com você.

SOPHIA                - Miguel, nós temos que sair daqui.

MIGUEL               - Sophia, qualquer movimento e ela pode nos atacar.

SOPHIA                - Será que ela é venenosa?

MIGUEL               - Sendo venenosa ou não, a gente não pode arriscar.

A SERPENTE SE AFASTA, MIGUEL SE DESPRENDE DE SOPHIA, PEGA UMA PEDRA E COMEÇA A BATER NA COBRA QUE ACABA MORRENDO. DEPOIS, SOPHIA SE LEVANTA E O ABRAÇA FORTEMENTE.

SOPHIA                - Você salvou a minha vida, Miguel.

MIGUEL CORRESPONDE O ABRAÇO.

MIGUEL               - Nós temos que sair daqui... O temporal já passou!

SOPHIA OLHA COM AFETO PARA MIGUEL. TOCA SEU ROSTO.

SOPHIA                - Eu te amo, Miguel!

MIGUEL               - E eu te amo mais ainda, Sophia. Se aquela cobra tivesse picado você, eu não sei o que seria de mim.

SOPHIA DÁ UM SORRISO E ABRAÇA MIGUEL NOVAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 20. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. DIA.

MARCELO E ÂNGELO CHEGAM A FAZENDA. MARCELO ESTÁ DESOLADO.

ÂNGELO              - (CONSOLA O FILHO) Meu filho, fique calmo!

MARCELO           - (CHORA) Eu temo que tenha acontecido algo de ruim com a minha filha.

ÂNGELO              - Confie que Deus está protegendo a Sophia.

MARCELO           - Eu não consigo pensar em Deus nesse momento, eu só queria que a minha filha estivesse aqui.

ÂNGELO DÁ ALGUNS PASSOS E OBSERVA A NETA QUE ESTÁ CHEGANDO. MARCELO VIRA-SE, DÁ UM SORRISO DE ALÍVIO E CORRE EM DIREÇÃO A FILHA. ELE SE ABAIXA E DÁ UM FORTE ABRAÇO NA MENINA.

MARCELO           - Filha, onde você estava? Porque você sumiu?

SOPHIA                - Pai, eu estou bem.

MARCELO           - Onde você foi parar?

SOPHIA                - Eu fui até a cachoeira e fiquei por lá. Eu não percebi que o tempo estava se armando.

MARCELO           - Você entrou na água? Sophia, você podia ter se afogado, você não devia...

SOPHIA                - Pai, eu não entrei na água. Eu me molhei na chuva. Mas eu me escondi em uma caverna.

ÂNGELO              - (SORRI) Menina esperta.

MARCELO           - (OLHA SERIAMENTE PARA SOPHIA, A REPREENDE) Da próxima vez que viermos aqui, você não vai sair de perto de mim, está entendido?

SOPHIA                - Está bem, pai.

MARCELO FICA EMOCIONADO, TOCA OS CABELOS DELA E A ABRAÇA FORTEMENTE.

MARCELO           - Agora vamos entrar e você vai tomar um banho quente e tomar um chá.

SOPHIA BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE. E OS TRÊS SE VÃO EM DIREÇÃO À CASA GRANDE.

CORTA PARA:

CENA 21. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. SALA. INT. DIA.

CAROLINA CONTINUA PREOCUPADA COM O PARADEIRO DE MIGUEL. ELVIRA A CONSOLA. A PORTA SE ABRE. CAROLINA FICA SURPRESA AO VER O FILHO. EMOCIONA-SE.

CAROLINA          - Filho! (ELA O APERTA COM UM ABRAÇO E COMEÇA A BEIJAR O ROSTO DO FILHO) Onde você estava, meu anjo? Eu estava quase morrendo de preocupação.

MIGUEL               - Mãe, eu estava na cachoeira.

EVANDRO ENTRA EM CASA ACOMPANHADO POR RONALDO.

EVANDRO           - Meu filho, onde você estava? Você está bem?

MIGUEL               -Eu fui na cachoeira.

EVANDRO           - Você inventou que iria na casa de Pedrinho pra ir na cachoeira?

MIGUEL               - Se eu falasse que iria lá, o senhor não iria deixar porque tem medo que eu me afogue.

EVANDRO           - Eu devia te dar uma surra, moleque, só por ter mentido. Nunca mais faça isso, entendeu? Você quase matou a sua mãe de preocupação.

MIGUEL               - Me desculpe, pai... Eu juro que nunca mais faço isso.

CAROLINA          - O importante é que você está aqui, meu filho. Agora eu vou te dar um banho bem quente, porque senão você pode acabar ficando gripado.

MIGUEL               - Mãe, eu já tomo banho sozinho.

ELVIRA DÁ UM SORRISO E BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.

CAROLINA          - Eu sei disso, meu anjo. Então eu vou esquentar uma água.

MIGUEL SE RETIRA.

EVANDRO           - Obrigado, Ronaldo!

RONALDO           - Não precisa agradecer, Evandro. Sempre que precisar, é só me chamar, amigo.

CAROLINA          - Obrigado, Ronaldo! Que Deus ilumine você e sua família.

RONALDO           - Igualmente, Carolina... Adeus!

ELVIRA ABRE A PORTA E O HOMEM VAI EMBORA.

CORTA PARA:

CENA 22.CAMPO BONITO/CURITIBA. STOCK-SHOTS.

TARDE/NOITE/MANHÃ.

CENA 23. CURITIBA. CASA DE MARCELO E GABRIELA. QUARTO DELES. INT. DIA.

UM FACHO DE LUZ ENTRA PELA JANELA DO QUARTO DE MARCELO E GABRIELA. GABRIELA ACORDA. LÍDIA ENTRA NO QUARTO.

LÍDIA                    - Bom dia, dona Gabriela!

GABRIELA          -Meu dia já começou péssimo ao olhar pra você.

LÍDIA                    - Eu vim entregar uma carta para a senhora.

GABRIELA          - (ARRANCA A CARTA DAS MÃOS DE LÍDIA) De quem é?

LÍDIA                    - Não tem remetente.

GABRIELA          - Sem remetente... Que estranho!

LÍDIA FICA OLHANDO PARA GABRIELA.

GABRIELA          - O que está esperando para se retirar? Vá fazer o meu café!

LÍDIA                    - (SE RETIRA) Com licença, Dona Gabriela!

GABRIELA ABRE O ENVELOPE, RETIRA A CARTA E A ABRE. LÊ O QUE ESTÁ ESCRITO E FICA IRRITADA.

GABRIELA          - Desgraçado!

CONGELA EM “GABRIELA” IRRITADA.

CORTA PARA:

FIM DO 4º CAPÍTULO