Memória DNA | Com Amor | Capítulo 05

Com Amor

Novela de Marcus Vinick

Escrita com

Miguel Rodrigues

Direção

Miguel Rodrigues

Direção Geral

Miguel Rodrigues

Núcleo

#DNA – Dramaturgia Novos Autores

Personagens deste capítulo

ÂNGELO

MARCELO

GABRIELA

SOPHIA

MIGUEL

EVANDRO

CAROLINA

PAULO

LEONARDO

RAUL

Participação Especial

LÍDIA

CENA 01. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. SALA. INT. DIA.

SOPHIA ACORDA MUITO CEDO, ANTES MESMO QUE SEU PAI E SEU AVÔ. ABRE A PORTA DO QUARTO, SAI E DESCE AS ESCADAS EM DIREÇÃO À SALA. VÊ QUE AMÉLIA DEIXARA A PORTA DA SALA APENAS ENCOSTADA E SE RETIRA RAPIDAMENTE.

CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 02. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.

MIGUEL TAMBÉM ACORDA MUITO CEDO. DOBRA UM COBERTOR E O COLOCA EMBAIXO DO LENÇOL. CAUTELOSAMENTE PULA A JANELA E SE VAI CORRENDO PELO CAMPO.

FUSÃO PARA:

CENA 03. FAZENDA DE ÂNGELO. CAMPO. EXT. DIA.

AO LONGE VEMOS MIGUEL CORRENDO EM DIREÇÃO A CERCA. SOPHIA OBSERVA O AMIGO E SORRI AO VÊ-LO PULAR A CERCA.

SOPHIA                - Cuidado!

MIGUEL               - Eu já estou acostumado.

SOPHIA                - Eu tenho que voltar logo para o casarão.

MIGUEL               - Eu também tenho que voltar logo para casa.

SOPHIA                - Meu pai disse que era pra eu não sair mais de perto dele da próxima vez que viermos.

MIGUEL               - (CHATEADO) Então como vamos nos encontrar nos finais de semana?

SOPHIA                - Eu vou dar um jeito... Não se preocupe, Miguel.

MIGUEL               - E você vai embora hoje também.

SOPHIA                - Mas eu acho que irei voltar sábado que vem... Só depende do meu pai.

MIGUEL               - Espero que sua mãe não venha.

SOPHIA                - (CONCORDA) Eu também espero a mesma coisa.

MIGUEL               - Eu trouxe uma coisa pra você.

SOPHIA                - (CURIOSA) O quê?

MIGUEL TIRA UMA FOLHA DO BOLSO E ENTREGA PARA SOPHIA.

SOPHIA                - É um novo desenho?

MIGUEL               - (SORRI) Veja!

SOPHIA DESDOBRA O PAPEL E FICA ENCANTADA AO VER O DESENHO.

MIGUEL               - Eu vi num livro e desenhei... É o símbolo do infinito!

SOPHIA                - Símbolo do infinito... É lindo!

MIGUEL               - Ele representa a nossa amizade, que jamais irá acabar. Ele significa a eternidade do nosso amor.

SOPHIA OLHA PARA MIGUEL E DÁ UM LINDO SORRISO.

SOPHIA                - Eu sempre vou te amar, Miguel... Sempre!

MIGUEL TAMBÉM SORRI E DÁ UM FORTE ABRAÇO EM SOPHIA.

CORTA PARA:

CENA 04. CIDADE DE CURITIBA. STOCK-SHOTS.

SUCESSÃO DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA MOSTRANDO VÁRIOS PONTOS TURÍSTICOS DA CIDADE E O MOVIMENTO DE TRANSPORTES TRANSITANDO PELAS ESTRADAS E PESSOAS CAMINHANDO. VEMOS ESSE TIRO DE AÇÕES ATÉ CHEGARMOS À FACHADA DE UMA CONFEITARIA EM UM BAIRRO NOBRE DE CURITIBA. DE FORA OUVIMOS O BURBURINHO DE PESSOAS E UMA MÚSICA AMBIENTE TÍPICA DOS ANOS 70.

CORTA IMEDIATAMENTE PARA:

CENA 05. CURITIBA. CONFEITARIA. INT. DIA.

GABRIELA ENTRA NA CONFEITARIA. SENTA-SE EM UMA DAS MESAS. EM SEGUIDA, UMA GARÇONETE VAI AO SEU ENCONTRO.

GARÇONETE      - O que deseja para comer ou beber?

GABRIELA          - Quero um cappuccino... Só isso por enquanto.

A GARÇONETE ANOTA O PEDIDO E RETIRA-SE. GABRIELA OLHA PARA O RELÓGIO E SE DEPARA COM RAUL NA FRENTE DA MESA EM QUE ESTÁ SENTADA.

RAUL                    - Posso me sentar nesta mesa, senhora?

GABRIELA          - (IRRITADA) Não se faça de idiota e sente-se de uma vez.

RAUL SENTA-SE À MESA E FICA SORRINDO PARA GABRIELA.

RAUL                    - Você está linda!

GABRIELA          - Por que me chamou aqui? Para me fazer elogios?

RAUL                    - Não, querida... Te chamei aqui para relembrarmos os bons tempos.

GABRIELA          - Não tenho nada para relembrar... Sou uma mulher casada, esqueceu?

RAUL                    - Mas antes de casada, se envolveu com o garanhão aqui... Oh, não... Você já estava noiva!

RAUL SORRI. GABRIELA O OLHA SERIAMENTE.

GABRIELA          - Fale baixo! (t) O que você quer de mim? É grana, não é?... Nós podemos marcar um novo encontro e eu irei lhe dar um cheque com determinada quantia.

A GARÇONTE APARECE E COLOCA A XÍCARA COM O CAPPUCCINO NA MESA. OLHA PARA RAUL.

GARÇONETE      - E para o senhor, alguma coisa?

RAUL                    - Não... Muito obrigado, minha bela jovem! (A GARÇONETE SORRI PARA RAUL E SE RETIRA. RAUL CONTINUA) Gabriela, eu não quero o seu dinheiro. Eu quero matar saudades dos velhos tempos, como eu já te disse.

GABRIELA          - Só que eu não vou matar as suas saudades.

RAUL                    - (DÁ UM SORRISO IRÔNICO) Quem disse?

RAUL TIRA UM PAPEL EM CIMA DO BOLSO E COLOCA EM CIMA DA MESA.

GABRIELA          - O que é isso?

RAUL                    - É o endereço do meu cafofo.

GABRIELA          - (PEGA O PAPEL) Só pode ser um muquifo.

RAUL                    - Dá uma passadinha lá, amanhã, de preferência. Eu vou estar te esperando de braços abertos pra beijar essa tua boquinha linda. Agora, se você não aparecer, o Senhor Meirelles irá saber quem foi o homem que pegou a esposa dele antes de estar casado com ela.

RAUL LEVANTA-SE. DÁ UM SORRISO IRÔNICO E RETIRA-SE. COM RAIVA, GABRIELA PEGA O PAPEL E AMASSA.

CORTA PARA:

CENA 06. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

DAMOS UM GIRO PELA CASA GRANDE E VAMOS ATÉ A SALA DE JANTAR, ONDE ENCONTRAMOS MARCELO E O PAI ÂNGELO TOMANDO CAFÉ. SOPHIA APARECE.

MARCELO           - Dormiu até mais tarde hoje?

SOPHIA                - (MENTE) Sim, pai.

MARCELO           - Está se sentindo bem? Você se molhou ontem com a chuva, pode estar com algum sintoma de gripe.

SOPHIA                - Não, pai... Eu não estou com nenhum sintoma de gripe.

MARCELO           - (ALIVIADO) Que bom! Fico tranquilo por isso. Com aquela chuva e com aquele vento, você poderia ter pegado uma pneumonia. Eu já estava preocupado.

ÂNGELO              - Essa menina é forte e resistente.

ÂNGELO SORRI PARA A NETA, QUE CORRESPONDE. MARCELO ACABA RINDO COM OS DOIS.

CORTA PARA:

CENA 07. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. COZINHA. INT. DIA.

CAROLINA SERVE O CANECO DE PAULO. SENTA-SE À MESA E INICIA UMA CONVERSA COM O CUNHADO.

CAROLINA          - E a Nádia?

PAULO                 - A Nádia já está melhor. Ontem, fui ao hospital da cidade e o médico me disse que ela já vai ter alta por esses dias.

CAROLINA          - Que bom, Paulo!

PAULO                 - É muito bom. Eu já estava morrendo de saudades da minha esposa.

CAROLINA          - E a Juliana?

PAULO                 - Acho que vou buscar a Juliana amanhã, na casa da dinda dela.

EVANDRO APARECE À COZINHA SORRINDO, INTERROMPENDO A CONVERSA DA ESPOSA E DO IRMÃO.

CAROLINA          - O que aconteceu pra estar sorridente desse jeito, homem?

EVANDRO           - (SORRIDENTE) Consegui um trabalho no sítio do seu Aurélio.

PAULO FICA ALVOROÇADO, SE LEVANTA DA CADEIRA. OLHA FIXAMENTE PARA EVANDRO.

PAULO                 - E você disse que eu também estou precisando de trabalho?

EVANDRO           - A gente vai trabalhar juntos lá, meu irmão!

PAULO E EVANDRO VIBRAM E EM SEGUIDA SE ABRAÇAM. CAROLINA TAMBÉM NÃO SE CONTÉM DE FELICIDADE E ABRAÇA O MARIDO E O CUNHADO.

CORTA PARA:

CENA 08. FAZENDA DE ÂNGELO MEIRELLES. VARANDA. EXT. TARDE.

MARCELO, SOPHIA E ÂNGELO ESTÃO NA VARANDA. MARCELO E SOPHIA SE DESPEDEM DE ÂNGELO.

MARCELO           - Fique com Deus, pai!

ÂNGELO              - Que Ele te acompanhe, meu filho! Que Ele ilumine esses seus pensamentos e que você possa enfrentar as dificuldades que estão por vir.

MARCELO           - Obrigado!

OS DOIS SE ABRAÇAM FORTEMENTE. DEPOIS, ÂNGELO ABRAÇA A NETA.

ÂNGELO              - Se você vir no próximo fim de semana, não me dá um susto igual aquele que você me deu ontem.

SOPHIA                - Está bem, vovô!

ÂNGELO DÁ UM BEIJO NA TESTA DE SOPHIA.

MARCELO           - Até mais, pai!

ÂNGELO              - (ABANA-SE) Até mais, meu filho!

SOPHIA E MARCELO ENTRAM NO CARRO E, DEPOIS DE ALGUNS SEGUNDOS, MARCELO DÁ A PARTIDA.

ÂNGELO              - (COM UMA EXPRESSÃO TRISTE) Até, meu filho!

ÂNGELO OBSERVA O CARRO DO FILHO SUMINDO NA ESTRADA E ACENA.

CORTA PARA:

CENA 09. ESTRADA. CARRO DE MARCELO. INT/EXT. TARDE.

MARCELO TEM UM MAL PRESSÁGIO E PARA O CARRO. ESTÁ OFEGANTE. SOPHIA ESTRANHA O COMPORTAMENTO DO PAI.

SOPHIA                - O que houve, pai?

MARCELO           - (AINDA OFEGANTE) Eu me esqueci de fazer uma coisa... Não saia do carro.

MARCELO SAI DO CARRO. CAMINHA DE VOLTA À FAZENDA DE ÂNGELO.

CORTA PARA:

CENA 10. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. SALA. INT. TARDE.

ÂNGELO SE SENTA EM UMA POLTRONA E LEVA UM VERDADEIRO SUSTO AO VER A PORTA SE ABRIR.

MARCELO           - Pai.

MARCELO SE APROXIMA DO PAI E O ABRAÇA FORTEMENTE. PARECE NÃO QUERER SOLTÁ-LO.

ÂNGELO              - (SEM ENTENDER) Meu filho... O que houve?

MARCELO           - (DEIXA UMA LÁGRIMA ROLAR PELO SEU ROSTO) Pai, eu só voltei pra dizer que te amo muito. E pra pedir perdão, caso alguma vez eu tenha o contrariado ou lhe deixando triste.

ÂNGELO              - Meu filho, você jamais me magoou, mas já que parece ser tão importante, eu te perdôo. E fique sabendo que eu também te amo muito, muito.

ÂNGELO E MARCELO SE ABRAÇAM NOVAMENTE E FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES. VALORIZAR A EMOÇÃO DOS DOIS.

CORTA PARA:

1º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 11. CURITIBA. CASA DE MARCELO E GABRIELA. QUARTO DELES. VARANDA. INT. NOITE.

GABRIELA ESTÁ EM PÉ NA VARANDA DE SEU QUARTO. TOMA UM CHÁ. SEU OLHAR ESTÁ DISTANTE. PARECE ESTÁ PERDIDA EM PENSAMENTOS.

FLASHBACK DE GABRIELA

RAUL                     - Gabriela, eu não quero o seu dinheiro... Eu quero matar as saudades dos velhos tempos, como já te disse.

GABRIELA            - Só que eu não vou matar as suas saudades.

RAUL                     - (SORRI IRONICAMENTE) Quem disse?

RAUL LEVANTA-SE, TIRA UM PAPEL DO BOLSO E COLOCA SOBRE A MESA.

LÍDIA APARECE QUEBRANDO O CLIMA. GABRIELA AINDA ESTÁ COM UM OLHAR DISTANTE. NÃO ESCUTA A EMPREGADA, QUE A CHAMA.

LÍDIA                    - (CHAMA) Dona Gabriela... Dona Gabriela... Dona Gabriela... Dona Gabriela...

GABRIELA          - (VOLTA A SI/OLHA PARA LÍDIA/CALMA) O que você quer Lídia?

LÍDIA                    - (ESTRANHA) É raro a senhora falar calma comigo.

GABRIELA          - (ALTERA A VOZ) O que você disse?

LÍDIA                    - Eu só vim lhe avisar que o Dr. Marcelo e a Sophia, chegaram.

GABRIELA          - Ah, bom...

GABRIELA CAMINHA. LARGA A XÍCARA EM UMA CÔMODA E DIRIGE-SE ATÉ À SALA. LÍDIA FICA ALGUNS SEGUNDOS PARADA E EM SEGUIDA, RETIRA-SE.

CORTA PARA:

CENA 12. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA. INT. NOITE.

GABRIELA DESCE AS ESCADAS. MARCELO E SOPHIA ESTÃO EM PÉ NA SALA. SOPHIA NÃO DEMONSTRA NENHUM TIPO DE REAÇÃO AO VER A MÃE. GABRIELA IGNORA A FILHA.

MARCELO           - Gabriela.

GABRIELA          - Como passaram o fim de semana?

MARCELO E SOPHIA SE ENTREOLHAM. MARCELO OLHA NOVAMENTE PARA A ESPOSA.

MARCELO           - Foi ótimo!

GABRIELA          - Que bom.

MARCELO           - Você está bem?

GABRIELA          - (SOLTA UM LEVE SORRISO) Estou ótima.

SOPHIA RETIRA-SE SEM FALAR COM GABRIELA, QUE NÃO DÁ A MÍNIMA. MARCELO ESTRANHA POR GABRIELA NÃO TER FALADO A RESPEITO.

MARCELO           - Gabriela tem certeza de que está bem?

GABRIELA          - Eu já disse que estou ótima. Só estou um pouco cansada. Eu não vou jantar. Se quiser, eu posso mandar a Lídia preparar algo pra você.

MARCELO           - Não... Eu também não estou com fome. (t) Não era pra Lídia estar de folga?... Hoje é domingo.

GABRIELA          - No final do mês, eu coloco um adicional no salário dela por esse domingo.

MARCELO           - Ah... Bom, eu vou tomar um banho e me deitar. Você já vem também?

GABRIELA          - Já estou indo... Pode ir.

MARCELO RETIRA-SE. GABRIELA FICA NA SALA, PENSATIVA.

CORTA PARA:

CENA 13. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. VARANDA. EXT. NOITE.

MIGUEL ESTÁ SENTADO NA VARANDA DA CASA DE ELVIRA. ESTÁ PERDIDO EM PENSAMENTOS. LEMBRA-SE DO LINDO SORRISO DE SOPHIA. CAROLINA APARECE E O OBSERVA ATENTAMENTE. O MENINO PERCEBE.

MIGUEL               - O que houve, mãe?

CAROLINA          - Você parece estar longe.

MIGUEL               - Hummmm...

CAROLINA          - Você não foi na cachoeira ontem.

MIGUEL OLHA PARA CAROLINA, MAS NÃO DIZ NADA.

CAROLINA       - (CONTINUA) Você foi encontrar a Sophia, não foi?... Ela veio esse final de semana, não veio?

MIGUEL             - Eu não sei do que a senhora está falando, não.

CAROLINA       - Não precisa mentir pra mim, filho... Eu não vou falar nada pro seu pai. Se você foi encontrar a Sophia, fico feliz porque vocês continuam sendo amigos. Isso significa que ela acredita em você.

MIGUEL             - (SORRI) Ela acredita, sim... A Sophia é um presente que as estrelas me deram.

CAROLINA       - (SORRI) Ela é uma menina muito boa. (t) Se você se sente feliz, não tem porque eu ser contra.

MIGUEL             - Eu te amo, mãe!

CAROLINA       - Eu também te amo, meu anjo!

CAROLINA E MIGUEL ABRAÇAM-SE. FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS MINUTOS. VALORIZAR O AFETO DE MÃE E FILHO.

CORTA PARA:

CENA 14. STOCK-SHOTS.

AMANHECE.

INSERIR LEGENDA: CURITIBA

CENA 15. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

GABRIELA DESCE AS ESCADAS. DIRIGE À SALA DE JANTAR. VÊ QUE SOPHIA TOMA CAFÉ. SOPHIA AO AVISTAR A MÃE, RETIRA-SE. LÍDIA OBSERVA. FALA COM SOPHIA.

LÍDIA                  - (PREOCUPADA) Sophia, já tomou seu café?

GABRIELA        - Deixe, Lídia.

LÍDIA                  - O Seu Marcelo me pediu pra cuidar da alimentação da Sophia... Ela tem que comer direito, senão pode ficar anêmica.

GABRIELA        - Não é a sua função cuidar da alimentação da Sophia... Se ela não quer comer direito, deixe.

LÍDIA                  - Mas ela pode ficar anêmica, Dona Gabriela. Não parece, mas anemia é uma doença séria quando não é cuidada.

GABRIELA        - E quem é você para me dizer isso? Eu sou a mãe da Sophia e se ela não quer se alimentar direito, não é eu e muito menos você que irá ficar a alertando. (ORDENA) Sirva o meu café.

GABRIELA SENTA-SE À MESA. LÍDIA CALADA A SERVE.

CORTA PARA:

2º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 16. EMPRESA DE MARCELO. SALA DE REUNIÕES. INT. DIA.

MARCELO ABRE A PORTA DA SALA DE REUNIÕES. DEPARA-SE COM LEONARDO, QUE O ESPERA.

LEONARDO      - Marcelo, está se sentindo bem?

MARCELO        - Não.

LEONARDO      - Quer que eu chame um médico?

MARCELO        - Eu não preciso de um médico, Leonardo, eu só preciso dormir por horas e horas, como uma forma de esquecimento dos problemas que vou ter que enfrentar daqui pra frente.

LEONARDO      - Você tem que estar preparado, meu amigo. Na reunião de hoje, os acionistas irão te colocar contra a parede.

MARCELO        - (SENTA-SE NA POLTRONA E ENTERRA A CABEÇA ENTRE OS BRAÇOS) Eu fui embora de Campo Bonito, estudei muito pra erguer esse negócio e agora estou nessa situação. Só pra você ter uma ideia, Leonardo, eu não aceitei a ajuda financeira que meu pai queria me dar naquela época. Eu preferi lutar pra conseguir me realizar profissionalmente.

LEONARDO      - Você terá que se reerguer novamente, meu amigo. E saiba que eu estarei sempre disposto a te ajudar.

MARCELO        - Eu já estou desgastado.

LEONARDO      - Você tem que ser forte, Marcelo.

MARCELO        - Sem um capital, eu não vou conseguir me reerguer. Por que tudo tinha que acabar assim? Às vezes, eu penso que tudo podia ter sido diferente. Talvez meu pai tivesse razão e eu não devesse ter saído de Campo Bonito.

LEONARDO      - Você apenas foi atrás de seus sonhos.

MARCELO        - Sonhos, sonhos... (LEVANTA-SE/CAMINHA/CONTINUA) Sonhos que estão acabando como um verdadeiro pesadelo.

LEONARDO OLHA PARA MARCELO, QUE ESTÁ APARENTEMENTE ABALADO. VALORIZAR A EXPRESSÃO TRISTE DE MARCELO.

CORTA PARA:

CENA 17. CURITIBA. CORTIÇO. PRÉDIOS. INT. DIA.

GABRIELA SOBE UMA ESCADARIA E SE DEPARA COM UMA FILEIRA DE PORTAS E APARTAMENTOS. FAZ CARA DE NOJO. OBSERVA TUDO COM DESDÉM.

GABRIELA        - (RECLAMA) Ninguém merece!

GABRIELA CAMINHA E SE ENJOA AO VER UM HOMEM BARRIGUDO COM UMA CAMISA CURTA QUE MOSTRA A PANÇA. DEPOIS, PARA EM FRENTE A UM APARTAMENTO E BATE NA PORTA. RAUL ABRE E DÁ UM SORRISO.

RAUL                 - Eu sabia que você viria.

GABRIELA        - Esse prédio é um muquifo... Só tem gentalha aqui.

RAUL                 - É, infelizmente eu não tenho condições de viver em uma casa de luxo como a sua. Eu não tive essa sorte na vida, não. Vai entrar ou prefere ficar aí fora?

GABRIELA OLHA SERIAMENTE PARA RAUL E ENTRA. CORTA IMEDIATAMENTE PARA: AP. DE RAUL. SALA. INT. DIA. GABRIELA OLHA PARA OS LADOS.

GABRIELA        - Se eu soubesse que iria encontrar esse pardieiro terrível, eu não teria vindo de jeito nenhum.

RAUL                 - Se você não viesse, já tinha que se preparar pra enfrentar a reação do seu maridinho ao saber que você tem um amante.

GABRIELA        - (O ENCARA) Acha que eu tenho medo de você?

RAUL                 - (SORRI) Você tem que ter medo desse meu jeito atraente.

GABRIELA        - Você é muito idiota mesmo... Eu vou embora.

GABRIELA ABRE A PORTA, MAS É IMPEDIDA POR RAUL QUE A SEGURA PELO BRAÇO E A PRENSA CONTRA PAREDE.

GABRIELA        - Me solte!

RAUL                 - Você veio aqui e agora não pode mais fugir de mim.

GABRIELA        - (REPETE) Me solte!

RAUL                 - Gabriela, eu sei que você não resiste a mim. Eu sei que lá, bem no fundinho, você sente saudades daquela época em que te pegava assim e não deixava você escapar de jeito nenhum.

GABRIELA        - Só que agora é diferente, eu não quero mais nada com você. Por que não ficou no inferno que você devia estar morando?

RAUL                 - (BEIJA GABRIELA) Porque eu fiquei com uma vontade doida de te ver novamente, de poder te tocar, te beijar.

GABRIELA O EMPURRA, MAS ELE A PEGA PELO BRAÇO E A BEIJA NOVAMENTE. GABRIELA ACABA NÃO RESISTINDO E CORRESPONDE E O BEIJA TAMBÉM.

CORTA PARA:

CENA 18. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA. INT. MAIS TARDE.

MARCELO CHEGA MAIS CEDO EM CASA. LÍDIA ESTRANHA.

LÍDIA                  - Doutor Marcelo?

MARCELO        - Lídia prepare um chá pra mim e me leve lá, no quarto. Eu estou com muita dor de cabeça.

LÍDIA                  - Sim, senhor!

MARCELO SOBE AS ESCADAS EM DIREÇÃO AO QUARTO. LÍGIA DIRIGE-SE À COZINHA.

CORTA PARA:

CENA 19. CASA DE MARCELO E GABRIELA. QUARTO DELES. INT. DIA.

MARCELO SE DEITA NA CAMA E NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS. ELE AJEITA O TRAVESSEIRO E DEITA A CABEÇA. A EMPREGADA ABRE A PORTA, COLOCA A BANDEJA EM CIMA DA CÔMODA E DÁ A XÍCARA DE CHÁ PARA O PATRÃO.

MARCELO        - Lídia, onde está Gabriela?

LÍDIA                  - A dona Gabriela saiu, mas não disse aonde ia.

MARCELO        - Ah... Pode sair, por favor?... Obrigado!

LÍDIA RETIRA-SE. FECHA A PORTA AO SAIR. MARCELO PENSATIVO DÁ UM GOLE EM SEU CHÁ.

CORTA PARA:

CENA 20. CORTIÇO. AP. DE RAUL. QUARTO DELE. INT. DIA.

GABRIELA VESTE-SE. RAUL ESTÁ DEITADO NA CAMA BEM RELAXADO, APENAS COM AS INTIMIDADES COBERTAS POR UM LENÇOL RALO. RAUL OBSERVA GABRIELA. SORRI.

RAUL                 - Quando você vai voltar?

GABRIELA        - Eu não vou poder vir aqui todos os dias, você já deve saber disso.

RAUL                 - O seu marido trabalha pela manhã, não teria problema algum.

GABRIELA        - Você não tem noção mesmo, Raul. E também, eu não gostaria de me deitar todos os dias nesse lixo que você chama de cama. Você terá que trocar de colchão. Foi terrível me deitar aí, acho que vou ter que chamar uma massagista lá em casa, para cuidar das minhas costas que está doendo.

RAUL                 - Você é muito nojenta, sabia?

GABRIELA        - Nojento é esse lugar onde você vive... Agora eu tenho de ir embora.

RAUL                 - (LEVANTA-SE RAPIDAMENTE E PEGA GABRIELA PELA CINTURA) Antes eu quero um beijo de despedida.

GABRIELA DÁ UM SORRISO E EM SEGUIDA BEIJA RAUL.

CORTA PARA:

3º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 21. CURITIBA. STOCK-SHOTS.

SUCESSÃO DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA MOSTRANDO ALGUNS PONTOS IMPORTANTES DA CIDADE. PERCORREMOS TODA A CIDADE ATÉ CHEGARMOS À CASA DE MARCELO E GABRIELA.

CORTA PARA:

CENA 22. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA. INT. DIA.

GABRIELA CHEGA EM CASA, DÁ ALGUNS PASSOS. LÍDIA APARECE.

LÍDIA                  - Dona Gabriela, o Doutor Marcelo chegou mais cedo hoje. Ele está no quarto. Eu sirvo o almoço ou espero a Sophia chegar da escola?

GABRIELA        - O Marcelo em casa há essa hora? Que estranho! Você não vai buscar a Sophia?

LÍDIA                  - Ela virá na van da escola.

GABRIELA        - Hum... Eu vou subir... Depois que Sophia chegar, sirva o almoço.

GABRIELA RETIRA-SE. SOBE AS ESCADAS. LÍDIA DIRIGE-SE À COZINHA.

CORTA PARA:

CENA 23. CASA DE MARCELO E GABRIELA. QUARTO DELES. INT. DIA.

A PORTA DO QUARTO SE ABRE. MARCELO VÊ A PORTA SE ABRINDO. SENTA-SE. GABRIELA SURGE.

MARCELO           - Onde você estava, Gabriela?

GABRIELA          - (MENTE) Eu fui a uma exposição de arte. Achei que eu tivesse mostrado o catalogo.

MARCELO           - Não... Você não me mostrou nada.

GABRIELA          - Por que veio pra casa mais cedo?

MARCELO           - Nós temos que conversar, Gabriela.

GABRIELA          - (CURIOSA) Sobre o quê?

MARCELO           - Sobre a empresa, os negócios.

GABRIELA          - (TIRA O SALTO ALTO) Que milagre!... Você nunca me fala sobre os negócios.

MARCELO           - Gabriela, é assunto muito sério. Eu precisaria te explicar tudo com muita calma, mas eu não vou enrolar e vou ser direto.

GABRIELA          - (FINGE) O que será tão sério, Marcelo?

MARCELO           - Eu... Eu perdi tudo, Gabriela. Nós estamos... Falidos.

GABRIELA          - (FRIA) Falidos?

MARCELO           - (SEM CONTER AS LÁGRIMAS) Falidos. (t) Eu não sabia como te contar isso, porque fiquei com medo de sua reação. Passaram tantas coisas pela minha cabeça, eu... Eu pensei que você fosse me abandonar me culpar por causa de tudo isso. Eu tenho medo de perder você, Gabriela. (GABRIELA FICA QUIETA E NEM SEQUER OLHA PARA MARCELO) Já faz alguns meses que eu venho me afundando, as dívidas aumentaram, eu já não tinha mais dinheiro suficiente. Os acionistas já estavam me pressionando. Hoje, eu participei da última reunião com eles... Todos me abandonaram. Não aceitam a minha situação que não pode ser revertida e preferiram abandonar o barco. (t) Eu imagino como você deve estar se sentindo. Eu te peço perdão por não ter sido forte, por não ter lutado pelo nosso patrimônio, pelo patrimônio que seria de nossa filha.

GABRIELA          - (DIRIGE-SE A PORTA) Eu ainda estou tentando digerir essa situação.

GABRIELA ABRE A PORTA. MARCELO A INTERROMPE.

MARCELO           - Onde você vai?

GABRIELA          - Eu vou espairecer um pouco, Marcelo. Eu preciso de um tempo pra ficar sozinha e pensar em que tudo que você acabou de me dizer.

MARCELO           - Gabriela, antes que você vá, me responda uma pergunta: você não está com raiva de mim, está?

GABRIELA          - (OLHA PARA MARCELO) Qualquer tipo de sentimento que eu estiver sentindo agora, não é nada perto do que está acontecendo.

MARCELO FICA OLHANDO PARA GABRIELA. GABRIELA RETIRA-SE. FECHA A PORTA. MARCELO NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS E VOLTA A CHORAR COPIOSAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 24. CASA DE MARCELO E GABRIELA. SALA. INT. DIA.

GABRIELA DESCEU A ESCADA E VÁRIOS PENSAMENTOS SE PASSAR PELA SUA MENTE. ELA PEGOU UM RETRATO DE SEU MARIDO, QUE ESTAVA EM CIMA DE UMA CÔMODA AO LADO DO SOFÁ, E FICOU OLHANDO.

GABRIELA          - (COM RAIVA) Fracassado!

GABRIELA PÕE A FOTO DE MARCELO NA CÔMODA E EM SEGUIDA RETIRA-SE.

CORTA PARA:

CENA 25. CURITIBA. STOCK-SHOTS.

SUCESSÃO DE IMAGENS DANDO IMPRESSÃO DE PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CENA 26. CASA DE MARCELO E GABRIELA. BIBLIOTECA. INT. DIA.

MARCELO, LEONARDO E GABRIELA ESTÃO NA BIBLIOTECA, REUNIDOS À UMA MESA. LEONARDO EXPLICA ALGUMAS COISAS PARA O CASAL.

LEONARDO        - Vocês terão que pôr à venda alguns imóveis, como a casa de praia em Florianópolis, o apartamento do Rio de Janeiro. O apartamento no Rio irá ser vendido rapidamente, porque tem uma bela vista para a praia de Copacabana

MARCELO           - Do que mais nós teremos que nos desfazer?

LEONARDO        - Seria fundamental vocês se desfazerem dessa casa também, mas se não quiserem...

GABRIELA          - (REVOLTADA) Dessa casa eu não me desfaço de jeito nenhum.

LEONARDO        - Tudo bem. (ANALISA ALGUNS PAPÉIS) Um dos carros pode ser vendido, não pode?

MARCELO           - O carro da Gabriela.

LEONARDO        - Está de acordo, Gabriela?

GABRIELA          - Não posso fazer nada.

MARCELO           - As dívidas serão quitadas com a venda destes imóveis e do carro?

LEONARDO        - 70% das dívidas, sim.

GABRIELA          - (CURIOSA) E os outros 30%?

LEONARDO        - Inclui o pagamento dos funcionários da empresa.

GABRIELA          - (INDIGNADA) Como assim?

LEONARDO        - Eles foram demitidos, com isso eles têm direito em receber um benefício. Ainda acho fundamental que vocês se desfaçam dessa casa e a coloquem à venda.

MARCELO E GABRIELA SE OLHAM. CONGELA EM “MARCELO E GABRIELA”.

CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 05