Memória DNA | Com Amor | Capítulo 10



COM AMOR

Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
MIGUEL RODRIGUES

Direção de Núcleo
MIGUEL RODRIGUES
#DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES

Personagens deste capítulo

CAROLINA
EVANDRO
MIGUEL
SOPHIA
LEONARDO
RAUL
GABRIELA
ÂNGELO
JULIANA
PAULO

Participação Especial:

BEATRIZ
AMÉLIA
PEDRINHO
MÉDICO













CENA 01. STOCK-SHOTS. CURITIBA/CAMPO BONITO.

SUCESSÃO DE IMAGENS FAZENDO UM PARALELO ENTRE A CIDADE DE CURITIBA E CAMPO BONITO. VAMOS DE ENCONTRO À FACHADA DO HOSPITAL DA CIDADE. ENTRAMOS NO HOSPITAL.
FUSÃO PARA:

CENA 02. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INT. TARDE.

O MÉDICO APARECE. CAROLINA SE LEVANTA RAPIDAMENTE DO BANCO.

CAROLINA          — (PREOCUPADA) Doutor, e o meu filho?

MÉDICO               — A febre dele já baixou e ele já está se sentindo melhor.

CAROLINA          — (ALIVIADA) Graças à Deus!

MÉDICO               — O inverno já está chegando e as crianças ficam mais vulneráveis a um resfriado.

CAROLINA          — Nós vamos cuidar do nosso filho, doutor, fico agradecida.

EVANDRO           — A gente já pode ver nosso filho?

MÉDICO               — (SORRI) Sim!

EVANDRO E CAROLINA SE OLHAM. SORRIEM UM PARA O OUTRO. EVANDRO ABRAÇA CAROLINA. OLHAM PARA O MÉDICO QUE TAMBÉM SORRI.
CORTA PARA:

CENA 03. HOSPITAL. QUARTO DE MIGUEL. INT. TARDE.

EVANDRO E CAROLINA ENTRAM NO QUARTO ONDE MIGUEL ESTÁ. MIGUEL OLHA PARA OS DOIS. ALEGRA-SE.

MIGUEL               — Mãe.

CAROLINA          — Meu filho, você me deixou tão assustada. Nunca tinha te dado uma febre daquele jeito.

MIGUEL               — Eu já estou bem, mãe!

CAROLINA          — Mas mesmo assim, meu filho... Eu fiquei muito assustada, preocupada... Não quero que nada de mal aconteça com você.

MIGUEL FICA PENSATIVO POR ALGUNS INSTANTES. CAROLINA E EVANDRO ESTRANHAM O COMPORTAMENTO DO FILHO.

EVANDRO           — (ESTRANHANDO) O que houve, Miguel?

CAROLINA          — Está se sentindo bem, filho?

MIGUEL               — A Sophia...

EVANDRO REVIRA O OLHAR, MAS SE CONTÊM.

CAROLINA          — Você chamava o nome dela, enquanto estava com febre.

EVANDRO           — (IRRITADO) Ele estava delirando... Sempre a Sophia, sempre essa garota.

CAROLINA          — Evandro, não comece!

EVANDRO           — Mas o Miguel não tira essa menina da cabeça.

MIGUEL               — (ALTERA A VOZ) A Sophia não está bem.

EVANDRO           — (IRONICAMENTE) Como você sabe? Virou vidente agora?

MIGUEL               — Eu sinto que ela não está bem.

EVANDRO           — Ah, virou sensitivo.

CAROLINA          — (O OLHA SERIAMENTE) Pare com isso, Evandro.

EVANDRO           — Só que eu não suporto quando o Miguel começa a falar nessa garota, eu não agüento mais isso. É uma obsessão!

EVANDRO OLHA SERIAMENTE PARA MIGUEL. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. RETIRA-SE. CAROLINA CONTINUA COM MIGUEL.

CAROLINA          — Filho, por que você está preocupado com a Sophia?

MIGUEL               — Eu não sei mãe. Eu apenas estou sentindo que ela não está bem... Ela precisa de mim.

CAROLINA          — Deve ser uma impressão sua, meu filho.

MIGUEL               — (INSISTE) Não, não é uma impressão. A Sophia não está bem, eu sinto.

CAROLINA          — E se for um engano, meu filho?

MIGUEL               — Não é um engano. Algo me diz que ela precisa de mim. Eu queria tanto que ela morasse aqui, em Campo Bonito. Eu queria tanto poder tê-la perto de mim sempre.

CAROLINA SE COMOVE E TOCA O ROSTO DE MIGUEL.

CAROLINA          — Meu anjo, creia que a vida irá dar um jeito de juntar você e a Sophia.

MIGUEL               — Eu espero que a vida faça isso... E que não demore muito.

CAROLINA FICA OLHANDO PARA MIGUEL. MIGUEL PEGA A MÃO DA MÃE E A APERTA.
CORTA PARA:

CENA 04. STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.

SUCESSÃO DE IMAGENS INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO.

LETREIRO: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CENA 05. CURITIBA. ESCOLA. FACHADA. EXT. DIA.

SOPHIA SAI DA ESCOLA. DÁ UM SORRISO AO VER O CARRO DE LEONARDO. A PORTA ESTÁ ENTREABERTA. SOPHIA ENTRA. LEONARDO SORRI. DÁ UM BEIJO NA TESTA DA MENINA.

SOPHIA                — Eu já estava com saudades de você. Por que não foi mais lá em casa?

LEONARDO        — A sua mãe me proibiu.

SOPHIA                — Ela não podia ter feito isso.

LEONARDO        — (SORRI) Mas agora estamos nos vendo novamente... Eu estou muito feliz... (SOPHIA FAZ UMA EXPRESSÃO TRISTE. LEONARDO ESTRANHA) O que houve, Sophia? Você não está feliz?

SOPHIA                — Não, Leonardo, eu não estou feliz... Mas não é por sua causa.

LEONARDO        — Então é por quê?

SOPHIA FICA QUIETA POR ALGUNS INSTANTES. TENTA ARRANJAR CORAGEM PARA FALAR. MAS ALGO A IMPEDE. TALVEZ O MEDO QUE SENTE DA REAÇÃO DE GABRIELA AO DESCOBRIR QUE SOPHIA CONTOU PARA LEONARDO. LEONARDO INSISTE.

LEONARDO        — Fale, Sophia... O que está acontecendo? Pode se abrir comigo, você sabe que sou seu amigo.

SOPHIA                — (INTIMIDADA) Eu não posso falar.

LEONARDO        — Por quê? É algo a ver com sua mãe?

SOPHIA HESITA EM FALAR. FICA QUIETA POR ALGUNS INSTANTES. RESPIRA FUNDO. DECIDE FALAR.

SOPHIA                — A minha mãe me agride.

LEONARDO        — (CHOCADO. ENGOLE SECO) O quê?

SOPHIA                — (NERVOSA) A minha mãe me dá bofetadas, ela grita comigo, ela me diz coisas terríveis.

LEONARDO        — (TENTA ACALMÁ-LA) Fique calma, Sophia! Fique calma! (SOPHIA NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS. LEONARDO CONTINUA) Você tem que me explicar tudo isso com calma.

SOPHIA                — Leonardo, por favor, não diga pra ela.

LEONARDO        — Eu não vou dizer nada pra ela.

SOPHIA                — Mas você pode querer brigar com ela... Eu tenho medo do que ela pode fazer comigo.

LEONARDO        — A sua mãe não irá fazer nada com você porque eu não vou deixar, entendeu? Eu vou te proteger sempre. Agora eu preciso que você me conte tudo, com bastante calma.

LEONARDO PEGA UM LENÇO E PASSA PELO ROSTO DE SOPHIA.
CORTA PARA:

CENA 06. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE GABRIELA. INT. DIA.

RAUL E GABRIELA ESTÃO DEITADOS NA CAMA. RAUL LEVANTA-SE. COLOCA A CALÇA. OLHA PARA GABRIELA QUE FUMA UM CIGARRO.

RAUL                    — É um plano arriscado, você não acha?

GABRIELA          — (DÁ UM TRAGO NO CIGARRO) É um plano arriscado, mas é a única forma que eu arranjei de afastar o insuportável do Leonardo de Sophia.

RAUL                    — Você não acha que irá pegar pesado demais, Gabriela?

GABRIELA          — Você está falando isso como se não fosse capaz de cometer coisas piores. (RAUL DÁ UM SORRISO. GABRIELA SENTA-SE) Isso tem que ser bem planejado, porque nada pode dar errado. Com o Leonardo fora de circulação, a Sophia não poderá nem mesmo ver aquele velho insuportável do avô dela e nem aquele moleque imundo e nojento.

RAUL                    — (COLOCA A CAMISETA) É pra quando?

GABRIELA          — Vamos esperar mais um tempo.

GABRIELA DÁ MAIS UM TRAGO NO CIGARRO. OLHA FIXAMENTE PARA UM MÓVEL COM OLHAR PSICOPATA.
CORTA PARA:

CENA 07. AP DE LEONARDO. SALA DE VISITAS. INT. DIA.

SOPHIA ESTÁ OFEGANTE. LEONARDO SENTA-SE NO SOFÁ. AO SEU LADO ESTÁ A ESPOSA, BEATRIZ. OS DOIS FICAM OLHANDO PARA SOPHIA.

LEONARDO        — Você está me dizendo que a sua mãe levou um homem pra dentro de casa?

SOPHIA                — Um homem nojento. Quando entrei no apartamento, ele estava só de cueca. A minha mãe veio logo em seguida, estava embriagada e com um cigarro na mão. O homem também estava embriagado.

BEATRIZ              — (INTERFERE INDIGNADA) Mas isso é muito sério.

LEONARDO        — Eu jamais pude imaginar que a Gabriela chegaria a esse ponto.

SOPHIA                — (NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS) Aquele homem era muito nojento, ele falava de uma forma debochada comigo, tentava tocar em mim. Quando eu gritei mais alto, a minha mãe me pegou pelo braço e me deu uma bofetada. Foi horrível.

LEONARDO BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. PASSA AS MÃOS NOS CABELOS COM NERVOSISMO. OLHA PARA O ROSTO DE SOPHIA.

LEONARDO        — A Gabriela só pode estar ficando louca. A minha vontade é de ir lá, naquele apartamento e a pegar pelo pescoço.

SOPHIA                — Ela não pode saber que eu te contei isso... Ela já me ameaçou.

LEONARDO        — Ameaçou? Como assim? (SOPHIA FICA QUIETA POR ALGUNS SEGUNDOS. LEONARDO CONTINUA) Pode falar, Sophia, não tenha medo. Se você já me falou tudo isso até agora, terá que me falar o resto sem esconder exatamente nada.

SOPHIA                — Nesse mesmo dia, ela deu a entender que estava me ameaçando de...

LEONARDO FICA CHOCADO COM A REVELAÇÃO DE SOPHIA. SEUS OLHOS LOGO FICAM MAREJADOS. BEATRIZ TAMBÉM FICA PERPLEXA.

BEATRIZ              — Mas isso é algo terrível!

SOPHIA                — (CONFUSA) Ela tentou se explicar dizendo que não tinha a intenção de me ameaçar assim...

LEONARDO        — (INTERFERE) Se é só isso, Sophia, eu não preciso ouvir mais nada. Eu sei que você é apenas uma menina de oito anos, apesar de não parecer, pois é tão inteligente, tão esperta e compreensiva. Eu vou arranjar a prova que sua mãe tem um amante e vou entregar a um juiz.

SOPHIA                — O que isso significa, Leonardo?

LEONARDO        — Significa que com essas provas, mais o seu depoimento que você é agredida pela sua mãe, o juiz irá tirar a sua guarda dela e o seu avô poderá entrar com o pedido de sua tutela.

SOPHIA                — (DÁ UM SORRISO DE ESPERANÇA) Então quer dizer que eu vou poder morar com meu avô?

LEONARDO        — Não é assim, Sophia, primeiro ele irá entrar com o pedido de sua tutela e aí o juiz irá decidir se dá ou não. (DÁ UM LEVE SORRISO) Mas é mais do que provável que seu avô irá conseguir.

SOPHIA                — E o que vai acontecer com a minha mãe?

LEONARDO        — A sua mãe irá perder a sua guarda, apenas isso.

SOPHIA FICA UM POUCO PENSATIVA E EM SEGUIDA DÁ UM LEVE SORRISO.
CORTA PARA:

1° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 08. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. TARDE.

SOPHIA CHEGA EM CASA. GABRIELA APARECE E A OLHA SERIAMENTE.

GABRIELA          — Por que demorou tanto?

SOPHIA                — (MENTE) Eu fui tomar sorvete com uma amiga.

GABRIELA          — Amiga... E quem pagou?

SOPHIA                — (RETIRA-SE PARA O SEU QUARTO) A minha amiga.

GABRIELA          — Você não me convenceu, sabia, garota?

SOPHIA NÃO RESPONDE NADA. OUVIMOS A BATIDA DA PORTA DO QUARTO DE SOPHIA, QUE EM SEGUIDA TRANCA. PELOS OLHOS DE GABRIELA, PERCEBEMOS O ÓDIO SALTANDO DELES.
CORTA PARA:

CENA 09. STOCK-SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.

SUCESSÃO DE IMAGENS DE CURITIBA E CAMPO BONITO, INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LETREIRO: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CENA 10. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. VARANDA. EXT. DIA.

O CARRO DE LEONARDO PARA EM FRENTE À CASA GRANDE. SOPHIA DESCE DO CARRO. MIGUEL É O PRIMEIRO A ABRAÇÁ-LA, COMO DE COSTUME.

MIGUEL               — Quanto mais eu peço pro tempo passar, ele parece demorar.

SOPHIA                — Por quê?

MIGUEL               — Porque eu fico com muitas saudades de você.

SOPHIA                — Eu também fico com muitas saudades de você.

ÂNGELO APARECE COM UM SORRISO NO ROSTO.

ÂNGELO              — Minha neta.

SOPHIA CORRE PARA ABRAÇAR ÂNGELO. OS DOIS FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES. SOPHIA OLHA PARA ÂNGELO CONTENTE.

SOPHIA                — Vovô, eu vou poder...

LEONARDO        — (A INTERROMPE) Nós vamos conversar sobre isso outra hora, Sophia.

SOPHIA FICA UM POUCO CHATEADA, MAS NADA ABALARIA A FELICIDADE QUE ESTÁ SENTINDO NO MOMENTO. SOPHIA OLHA PARA MIGUEL.

SOPHIA                — Vamos ao jardim?

MIGUEL               — Vamos.

MIGUEL E SOPHIA SE DÃO AS MÃOS E SAEM CORRENDO PELO CAMPO. LEONARDO E ÂNGELO OS OBSERVAM E EM SEGUIDA ENTRAM NO CASARÃO.
CORTA PARA:

CENA 11. FAZENDA DE ÂNGELO. CASARÃO. BIBLIOTECA. INT. DIA.

LEONARDO SENTA-SE NA POLTRONA QUE FICA DE FRENTE À POLTRONA EM QUE ÂNGELO ESTÁ SENTADO. ÂNGELO LEVANTA-SE, SERVE UM COPO DE UÍSQUE E DÁ À LEONARDO.

LEONARDO        — Não vai beber também, Seu Ângelo?

ÂNGELO              — Não... Eu ultimamente não tenho bebido.

LEONARDO        — Por causa da saúde?

ÂNGELO              — Sim... É também por causa dela que eu quero falar com você. (LEONARDO DÁ UM GOLE NO UÍSQUE. OLHA ATENTAMENTE PARA ÂNGELO QUE CONTINUA) Eu já sou um velho, contando os dias para a morte.

LEONARDO        — Não fale isso, Seu Ângelo, o senhor ainda tem muita vida pela frente.

ÂNGELO              Não, Leonardo, você está enganado. É quando achamos que ainda temos muita vida pela frente que acabamos morrendo, ainda mais quando somos velhos demais. Eu tenho que estar preparado pra deixar esse mundo e quero que você me ajude nisso.

LEONARDO        — Como eu poderei lhe ajudar?

ÂNGELO              — Eu tenho essa fazenda que está em cima de minha terra, que não é muito grande... Mas vale um bom dinheiro, eu acredito. Na época de meu pai, isso aqui era pura riqueza. Hoje em dia, nem mesmo as chuvas ajudam no plantio.

LEONARDO        — Mas mesmo assim o senhor acredita que essas terras tenham um valor?

ÂNGELO              — Sim, eu acredito.

LEONARDO        — E aonde o senhor quer chegar exatamente me falando isso?

ÂNGELO              — Antes de morrer, eu quero deixar essa fazenda e essas terras pra minha neta e para Miguel.

LEONARDO        — O senhor quer fazer um testamento deixando seus patrimônios para Sophia e Miguel, é isso?

ÂNGELO              — Sim, é isso, um testamento. Você pode me ajudar, Leonardo?

LEONARDO        — É claro que sim... Eu posso lhe ajudar sendo o seu advogado.

ÂNGELO              — E quanto você cobrará?

LEONARDO        — Eu não vou cobrar nada, Seu Ângelo, pode ficar tranqüilo em relação a isso.

ÂNGELO              — E quando você vai começar a ver isso?
LEONARDO        Eu já posso começar a ver isso ainda essa semana que entrará. Quando eu estiver com alguns procedimentos prontos, eu volto aqui e terminamos o resto.

ÂNGELO              — (DÁ UM LEVE SORRISO) Obrigado, Leonardo! Deus lhe pague!

LEONARDO        — Não precisa me agradecer, Seu Ângelo... Agora uma curiosidade, não querendo me intrometer nisso: mas por que o senhor quer que o Miguel fique com parte dessas terras?

ÂNGELO              — Porque o Miguel é um menino muito especial. Ele gosta de terra. Eu não tenho dúvidas de que ele vai progredir aqui e que colocará essa fazenda entre as melhores da região, como foi na época de meu pai.

LEONARDO        — (PENSATIVO) Hum...

LEONARDO DÁ MAIS UM GOLE NO UÍSQUE. OLHA PARA ÂNGELO, QUE SORRI PARA O ADVOGADO. LEONARDO CORRESPONDE O SORRISO, ELEVA A TAÇA DE UÍSQUE COMO FORMA DE BRINDAR COM ÂNGELO, DEPOIS DÁ O ÚLTIMO GOLE NO UÍSQUE.
CORTA PARA:

CENA 12. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. DIA.

MIGUEL E SOPHIA CORREM. CANSADOS ELES SE SENTAM NO GRAMADO DO JARDIM. MIGUEL E SOPHIA SE OLHAM POR ALGUNS INSTANTES.

MIGUEL               — Eu estava muito preocupado com você.

SOPHIA                — Confesso que eu não estava bem... Está sendo difícil a convivência com a minha mãe. Ela é uma mulher muito má. Ela não gosta de mim.

MIGUEL               — Já falou pro Leonardo?

SOPHIA                — Já. Eu fiz o que você me pediu.

MIGUEL               — E o que ele vai fazer?

SOPHIA                — A mesma coisa que o vovô já tinha te explicado.

MIGUEL               — (EXALTADO DE ALEGRIA) Isso significa que sua mãe pode perder sua guarda, eu estou muito feliz. Você vai vir poder morar aqui. Nós vamos ficar juntos finalmente. (SOPHIA FICA TRISTE E MIGUEL PERCEBE). O que houve, Sophia, você não está feliz? Nós vamos ficar perto um do outro.

SOPHIA                — Eu não queria que as coisas acabassem assim.

MIGUEL               — Como assim?

SOPHIA                Quando a minha mãe me agride, eu fico com muita raiva dela. Mas quando eu lembro que ela é a minha mãe, o meu coração amolece. Me bate uma tristeza. Por mais que ela não goste de mim, eu sinto algo lá, no fundo do meu coração. Eu queria odiar a minha mãe, mas eu não consigo.

MIGUEL               — Me desculpe, Sophia, mas a Dona Gabriela não sabe ser mãe. Ela não sabe que ela tem uma filha maravilhosa que a ama tanto e que só queria o amor e o carinho dela. (SOPHIA OLHA PARA MIGUEL. FICA QUIETA E COM UMA EXPRESSÃO TRISTE NO ROSTO. MIGUEL CONTINUA) Eu queria tanto ver aquele lindo sorriso em seu rosto novamente.

SOPHIA                — Eu não vou dá-lo novamente por um bom tempo... Acho melhor você já ir se acostumando.

MIGUEL               — Eu nunca vou me acostumar a te ver triste, Sophia.

SOPHIA FICA QUIETA NOVAMENTE. MIGUEL A ABRAÇA E ENCOSTA SUA CABEÇA NA CABEÇA DA MENINA.
CORTA PARA:

CENA 13. CASA DE ELVIRA. COZINHA. INT. HORA DO ALMOÇO.

EVANDRO CHEGA EM CASA. SENTA-SE À MESA. EVANDRO PROCURA ALGO. OLHA PARA CAROLINA.

EVANDRO           — Onde está o Miguel?

CAROLINA          — O Miguel está com a Sophia.

CAROLINA ARRUMA A MESA PARA A REFEIÇÃO.

EVANDRO           — (INSATISFEITO) Eu já devia saber. (CAROLINA SERVE O ALMOÇO PARA EVANDRO QUE CONTINUA FALANDO) O Paulo já está arrumando as coisas dele para ir embora?

CAROLINA          — Já.

EVANDRO           — Eu jamais pensei que o Seu Aurélio fosse oferecer aquela casinha pro Paulo.

CAROLINA          — Que bom, não é? E é uma casinha boa?

EVANDRO           — É sim... É pequena, mas tem bastante espaço pros três.

CAROLINA          — Ah...

CAROLINA PÕE A COMIDA EM SEU PRATO. EVANDRO COME.
CORTA PARA:

CENA 14. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. HORA DO ALMOÇO.

MIGUEL SE LEVANTA E SOPHIA TAMBÉM.

SOPHIA                — A Amélia já deve estar com o almoço pronto.

MIGUEL               — A minha mãe também já deve estar com o almoço pronto.

SOPHIA                — Então mais tarde a gente se fala.

MIGUEL               — (CONCORDA) Está bem.

SOPHIA DÁ UM BEIJO NO ROSTO DE MIGUEL E SE RETIRA RAPIDAMENTE. MIGUEL DÁ UM SORRISO E FICA A OLHANDO DE LONGE. JULIANA APARECE DE SURPRESA.

JULIANA             — O tio Evandro já sabe que essa menina aí te dá beijinhos no rosto?

MIGUEL VIRA-SE PARA JULIANA. OLHA SERIAMENTE PARA A MENINA.

MIGUEL               — “Essa menina aí” tem nome, ela se chama Sophia. É um lindo nome, você não acha?

JULIANA             — Não gosto nem um pouco dela... É uma dondoquinha.

MIGUEL               — Você tem inveja da Sophia.

JULIANA             — Por que eu tenho inveja dela? Você ta falando asneiras, Miguel.

MIGUEL               — Você é quem vive falando asneiras, Juliana... E fique sabendo que o beijo que a Sophia acabou de me dar foi um barato.

JULIANA             — Foi apenas um beijo no rosto, seu bobão!

MIGUEL               — Um beijo maravilhoso! Um beijo tão bom que você não seria capaz de dar com esses lábios de que nem sei de que bicho é... Invejosa!

MIGUEL SE RETIRA IRRITADO. JULIANA CRUZA OS BRAÇOS E ENCHE OS OLHOS D’ÁGUA.
CORTA PARA:

2° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 15. STOCK-SHOTS.

INSERIR LETREIRO: CURITIBA.

CENA 16. AP DOS MEIRELLES. COZINHA. INT. TARDE.

GABRIELA ESTÁ SENTADA À MESA. ENCARA O PRATO COM COMIDA, ONDE SÓ HÁ ARROZ E FEIJÃO. ELA PEGA A FRIGIDEIRA EM CIMA DO FOGÃO. TIRA UM OVO FRITO MAL PASSADO E MURCHO. COLOCA O OVO NO PRATO. SENTA-SE NOVAMENTE À CADEIRA. ENCARA O PRATO COM COMIDA.

GABRIELA          — A que situação eu cheguei... Isso é humilhante!

GABRIELA REVIRA A COMIDA. OLHA COM NOJO. E COM O GARFO PÕE À BOCA.
CORTA PARA:

CENA 17. STOCK-SHOTS.

INSERIR LETREIRO: CAMPO BONITO.

CENA 18. FAZENDA DE ÂNGELO. CASARÃO. SALA. INT. TARDE.

LEONARDO SENTA-SE NA POLTRONA. ESTÁ PENSATIVO. SOPHIA APARECE. SENTA-SE NO COLO DE LEONARDO.

SOPHIA                — Você já falou pro meu avô?

LEONARDO        — Ainda não é a hora... Quando eu conseguir aquelas provas e apresentar ao juiz, eu telefonarei ou virei falar com seu avô pessoalmente. Você terá que esperar mais um tempo.
SOPHIA                — É que eu estou muito nervosa.

LEONARDO        — (TOCA O ROSTO DE SOPHIA) Eu te entendo. Mas tente ficar calma.

SOPHIA DÁ UM LEVE SORRISO PARA LEONARDO.

SOPHIA                — Está bem, Leonardo.

AMÉLIA APARECE COM UM COPO DE LICOR. OFERECE A LEONARDO QUE SORRI.

LEONARDO        — Obrigado, Amélia.

AMÉLIA               — (TAMBÉM SORRI) Não precisa agradecer, Doutor Leonardo!

LEONARDO        O almoço estava ótimo! Já fazia um bom tempo que eu não comia uma galinha assada tão boa e tão bem temperada. Você cozinha muito bem, Amélia, acho que vou te levar comigo pra Curitiba.

AMÉLIA               — (SORRI NOVAMENTE) Eu gostaria muito, mas amo trabalhar aqui com o Seu Ângelo.

LEONARDO        — (DÁ UM SORRISO) Já que é assim...

AMÉLIA               — (SE RETIRANDO) Com licença!

SOPHIA FICA OLHANDO PARA LEONARDO, QUE ESTRANHA O MODO COMO SOPHIA LHE OLHA.

LEONARDO        — Por que está me olhando assim, Sophia?

SOPHIA                — (O OLHA SERIAMENTE) Você e a Amélia.

LEONARDO        — (ESTRANHA) O que tem isso?

SOPHIA                — Eu é que pergunto, Leonardo.

LEONARDO        — (NERVOSO) Você não está pensando bobagens, está, Sophia? Eu apenas fiz um elogio a ela.

SOPHIA                — Está bem, Leonardo, não precisa ficar desse jeito.

LEONARDO        — De que jeito?

SOPHIA                — Todo nervoso.

LEONARDO        Eu não estou nervoso. Quer saber, Sophia? Vá procurar o seu amigo e vê se me deixe em paz. Onde já se viu? Eu sou um homem casado. Ela também é uma mulher casada.

SOPHIA DÁ UM SORRISO E SE RETIRA. LEONARDO DÁ UM GOLE NO LICOR E BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
CORTA PARA:

CENA 19. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. TARDE.

MIGUEL SENTA NO GRAMADO E ESPERA POR SOPHIA. SOPHIA APARECE. MIGUEL SE LEVANTA RAPIDAMENTE.

SOPHIA                — Está me esperando aí há quanto tempo?

MIGUEL               — Já deve fazer uns cinco minutos, nem isso.

SOPHIA                — Hum...

MIGUEL               — Vamos na minha casa?

SOPHIA                — Fazer o quê lá?

MIGUEL               — O Seu Aurélio deu um potrinho pro meu tio.

SOPHIA                — (ESTRANHANDO) Potrinho? O que é isso?

MIGUEL               — É um cavalo recém-nascido.

SOPHIA                — Ah, ta...

MIGUEL               — (PUXA A MÃO DE SOPHIA) Ele está lá em casa... Vamos lá!

SOPHIA                — Eu não sei se posso ir.

MIGUEL               — Por quê?

SOPHIA                — O seu pai pode ficar bravo.

MIGUEL               — O meu pai não está em casa. Vamos!

SOPHIA                — Eu não posso demorar. O meu avô pode dar por minha falta.

MIGUEL               — Está bem, Sophia, eu prometo que não vamos demorar muito.

SOPHIA PEGA A MÃO DE MIGUEL E O ACOMPNHA.
CORTA PARA:

CENA 20. CASA DE ELVIRA. CERCADO DE MADEIRA. EXT. TARDE.

MIGUEL E SOPHIA CHEGAM. SE DEPARAM COM O PEQUENO CAVALO DENTRO DO CERCADO DE MADEIRA. MIGUEL ABRE O PORTÃO. ENTRA. SOPHIA O ACOMPANHA. MIGUEL FECHA O PORTÃO.

SOPHIA                — (ADMIRADA) Miguel, ele é muito fofo!

SOPHIA TOCA NO CAVALO E FICA ALISANDO AS CRINAS DO ANIMAL.

MIGUEL               — (SORRINDO) Ele é muito lindo! Vai ser um garanhão quando crescer.

SOPHIA                — Também não é pra tanto, Miguel.

MIGUEL               — Por que você descorda?

SOPHIA                — Porque ele não parece que vai ser um grande garanhão quando ele crescer... Mas mesmo assim, ele é muito lindo.

JULIANA APARECE E FICA OBSERVANDO OS DOIS DE LONGE.

MIGUEL               — Quer montar nele?

SOPHIA                — E ele já pode ser montado?

MIGUEL               — Sim, já pode. Eu vou te ajudar. (AJUDA SOPHIA A SUBIR NO PEQUENO ANIMAL) Segure nas arredias dele.

SOPHIA                — Tá. (t) Foi seu pai que colocou?

MIGUEL               — Não, foi meu tio.

O PEQUENO CAVALO DÁ ALGUNS PASSOS. SOPHIA TREME UM POUCO, MAS SE SENTE ALIVIADA. FAZ CARINHO NO ANIMAL NOVAMENTE.

MIGUEL               — (SORRINDO) Acho que ele gostou de você.

SOPHIA                — (TAMBÉM SORRINDO) Ele é muito fofo.

JULIANA OLHA COM RAIVA PARA SOPHIA MONTADA NO PEQUENO CAVALO. MIGUEL TOCA O CAVALO E DEPOIS TOCA A MÃO DE SOPHIA. ELA OLHA PRA ELE E DÁ UM SORRISO. JULIANA FICA REVOLTADA E SE RETIRA. ELA DÁ ALGUNS PASSOS OLHANDO PARA BAIXO E SE DEPARA COM UMA SERPENTE. ELA FICA OLHANDO ATENTAMENTE O ANIMAL E VÊ QUE NÃO É PEÇONHENTO E MUITO MENOS TEM VENENO. DÁ PARA PERCEBER NO TOM DE PELE. É UMA MENINA ESPERTA E CONHECE ALGUNS DETERMINADOS TIPOS DE SERPENTES, POIS FORA ENSINADA. ELA PEGA A COBRA COM AS MÃOS E A LEVA ATÉ O PEQUENO CERCADO. LARGA O ANIMAL POR PERTO E FICA OBSERVANDO PARA VER O QUE IRÁ OCORRER LOGO EM SEGUIDA. O PEQUENO CAVALO SE DISTANCIA MAIS UM POUCO, MAS A SERPENTE AINDA ESTÁ UM POUCO LONGE. PAULO APARECE E FICA BRAVO AO VER SOPHIA MONTADA NO ANIMAL.

PAULO                 — Desça do meu cavalo, menina!

SOPHIA OLHA PARA PAULO. OLHA PARA MIGUEL.

SOPHIA                — Me ajude a descer, Miguel.

MIGUEL CORRE E AJUDA SOPHIA A DESCER DO CAVALO. PEDRINHO APARECE NESSE MOMENTO.

PEDRINHO          — Miguel.

MIGUEL               — Pedrinho. (MIGUEL E PEDRINHO SE ABRAÇAM). Achei que você fosse vir amanhã.

PEDRINHO          — O meu pai deixou eu vir aqui hoje. E aquele potrinho?

MIGUEL               — É do meu tio.

PEDRINHO          — Posso montar, Seu Paulo?

PAULO                 — (NA INTENÇÃO DE PROVOCAR SOPHIA) Mas é claro! Você pode! (AJUDA PEDRINHO A MONTAR EM CIMA DO ANIMAL) Segure nas arredias.

PEDRINHO          — Disso eu sei, Seu Paulo.

PEDRINHO SEGURA NAS ARREDIAS. MIGUEL OLHA PARA PAULO E O FICA ENCARANDO.

PAULO                 — (FITANDO MIGUEL) Está me olhando assim por que, Miguel?

MIGUEL FICA QUIETO E PEGA A MÃO DE SOPHIA. O PEQUENO CAVALO VÊ A SERPENTE, RELINCHA AO LEVAR UM SUSTO, EMPINA PARA TRÁS O QUE ACABA CAUSANDO A QUEDA DE PEDRINHO NO CHÃO. JULIANA FICA ASSUSTADA, POIS SUA INTENÇÃO ERA VER A QUEDA DE SOPHIA E NÃO DE OUTRA PESSOA. CONGELA EM “JULIANA”.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 10





























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