Memória DNA | Com Amor | Capítulo 12




COM AMOR

Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
MIGUEL RODRIGUES

Direção de Núcleo
#DNA – DRAMATURGIA NOVOS AUTORES

Personagens deste capítulo



LEONARDO
SOPHIA
PAULO
MIGUEL
CAROLINA
EVANDRO
JULIANA
RAUL
GABRIELA
ÂNGELO




Participação Especial:

GARÇONETE
ELVIRA
DIRCE
TAXISTA
















CENA 01. ESCOLA. FACHADA. EXT. HORA DA SAÍDA.

O SINAL TOCA E OS PORTÕES SÃO ABERTOS PARA A SAÍDA DOS ALUNOS. SOPHIA VÊ O CARRO DE LEONARDO. ENTRA CORRENDO NO AUTOMÓVEL.

LEONARDO        — (SORRI) Pra que essa pressa?

SOPHIA                — Eu estava com saudades de você.

SOPHIA E LEONARDO SE ABRAÇAM.

LEONARDO        — Eu também estava com saudades de você, menina.

SOPHIA                — Vamos tomar sorvete?

LEONARDO        — Já não é mais época.

SOPHIA                — E o que tem?

LEONARDO        — E o que tem é que eu não quero que você fique resfriada. É o inverno já está chegando e está ficando cada vez mais frio.

SOPHIA                — Eu queria passar um final de semana no nordeste. Lá não faz frio no inverno.

LEONARDO        — Se eu pudesse, eu te levaria para passar um final de semana em Recife.

SOPHIA                — Quem sabe algum dia?

LEONARDO        — (CONCORDA. SORRI) É... Quem sabe algum dia.

SOPHIA                — Quando a minha mãe não tiver mais nenhum poder sobre mim... Falando nisso, Leonardo, quando você irá arranjar aquelas tais provas?

LEONARDO        — É que eu estou resolvendo algumas coisas para seu avô, mas já vou começar a ver isso ainda essa semana.

SOPHIA                — Ah... Espero que não demore muito... Eu não vejo a hora de poder ir morar com meu avô.

LEONARDO        — (COM EXPRESSÃO TRISTE) Quando isso acontecer, eu vou sentir muito a sua falta.

SOPHIA OLHA PARA LEONARDO. DÁ UM SORRISO.

SOPHIA                — Eu também vou sentir a sua falta, Leonardo. Mas você pode ir lá na fazenda, para me visitar quando quiser e tiver tempo.

LEONARDO        — Eu vou sim. Eu gostei muito daquele lugar.

SOPHIA                — Eu também gosto muito de lá.

LEONARDO        — (PREOCUPADO) E a sua mãe? Ela não tem mais te agredido?

SOPHIA                — Não.

LEONARDO        — Nem mesmo te humilhado?

SOPHIA                — Por enquanto, não... E também, eu chego em casa e me tranco no quarto.

LEONARDO        — Mas você fica o dia todo trancada no quarto? Você tem se alimentado direito?

SOPHIA                — Eu espero a minha mãe dormir e aí eu vou à cozinha comer algo.

LEONARDO        — Você tem que se alimentar direito, Sophia, pois está em fase de crescimento.

SOPHIA                — Eu sei disso, Leonardo.

LEONARDO        — Me surgiu uma ideia agora.

SOPHIA                — (CURIOSA) O quê?

LEONARDO        — (SORRI) Que tal irmos em uma confeitaria?

SOPHIA                — A última vez que eu fui em uma confeitaria foi com meu pai.

LEONARDO        — Então vamos agora.

SOPHIA                — Eu não posso demorar muito, a minha mãe pode acabar estranhando.

LEONARDO        — Não vamos demorar muito.

SOPHIA                — (CONCORDA) Então, ta...

LEONARDO LIGA O CARRO. DÁ A PARTIDA. SEGUE PARA UMA CONFEITARIA.
CORTA PARA:

CENA 02. CONFEITARIA. SALÃO. INT. TARDE.

LEONARDO E SOPHIA CHEGAM À CONFEITARIA. SENTAM-SE À UMA MESA QUE TEM VISTA PARA A AVENIDA.

LEONARDO        — O que você quer comer, Sophia?

SOPHIA                — Tem tantas coisas no cardápio, fica difícil de escolher.

LEONARDO        — (DÁ UM SORRISO) Pode escolher o que você quiser.

SOPHIA                — Não quer te dar prejuízo.

LEONARDO        — Prejuízo? Você não me causa prejuízo nenhum, Sophia... Pode escolher o que você quiser, eu já disse.

A GARÇONETE APARECE COM UMA CADERNETA E UMA CANETA NAS MÃOS.

LEONARDO        — E então, Sophia?

SOPHIA                — Eu vou querer um bolo de chocolate com cobertura de morango e um cappuccino.

A GARÇONETE ANOTA O PEDIDO. LEONARDO OLHA PARA A GARÇONETE.

LEONARDO        — Moça, eu vou querer o mesmo só pra acompanhar a minha garotinha.

GARÇONETE      — Está bem.

 A GARÇONETE ANOTA O PEDIDO E RETIRA-SE. SOPHIA E LEONARDO CONTINUAM CONVERSANDO.

SOPHIA                — E a Beatriz?

LEONARDO        — A Beatriz está bem.

SOPHIA                — Leonardo, posso te fazer uma pergunta?

LEONARDO        — Pode.

SOPHIA                — É uma pergunta meio delicada.

LEONARDO        — Uma pergunta delicada? Hum...

SOPHIA                — Não sei se posso fazê-la, mas estou curiosa.

LEONARDO        — Então faça a pergunta, senão a sua curiosidade irá permanecer.

SOPHIA                — Leonardo, por que você e a Beatriz não tiveram filhos? (LEONARDO FICA TRISTE E PENSATIVO POR ALGUNS INSTANTES. SOPHIA ESTRANHA) Leonardo, você está bem? Eu não devia ter feito essa pergunta. Me desculpe!

LEONARDO        — Não precisa me pedir desculpas, Sophia, você é apenas uma criança.

SOPHIA                — Eu estou me sentindo culpada por ter te deixado assim.

LEONARDO        — A culpa não é sua, meu bem, a culpa é somente minha.

SOPHIA                — Eu juro que nunca mais te faço perguntas do tipo.

LEONARDO        — Sophia, você é apenas uma criança que tem suas curiosidades. Até mesmo um adulto, quando me vê com Beatriz, estranha o fato de que não temos filhos.

SOPHIA                — Você iria ser um pai maravilhoso, eu digo isso porque você me trata como se eu fosse sua filha.

LEONARDO        — Você acha que eu seria um pai maravilhoso?

SOPHIA                — Não acho... Eu tenho certeza.

LEONARDO DÁ UM LEVE SORRISO E FICA ADMIRANDO SOPHIA. A GARÇONETE APARECE E COLOCA AS DUAS BANDEJAS EM CIMA DA MESA.

GARÇONETE      — Bom apetite!

A GARÇONETE SE RETIRA. SOPHIA PEGA O PEQUENO GARFO. CORTA UM PEDAÇO DO BOLO E COLOCA NA BOCA.

LEONARDO        — O bolo está bom?

SOPHIA                — (SORRI) Está delicioso. (LEONARDO FICA A OBSERVANDO POR ALGUNS INSTANTES) Por que você não come?

LEONARDO        — Eu estava com meus pensamentos longe. (CORTA O PEDAÇO DO BOLO COM O GARFO E COLOCA UM PEDAÇO NAS BOCA) Está uma delícia mesmo.

SOPHIA                — O cappuccino também está muito bom.

LEONARDO        — Eu gosto dele bem doce.

SOPHIA                — (CONCORDA) Eu também.

SOPHIA E LEONARDO PROVAM MAIS UM PEDAÇO DO BOLO. SORRIEM UM PARA O OUTRO.
CORTA PARA:

CENA 03. STOCK-SHOTS.

SUCESSÃO DE IMAGENS ONDE FAZEMOS UMA PONTE ENTRE CURITIBA E A CIDADE DE CAMPO BONITO. CAM MOSTRA TODAS AS BELEZAS DA CIDADE ATÉ CHEGARMOS À FAZENDA DE SEU AURÉLIO.
CORTA PARA:

CENA 04. FAZENDA DE AURÉLIO. ESTÁBULO. EXT. TARDE.

MIGUEL ESTÁ CUIDANDO DAS VACAS. ELE ENTRA. FECHA A PORTEIRA DO ESTÁBULO. PAULO APARECE. FICA OLHANDO PARA MIGUEL.

PAULO                 — Então você quer juntar grana pra ir morar em Curitiba?

MIGUEL               — É isso mesmo.

PAULO                 — Um menino tão jovem já caindo nas “garras” de uma garota.

MIGUEL               — A Sophia é minha amiga.

PAULO                 — Quando você crescer mais um pouco, Miguel, você vai entender. Só espero que aquela menina cresça e corresponda esse teu sentimento.

MIGUEL               — A Sophia gosta muito de mim. Ela já corresponde os meus sentimentos.

PAULO                 — Vocês são apenas duas crianças.

MIGUEL               — Mas nos amamos como irmãos, como verdadeiros amigos.

PAULO                 — Ah...

PAULO DÁ UM SORRISO IRÔNICO, EM SEGUIDA SE RETIRA. MIGUEL FICA OLHANDO PARA O TIO.
CORTA PARA:

CENA 05. CASA DE ELVIRA. COZINHA. INT. TARDE.

CAROLINA PREPARA A MESA PARA O ALMOÇO. EVANDRO CHEGA.

CAROLINA          — E o Miguel?

EVANDRO           — O Miguel já deve estar vindo.

ELVIRA APARECE NA COZINHA.

ELVIRA                — Menino trabalhador desde cedo. Isso é muito bom.

EVANDRO           — Ele quer juntar dinheiro pra quando ele completar dezoito anos, por ir morar em Curitiba... Isso é uma loucura.

CAROLINA          — Por que é loucura, Evandro?

EVANDRO           — Porque dinheiro não dura pra sempre. E trabalhando na fazenda do Seu Aurélio, fazendo aquelas tarefas simples, ele não vai conseguir juntar muito. Como ele vai sobreviver na capital? É bom a gente tirar essa ideia da cabeça dele enquanto é cedo.

ELVIRA                — Já ouviu falar em destino, meu sobrinho?

CAROLINA          — É isso que eu estou tentando enfiar na cabeça desse jumento, tia Elvira.

EVANDRO           — Eu não sou um jumento.

CAROLINA          — Então coloque na cabeça que ser o destino do Miguel é ir morar em Curitiba, nós não podemos fazer nada. Ele gosta muito da Sophia e esse sentimento tende a crescer cada vez mais.

EVANDRO           — Você está querendo é atirar o nosso filho pros braços daquela menina antes do tempo.

CAROLINA          — Você só pode estar louco, Evandro! Eles são apenas duas crianças.

EVANDRO           — Mas é isso que você está dando a entender, Carolina.

CAROLINA          — Você está ficando louco, Evandro! E com louco, eu não discuto.

CAROLINA RETIRA-SE REVOLTADA. ELVIRA APROXIMA-SE DE EVANDRO.

ELVIRA                — A Carolina tem razão, Evandro.

EVANDRO           — Até a senhora, tia?

ELVIRA                — Evandro, aceite o destino de seu filho e tudo terminará bem. Essa amizade entre ele e aquela menina, é apenas o início de um grande amor que irá desabrochar com o tempo.

EVANDRO FICA CALADO. EM UM LUGAR PRÓXIMO DA COZINHA, VEMOS JULIANA ESCONDIDA ATRÁS DA PORTA. ESCUTAVA A CONVERSA DE ELVIRA , CAROLINA E EVANDRO. SUA EXPRESSÃO É DE REVOLTA.
CORTA PARA:

CENA 06. STOCK-SHOT.

ANOITECE/AMANHECE.

CENA 07. ESCRITÓRIO DE ADVOCACÍA. SALA DE LEONARDO. INT. DIA SEGUINTE.

LEONARDO ESTÁ ANALISANDO UMA PAPELADA. PARECE CONCENTRADO. A SECRETÁRIA DIRCE ABRE A PORTA. TIRA A CONCENTRAÇÃO DE LEONARDO, QUE A OLHA.

DIRCE                   — Doutor Leonardo, há uma mulher querendo falar com o senhor.

LEONARDO        — Que mulher?

DIRCE                   — Ela disse se chamar Gabriela.

LEONARDO        — (RESPIRA FUNDO) Gabriela... Mande ela entrar.

DIRCE RETIRA-SE. APÓS ALGUNS SEGUNDOS, GABRIELA APARECE. LEONARDO A OLHA E DESVIA O OLHAR.

LEONARDO        — (SECO) Gabriela, eu estou cheio de trabalho.

GABRIELA          — Pouco me importa, Leonardo.

LEONARDO        — É claro que pouco te importa... Quem está trabalhando sou eu e não você.

GABRIELA          — Eu não vou tirar muito o seu tempo, pode ficar tranqüilo.

GABRIELA SENTA-SE NA POLTRONA À FRENTE DA MESA DE TRABALHO DE LEONARDO.

LEONARDO        — Diga, Gabriela... O que você quer? Da última vez, você me escorraçou do seu apartamento.

GABRIELA          — (IRÔNICA) Um episódio triste, não é?

LEONARDO        — O que você quer, Gabriela? Eu estou perdendo tempo.

GABRIELA          — Eu vou ser direta, meu caro: o meu ex-sogro pretende deixar o patrimônio dele como herança para a minha filha e para aquele moleque imundo do Miguel.

LEONARDO        — (SURPRESO. DISFARÇA) Do que está falando, Gabriela?

GABRIELA          — Não se faça de desentendido... Aquele velho está totalmente louco de morrer e deixar uma parte daquela fazenda para aquele moleque, aquele moleque que não é nada dele. Aquela fazenda não deve ter um grande valor em dinheiro, mas o que é de Sophia, é de Sophia. A herança é dela e não deve ser dividida com mais ninguém, a não ser comigo, é óbvio.

LEONARDO        — (MENTE) Eu não sabia que o Seu Ângelo queria deixar uma parte de seu patrimônio para aquele menino.

GABRIELA          — (GRITA) Pare de se fazer de desentendido, Leonardo, você já está me deixando irritada... Eu não vou permitir que a vontade daquele velho seja feita.

LEONARDO        — (NERVOSO) Você está dentro de meu escritório, é melhor se controlar.

GABRIELA LEVANTA-SE E BATE NA MESA COM RAIVA. LEONARDO FICA OLHANDO PARA GABRIELA APAVORADO.

GABRIELA          — Você vai dar um jeito de mudar esse testamento, senão a sua esposa irá ficar sabendo de um certo envelope que contém um exame.

LEONARDO        — Como você sabe do envelope?

GABRIELA          — Encontrei em uma caixa onde o Marcelo guardava os documentos e alguns papéis da empresa. Você pediu pra ele guardar o seu segredo, não foi? Você enganou a sua esposa durante todo esse tempo e o Marcelo sabia de tudo.

LEONARDO        — O Marcelo era meu amigo. Ele não me acobertou sem me aconselhar a fazer o que era certo.

GABRIELA          — Eu tenho pena da Beatriz. Coitada!

LEONARDO        — Você não tem pena de ninguém, Gabriela.

GABRIELA          — É verdade, eu não tenho. Você verá o quanto sou má e fria, se você não fizer o que eu estou mandando. Você vai mudar o testamento deixando o patrimônio daquele velho apenas para a minha filha.

LEONARDO        — Não tem como mudar um testamento, Gabriela.

GABRIELA          — Tem. E você deve saber como, afinal é um advogado. (LEONARDO ENTERRA A CABEÇA ENTRE OS BRAÇOS E ACABA NÃO CONTENDO AS LÁGRIMAS. GABRIELA O OBSERVA) Nem as lágrimas da Sophia me comovem, as suas então não irão me comover nem um pouco.

LEONARDO        — A Sophia não merece uma mãe como você.

GABRIELA          — Cada um tem o que merece, meu caro.

LEONARDO        — Eu vou tirar a Sophia de você... Ela vai morar com o avô dela.

GABRIELA          — (DÁ UMA RISADA) Leonardo, você teria que  ter um bom motivo pra tirar a Sophia de mim. Um bom motivo que convencesse um juiz, porque senão... Você já sabe. A Sophia é minha filha e ninguém a tira de mim.

LEONARDO        — (GRITA) Você me paga, Gabriela!

GABRIELA ABRE A PORTA, FICA OLHANDO PARA LEONARDO COM UM SORRISO DEBOCHADO NO ROSTO. VAI EMBORA.
CORTA PARA:

1° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 08. ESCRITÓRIO. FRENTE DO PRÉDIO. EXT. DIA.

GABRIELA SAI DO PRÉDIO ONDE FICA SITUADO O ESCRITÓRIO DE LEONARDO. RAUL A AVISTA. ABRE A PORTA DO CARRO. GABRIELA APROXIMA-SE.

RAUL                    — (CURIOSO) E então, Gabriela?

GABRIELA          — Eu não poderia ter nascido uma boa pessoa, porque eu adoro ser má.

GABRIELA DÁ UMA RISADA. ENTRA NO CARRO. FAZ SINAL PARA PARTIR. RAUL LIGA O CARRO E DÁ A PARTIDA.
CORTA PARA:

CENA 09. STOCK-SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LEGENDA: Alguns dias depois...

CENA 10. CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. BIBLIOTECA. INT. DIA.

ÂNGELO E LEONARDO ESTÃO NA BIBLIOTECA. ÂNGELO ASSINA O TESTAMENTO QUE HAVIA ESCRITO. LEONARDO PEGA O DOCUMENTO E COLOCA EM UMA PASTA.

LEONARDO        — Agora eu vou levar esse testamento em um cartório. O senhor vai precisar estar presente comigo.

ÂNGELO              — Está bem.

LEONARDO        — Nós podemos ir amanhã pra Curitiba.

ÂNGELO              — Eu não tenho onde ficar por lá.

LEONARDO        — O senhor pode ficar no meu apartamento.

ÂNGELO              — A sua esposa não iria se importar?

LEONARDO        — Não, Seu Ângelo. (LEONARDO VÊ UM PAPEL EM CIMA DA MESA) Que papel é esse?

ÂNGELO              — É um testamento que eu havia feito há algum tempo atrás. Não vale nada. Acho que até vou rasgá-lo.

LEONARDO        — Por quê?

ÂNGELO              — Porque nele eu apenas deixo meu patrimônio para Sophia.

ÂNGELO PEGA O PAPEL. FAZ MENÇÃO EM RASGÁ-LO. LEONARDO INTERFERE.

LEONARDO        — Não rasgue.

ÂNGELO              — Por que, Leonardo?

LEONARDO        — Deixe esse papel comigo, talvez me peçam algum rascunho lá no cartório.

ÂNGELO              — (ESTRANHA) Mas ele não vale de nada.

LEONARDO        — Mas nunca se sabe, Seu Ângelo.

LEONARDO PEGA O PAPEL E COLOCA DENTRO DA PASTA. ÂNGELO NOTA ALGUMA COISA ESTRANHA EM LEONARDO.

ÂNGELO              — Você está estranho, Leonardo. Aconteceu alguma coisa?

LEONARDO        — Não aconteceu nada, não.

ÂNGELO              — (AINDA ESTRANHANDO) Hum...

LEONARDO DESCONFIADO, AJEITA A GOLA DE SUA CAMISA. ÂNGELO FICA PENSATIVO.
CORTA PARA:
CENA 11. FAZENDA DE ÂNGELO. CACHOEIRA. EXT. DIA.

SOPHIA E MIGUEL ESTÃO À BEIRA DA CACHOEIRA. CONVERSAM.

MIGUEL               — Eu penso em você todos os dias, Sophia.

SOPHIA                — Eu também, Miguel.

MIGUEL               — Eu estou trabalhando agora.

SOPHIA                — Pra quê? Você apenas tem dez anos, não tem idade pra trabalhar.

MIGUEL               — É que eu quero juntar dinheiro.

SOPHIA                — Juntar dinheiro pra quê?

MIGUEL               — Pra ir morar em Curitiba.

SOPHIA                — Mas seus pais não vão deixar, você é uma criança ainda.

MIGUEL               — Quando eu completar dezoito anos, eu vou embora daqui e vou pra lá. A gente vai ficar perto um do outro.

SOPHIA                — Mas o Leonardo já vai começar a dar um jeito de ver como fazer com que meu avô fique com a minha guarda.

MIGUEL               — E se não der certo, Sophia?

SOPHIA                — Como assim? Miguel, você estava mais confiante do que eu em relação a isso. Por que mudou de repente?

MIGUEL PEGA A MÃO DE SOPHIA E A COLOCA EM SEU PEITO.

MIGUEL               — Tem algo me dizendo aqui, no fundo do meu coração, que eu devo fazer isso.

SOPHIA                — Vai dar certo, Miguel. Não precisa você juntar dinheiro.

MIGUEL               — Não interessa, Sophia, eu vou continuar juntando.

SOPHIA                — Já que você quer assim... Eu não vou ficar te contrariando. Você é um “cabeça-dura”.

MIGUEL               — (SORRI) Olha só quem fala.

SOPHIA                — Mas eu tenho razão.

MIGUEL               — Você sempre quer ter razão, Sophia, eu já estou me acostumando. (SOPHIA SORRI E MIGUEL TAMBÉM) Eu te amo, Sophia!

SOPHIA                — Eu também te amo, Miguel!

MIGUEL               — Tenho medo de te perder, sabia?

SOPHIA                — Você nunca vai me perder.

MIGUEL               — (TRISTE) Eu estou sentindo um aperto aqui, no peito.

SOPHIA                — Por quê?

MIGUEL               — Eu não sei, Sophia, eu só sei que estou com vontade de chorar.

SOPHIA                — (SORRINDO) Ah, Miguel, pare!

MIGUEL               — É sério, Sophia.

SOPHIA                — (TOCA O ROSTO DE MIGUEL) Nosso amor é eterno, Miguel. Não tem porque você ter medo de me perder. Nem mesmo a distância pode destruir  o meu sentimento por você.

SOPHIA E MIGUEL SE ABRAÇAM FORTEMENTE E FICAM ASSIM POR ALGUNS INSTANTES. ESSE ABRAÇO É MUITO SIGNIFICANTE PARA OS DOIS QUE PARECE DURAR UMA ETERNIDADE DE TÃO INTENSO E PURO.
CORTA PARA:

CENA 12. STOCK-SHOT.

AMANHECE.

CENA 13. FAZENDA DE ÂNGELO. JARDIM. EXT. DIA SEGUINTE.

MIGUEL E SOPHIA SE DESPEDEM. ELA ENTREGA UM PAPEL PARA ELE.

SOPHIA                — Nesse papel, tem meu endereço lá em Curitiba... Quando você quiser me mandar cartas, é só colocar esse endereço no remetente.

MIGUEL               — (SORRI) Uma pirralha me ensinando a mandar cartas.

SOPHIA                — (TAMBÉM SORRI) É que você é um burrinho.

SOPHIA E MIGUEL RIEM.

MIGUEL               — Vou sentir sua falta, Sophia.

SOPHIA                — O Leonardo não me falou quando viríamos novamente, mas eu espero que não demore muito. Vou sentir muito a sua falta também, Miguel.

MIGUEL E SOPHIA SE ABRAÇAM.

MIGUEL               — Não se esqueça que eu te amo, Sophia.

SOPHIA                — Eu nunca vou esquecer. Ah, e não se esqueça de me mandar cartas.

MIGUEL               — Quando você receber as minhas cartas, tome cuidado.

SOPHIA                — Eu sei disso, mas eu não vou deixar a minha mãe ficar sabendo.

MIGUEL               — Fico mais aliviado.

MIGUEL E SOPHIA SE ABRAÇAM NOVAMENTE. LEONARDO APARECE.

LEONARDO        — Vamos, Sophia? O seu avô já está no carro.

MIGUEL TOCA OS CABELOS DE SOPHIA. PARECE NÃO QUERER SOLTÁ-LA.

SOPHIA                — Miguel, eu tenho que ir...

MIGUEL               — Você promete que sempre vai me amar?

SOPHIA                — Prometo. (MIGUEL NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS. SOPHIA O CONSOLA) Não chore, Miguel. Não vai demorar muito tempo pra gente se ver novamente.

MIGUEL               — Não é isso que eu sinto, Sophia.

SOPHIA                — Você está me deixando assustada.

MIGUEL               — Pode ir, Sophia, eu vou ficar bem.

SOPHIA                — Eu te amo, Miguel!

MIGUEL               — (CHORA) Eu também te amo, Sophia!

SOPHIA ENTRA NO AUTOMÓVEL E FICA OLHANDO PARA MIGUEL ATRAVÉS DA JANELA. LEONARDO ENTRA. LIGA O CARRO E PARTE. SOPHIA ABANA PARA MIGUEL QUE TAMBÉM ABANA. ACABA SENTINDO UM FORTE APERTO NO PEITO.
CORTA PARA:

2° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 14. STOCK-SHOT.

INSERIR LEGENDA: CURITIBA.

CENA 15. CARTÓRIO. ESCRITÓRIO. INT. DIA SEGUINTE.

LEONARDO E ÂNGELO ESTÃO SENTADOS CADA UM EM UMA POLTRONA. SEM QUE ÂNGELO PERCEBA, LEONARDO TROCA O TESTAMENTO LEGÍTIMO PELO OUTRO QUE ÂNGELO HAVIA FEITO HÁ ALGUM TEMPO ATRÁS E QUE NÃO VALIA DE NADA.

LEONARDO        — Seu Ângelo, o senhor tem que assinar alguns documento, são coisas exigidas por lei, já que seu patrimônio irá ser herdado pela sua neta e pelo Miguel.

ÂNGELO              — (CONCORDA) Está bem.

ÂNGELO ASSINA OS DOCUMENTOS. LEONARDO FICA OLHANDO PARA ÂNGELO. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. TENTA CONTER O ARREPENDIMENTO.
CORTA PARA:

CENA 16. STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LEGENDA: Alguns dias depois...

CENA 17. CONDOMÍNIO. FRENTE. EXT. DIA.

GABRIELA ESPERA UM TÁXI NA PORTA DO CONDOMÍNIO ONDE MORA. EM ALGUNS INSTANTES DEPOIS ELA AVISTA UM TÁXI, DÁ SINAL. O MOTORISTA PÁRA E GABRIELA ENTRA. NÃO PERCEBE QUE UM CARRO ALI PRÓXIMO A VIGIA. O TÁXI DA A PARTIDA E O CARRO O SEGUE.
CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 18. CORTIÇO. FRENTE. EXT. DIA.

O TÁXI ENCOSTA EM FRENTE AO VELHO CORTIÇO. GABRIELA TIRA UM DINHEIRO DA BOLSA E ENTREGA AO MOTORISTA, QUE OLHA PARA O DINHEIRO. CONTA E EM SEGUIDA FALA COM GABRIELA.

TAXISTA             — A senhora não tem trocado?

GABRIELA          — (SECA) Não, eu não tenho trocado. Vai dizer que você não tem troco pra me dar?

TAXISTA             — Tá difícil, hein!

GABRIELA          — Acontece que eu estou com pressa.

TAXISTA             — Eu não tenho trocado.

GABRIELA          — (IRRITADA) Quer saber, seu idiota? Fique com todo o dinheiro, porque eu não quero mais o trocado. Dá licença!

GABRIELA SALTA DO AUTOMÓVEL. BATE A PORTA COM RAIVA. ATRAVESSA A PISTA EM DIREÇÃO AO CORTIÇO. O TAXISTA FICA A OLHANDO.
CORTA PARA:

CENA 19. CORTIÇO. FRENTE. PORTÃO. EXT. DIA.

GABRIELA ESPERA. OLHA A HORA NO RELÓGIO. RAUL ABRE O PORTÃO. SORRI AO VER GABRIELA. ALI PRÓXIMO UMA PESSOA OS OBSERVA.

RAUL                    — E aí?

GABRIELA          — (IRRITADA) Vamos entrar.

RAUL                    — Já veio toda bravinha, é?

GABRIELA          — Raul, não me tire a paciência.

RAUL                    — Venha aqui, meu amor, eu quero um beijinho.

RAUL PEGA GABRIELA PELA CINTURA. A PESSOA FOTOGRAFA OS DOIS.

GABRIELA          — Raul, aqui fora não é o lugar... Eu não me sinto segura.

RAUL                    — O que tem, Gabriela? Vai ter alguém vigiando agora?

GABRIELA          — Nunca se sabe, Raul. Vamos entrar, vamos!

GABRIELA PEGA RAUL PEL MÃO E ENTRAM. A PESSOA OS SEGUE.
CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 20. CORTIÇO. CORREDORES. INT. DIA.

GABRIELA E RAUL ANDAM PELOS CORREDORES DO CORTIÇO AO BEIJOS E AGARRAMENTOS. O MOMENTO É QUENTE. A PESSOA OS SEGUE DISFARÇADAMENTE E OS FOTOGRAFAM. GABRIELA PARA UM TANTO INSEGURA.

GABRIELA          — Espera, Raul.

RAUL                    — O que foi?

GABRIELA          — Eu ouvi um barulho.

RAUL                    — Aqui nesse prédio todo mundo faz barulho. Barulhos, muitas vezes, estranhos.

RAUL COMEÇA A BEIJAR O PESCOÇO DE GABRIELA, QUE SE MOSTRA INSEGURA.

GABRIELA          — Não, Raul, eu estou com a impressão de que tinha alguém nos seguindo.

RAUL                    — (INSISTE) Deve ser algum morador do prédio.

GABRIELA NÃO SE DÁ POR SATISFEITA E RESOLVE VOLTAR ATRÁS. A PESSOA QUE ESTAVA SEGUINDO O CASAL, ENTRA POR UMA PORTA DE UM DOS VELHOS APARTAMENTOS. SE DEPARA COM UMA MULHER QUE PARECE ESTAR DOPADA.

RAUL                    — Viu, Gabriela? Não tem ninguém seguindo a gente. Vamos pro meu cafofo, vamos!

RAUL PUXA GABRIELA PELO BRAÇO. ELES SE VÃO. ESCONDIDA A PESSOA OS OBSERVA. CONGELA EM “RAUL E GABRIELA”.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 12

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