COM AMOR
Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES
Escrita com
Miguel Rodrigues
Direção
MIGUEL RODRIGUES
Direção de Núcleo
#DNA – DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
Personagens
deste capítulo
ÂNGELO
RAUL
GABRIELA
LEANDRO
SOPHIA
EVANDRO
CAROLINA
MIGUEL
Participação
especial
AMÉLIA
CECÍLIA
INÁCIO
VICENTE
DELEGADO RIBEIRO
POLICIAL
TIBÉRIO
VALQUÍRIA
BEATRIZ
MARCELO
CENA 01.
CAMPO BONITO. STOCK-SHOT. DIA.
SUCESSÃO
DE IMAGENS DE CAMPO BONITO MOSTRANDO AS BELEZAS DA CIDADE. ATENÇÃO SONOPLASTIA: INSERIR UMA MÚSICA LENTA ADEQUADA
PARA AQUELE ANO DE 1979. CAM. PERCORRE TODO O CAMPO, ONDE MOSTRAMOS O
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES, ATÉ CHEGARMOS À FACHADA DA CASA DE ÂNGELO.
ENTRAMOS NO CASARÃO.
CORTA PARA:
CENA 02.
FAZENDA DE ÂNGELO. CASARÃO. VARANDA. INT. DIA.
ÂNGELO
ESTÁ SENTADO EM UMA POLTRONA NA VARANDA. OBSERVA TODO O MOVIMENTO. ESTÁ UM
POUCO PENSATIVO. AMÉLIA APARECE EM SEGUIDA.
AMÉLIA —
Seu Ângelo, não vai tomar café?
ÂNGELO —
Não, Amélia.
AMÉLIA —
Desde ontem que o senhor não está comendo direito. O senhor não tem mais idade
pra ficar sem se alimentar por muito tempo.
ÂNGELO —
Eu não estou com fome.
AMÉLIA —
Não quer um pedaço de bolo? Um pedaço bem pequeno, eu posso cortar para o
senhor.
ÂNGELO —
Não, Amélia.
AMÉLIA —
Desse jeito, eu fico preocupada.
ÂNGELO —
Amélia, por que se preocupar com um velho que já está quase no final de sua
vida?
AMÉLIA —
Vire essa boca pra lá, Seu Ângelo! Quero dizer, me desculpe... O senhor ainda
tem muita vida pela frente, precisa comer para se manter forte.
ÂNGELO —
Eu já não sou mais forte, Amélia. O meu filho morreu e uma parte de mim também
se foi junto.
AMÉLIA —
Seu Ângelo, esses dias eu fui à cidade e uma amiga quis me levar em um centro
espírita. Lá, eles falaram algumas coisas sobre vida após a morte,
reencarnação... Coisas desse tipo. Eu não acredito muito, pra mim é uma
novidade.
ÂNGELO —
Eu já ouvi falar nessas asneiras, Amélia.
AMÉLIA —
E se quando a gente morre, a gente vai viver em outros planos mesmo? Eu acho
que é essa a palavra que eles falaram lá.
ÂNGELO —
Eu não sei de nada, Amélia, só sei que quero morrer e descansar em paz.
ÂNGELO
VOLTA A PENSAR E A OBSERVAR O MOVIMENTO DO CAMPO. AMÉLIA SENTE UM CALAFRIO, FAZ
O SINAL DA CRUZ E EM SEGUIDA RETIRA-SE.
CORTA PARA:
CENA 03.
STOCK-SHOT.
INSERIR
LEGENDA: CURITIBA.
CENA 04.
CORTIÇO. AP DE RAUL. QUARTO. INT. DIA.
GABRIELA
VIRA-SE PARA O LADO. RAUL ABRAÇA GABRIELA POR TRÁS.
RAUL —
(BEIJA O PESCOÇO DE GABRIELA) Quando vamos poder dormir e acordar juntos? (RAUL
CONTINUA BEIJANDO O PESCOÇO DE GABRIELA. GABRIELA DÁ UMA RISADA) Qual é o
motivo da risada, Gabriela?
GABRIELA
SENTA-SE NA CAMA. FICA OLHANDO PARA RAUL.
GABRIELA — Antes de abrir essa boca pra falar merda, fique quieto!
RAUL —
Mas eu não falei nada de mais... Eu apenas te fiz uma pergunta fundamental.
GABRIELA — Uma pergunta fundamental? Você é doido, Raul... Esse é o
problema.
RAUL —
Você não quer levar nossa relação a sério? Vocês mulheres, mudando cada vez
mais. Tenho até medo do que vocês possam ser capazes de fazer daqui há mais
alguns anos.
GABRIELA — Raul, você não é homem de levar uma mulher a sério. E
mesmo se fosse, eu não iria assumir relação nenhuma com você, porque eu não
louca.
RAUL —
Qual é o meu problema, Gabriela?~
GABRIELA — Você não tem nenhum problema, porque você é o próprio problema.
GABRIELA
LEVANTA-SE. COLOCA A ROUPA. RAUL FICA A OLHANDO. DESVIA O OLHAR E FIXA NA
JANELA. GABRIELA OLHA PARA RAUL E ACHA ESTRANHO A REAÇÃO DELE.
GABRIELA — O que houve, Raul?
RAUL
LEVANTA-SE. PUXA GABRIELA PELO BRAÇO.
RAUL —
(SUSSURRA) Olhe pra janela.
GABRIELA
OLHA PRA JANELA. VÊ QUE TEM ALGUÉM.
GABRIELA — (SUSSURRA) O que nós vamos fazer?
RAUL —
Fique aqui. Não se mexa.
RAUL
DIRIGE-SE ATÉ A PORTA. GIRA A MAÇANETA LENTAMENTE. AO ABRIR A PORTA, AGE DE
FORMA RÁPIDA E CONSEGUE PEGAR O HOMEM ANTES QUE ELE CONSIGA ESCAPAR.
RAUL —
(OFF) Agora você vai vir comigo, seu safado!
RAUL
JOGA O HOMEM PARA DENTRO DO APARTAMENTO. ENTRA E FECHA A PORTA. GABRIELA FICA
SURPRESA AO VER QUE O HOMEM TRATA-SE DE LEONARDO.
GABRIELA — (SURPRESA) Leonardo.
RAUL —
Bem que você tinha razão, Gabriela, tinha alguém seguindo a gente naquela hora.
LEONARDO — (DÁ UM SORRISO IRÔNICO) Está surpresa, Gabriela?
GABRIELA — (O OLHA SERIAMENTE) Você estava nos seguindo, não é?
LEONARDO — Eu tinha um propósito e já consegui o que eu queria.
RAUL —
(IMPACIENTE) Do que esse idiota está falando, Gabriela?
GABRIELA — Como eu vou saber, Raul?
LEONARDO — Eu já consegui a prova pra acabar com você, Gabriela.
GABRIELA — Você não pode fazer nada contra mim.
LEONARDO — É aí que você se engana. Eu já consegui a prova pra tirar a
Sophia de você. Ela não irá mais sofrer em suas mãos.
GABRIELA
FICA OLHANDO LEONARDO POR ALGUNS INSTANTES. OLHA PARA RAUL E ORDENA.
GABRIELA — Raul, reviste esse palhaço!
RAUL
TENTA PEGAR A BOLSA DE LEONARDO, MAS É IMPEDIDO.
RAUL —
Você vai me dar essa bolsa, nem que para isso eu precise te dar uns bons
sopapos.
LEONARDO — É isso que nós veremos.
RAUL
PERDE A PACIÊNCIA. DÁ UM SOCO EM LEONARDO QUE CAI NO CHÃO.
GABRIELA — (GRITA) Tire a bolsa dele.
LEONARDO
LEVANTA-SE. DEVOLVE A AGRESSÃO. DÁ UM SOCO EM RAUL E O EMPURRA CONTRA O CHÃO.
LEONARDO ABRE A PORTA E SAI CORRENDO.
GABRIELA — (GRITA) Se levante e vá atrás dele!
RAUL —
Ele me deu um soco muito forte.
GABRIELA — Seu frouxo!
GABRIELA
SAI CORRENDO DO APARTAMENTO. RAUL VAI ATRÁS DELA.
CORTA PARA:
CENA 05.
CORTIÇO. RUA. EXT. DIA.
LEONARDO
ENTRA EM SEU CARRO. LIGA O MOTOR E ACELERA. PEGA A DIREÇÃO CONTRÁRIA.
FUSÃO PARA:
CENA 06.
CORTIÇO. RUA. OUTRO LADO. EXT. DIA.
RAUL
ABRE A PORTA DO CARRO. GABRIELA ENTRA RAPIDAMENTE.
GABRIELA — Vamos atrás dele de um vez.
RAUL
LIGA O MOTOR E ACELERA.
RAUL —
Por que você está desesperada desse jeito?
GABRIELA — Porque ele pode ter tirado fotos de nós dois juntos.
RAUL —
E que problema tem nisso?
GABRIELA — Se ele entregar essas fotos a um juiz, uma audiência será
marcada e eu vou acabar perdendo a guarda de minha filha.
RAUL —
Muito que você se importa com aquela garota.
GABRIELA — Se esqueceu que ela herdou a fazenda do avô?
RAUL —
O velho nem morreu ainda, Gabriela.
GABRIELA — Mas irá morrer... E quando isso acontecer, eu vou vender
aquela fazenda.
GABRIELA
OLHA PARA FRENTE. RAUL CONTINUA SEGUINDO LEONARDO.
FUSÃO PARA:
CENA 07.
ESTRADA. CARRO DE LEONARDO. EXT. DIA.
LEONARDO
OLHA PARA TRÁS. VÊ QUE ESTÁ SENDO SEGUIDO. ELE DOBRA E ENTRA EM UMA ESTRADA
EMPOEIRADA DE BARRO.
FUSÃO PARA:
CENA 08.
ESTRADA. CARRO DE RAUL. EXT. DIA.
RAUL
SEGUE LEONARDO. GABRIELA ESTÁ IMPACIENTE.
GABRIELA — (GRITA) Acelera essa merda, pomba!
RAUL —
(GRITA) O meu carro não vai mais rápido que isso.
GABRIELA — (GRITA REVOLTADA) É uma lata velha mesmo.
GABRIELA
BUFA DE ÓDIO. RAUL CONTINUA SEGUINDO LEONARDO.
CORTA PARA:
1º INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 09. ESTRADA. MATAGAL.
EXT. DIA.
LEONARDO
OLHA PARA TRÁS NOVAMENTE. DISTRAÍDO INVADE UM MATAGAL PRÓXIMO E ACABA BATENDO O
CARRO EM UMA ÁRVORE. BATE A CABEÇA NO VOLANTE. LEONARDO TOCA A CABEÇA E SEUS
DEDOS FICAM MANCHADO DE SANGUE, DEVIDO AO PEQUENO FERIMENTO QUE SE FORMOU COM O
CHOQUE DA BATIDA. LEONARDO SAI DO AUTOMÓVEL E CORRE PELO MATAGAL COM UM POUCO
DE DIFICULDADE. GABRIELA E RAUL DESCEM DO CARRO VELHO E CORREM ATRÁS DE
LEONARDO.
GABRIELA — (ORDENA) Tire aquela bolsa dele.
RAUL
CORRE E PEGA LEONARDO PELO PESCOÇO.
LEONARDO — Me solte, seu desgraçado!
RAUL —
Me dê a bolsa agora.
LEONARDO — Eu não vou deixar aquela vadia da sua amante escapar dessa.
RAUL —
Você já está ferido, eu não quero partir pra agressão novamente.
LEONARDO — (GRITA) Então venha!
LEONARDO
DÁ UM SOCO EM RAUL. RAUL SE LEVANTA, PEGA LEONARDO PELOS OMBROS E LHE DÁ GOLPES
NA BARRIGA COM O JOELHO. LEONARDO CAI NO CHÃO APÓS OS GOLPES. GABRIELA SE
APROXIMA AOS POUCOS. RAUL TENTA NOVAMENTE PEGAR A BOLSA, MAS ACABA LEVANDO UMA
RASTEIRA NAS PERNAS E CAI NO CHÃO. LEONARDO SE LEVANTA, PEGA O HOMEM E LHE DÁ
UMA SOCO.
LEONARDO — Desgraçado!
RAUL
PEGA UMA PEDRA. LEVANTA-SE E BATE NA CABEÇA DE LEONARDO. LEONARDO CAI DESMAIADO
NO CHÃO. GABRIELA FICA BOQUIABERTA.
GABRIELA — O que você fez, Raul?
RAUL —
Eu apenas me defendi.
GABRIELA — Raul, veja se ele... Veja se ele está vivo.
RAUL
ABAIXA-SE. TOCA O PULSO DE LEONARDO. COLOCA SUA CABEÇA NO PEITO DE LEONARDO.
GABRIELA — E então, Raul, ele ainda está vivo?
RAUL
PARECE TER LEVADO UM CHOQUE. LEVANTA-SE APAVORADO.
GABRIELA — Raul, você está me deixando assustada. Diga que ele ainda
está vivo.
RAUL —
Gabriela, ele está morto.
GABRIELA — Não... Isso não é verdade.
RAUL —
Ele está morto, Gabriela, ele está morto.
GABRIELA
PASSA AS MÃOS PELOS CABELOS. NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS PELO SEU NERVOSISMO. COMEÇA
A AGREDIR O AMANTE.
GABRIELA — Seu desgraçado, veja o que fez! Você matou o Leonardo!
RAUL
PEGA GABRIELA PELO BRAÇO. COMEÇA A SACUDI-LA.
RAUL —
Pare de gritar, sua histérica!
GABRIELA — Você quer que eu faça o quê?
RAUL —
Nós já não podemos fazer mais nada, Gabriela, ele está morto.
GABRIELA — (RESPIRA OFEGANTE) As coisas não podiam ter chegado a
esse ponto.
RAUL —
Não, não podiam, mas acabaram chegando. A culpa é sua, Gabriela.
GABRIELA — A culpa é minha? Foi você quem matou ele, Raul.
RAUL —
(GRITA IRRITADO) Você é quem teve a ideia maluca de vir atrás dele como se ele
tivesse indo entregar um crime seu à polícia.
GABRIELA — Você é um assassino. Assassino!
RAUL —
E você é a minha cúmplice.
GABRIELA — Eu não tenho nada a ver com isso. Você é um assassino.
Você tirou a vida dele.
RAUL —
(PEGA VIOLENTAMENTE GABRIELA PELO BRAÇO) Eu não vou me ferrar sozinho, está
entendendo, Gabriela?
GABRIELA — Se alguém tiver que pagar algum crime, esse alguém é
você.
RAUL —
(DÁ UMA RISADA IRÔNICA) Você está totalmente doida, Gabriela. Eu não vou pagar
crime nenhum. Nós vamos nos desfazer do corpo.
GABRIELA — Ocultação de cadáver também é crime, seu idiota!
RAUL —
Não me interessa, Gabriela, nós vamos nos desfazer do corpo e está acabado.
GABRIELA
E RAUL SE OLHAM. VEMOS O CORPO DE LEONARDO ALI CAÍDO PRÓXIMO A ELES.
CORTA PARA:
CENA 10.
ESCOLA. SALA DE AULA. INT. DIA.
SOPHIA
ASSISTE AULA. AO SEU LADO ESTÁ SENTADA, CECÍLIA. SOPHIA SENTE UM CALAFRIO
PERCORRER SEU CORPO. CECÍLIA PERCEBE E A OLHA.
CECÍLIA — Está bem, Sophia?
SOPHIA —
Estou com uma sensação estranha. De repente, me deu uma saudade do Leonardo.
CECÍLIA — Quem é o Leonardo?
SOPHIA —
O meu amigo. Ele era amigo de meu pai também. Eu gosto tanto dele.
SOPHIA
VOLTA A ASSISTIR AULA. CECÍLIA FICA A OLHANDO E DEPOIS VOLTA A ASSISTIR AULA
TAMBÉM.
CORTA PARA:
CENA 11.
STOCK-SHOT.
ANOITECE.
CENA 12. AP
DOS MEIRELLES. SALA/CORREDOR DOS QUARTOS. INT. NOITE.
GABRIELA
CHEGA EM CASA. FECHA A PORTA E COMEÇA A RESPIRAR OFEGANTE. COLOCA A MÃO CONTRA
O PEITO E A CENA DE LEONARDO MORTO VEM À SUA MENTE EM FLASHES RÁPIDOS. GABRIELA
DIRIGE-SE AO QUARTO DE SOPHIA E BATE NA PORTA.
GABRIELA — Sophia. (A MENINA NÃO RESPONDE) Sophia, abra a porta! Eu
preciso falar com você, filha. (A MENINA CONTINUA SEM RESPONDER. GABRIELA
INSISTE) Sophia, abra a porta! Aconteceu algo muito grave. (MENTE) É com o seu
avô.
SOPHIA
ABRE A PORTA RAPIDAMENTE.
SOPHIA —
O que aconteceu com o meu avô?
GABRIELA — Não aconteceu nada.
SOPHIA —
E por que você mentiu então?
GABRIELA — (GRITA) Pra que você abrisse a droga dessa porta.
SOPHIA —
Eu não quero falar com você, eu prefiro ficar trancada no quarto.
GABRIELA — Só que eu preciso conversar com você... Será que é pedir
muito?
SOPHIA —
Só que eu não quero falar com você.
GABRIELA
PEGA SOPHIA PELO BRAÇO. A LEVA ATÉ SALA.
INT. DIA. SOPHIA GRITA.
SOPHIA — (GRITA) Me solte! Você está me machucando.
GABRIELA — Sophia, o Leonardo está morto.
SOPHIA
FICA SEM REAÇÃO POR ALGUNS SEGUNDOS. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
SOPHIA —
Por que você está me falando isso? Por que você brinca com a vida das pessoas?
GABRIELA — Eu não estou brincando com a vida de ninguém, garota...
Eu estou falando sério.
SOPHIA —
Você está querendo me assustar... Você é doente!
GABRIELA — Não, Sophia, eu posso te assustar de várias formas... Mas
dessa vez não... O Leonardo está morto.
SOPHIA —
Isso é mentira!
GABRIELA — O corpo dele foi encontrado.
SOPHIA —
(TAPA OS OUVIDOS) Eu não quero mais ouvir as suas mentiras.
GABRIELA — (TIRA AS MÃOS DE SOPHIA DOS OUVIDOS. GRITA) Você tem que
me ouvir, garota!
SOPHIA —
Eu não acredito em você.
GABRIELA — Então você vai acreditar quando nós duas estivermos no
sepultamento. (SOPHIA ACABA NÃO CONTENDO AS LÁGRIMAS. GABRIELA CONTINUA) Agora
você acredita em mim, Sophia?
SOPHIA —
(CHORA) O Leonardo não pode ter morrido. Não!
SOPHIA
SAI CORRENDO. (OBS.: NESTE
MOMENTO FAZEMOS UMA MESCLA DE SOPHIA NO QUARTO E GABRIELA NA SALA). SOPHIA
TRANCA A PORTA DO QUARTO. SE ATIRA NA CAMA E COMEÇA A CHORAR DESESPERADAMENTE.
SOPHIA —
(GRITA) Não!
CORTAMOS
IMEDIATAMENTE PARA A SALA ONDE VEMOS GABRIELA PSICOTICA. TAPA OS OUVIDOS PARA
NÃO OUVIR OS GRITOS DE SOPHIA. SENTA-SE NO SOFÁ MEIO QUE PARALISADA. COLOCA UMA
ALMOFADA. COBRE A CABEÇA. DEITA-SE.
CORTA PARA:
2° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 13. STOCK-SHOT.
AMANHECE.
CENA 14. MATAGAL. EXT. DIA SEGUINTE.
DOIS
HOMENS CORTAM ALGUNS GALHOS NO MATO QUANDO UM DELES ACABA DERRUBANDO UMA
CORRENTE E ACABA SE DEPARANDO COM UMA MÃO.
INÁCIO —
Jesus, Maria, José!
VICENTE — O que houve, Inácio?
INÁCIO —
(GRITA) Olhe aquilo ali, Vicente!
OS
DOIS HOMENS OLHAM. VÊEM O CORPO DE LEONARDO. OS HOMENS GRITAM DESESPERADOS.
SAEM CORRENDO. BLACK-OUT.
DEPOIS DE ALGUMAS HORAS, UMA EQUIPE POLICAL APARECE NO LOCAL. O DELEGADO
RIBEIRO SE APROXIMA DE UM DOS POLICIAIS.
RIBEIRO — Eu conheço o morto... É o advogado Leonardo
Nogueira. Ligue para a viúva.
POLICIAL — Que ainda não sabe que é viúva.
RIBEIRO — (CONCORDA) É mesmo.
O
DELEGADO ANOTA O NÚMERO DO APARTAMENTO DE LEONARDO E ENTREGA AO POLICIAL QUE
COLOCA O PAPEL DENTRO DO BOLSO. O POLICIAL ENTRA EM UMA DAS VIATURAS E SAI PELA
ESTRADA.
FUSÃO PARA:
CENA 15.
ESTRADA. BAR. EXT. DIA.
O
POLICIAL VÊ UM BAR PRÓXIMO E ENCOSTA A VIATURA NO LOCAL. DESCE DO CARRO. E
ENTRA.
FUSÃO PARA:
CENA 16.
BAR. INT. DIA.
TIBÉRIO,
O DONO DO BAR AO VER O POLICIAL ENTRANDO, FICA NERVOSO, MAS DISFARÇA.
TIBÉRIO — Bom dia, senhor policial?
POLICIAL — Bom dia.
TIBÉRIO — O que o senhor deseja?
POLICIAL — Preciso usar o telefone do senhor por alguns minutos, é
algo urgente.
TIBÉRIO — Fique à vontade, senhor policial... O senhor quer
mais alguma coisa, uma água, uma cerveja, uma soda?
POLICIAL — Uma soda, por favor.
TIBÉRIO — Como quiser, senhor policial.
O
POLICIAL TIRA O PAPEL COM O NÚMERO DO TELEFONE DO APARTAMENTO DE LEONARDO. PEGA
O TELEFONE E DISCA. TIBÉRIO PEGA UMA SODA, PÕE NUM COPO E O COLOCA EM CIMA DA
MESA.
FUSÃO PARA:
CENA 17. AP
DOS NOGUEIRA. SALA. INT. DIA.
BEATRIZ
COLOCA O TELEFONE NO GANCHO. NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS APÓS RECEBER A NOTÍCIA DE
QUE LEONARDO ESTÁ MORTO. ELA PEGA UM PORTA-RETRATO COM UMA FOTO DELES DOIS,
DESABA NO SOFÁ E SE PÕE A CHORAR.
CORTA PARA:
CENA 18.
STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.
SUCESSÃO
DE IMAGENS INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO.
INSERIR
LEGENDA: DOIS DIAS DEPOIS...
CENA 19. AP
DOS MEIRELLES. INT. DIA.
SOPHIA
PEGA A FOTO DE MARCELO E A COLOCA CONTRA O PEITO. GABRIELA APARECE E FICA
OLHANDO PARA A MENINA.
GABRIELA — Nós não podemos demorar, Sophia, o velório começa daqui a
pouco.
SOPHIA —
Eu não sei se vou agüentar ver o Leonardo em um caixão.
GABRIELA — Que apreço é esse que você tinha por ele, hein, garota?
SOPHIA —
Ele era meu amigo.
GABRIELA — Não, ele queria tirar você de mim.
SOPHIA —
Ele apenas queria me ajudar a me livrar de você.
GABRIELA — Se livrar de mim? Eu sou sua mãe, Sophia.
SOPHIA —
Você não é minha mãe, eu não tenho mãe.
GABRIELA — Você pode negar qualquer um, menos eu... Eu sou sua mãe,
quer você queira ou quer não.
SOPHIA —
(A OLHA COM RAIVA) Eu odeio você!
GABRIELA — (REVOLTADA) Nada mudará o fato de que eu te coloquei no
mundo, nada mudará o fato de que eu esperei você por nove meses, nada mudará o
fato de que eu sou a sua mãe.
SOPHIA —
Mãe não é a que cria, é a que dá amor. E você nunca teve amor por mim... Só o
meu pai me amou de verdade, mas ele acabou morrendo. O Leonardo estava sendo
como um segundo pai para mim, mas ele também está morto agora... Só me resta o
meu avô e o Miguel, mas eles estão longe. (SOPHIA NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS) Por
que eu tenho que perder tudo que amo? Por quê?
GABRIELA — Se prepare para mais perdas, garota! O seu avô já está
velho e não vai viver por muito tempo. E aquele moleque, o teu amiguinho
imundo, você não irá mais vê-lo. Acabou o sonho, Sophia, você está apenas
acordando para a realidade.
SOPHIA —
Eu prefiro te ver morta.
GABRIELA — Se eu morrer, você vai parar em um internato, e vai ficar
lá até completar seus vinte e um anos de idade. Mas quando você sair, já estará
louca e já terá perdido um bom tempo de sua vida... Aliás, você não vai nem ter
vontade de viver... É capaz até mesmo de acabar se suicidando.
SOPHIA —
Você irá pagar muito caro.
SOPHIA
SE RETIRA CORRENDO. GABRIELA COM EXPRESSÃO FRIA, OLHA A SUA VOLTA E SAI.
CORTA PARA:
3° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 20.
STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.
INSERIR
LEGENDA:
ALGUNS DIAS DEPOIS...
CENA 21. AP
DOS NOGUEIRA. SALA. INT. DIA.
A
CAMPAINHA TOCA. VALQUÍRIA, A EMPREGADA DE BEATRIZ CAMINHA ATÉ A PORTA. ABRE.
VALQUÍRIA — O que a senhora deseja?
GABRIELA — (MENTE) Eu sou amiga da Beatriz.
VALQUÍRIA — Pode entrar.
GABRIELA — (DÁ UM LEVE SORRISO) Obrigada!
BEATRIZ
APARECE NA SALA PARA VER QUEM ESTÁ NA SALA. FICA SURPRESA AO VER GABRIELA.
BEATRIZ — Gabriela?
GABRIELA — Vim ver como você está, minha amiga.
BEATRIZ — Nós nunca fomos amigas, Gabriela, você nunca fez
questão de me procurar.
GABRIELA — Os tempos são outros, Beatriz.
BEATRIZ — Os tempos são outros e é por isso que eu faço questão
que você vá embora, Gabriela.
GABRIELA — Eu não vou embora sem lhe dar uma coisa.
GABRIELA
TIRA O ENVELOPE ESVERDEADO DA BOLSA E ENTREGA PARA BEATRIZ.
BEATRIZ — O que é isso, Gabriela?
GABRIELA — Abra!
BEATRIZ
ABRE O ENVELOPE E DESDOBRA O PAPEL QUE ESTÁ DENTRO.
GABRIELA — Nós temos uma coisa em comum, Beatriz: nossos maridos
eram grandes amigos, agora somos duas grandes viúvas. (DÁ UM SORRISO IRÔNICO) A
vida é muito irônica, não acha?
BEATRIZ — (ESPANTADA) O que é isso?
GABRIELA — Já acabou de ler, meu bem? Esse é o exame de
infertilidade de seu marido. Ele te enganou, não é, Beatriz? Ele falsificou um
exame e fez você acreditar que você fosse estéril. Ele fez você carregar essa
culpa durante todos esses anos. Daí eu fico imaginando: que marido é esse, que
seria capaz de enganar a própria esposa dessa forma?
BEATRIZ — (CHORANDO) Onde você encontrou esse exame?
GABRIELA — Estavam nas coisas do Marcelo. Ele acobertou a sacanagem
do teu marido.
BEATRIZ — (GRITA REVOLTADA) Vá embora! Saia daqui!
GABRIELA — Você não está bem, Beatriz, eu posso ficar aqui pra te
consolar, amiga.
BEATRIZ — Vá embora!
VALQUÍRIA
PEGA GABRIELA PELO BRAÇO. ABRE A PORTA.
GABRIELA — Beatriz, eu sinto muito!
BEATRIZ — (GRITA) Vá embora daqui, infeliz!
GABRIELA
DÁ UMA GARGALHADA.
GABRIELA — Agora eu entendo porque o Leonardo não largava da minha
filha.
VALQUÍRIA — Vá embora, por favor!
GABRIELA
VAI EMBORA DANDO RISADA. BEATRIZ CONTINUA CHORANDO.
VALQUÍRIA — A senhora quer alguma coisa, Dona Beatriz?
BEATRIZ — Eu só quero ficar sozinha. Me deixe sozinha.
VALQUÍRIA
RETIRA-SE. BEATRIZ DEITA-SE NO SOFÁ. CHORA DESESPERADAMENTE.
CORTA PARA:
CENA 22.
CAMPO BONITO. FAZENDA DE ÂNGELO. QUARTO DELE. INT. NOITE.
VEMOS
ÂNGELO DEITADO EM SUA CAMA AGARRADO A UMA FOTO DE MARCELO. ESTÁ COM UMA
EXPRESSÃO SERENA. SONHA.
SONHO DE ÂNGELO
ÂNGELO CHEGA NA VARANDA E PERCEBE QUE
TUDO ESTÁ MAIS ILUMINADO. OLHA PARA O LADO E VÊ O JARDIM MAIS FLORIDO. ELE OLHA
PRA FRENTE E ESTRANHA O CAMINHO DE BARRO À FRENTE DO CASARÃO. AQUELE CAMINHO
NÃO EXISTIA ANTES. ELE ESCUTA UMA VOZ CONHECIDA.
MARCELO — Pai.
ÂNGELO OLHA PARA OS LADOS, POIS
RECONHECEU AQUELA VOZ.
ÂNGELO — Filho...
MARCELO — Pai, eu estou aqui.
ÂNGELO VIRA-SE E SE EMOCIONA AO VER
MARCELO. MARCELO ESTÁ ACOMPANHADO POR UMA LUZ.
ÂNGELO — Marcelo, meu filho...
MARCELO — Pai, eu vim te buscar.
ÂNGELO — Me buscar?
MARCELO — Nós temos que ir... Eles estão nos
esperando.
ÂNGELO — Eu não posso ir com você, meu
filho, a Sophia precisa de mim.
MARCELO — A Sophia é forte... Venha, pai!
MARCELO ESTENDE SUA MÃO. ÂNGELO RESISTE
UM POUCO. OLHA PARA TRÁS E OLHA NOVAMENTE PARA O FILHO QUE CONTINUA COM A MÃO
ESTENDIDA. ÂNGELO SEGURA A MÃO DE MARCELO, QUE DÁ UM LINDO SORRISO AO SEGURAR A
MÃO DE ÂNGELO.
ÂNGELO
APERTA A FOTO DO FILHO CONTRA O PEITO. ABRE OS OLHOS PELA ÚLTIMA VEZ E ACABA
FALECENDO EM CIMA DA CAMA.
CORTA PARA:
CENA 23.
STOCK-SHOT.
AMANHECE.
CENA 24.
FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. SALA. INT. DIA.
AMÉLIA
CHORA. CAROLINA A ABRAÇA FORTEMENTE. EVANDRO APARECE. PASSA AS MÃOS PELOS
CABELOS.
EVANDRO — Como isso aconteceu, Amélia?
AMÉLIA —
Eu estranhei porque ele nunca acorda tarde. Eu fui até o quarto, sacudi ele um
pouco, ele não acordava e aí... Ele estava morto.
CAROLINA — O Miguel vai ficar arrasado.
EVANDRO — Eu nem sei como vou dar essa notícia pra ele.
NESSE
MOMENTO, MIGUEL APARECE. OLHA PARA OS TRÊS.
CAROLINA — (ABAIXA-SE) Meu filho...
MIGUEL —
Mãe, o que aconteceu com o Seu Ângelo?
CAROLINA — Filho, o Seu Ângelo... Ele... Ele já não está mais entre
nós.
MIGUEL —
(NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS) Não, mãe...
CAROLINA — Meu filho...
MIGUEL
E CAROLINA SE ABRAÇAM. FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES.
CORTA PARA:
CENA 25.
STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.
INSERIR
LEGENDA: UMA SEMANA DEPOIS...
CENA 26.
FAZENDA DE ÂNGELO. SALA. INT. DIA.
GABRIELA
CHEGA À FAZENDA ACOMPANHADA POR RAUL. AMÉLIA FICA SURPRESA AO VÊ-LA.
AMÉLIA —
Dona Gabriela!
GABRIELA — (JOGA A BOLSA NO SOFÁ) Vim tomar conta do que é meu.
EVANDRO
ENTRA NO CASARÃO E OLHA SERIAMENTE PARA GABRIELA.
EVANDRO — (REVOLTADO) Que história é essa?
GABRIELA — Aquele velho deixou essa fazenda pra mim.
EVANDRO — O Seu Ângelo jamais deixaria essa fazenda pra você.
GABRIELA — (DÁ UMA RISADA IRÔNICA) Ele deixaria pra você então?
RAUL
TAMBÉM DÁ UMA RISADA IRÔNICA.
AMÉLIA —
(PREOCUPADA) Pra onde eu e meu marido vamos?
GABRIELA — Por mim, vocês iriam para o quinto dos infernos.
(CAROLINA APARECE. GABRIELA OLHA PARA ELA DE CIMA A BAIXO) Pronto! Apareceu a
outra criada.
CAROLINA — Vamos embora, Amélia... Lá em casa tem lugar pra você e
seu marido.
GABRIELA — Isso mesmo. Vão todos embora. Essa fazenda é minha agora.
EVANDRO — Você está querendo se apossar de algo que não é seu, sua
cobra peçonhenta!
GABRIELA — Eu não lhe devo satisfação nenhuma, seu imundo, mas se
você quiser, eu posso te mostrar o documento que prova que essa fazenda e essas
terras são minhas. Eu estou assumindo o patrimônio da minha filha. Agora eu
quero que vocês saiam daqui e nunca mais pisem esses pés imundos aqui.
CAROLINA — (OLHA PARA GABRIELA) Vamos embora, Evandro!
EVANDRO,
CAROLINA E AMÉLIA VÃO EMBORA. RAUL OLHA PARA GABRIELA.
RAUL —
O que você vai fazer com essa fazenda e com essas terras?
GABRIELA — Um fazendeiro inglês, que investe em tecnologia agrícola,
está interessado nessas terras. Ele acha que pode salvar essas terras com esse
novo método de plantio. (SORRI) Eu vou ganhar um bom dinheiro com a venda de
tudo isso aqui.
RAUL —
(SORRI) Nós acabamos nos dando muito bem.
GABRIELA — E assim está mais do que ótimo.
RAUL
E GABRIELA SE ABRAÇAM E EM SEGUIDA SE BEIJAM. CONGELA EM “GABRIELA E RAUL”.
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO
13
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