COM AMOR
Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES
Escrita com
Miguel Rodrigues
Direção
MIGUEL RODRIGUES
Direção de Núcleo
#DNA – DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
Personagens
deste capítulo
MIGUEL
CAROLINA
EVANDRO
PAULO
SOPHIA
GABRIELA
RAUL
Participação
especial
AMÉLIA
ELVIRA
LISA
MISTER SMITH
CECÍLIA
POLICIAL
CENA 01.
CASA DE ELVIRA. SALETA. INT. DIA.
AMÉLIA
CHORA ENQUANTO É CONSOLADA POR CAROLINA. MIGUEL ENTRA EM CASA E VÊ AMÉLIA AOS PRANTOS.
MIGUEL —
Mãe, a Sophia veio junto?
CAROLINA — Não, meu filho, a Sophia não veio junto.
CAROLINA
ALCANÇA UM COPO COM ÁGUA PARA AMÉLIA. EVANDRO INTERFERE.
EVANDRO — E mesmo se tivesse vindo, eu não ia deixar você ir lá.
Aquela mulher agora manda em tudo naquela fazenda, Miguel. Eu não quero mais
que você volte lá.
MIGUEL —
(DESESPERADO) Eu preciso saber como a Sophia está.
EVANDRO — (GRITA REVOLTADO) Entenda, Miguel, que essa amizade sem
cabimento acabou a partir de hoje.
MIGUEL —
(NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS) O Leonardo tem que fazer alguma coisa. Ele tem que
salvar a Sophia.
AMÉLIA —
(INTERFERE) O Doutor Leonardo morreu já faz algum tempo.
MIGUEL —
(ESPANTADO) O Leonardo morreu?
AMÉLIA —
Quando Seu Ângelo soube da notícia, ele quase teve um infarto.
MIGUEL —
(CHORANDO DESESPERADAMENTE) Se o Leonardo morreu, a Sophia... A Sophia não pode
ficar nas mãos da Dona Gabriela. Ela não pode continuar sofrendo.
EVANDRO
PERDE A PACIÊNCIA E COMEÇA A SACUDIR MIGUEL.
EVANDRO — (GRITA) Chega!
CAROLINA — (INTERFERE) Evandro, por favor...
EVANDRO — (OLHA SERIAMENTE PARA MIGUEL) Olha aqui, Miguel, eu não
quero mais te ouvir se lamentando ou falando dessa menina. Você entendeu? Eu
não quero mais saber desse nome saindo de sua boca na minha frente. Esqueça que
essa garota existe! Da próxima vez que eu te ouvir falando nela, eu vou pegar a
minha cinta e você irá aprender a não ficar se lamentando a toa.
ELVIRA —
(INTERFERE) As coisas não são assim, Evandro.
EVANDRO — Não se intrometa, tia... Eu sei o que é bom pro meu
filho.
CAROLINA — (GRITA) O Miguel também é meu filho e eu não vou admitir
que você bata nele por um motivo desses. Ele gosta da Sophia e você não pode proibir
o menino de preocupar com ela, de falar nela.
EVANDRO — Se você continuar apoiando o Miguel, ajudando ele a
enfiar essas coisas na cabeça, eu me separo de você, Carolina!
CAROLINA — E você acha que eu vou deixar de apoiar o meu filho por
medo de que você se separe de mim, Evandro? Faça isso! Eu prefiro ficar ao lado
do meu filho. Ele é mais importante.
EVANDRO — Já que você pensa assim, Carolina, vá embora com o
Miguel!
ELVIRA —
(REVOLTADA) Você está louco, Evandro? Se esqueceu que essa casa é minha? Se
alguém tiver que ir embora, esse alguém é você, não a Carolina e o Miguel.
EVANDRO
RETIRA-SE. BATE A PORTA. CAROLINA OLHA PARA AMÉLIA. LHE DÁ ATENÇÃO.
CAROLINA — Me desculpe, Amélia, você deve estar sem saber o que
fazer de sua vida e não lhe demos atenção. Desculpe por essa briga.
AMÉLIA —
Não precisa se desculpar, minha amiga.
CAROLINA — E o Getúlio?
AMÉLIA —
Viajou para Lageado. O pai dele está doente.
CAROLINA — (INCONFORMADA) O que eu não consigo entender é como o Seu
Ângelo deixou a fazenda para aquela cobra peçonhenta da Dona Gabriela. Ele
jamais gostou dela.
AMÉLIA —
A menina tem direito àquela fazenda. Ela é a herdeira. Eu me lembro que o
Doutor Leonardo estava cuidando disso para o Seu Ângelo. Uma vez, eles estavam
jantando e falando sobre isso. Eu não entendo direito dessas coisas, mas era
isso mesmo.
CAROLINA — Mas, então, a Sophia tinha que cuidar de tudo.
AMÉLIA —
Carolina, a Sophia é apenas uma criança.
CAROLINA — Quando crescesse, então. Eu não entendo a Dona Gabriela
tomar conta de tudo. Se nós ainda estivéssemos lá, também teríamos sido
expulsos.
ELVIRA —
(INTERFERE) Deus defende muita coisa.
AS
MULHERES CONTINUAM CONVERSANDO FORA DE ÁUDIO.
CORTA PARA:
CENA 02.
CELEIRO. INT. DIA.
EVANDRO
COLOCA AS ARREDIAS EM UM CAVALO. PAULO ESTÁ PARADO O OLHANDO. OS DOIS
CONVERSAM.
PAULO —
(INDIGNADO) A Dona Gabriela é dona de tudo aquilo agora?
EVANDRO — Sim, meu irmão.
PAULO —
O Seu Ângelo deixou tudo pra ela.
EVANDRO — É isso que eu não entendo.
PAULO —
Pensando bem, ele não deve ter deixado pra ela. Ele deve ter deixado pra menina
que era neta dele.
EVANDRO — Eu não entendo dessas coisas.
PAULO —
A Dona Gabriela deve estar cuidando do que é da filha dela. Que mulherzinha
infeliz! (EVANDRO FICA QUIETO POR ALGUNS INSTANTES) O que houve? Por que você
está com essa cara?
CAROLINA — Eu tive uma briga feia com a Carolina.
PAULO —
Por quê?
EVANDRO — Por causa do Miguel. Ele não tira aquela menina da
cabeça. Isso já está me deixando muito irritado.
PAULO —
Ah, eu já devia ter percebido que esse foi o motivo da briga. O Miguel nunca
irá tirar aquela menina da cabeça, ainda mais se a Carolina viver ajudando ele
a alimentar esses pensamentos.
EVANDRO — Foi isso que eu falei pra ela. Ela está errada.
PAULO —
Não adianta falar, meu irmão... Essas mulheres acham que podem ter razão de
tudo e que nós homens, é quem estamos errados.
EVANDRO — Até a tia Elvira se revoltou contra mim.
PAULO —
(DÁ UMA RISADA. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE) O Miguel só irá tirar aquela
menina da cabeça, quando ele estiver grande, já ter se tornado um homem. Vai
ser aí que ele vai conhecer uma mulher de verdade.
EVANDRO — A Carolina não acredita nisso. Ela acredita que o Miguel
e aquela menina ainda irão viver um grande amor quando forem adultos.
PAULO —
Isso é bobagem, Evandro!
EVANDRO — (IRÔNICO) Ela acha que é um amor que irá desabrochar com
o tempo. Vai dar até casamento.
PAULO —
Quando aquela menina crescer mais um pouco, ela não irá querer saber do menino
que morava na fazenda do avô e com quem ela tinha uma linda amizade de criança.
Ela vai esquecer o Miguel e ele vai ficar choramingando pelos cantos.
EVANDRO — O pior é que você tem razão, meu irmão. O Miguel e
aquela menina não tem futuro nenhum.
EVANDRO
TERMINA DE PÔR AS ARREDIAS NO CAVALO. MONTA E SAI. PAULO FICA OBSERVANDO O
IRMÃO.
CORTA PARA:
CENA 03.
STOCK-SHOT.
ANOITECE.
CENA 04.
CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. NOITE.
MIGUEL
ESTÁ NO SEU QUARTO, JÁ DEITADO. NÃO CONSEGUE DORMIR. ELE ABRE A JANELA DO
QUARTO E FICA OLHANDO AS ESTRELAS. NOTAMOS QUE ELE ESTÁ TRISTE. LEMBRA-SE DE
SOPHIA. RESPIRA FUNDO.
MIGUEL —
(TRISTE) Sophia...
MIGUEL
CONTINUA OLHA PARA AS ESTRELAS. A IMAGEM DO ROSTO DE MIGUEL SE FUNDE COM A
IMAGEM DA CENA SEGUINTE.
FUSÃO PARA:
CENA 05. AP
DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. NOITE.
A
IMAGEM DO ROSTO DE MIGUEL SE FUNDE COM A IMAGEM DO ROSTO DE SOPHIA, QUE TAMBÉM
OLHA AS ESTRELAS. UMA MOÇA APARECE E FICA OLHANDO PARA SOPHIA.
LISA —
Vamos jantar, Sophia?
SOPHIA —
(IRRITADA) Eu não quero jantar.
LISA —
Você não pode ficar com fome.
SOPHIA —
Por que você não vai embora?
LISA —
A sua mãe me deixou cuidando de você, enquanto ela viaja.
SOPHIA —
Só queria saber com que dinheiro ela vai te pagar e com que dinheiro ela foi
viajar.
LISA —
Desde que ela me pague...
SOPHIA —
(CURIOSA) Você sabe pra onde ela foi, não sabe?
LISA —
Não... Agora vamos jantar?
SOPHIA —
(VOLTA A OLHAR PRO CÉU) Não quero.
LISA —
Não vou ficar insistindo, Sophia.
LISA
RETIRA-SE. SOPHIA CONTINUA OLHANDO AS ESTRELAS. RESPIRA FUNDO.
SOPHIA —
(TRISTE) Miguel...
FICA
OLHANDO PARA O CÉU POR ALGUNS INSTANTES.
CORTA PARA:
CENA 06.
STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.
SUCESSÃO
DE IMAGENS MESCLANDO IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA E CAMPO BONITO, INDICANDO
PASSAGEM DE TEMPO.
INSERIR
LEGENDA: Alguns dias depois...
CENA 07.
FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. BIBLIOTECA. INT. DIA.
VEMOS
GABRIELA E RAUL ACOMPANHADOS DE UM FAZENDEIRO MILIONÁRIO INGLÊS NA BIBLIOTECA.
ELE ASSINA O CONTRATO DA COMPRA DA FAZENDA. GABRIELA ESTÁ TRIUNFANTE. SORRI.
OLHA PARA RAUL, QUE SORRI TAMBÉM. O FAZENDEIRO ENTREGA O DOCUMENTO PARA
GABRIELA, APÓS ASSINÁ-LO.
MR. SMITH — Foi um grande prazer fazer negócios com você, Senhora
Meirelles.
GABRIELA — (SORRI) O prazer foi todo meu, Mister Smith,
MR. SMITH — Com os grandes avanços tecnológicos agrícolas, eu vou
transformar essas terras.
GABRIELA — Eu espero que o senhor consiga os seus propósitos... Eu
vou ficar muito feliz de ver essas terras em progresso, afinal meu falecido
sogro fracassou e colocou tudo a perder.
MR. SMITH — O seu falecido sogro acertou em deixar-lhes essas terras
de herança. Ele sabia que a senhora iria fazer a coisa certa.
GABRIELA — Ele sabia, sim... Adeus, Mister Smith!
ELES
SE DESPEDEM COM UM APERTO DE MÃOS. MR. SMITH RETIRA-SE E GABRIELA COMEMORA
TRIUNFANTE COM RAUL.
CORTA PARA:
1° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 08. FAZENDA DE ÂNGELO.
CASA GRANDE. VARANDA. EXT. DIA.
GABRIELA E RAUL SAEM DO
CASARÃO. RIEM. COMEMORAM.
RAUL —
Você é muito cínica, Gabriela.
GABRIELA —
Cínica? Por quê?
RAUL —
Você enganou aquele homem dizendo que você estava vendendo essas terras porque
tinham ficado de herança pra você.
GABRIELA — E não ficaram? Eu estou representando a minha filha.
RAUL —
É ela quem vai usufruir do dinheiro da venda?
GABRIELA — (SORRI) Digamos que não.
RAUL
DÁ UM SORRISO. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. MIGUEL APARECE NESSE MOMENTO.
GABRIELA FICA SURPRESA AO VÊ-LO.
GABRIELA — O que você quer, moleque?
MIGUEL —
Eu quero saber da Sophia.
GABRIELA — Ah, a Sophia, como sempre. A minha filha está em casa e
não veio porque não quer mais ver você.
MIGUEL —
(GRITA) Isso é mentira!
GABRIELA — Raul, diga para esse moleque que a Sophia não quer mais
vê-lo.
RAUL —
(MENTE. SORRI) É verdade, moleque... A garotinha lá não quer mais ser sua
amiguinha.
MIGUEL —
(GRITA) Eu não falei com você, seu idiota!
RAUL —
Ô, menino abusado!
GABRIELA — Abusado até demais... Olha aqui, garoto, a Sophia não
precisa de sua amizade. A minha filha vai crescer, se tornar uma adolescente e
conhecer pessoas do nível dela. Vocês nunca mais vão se ver novamente.
MIGUEL —
A Sophia me ama.
GABRIELA — A Sophia é apenas uma menina de oito anos, ela não sabe o
que é o amor e não é com você que ela irá sentir isso.
MIGUEL —
(QUASE CHORANDO) Você não vai conseguir acabar com a nossa amizade.
GABRIELA
DÁ UMA RISADA IRÔNICA. SE APROXIMA MAIS DE MIGUEL.
GABRIELA — Essa amizade já está acabada.
RAUL —
(RI) Se conforme, garotinho, vai ser melhor pra você.
MIGUEL
NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS E SAI CORRENDO. GABRIELA SOLTA UMA GARGALHADA.
GABRIELA — Eu consegui acabar com essa amizade. O velho está morto,
o Leonardo também. Não há mais ninguém que possa ser a favor dessa amizade
ridícula.
RAUL —
A sua filha vai sofrer um monte.
GABRIELA — Eu não me importo. Vai chegar um dia em que a Sophia irá
me dar razão.
GABRIELA
E RAUL RIEM. CONTINUAM COMEMORANDO A VENDA DA FAZENDA.
CORTA PARA:
CENA 09.
CASA DE ELVIRA. SALA. INT. DIA.
CAROLINA
E ELVIRA CUIDAM DO AFAZERES DA CASA. MIGUEL ENTRA EM CASA CORRENDO E DIRIGE-SE
AO SEU QUARTO SEM FALAR COM NINGUÉM. CAROLINA ESTRANHA A ATITUDE DE MIGUEL. VAI
ATRÁS DELE.
CORTA PARA:
CENA 10.
CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.
CAROLINA
ENTRA NO QUARTO E VÊ MIGUEL DEITADO CHORANDO. CAROLINA SENTA-SE AO SEU LADO. O
CONSOLA.
CAROLINA — Filho, o que houve?
MIGUEL —
Eu fui na fazenda.
CAROLINA — Meu filho, você não devia ter ido lá. O que a Dona
Gabriela fez pra você?
MIGUEL —
Ela me disse que a Sophia não quer mais ser minha amiga.
CAROLINA — Meu filho, você acreditou nisso?
MIGUEL —
Não, mãe, eu não acreditei... Mas eu nunca mais vou ver a Sophia.
CAROLINA — Você não disse que iria juntar dinheiro para ir pra
Curitiba quando completar seus dezoito anos?
MIGUEL —
Mas vai demorar muito.
CAROLINA — Meu filho, o tempo passa muito rápido. Em um piscar de
olhos, você já terá feito seus dezoito anos e poderá seguir o teu caminho. A
Sophia jamais irá te esquecer, ela ama você. (MIGUEL FICA OLHANDO PARA CAROLINA
E LHE DÁ UM FORTE ABRAÇO) Não sofra tanto, meu filho, o tempo vai passar e você
e Sophia vão se reencontrar.
MIGUEL
E CAROLINA FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES.
CORTA PARA:
CENA 11.
STOCK-SHOT.
SUCESSÃO
DE IMAGENS FAZENDO UMA FUSÃO ENTRE CAMPO BONITO E CURITIBA.
INSERIR
LEGENDA: CURITIBA. NOITE.
CENA 12. AP
DOS MEIRELLES. SALA. INT. NOITE.
SOPHIA
ESTÁ ASSISTINDO TELEVISÃO. GABRIELA CHEGA EM CASA. LEVANTA-SE.
SOPHIA —
Pra onde você foi?
GABRIELA — (ATIRA A BOLSA NO SOFÁ) Eu fui pra Campo Bonito.
SOPHIA —
Campo Bonito? Então você viu o meu avô? Por que você não me levou junto?
GABRIELA — Se eu te levasse junto, você não iria ver o seu avô.
SOPHIA —
Por quê? Por que se eu iria estar lá?
GABRIELA — (GRITA REVOLTADA) Porque o seu avô está morto.
SOPHIA
DÁ ALGUNS PASSOS PARA TRÁS. FICA OLHANDO PARA GABRIELA.
SOPHIA —
O meu avô está... Não! Eu não posso ter perdido o meu avô. Não!
GABRIELA — O seu avô morreu já faz um tempo. Eu fui à Campo Bonito
pra cuidar de nosso patrimônio. (SOPHIA SE ENCOSTA NA PAREDE. COMEÇA A CHORAR.
SE DEIXA CAIR NO CHÃO. GABRIELA CONTINUA) O seu avô deixou aquela fazenda e
aquelas terras de herança pra você, mas eu já vendi tudo e estamos com um bom
dinheiro em nossa conta bancária. Aquela fazenda já estava falida, o seu avô
era um fracassado igual ao seu pai. Por um milagre divino, apareceu um
fazendeiro milionário inglês e comprou aquelas terras. Ele acha que pode
salvá-las usando uns avanços tecnológicos agrícolas. (SOPHIA PASSA AS MÃOS
PELOS CABELOS E SE DEITA NO CHÃO AOS PRANTOS. GABRIELA FICA IRRITADA) Pare com
esse drama, garota! Você já devia estar acostumada com a morte. O seu avô
morreu e a vida continua. Você não está pensando na grana que eu consegui com a
venda da fazenda? É um bom dinheiro que irá acabar com a situação em que
estávamos vivendo. O seu drama não me comove, você já sabe disso, não sabe?
(SOPHIA NÃO RESPONDE NADA, APENAS CONTINUA CHORANDO) Quer saber, Sophia? Eu vou
dormir, eu preciso descansar a minha mente. Se você quer ficar aí, no chão,
chorando a noite toda, pode ficar... Eu não me importo.
GABRIELA
PEGA SUA BOLSA. FICA OLHANDO PARA SOPHIA POR ALGUNS SEGUNDOS. DEPOIS RETIRA-SE
IRRITADA.
CORTA PARA:
2° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 13. STOCK-SHOT.
PASSAGEM DE TEMPO.
INSERIR LEGENDA:
Alguns dias depois...
CENA 14. ESCOLA. PÁTIO. HORA
DO RECREIO. INT. DIA.
SOPHIA
ESTÁ SOZINHA NUM CANTO DO PÁTIO. CECÍLIA PERCEBE SOPHIA NO CANTO. APROXIMA-SE.
FICA OLHANDO PARA SOPHIA.
CECÍLIA — Sophia, por que não vem ficar comigo e com as
meninas?
SOPHIA —
Eu quero ficar sozinha.
CECÍLIA — Sozinha, por quê?
SOPHIA —
Eu não estou me sentindo bem.
CECÍLIA — Se você não está se sentindo bem, eu posso te
acompanhar até a direção. Lá, eles podem te dar um chá.
SOPHIA —
Não é nesse sentido que eu não estou bem, Cecília.
CECÍLIA — Por que você não conversa comigo? Eu sou sua amiga,
você pode se abrir comigo.
SOPHIA —
Eu sinto saudades do meu pai, do meu avô, do Leonardo... Sinto saudades do
Miguel.
CECÍLIA — A saudade é algo que dói mesmo.
SOPHIA —
Eu nunca mais vou ver nenhum deles.
CECÍLIA — Se lembra que você tinha me dito que iria começar a
mandar cartas pro Miguel? O que você está esperando? Eu posso te ajudar a
escrever.
SOPHIA —
Eu tinha dito isso pro Miguel... Mas agora eu tenho medo que minha mãe
descubra.
CECÍLIA — Eu posso te ajudar a mandar as cartas.
SOPHIA —
Você faria isso por mim, Cecília?
CECÍLIA — É claro, Sophia, eu sou sua amiga.
SOPHIA
DÁ UM LEVE SORRISO. ABRAÇA A AMIGA.
CORTA PARA:
CENA 15.
STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.
INSERIR
LEGENDA:
Um mês depois...
CENA 16. AP
DOS MEIRELLES. SALA. INT. DIA.
GABRIELA
ESTÁ NA SALA. ESTÁ PENSATIVA. TEM UMA IDEIA E SORRI. PEGA O TELEFONE E FAZ UMA
LIGAÇÃO.
GABRIELA — (OFEGANTE AO ATENDEREM. FINGIDA) Alô! É da delegacia? Eu
tenho uma denúncia para fazer... É uma denúncia muito importante.
GABRIELA
DÁ UM LEVE SORRISO.
CORTA PARA:
CENA 17.
CORTIÇO. AP DE RAUL. CORREDOR. INT. DIA.
RAUL
CHEGA AO SEU APARTAMENTO. ESTÁ DISTRAÍDO. TENTA ABRIR A PORTA. A POLÍCIA CHEGA
POR TRÁS DE RAUL. ESTÃO ARMADOS.
POLICIAL — (ANUNCIA) Você está preso, Raul Palhares... Está preso
por porte ilegal e vendas de armas.
RAUL
VIRA-SE ASSUSTADO. FICA OLHANDO PARA OS POLICIAIS POR ALGUNS SEGUNDOS. CONSEGUE
FUGIR CORRENDO. A POLÍCIA O SEGUE.
CORTA PARA:
3º INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 18. AP
DOS MEIRELLES. SALA. INT. DIA.
GABRIELA
SERVE UM COPO DE UÍSQUE. DÁ UM SORRISO TRIUNFAL.
GABRIELA — Ah, Raul, achou que fosse aproveitar o meu dinheiro
comigo? Estava muito enganado.
GABRIELA
DÁ UM GOLE NA BEBIDA. CONTINUA SORRINDO. O TELEFONE TOCA E ELA ATENDE. (OBS.: NESTE PONTO, ALTERNAMOS AS
IMAGENS DE GABRIELA EM CASA E AS DE RAUL NO TELEFONE PÚBLICO).
GABRIELA — Alô!
RAUL —
Gabriela, a polícia descobriu o esquema que eu faço parte... Você tem que me
ajudar a fugir. Eu estou sem nada, estou sem dinheiro.
GABRIELA — Você acha mesmo que eu vou te ajudar, Raul?
RAUL —
Gabriela, não brinque comigo!
GABRIELA — Acontece que eu não estou brincando, você foi muito
idiota de ter me falado de que esquema fazia parte, você foi muito bobo de ter
confiado em mim.
RAUL —
(REVOLTADO) Foi você que me denunciou então, vagabunda?
GABRIELA — É... Talvez sim, talvez não... Tire suas próprias
conclusões, querido... Porque agora eu vou continuar tomando o meu uísque
importado. Boa prisão!
GABRIELA
DESLIGA O TELEFONE. DÁ UMA RISADA E EM SEGUIDA, DÁ MAIS UM GOLE NO UÍSQUE.
CORTA PARA:
CENA 19.
CURITIBA. RUA. EXT. DIA.
RAUL
DESLIGA REVOLTADO. VÊ OS POLICIAIS SE APROXIMAREM E SAI CORRENDO. A ATITUDE DE
FUGA NÃO ADIANTA DE NADA. OS POLICIAIS ATIRAM E RAUL ACABA SENDO ATINGIDO POR
VÁRIOS TIROS NAS COSTAS. RAUL CAI MORTO NO MEIO DA RUA PARA O ESPANTO DA
MULTIDÃO QUE PASSAVA NAQUELE MOMENTO.
CORTA PARA:
CENA 20.
STOCK-SHOT.
SUCESSÃO
DE IMAGENS ATÉ CHEGARMOS À CAMPO BONITO. PERCORREMOS TODA A REGIÃO, ATÉ IRMOS
DE ENCONTRO À FACHADA DA CASA DE ELVIRA.
CORTA PARA:
CENA 21.
CASA DE ELVIRA. SALETA. INT. DIA.
CAROLINA
PEGA ALGUMAS CORRESPONDÊNCIAS E COMEÇA FOLHAR TODAS, MAS UMA LHE CHAMA A
ATENÇÃO. ELA PUXA. FICA OLHANDO. DÁ UM SORRISO. BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE.
PÕE AS DEMAIS CORRESPONDÊNCIAS EM CIMA DA MESA E SAI.
CORTA PARA:
CENA 22.
FAZENDA DE AURÉLIO. CELEIRO. EXT. DIA.
MIGUEL
ESTÁ NO CELEIRO. CUIDA DE UM BEZERRO. CAROLINA SE APROXIMA. MIGUEL FICA SURPRESO
AO VER CAROLINA.
MIGUEL —
Mãe, o que está fazendo aqui?
CAROLINA — (SORRI) Eu vim te dar um presente.
CAROLINA
ENTREGA A CARTA PARA MIGUEL QUE A PEGA SEM ENTENDER.
MIGUEL —
O que é isso?
CAROLINA — Veja.
MIGUEL
LÊ O REMETENTE. DEPOIS DE ALGUNS INSTANTES ELE SE DÁ CONTA DE QUEM É. DÁ UM
SORRISO.
MIGUEL —
Eu não estou acreditando.
CAROLINA — É uma carta de Sophia, meu filho.
MIGUEL —
Mãe, eu não estou acreditando que ela me mandou uma carta.
CAROLINA — Eu disse que ela não tinha te esquecido. Eu recebi junto
com as outras correspondências. Eu só trouxe aqui agora, porque à noite não
daria pra te entregar, o seu pai vai estar em casa. Abra!
MIGUEL
FICA NERVOSO. RASGA O ENVELOPE. DESDOBRA O PAPEL. COMEÇA A LER A CARTA. FICA
ATENTO A TODAS AS PALAVRAS DE SOPHIA.
(OBS.: NESTE PONTO FUNDIMOS AS IMAGENS
DOS OLHOS DE MIGUEL E SOPHIA LENDO AS CARTAS QUE ELES TROCAM. À MEDIDA QUE
RELATOS ESTÃO SENDO LIDOS, AS AÇÕES VÃO ACONTECENDO).
“Miguel, eu sinto a sua falta...”
“Sophia, eu queria tanto que você
estivesse aqui...”
“Os últimos tempos não tem sido fáceis,
minha bebe e fuma feito uma descontrolada e a cada noite surge com um homem
diferente.”
“Nosso amor será eterno. Se lembra que
prometemos isso um para o outro?”
“Minha caixinha já está ficando cheia
com o dinheiro que estou juntando. Faltam ainda alguns anos, mas minha mãe
disse que o tempo passa rápido e logo, logo eu e você estaremos juntos
novamente.”
“Miguel, meu presente de dez anos seria
poder te ver novamente...”
“Esses dias, meu tio quase descobriu que
eu e você traçamos cartas. Ele foi à cidade pegar as correspondências que vem
aqui pra casa e...”
“Eu já não agüento mais conviver com
minha mãe, ela está se tornando cada vez mais fria e arrogante. Nem mesmo os
vizinhos a suportam.”
“Não fique triste, Sophia, nós ainda
vamos nos rever. E quando esse dia chegar, nada e nem ninguém vai poder nos
separar...”
“Olho todas as noites para aqueles
desenhos que você me deu uma vez e me lembro de todos os momentos bons que
passamos quando éramos crianças...”
“As estrelas me lembram o seu rosto...”
“Quando eu era uma menina, eu sonhava
com uma festa de quinze anos. Eu não tive essa festa. No dia do meu
aniversário, minha mãe desapareceu e voltou bêbada, como ela sempre faz...”
“Se você sofre, eu também sofro...”
“Todas as noites, eu choro. Minha mãe me
deixou marcas. Não foram marcas deixadas por alguma agressão, foram marcas
deixadas pelas palavras dela. Marcas que ela deixou dentro de meu coração.
Marcas e feridas que ela deixou em minha alma.”
“Tem noites que eu também choro, Sophia,
mas eu não perco a esperança. Você não pode perder a esperança.”
“Miguel, você é a minha única esperança...”
“Você é tudo pra mim, Sophia... Eu te
amo.”
“Eu te amo, Miguel, te amo muito. Jamais
esqueça disso.”
FUSÃO PARA:
CENA 23.
STOCK-SHOT. CURITIBA. OITO ANOS DEPOIS.
INSERIR
LEGENDA:
Curitiba – 1987.
CENA 24.
ESCOLA. ENTRADA. EXT. HORA DA SAÍDA.
O
SINAL BATE. O PORTÃO DA ESCOLA É ABERTO PARA A SAÍDA DOS ALUNOS. SOPHIA CAMINHA
NA FRENTE. CECÍLIA A SEGUE CORRENDO.
CECÍLIA — (GRITA) Sophia! (SOPHIA VIRA-SE) Sophia, vamos ao
parque.
SOPHIA —
Ao parque? Nós não temos mais nada pra fazer no parque.
CECÍLIA — Como assim? Nós podemos caminhar, correr,
conversar... Há tantas coisas para se fazer no parque.
SOPHIA —
O que você está aprontando, Cecília? Fique sabendo que eu vou ficar servindo de
“vela” pra você e nenhum garoto. O que aconteceu semana passada não vai se
repetir, está entendido?
CECÍLIA — Não seja tão turrona, Sophia! E também, eu não vou
me encontrar com nenhum garoto no parque. Só quero que você me acompanhe.
SOPHIA —
(A OLHA SERIAMENTE) Eu vou, Cecília, mas espero não me arrepender.
CECÍLIA — (SORRI ALEGREMENTE) Você não vai se arrepender, meu
amor!
AS
DUAS CAMINHAM EM DIREÇÃO AO PARQUE.
CORTA PARA:
CENA 25.
PARQUE. EXT. DIA.
CECÍLIA
E SOPHIA CHEGAM AO PARQUE. CECÍLIA PEGA SOPHIA PELO BRAÇO.
SOPHIA —
(IRRITADA) Pra que me pegar pelo braço?
CECÍLIA — (APONTA) Olhe!
SOPHIA
OLHA PARA FRENTE. VÊ UM RAPAZ PARADO AO LADO DE UMA ÁRVORE. ELE A OLHA. DÁ UM
LINDO SORRISO. CECÍLIA TAMBÉM DÁ UM SORRISO E SE AFASTA. SOPHIA APROXIMA-SE DO
RAPAZ.
SOPHIA —
(EMOCIONADA) Miguel?
MIGUEL
SORRI NOVAMENTE. SE EMOCIONA TAMBÉM.
MIGUEL —
Eu não disse que viria?
SOPHIA —
Eu não acredito que é você.
MIGUEL —
O que está esperando pra me abraçar, Sophia?
SOPHIA
NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS. CORRE PARA ABRAÇAR MIGUEL. OS DOIS SE ABRAÇAM
FORTEMENTE E FICAM ABRAÇADOS POR LONGOS INSTANTES. VALORIZAR O MOMENTO DOS
DOIS. CONGELA EM “SOPHIA E MIGUEL” ABRAÇADOS.
FIM DO
CAPÍTULO 14
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