Memória DNA | Com Amor | Capítulo 8






 novela de:
Marcus Vinick e Miguel Rodrigues
Escrita por:
Marcus Vinick e Miguel Rodigues
Direção de:
Miguel Rodrigues
Direção geral de:
Miguel Rodrigues
Núcleo:
#DNA - Dramaturgia Novos Autores
                                        - CAPÍTULO - 8


Personagens:   
               GABRIELA
               ÂNGELO
               SOPHIA
               MIGUEL
               LEONARDO
               RAUL





















CENA 01 – CURITIBA – EXT/DIA – STOCK-SHOT

MÚSICA ADEQUADAMENTE FRENÉTICA ACOMPANHA AS IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA COMO CARTÕES POSTAIS: MOSTRAR OS PRINCIPAIS PONTOS DA CIDADE. FECHANDO NA FACHADA DO EDIFÍCIO ONDE GABRIELA E SOPHIA MORAM.
CORTA PARA:

CENA 02 – AP DOS MEIRELLES – SALA – INT/DIA

A CAMPAINHA DO APARTAMENTO TOCA. GABRIELA VAI ATENDER. OLHA NO OLHO MÁGICO QUEM É. FAZ CARA DE NOJO E EM SEGUIDA ABRE A PORTA. SURGE ÂNGELO.

GABRIELA          - Seu Ângelo.

ÂNGELO              - Posso entrar, Gabriela?

GABRIELA          - (PARECENDO ESTAR CANSADA) Mas é claro. (ELA FECHA A PORTA E SE VIRA PARA O SOGRO. ESTRANHA) Por que a Sophia não veio junto?

ÂNGELO              - A Sophia virá mais tarde... O Leonardo irá trazê-la.

GABRIELA          - E, enquanto isso... Ela deve estar com aquele moleque... Aquele aprendiz de marginal.

ÂNGELO              - O Miguel é apenas uma criança, Gabriela. E também, a Sophia se sente mais confortada ao lado dele. Ela está sofrendo muito pela morte do pai, mas o Miguel está ao lado e isso já significa um grande conforto.

GABRIELA          - A minha filha tem que se sentir confortada ao meu lado, porque eu também estou sofrendo muito.

ÂNGELO              - Apesar de não representar, não é?

GABRIELA          - O que o senhor queria? Queria que eu estivesse gritando feito uma louca, chorando desesperadamente? Não, eu não vou agir dessa forma. O meu sofrimento não precisa ser transparecido.

ÂNGELO              - Você não passa nenhum tipo de sentimento, Gabriela, essa é a verdade. Eu nunca fui a favor do casamento de meu filho com você.
GABRIELA          - E o senhor acha que eu não sei disso? O senhor nunca gostou de mim, mas eu também nunca fiz questão disso.

ÂNGELO              - E eu nunca fiz questão de tentar gostar de você.

GABRIELA          - (IRRITADA) Por que o senhor veio aqui, afinal? Veio só pra jogar certas coisas na minha cara? É esse tipo de conversa que quer ter comigo?

ÂNGELO              - Não. Eu vim falar sobre a situação em que vocês estavam vivendo.

GABRIELA          - (REVOLTADA) Errado. Nós ainda estamos vivendo essa situação, eu e sua neta, porque o Marcelo conseguiu escapar.

ÂNGELO              - Você está querendo dizer que meu filho...

GABRIELA          - (INTERROMPE) Isso mesmo que o senhor deve ter entendido.

ÂNGELO              - O meu filho morreu, Gabriela.

GABRIELA          - (SORRI IRONICAMENTE) Não... Ele se matou.

ÂNGELO              - (IRRITADO) O meu filho jamais se mataria para escapar de seus problemas.

GABRIELA          - O Marcelo estava ficando louco, estava até mesmo tomando antidepressivos. Nesses últimos meses, viveu se entupindo de comprimidos, isso quando não chegava bêbado em casa. A bebida e aqueles comprimidos serviram como uma forma de “afogar” seus problemas.

ÂNGELO              - Ele não conseguiu ser forte, mas jamais acabaria com a própria vida. E tem mais, Gabriela: você não deve ter feito exatamente nada pra ajudá-lo.

GABRIELA          - Eu avisei o Marcelo, mas eu desisti porque eu já não podia fazer mais nada. O Marcelo era um fracassado.

ÂNGELO              - (GRITA) Não fale assim do meu filho.

GABRIELA          - Ele era um fracassado, sim! Olhe as condições de vida em que eu estou vivendo agora, tudo por culpa dele. Quer saber mais? Antes de ir embora daqui, feito um doido, ele tentou tirar a minha vida. Ele tentou me matar com uma faca.

ÂNGELO              - (NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS) Isso não é verdade, você está mentindo. O Marcelo jamais tentaria tirar a vida de alguém, muito menos de você a quem ele amava tanto.

GABRIELA          - Ele tentou me matar, porque estava louco... Ele estava fora de si.

ÂNGELO              - Eu não acredito nisso e jamais irei acreditar, Gabriela.

GABRIELA          - Eu não preciso que o senhor acredite em mim. O Marcelo se matou e nos deixou: eu e a filha dele, nessas condições de vida. (DÁ ALGUNS PASSOS) Eu tenho tanta raiva dele por isso, tanta raiva.

ÂNGELO              - Você nunca amou o meu filho, Gabriela, você nunca teve nenhum tipo de sentimento por ele. Se ele está morto agora, uma boa parcela da culpa é sua!

GABRIELA          - O seu filho se matou porque não passava de um fraco, que não tinha coragem pra enfrentar os próprios problemas, um fracassado que nem pensou na própria filha.

ÂNGELO              - Você diz isso como você se importasse com a Sophia.

GABRIELA          - Eu me importo com a minha filha.

ÂNGELO              - (GRITA) Mentira!... Você não ama nem mesmo a sua filha.

GABRIELA          - (GRITA. EMPURRA ÂNGELO) Quem é o senhor pra me dizer isso?

ÂNGELO CAI SENTADO NO SOFÁ. SENTE UMA FORTE DOR NO PEITO, MAS CONSEGUE SE CONTÊR. GABRIELA FICA OLHANDO FRIAMENTE PARA ÂNGELO.

GABRIELA          - Eu amei o Marcelo. Só que o meu amor acabou quando ele perdeu tudo.

ÂNGELO              - O que você chama de amor, Gabriela, eu chamo de ambição. Você é uma mulher ambiciosa. Você só se casou com o meu filho, porque sabia que ele podia te dar uma ótima condição financeira, porque ele podia ter uma boa vida social.

GABRIELA          - (SORRI) E o senhor tem razão. (t) Mas agora o Marcelo está morto; ele fez um grande favor pra mim ao se matar provocando o próprio acidente que tirou a vida dele, essa é a verdade.

ÂNGELO              - Você é uma pessoa tão má, tão fria. Eu tenho pena do que vai ser de você, Gabriela.

GABRIELA          - (DÁ UMA RISADA DEBOCHADA) Eu não preciso que você tenha pena, seu velho caquético!

ÂNGELO              - Isso, Gabriela... Mostre o que você tem por dentro!

GABRIELA          - (SORRI) Que infeliz coincidência! O Marcelo me disse a mesma coisa que o senhor acabou de me dizer, antes de morrer.

ÂNGELO              - (A OLHA SERIAMENTE) Eu não vou morrer sem salvar a minha neta de suas mãos.

GABRIELA          - E o que o senhor vai fazer?

ÂNGELO              - Eu vou tirar a Sophia de você... Nem que eu precise entrar na justiça.

GABRIELA          - O Marcelo também disse que iria tirar a Sophia de mim, mas acabou morrendo tragicamente. Cuidado! O senhor pode ser o próximo da lista.

ÂNGELO              - Está me ameaçando, Gabriela?

GABRIELA          - Não... Eu estou te dando um aviso. (ELA FICA OLHANDO SERIAMENTE PARA ÂNGELO, QUE SE LEVANTA UM POUCO TONTO, SE APOIANDO NAS PAREDES) Só não vai morrer aqui dentro, seu velho insuportável! Vá embora!

GABRIELA ABRE A PORTA. PEGA ÂNGELO PELO BRAÇO E O COLOCA PARA FORA. GABRIELA FECHA A PORTA A BATENDO VIOLENTAMENTE.

GABRIELA          - (GRITA) Velho desgraçado!

GABRIELA COM ÓDIO DEIXA CAIR ALGUMAS LÁGRIMAS.
CORTA PARA:

CENA 03. AP DE LEONARDO. QUARTO DE HÓSPEDES. INT/DIA

MIGUEL E SOPHIA ESTÃO NO QUARTO. CONVERSAM. MIGUEL PEGA AS MÃOS DE SOPHIA.

SOPHIA                - Eu tenho medo de nunca mais poder te ver. Eu já perdi o meu pai e não queria te perder também.

MIGUEL               - Você não vai me perder, Sophia, e mesmo que não possamos mais nos ver, eu sempre vou pensar em você.
SOPHIA                - (QUASE CHORANDO) Só que eu queria sempre estar com você.

MIGUEL               - (SUGERE INGENUAMENTE) Por que você não vai morar na fazendo do seu avô? A gente iria se ver todos os dias e jamais nos afastaríamos um do outro.

SOPHIA                - A minha mãe jamais permitiria.

MIGUEL               - Mas nós não podemos ficar longe um do outro.

SOPHIA NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS, ACABA CHORANDO E MIGUEL LHE DÁ UM ABRAÇO FORTE.

SOPHIA                - Miguel, eu te amo muito!

MIGUEL               - (TOCA O ROSTO DE SOPHIA) E eu não me canso de dizer que também te amo.

OS DOIS SE ABRAÇAM NOVAMENTE. VALORIZAR O MOMENTO DOS DOIS POR ALGUNS SEGUNDOS.

CORTA PARA:

CENA 04. AP DE LEONARDO. SALA. INT/DIA

ÂNGELO CHEGA AO APARTAMENTO E LEONARDO PERCEBE O ESTADO DELE.

LEONARDO        - O senhor está bem?

ÂNGELO              - Não, Leonardo, eu não estou me sentindo nada bem. Já não basta o meu filho ter morrido, ainda por cima tive que ouvir barbaridades daquela cobra peçonhenta.

LEONARDO        - A quem o senhor está se referindo?

ÂNGELO              - Estou me referindo à Gabriela.

LEONARDO        - O que ela disse que deixou o senhor nesse estado?

ÂNGELO              - Aquela mulher não vale nada... Jamais amou o meu filho.

LEONARDO        - (PREOCUPADO) Fale baixo, Seu Ângelo, a Sophia não pode ouvir isso que o senhor está falando.

ÂNGELO              - (ANGUSTIADO) Pobre da Sophia! Eu não queria deixar a minha neta nas mãos daquela mulher.
LEONARDO        - A Gabriela é mãe da Sophia.

ÂNGELO              - A Gabriela não sabe ser mãe. Eu tenho que tirar a minha neta dela, nem que para isso eu precise entrar na justiça.

LEONARDO        - Nenhum juiz irá querer ficar do seu lado, Seu Ângelo. A Gabriela é mãe da Sophia.

ÂNGELO              - Deve ter um jeito, Leonardo.

LEONARDO        - (EXPLICA) A Sophia não sofre abusos, nem mesmo é maltratada, por isso nenhum juiz irá querer dar a guarda dela para o senhor.

ÂNGELO              - Eu posso provar que a Gabriela não vale nada, que ela não é uma boa mãe.

LEONARDO        - São provas concretas? Não, Seu Ângelo, não são. A Gabriela pode ter tratado o senhor de mal jeito, mas não significa que ela trata a Sophia do mesmo jeito.

ÂNGELO              - Você tem que me ajudar, Leonardo.

LEONARDO        - Não, eu não poderei lhe ajudar, porque eu não cuido dessas causas. Eu até poderia indicar um colega, mas já estou te dando o conselho de não fazer nada disso. Seria perda de tempo e de dinheiro.

ÂNGELO              - (DECEPCIONADO) Está bem. (t) Eu quero pelo menos poder ver minha neta, eu temo que a Gabriela não permita.

LEONARDO        - Eu posso tentar entrar em um acordo informal com a Gabriela. Eu posso levar a Sophia de duas em duas semanas para ver o senhor lá, em Campo Bonito.

ÂNGELO              - Se você fizer isso, eu nem sei como irei lhe agradecer, Leonardo.

LEONARDO        - Não precisa me agradecer, Seu Ângelo, eu vou fazer isso pelo Marcelo. Ele foi o meu grande amigo.

ÂNGELO ABRAÇA LEONARDO COMO FORMA DE AGRADECIMENTO.

CORTA PARA:



CENA 05. CONDOMÍNIO. FACHADA. EXT/DIA

SOPHIA E ÂNGELO SE DESPEDIRAM. ESTÃO EMOCIONADOS.

SOPHIA                - (TRISTE) Eu vou sentir saudades do senhor.

ÂNGELO              - Nós vamos nos rever, minha neta... O Leonardo irá tentar entrar em um acordo com sua mãe.

SOPHIA                - Ela não vai aceitar. A minha mãe não quer mais que eu veja o senhor, mas isso também por causa do Miguel.

ÂNGELO              - A sua mãe não pode te proibir de ir me visitar de vez em quando, afinal eu sou o seu avô.

SOPHIA CONTINUA COM UMA EXPRESSÃO TRISTE NO ROSTO. ABRAÇA ÂNGELO FORTEMENTE.

SOPHIA                - (NÃO CONSEGUE CONTER AS LÁGRIMAS) Eu queria tanto ir morar com o senhor.

ÂNGELO              - Eu também queria que você fosse morar comigo, minha neta.

ÂNGELO BEIJA O ROSTO DE SOPHIA E FICA A OLHANDO COM AFETO. MIGUEL APARECE.

MIGUEL               - Eu vou sentir a sua falta, Sophia.

SOPHIA                - Eu também vou sentir a sua falta, Miguel.

MIGUEL E SOPHIA SE ABRAÇAM.

MIGUEL               - Jamais esqueça que eu te amo muito.

SOPHIA                - (DÁ UM LEVE SORRISO) Eu nunca vou esquecer.

MIGUEL TAMBÉM DÁ UM LEVE SORRISO E EM SEGUIDA TOCA O ROSTO DE SOPHIA. OS DOIS FICAM SE OLHANDO POR ALGUNS INSTANTES.
CORTA PARA:

CENA 06. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT/DIA
SOPHIA CHEGA EM CASA. FECHA A PORTA. NÃO PERCEBE QUE GABRIELA ESTÁ ATRÁS DELA.

GABRIELA          - O seu avô e aquele pequeno aprendiz de marginal já foram embora?

SOPHIA                - (VIRA-SE) Já, infelizmente.

GABRIELA          - Por que infelizmente? Você não precisa deles, você precisa apenas de mim.

SOPHIA                - Eu preciso deles sim... Eu quero ir morar com meu avô.

GABRIELA          - (DÁ UMA RISADA IRÔNICA) Querer não é poder, minha filha. Eu jamais permitiria que você fosse morar com aquele velho, eu jamais deixaria. Você não está pensando em seu avô, você está pensando naquele moleque imundo que você chama de amigo.

SOPHIA                - O Miguel é meu amigo... Ele me ama, ao contrário de você.

GABRIELA          - Que amor ele tem por você? Vocês é apenas uma criança ingênua. Ele também é uma criança, mas é muito esperto. Ele é tão esperto que já conseguiu confundir a sua mente.

SOPHIA                - O Miguel não confundiu a minha mente, porque quem está fazendo isso é você. Você está me confundindo com essa sua frieza, essa sua maldade.

GABRIELA          - Eu não sou uma pessoa má, Sophia, porque eu ainda nem mostrei o diabo que eu tenho por dentro. Mas se você continuar me importunando e dizendo que aquele moleque te ama, eu vou fazer de sua vida um verdadeiro inferno. Você não me conhece, garota.

SOPHIA                - (ENCARA GABRIELA) O Miguel me ama, assim como eu amo ele. Todo o amor que eu tenho por ele, é o amor que eu nunca vou sentir por você.

GABRIELA          - (GRITA) Cala a boca!

DESCONTROLADA GABRIELA DÁ UMA BOFETADA NO ROSTO DE SOPHIA. OS OLHOS DE SOPHIA ENCHERAM DE LÁGRIMAS, MAS ELA CONSEGUE SE CONTÊR PARA NÃO DERRAMÁ-LA.

GABRIELA          - (CONTINUA) Se você continuar agindo dessa forma, eu não vou te agüentar por muito tempo. Eu vou dar um jeito de me desfazer de você, nem que eu tenha que colocá-la em um abrigo para menores. Eu vou te abandonar, Sophia.

SOPHIA                - Mil vezes ir para um abrigo, do que continuar vivendo com você.
SOPHIA RETIRA-SE. GABRIELA DEIXA TRANSPARECER O ÓDIO EM SEU OLHAR.
CORTA PARA:

1° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 07. CURITIBA. STOCK-SHOTS.
SUCESSÃO DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO.

LETREIRO: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CENA 08. AP DE RAUL. SALA. INT/DIA
OUVIMOS BATIDAS NA PORTA. RAUL ABRE A PORTA E SE DEPARA COM A AMANTE. GABRIELA ENTRA E RAUL FECHA A PORTA.

RAUL                    - A nova viúva de Curitiba finalmente veio.

GABRIELA          - (SUPERIOR) Eu não suporto essa sua ironia.

RAUL                    - Você também é irônica, Gabriela, e digo que essa é uma das melhores formas de se levar essa droga de vida.

GABRIELA          - Olha só quem está dizendo qual é uma das melhores formas de se levar a vida. Me poupe, Raul!

RAUL PEGA GABRIELA PELA CINTURA E FICA OLHANDO PARA ELA POR ALGUNS SEGUNDOS.

RAUL                    - Você veio pra matar as saudades, então vamos começar isso de uma vez.

GABRIELA          - Eu preciso conversar antes.

RAUL                    - Conversar, Gabriela? Eu não quero conversar, eu quero...

GABRIELA          - (INTERROMPE) Se você não me ouvir, eu vou embora.

RAUL FICA INCONFORMADO E SENTA-SE NO SOFÁ.

RAUL                    - Está bem... O que você quer conversar?

GABRIELA          - Eu não sei o que vou fazer de minha vida. O Marcelo morreu e parece que tudo desabou de vez. Pelo menos, eu tinha a esperança de que ele arranje um emprego digno, que pagasse bem, e conseguisse manter a mim e àquela garota.
RAUL DÁ UMA RISADA E GABRIELA FICA O OLHANDO SEM ENTENDER O MOTIVO DAQUILO.

RAUL                    - Ah, Gabriela!

GABRIELA          - Do que você tá rindo? Eu estou falando sério com você.

RAUL                    - Gabriela, vá trabalhar! (GABRIELA FICA INDIGNADA. RAUL CONTINUA) Vá procurar um serviço pra sustentar você e sua filha, apesar de que você nunca fez nada da vida e vai ser difícil arranjar algo que pague bem.

GABRIELA          - Você não tem o direito de me dizer isso, afinal nunca colocou um serviço nesse corpo. Você é um vagabundo! Nem sei como você consegue se mantêr aqui, nesse chiqueiro.

RAUL                    - Eu dou o meu jeito... Eu tenho o meu modo de sobrevivência.

GABRIELA          - (O ENCARA) Fazendo o quê? Lidando com coisas ilícitas?

RAUL                    - Nesse mundo é assim mesmo, Gabriela, cada um com seu modo de sobrevivência: alguns trabalham honestamente, outros preferem seguir o caminho mais fácil... E lucrativo, eu diria.

GABRIELA          - (DESESPERADA) O que eu vou fazer da minha vida?

RAUL A ENCARA DA CABEÇA AOS PÉS.

RAUL                    - Você é uma mulher bonita... Tem um corpo atraente.

GABRIELA          - Não é hora de elogios.

RAUL                    - Você ainda não entendeu, Gabriela?

GABRIELA          - O que você está querendo me dizer com essas coisas, então?

RAUL E GABRIELA SE ENCARAM. NAQUELE OLHAR, RAUL TENTA PASSAR ALGUM TIPO DE PENSAMENTO PARA GABRIELA. ELA PERCEBE EM ALGUNS INSTANTES.

GABRIELA          - Nem pensar! Eu jamais me submeteria a isso.

RAUL                    - É o que te resta, Gabriela!

GABRIELA          - Jamais, Raul, jamais!

RAUL                    - (SORRI) Nem como garçonete você quer trabalhar?

GABRIELA          - Não era isso que você estava tentando me dizer e, mesmo se fosse, eu também não me submeteria de jeito nenhum.

RAUL                    - É o que te resta, Gabriela... Você não tem saída!

GABRIELA          - Você só pode estar louco.

RAUL                    - (SORRI NOVAMENTE) Pense nisso... Mas pense com bastante carinho.

GABRIELA          - (IRRITADA) Palhaço!

GABRIELA PEGA A BOLSA E VAI EMBORA. RAUL FICA RINDO SARCASTICAMENTE POR ALGUNS SEGUNDOS.
CORTA PARA:

CENA 09. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT/DIA
A CAMPAINHA TOCA. SOPHIA ABRE A PORTA. SURGE LEONARDO COM UM SORRISO NO ROSTO.

LEONARDO        - Oi!

SOPHIA                - (SORRI) Oi, Leonardo! Entre!

LEONARDO ENTRA. OBSERVA TUDO. PROCURA POR GABRIELA.

LEONARDO        - E a sua mãe?

SOPHIA                - Ela saiu.

LEONARDO        - (SURPRESO) E te deixou aqui sozinha?

SOPHIA                - Sim.

LEONARDO        - Você é muito nova pra ficar sozinha em casa. A sua mãe disse aonde iria?

SOPHIA                - Não... Ela não disse.

A PORTA SE ABRE E GABRIELA ENTRA. SOPHIA RETIRA-SE.

GABRIELA          - Leonardo?
LEONARDO        - Gabriela, eu cheguei aqui e a Sophia estava sozinha.

GABRIELA          - (MENTE) Eu fui procurar um emprego. Tenho que dar um jeito na minha vida.

LEONARDO        - Que bom que você está procurando um emprego, mas saiba que pra Sophia não irá faltar nada.

GABRIELA          - (ESTRANHA) Como assim?

LEONARDO        - Eu vou ajudá-la, Gabriela. Vou fazer isso porque gosto de Sophia e porque o Marcelo foi o meu melhor amigo. Eu gostava muito dele.

GABRIELA          - Fico agradecida, mas eu não quero a sua ajuda.

LEONARDO        - Você não está em condições de negar ajuda, Gabriela.

GABRIELA          - Eu já disse que eu não quero a sua ajuda, Leonardo... Entenda isso.

LEONARDO        - Gabriela, por favor, não complique! A Sophia é apenas uma menina e precisa de uma boa alimentação, uma boa escola e tudo que uma criança tem direito.

GABRIELA          - (RETIRANDO-SE) Já que você quer assumir uma responsabilidade que era do Marcelo, arque com tudo e mais um pouco.

LEONARDO        - Você também tem que fazer sua parte, Gabriela, você mesma me disse agora há pouco que está procurando um trabalho. Eu espero que você consiga de imediato.

GABRIELA          - (VIRA-SE PARA LEONARDO) Veio me dizer só isso?

LEONARDO        - Não, nós temos que conversar.

GABRIELA          - (DE MÁ VONTADE) Sobre o quê?

LEONARDO        - Eu me comprometi a levar a Sophia de duas em duas semanas à fazenda do avô dela.

GABRIELA          - (INDIGNADA) E quer a minha permissão?

LEONARDO        - Gabriela, o Seu Ângelo é avô da Sophia. Ele gosta muito dela. Você não pode privá-lo de ver a neta, assim como você não pode privar a sua própria filha de ver o avô.
GABRIELA          - A Sophia não quer apenas ver o avô, ela quer ficar perto daquele moleque.

LEONARDO        - Aquele menino parece gostar muito da Sophia.

GABRIELA          - Você está enganado, Leonardo, aquele garoto é muito esperto e ainda vai arranjar uma forma de se aproveitar da minha filha. Você já sabe o que ele aprontou comigo?

LEONARDO        - O Marcelo me contou, mas eu acredito que tenha sido os pais do menino. Aquele garoto é apenas uma criança, Gabriela, ele não tem jeito de quem roubaria uma joia.

GABRIELA          - A sua opinião pouco me importa, Leonardo. Eu só sei que não quero a minha filha convivendo com aquele aprendiz de marginal.

LEONARDO        - E o Seu Ângelo, como fica?

GABRIELA          - Ele não gosta nem um pouco de mim.

LEONARDO        - Isso não me importa, Gabriela! Ele não gosta de você, mas gosta da neta. Você quer que ele entre na justiça?

GABRIELA          - (INDIGNADA) Pra tirar a minha filha de mim?

LEONARDO        - Pra ter direito de ver a neta. Não proíba a Sophia de ver o avô, porque se ele entrar na justiça, você não terá dinheiro pra pagar um advogado que a defenda na causa.

GABRIELA          - (SÉRIA) E você pra que serve?

LEONARDO        - Eu ficaria ao lado do Seu Ângelo. Ele já me consultou sobre isso e eu expliquei algumas coisas.

GABRIELA          - Então quer dizer que ele tinha a intenção de tirar a Sophia de mim?

LEONARDO        - Não foi isso que eu disse, Gabriela. Ele apenas quer ver a neta.

GABRIELA DÁ UMA RISADA IRÔNICA. DÁ ALGUNS PASSOS PENSATIVA. CHEGA A UMA CONCLUSÃO.

GABRIELA          - Eu vou deixar a Sophia ver o avô.

LEONARDO        - (DÁ UM SORRISO) Que bom, Gabriela... Que bom que você tomou uma decisão coerente.

GABRIELA          - Mas você tem que me prometer algo, Leonardo.

LEONARDO        - O quê?

GABRIELA          - Você não vai deixar a Sophia se aproximar daquele moleque. Se ela quer poder ver o avô, ela verá. Agora, ver aquele moleque, nem pensar!

LEONARDO        - Está bem!

LEONARDO CONTINUA SORRINDO, PENSATIVO.
CORTA PARA:

CENA 10. CURITIBA. STOCK-SHOTS
SUCESSÃO DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO.

LETREIRO: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CENA 11. ESTRADA. CARRO DE LEONARDO. INT/DIA
LEONARDO DIRIGE SEU CARRO RUMO A CAMPO BONITO. SOPHIA ESTÁ JUNTO. NOTAMOS CERTA FELICIDADE VINDA DE SOPHIA. LEONARDO A OLHA PELO RETROVISOR.

LEONARDO        - A sua mãe me fez prometer que eu não deixaria você se aproximar mais do Miguel.

SOPHIA OLHA PARA LEONARDO COM UMA EXPRESSÃO TRISTE.

SOPHIA                - Você vai me proibir de ver o Miguel?

LEONARDO DÁ UM SORRISO, OLHA A MENINA E, LOGO EM SEGUIDA, VOLTA A PRESTAR A ATENÇÃO NA ESTRADA.

LEONARDO        - Eu jamais te proibiria de ver seu amigo.

SOPHIA                - (DÁ UM LEVE SORRISO) Mas você prometeu pra minha mãe.

LEONARDO        - (SORRINDO) E você quer que eu cumpra?

SOPHIA                - É claro que não.

LEONARDO        - O seu pai não tinha nada contra sua amizade com aquele menino. Eu não posso te afastar de alguém que você gosta muito. Se essa amizade te faz bem, eu também irei ficar bem.

SOPHIA                - Obrigado, Leonardo! Eu sempre soube que você é uma pessoa boa.

LEONARDO        - (SORRI) Eu só estou garantindo os meus pontos com o Papai do Céu.

SOPHIA DÁ UMA GARGALHADA.

SOPHIA                - Que Deus te pague, Leonardo!

LEONARDO        - Ele já está pagando ao me permitir ver esse lindo sorriso em seu rosto. Já chegamos!

O CARRO ENTRA PELA PORTEIRA DA FAZENDA DE ÂNGELO.
CORTA PARA:

CENA 12. FAZENDA DE ÂNGELO. CASA GRANDE. VARANDA. EXT/DIA
O CARRO DE LEONARDO ESTACIONA EM FRENTE À CASA GRANDE. SOPHIA DESCE DO CARRO. MIGUEL A VÊ E DÁ UM LINDO SORRISO.

MIGUEL               - Sophia!

SOPHIA                - Miguel!

OS DOIS SE ABRAÇAM E FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES. EM SEGUIDA OS DOIS AFASTAM-SE.

MIGUEL               - Eu achei que nunca mais fosse te ver.

SOPHIA                - Eu também pensei.

ÂNGELO APARECE CONTENTE.

ÂNGELO              - Minha neta querida!

SOPHIA                - Vovô!

ÂNGELO E SOPHIA SE ABRAÇAM FORTEMENTE.

ÂNGELO              - Como você está, meu anjo?

SOPHIA                - Muito triste... Eu sinto saudades do meu pai.

ÂNGELO              - Eu também sinto muita falta dele.

SOPHIA                - O que me conforta é que eu ainda poderei ver o senhor e o Miguel. E ganhei um novo amigo, o Leonardo.

LEONARDO SORRI AO SER MENCIONADO POR SOPHIA. ÂNGELO OLHA PARA LEONARDO. LEVANTA-SE. PEGA NO OMBRO DE LEONARDO.

ÂNGELO              - Obrigado, Leonardo, por ter trazido a minha neta.

LEONARDO        - Eu apenas estou cumprindo o que lhe prometi, Seu Ângelo.

ÂNGELO              - Vamos entrar?

LEONARDO        - Vamos!

ÂNGELO              - (PARA SOPHIA) Sophia, eu preciso conversar com o Leonardo. Na hora do almoço, pode vir com o Miguel.

SOPHIA                - (SORRI) Está bem, vovô!

ÂNGELO E LEONARDO ENTRAM NO CASARÃO. SOPHIA VIRA-SE PARA MIGUEL QUE A OLHA CONTENTE.

MIGUEL               - Vamos brincar?

SOPHIA                - Vamos!

MIGUEL ESTENDE SUA MÃO. SOPHIA A PEGA. OS DOIS FICAM SE OLHANDO POR ALGUNS INSTANTES E EM SEGUIDA CORREM PELO CAMPO. CONGELA EM “MIGUEL E SOPHIA” CORRENDO.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 08

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