Memória DNA | Com Amor | Capítulo 9



COM AMOR

Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
MIGUEL RODRIGUES

Direção de Núcleo
MIGUEL RODRIGUES
#DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES

Personagens deste capítulo

GABRIELA
LEONARDO
SOPHIA
MIGUEL
RAUL
ÂNGELO
CAROLINA
EVANDRO

Participação Especial:

BEATRIZ
GARÇOM
HOMEM
CANTORA
ELVIRA
















CENA 01. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.

GABRIELA ABRE A PORTA DO QUARTO. CAMINHA ATÉ A CAMA. DEITA-SE. ALGUN PENSAMENTOS COMEÇAM A ATORMENTAR A SUA MENTE.

FLASHBACK

RAUL                     É o que te resta, Gabriela. Você não tem outra saída.

GABRIELA VOLTA A SI. LEVANTA-SE E FICA OLHANDO-SE NO ESPELHO. DEPOIS DE ALGUNS SEGUNDOS, DESPE-SE. PEGA UM VESTIDO DECOTADO QUE JÁ NÃO VESTE HÁ MUITO TEMPO.

FLASHBACK

RAUL                     Você é uma mulher bonita, tem um corpo atraente.

GABRIELA ENCURTA O VESTIDO COM AS MÃOS E O DEIXA ACIMA DO JOELHO.
FUSÃO PARA:

CENA 02. CURITIBA. STOCK-SHOTS.

SUCESSÃO DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA DANDO IMPRESSÃO DE PASSAGEM DE TEMPO. VEMOS VÁRIOS ACONTECIMENTOS COM OS NOSSOS PERSONAGENS.

LETREIRO: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CENA 03. ESCOLA. FACHADA. EXT. DIA.

LEONARDO PARA O CARRO EM FRENTE A UMA ESCOLA. DEIXA A PORTA ENTREABERTA. SOPHIA APARECE. PUXA A PORTA DO CARRO E ENTRA.

LEONARDO        — E então, como foi o seu primeiro dia de aula na escola nova?

SOPHIA                — Ah, não foi muito legal... Ainda não conheço ninguém.

LEONARDO        — Logo, logo se acostumará e fará amiguinhos. Gostou da escola?

SOPHIA                — Gostei.

LEONARDO        — É uma escola particular e terá um ensinamento a que já estava acostumada.

SOPHIA                — (EMOCIONADA) Muito obrigada, Leonardo! Obrigada por tudo o que você está fazendo por mim.

LEONARDO        — (SORRI) Não precisa agradecer, querida.

LEONARDO FICA OLHANDO PARA SOPHIA E PERCEBE QUE UMA LÁGRIMA PERCORRE PELO ROSTO DA MENINA.

LEONARDO        — Você está chorando, menina?

SOPHIA                — É que, de alguma forma, você lembra meu pai.

LEONARDO        — O seu pai era um homem incrível.

SOPHIA DÁ UM LEVE SORRISO. SECA O ROSTO COM UM LENÇO QUE ELA TIRA DO BOLSO. FICA OLHANDO PARA LEONARDO.

SOPHIA                — O meu pai teve sorte de ter um amigo como você.

LEONARDO        — (SORRI) Eu é quem tive sorte, Sophia.

SOPHIA                — (PREOCUPADO) Você não tem que ir trabalhar?

LEONARDO        — Eu tirei uma “horinha” de folga. Vou te levar pra casa e depois vou pro meu escritório.

SOPHIA                — Ah...

LEONARDO        — Mas antes podemos tomar um sorvete, se você quiser, é claro.

SOPHIA                — (SORRI) É claro que eu quero!

LEONARDO        — Então vamos tomar um sorvete bem gostoso. Ponha o cinto de segurança.

SOPHIA OBEDECE LEONARDO E PÕE O CINTO DE SEGURANÇA. LEONARDO DÁ A PARTIDA.
CORTA PARA:

CENA 04. STOCK-SHOTS.

ANOITECE.

CENA 05. AP DE LEONARDO. SALA. INT. NOITE.

LEONARDO CHEGA EM CASA. BEATRIZ, A ESPOSA DE LEONARDO, APARECE. FICA O OLHANDO.

BEATRIZ              — Chegou mais tarde hoje.

LEONARDO        — Eu trabalhei por mais algumas horas.

BEATRIZ              — Trabalhou por mais algumas horas ou ficou até mais tarde no seu escritório porque “matou” uma parte do tempo de trabalho com a Sophia?

LEONARDO        — Não vejo nada de mais.
BEATRIZ              — Nada de mais, Leonardo? Você não é pai daquela menina.

LEONARDO        — Beatriz, a Sophia é filha do Marcelo, o meu grande melhor amigo que infelizmente, já não está mais entre nós.

BEATRIZ              — (SÉRIA) É essa a sua desculpa?

LEONARDO        — (SORRI) Espera aí, eu já estou entendendo tudo... Você está com ciúmes de mim com a Sophia.

BEATRIZ              — (INDIGNADA) Leonardo, eu jamais sentiria ciúmes de você com a Sophia.

LEONARDO        — É bom saber disso, afinal ela é apenas uma menina.

BEATRIZ              — Eu só não acho certo que você assuma um lugar que era do pai dela.

LEONARDO        — Eu não estou assumindo o lugar do Marcelo, ele é insubstituível.

BEATRIZ              — (INCONFORMADA) Eu não acho isso certo.

LEONARDO        Beatriz, nós não tivemos um filho. Eu gosto da Sophia, ela é uma menina encantadora. Se eu pudesse ocupar o lugar do Marcelo, eu faria isso, mas... Nenhum pai é substituível. Ainda mais um pai que a Sophia amou tanto e amará para o resto da vida dela.

BEATRIZ              — (ENCHE OS OLHOS D’ÁGUA) Eu devia ter te dado um filho, eu devia.

LEONARDO        — (APROXIMA-SE) Não se aflija desse jeito.

LEONARDO ABRAÇA BEATRIZ FORTEMENTE.

BEATRIZ              — Às vezes eu me sinto tão culpada.

LEONARDO        — Você não tem que se sentir culpada, Beatriz.

BEATRIZ SE DESPERENDE DOS BRAÇOS DE LEONARDO. ELE FICA A OLHANDO.

BEATRIZ              A partir do momento em que você convive cada vez mais com a Sophia, você também acaba se aproximando mais da Gabriela. Eu não gosto daquela mulher

LEONARDO        — (SORRI. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE) Ah, Beatriz... A Gabriela não me interessa nenhum um pouco. Eu sou um homem casado e ela é a viúva do meu melhor amigo. Eu sabia que você estava sendo ciúmes, só não sabia por qual motivo. Eu vou tomar um banho e depois virei jantar.
LEONARDO RETIRA-SE. BEATRIZ SENTA-SE NO SOFÁ. ESTÁ PENSATIVA.
CORTA PARA:

CENA 06. AP DOS MEIRELLES. COZINHA. INT. NOITE.

SOPHIA ESTÁ JANTANDO. GABRIELA APARECE VESTIDA DE MANEIRA SENSUAL. SOPHIA ESTRANHA A FORMA COMO A MÃE ESTÁ VESTIDA. FICA A OLHANDO. GABRIELA OLHA PARA A FILHA.

GABRIELA          — Porque está me olhando assim, garota?

SOPHIA                — Onde você vai vestida desse jeito?

GABRIELA          — (MENTE) Eu tenho um compromisso importante.

SOPHIA                — Compromisso? Você nunca teve compromissos.

GABRIELA          — (IRRITADA) E o que você tem a ver com isso, Sophia? Fique calada!

SOPHIA                — Vai me deixar sozinha agora à noite?

GABRIELA          — Vou... E não é para dizer a Leonardo.

SOPHIA                — (PREOCUPADA) Que horas você volta?

GABRIELA          — (DÁ UM SORRISO IRÔNICO) E esse olhar de quem está preocupada com a mamãe?

SOPHIA                — Eu não posso ficar sozinha até muito tarde, aliás, já é muito tarde.

GABRIELA          Não sei que horas vou voltar, garota. E não fique preocupada, nada de ruim irá acontecer com você, afinal “vaso ruim não quebra”.

GABRIELA RETIRA-SE. ABRE A PORTA, SAI E EM SEGUIDA TRANCA A PORTA AO SAIR. SOPHIA FICA PREOCUPADA.
CORTA PARA:

CENA 07. CURITIBA. HOTEL. SALÃO DE FESTAS. INT. NOITE.

GABRIELA CHEGA EM UMA FESTA EM UM HOTEL. SENTA-SE NA BANCADA. É ATENDIDA PELO GARÇOM. NA MESMA BANCADA, UM HOMEM A OBSERVA.

GARÇOM             — Um drink, senhorita?

HOMEM               — (INTERFERE) Faço questão de pagar esse drink para a bela mulher.

GABRIELA OLHA PARA O HOMEM. DÁ UM LEVE SORRISO. O GARÇOM COLOCA A BEBIDA NO COPO. ENTREGA PARA GABRIELA E SE RETIRA. O HOMEM INVESTE EM GABRIELA.

HOMEM               — (SORRINDO) Nunca a tinha visto por aqui.

GABRIELA          — É a primeira vez que venho aqui.

HOMEM               — E está gostando? Tem um astral ótimo. E está melhor agora.

GABRIELA          — (LANÇA UM OLHAR ATRAENTE) Sim... Eu estou gostando... Gostando muito.

UMA CANTORA SOBE AO PALCO E É APLAUDIDA. ELA AGRADECE OS APLAUSOS E EM SEGUIDA PEGA O MICROFONE E COMEÇA A CANTAR UMA MÚSICA ROMÂNTICA INGLESA, MUITO FAMOSA NOS ANOS 70. O HOMEM LEVANTA-SE. ESTENDE A MÃO PARA GABRIELA QUE PEGA EM SUA MÃO.

HOMEM               — Como é o seu nome?

GABRIELA          — (O FITA) Gabriela.

HOMEM               — Aceita dançar essa linda e envolvente canção, Gabriela?

GABRIELA          — (LEVANTA-SE DO BANCO) Aceito.

OS DOIS CAMINHAM ATÉ A PISTA DE DANÇA, ONDE OUTROS DOIS CASAIS DANÇAVAM. COMEÇAM A DANÇAR.

HOMEM               — Você é uma mulher muito atraente.

GABRIELA          — Me sinto lisonjeada ao receber um elogio de um homem tão sedutor quanto você.

HOMEM               — (DÁ UM SORRISO) Mas você já deve ta acostumada a receber elogios.

GABRIELA          — (SUSSURRA NO OUVIDO DO HOMEM) Não de um homem como você.

OS DOIS CALAM-SE E CONTINUAM A DANÇAR. GABRIELA ENCOSTA O QUEIXO NO OMBRO DO HOMEM.
CORTA PARA:

1° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 08. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. MADRUGADA.

SOPHIA ACORDA-SE. OLHA O RELÓGIO QUE MARCA 04:00HS DA MADRUGADA. LEVANTA-SE DO SOFÁ. VÊ QUE A TELEVISÃO ESTÁ LIGADA E A DESLIGA. VAI ATÉ O QUARTO DE GABRIELA E VÊ QUE ELA AINDA NÃO HAVIA CHEGADO. RETIRA-SE.
CORTA PARA:

CENA 09. STOCK-SHOTS.

AMANHECE.

CENA 10. MOTEL. QUARTO. INT. DIA.

GABRIELA ACORDA NA CAMA DE UM QUARTO DE MOTEL. OLHA PARA O LADO E VÊ ALGUMAS NOTAS EM DINHEIRO. SORRI. PEGA AS NOTAS. LEVANTA-SE. PÕE AS NOTAS DENTRO DE SUA BOLSA. PEGA SUAS ROUPAS. AS VESTE E SAI.
CORTA PARA:

CENA 11. AP DOS MEIRELLES. COZINHA. INT. DIA.

SOPHIA PREPARA O PRÓPRIO CAFÉ DA MANHÃ. FICA ALERTA QUANDO A PORTA SE ABRE. GABRIELA APARECE E SE DEPARA COM SOPHIA A OLHANDO.

GABRIELA          — Já está pronta pra escola?

SOPHIA                — Onde você passou a noite?
GABRIELA          — (OLHA SÉRIA PARA SOPHIA) Quem é você pra me fazer essa pergunta?

SOPHIA                — Eu passei a noite toda sozinha.

GABRIELA          — E qual é o problema, Sophia? Você já vai começar a fazer seu drama?

SOPHIA                — Você não podia ter me deixado sozinha, eu sou apenas uma criança.

GABRIELA          — (DÁ UMA GARGALHADA IRÔNICA) Não me faça rir, Sophia! Você é uma garota muito esperta, não tem que temer nada.

SOPHIA SENTE UM CHEIRO ESTRANHO. TAPA O NARIZ.

SOPHIA                — Que cheiro ruim é esse?

GABRIELA          — Deve ser o cheiro do café ruim que você acabou de fazer.

SOPHIA                — Não... É um cheiro de bebida. Você bebeu?

GABRIELA PERDE A PACIÊNCIA. PEGA SOPHIA PELO BRAÇO.

GABRIELA          Olha aqui, garota, você está me fazendo muitas perguntas, como se a adulta aqui fosse você e não eu. Acho melhor você tomar seu café de uma vez, porque a van da escola logo, logo irá chegar e buzinar lá fora. (SOPHIA SOLTA-SE DE GABRIELA. ESTÁ COM OS OLHOS MAREJADOS. GABRIEL CONTINUA) Já vai começar a chorar? Me poupe.

GABRIELA RETIRA-SE. SOPHIA NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS AO LEMBRAR-SE DA VEZ EM QUE MARCELO COMEÇARA A BEBER ANTES DE MORRER E MUITAS VEZES CHEGAVA EM CASA EMBRIAGADO.
CORTA PARA:

CENA 12. STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.

SUCESSÃO DE IMAGENS INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO. AS SAÍDAS DE GABRIELA FICAM CADA VEZ MAIS CONSTANTES. SOPHIA FICA CADA VEZ MAIS PREOCUPADA, POIS NÃO SABE O QUE REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO. AGORA MOSTRAMOS VÁRIOS PONTOS DE CURITIBA E FAZEMOS UM PARALELO ENTRE CURITIBA E CAMPO BONITO. PERCORREMOS TODA A REGIÃO ATÉ CHEGARMOS À CAMPO BONITO. FAZEMOS UMA GRANDE ANGULAR DE TODA A REGIÃO MOSTRANDO AS BELEZAS DE CAMPO BONITO.
FUSÃO PARA:

CENA 13. FAZENDA DE ÂNGELO. RIACHO. EXT. DIA.

SOPHIA E MIGUEL ESTÃO SENTADO À BEIRA DO RIACHO. SOPHIA ESTÁ TRISTE. PENSATIVA. MIGUEL NOTA A TRISTEZA DE SOPHIA. TOCA O ROSTO DA MENINA.

MIGUEL               — Você está triste, Sophia... Eu não gosto de te ver assim.

SOPHIA                — A minha mãe tem saído todas as noites, me deixa sozinha em casa e só volta pela manhã... Eu não sei o que está acontecendo.

MIGUEL               — A sua mãe não pode te deixar sozinha em casa.

SOPHIA                — Mas ela deixa. Eu estou tão triste. Eu queria tanto vir morar aqui com o vovô. Pelo menos a gente iria se ver sempre.

MIGUEL               — (SORRI) Te ver de duas em duas semana já é tudo pra mim. (MIGUEL OLHA O BRAÇO DE SOPHIA E VER UMA MARCA) Sophia, o que é isso no seu braço? (SOPHIA OLHA O BRAÇO E O TAMPA COM A MANGA DO VESTIDO. MIGUEL CONTINUA) Não adianta esconder, Sophia... Me fale!

SOPHIA                — (MENTE) Não é nada, Miguel.

MIGUEL               — (INSISTE) Você está mentindo pra mim.

SOPHIA                — Eu já disse que não é nada... Quer saber?... Eu vou voltar pra fazenda. (SOPHIA LEVANTA-SE E MIGUEL A PUXA PELA CINTURA) Me solte, Miguel!

MIGUEL               — Eu só não te peguei pelo braço, porque com essa marca, o seu braço deve está doendo, não está?

SOPHIA                — Você está me deixando brava.

MIGUEL               — Eu estou bravo com você porque não quer me falar a verdade... A sua mãe anda te batendo, não é? Você tem que falar isso para o Leonardo.

SOPHIA                — Ela não me bateu.
MIGUEL               — Então como ela conseguiu deixar essa marca no seu braço?

SOPHIA                — Às vezes, quando ela se irrita comigo, ela me pega pelo braço e aperta forte.

MIGUEL               — É uma forma de bater também.

SOPHIA                — Não, você está enganado.

MIGUEL               — (COM OS OLHOS MAREJADOS) Ela anda te machucando, Sophia. Você está triste... Mal consegue colocar um lindo sorriso no rosto como fazia antes.

SOPHIA                — (NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS) A minha mãe não gosta de mim. Ela passou a sentir mais raiva depois que meu pai morreu. Tem vezes que ela fala tão mal dele, tão mal que me machuca. Machuca mais que as marcas que ela deixa em meus braços ou as bofetadas que eu recebo.

MIGUEL TAMBÉM NÃO CONSEGUE CONTER AS LÁGRIMAS. DÁ UM FORTE ABRAÇO EM SOPHIA. OS DOIS FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES.

MIGUEL               — Eu queria tanto que você morasse aqui pra eu poder te proteger sempre. Você tem que falar pro Leonardo... Só ele pode te ajudar.

SOPHIA                — Se eu contar... Tenho medo da reação da minha mãe.

MIGUEL               — (OLHA SERIAMENTE PARA SOPHIA) Sophia, você não pode ter medo da sua mãe.

SOPHIA                — Miguel, você não conhece a minha mãe.

MIGUEL               — Se você falar pro Leonardo o que a sua mãe está fazendo, talvez o Seu Ângelo possa entrar na justiça e pedir a sua guarda.

SOPHIA                — Como você sabe dessas coisas?

MIGUEL               — Há algum tempo atrás, o Seu Ângelo me explicou e eu entendi na hora... Eu sou um menino muito inteligente.

SOPHIA                — (DÁ UM LEVE SORRISO) Só você pra me fazer sorrir, Miguel.

MIGUEL               — Eu sei disso, Sophia... Eu sempre vou te amar, até que eu fique bem velhinho.

SOPHIA                — (SORRINDO) Já pensa na velhice?

MIGUEL               — Já. Penso que quando a gente estiver bem velhos, nós vamos viver discutindo feito dois rabugentos e você sempre vai querer ter a razão.

SOPHIA                — Você acha que eu sempre quero ter a razão?

MIGUEL               — Sim, acho.

SOPHIA                — Você é um bobo, Miguel.

MIGUEL               — E você é mais ainda. (SOPHIA DÁ UM SORRISO MAIS TRANSPARENTE) O seu lindo sorriso está começando a aparecer aos poucos.

SOPHIA CONTINUA SORRINDO PARA MIGUEL. EM SEGUIDA, DÁ UM BEIJO NO ROSTO DO MENINO. MIGUEL SAI CORRENDO.

SOPHIA                — Miguel, volte aqui!

MIGUEL               — (GRITA) Quero ver você me alcançar, sua molenga!

SOPHIA CORRE PARA TENTAR ALCANÇAR MIGUEL.
CORTA PARA:

CENA 14. STOCK-SHOTS. CAMPO BONITO/CURITIBA.

SUCESSÃO DE IMAGENS FAZENDO UM PARALELO ENTRE CAMPO BONITO E A CIDADE DE CURITIBA. AO CHEGARMOS EM CURITIBA, VAMOS DE ENCONTRO À FACHADA DO CONDOMÍNIO ONDE GABRIELA E SOPHIA MORAM. ADENTRAMOS O LOCAL.
FUSÃO PARA:

CENA 15. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE GABRIELA. INT. NOITE.

GABRIELA ESTÁ SENTADA NA CAMA. VEMOS UMA CAIXA AO SEU LADO. ELA CONTA UM DINHEIRO. SORRI.

GABRIELA          — É... O Raul tinha razão.

GABRIELA RESPIRA FUNDO. GUARDA O DINHEIRO NA CAIXA, LEVANTA-SE E EM SEGUIDA GUARDA A CAIXA NO ARMÁRIO.
CORTA PARA:

2° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 16.STOCK-SHOT.

AMANHECE.

CENA 17. CURITIBA. CONDOMÍNIO. FACHADA. EXT. DIA.

O CARRO DE LEONARDO PARA EM FRENTE AO CONDOMÍNIO. LEONARDO DESCE.

LEONARDO        — (PARA SOPHIA) Já está com saudades de seu avô e de Miguel?

SOPHIA                — Muita.

LEONARDO        — (SORRI) Então, tá...

LEONARDO ABRE A PORTA PARA SOPHIA DESCER. PERCEBE A MARCA VERMELHA NO BRAÇO DE SOPHIA.

LEONARDO        — Que marca é essa no seu braço, Sophia?

SOPHIA                — (OLHA A MARCA. MENTE) Eu cai de mau jeito.

LEONARDO        — Caiu no casarão ou foi brincando com o Miguel?

SOPHIA                — Brincando com o Miguel.

LEONARDO        — Se tivesse caído, você teria ralado o braço.

SOPHIA                — (SORRI. TENTA DISFARÇAR) Pois é... Estranho, não?

LEONARDO        — (DESCONFIADO) Estranho, sim! Muito estranho!

SOPHIA                — Tchau, Leonardo! Até qualquer hora!

SOPHIA ABRE A PORTA E A DEIXA ENTREABERTA APÓS SAIR DO CARRO. ENTRA NO CONDOMÍNIO. LEONARDO FICA PENSATIVO POR ALGUNS INSTANTES. FECHA A PORTA DO LADO DO PASSAGEIRO. CAMINHA ATÉ O OUTRO LADO. ENTRA E EM SEGUIDA DÁ A PARTIDA.
CORTA PARA:

CENA 18. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. DIA.

SOPHIA ENTRA EM CASA. DEPARA-SE COM RAUL APENAS DE CUECA. TOMA UM SUSTO.

SOPHIA                — (INDIGNADA) O que é isso?

RAUL                    — Então você é a Sophia? Que menina bonita, cara! Puxou a beleza da mãe.

SOPHIA                — (ASSUSTADA) Quem é você? O que está fazendo aqui?

RAUL                    — (PASSA A MÃO NO ROSTO DE SOPHIA) Não tenha medo, eu não mordo crianças!

SOPHIA                — (GRITA. EMPURRA RAUL) Não me toque!

RAUL                    — Ô... Além de bonita igual à mãe, também é bravinha? Que maravilha!

SOPHIA                — (NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS. GRITA) Saia de perto de mim.

GABRIELA APARECE COM UM CIGARRO NA MÃO E A VOZ ALTERADA.

GABRIELA          — Que gritos são esses? (TOMA UM SUSTO AO VER SOPHIA) Achei que fosse vir amanhã, Sophia, já que é feriado.

SOPHIA                — O Leonardo irá trabalhar amanhã e decidiu que viríamos hoje... Agora eu quero saber quem é esse homem?

GABRIELA          — (MEIO TONTA PELA EMBRIAGUEZ) É um primo da mamãe.

SOPHIA                — (REVOLTADA) Você nem tem primos.

RAUL                    — Primos podem surgir assim, de repente... Nunca se sabe... Não concorda, prima Gabriela?

RAUL DÁ UMA RISADA DEBOCHADA.

GABRIELA          — Concordo plenamente e assino embaixo.

GABRIELA TAMBÉM DÁ UMA RISADA DEBOCHADA, SÓ QUE BEM MAIS EXAGERADA. SOPHIA PARTE PRA CIMA DE RAUL.

SOPHIA                — Saia daqui!

RAUL                    — (A SEGURA A FORÇA PELO BRAÇO) Se acalme, garotinha... Eu não vou lhe fazer nenhum mal... Posso deixar você crescer, se você quiser, é claro. (SOPHIA MORDE O BRAÇO DE RAUL QUE DÁ UM GRITO. IRRITADO SOLTA SOPHIA) Menina do demônio no corpo... Eu vou arrancar cada um desses dentes de jacaré que você tem nessa boquinha.

SOPHIA                — (GRITA) Tente!

GABRIELA PEGA SOPHIA PELO BRAÇO E LHE DÁ UMA BOFETADA.

GABRIELA          — Cala a boca, peste! Os vizinhos podem acabar te ouvindo, diabo! (GABRIELA SOLTA SOPHIA QUE CAI NO SOFÁ. SOPHIA CHORA DESESPERADAMENTE. GABRIELA CONTINUA) Eu não vou me comover com as suas lágrimas, Sophia... Ninguém mandou você ser tão mal educada com a visita!

SOPHIA                — (OLHA SERIAMENTE PARA GABRIELA) Visita é? Ele é o seu amante... Deve ser por causa dele que você sai toda noite e me deixa aqui sozinha.

RAUL                    — (BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE) Se fosse só por causa de mim...

GABRIELA          — Cala a boca você também, Raul, porque eu não estou falando com você.

RAUL                    — (GRITA) Não fale desse jeito comigo, vadia!

GABRIELA          — (GRITA) Vá embora!

RAUL                    — Eu vou... Mas irei voltar para continuar te dando aquele “trato” que você gosta.

RAUL RETIRA-SE. VAI ATÉ O QUARTO E EM SEGUIDA VOLTA PARA A SALA VESTIDO. CAMINHA ATÉ A PORTA. A ABRE E SAI. SOPHIA CONTINUA NO SOFÁ CHORANDO. GABRIELA A OBSERVA.

GABRIELA          — Vai ficar aí, nesse sofá, chorando? Já está anoitecendo.

SOPHIA JÁ COM OS OLHOS VERMELHOS DE CHORAR, OLHA PARA GABRIELA. NÃO CONSEGUE CONTER A SUA RAIVA.

SOPHIA                — Eu tenho nojo de você.

GABRIELA          — (APROXIMA-SE DE SOPHIA) A sua rejeição não me afeta nem um pouco, garota.

SOPHIA                — Eu tenho ódio de você... Eu vou contar tudo pro Leonardo.

GABRIELA          — Tente! Faça isso, Sophia! Você só não sabe o que pode lhe acontecer depois disso.

SOPHIA                — (GRITA REVOLTADA) Eu não tenho medo de você.

GABRIELA          — (GRITA) Então é melhor ter, porque eu posso acabar...

GABRIELA TENTA INVESTIR SOBRE SOPHIA, MAS SE CONTÊM PARA NÃO FAZER UMA BESTEIRA AINDA MAIOR.

SOPHIA                — Você vai acabar com o quê? Você está me ameaçando? A minha própria mãe está me ameaçando?

GABRIELA          — (TENTA REVERTER A SITUAÇÃO) Não... Sophia, não foi o que eu quis dizer...

SOPHIA                — Você é louca.

SOPHIA SE RETIRA CORRENDO PARA O QUARTO.

GABRIELA          — (GRITA) Sophia, não foi o que eu quis dizer... Sophia!

GABRIELA ENCOSTA-SE CONTRA A PAREDE. FICA PENSATIVA.
CORTA PARA:

CENA 19. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. DIA.

SOPHIA TRANCA A PORTA DO QUARTO E SE ATIRA NA CAMA. NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS. LEMBRA-SE DE MIGUEL.

FLASHBACK

MIGUEL               — Eu queria tanto que você morasse aqui pra eu poder te proteger sempre. Você tem que falar pro Leonardo... Só ele pode te ajudar.

SOPHIA                — Se eu contar... Tenho medo da reação da minha mãe.

MIGUEL               — (OLHA SERIAMENTE PARA SOPHIA) Sophia, você não pode ter medo da sua mãe.

SOPHIA                — Miguel, você não conhece a minha mãe.

MIGUEL               — Se você falar pro Leonardo o que a sua mãe está fazendo, talvez o Seu Ângelo possa entrar na justiça e pedir a sua guarda.

VOLTAMOS PARA SOPHIA TRISTE. ELA PEGA UM PORTA-RETRATO COM A FOTO DO PAI E O COLOCA CONTRA O PEITO. CHORA INCONTROLAVELMENTE.
FUSÃO PARA:

CENA 20. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. TARDE.

MIGUEL ESTÁ DOENTE. SUA DE FEBRE E RESPIRA DE FORMA OFEGANTE. CAROLINA COLOCA UM PANO EM UMA ÁGUA MORNA E COLOCA NA TESTA DO MENINO. EVANDRO APARECE PREOCUPADO.

EVANDRO           — O que ele tem?

CAROLINA          — Ele está com febre e eu não consigo baixá-la um pouco.

ELVIRA APARECE E TOCA A TESTA DE MIGUEL.

ELVIRA                — Vamos levar esse menino pro hospital.

EVANDRO           — Mas é muito grave?

ELVIRA                — Ele pode ter uma convulsão e isso é muito perigoso, Evandro.

MIGUEL COMEÇA A SUSSURRAR ALGUMAS PALAVRAS.

EVANDRO           — O que ele está falando?

CAROLINA          — Sophia.

EVANDRO           — (IRRITADO) Sempre a Sophia. Esse apego, esse... Esse vício está causando até doença no menino.

CAROLINA          — Não fale asneiras, Evandro... Vamos levar nosso filho pro hospital da cidade.

MIGUEL CONTINUA A SUSSURRAR O NOME DE SOPHIA.
FUSÃO PARA:


CENA 21. CURITIBA. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. TARDE.

SOPHIA COLOCA O RETRATO DE MARCELO EM CIMA DA CÔMODA. FICA OLHANDO PARA O RETRATO POR ALGUNS INSTANTES.

SOPHIA                — Eu vou fazer isso por nós dois, pai.

SOPHIA BEIJA A PONTA DOS DEDOS E PASSA SOBRE O RETRATO DE MARCELO.
CORTA PARA:

CENA 22. STOCK-SHOT.

ANOITECE/ AMANHECE/ FIM DE TARDE.

CENA 23. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. FIM DE TARDE. DIA SEGUINTE.

A CAMPAINHA TOCA. GABRIELA ATENDE A PORTA. LEONARDO SURGE. GABRIELA FICA SURPRESA. ENCARA LEONARDO.

GABRIELA          — De novo aqui, Leonardo? Você não devia estar no trabalho? Hoje é segunda-feira, sabia?

LEONARDO        — Eu ainda faço alguma coisa da minha vida, Gabriela. E você? Até agora... Nada.

GABRIELA          — (OLHA PARA LEONARDO) Veio fazer o que aqui? Veio pegar a Sophia para algum passeio? Veio dar algum presentinho pra ela?

LEONARDO        — (SORRI) Acertou, Gabriela. Vim pegar a Sophia para um passeio... Vamos tomar um sorvete.

GABRIELA          — (DÁ UM SORRISO IRÔNICO) Hum... Um sorvete... (MUDA DE HUMOR. OLHA SERIAMENTE PARA LEONARDO. ALTERA A VOZ) Sabe qual é o seu problema, Leonardo? O seu problema é que a sua mulher não teve a capacidade de ter um filho e agora você vive “babando” a minha filha.

LEONARDO        — (FULMINA GABRIELA COM O OLHAR) Eu não admito que você fale comigo desse jeito. A minha vida com a minha esposa não tem nada a ver com você.

GABRIELA          — Então pare de viver atrás da Sophia... Só volte aqui quando você tiver que levá-la para ver aquele... O avô dela.

LEONARDO        — (SERIAMENTE) Eu gosto da Sophia.

GABRIELA          — Não me interessa! Eu sou a mãe dela e tenho todo o direito de querer que você não a veja, a não ser nos dias que você tiver que levá-la para Campo Bonito.

LEONARDO        — Gabriela, eu te peço...

GABRIELA          — (GRITA O INTERROMPENDO) Vá embora! Suma!

GABRIELA ABRE A PORTA DANDO PASSAGEM PARA QUE LEONARDO SAIA. LEONARDO FICA OLHANDO PARA GABRIELA POR ALGUNS SEGUNDOS E DEPOIS VAI EMBORA. GABRIELA BATE A PORTA. DESCONTROLADA, GABRIELA DÁ UMA GARGALHADA.

GABRIELA          — Eu vou dar um jeito de te afastar de vez da minha filha.

GABRIELA CONTINUA GARGALHANDO. CONGELA EM “GABRIELA”.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 09

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