SEGUNDA FASE
PRIMEIRO CICLO
Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES
Escrita com
Miguel Rodrigues
Direção
Miguel Rodrigues
Henzo Viturino
Henzo Viturino
Direção Geral
Miguel Rodrigues
Núcleo
DNA - Dramaturgia Novos Autores
Personagens deste capítulo
SOPHIA
CECÍLIA
MIGUEL
GABRIELA
ROGÉRIO
SUZANA
Participação Especial
GUARDA ESCOLAR/NILO (GARÇOM
DO BAR)/ ALBA (MÃE DE ANDERSON)/TAXISTA/ VELHO/ CAPANGA/ BADIDOS/POLICIAL 1 (MULHER)/
POLICIAL 2 (HOMEM)/ DR. JUNQUEIRA
CENA 01. STOCK-SHOT.
TAKES
DE CURITIBA MOSTRANDO AS PRINCIPAIS BELEZAS DA CIDADE. MUITA MOVIMENTAÇÃO ATÉ
CHEGARMOS NA FRENTE DO CONDOMÍNIO ONDE CECÍLIA MORA COM SEUS PAIS.
CORTA PARA:
CENA 02. AP DOS VIDAL. QUARTO DE CECÍLIA. INT. TARDE.
TRAVELLING
POR TODO QUARTO DE CECÍLIA, ATÉ ENCONTRARMOS SOPHIA SENTADA NA CAMA. ESPERA A
AMIGA. CECÍLIA ENTRA. SOPHIA LEVANTA-SE. OLHA PARA A AMIGA.
SOPHIA —
E então?
CECÍLIA — Esse negócio ficou rosa.
SOPHIA —
Então você está mesmo grávida. (CECÍLIA NÃO AGUENTA. COMEÇA A CHORAR) Não
chore, minha amiga, eu estou do seu lado.
CECÍLIA — Os meus pais jamais irão aceitar isso... Eu sou
apenas uma garota de dezessete anos.
SOPHIA —
Só que você não poderá esconder a verdade por muito tempo.
CECÍLIA — Eu não sei como vou dizer isso.
SOPHIA —
Eu posso te ajudar, Cecília.
CECÍLIA — Não, Sophia, ninguém pode me ajudar nesse momento. É algo que eu vou ter
que fazer sozinha, sem que ninguém esteja do meu lado.
SOPHIA — Mas eu sou a sua amiga.
CECÍLIA — Você
não está entendendo. Mesmo que você esteja ao meu lado, os meus pais não irão
me apoiar, eles não irão aceitar isso. Eu estou correndo o risco de ser expulsa
de casa.
SOPHIA — Cecília, você já está exagerando... Nós não estamos vivendo há vinte,
trinta anos atrás. Os seus pais terão que te apoiar, você não tem ninguém nesse
mundo a não ser eles mesmos... Eu estou ao seu lado para o que der e vier, mas
seus pais são insubstituíveis e você precisa deles nesse momento tão difícil.
CECÍLIA — A minha mãe talvez aceite, mas o problema é o meu pai. Ele jamais vai
aceitar esse fato... Ele irá querer me expulsar de casa.
SOPHIA — O seu pai não seria tão rude a esse ponto.
CECÍLIA — Mas
ele é... Você não o conhece, Sophia. O meu pai é um homem muito rude. Ele zela
os antigos costumes. Para ele, não existe o hoje e o agora, existe os valores
do passado que devem ser cumpridos.
SOPHIA — Mesmo assim, Cecília, eu não consigo acreditar que ele seria capaz de
te expulsar de casa... Afinal, você está grávida, esperando uma criança que
será neta dele.
CECÍLIA — Eu estou com tanto medo, tanto medo.
SOPHIA — Você tem que ser corajosa, minha amiga.
CECÍLIA — Eu não vou conseguir, Sophia, eu não vou conseguir.
SOPHIA — Você tem que ser forte, levantar a cabeça e contar a verdade aos seus
pais, eu estarei ao seu lado. (CECÍLIA NÃO CONSEGUE CONTER AS LÁGRIMAS) Você me
promete que irá falar a verdade? Que irá criar coragem? (CECÍLIA FICA QUIETA.
APENAS SOLUÇA) Cecília, uma boa parte do problema que você virá a ter com seu pai, pode
ser resolvido se o pai do seu filho assumir a paternidade.
CECÍLIA — Eu não sei quem é o pai.
SOPHIA — Como assim?
CECÍLIA — Eu não sei quem é o pai do meu filho.
SOPHIA — Você só pode estar brincando comigo.
CECÍLIA — Como eu brincaria com você no estado em que eu estou, Sophia?
SOPHIA — Me desculpe! Só que eu não consigo acreditar que você não sabe quem é
o pai de seu filho.
CECÍLIA — Eu já disse que eu não sei, eu não sei! (SOPHIA FICA BOQUIABERTA.
BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. CECÍLIA CONTINUA) O que houve, Sophia? Está
pensando o que todos pensam ou falam de mim?
SOPHIA — Eu não estou pensando nisso, eu estou tentando “digerir” esse fato
direito.
CECÍLIA — É
claro que você deve ter pensando. Todos sabem da minha fama naquela escola, até
mesmo os pais da maioria dos alunos já devem saber do que sou chamada por aí. A
sua mãe sabe e até mesmo tentou me ofender usando esse motivo.
SOPHIA — Eu não pensei nisso, até porque eu sou sua amiga.
CECÍLIA — E também porque me conhece e sabe que eu não sou uma santa.
SOPHIA — Ninguém
é santo, Cecília. Pelo menos, você apronta as suas sem esconder nada, ao
contrário de muita gente que “faz e acontece” e ainda se faz de inocente. Agora
nós temos que voltar ao que estávamos falando.
CECÍLIA — Eu não quero mais falar sobre isso.
SOPHIA — Como assim, Cecília, você não quer mais falar sobre isso?
CECÍLIA — Eu já tomei uma decisão.
SOPHIA — Vai falar com seus pais?
CECÍLIA — Não.
SOPHIA — Então o que você pretende, Cecília?
CECÍLIA — Eu não vou ter essa criança, eu não quero ter essa criança.
SOPHIA —
O que você está falando?
CECÍLIA — (FRIAMENTE) Que eu vou abortar esse bebê.
SOPHIA —
Você não seria louca... Abortar não é a melhor solução.
CECÍLIA — É algo tão fácil. Eu devo estar grávida há umas duas
semanas mais ou menos... Esse bebê ainda é um feto.
SOPHIA —
E por ser um feto, significa que você pode abortar?
CECÍLIA — É isso mesmo.
SOPHIA —
Você
está louca, Cecília! Não interessa se é um feto! Se você teve a coragem de agir
de forma inconsequente, tanto que nem sabe quem é o pai dessa criança, você
também terá que ter coragem pra levar essa gravidez até o fim e criar o seu
filho.
CECÍLIA — (GRITA) Eu não quero essa criança.
SOPHIA —
(GRITA) Uma criança que não tem culpa de nada... Eu não estou te reconhecendo,
Cecília, sinceramente. Eu esperava uma reação dessas de mim mesma, menos de
você que parecia ser tão... Tão determinada, tão “pra frente”.
CECÍLIA — Eu estou sendo determinada.
SOPHIA —
Não,
você está querendo agir de forma inconseqüente novamente. É apenas uma criança,
minha amiga. Uma criança que irá precisar de muito amor, uma criança que
precisará de uma mãe porque já nascerá sem um pai. Não faça essa criança
sofrer, por favor? (JÁ NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS) Não faça essa criança chorar por
não ter amor materno... Não faça essa criança sofrer, assim como eu sofri.
CECÍLIA — Você tem uma mãe, Sophia.
SOPHIA —
Uma
mãe que nunca pareceu estar presente, uma mãe que nunca soube demonstrar um
gesto verdadeiro de amor, de afeto, de qualquer tipo de sentimento bom. Se você
criar esse filho, eu imploro para que você dê todo o seu amor a ele. Afinal, é
uma apenas uma criança. (CECÍLIA FICA PENSATIVA. SOPHIA CONTINUA) Não vou ficar
te pressionando pra falar a verdade pros seus pais. Só quero que você pense em
tudo isso que eu te falei, mas pense principalmente nessa criança que é o seu
filho e não tem culpa de nada, não pediu pra vir ao mundo.
CECÍLIA — Eu preciso ficar sozinha, Sophia.
SOPHIA —
Tudo bem. Eu vou te deixar sozinha, mesmo não querendo.
CECÍLIA — Pode ficar tranqüila, eu não vou cometer nenhuma
loucura.
SOPHIA —
Eu sei disso.
SOPHIA
ABRE A PORTA. VAI RETIRA-SE, MAS É INTERROMPIDA POR CECÍLIA.
CECÍLIA — Sophia...
SOPHIA —
(VOLTA-SE) Fale, minha amiga.
CECÍLIA — Obrigada.
SOPHIA —
Não precisa me agradecer, Cecília... Eu estou agindo conforme a minha amizade e
o afeto que eu sinto por você.
CECÍLIA — Eu sei disso.
SOPHIA
FICA OLHANDO PARA CECÍLIA. DÁ-LHE UM BEIJO NA TESTA. VAI EMBORA. CECÍLIA
CONTINUA PENSATIVA.
CORTA PARA:
CENA 03. STOCK-SHOT.
MÚSICA
ADEQUADAMENTE FRENÉTICA ACOMPANHA OS TAKES DA CIDADE DE CURITIBA, ATÉ CHEGAR NA
FRENTE DO ALBERGUE ONDE MIGUEL ESTÁ HOSPEDADO.
CORTA IMEDIATO PARA:
CENA 04. ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL.
INT. TARDE.
MIGUEL
ESTÁ SENTADO NUMA POLTRONA. OLHA A PAISAGEM PELA JANELA DE SEU QUARTO. DE VEZ
EM QUANDO OLHA A HORA. PASSA AS MÃOS PELO ROSTO E CABELOS. LEVANTA-SE. CAMINHA
DE UM LADO PARA OUTRO NO QUARTO. PARECE ESTAR IMPACIENTE. OUVIMOS BATIDAS NA
PORTA. MIGUEL VAI ATENDER. AO VER QUE É SOPHIA, FAZ UMA EXPRESSÃO DE QUE ESTÁ
CHATEADO. SOPHIA SORRI. ENTRA NO QUARTO. MIGUEL FECHA A PORTA.
SOPHIA —
Você ficou me esperando, não é?
MIGUEL —
(CAMINHA ATÉ ELA) Fiquei.
SOPHIA —
Eu quero te pedir desculpas.
MIGUEL —
Não precisa me pedir desculpas... Eu só quero saber o por que de você não ter
vindo.
SOPHIA —
A Cecília estava precisando de mim... Ela está com alguns problemas.
MIGUEL —
Problemas? E são graves?
SOPHIA —
Você me fez essa pergunta com um tom de ironia.
MIGUEL —
Eu
não estou sendo irônico. Eu apenas quero saber se esses problemas de sua amiga
são graves, para que eu possa entender o motivo de você não ter vindo mais cedo
e ter me deixado aqui, te esperando praticamente o dia todo.
SOPHIA — E se não forem graves, o que tem? Sempre que a Cecília precisar de
mim, eu vou estar ao lado dela.
MIGUEL — E eu, Sophia?
SOPHIA — Miguel, você está sendo incoerente. Você se esqueceu que se não fosse
a Cecília, nós não estaríamos juntos novamente?
MIGUEL FICA PENSATIVO. BALANÇA A CABEÇA.
MIGUEL — Me desculpe, Sophia... Eu não queria dar a entender que eu estava
sendo...
SOPHIA — Não
precisa pedir desculpa Miguel. Só fique sabendo que a Cecília é a minha única
amiga, ela me serviu de apoio durante todos esses anos que eu passei longe de
você.
MIGUEL — Eu sei de tudo isso.
SOPHIA — É bom que você saiba mesmo.
MIGUEL — Você ficou brava comigo?
SOPHIA — Não, eu não estou brava com você.
MIGUEL — A Cecília está passando por algo grave?
SOPHIA — Eu não posso te dizer nada agora.
MIGUEL — Por quê? Você não confia em mim?
SOPHIA — Miguel, agora você foi longe! Eu tenho que ir embora.
MIGUEL — Eu apenas te fiz uma pergunta, Sophia.
SOPHIA — Você sabe muito bem que eu confio em você... Na verdade, é muito mais
do que isso... Você sabe que eu te amo muito.
MIGUEL — Eu também te amo muito, Sophia, muito. (SOPHIA DÁ UM LEVE SORRISO.
BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE) O que houve?
SOPHIA — Nós já estávamos quase discutindo novamente.
MIGUEL — É
verdade. Mas isso se tornará algo normal, de vez em quando, é claro. Afinal,
nós somos um casal, não somos mais apenas amigos.
SOPHIA — É um fato... E eu estou muito feliz por isso. Você é o meu único
motivo de felicidade, Miguel.
MIGUEL — E eu quero poder te feliz mais ainda, meu amor.
MIGUEL E SOPHIA SE APROXIMAM MAIS. FICAM SE OLHANDO
FIXAMENTE POR ALGUNS INSTANTES. BEIJAM-SE. VALORIZAR O BEIJO DOS DOIS.
CORTA
PARA:
CENA
05. STOCK-SHOT.
TAKES DE CURITIBA.
AMANHECE.
CORTA
PARA:
CENA
06. ESCOLA. ENTRADA. EXT. DIA.
SOPHIA ESPERA POR CECÍLIA. O SINAL BATE. O GUARDA
APARECE.
GUARDA —
Hora de ir pra sala.
SOPHIA —Eu estou esperando a minha amiga.
CECÍLIA APARECE. FICA OLHANDO PARA SOPHIA.
CECÍLIA — Achei que você já tivesse na sala.
SOPHIA — Resolvi ficar te esperando. Vamos!
SOPHIA E
CECÍLIA SE VÃO. ENTRAM NA ESCOLA.
CORTA PARA:
CENA 07. ESCOLA. CORREDORES. INT. DIA.
SOPHIA E
CECÍLIA CAMINHAM PELOS CORREDORES. ELAS PARAM. FICAM OLHANDO PARA TODOS OS
LADOS.
CECÍLIA — (DÁ UM LEVE SORRISO) Por que estamos agindo dessa
forma?
SOPHIA —
Eu
estou vendo se ninguém está por perto pra poder acabar nos ouvindo. Quero
conversar com você.
CECÍLIA — Podemos deixar essa conversa pro recreio.
SOPHIA — Nem pensar, Cecília! Você pensou em tudo o que eu te
falei?
CECÍLIA — Sim, eu pensei, Sophia.
SOPHIA — Que bom! E a qual conclusão chegou?
CECÍLIA — Eu vou procurar o Anderson.
SOPHIA — O Anderson? Por quê?
CECÍLIA — Eu acho que ele pode ser o pai do meu filho. Ele foi
o último cara com quem eu... Antes de todos esses sintomas começarem.
SOPHIA — Eu entendo... Mas você não me falou que tinha “andado” com o Anderson,
você deve saber muito bem que ele não é um bom sujeito.
CECÍLIA — Eu não te falei exatamente por isso. Muita gente
nessa escola diz que ele não presta, que ele não é um bom sujeito.
SOPHIA — E essas pessoas não estão erradas.
CECÍLIA — Será?
SOPHIA — Você ainda tem dúvida, Cecília? Como você pôde se
envolver com ele?
CECÍLIA — Eu estava me sentindo muito atraída por ele... Ele
também estava sentindo o mesmo por mim.
SOPHIA — Você tem noção de que um sujeito sem o mínimo de
caráter pode ser o pai do seu filho?
CECÍLIA — (INDIGNADA) Quem disse que ele não tem caráter,
Sophia?
SOPHIA — Você sabe muito bem o porquê dele ter sido afastado da escola. Pelo o
amor de Deus, Cecília, você não está enxergando isso? E se ele se envolve mesmo
com coisas pesadas, como a maioria dos alunos dessa escola fala? Que bom que
não ocorreu nada sério entre vocês dois, porque você poderia estar metida em
uma verdadeira roubada, quero dizer, pode ter acontecido algo sério; essa
criança que você está esperando.
CECÍLIA — Eu não vou discutir com você, Sophia.
SOPHIA — Eu não estou discutindo com você, Cecília, eu apenas estou tentando te
alertar sobre algo que pode ser realmente sério. Reze para que o Anderson não
seja o pai dessa criança, reze!
CECÍLIA — Nós estamos perdendo o primeiro período... O
professor Atílio não vai nos deixar entrar no período dele.
SOPHIA — Pouco me importa nesse momento... E também, eu não
gosto nem um pouco da matéria dele.
CECÍLIA — Prefiro a matéria dele, do que ouvir os seus
sermões.
SOPHIA — Eu não vou te levar a sério, Cecília. Vamos!
CECÍLIA — E se ele não deixar a gente entrar?
SOPHIA — A gente se livra dele por um dia.
CECÍLIA DÁ
UM LEVE SORRISO NOVAMENTE. ELAS ENGANCHAM OS BRAÇOS. RETIRAM-SE.
CORTA PARA:
1° INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 08. CURITIBA. BAR DE ESQUINA. INT.
DIA.
GABRIELA
ESTÁ SENTADA NUM BANCO PRÓXIMO AO BALCÃO. O GARÇOM APARECE. OLHA PARA GABRIELA
BEBENDO, VISIVELMENTE BÊBADA. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
NILO — Vamos parar por hoje, Dona Gabriela?
GABRIELA — (TOTALMENTE EMBRIAGADA) Não... Eu quero que você me
sirva mais um copo de cachaça. Eu quero mais cachaça. Serve a droga desse copo
agora!
MIGUEL
ENTRA NO ESTABELECIMENTO. OLHA PARA O LADO. VÊ GABRIELA E A RECONHECE.
FLASHBACK
GABRIELA — Abusado até demais... Olha aqui,
garoto, a Sophia não precisa de sua amizade. A minha filha vai crescer, se
tornar uma adolescente e conhecer pessoas do nível dela. Vocês nunca mais vão
se ver novamente.
MIGUEL — A Sophia me ama.
GABRIELA — A Sophia é apenas uma menina de
oito anos, ela não sabe o que é o amor e não é com você que ela irá sentir
isso.
MIGUEL — (QUASE CHORANDO) Você não vai
conseguir acabar com a nossa amizade.
GABRIELA DÁ UMA RISADA IRÔNICA. SE
APROXIMA MAIS DE MIGUEL.
GABRIELA — Essa amizade já está acabada.
MIGUEL
SE APROXIMA MAIS DA MULHER EMBRIAGA. FICA OLHANDO PARA ELA. GABRIELA BEBE MAIS
UM COPO DE CACHAÇA. OLHA PARA O LADO. FICA OLHANDO PARA MIGUEL.
GABRIELA — Por que está me olhando? (MIGUEL FICA QUIETO. SE CONTÉM
PARA NÃO EXPÔR SUA RAIVA) Ô! Eu te fiz uma pergunta, meu jovem... E atraente
rapaz. Está me achando bonita? É, eu sou bonita, mas já fui muito mais quando
mais nova. Sabe, você é um homem muito, muito atraente. Eu adoro homens jovens,
assim como você. São mais fogosos. (GABRIELA LEVANTA-SE. APROXIMA-SE DE MIGUEL.
COLOCA AS MÃOS SOBRE OS OMBROS DE MIGUEL. MIGUEL CONTINUA A ENCARANDO COM NOJO)
Não quer me levar para um lugar onde possamos conversar, beber e fazermos
coisas mais interessantes, coisas mais íntimas?
MIGUEL
FICA COM OS OLHOS MAREJADOS. VAI EMBORA.
NILO —
Espantou o freguês, Dona Gabriela!
GABRIELA — (GRITA) Ô, volte aqui, bonitão! (VIRA-SE DECEPCIONADA.
ORDENA) Sirva mais cachaça!
O
GARÇOM BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. SERVE MAIS CACHAÇA PARA GABRIELA.
GABRIELA PEGA O COPO ENTORNA TODO NA BOCA E EM SEGUIDA A LIMPA COM A MÃO. PÕE O
COPO EM CIMA DO BALCÃO.
CORTA PARA:
CENA 09. CURITIBA. PRAÇA. EXT. DIA.
MIGUEL
CAMINHA TRISTE PELA PRAÇA. SENTA-SE EM UM BANCO. ENTERRA A CABEÇA ENTRE OS
BRAÇOS. NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS. VÁRIOS FLASHES DE GABRIELA NO BAR PASSAM PELA
SUA MENTE.
CORTA PARA:
CENA 10. STOCK-SHOTS. TAKES DE
CURITIBA.
MEIO
DIA.
CORTA PARA:
CENA 11. ESCOLA. SAÍDA. EXT. MEIO
DIA.
O
SINAL TOCA ANUNCIANDO A SAÍDA DOS ALUNOS. OS PORTÕES SÃO ABERTOS. CECÍLIA SAI.
SOPHIA CORRE ATRÁS DA AMIGA.
SOPHIA —
Cecília!
CECÍLIA — Eu estou com pressa, Sophia!
SOPHIA —
Eu vou com você atrás do Anderson.
CECÍLIA — Não... Eu tenho que fazer isso sozinha.
SOPHIA —
Eu não posso te deixar sozinha.
CECÍLIA — Sophia, você é quem não pode ir a certos lugares,
sozinha.
SOPHIA —
O que você está querendo dizer com isso?
CECÍLIA — Que você é mais nova e eu sou mais velha.
SOPHIA —
Um
ano apenas mais velha... O que não significa que você não precise de minha
companhia.
CECÍLIA — Meu amor, não fique preocupada.
SOPHIA —
Não tem como eu não ficar preocupada, Cecília... Você está grávida e está a
ponto de ir atrás de um cara que tem um caráter duvidoso.
CECÍLIA — Ele mora em um apartamento com os pais... É lá que
eu vou atrás dele.
SOPHIA —
Você sabe onde é?
CECÍLIA — Se eu não soubesse, eu não iria.
SOPHIA —
Tem certeza que vai sozinha?
CECÍLIA — Tenho, Sophia.
SOPHIA —
Está bem... Eu não vou mais insistir. Vá com Deus!
CECÍLIA
DÁ UM LEVE SORRISO. PEGA NA MÃO DE SOPHIA.
CECÍLIA — Você não sabe o quanto está me confortando. Eu
estou feliz porque você se preocupa comigo, me dá sermões, tenta abrir a minha
mente.
SOPHIA —
E por que você age contrariamente?
CECÍLIA — Porque eu preciso errar... Eu preciso “quebrar a
cara”.
SOPHIA —
Mesmo assim, eu ainda não te entendo.
CECÍLIA — Você me entende sim, Sophia... Agora eu tenho que
ir.
SOPHIA —
E se
o Anderson não estiver no apartamento dos pais, você me promete que não vai
atrás dele em nenhum lugar estranho ou que seja longe demais? (CECÍLIA FICA
QUIETA) Cecília, você me promete?
CECÍLIA — Prometo, Sophia.
SOPHIA — Eu não senti confiança no seu tom de voz.
CECÍLIA — Eu já disse que prometo... Agora eu preciso ir.
SOPHIA — Está bem.
SOPHIA
E CECÍLIA SE ABRAÇAM. CECÍLIA RETIRA-SE. SOPHIA FICA INQUIETA. PREOCUPADA COM
CECÍLIA.
CORTA PARA:
CENA 12. STOCK-SHOT. TAKES DE
CURITIBA.
PARAMOS
EM FRENTE A UM CONDOMÍNIO EM ALGUM PONTO DE CURITIBA. ADENTRAMOS O LOCAL.
FUSÃO PARA:
CENA 13. CONDOMINIO. AP DA FAMÍLIA DE
ANDERSON. CORREDOR. INT. MEIO DIA.
CECÍLIA
BATE NA PORTA DO APARTAMENTO. UMA MULHER ABRE A PORTA. OLHA CECÍLIA DA CABEÇA
AOS PÉS.
ALBA —
Quem é você?
CECÍLIA — Oi! Eu sou amiga do Anderson. Ele se encontra?
ALBA —
O meu filho não aparece em casa já faz um mês.
CECÍLIA — Um mês?
ALBA —
Sim... Ele me telefonou há uma semana atrás, mas não me disse onde estava...
Mas ele não me falou sobre você.
CECÍLIA — Eu e ele somos apenas amigos, quer dizer, éramos
amigos... Já faz um bom tempo que ele não aparece na escola.
ALBA —
O meu filho seguiu um caminho obscuro, um caminho sem volta. É melhor que você
se afaste dele... É pro seu bem, garota.
CECÍLIA
FICA QUIETA POR ALGUNS INSTANTES. OLHA PARA A MULHER.
CECÍLIA — Obrigada pela a atenção, senhora... Adeus!
ALBA —
Adeus!
A
MULHER FECHA A PORTA. CECÍLIA VAI EM DIREÇÃO AO ELEVADOR. APERTA O BOTÃO. FICA
PENSATIVA.
CORTA PARA:
CENA 14. CONDOMÍNIO. ENTRADA. EXT. MEIO
DIA.
CECÍLIA
SAI DO PEQUENO E SIMPLES EDIFÍCIO. UM RAPAZ A SEGUE. A PEGA PELO BRAÇO COM
DELICADEZA. CECÍLIA ASSUSTA-SE.
CECÍLIA — Quem é você?
CAIO —
Eu vi você falando com a mãe do Anderson.
CECÍLIA — E o que você tem a ver com isso?
CAIO —
Eu não tenho nada a ver com isso, mas estou vendo que você quer muito saber
onde ele está.
CECÍLIA — Você sabe onde ele está?
CAIO —
Sei.
CECÍLIA — Se você me der essa informação, eu vou ficar muito
grata.
CAIO —
Ele está na Encruzilhada, a vila mais perigosa aqui de Curitiba.
CECÍLIA
FICA UM POUCO PENSATIVA. OLHA PARA CAIO. PERGUNTA.
CECÍLIA — E como eu faço pra chegar lá?
CAIO —
Só pegando um táxi, porque ônibus não entra lá.
CECÍLIA — Eu preciso muito falar com o Anderson, é algo muito
urgente.
CAIO —
Se
eu fosse você, não iria atrás dele, não. Aquela vila é muito perigosa e o
Anderson não está metido em boas coisas.
CECÍLIA — Ele não vai fazer nada contra mim.
CAIO —
A
questão não é ele, moça, a questão é as pessoas com quem ele está enturmado. É
gente da “barra pesada”!
CECÍLIA — Obrigada pela informação e obrigada por me alertar.
CECÍLIA
RETIRA-SE. ANTES DE ATRAVESSAR. PARA. PENSA NO QUE SOPHIA HAVIA LHE DITO.
FLASHBACK
SOPHIA — E se o Anderson não estiver no apartamento dos pais, você me promete que
não vai atrás dele em nenhum lugar estranho ou que seja longe demais?...
ELA
VOLTA A SI. ATRAVESSA A RUA. DÁ SINAL A UM TÁXI QUE SE APROXIMA. O TÁXI PARA.
CECÍLIA ENTRA.
FUSÃO PARA:
CENA 15. TÁXI. INT. MEIO DIA.
CECÍLIA
JÁ ESTÁ ABANCADA. O TAXISTA OLHA PARA CECÍLIA.
TAXISTA — Pra onde deseja ir, senhorita?
CECÍLIA — Encruzilhada.
TAXISTA — (ESPANTADO) Vila da Encruzilhada?
CECÍLIA — Sim.
TAXISTA — É um lugar perigoso, eu não me arrisco a entrar lá e acabar perdendo meu
táxi ou a minha própria vida.
CECÍLIA — Não precisa me deixar dentro da vila... Me deixe
apenas na entrada. Eu vou te pagar bem por esse serviço.
TAXISTA — Já que é só na entrada... Tudo bem!
O
MOTORISTA DÁ A PARTIDA E SEGUEM ATÉ A VILA DA ENCRUZILHADA.
CORTA IMEDIATO PARA:
CENA 16. VILA DA ENCRUZILHADA.
ENTRADA. EXT. INÍCIO DE TARDE.
O
TÁXI PARA EM FRENTE A ENTRADA DA VILA DA ENCRUZILHADA. CECÍLIA PAGA O TAXISTA.
TAXISTA — Tome cuidado, moça!
CECÍLIA — Obrigada!
CECÍLIA
DESCE. RETIRA-SE IMEDIATAMENTE. O TAXISTA A OBSERVA POR ALGUNS SEGUNDOS. DÁ A
PARTIDA NO TÁXI E SE VAI.
CORTA PARA:
CENA 17. VILA DA ENCRUZILHADA. RUA.
EXT. TARDE.
CECÍLIA
CAMINHA POR UMA RUA NÃO ASFALTADA. FICA OLHANDO PARA TODOS OS LADOS. PARECE
TEMER ALGO. ELA OLHA PARA AS PESSOAS DAQUELE LUGAR E TODAS PARECEM SER MAL
ENCARADAS. CECÍLIA APROXIMA-SE DE UM VELHO QUE ESTÁ EM FRENTE A UM BAR.
CECÍLIA — Boa tarde! Eu preciso de uma informação muito
importante.
VELHO —
(A OLHA DE CIMA A BAIXO) O que seria, moça?
CECÍLIA — O senhor conhece o Anderson? Ele é jovem, tem
cabelos crespos, moreno, alto, deve medir uns...
VELHO —
(INTERROMPE) Eu sei de quem a moça está falando.
CECÍLIA — Ele está aqui? Onde posso achá-lo?
VELHO —
Esse rapaz está em uma casa amarela, depois da estradinha do matagal... É lá
onde ficam os marginais da vila. Eu fosse a moça, não iria lá.
CECÍLIA — Eu preciso conversar com o Anderson, aliás, eu
preciso muito dele... Obrigada pela informação! E essa estradinha do matagal?
VELHO —
É só a moça seguir essa rua que vai dar bem lá, no matagal.
CECÍLIA — Obrigada!
CECÍLIA
RETIRA-SE. O VELHO FAZ SINAL PARA OUTRO E OS DOIS A SEGUEM. CECÍLIA NÃO PERCEBE
E SEGUE. CECÍLIA AVISTA O MATAGAL. SEGUE POR UMA ESTRADA DE BARRO QUE O CORTA
AO MEIO. CONTINUA ANDANDO. CECÍLIA PERCEBE QUE ESTÁ SENDO SEGUIDA. AUMENTA A
VELOCIDADE DOS PASSOS. OS DOIS HOMENS TOMAM UMA ATITUDE. UM DELES CORRE. PEGA
CECÍLIA PELOS BRAÇOS.
CECÍLIA — Me soltem! O que vocês querem comigo?
OS
DOIS HOMENS SE OLHAM. DÃO UMA RISADA DEBOCHADA. CECÍLIA ACABA NÃO CONTENDO AS
LÁGRIMAS DEVIDO AO NERVOSISMO E AO MEDO QUE ESTÁ SENTINDO. CONGELA EM “CECÍLIA”.
CORTA PARA:
2º INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 18. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
SUCESSÃO
DE IMAGENS DA CIDADE DE CURITIBA, ATÉ CHEGARMOS A UM PARQUE. VEMOS O MOVIMENTO
DE PESSOAS. PERCORREMOS TODO PARQUE ATÉ IRMOS DE ENCONTRO À SOPHIA E MIGUEL
SENTADOS EM UM BANCO.
FUSÃO
PARA:
CENA 19. PARQUE. BANCO DE SOPHIA E
MIGUEL. EXT. TARDE.
SOPHIA
ENCOSTA A CABEÇA NO OMBRO DE MIGUEL. MIGUEL OLHA PARA A NAMORADA. FAZ CARINHO
NELA.
MIGUEL –
Você está muito inquieta, sabia?
SOPHIA – Estou muito preocupada.
MIGUEL – Preocupada com quem?
SOPHIA – Com a Cecília.
MIGUEL – Por que você não me fala o que está acontecendo,
Sophia? Quem sabe eu posso te ajudar em algo.
SOPHIA – Se dependesse só de mim, Miguel, eu te falaria... Mas
isso é algo da Cecília.
MIGUEL – Só que eu não estou mais agüentando te ver assim...
Você está muito inquieta, muito nervosa. É algo muito sério?
SOPHIA – Eu não posso te falar nada, Miguel, entenda.
MIGUEL – E eu vou ficar aqui, te vendo desse jeito sem poder
fazer exatamente nada?
SOPHIA – Eu já estou indo embora.
SOPHIA
LEVANTA-SE. MIGUEL TAMBÉM.
MIGUEL – Já ficou irritada?
SOPHIA – Não, Miguel, eu tenho que ir embora mesmo.
MIGUEL – Antes que eu continue enchendo a sua paciência?
SOPHIA – Não coloque palavras na minha boca.
MIGUEL
PEGA SOPHIA PELA CINTURA. PASSA A MÃO NO SEU ROSTO.
MIGUEL – A sua boca... Será que com um beijo, vou te deixar
menos tensa?
SOPHIA – É tudo o que eu mais quero nesse momento, mas a minha
preocupação com a minha amiga é mais forte que isso.
MIGUEL – Se você me contar o que está acontecendo, eu tenho
certeza que poderei te ajudar de alguma forma.
SOPHIA – Você não poderá me ajudar de forma nenhuma.
MIGUEL – Mesmo assim, me diga! Não fique sufocando as coisas
dentro de você.
SOPHIA – A Cecília foi atrás de um rapaz.
MIGUEL – E o que isso tem de tão preocupante?
SOPHIA – Esse rapaz é
de caráter duvidoso. Todos lá, na minha escola, dizem que ele se envolve com
gente perigosa. E eu desconfio mesmo que isso não é apenas um boato, é algo que
realmente ocorre, porque ele apresentava mesmo um comportamento estranho.
MIGUEL – E por que a Cecília foi atrás dele? Você a alertou
disso?
SOPHIA – É claro que a alertei disso, mas ela já estava
decidida.
MIGUEL – E por que ela foi atrás dele?
SOPHIA – O motivo real eu não poderei lhe dizer, é pela minha
amiga.
MIGUEL – Está bem.
SOPHIA – Eu confio
em você por tudo que é mais sagrado, mas a Cecília não quer eu fale essa
história pra ninguém, apesar de que eu não falaria e nem tenho ninguém pra
falar, a não ser você mesmo.
MIGUEL – Eu te entendo, Sophia... E também não vou mais
insistir para que você me fale.
SOPHIA – Eu sabia
que você iria me entender. Agora eu estou mais preocupada ainda por receio de
que ela vá a um lugar mais longe, um lugar que ela não conheça e que seja
estranho.
MIGUEL – Pense que tudo está bem e que logo, logo a Cecília já
vai estar em casa.
SOPHIA – Se eu
conseguisse alimentar pensamentos positivos, mas isso é algo que se tornou
difícil em minha vida.
MIGUEL – Então trate de tornar isso fácil... A sua amiga está
bem, acredite.
SOPHIA
DÁ UM LEVE SORRISO. DÁ UM ABRAÇO FORTE EM MIGUEL.
SOPHIA – O que seria de mim sem você, Miguel? Eu acho que
estaria mais aflita ainda.
MIGUEL – Eu sempre vou estar com você.
MIGUEL
E SOPHIA FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES.
CORTA
PARA:
CENA 20. VILA DA ENCRUZILHADA.
MATAGAL. EXT. TARDE.
CECÍLIA
TENTA SE SOLTAR DOS BRAÇOS DO HOMEM QUE A SEGURA. NÃO CONSEGUE. ELA
DESESPERA-SE MAIS.
CECÍLIA - O que vocês querem de mim? Eu não tenho nada. (O
OUTRO HOMEM ABRE O ZÍPER DA
CALÇA. A OLHA COM DESEJO. CECÍLIA PERCEBE O QUE ESTÁ PRESTE A ACONTECER.
DESESPERA-SE MAIS) Por
favor, não façam nada disso comigo, eu imploro! Pelo amor de Deus, não façam
isso comigo! Eu estou grávida. (O HOMEM QUE A SEGURA, A DEITA NO CHÃO E O OUTRO
COMEÇA A RASGAR A ROUPA DELA. CECÍLIA GRITA) Não! Socorro!
NESTE
MOMENTO OUVEM-SE TIROS. OS DOIS MARGINAIS FOGEM. DEIXAM CECÍLIA CAÍDA AO CHÃO.
UMA POLICIAL ACOMPANHADA POR SEU COLEGA DE TRABALHO APARECE. AMPARAM CECÍLIA
QUE CHORA DESESPERADAMENTE POR CONTA DO SUSTO.
POLICIAL 1 - Você está bem? Eles fizeram alguma coisa com você?
CECÍLIA
CHORA. NÃO CONSEGUE RESPONDER.
POLICIAL 2 - Nós
temos que levá-la ao hospital mais próximo pra ver se ela foi abusada.
POLICIAL 1 - Então vamos levantá-la do chão.
A
POLICIAL A LEVANTA E O COLEGA A AJUDA. COLOCAM CECÍLIA NO BANCO DETRÁS DO
CARRO. SEGUEM PARA O HOSPITAL.
CORTA
PARA:
CENA 20. STOCK-SHOT. TAKES DE
CURITIBA.
SUCESSÃO
DE IMAGENS ATÉ CHEGARMOS À FRENTE DO HOSPITAL DA CIDADE.
CORTA
IMEDIATO PARA:
CENA 21. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INT.
TARDE.
ROGÉRIO
E SUZANA CHEGAM AO HOSPITAL. AMBOS ESTÃO DESESPERADOS.
ROGÉRIO - (GRITA PREOCUPADO) Cadê a minha filha?
SUZANA -
(QUASE CHORANDO) Rogério, tente se controlar, por favor?
ROGÉRIO - Eu não posso ficar calmo, eu quero saber onde está a
minha filha.
UM
MÉDICO APARECE NO CORREDOR. PARA AO VER O CASAL.
JUNQUEIRA - Vocês devem ser os pais da Cecília?
ROGÉRIO - Sim, nós
somos os pais dela. Cadê a minha filha, doutor? Como ela está?
JUNQUEIRA - Fique tranqüilo! Senhor Rogério... Não é isso?
ROGÉIRO - Sim, meu nome é este mesmo... E como está a minha
filha?
JUNQUEIRA - A sua filha está bem e o seu netinho também, Senhor
Rogério!
SUZANA -
(SEM ENTENDER NADA) Netinho?
ROGÉRIO - O que o
senhor está falando? Está maluco? O senhor deve estar confundindo a minha filha
com outra paciente.
JUNQUEIRA - Não
mesmo, Senhor Rogério. Espera um pouco... Os senhores não sabiam que a filha de
vocês está grávida?
SUZANA
FICA BOQUIABERTA. ROGÉRIO DÁ ALGUNS PASSOS PARA TRÁS. CAI SOBRE A CADEIRA. É
AMPARADO PELO MÉDICO E MAIS DOIS ENFERMEIROS QUE PASSAM PELA RECEPÇÃO NO
MOMENTO.
CORTA
PARA:
CENA 22. HOSPITAL. LEITO DE CECÍLIA.
INT. TARDE.
CECÍLIA
ESTÁ PENSATIVA. MUITAS VEZES SENTE VONTADE DE CHORAR AO LEMBRAR DA TERRÍVEL
CENA. A PORTA DO QUARTO SE ABRE. AO VER SOPHIA ENTRAR ACOMPANHADA POR MIGUEL,
CECÍLIA FICA MAIS ALIVIADA.
CECÍLIA - Achei que não fossem te deixar entrar.
SOPHIA -
Só me deixaram entrar porque o Miguel está me acompanhando... Ele já é maior de
idade... E como você está, minha amiga?
CECÍLIA - Eu estou bem.
SOPHIA -
Como é que você se enfiou naquele lugar, Cecília?
CECÍLIA - Eu
estava indo atrás do Anderson por uma estrada de barro, no meio do matagal,
quando eu percebi que havia dois homens me seguindo.
SOPHIA -
E eles fizeram alguma coisa com você?
CECÍLIA - Não, apenas rasgaram a minha roupa... Foi terrível!
CECÍLIA
NÃO SE CONTÉM. DERRAMA ALGUMAS LÁGRIMAS. SOPHIA ABRAÇA CECÍLIA.
SOPHIA -
Você não sabe o quanto eu fiquei preocupada, quando me ligaram daqui do hospital.
CECÍLIA - Eu pedi que te ligassem.
SOPHIA -
Eu já estava em
casa e daí eu tive que ser obrigada a ligar pro albergue e falei com o Miguel
para que ele viesse comigo. Não iriam deixar uma menor de idade entrar sozinha
em um hospital.
CECÍLIA - Que bom
que você veio, minha amiga. E também, pode ficar tranqüila, porque eu não vejo
nenhum problema do Miguel ter vindo junto.
MIGUEL -
E por que seria um problema?
CECÍLIA - (ENCABULADA) Porque eu não queria que ninguém
soubesse da minha gravidez.
MIGUEL -
Ah, eu já estava
desconfiando. Era isso que você estava me escondendo, Sophia? Me poupe!
SOPHIA -
Eu não ia te falar nada, Miguel!
CECÍLIA - Agora
não adianta mais... Logo, logo todos irão ficar sabendo mesmo.
SOPHIA -
E você já sabe que seus pais estão aqui?
CECÍLIA - Já... Eu vou ter que enfrentar o meu pai.
SOPHIA -
Eu estarei aqui com você, minha amiga.
CECÍLIA - Você não
poderá fazer nada, Sophia, o meu pai é uma pessoa impossível de se conversar.
SOPHIA -
Ele é como a minha
mãe então, só que não deve ser tão pior quanto ela.
CECÍLIA - Uma enfermeira disse que ele passou mal e está sendo
medicado.
SOPHIA
PASSA A MÃO PELOS CABELOS DE CECÍLIA. MIGUEL ABRAÇA SOPHIA. CECÍLIA OLHA PARA
OS DOIS. SORRI. MIGUEL E SOPHIA CORRESPONDEM O SORRISO.
CORTA
PARA:
CENA 23. HOSPITAL. SALA DE
ENFERMAGEM. INT. TARDE.
SUZANA
PASSA AS MÃOS NOS CABELOS DE ROGÉRIO, QUE ESTÁ SENTADO NUMA POLTRONA NA SALA DE
ENFERMAGEM. TOMA O MEDICAMENTO NA VEIA ARTERIAL.
SUZANA – Por favor, Rogério, não brigue com a nossa filha!
ROGÉRIO – A sua filha está grávida.
SUZANA – Ela é nossa filha.
ROGÉRIO - Uma filha que acabou de me dar a maior decepção da
minha vida.
SUZANA -
Que decepção, Rogério? Ela está grávida.
ROGÉRIO - Ela não
tem idade pra estar grávida, ainda nem completou o ensino médio e, muito menos,
é casada. É um verdadeiro escândalo! Você já viu uma adolescente grávida ser
bem vista pelos olhos da sociedade? Não, porque isso nunca ocorreu e nem irá
ocorrer. O que as pessoas irão falar de nós, Suzana? As pessoas irão dizer que
nós não soubemos criar a nossa filha, que ela foi criada solta e que está
grávida porque nós não demos uma boa educação e ela acabou aprontando isso.
SUZANA -
Rogério, os
tempos mudaram... As coisas já não são mais tão desse jeito como ainda há
vinte, trinta anos atrás.
ROGÉRIO - Você é
quem acha isso. Você e mais um monte de gente que acham que o mundo mudou, que
a sociedade é capaz de ser tão menos julgadora... Vão dizer que nossa filha
estava andando com um monte de rapazes, serão capazes até mesmo de inventar
certos boatos que eu prefiro nem comentar.
SUZANA -
(IRRITA-SE) É melhor que
você não comente mesmo, porque eu não estou preocupada com o que a sociedade
irá falar, eu estou preocupada com a minha filha e com essa criança que ela
está esperando.
ROGÉRIO - Pois
fique sabendo que eu não estou preocupado com a minha... Com a sua filha e nem
mesmo com essa criança. Eu não vou deixar que a Cecília estrague a vida dela e
acabe sujando a minha imagem, eu não quero ser taxado de “pai irresponsável”.
SUZANA -
Isso só prova
que você só se importa com a sua própria imagem, com o que os outros irão falar
ou não de você. Eu vou ver a minha filha.
SUZANA
ABRE A PORTA PARA SE RETIRAR, MAS É INTERROMPIDA AO OUVIR ALGUMAS PALAVRAS DE
ROGÉRIO.
ROGÉRIO - A Cecília não terá essa criança... É apenas um feto
e...
SUZANA -
(VIRA-SE) O que você está querendo dizer com isso, Rogério?
ROGÉRIO - É apenas
um feto, um aborto não seria algo tão perigoso ou inconveniente.
SUZANA -
Você não pode estar falando isso.
ROGÉRIO - A
Cecília ainda é uma adolescente. Um filho agora iria estragar a vida dela, iria
jogar todos os sonhos dela no lixo.
SUZANA -
Você não está
pensando em nossa filha, você está pensando em sua imagem novamente.
ROGÉRIO - Suzana, você tem que me entender.
SUZANA -
Eu jamais vou te
entender, Rogério, porque eu não esperava que você fosse me dizer essas
coisas... aliás, eu já devia esperar, afinal é típico que você trate seus
problemas dessa forma, sempre passando por cima das pessoas sem pensar nos
sentimentos de ninguém, sempre pensando em sua própria imagem.
ROGÉRIO - Eu não sou uma pessoa tão cruel assim.
SUZANA -
É, sim! Você está querendo agir de forma cruel.
ROGÉRIO - É a única saída para que o futuro de nossa filha não
seja arriscado.
SUZANA -
Eu não quero
mais falar com você hoje, Rogério. Não me dirija a palavra até que eu volte a
querer olhar na sua cara, se é que isso vai acontecer novamente.
SUZANA
ABRE A PORTA. RETIRA-SE. ROGÉRIO FICA PENSATIVO.
CORTA
PARA:
3° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 24. HOSPITAL. LEITO DE CECÍLIA.
INT. TARDE.
CECÍLIA
TOCA A SUA BARRIGA. SOPHIA A ADMIRA. FICA OLHANDO PARA A AMIGA.
SOPHIA -
Você teve sorte por aqueles policiais ter aparecido e ter te salvado das mãos
dos marginais.
CECÍLIA - Vocês conversaram com os policiais? Vocês sabem o
que eles estavam fazendo lá?
MIGUEL -
Eles haviam acabado de sair de um confronto.
CECÍLIA - (PREOCUPADA) Será que o Anderson estava metido nesse
confronto?
SOPHIA -
A policial me falou que morrera cinco bandidos, entre eles estavam um rapaz
jovem, moreno alto, com as mesmas semelhanças de Anderson.
CECÍLIA
NÃO SE CONTÉM. COMEÇA A CHORAR.
CECÍLIA - Só podia ser ele.
SOPHIA -
Cecília, você não pode ficar nervosa, já passou por um verdadeiro susto hoje.
CECÍLIA - O pai do meu filho pode ter morrido, eu não estou
acreditando nisso. Isso não pode ser verdade, Sophia.
SOPHIA -
E se for verdade, Cecília? Você continua viva e precisa ser forte, pois está grávida.
Há uma vida dentro de você.
CECÍLIA
FICA UM POUCO PENSATIVA. SECA AS LÁGRIMAS.
CECÍLIA - Vocês
podem me levar até em casa? Eu não quero ter que enfrentar meu pai agora.
SOPHIA - Sim... Nós podemos te levar em
casa.
MIGUEL - Sophia e eu viemos em meu
carro.
SUZANA ENTRA NO QUARTO. FICA EMOCIONADA AO VER CECÍLIA.
CECÍLIA - Mãe...
SUZANA - Minha filha... Ah, meu Deus!
SUZANA E CECÍLIA SE ABRAÇAM FORTEMENTE.
CECÍLIA - Mãe... A senhora me perdoa?
SUZANA - Minha filha, não tem porque você
me pedir perdão. Eu vou te apoiar sempre, fique sabendo disso.
CECÍLIA - E o meu pai?
SUZANA - Nós vamos conversar em casa.
Agora eu quero saber como você está. Fizeram alguma coisa com você, minha
filha? Aqueles marginais não te machucaram? Eu quero saber o porquê de você ter
ido a aquele lugar tenebroso, como deve ser pelo o que falam.
CECÍLIA - Eu fui procurar o pai do meu
filho.
SUZANA - (ESPANTADA) O pai do seu filho
mora naquela vila?
CECÍLIA - Não, mãe, ele estava lá por
vontade própria. Eu precisava ir atrás dele, eu precisava falar sobre o que
está acontecendo sem que a senhora e o papai descobrissem antes.
SUZANA - E você não o encontrou?
CECÍLIA - Não. Quando eu estava indo na
suposta casa onde ele estava, aqueles marginais me atacaram. Agora eu acabei de
descobrir que ele pode ter sido assassinado em um confronto de bandidos com a
polícia.
SUZANA - Um confronto de bandidos com a
polícia? Minha filha, agora você me deixou realmente apavorada! Quem era esse
rapaz com que você se envolveu? Como você pôde ter se envolvido com alguém da
laia dele?
CECÍLIA - Mãe, por favor, não me julgue!
SUZANA - Eu não estou te julgando, eu
apenas estou tentando entender o que te fez se envolver com alguém assim.
CECÍLIA - Eu já errei muito, mãe, não quero
mais cometer esses mesmos erros. A minha gravidez, por um lado, talvez vá me
servir de lição. Eu já aprontei muito.
SUZANA - Eu espero que você amadureça,
minha filha. Eu espero que você seja uma boa mãe, e eu sei que você vai
conseguir, afinal é forte e sempre corre atrás de seus objetivos.
CECÍLIA - Eu vou conseguir porque tenho a
senhora e a Sophia ao meu lado... E agora o Miguel, que acabou de mostrar que
também é meu amigo. Eu só temo a reação do meu pai.
SUZANA - Nós iremos enfrentar o seu pai
juntas. Ele não poderá fazer nada contra você, porque eu não vou deixar e
também porque ele tem que te apoiar, mesmo que isso não tenha sido algo que
esperávamos.
CECÍLIA - Eu te amo, mãe!
SUZANA - Eu também te amo, minha filha!
SUZANA E CECÍLIA SE ABRAÇAM NOVAMENTE. SOPHIA FICA AS OLHANDO.
EMOCIONA-SE.
MIGUEL - (SUSSURRA) O que houve, Sophia?
SOPHIA - Nada... Eu estava apenas
pensando.
MIGUEL - Pensando em que?
SOPHIA - Não quero falar agora, talvez
em alguma outra hora.
MIGUEL ABRAÇA SOPHIA. SUZANA E CECÍLIA CONTINUAM ABRAÇADAS.
CORTA PARA:
CENA 25.
STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
ANOITECE.
CENA 26. AP DE
GABRIELA E SOPHIA. SALA. INT. NOITE.
SOPHIA CHEGA A SUA CASA. GABRIELA APARECE. FICA OLHANDO SERIAMENTE PARA
SOPHIA.
GABRIELA - Onde você estava, garota, por que
demorou tanto pra chegar em casa hoje? Já é noite, sabia?
SOPHIA - Eu estava no hospital.
GABRIELA - No hospital?! Você sofreu algum
acidente, passou mal? Não parece ter passado por nenhum dos dois. Conta outra,
Sophia!
SOPHIA - A Cecília foi parar no
hospital e, então, ela mandou me chamar lá.
GABRIELA - E como você conseguiu entrar lá?
Menores de idade não entram desacompanhados. Com quem você foi ao hospital,
Sophia?
SOPHIA - Os pais da Cecília liberaram a
minha entrada e disseram que estavam comigo.
GABRIELA - Por que eu não estou acreditando em
você, garota? Por que eu sempre acho que tem uma peça faltando nessas
historinhas que você arranja como desculpa e me fala na maior cara-de-pau?
SOPHIA - Eu não estou arranjando
desculpa nenhuma... Eu te falei a verdade.
GABRIELA - Está bem, Sophia, eu vou “engolir”
essa história e fazer de conta que acreditei em tudo que você me falou... Mas
fique já sabendo que você não me enganará por muito tempo, eu vou descobrir o
que você anda aprontando.
SOPHIA - Eu não estou aprontando nada,
você é quem está ficando cada vez mais louca, deve ser o efeito das beberagens
freqüentes agindo de forma contraditória em sua mente.
GABRIELA SE IRRITA. PEGA SOPHIA PELO BRAÇO.
GABRIELA - Olha aqui garota, você me respeita!
SOPHIA - Você não merece respeito
nenhum, porque você nunca se deu ao respeito. (GABRIELA LEVANTA A MÃO PARA DAR
UMA BOFETADA EM SOPHIA. PARA. CONTROLA-SE RAPIDAMENTE). O que foi? Não vai me
dar uma bofetada como você já estava acostumada a me dar?
GABRIELA - Eu não quero envelhecer mais rápido,
seria tempo gasto à toa se eu me estressasse com você hoje.
SOPHIA ENCARA GABRIELA. DIRIGE-SE AO SEU QUARTO E TRANCA-SE. GABRIELA
BUFA DE RAIVA.
CORTA PARA:
CENA 27. AP DOS
VIDAL. QUARTO DE CECÍLIA. INT. NOITE.
CECÍLIA ENTRA EM SEU QUARTO. SENTA-SE NA CAMA. A PORTA SE ABRE. CECÍLIA
RESPIRA OFEGANTE PELO NERVOSISMO.
ROGÉRIO - Cecília...
CECÍLIA LEVANTA-SE. FICA OLHANDO PARA ROGÉRIO. ROGÉRIO TRANCA A PORTA.
COLOCA A CHAVE NO BOLSO.
CECÍLIA - Eu não quero brigar com o
senhor, eu sei que errei...
ROGÉRIO - Você nem me deixou começar ainda.
CECÍLIA - Mas...
ROGÉRIO - (A INTERROMPE. OLHA SERIAMENTE
PARA A FILHA) Cale a boca! Quem irá falar agora sou eu, está entendido? (T:
DECEPCIONADO) Eu estou muito decepcionado com você, eu jamais pude imaginar que
minha própria filha fosse me magoar dessa forma.
CECÍLIA - A minha gravidez é um motivo de
mágoa para o senhor?
ROGÉRIO - Eu já disse pra você calar a
boca. E é um motivo de mágoa, sim! Eu queria que você estudasse, fizesse uma
faculdade, corresse atrás de seus objetivos, para que depois você pensasse em
diversão, em homens, em um compromisso sério com alguém, um casamento e depois
engravidasse... Você me envergonhou da pior forma. E o que dói mais é saber que
essa criança que você está esperando pode ser filho de um bandido, um marginal
que morreu em um confronto com a polícia. Eu não criei a minha filha pra se
envolver com esse tipo de gente. Você é a vergonha da casa, Cecília!
CECÍLIA - Eu posso falar?
ROGÉRIO - Pode.
CECÍLIA - Eu sei que errei, mas o senhor
tem que entender que estou grávida e que eu preciso de apoio.
ROGÉRIO - Que apoio, Cecília? Se fosse em
outros tempos, eu já teria te expulsado dessa casa.
CECÍLIA - Só que nós não vivemos mais no
passado.
ROGÉRIO - Mas a minha vontade é de fazer
isso mesmo. A minha vontade é de te escorraçar daqui, com criança e tudo!
CECÍLIA - O senhor vive do passado.
ROGÉRIO - Vivo do passado, eu admito.
Naquela época, não aconteciam as coisas que estão acontecendo hoje em dia. E a
tendência é piorar cada vez mais.
CECÍLIA - Os tempos mudam, as coisas
mudam.
ROGÉRIO - E os jovens inconseqüentes, assim
como você, se aproveitam cada vez mais usando esse pensamento... Se eu fosse
você, pensaria mil vezes antes de estragar a minha vida com essa gravidez.
CECÍLIA - Eu não vou estragar a minha
vida, é apenas uma criança que nem veio a Terra ainda. Uma criança inocente que
não tem culpa de nada.
ROGÉRIO - Você vai estragar a sua vida,
sim! O que vai ser de você, Cecília? Você é apenas uma adolescente, não
trabalha e nem faz nada da vida a não ser estudar mesmo.
CECÍLIA - A minha mãe vai me ajudar a
criar o meu filho.
ROGÉRIO DÁ UMA RISADA IRÔNICA. OLHA SERIAMENTE PARA CECÍLIA.
ROGÉRIO - A sua mãe vai te ajudar? Tem
certeza?
CECÍLIA - É mais do que certeza, uma mãe
de verdade jamais abandona o seu filho. A minha mãe está do meu lado, ela vai
me ajudar.
ROGÉRIO - (GRITA) Com que dinheiro? Com o
meu dinheiro? (T: FICA OLHANDO SERIAMENTE PARA CECÍLIA) Cecília, a sua mãe não
tem nada que seja realmente dela. Tudo que ela tem é as minhas custas. A sua
mãe não vai poder te ajudar, nem mesmo dar nada a essa criança que você está
esperando, porque o dinheiro é meu. Eu quero ver como você irá sustentar essa
criança. Você pode até continuar morando nessa casa, mas não irá ter nada a
partir de hoje. Se vire!
CECÍLIA - (NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS) O senhor
não pode fazer isso comigo.
ROGÉRIO - Ninguém mandou você engravidar
tão jovem. Agora eu vou ter que agüentar certas pessoas falando mal de mim,
dizendo que eu fui irresponsável, que eu e sua mãe não lhe demos uma boa
educação, te criamos solta e aí você aprontou isso.
CECÍLIA - Eu estou esperando o seu neto.
ROGÉRIO - E daí?
CECÍLIA - O senhor não pode ser tão cruel
comigo dessa forma.
ROGÉRIO - Você ainda não viu nada, Cecília.
Se você não quiser que eu lhe vire as costas, você vai desistir dessa gravidez.
CECÍLIA - Como assim?
ROGÉRIO - Você vai abortar essa criança.
CECÍLIA - (BALANÇA A CABEÇA
NEGATIVAMENTE) Eu não posso fazer isso.
ROGÉRIO - Então agüente as conseqüências.
ROGÉRIO TIRA A CHAVE DO BOLSO. DESTRANCA A PORTA. ANTES DE SE RETIRAR, É
INTERROMPIDO POR CECÍLIA.
CECÍLIA - O senhor tem que me entender, o
senhor não pode fazer isso comigo. Eu sou a sua filha.
ROGÉRIO OLHA PARA CECÍLIA. NÃO FALA NADA. RETIRA-SE. CECÍLIA DEITA-SE NA
CAMA AOS PRANTOS.
CORTA PARA:
CENA 28.
STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
INSERIR LEGENDA: Alguns dias depois…
CENA 29. CENTRO
DA CIDADE. PRAÇA. EXT. FINAL DE TARDE.
MIGUEL COLOCA SEUS PRIMEIROS QUADROS À MOSTRA EM UMA PRAÇA MOVIMENTADA
NO CENTRO DA CIDADE. ALGUMAS PESSOAS PASSAM E FICAM ADMIRANDO AS OBRAS, OUTRAS
JÁ PERGUNTAM OS PREÇOS E, LOGO EM SEGUIDA, FAZEM A COMPRA. NO FINAL DA TARDE, O
RAPAZ COLOCA OS QUADROS E OUTROS MATERIAIS DENTRO DO CARRO. SOPHIA APARECE E DÁ
UM SORRISO AO VÊ-LO. ELE VIRA-SE PARA ELA E TAMBÉM DÁ UM SORRISO.
MIGUEL - Que supresa!
SOPHIA E MIGUEL SE ABRAÇAM E SE BEIJAM. SOPHIA FAZ CARINHO EM MIGUEL
ENQUANTO CONVERSAM.
SOPHIA - E como foi o primeiro dia de
sua exposição?
MIGUEL - Não foi uma exposição... Ainda.
SOPHIA - Foi uma pequena exposição ao
ar livre.
MIGUEL - Eu vendi quatro quadros.
SOPHIA - Já é um bom começo para um
artista que ainda não é reconhecido.
MIGUEL - É, você está com razão. Eu
achava que fosse ficar parado lá, apenas olhando a movimentação, mas foi ao
contrário, algumas pessoas pararam e elogiaram as minhas obras.
SOPHIA - Eu fico muito feliz por isso.
MIGUEL - E eu estou feliz porque você
veio me ver. Eu já estava com saudades.
SOPHIA - Mas nós nos vemos quase todos
os dias.
MIGUEL - Ainda não é o suficiente...
Vamos pro albergue?
SOPHIA - Não... Eu tenho que ir pra
casa.
MIGUEL - E quando vamos passar uma noite
juntos novamente?
SOPHIA - Uma noite juntos novamente?
MIGUEL - Sim, Sophia... Não, não é nada
disso que deve estar se passando em sua mente. Eu apenas queria poder dormir e
me acordar ao seu lado, nem que fosse apenas por uma noite e um dia.
SOPHIA - Eu te entendo. E também, não
se passou nada pela minha mente.
MIGUEL - Não parece, porque você fez uma
cara muito estranha.
SOPHIA - É a minha cara, a única que eu
tenho.
MIGUEL - Está bem... Vou fingir que
acredito.
SOPHIA - Ah, Miguel!
MIGUEL A PEGA PELA CINTURA. DÁ UM SORRISO.
MIGUEL - Você se irrita por qualquer
coisinha, desse jeito vai envelhecer mais rápido.
SOPHIA - Ah, tá...
MIGUEL - Eu estou falando sério, Sophia.
Você vai ficar mais chata quando estiver velha.
SOPHIA - Você já está me irritando,
Miguel.
MIGUEL - Viu? Eu não sei se vou te
agüentar quando você for uma velhinha idosa, já com bengala. Você vai ser muito
rabugenta, parece que já estou prevendo.
SOPHIA - Me largue porque eu tenho que
ir embora.
MIGUEL - Está bem.
MIGUEL LARGA SOPHIA E DEPOIS A PEGA NOVAMENTE PELA CINTURA.
SOPHIA - Tem momentos que você se torna
muito chato.
MIGUEL - É porque eu gosto de te
irritar.
SOPHIA - Você já conseguiu me irritar,
agora já pode me largar, não pode?
MIGUEL - Acontece que eu não quero te
largar, eu quero continuar te irritando e te vendo bravinha desse jeito. Eu
gosto. Eu gosto porque eu te amo.
SOPHIA - Você sabe que eu também te
amo.
MIGUEL - Eu não quero mais perder você
de vista, não quero mais ficar sem poder ouvir tua voz, te tocar... Beijar sua
boca. Eu não quero mais ficar longe de você.
SOPHIA - Nós não iremos mais ficar
longe um do outro... Você sabe disso.
MIGUEL - Você promete?
SOPHIA - Eu não tenho que te prometer
nada, Miguel, porque eu não quero ficar longe de você por mais nenhum instante
de minha vida.
MIGUEL
PASSA SUA MÃO PELO ROSTO DE SOPHIA E A BEIJA LONGAMENTE. SOPHIA O OLHA COM
AFETO E CORRESPONDE O BEIJANDO TAMBÉM.
CORTA
PARA:
FIM DO CAPÍTULO 18
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