COM AMOR
SEGUNDA FASE
FINAL DO PRIMEIRO CICLO
Capítulo 019
Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES
Direção
MIGUEL RODRIGUES
HENZO VITURINO
HENZO VITURINO
Direção Geral
MIGUEL RODRIGUES
Núcleo
DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
Personagens deste capítulo
CECÍLIA
SUZANA
ROGÉRIO
SOPHIA
GABRIELA
MIGUEL
JULIANA
ÍTALO
POLICIAL TONY (participação)
OFICIAL DE JUSTIÇA
(participação)
GARÇOM (participação)
CENA 01.
STOCK-SHOTS. TAKES DA CIDADE DE CURITIBA.
Sucessão de imagens da cidade de Curitiba,
como se fossem cartões postais. Música agitada acompanha essa sucessão de
cenas, indicando passagem de tempo.Vemos várias situações de nossos
personagens.
INSERIR
LEGENDA:
Um mês depois...
FUNDE
IMEDIATAMENTE PARA:
CENA 02. AP DOS VIDAL. QUARTO DE SUZANA E
ROGÉRIO. INTERIOR. NOITE.
Cecília escreve duas cartas. Coloca
embaixo do travesseiro de Suzana que dorme. Rogério toma banho. Do quarto
ouvimos água do chuveiro caindo ao chão. Cecília retira-se do quarto de maneira
minuciosa.
CORTA PARA:
CENA 03. AP DE GABRIELA E SOPHIA. COZINHA.
INTERIOR. NOITE.
Sophia para de jantar. Percebe que
Gabriela está de braços cruzados a olhando. Sophia larga o talher.
SOPHIA — Por que está
me olhando?
GABRIELA — Eu
vou sair.
SOPHIA —
Isso já não é mais novidade. Vai voltar às 05h da manhã, dessa vez?
GABRIELA — O
horário que irei voltar não te interessa, garota. Eu vou deixar a porta
trancada. Você perdeu a sua cópia da chave?
SOPHIA —
Perdi. Eu vou ter que mandar fazer uma outra cópia.
GABRIELA —
Ah...
Gabriela
retira-se. Tranca a porta após sair. Sophia deixa passar alguns minutos. Vai
até a janela. Certifica-se de que a ‘barra está limpa’ e também sai de casa.
CORTA PARA:
CENA 04. STOCK-SHOTS. TAKES DE CURITIBA À NOITE.
Vemos o
movimento de Curitiba à noite. Movimento de carros, ameno. Restaurantes e bares
lotados. Pessoas caminham de um lado a outro pelas ruas. Percorremos toda a
cidade até darmos de frente ao albergue onde Miguel está hospedado.
FUNDE IMEDIATO PARA:
CENA 05. ALBERGUE.
QUARTO DE MIGUEL. INTERIOR. NOITE.
Miguel arruma
seu quarto à espera de Sophia. Ouvimos batidas na porta. Miguel termina de
arrumar a mesa e corre imediatamente até a porta para atendê-la. Dá um sorriso
ao ver Sophia parada na porta.
MIGUEL —
Eu já estava achando que você não viria.
SOPHIA —
(T: COM UM SORRISO NO ROSTO) Eu não iria deixar de vir... Posso entrar?
MIGUEL —
(DÁ PASSAGEM PARA SOPHIA) É claro.
Sophia entra.
Observa tudo, encantada. Admira-se ao ver a mesa preparada para o jantar. Olha
para Miguel.
SOPHIA —
Miguel... O que é isso?
MIGUEL —
(T: APROXIMA-SE) Eu sei que ficou um pouco tosco... Eu não sei preparar uma
mesa de jantar direito. Você deve saber, afinal, já teve dinheiro.
SOPHIA —
Ficou simples, mas ficou lindo.
MIGUEL —
Você acha?
SOPHIA —
Ficou lindo, Miguel!
MIGUEL —
Então, o meu esforço valeu a pena.
SOPHIA —
Valeu, sim!
Miguel puxa uma
cadeira. Faz a reverência.
MIGUEL —
Sente-se, madame!
Sophia dá um
sorriso. Senta-se à mesa. Miguel senta-se à sua frente. Serve um copo de vinho.
SOPHIA —
Miguel, eu não bem e nem tenho idade.
MIGUEL —
Eu sei disso... Eu comprei refrigerante pra você.
SOPHIA —
Eu não me lembro dessa mesa aqui nesse quarto... Como você conseguiu?
MIGUEL —
Eu dei o meu jeito... Tive uma ajudinha de um amigo aí.
SOPHIA —
Hum... (Miguel serve o jantar de Sophia e em seguida serve-se) Você encomendou
essa comida?
MIGUEL —
Sim.
SOPHIA —
Está com um cheiro bom.
MIGUEL —
É...
Sophia e Miguel
jantam. Conversam bastante fora de áudio. Riem. Divertem-se.
SOPHIA —
Chega de beber, Miguel.
MIGUEL —
Por quê?
SOPHIA —
Porque você já está exagerando.
MIGUEL —
Você ainda não me viu bêbado.
SOPHIA —
E nem quero ver.
MIGUEL —
Eu estou brincando com você.
SOPHIA —
Você
sabe muito bem que minha mãe bebe feito uma condenada e que meu pai, antes de
morrer, também se entregou à bebida. Eu não duvido que ele não tivesse
embriagado quando morreu naquele acidente.
MIGUEL — Me desculpe,
Sophia! Não vamos mais tocar nesse assunto. Estávamos tão bem.
SOPHIA —
Está bem... Vamos mudar de assunto então.
MIGUEL —
Que horas você vai voltar pra casa?
SOPHIA —
(SORRI) Já está pensando na hora em que irei embora?
MIGUEL —
Não... Eu apenas quero saber por causa de sua mãe.
SOPHIA —
A minha mãe deve estar em alguma zona por aí. Ela só voltará quando estiver
amanhecendo.
MIGUEL —
E
você teve que agüentar tudo isso durante esses anos?
SOPHIA — Eu ainda
agüento, Miguel... Mas não vamos falar sobre isso.
MIGUEL —
Então sobre o que podemos falar?
SOPHIA —
Eu quero ver os seus novos desenhos.
MIGUEL —
Não
tenho muitos novos, mas vou te mostrar alguns que fiz durante essas duas
últimas semanas.
Alguns instantes depois, Sophia senta-se
na cama de Miguel. Fica olhando admirada para as novas criações artísticas do
rapaz. Sorri. Miguel a observa encantado.
MIGUEL — Gostou?
SOPHIA —
Eu já
te disse que você é muito talentoso. Você é um verdadeiro artista, Miguel. O
mundo das artes ainda não te conheceu, mas quando isso ocorrer, será algo
revolucionário.
MIGUEL — Também não é
pra tanto.
SOPHIA —
Eu estou sendo sincera com você.
MIGUEL —
O amor nos faz falar bobagens.
SOPHIA —
O meu
amor por você não é capaz de me cegar e dizer algo sobre você que não é
verdade. Você é um artista revolucionário.
MIGUEL — Fico feliz de
ouvir isso. Você e a minha mãe são as únicas pessoas que acreditam em meu
talento, que apostam que eu vou ser um grande artista renomado.
SOPHIA — O centro de
Curitiba está conhecendo o seu talento, só falta aparecer alguém que entenda
realmente de arte e se interesse pelo seu trabalho.
MIGUEL —
Só falta isso mesmo... Mas eu não posso ficar parado, esperando que isso
ocorra.
SOPHIA —
Você já está correndo atrás, não está parado.
Miguel senta-se
na cama. Toca o rosto de Sophia. Olha fixamente para os olhos da namorada.
Alisa o rosto de Sophia, que fecha os olhos.
MIGUEL —
Com você ao meu lado, eu vou longe. Com você ao meu lado, eu vou ser o homem
mais feliz do mundo. (Sophia dá um leve sorriso. Deixa uma lágrima percorrer o
seu rosto) Por que está chorando?
SOPHIA —
Eu não estou chorando. Foi apenas uma lágrima de emoção.
MIGUEL —
Emoção?
SOPHIA —
Sim, emoção... Emoção porque você está comigo e... Por um lado, eu já não temo
mais nada.
MIGUEL —
(T: carinhoso) E nem precisa temer, meu amor... Eu sempre vou estar ao seu
lado, sempre.
Miguel e Sophia
abraçam-se fortemente. Ficam nesse clima por alguns momentos. Miguel segura
Sophia pela cintura e a olha com ternura. Miguel passa a mão pelo rosto de
Sophia. Olham-se com cumplicidade e afeto verdadeiro. Sorriem um para o outro.
Esse momento deve significar tudo para o casal.
MIGUEL —
Você está preparada?
Sophia dá um
leve sorriso. Responde positivamente ao balançar a cabeça. Miguel dá um lindo
sorriso. Beija Sophia com desejo. Aos poucos a deita na cama. Olham-se
fixamente por alguns segundos. Miguel tira a camisa. Volta a beijar Sophia, que
parece se contorcer nos braços de Miguel, de tanto desejo que sente naquele
momento.
MIGUEL —
Eu vou ter todo carinho com você.
SOPHIA —
Eu sei disso. Eu te amo, Miguel!
MIGUEL —
Eu também te amo, Sophia. Te amo muito.
Entre carícias,
beijos quentes, palavras sussurradas ao ouvido e os lentos movimentos, Sophia
entrega-se ao amor de sua vida. Valorizar o clima dos dois.
CORTA PARA:
CENA 06. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
Amanhece.
CORTA PARA:
CENA 07. AP DOS VIDAL. QUARTO DO CASAL. INT.
DIA.
Suzana acorda. Coloca a mão embaixo do
travesseiro. Percebe que há algo. Levanta o travesseiro. Vê um envelope. Pega o
envelope e o abre rapidamente. Suzana lê todo o conteúdo da carta. Tapa a boca
com uma das mãos. Não contém as lágrimas
CORTA PARA:
1° ITERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 08.
ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.
Miguel acorda. Vê um envelope debaixo da
porta. Levanta-se. Caminha até a porta. Pega o envelope. Miguel acha estranho.
Lê o que está na frente do envelope.
MIGUEL — De Cecília
para Sophia.
Sophia acorda.
Sorri ao ver Miguel já de pé.
SOPHIA — Bom dia!
(Miguel não responde. Olha para Sophia que estranha) Por que está com essa
cara, Miguel?
MIGUEL —
Eu queria te dar “bom dia” também... Mas não posso.
SOPHIA —
Que envelope é esse na sua mão?
MIGUEL —
É uma carta da Cecília para você... Ela sabia que você estava aqui?
SOPHIA —
Sim, sabia... Me dê esse envelope.
Miguel caminha
até Sophia. Entrega-lhe o envelope. Sophia abre imediatamente o envelope. Tira
a carta e começa a ler todo o conteúdo. Balança a cabeça negativamente. Não
contém as lágrimas. Miguel senta-se ao lado de Sophia.
MIGUEL —
(preocupado) O que houve, meu amor?
SOPHIA —
É uma carta de despedida... A Cecília foi embora.
Sophia não
contém as lágrimas. Miguel a abraça fortemente.
CORTA PARA:
CENA 09. AP DOS VIDAL. SALA. INTERIOR. DIA.
Rogério abre a porta do apartamento.
Entra. Suzana vê o marido entrando. Pega um vaso e atira contra ele, que
desvia.
ROGÉRIO — (grita
irritado) Você está louca?
SUZANA —
Você é o culpado!... Você fez a nossa filha sumir pelo mundo.
ROGÉRIO —
Eu não sou o culpado... Ela agiu de forma inconseqüente.
SUZANA —
(T: chora desesperadamente) Você é o culpado, sim! Você não quis apoiar a nossa
filha, você deu as costas para ela e não quis nem saber da criança que ela está
esperando.
ROGÉRIO — A Cecília só
está querendo chamar a nossa atenção... Ela vai voltar e não vai demorar nem
mesmo um dia.
SUZANA — E se acontecer
alguma coisa com ela? Você não está se importando, não é? Eu jamais imaginei
que você fosse ser tão frio, tão cruel a ponto de ver que nossa filha sumiu e
não fazer exatamente nada.
ROGÉRIO — Eu tenho que
ir trabalhar, Suzana.
SUZANA —
E a nossa filha?
ROGÉRIO —
Logo, logo ela aparece.
Rogério vai se retirar,
mas Suzana é mais rápida. Se põe na frente de Rogério. Tenta impedi-lo de
retirar-se.
SUZANA — Você
não vai sair daqui enquanto não tomar uma atitude, chamar a polícia e ir
procurar a nossa filha.
ROGÉRIO —
Saia da minha frente, Suzana.
SUZANA —
(T: nervosa) Se você não tomar uma atitude... Eu vou cometer uma loucura.
ROGÉRIO — O
que vai fazer? Vai se matar?
SUZANA —
Não... Eu vou te matar, Rogério!
ROGÉRIO —
Você está totalmente louca.
Suzana tranca a
porta. Sai correndo com a chave.
SUZANA —
Você não vai trabalhar hoje, enquanto não ir procurar a minha filha.
ROGÉRIO —
(grita revoltado) Eu quero mais é que a Cecília se exploda.
Suzana olha com
raiva para Rogério, corre até o quarto...
CORTA PARA:
Toma uma atitude
inesperada. Revira o armário. Encontra uma caixa. A abre. Encontra o revólver
de Rogério dentro da tal caixa. Pega o revólver e volta para a sala...
CORTA PARA:
Aponta o
revólver para Rogério que recua.
ROGÉRIO —
Largue essa arma, Suzana... Você não sabe lidar com isso.
SUZANA — Quem não sabe
apertar o gatilho de uma arma, seu idiota? Se você não chamar a polícia agora e
ir procurar a minha filha, eu vou atirar em você.
ROGÉRIO — (grita) Você
está totalmente louca, Suzana! Largue isso!
SUZANA — Pare de gritar,
senão eu atiro em suas pernas e te deixo aleijado, seu desgraçado! (Rogério
fica chocado) Pegue esse maldito telefone e ligue pra polícia.
ROGÉRIO — Eles não vão
querer procurar a Cecília antes de vinte e quatro horas após o sumiço.
SUZANA — Não interessa!
Você é um empresário influente nessa droga de cidade e a nossa filha é menor de
idade, eles terão que procurá-la. Pegue o telefone agora, senão eu atiro!
ROGÉRIO — Por que você
mesma não faz isso?
SUZANA — Quando os
policiais chegarem, eu vou com eles atrás de minha filha e você vai junto.
Rogério olha para Suzana revoltado. Pega o
telefone. Disca para a polícia.
ROGÉRIO — Alô! Eu sou o
empresário Rogério Saldanha e quero fazer uma denúncia: a minha filha
desapareceu nesta manhã...
Rogério fala agora fora de áudio. De vez
em quando olha para Suzana que está com o revólver apontado para ele.
CORTA PARA:
CENA 10.
STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
Anoitece.
CORTA PARA:
CENA 11. AP DE
GABRIELA E SOPHIA. SALA. INT. NOITE.
A campainha
toca. Gabriela atravessa a sala. Vai atender a porta. Depara-se com um
policial.
TONY —
Boa noite! Meu nome é Tony, sou policial, trabalho na décima terceira DP e vim
atrás da jovem Cecília Vidal, amiga de sua filha.
GABRIELA — A
Cecília não está aqui... Por que a está procurando?
TONY —
Ela sumiu nesta manhã e os pais dela desconfiam de que ela possa estar aqui,
com sua filha.
GABRIELA —
Não. A Cecília não está aqui e nem esteve... Aliás, é raro aquela garota
insuportável aparecer por aqui... Eu nunca gostei da amizade dela com minha
filha... Ela é uma má influência e tem fama de que já “andou” com a maioria dos
rapazes da escola onde estuda.
Rogério aparece.
Fica encarando Gabriela. A olha de cima abaixo.
ROGÉRIO —
(T: revoltado) Eu não admito que você fale isso de minha filha... Aliás, eu nem
te conheço direito.
GABRIELA — De
onde você surgiu? Eu também não te conheço... E tudo o que eu falei sobre a sua
filhinha é verdade.
ROGÉRIO —
Policial Tony... Eu quero revistar a casa dessa mulher pra ver se a minha filha
não está escondida aí.
TONY —
Com licença, minha senhora!
GABRIELA — (tenta
seduzir o policial) Eu não sou uma senhora, sou ainda jovem e atraente, meu
belo policial.
Tony olha para
Gabriela com estranheza. Entra no apartamento. Rogério entra em seguida. Neste
momento, Sophia aparece. Olha para Rogério.
SOPHIA —
(T: triste) A Cecília não está aqui... Ela me deixou essa carta.
Rogério pega a
carta. Lê toda. Fica emocionado. Olha para Sophia.
ROGÉRIO —
Quero me desculpar por ter achado que ela estivesse aqui.
SOPHIA —
Não
precisa se desculpar. O senhor tem que pedir desculpas a sua filha, isso se ela
reaparecer. A Cecília podia até ter os defeitos dela e gostar de se divertir,
“andar” com os garotos, como as más línguas falavam, mas ela era uma boa
garota. Ela tinha um coração enorme. Ela só queria que o senhor a apoiasse
nessa fase tão difícil que estava sendo na vida dela.
Rogério enxuga as lágrimas, antes mesmo de
deixar elas percorrerem seu rosto.
ROGÉRIO — Vamos embora,
policial Tony... Já não temos mais nada para fazer aqui.
Gabriela abre a
porta. Dá um sorriso irônico. Rogério e Tony se retiram.
GABRIELA —
Volte sempre, policial Tony! (fecha a porta. Olha para Sophia) Quase que você
me mete em uma roubada, garota... Eu tomei um susto quando vi o policial.
SOPHIA —
Tomou um susto ou sentiu vontade de levar ele para a sua cama?
GABRIELA —
(T: irritada) Você me respeite, garota!
SOPHIA —
Você
nunca se deu ao respeito... Como quer ser respeitada?... Você é tão sem pudor
que estava “dando em cima” do policial e praticamente o “comendo com os olhos”.
GABRIELA — Eu não vou
levar em consideração as suas palavras, Sophia, porque senão eu vou dar uma
bofetada em seu rosto... Uma bofetada que você está merecendo há uns bons
tempos.
SOPHIA —
Uma bofetada não é nada... Uma bofetada não dói quanto as feridas que você
deixou dentro de mim, quantos as feridas que você deixou marcadas em minha
alma... Eu vou pro meu quarto agora.
GABRIELA — Eu espero que você
não consiga dormir essa noite pensando nas coisas terríveis que você acabou de
me dizer.
SOPHIA — E você já ficou
sem dormir por causa das coisas terríveis que também já me falou? (t) Se eu não
conseguir dormir, é porque estou muito preocupada com a minha amiga.
GABRIELA — Uma amiga que
nunca lhe deu nada na vida.
SOPHIA —
Quem
disse? A Cecília me deu algo muito importante, algo que você nunca me deu:
afeto e apoio; algo que você nunca foi capaz de me dar, porque é impossível ter
algum tipo de sentimento dentro de uma pessoa tão fria e tão inescrupulosa
quanto você.
Sophia retira-se.
CORTA
PARA:
Entra no quarto. Tranca a porta.
Encosta-se na parede. Não contém as lágrimas.
CORTA
PARA:
Gabriela senta-se no sofá. Fica pensativa
por alguns instantes.
CORTA PARA:
CENA 12. STOCK-SHOT. PASSAGEM DE TEMPO.
Takes da cidade
de Curitiba indicando uma passagem de tempo. Vemos várias situações de nossos
personagens.
12 A: ESCOLA. FRENTE. FINAL DA AULA.
Miguel espera
por Sophia no portão da escola. O sinal bate. Os alunos começam a se retirar.
Sophia aparece. Abraça Miguel fortemente.
MIGUEL —
Alguma notícia da Cecília?
SOPHIA —
Não... Já passou seis meses e nada da Cecília... Eu estou sofrendo tanto por
isso.
MIGUEL —
Eu entendo o seu sofrimento, meu amor, mas tente ficar calma... Eu garanto que
a Cecília está bem.
SOPHIA —
Como você me garantir isso, Miguel?
MIGUEL —
Porque eu acredito que ela esteja bem e você tem que acreditar também.
SOPHIA —
Se eu não tivesse você comigo... Eu estaria pior ainda.
MIGUEL —
Tente ficar calma... Um dia, a Cecília irá reaparecer e tudo ficará bem
novamente.
Sophia dá um
leve sorriso. Abraça Miguel novamente.
12 B: AP DOS VIDAL. SALA. INT. DIA.
A campainha
toca. Suzana atravessa a sala de encontro à porta. Abre. Suzana depara-se com
um oficial de justiça.
CID —
A senhora pode assinar aqui, por favor?
Suzana assina o
documento. O oficial de justiça a entrega um outro documento. Vai embora.
Suzana fecha a porta. Olha o documento.
SUZANA —
O pedido de divórcio.
Suzana dobra o
papel. Retira-se.
12 C: AP DE GABRIELA E
SOPHIA. SALA. NOITE DE NATAL.
Sophia está só
em casa. A campainha toca. Sophia atravessa a sala em direção à porta. Ela
abre. Depara-se com Miguel, que sorri para ela.
SOPHIA —
Miguel!
MIGUEL —
Vim passar o primeiro Natal com a mulher da minha vida.
SOPHIA —
Você não devia ter vindo.
Miguel entra.
Larga a garrafa de espumante e a comida encomendada em cima da mesa.
MIGUEL —
E você iria ficar sozinha?
SOPHIA —
Você não poderá ficar aqui até amanhã de manhã... Você já devia saber disso.
MIGUEL —
Eu sei disso... Mas a sua mãe provavelmente não irá voltar amanhã de manhã.
SOPHIA —
É, como em todos os Natais, ela sempre chega na tarde do dia seguinte... Não
quero nem imaginar o que ela deve está fazendo por aí.
MIGUEL —
(T: carinhoso) Então eu posso ficar essa noite e mais um pouco amanhã de manhã.
SOPHIA —
Você só pode estar brincando comigo.
MIGUEL —
Eu estou falando sério.
SOPHIA —
E se minha mãe aparecer?
MIGUEL —
Se a sua mãe aparecer eu me escondo debaixo de sua cama ou dentro de seu
guarda-roupas.
Sophia ri.
Balança a cabeça negativamente.
SOPHIA —
Você um maluco, Miguel!
MIGUEL —
(T: terno)
Maluco, louco, doido... Você pode me
chamar do que quiser, mas já saiba que eu só sou assim por sua causa.
SOPHIA —
Por minha causa? Está bem.
Miguel pega
Sophia pela cintura. A olha fixamente.
MIGUEL —
(T: romântico) Este já está sendo o melhor Natal da minha vida.
SOPHIA —
Um Natal em que estamos correndo riscos.
MIGUEL —
Sim, mas já está valendo todo o risco.
Miguel e Sophia
beijam-se longamente. Valorizar o momento dos dois.
CORTA PARA:
2º INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 13. CURITIBA.
BAR LUXUOSO. INT. NOITE DE NATAL.
Rogério
embriaga-se. Os foguetes são ouvidos. As pessoas presentes dirigem-se às
janelas para poder ver o espetáculo: já é Natal. Gabriela aparece. Fica olhando
para o homem.
GABRIELA —
Não quer pagar uma bebida pra mim, ao invés de ficar “enchendo a cara” sem
nenhuma companhia?
ROGÉRIO — (parece
reconhecê-la) Você é a...
GABRIELA — (o
interrompe) Não
interessa quem eu sou. Pague uma bebida para mim e eu vou lhe fazer companhia
pelo resto da noite.
Desanimado, Rogério faz sinal para o
garçom. O garçom aproxima-se.
ROGÉRIO — Pegue um uísque
bem forte para a dama aqui, ao meu lado.
O garçom balança
a cabeça positivamente. Faz o pedido. Entrega o copo com uísque para Gabriela,
que recebe.
GABRIELA —
Obrigada...
ROGÉRIO —
(olha para Gabriela) Está sozinha por que?
GABRIELA — E
você... Está sozinho por que?
ROGÉRIO —
Essa é uma pergunta muito difícil de responder.
GABRIELA — E
é por isso que eu não respondo.
ROGÉRIO — Acho que eu cometi
muitos erros, não soube ser um pai e nem um bom marido. Mas fique sabendo que
eu pedi o divórcio. Na verdade, a minha esposa já iria fazer isso, mas eu fui
mais rápido.
GABRIELA — Eu não quero
saber sobre os problemas de seu casamento. Eu quero saber sobre você.
ROGÉRIO — Eu não tenho nada
pra te falar sobre mim, a não ser sobre isso mesmo que eu já estava começando a
te falar, mas você me interrompeu.
GABRIELA — Eu não sou uma
psicóloga que ouve seus clientes com a maior paciência do mundo, apesar de que
eu acredito que algumas finjam ter essa paciência toda. Eu gosto de ação.
ROGÉRIO — E o que você
quer saber sobre mim?
GABRIELA — Quero saber se
você vai ficar aí, bebendo a noite toda ou vai me levar para um lugar onde
possamos nos conhecer mais e até mesmo aumentarmos nosso nível de intimidade.
Rogério a olha por alguns instantes.
Balança a cabeça negativamente.
ROGÉRIO — Seria melhor
do que ficar aqui mesmo.
GABRIELA —
Ainda bem que você já percebeu isso.
ROGÉRIO —
Vamos!
Rogério paga a
conta. Retira-se do bar acompanhado por Gabriela.
CORTA PARA:
CENA 14. STOCK-SHOTS. TAKES DE CURITIBA.
PASSAGEM DE TEMPO.
Sucessão de imagens da cidade de Curitiba
dando impressão de passagem de tempo.
INSERIR
LEGENDA: Curitiba – 1989.
CORTA PARA:
CENA 15.
CURITIBA. ESTRADA. EXT. DIA.
Juliana sai de dentro de um caminho. Se
vai logo em seguida por uma estrada. Juliana se veste com uma roupa muito curta
e fina. Respira ofegante. Olha para todos os lados. Parece estar assustada.
CORTA PARA:
CENA 16. UNIVERSIDADE.
SALA DE ARTES. INT. DIA.
Em um espaço feito para educação artística
dentro de uma universidade, Miguel auxilia os alunos. Um senhor aproxima-se
dele e fica observando o modo como Miguel ajuda os alunos.
ÍTALO — Miguel...
MIGUEL —
Sim, Senhor Ítalo?
ÍTALO —
Você ainda não se acostumou a me chamar apenas de Ítalo?
MIGUEL —
É que eu me prendo muito a esses costumes de educação.
ÍTALO —
E
você está certo, mas tente me chamar apenas pelo nome. Quando você me chama de
senhor, eu me sinto ainda mais velho. (Miguel sorri) Eu vi seus novos
quadros. Estão maravilhosos, magníficos!
MIGUEL — Obrigado!
ÍTALO —
Está
na hora de você fazer uma exposição, nem que seja algo de pequena repercussão.
Pode ser aqui mesmo, nós podemos convidar os alunos da universidade, os pais
deles também.
MIGUEL — Eu não sei se
meu material seria capaz de ser exposto dessa forma.
ÍTALO —
Você
é um grande artista, está na hora de se mostrar ao mundo. Eu vou dar um jeito
em tudo isso pra você.
MIGUEL — Senhor... Quero
dizer, Ítalo, eu não sei se sou capaz ou se vou me sentir confortável com uma
exposição agora.
ÍTALO — Mas você não
colocava seus quadros à mostra em pleno centro de Curitiba? Isso que nós iremos
fazer agora não deixa de ser a mesma coisa.
MIGUEL — Eu tenho que
pensar ainda nisso.
ÍTALO —
Pense
o tempo que você quiser, mas não perca oportunidade, por menor que seja.
MIGUEL — Está bem,
Senhor Ítalo.
ÍTALO —
Ítalo... Apenas Ítalo.
MIGUEL —
Me desculpe!
Miguel novamente
sorri. Ítalo corresponde.
CORTA PARA:
CENA 17.
UNIVERSIDADE. FRENTE. RUA. EXT. DIA.
Sophia chega à universidade. Desce da
calçada para atravessar a rua. Não olha para os lados pensando que não vinha
nenhum carro. De repente, ela toma um susto ao quase ser atropelada por um
automóvel. O motorista ficou a olhando espantado. Alternamos os olhos do
motorista com o rosto de Sophia. Congela em “Sophia”.
CORTA PARA:
FIM DO
CAPÍTULO 19
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