Memória DNA | Com Amor | Capítulo 25 (2ª Fase - 2º Ciclo)



COM AMOR
SEGUNDA FASE – SEGUNDO CICLO
Novela de Marcus Vinick

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
Miguel Rodrigues

Direção Geral
Miguel Rodrigues

Núcleo
DNA – Dramaturgia Novos Autores

Personagens deste capítulo

SOPHIA
RAUL
MIGUEL
ALESSANDRO
MARINA
CARLOS ALBERTO
ARIEL

Participação Especial

LISA/FABÍOLA

CENA 01. MANSÃO DE GUILHERME. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.

 SOPHIA JÁ ESTÁ VESTINDO UM VESTIDO PRETO. ELA COLOCA UM BATOM VERMELHO NOS LÁBIOS E DEPOIS COLOCA UM CHAPÉU PRETO. GUILHERME ABRE A PORTA E ADENTRA O QUARTO.
          GUILHERME  Vamos, Sophia!
          SOPHIA                   A minha vontade é de não ir.
          GUILHERME          – É o sepultamento de sua mãe.
          SOPHIA                   – Como se ela fosse digna de ser sepultado em um            cemitério fino como aquele.
          GUILHERME (IMPACIENTE) – Sophia, não é hora de ficar relembrando os momentos ruins que você ter tido com a sua mãe. Agora nós temos que ir.
           SOPHIA SE LEVANTA E RETIROU-SE, ACOMPANHADA PELO MARIDO.
CENA 02. CEMITÉRIO. MOMENTO FUNEBRE. EXT. DIA.          
             NO CEMITÉRIO, HÁ POUCOS PESSOAS, ENTRE ESSES, TODOS OS AMIGOS E FAMIALIRES DE GUILHERME. APÓS A ORAÇÃO FEITA PELO PADRE, O CAIXÃO É COLOCADO DENTRO DA SEPULTURA QUE É FECHADA EM SEGUIDA. SOPHIA NÃO DERRAMA NENHUMA LÁGRIMA, AO CONTRÁRIO, SE MANTÉM FRIA DESDE O INÍCIO DA CERIMÔNIA FUNERAL.
CENA 03. MANSÃO DE GUILHERME. COPA. INT. NOITE.
                     À NOITE, UM FORTE TEMPORAL ATINGE A CIDADE.
             SOPHIA TOMA UMA XÍCARA DE CHÁ. A EMPREGADA APARECE NA COPA.
EMPREGADA         – Dona Sophia, eu já arrumei o quarto como a senhora         me pediu.
               SOPHIA                  – Obrigada!
              SOPHIA SE RETIRA, SOBE A ESCADA E VAI ATÉ O QUARTO ONDE SUA FALECIDA MÃE DORMIA. ELA FICA OLHANDO A SUA VOLTA E, EM UMA QUESTÃO DE INSTANTES, AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE GABRIELA SE PASSAM PELA SUA MENTE. ELA SE RETIRA E TRANCA A PORTA.
CENA 04. PARIS. STOCK SHOTS.

CENA 05. HOTEL EM PARIS. QUARTO. INT. DIA.
         MIGUEL ARRUMA UMA MALA. ARIEL APARECE E FICA O OLHANDO.
                   ARIEL                – O que está fazendo, Miguel?
                   MIGUEL            – Eu vou pegar o primeiro voo para Amsterdã.
                   ARIEL                – Amsterdã? Mas o senhor Fontinelly tinha dito para você jamais pisar seus pés lá.
                    MIGUEL            – O Carlos Alberto apenas me deu um conselho, não uma ordem.
                   ARIEL                 – Um conselho que você deveria seguir sem pensar o contrário.
                  MIGUEL              – Ariel, não tire a minha paciência.
                  ARIEL                  – Miguel, eu estou apenas te alertando.
                 MIGUEL               – O que pode acontecer comigo em Amsterdã?
                  ARIEL                  – Você sabe muito bem o que pode acontecer.
                  MIGUEL              – Me poupe! Vá arrumar suas coisas e pare de ficar reclamando, isso é uma ordem.
                  ARIEL                  – Mas você nunca me tratou dessa forma.
                 MIGUEL (SORRINDO) – Ariel, por favor, vá arrumar suas coisas que nós temos que pegar o primeiro voo!
                PREOCUPADO, ARIEL BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE E SE RETIRA.
CENA 06. NO DIA SEGUINTE. AMSTERDÃ. STOCK SHOTS.

CENA O7. MANSÃO DE GUILHERME. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
            SOPHIA SE ACORDA E VÊ NO RELÓGIO QUE JÁ É 11H DA MANHÃ.
CENA 08. SALA. INT. DIA.

                         SENTADO AO SOFÁ, GUILHERME LÊ UMA REVISTA. A ESPOSA APARECE.
                     GUILHERME        – Achei que você não fosse mais sair da cama.
                      SOPHIA                – Quando eu consegui pregar os olhos, já era 3h da manhã.
                      GUILHERME       – Você não pode continuar tendo essas insônias, pode acabar fazendo mal ao bebê (SOPHIA SE SENTA AO SOFÁ) Não vai tomar café?
                       SOPHIA               – Já é muito tarde e o almoço já está sendo preparado.
                       GUILHERME      – Mas mesmo assim, Sophia, vá à copa e coma alguma coisa.
SOPHIA           – Eu não estou com fome.
GUILHERME – Você devia sentir fome, afinal há uma vida dentro de você. E mesmo se você não sente, tem que se alimentar direito. Não quero que o nosso filho seja prejudicado. Peça para uma das empregadas fazer um lanche para você.
                       IRRITADA, SOPHIA SE LEVANTA E SE RETIRA.
CENA 09. COPA. INT. DIA.
                      LISA VÊ A PATROA ENTRAR NA COPA.
                          LISA                 – Dona Sophia...
                          SOPHIA            – Lisa, por favor, prepare um lanche para mim.
                    A EMPREGADA PREPARA O LANCHE, COLOCA UMA BANDEJA E PÔS SOBRE A BANCADA.
                        LISA                    – E como a senhora está?
                       SOPHIA               – Eu estou muito bem.
                       LISA (ESPANTADA) – Bem? (SOPHIA A OLHA ESTRANHA) É que nem faz duas semanas que a dona Gabriela faleceu.
                       SOPHIA               – A minha mãe é uma morta que não merece ser lembrada, por isso não toque mais no nome dela comigo. Eu não quero saber de ninguém nessa casa falando sobre ela.
                        LISA                   – Desculpe dona Sophia.


CENA 10. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.

                          SOPHIA PEGA UMA CAIXA E COLOCA EM CIMA DA CAMA. ELA ABRE E COMEÇA A RELER AS CARTAS DE SEU AMADO, LEMBRANÇAS QUE JAMAIS SERÃO ESQUECIDAS. A MAÇANETA DA PORTA GIRA E A JOVEM MOÇA JOGA TUDO NA CAIXA NOVAMENTE E COLOCA DENTRO DO ROUPEIRO RAPIDAMENTE.
                     GUILHERME        – O que está fazendo, Sophia?
                     SOPHIA (MENTE NERVOSA) – Eu estava ajeitando algumas roupas. 
                     GUILHERME        – Mas isso não faz parte do serviço das empregadas?  
                     SOPHIA                 – É que, muitas vezes, eu não tenho nada para fazer nessa casa. É algo entediante.
                    GUILHERME         – Agora você está grávida, não poderá fazer praticamente nada.
                    SOPHIA                  – Gravidez não é doença.
                    GUILHERME         – Só que eu fico preocupado. Eu quero que nosso bebê nasça forte e saudável (SOPHIA FICA QUIETA POR ALGUNS INSTANTES) Você deve estar pensando que estou me tornando cada vez mais chato, mas isso é pura preocupação. Eu não consigo ser tão calmo quanto você.
                    SOPHIA                  – Eu não sou uma pessoa tão calma.
                     GUILHERME        – Então por que não demonstra o mínimo de preocupação já que está grávida? A maioria das mulheres, quando grávidas, acabam ficando nervosas e inseguras... Coisas do tipo.
                     SOPHIA                 – Só que eu não faço parte dessa maioria.
                     GUILHERME        – Eu gostaria que fizesse.
                     SOPHIA                  – Só gostaria mesmo.
                      GUILHERME        – Pelo menos, eu iria ter a certeza de que você se importa com o fato de que está esperando uma criança.
                       SOPHIA                – Eu não transpareço meus sentimentos, você me conheceu assim.
                      GUILHERME        – Você não transparece os seus sentimentos comigo e com esse bebê que está esperando.
                      SOPHIA                – Guilherme, eu não vou discutir com você.
                      GUILHERME       – Mas eu não estou discutindo com você. Só queria que você fosse diferente.
                       SOPHIA               – Você me conheceu assim e eu não vou mudar por sua causa. (O HOMEM FICA A FITANDO) Vai vir deitar agora ou virá mais tarde?
                      GUILHERME       – Eu vou fumar um charuto.  Mais tarde, eu veio deitar.
                   GUILHERME SE RETIRA. SOPHIA FECHA A PORTA E, LOGO EM SEGUIDA, ABRE O ROUPEIRO E GUARDA A CAIXA EM UM COMPARTIMENTO DISFARÇADO DO MÓVEL.
CENA 11. NO DIA SEGUINTE.
PAISAGEM DO AMANHECER NA CAPITAL HOLANDESA.                    

CENA 12. MANSÃO DE GUILHERME. SALA DE ESTAR. INT. DIA

    GUILHERME TOMA SEU CAFÉ, QUANDO SOPHIA SENTA-SE À MESA.
                  
                       GUILHERME       – Bom dia!
                  SOPHIA               – Bom dia, Guilherme!
                  GUILHERME      – Mandei a Lisa preparar um café bastante reforçado para você.
                  SOPHIA               – Obrigada!
                  GUILHERME      – Quando vamos saber o sexo do bebê?
                   SOPHIA              – Eu vou fazer uma ultrassonografia no quarto mês de gravidez.
                   GUILHERME     – Não falta muito então... Se for uma menina, como eu tanto desejo, irá se chamar Marina.
                   SOPHIA              – É um nome bonito!
                   GUILHERME     – Uma vez, a minha mãe me disse que era esse o nome que meu avô queria colocar nela quando ela havia acabado de nascer, mas a minha avó não deixou.
                   SOPHIA              – Hum...
                   GUILHERME     – Ela teve esse sonho dias antes de falecer.
                   SOPHIA              – Quantos anos você tinha?
                  GUILHERME     – Eu tinha 14 anos quando ela partiu. Foi um grande sofrimento.
                  SOPHIA              – Eu também sofri muito quando meu pai morreu... Eu tinha apenas oito anos de idade.
                  GUILHERME       – Mas eu já consegui superar, afinal a vida continua.
                   SOPHIA               – Eu também já consegui a morte do meu pai, mas sempre lembro de todo o meu sofrimento. Muitas vezes, eu sinto uma saudade imensa dele... Também sinto saudades do meu avô... Do Leonardo.
                   GUILHERME     – Você fala de todos, menos de sua mãe. Por que nunca a amou?
                   SOPHIA              – Eu não vou te falar nada disso. Essa história já morreu, foi enterrada com a minha mãe.
                    GUILHERME   – Eu queria te entender um pouco mais, Sophia.
                    SOPHIA            – A verdade, Guilherme, é que ninguém conseguiu me entender... Não é você que irá conseguir então.
                     GUILHERME  – Você é muito misteriosa.
                      SOPHIA          – Você acha?
                      GUILHERME (DÁ UM GOLE EM SUA CAFÉ)   – Acho. Deve ter sido por isso que eu me apaixonei por você.
               SOPHIA FICA QUIETA E TAMBÉM DÁ UM GOLE EM SEU CAFÉ. GUILHERME COLOCA SUA MÃO SOBRE A DA ESPOSA E FICA A OLHANDO COM AFETO.
                     GUILHERME  – Eu te amo, Sophia!
                ELA PERMANECE QUIETA. O HOMEM PERCEBE A FRIEZA DELA E FICA DECEPCIONADO, MAS PREFERE DISFARÇAR.
CENA 13. AVENIDA EM AMSTERDÃ. EXT. DIA.
DA JANELA DO TÁXI, ARIEL FICA ENCANTADO COM AS PAISAGENS DE AMSTERDÃ POR QUAL O CARRO PASSA. MIGUEL ESTÁ PENSATIVO E SE MANTÉM ASSIM.

CENA 14. HOTEL. QUARTO. INT. DIA.

                ARIEL            – O que você pretende Miguel?
            MIGUEL           – Ser realmente feliz, meu caro.
            ARIEL               – Não é o que estou imaginando, é?
            MIGUEL           – Como eu vou saber o que você está imaginando? Eu não tenho o poder da telepatia.
            ARIEL               – Você sabe muito bem o que eu estou imaginando, não se faça de bobo.
             MIGUEL          – Eu não sei do que você está falando. Para mim, você está ficando maluco.
             ARIEL              – Você é quem está ficando maluco. Miguel, pelo o amor de Deus, vamos embora!
            MIGUEL            – Não teria nem sentido irmos embora agora.
             ARIEL               – O que não tem sentido é você estar pensando em reencontrar aquela moça.
             MIGUEL FICOU UM POUCO PENSATIVO.
             MIGUEL           – Você não sabe o que eu sinto Ariel.
             ARIEL               – Ela é uma mulher casada agora, você sabe muito bem disso.
             MIGUEL           – Só que eu não consigo tirá-la da minha cabeça, é algo mais forte do que eu mesmo.
             ARIEL               – Eu nunca senti o que você sente, mas deve doer muito.
             MIGUEL           – Dói muito. Dói porque eu achava que fosse durar para sempre, mesmo que tivéssemos que enfrentar todos os problemas que um casal enfrenta, mesmo que fossemos discutir e nos reconciliar muitas vezes. É um amor que nasceu quando éramos duas crianças, não tínhamos noção do tamanho desse sentimento, apenas sabíamos que a gente queria ficar juntos pro resto de nossas vidas. Eu ainda amo muito a Sophia... E sinto que vou amá-la para o resto de minha vida. (ARIEL ACABA SE EMOCIONANDO. MIGUEL O OLHA E DÁ UM LEVE SORRISO.) Você está chorando, Ariel?
           ARIEL              – Não.
           MIGUEL          – Então o que é isso percorrendo pelo seu rosto?
           ARIEL             – Eu não choro tão facilmente, Miguel.
           MIGUEL         – Você é mais emotivo do que qualquer outra pessoa, chora por qualquer motivo que lhe cause emoção.
            ARIEL           – Acho que você está me confundindo.
            MIGUEL (IRÔNICO) – Está bem. Eu estou te confundindo, sim.
            ARIEL          – Você vai procurar a Sophia?
            MIGUEL      – Pra falar a verdade, meu amigo, eu já não sei de mais nada.
CENA 15. MANSÃO DE GUILHERME. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.
                      SOPHIA JÁ ESTÁ DORMINDO. GUILHERME APARECE E FICA A OBSERVANDO POR ALGUNS.
CENA 16. NO DIA SEGUINTE. EXT. DIA
MOSTRAR FAIXA DA MANSÃO DE GUILHERME. VALORIZAR ESTA IMAGEM.
CENA 17. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
                               GUILHERME PEGA O JORNAL E VÊ UMA FOTO DE MIGUEL. ELE LÊ A LEGENDA DA COLUNA AO LADO: “O grande pintor e desenhista brasileiro, Miguel Nunes de Castro, apareceu de surpresa aqui, em Amsterdã, sem fazer anúncio nenhum. Provavelmente, veio conhecer a cidade e aproveitar, já que se mostrou bem interessado pelos pontos turísticos, como é mostrado na foto ao lado”.
                  GUILHERME        – Eu não acredito que esse infeliz está aqui. 
CENA 18. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
                           SOPHIA SE PREPARA PARA SAIR. O MARIDO ADENTRA O QUARTO E FICA A FITANDO.
                  SOPHIA                – Achei que você já tivesse ido trabalhar. Não estava atrasado?
                  GUILHERME      – Eu resolvi ficar mais um pouco pra te levar no museu.
                  SOPHIA               – Não precisa você me levar, eu sei muito bem ir sozinha.
                  GUILHERME      – Mas eu quero te acompanhar,  já faz um bom tempo que não saímos juntos.
                   SOPHIA              – Já estamos casados há um ano e só saímos apenas duas vezes.
                  GUILHERME      – Podemos começar a sair novamente. Acho que eu tenho que dar mais prioridade ao nosso lazer, ao nosso casamento.
                   SOPHIA              – O que te fez mudar de ideia?
                   GUILHERME     – O fato de que eu não quero desgastar a nossa relação. Nós precisamos sair mais, nos divertir mais.
                    SOPHIA             – E o seu trabalho?
                    GUILHERME    – Eu tenho outras pessoas que podem fazê-lo por mim, afinal estarão sendo pagas... E muito bem pagas.
                    SOPHIA COLOCA UM PAR DE BRINCOS.
                    SOPHIA            – Você está muito estranho, Guilherme.
                    GUILHERME   – Por que você acha isso, meu amor?
                     SOPHIA            – Porque você parece estar nervoso. Você não tinha uma reunião com os coordenadores hoje?
                      GUILHERME  – Eu acabei de cancelar só pra passar esse dia ao seu lado.
                       SOPHIA           – Bom... Já que você está pronto, vamos então.
                       GUILHERME  – Vá descendo na minha frente, eu ainda tenho que fazer uma coisa.
                        SOPHIA          – Está bem.
                 ELA SE RETIRA. GUILHERME ABRE UMA GAVETA  DO ROUPEIRO, PEGA UMA CAIXA E DESENROLA UM REVÓLVER QUE ESTAVA ENROLADO EM UM PANO BRANCO.
                     GUILHERME   – Vou ter que levar isso comigo, caso seja preciso.
CENA 19. STOCK SHOTS.
VEMOS A MOVIMENTAÇÃO NA CAPITAL HOLANDESA. CICLISTAS. PESSOAS CAMINHAM BEM AGASALHADAS POR CAUSA DO FRIO QUE FAZIA.
CENA 20. MUSEU. INT. DIA.
VEMOS UMA AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS. SOPHIA E GUILHERME SE APROXIMAM E ACHAM ESTRANHO AQUELE MOVIMENTO TODO NO MUSEU.
                     SOPHIA         – Eu não sabia que iria estar cheio assim.
                     GUILHRME  – Eu também não imaginei.
                   SOPHIA          – Será que há um artista aqui?
                   GUILHERME  – Você está sabendo de alguma coisa?
                   SOPHIA           – Não, por isso estou perguntando.
    A MULTIDÃO FORMADA É POR CAUSA DE MIGUEL. ALGUMAS PESSOAS QUEREM AUTOGRÁFOS E TIRAR FOTOS COM O “ARTISTA REVOLUCIONÁRIO” DA ARTE, COMO JÁ ESTÁ CONHECIDO NA EUROPA. GUILHERME VÊ MIGUEL E PUXA A ESPOSA PELO BRAÇO.
                   SOPHIA          – O que houve Guilherme?
                   GUILHERME  – Vamos embora daqui!
                   SOPHIA           – Por quê?
                   GUILHERME  – Vamos embora, Sophia!
                 MIGUEL ACABA POR VER SOPHIA E TENTA IR ATRÁS DELA, MAS NÃO CONSEGUE POR CAUSA DA AGLOMERAÇÃO.
                  ARIEL              – O que houve Miguel?
                  MIGUEL          – Peça para que me deem licença, eu preciso sair daqui.
                   ARIEL             – Por quê?
                   MIGUEL          – Ariel, apenas faça o que eu estou pedindo.

CENA 21. EM FRENTE AO MUSEU. EXT. DIA
                   SOPHIA ENTRA NO CARRO E FICA POR ALGUNS INSTANTES, ATÉ PERCEBER QUE SEU MARIDO HAVIA SUMIDO.
                   SOPHIA        – Onde será que o Guilherme foi?
CENA 22. MUSEU. INT. DIA
                   MIGUEL É PUXADO PARA UM CANTO E AMEAÇADO COM UMA ARMA.
                    GUILHERME (REVOLTADO) – Está vendo esse revólver?
                    MIGUEL         – Você não teria coragem de me matar.
                    GUILHERME  – Eu tenho coragem de fazer muitas coisas, seu infeliz. Tente se aproximar de minha esposa pra você ver  o que acontece.
                     MIGUEL        – Eu não tenho medo de você.
                     GUILHERME – Você não tem que ter medo de mim, você tem que ter medo da morte. Se eu acabar com essa sua vidinha, a sua carreira de “artista revolucionário” irá morrer junto com você. Eu teria o maior prazer em fazer isso agora.
                     MIGUEL        – Isso só prova a sua loucura, seu demente!
                      ARIEL APARECE E FICA ASSUSTADO.
                      ARIEL           – Miguel!
                      GUILHERME ESCONDE A ARMA.
                       ARIEL (SE DIRIGINDO A GUILHERME) – Eu vi você ameaçando o meu amigo com uma arma. Quer que eu chame a polícia?
                       GUILHERME – Já que ele é seu amigo, o aconselhe a ficar longe de Sophia.
                        GUILHERME ENCARA MIGUEL PELA ÚLTIMA VEZ E SE RETIROU.
                         ARIEL          – Miguel, você tem noção do que poderia ter acontecido?
                         MIGUEL      – Eu jamais pude imaginar que ele e Sophia viriam.
                        ARIEL           Não interessa! Não era pra você ter ido atrás dela. Você deixou os seus admiradores lá e, praticamente, acabou de arriscar a sua própria vida, discutindo com um homem maluco que estava armado.
                         MIGUEL      – Ele não iria me matar aqui dentro.
                         ARIEL          – Para pessoas loucas e dementes, não há lugar apropriado para tirar a vida de alguém.
                          MIGUEL (JÁ IRRITADO) – Está bem, Ariel.
                          ARIEL (BALANÇANDO A CABEÇA NEGATIVAMENTE) – Acho melhor nós irmos embora hoje mesmo.
                          MIGUEL      – Só deixo Amsterdã levando a Sophia do meu lado.
                          ARIEL          – Então, eu te aviso só uma coisa: isso vai acabar em tragédia!
                             O ARTISTA FICA OLHANDO PARA O AMIGO E DEPOIS SE RETIRA. ARIEL BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE NOVAMENTE.

CENA 23. EM FRENTE AO MUSEU. EXT. DIA.            
                       GUILHERME SE DIRIGE AO AUTOMÓVEL E VÊ QUE SOPHIA ESTÁ DO LADO DE FORA.
                     GUILHERME      – Entre no carro!
                     SOPHIA               – Onde você estava Guilherme?
                     GUILHERME (REPETE IMPACIENTE) – Entre no carro!
              SOPHIA ENTRA NO CARRO E O MARIDO TAMBÉM. ELE PISA FUNDO NO ACELERADO E DÁ PARTIDA EM ALTA VELOCIDADE.
                      SOPHIA              – Você está dirigindo rápido demais. (GUILHERME PARECE NÃO TER OUVIDO E CONTINUA COM A ATITUDE DESCONTROLADA) Guilherme, dirija mais devagar!
                      A SINALEIRA ALERTA O SINAL VERMELHO. DESCONTROLADO, GUILHERME QUASE ACABA ATROPELANDO UMA MULHER E UMA CRIANÇA QUE, JUNTAS, ATRAVESSAVAM NA FAIXA DE SEGURANÇA.
                     SOPHIA (GRITOU IRRITADA)  – Olha o que você quase fez, Guilherme!
                     GUILHERME        – Me desculpe, me desculpe!
                     SOPHIA                 – Você está louco? O que aconteceu, hein? Por que você está agindo dessa maneira? (GUILHERME COLOCA A CABEÇA SOBRE O VOLANTE E RESPIRA OFEGANTE.) Encoste esse carro porque eu quero descer.
                      GUILHERME       – Nós já estamos indo pra casa.
                      SOPHIA                – Eu vou pegar um táxi, mas com você eu não volto pra casa.
                      GUILHERME       – Sophia, por favor...
                      SOPHIA                – Não insista, Guilherme, e faça o que eu pedi!
CENA 24. MANSÃO DE GUILHERME. COPA. INT. DIA.
                           LISA VÊ O JORNAL EM CIMA DA BANCADA.
                       LISA                  – Até me esqueci de que o doutor Guilherme tinha me pedido pra colocar esse jornal no lixo.
                       FABÍOLA              – Mas ele gosta de juntar os jornais da semana e depois coloca-los fora na próxima.
                      LISA                   – É isso que estou achando esquisito. Só sei que ele ficou muito  estranho depois de ter lido esse jornal.  
                       SOPHIA ADENTRA A COPA.
                        SOPHIA             Me dê esse jornal, Lisa.
                         A EMPREGADA FAZ O ORDENADO E DÁ O JORNAL PARA A PATROA QUE, EM SEGUIDA, COMEÇA A FOLHÁ-LO E SE DEPARA COM A COLUNA QUE TRAZ A NOTÍCIA DE QUE MIGUEL ESTÁ EM AMSTERDÃ.
                       LISA                – A senhora se sente bem, dona Sophia?
                       SOPHIA           – Pegue esse jornal e coloque no lixo.
                       SOPHIA SE RETIROU RAPIDAMENTE.
CENA 25. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
                           GUILHERME SERVE O QUARTO COPO DE UÍSQUE. SOPHIA APARECE E FICA O FITANDO SERIAMENTE.
                        SOPHIA          – Era o Miguel que estava naquele museu, não era?
                        GUILHERME – Eu não sei do que você está falando.
                        SOPHIA         – Ele está aqui, em Amsterdã. Você deve ter visto no jornal e mandou a Lisa colocá-lo fora para que eu não visse. Agora eu estou entendendo o porquê de você ter ido comigo ao museu.
                         GUILHERME – Eu não sabia que ele iria estar lá.
                         SOPHIA           – E aquele momento em que você sumiu, você foi atrás dele, não foi?
                          GUILHERME (GRITANDO) – Por que você está tão curiosa? Queria que eu te levasse junto para cumprimentarmos o “artista revolucionário”?
                        SOPHIA           – Não. Eu só queria que você não tivesse agido daquela forma. Você voltou tão transtornado que quase matou pessoas inocentes.
                        GUILHERME  – Não exagere!
                         SOPHIA          – Você colocou em risco a vida daquela mulher e daquela criança que estavam atravessando na faixa de segurança, assim como colocou nossas próprias vidas em risco. Já pensou se tivéssemos sofrido um acidente?
                         GUILHERME (ENTERRANDO A CABEÇA ENTRE OS BRAÇOS) – Tudo por culpa daquele infeliz...
                         SOPHIA            – Não, Guilherme, tudo porque você já está ficando paranoico. Esqueça o Miguel, assim como eu estou tentando esquecer também.
                        GUILHERME    – Então quer dizer que você ainda não esqueceu ele?
                        SOPHIA             – Não tem como eu esquecer, de uma hora para outra, alguém que teve uma grande importância em minha vida. O Miguel faz parte de mim.
                        GUILHERME    – Você o ama, Sophia.
                         SOPHIA            – Não vamos mais falar sobre ele, Guilherme.
                         GUILHERME   – Você ama o Miguel, você jamais vai tirá-lo de sua mente. Todo o amor que você deveria ter por mim, que sou o seu marido, você tem por aquele infeliz.
                        SOPHIA            – Eu já disse que não quero mais falar sobre ele... Eu vou me recolher. Agora se você quiser continuar aí, bebendo como um desvairado, o problema é seu!
                        SOPHIA SE RETIRA. GUILHERME DERRAMA ALGUMAS LÁGRIMAS.
CENA 26. QUATRO DO CASAL. INT. NOITE.
                      SOPHIA SE DEITA NA CAMA E AGARRA-SE AO TRAVESSEIRO. NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS.
CENA 27. NO DIA SEGUINTE. FACHADA DO HOTEL.

CENA 28. QUARTO DO HOTEL. INT. DIA.
                      A CAMPAINHA TOCA. MIGUEL ATENDE A PORTA E SE DEPARA COM CARLOS ALBERTO.
                      ALBERTO (O FITANDO) – Está surpreso com a minha presença, Miguel?
CENA 29. RESTAURANTE/CONFEITARIA DO HOTEL. INT. DIA.
                   CARLOS ABERTO COLOCA UM POUCO DE AÇÚCAR NO CHÁ E DEPOIS SE SENTA NA CONFORTÁVEL POLTRONA.
                        MIGUEL        – Por que o senhor veio à Amsterdã?
                        ALBERTO     – Por um único motivo, meu caro. O Ariel me telefonou ontem à tarde, avisando sobre a loucura que você quer cometer.
                        MIGUEL        – O Ariel não podia ter feito isso. Ele não tinha esse direito.
                         ALBERTO      – Bom, direito ele não tinha... Mas ele fez, porque é seu amigo e se preocupa com você.
                         MIGUEL         – A vida é minha!
                        ALBERTO       – Sim, mas quem patrocina a sua carreira sou eu, meu jovem artista.
                       MIGUEL          – O que o senhor está querendo dizer com isso?
                       ALBERTO       – Que se você continuar com essa loucura, eu vou abandonar a sua carreira e, mais tarde, você se verá obrigado a voltar para o Brasil.
                       MIGUEL          – Acontece que eu amo a Sophia e não quero ficar sem ela para sempre.
                       ALBERTO        – Acontece que você está arriscando sua própria vida. O meu filho, para ter lhe ameaçado com um revólver, é porque já não está mais “batendo bem da cabeça”, ele está completamente maluco.
                        MIGUEL         – A Sophia deve viver em um casamento infeliz.
                      ALBERTO        – E deve mesmo, meu caro. Nem mesmo o meu filho é feliz nesse casamento. Para ele ter feito o que fez ontem, esse sentimento dele só pode ter se tornado uma obsessão. (MIGUEL ACABA NÃO CONTENDO AS LÁGRIMAS.) Eu não gosto de te ver sofrendo, mas tentar levar a Sophia com você seria uma péssima atitude. Eu temo que isso acabe em tragédia.
                       MIGUEL (CHOROSO) – Eu não posso mais viver sem ela, não posso.
                        ALBERTO        – Miguel, a Sophia teve o livre arbítrio de escolher o que queria da vida dele; ela escolheu se casar com o meu filho.
                         MIGUEL          – Ela deve ter sido obrigada pela mãe.
                         ALBERTO       – Eu acredito que não, porque ela podia muito bem ter recusado. É melhor você seguir o seu caminho, meu caro, e deixar que a vida tome suas devidas providências.
                          MIGUEL SE LEVANTA E SE RETIRA.
CENA 30. STOCK SHOTS. ALGUM TEMPO DEPOIS.

CENA 31. CONSULTÓRIO MÉDICO. INT. DIA. 
                         SOPHIA E GUILHERME ESTÃO SENTADOS EM FRENTE À MÉDICA, QUE SE SENTA À POLTRONA COM O RESULTADO DO EXAME DE ULTRASSONOGRAFIA EM MÃOS.
                 MÉDICA (SORRINDO)     – It’s a girl!
              GUILHERME DÁ UM SORRISO E TOCA A MÃO DA ESPOSA, QUE NÃO DEMONSTRA NENHUMA ALEGRIA.
CENA 32. RESTAURANTE. INT. DIA.                       
 O RESTAURANTE TEM UM AMBIENTE AGRADÁVEL, COM A VISTA PARA UM LINDO LAGO ONDE HÁ PATOS E UM JAZZ EM BAIXO VOLUME. VEMOS SOPHIA E GUILHERME SENTADOS A UMA DAS MESAS.
                   GUILHERME               – Nem estou acreditando que meu sonho de ter uma menina irá se realizar.
                   SOPHIA                        – Que bom!
                  GUILHERME (SORRINDO) – Que tal dormirmos fora de casa hoje?
                   SOPHIA                         – Acho melhor dormirmos em casa, estou um pouco cansada.
                  GUILHERME (DISFARÇANDO A INSATISFAÇÃO) – Está bem.

CENA 33. STOCK SHOTS. MESES DEPOIS.

CENA 34. MANSÃO DE GUILHERME. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
               SOPHIA SE LEVANTA DA CAMA COM UM POUCO DE DIFICULDADE, AFINAL JÁ ESTÁ COM NOVE MESES DE GESTAÇÃO. NESSE MOMENTO, ELA SENTE AS PRIMEIRAS CONTRAÇÕES E, DE TEMPO EM TEMPO, AS DORES AUMENTAM. SOPHIA SE APOIA NA CAMA E SENTE UM LÍQUIDO PERCORRER PELA SUAS PERNAS.
CENA 35. HOSPITAL. INT. DIA.
               DESESPERADO, GUILHERME CHEGA AO HOSPITAL. FALA ALGO INAUDÍVEL COM A RECEPCIONISTA E LOGO UMA ENFERMEIRA APARECE, ESTA MESMA QUE O LEVA ATÉ O QUARTO ONDE A ESPOSA DELE ESTÁ. AO ADENTRAR O QUARTO, GUILHERME DÁ UM SORRISO E SE EMOCIONA AO VER SOPHIA COM O BEBÊ NOS BRAÇOS.

CENA 36. STOCK SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.1995.

CENA 37. JARDIM DA MANSÃO. EXT. DIA.
                      A PEQUENA MARINA BRINCA NO JARDIM. VÊ A MÃE E CORRE NA DIREÇÃO DELA.
                              MARINA                 – Mamãe, Mãe...
                             SOPHIA (IRRITADA) – Eu não gosto quando você me chama e não diz o que quer.
                              GUILHERME – Pra que falar desse jeito com a menina? (PEGA A FILHA NO COLO) Fale minha pequena princesa!
                               MARINA         – Eu queria mostrar essa rosa.
                               GUILHERME – É uma linda rosa, Marina.
                               MARINA        – É azul, papai. Eu nunca tinha visto uma rosa azul no nosso jardim.
                                GUILHERME – Eu também não, meu anjo.
                   SOPHIA NÃO AGUENTA A CENA ENTRE PAI E FILHA E SE RETIRA COMPLETAMENTE REVOLTADA.
CENA 38. SALA. INT. DIA.
                      GUILHERME RECEBE EM SUA CASA UM PRIMO QUE MORA NO BRASIL.
               GUILHERME     – Alessandro!
               OS DOIS SE ABRAÇAM FORTEMENTE.
               ALESSANDRO  – Quanto tempo, meu primo?!
               GUILHERME     – Nós já não nos víamos há um bom tempo.
               ALESSANDRO  – A última vez foi quando tínhamos quinze anos de idade.
               GUILHERME     – É mesmo. Faz tanto tempo.
                ALESSANDRO    Eu já estava com muitas saudades. Nós éramos grandes amigos.
                GUILHERME     – É... E quem é essa linda menina que está vindo?
                ALESSANDRO  – É a minha filha. Tayla.
                GUILHERME PEGOU A MENINA NO COLO.
                GUILHERME      – Que linda menina! Quanto anos ela tem?
                TAYLA (MOSTRA COM OS DEDOS) Cinco anos.
                GUILHERME E ALESSANDRO RIEM.
                 GUILHERME     – A Tayla e a Marina irão se dar muito bem.
                  ALESSANDRO – Vá brincar com sua priminha, filha.
                  GUILHERME (LARGA A MENINA NO CHÃO)  – A Marina está no jardim.
                   LISA APARECE E LEVA A MENINA ATÉ O JARDIM.
                   APÓS MINUTOS PASSADOS, OS PRIMOS ESTÃO FUMANDO CHARUTO E BEBENDO VODCA.
                   GUILHERME       – E então, Alessandro, veio pra ficar?
                    ALESSANDRO   – Não, Guilherme, eu vim passar apenas uma temporada.
                   GUILHERME      – Ah, que pena!
                    ALESSANDRO  – O Brasil é a minha terra.
                    GUILHERME     – Não sei como você pode gostar de morar naquele país, mas tudo bem... Cada um com seus gostos estranhos.
                     ALESSANDRO – Por incrível que pareça, eu me sinto muito tranquilo lá. E também, a minha esposa não quer deixar o país de jeito nenhum.
                     GUILHERME    – E por isso ela não veio junto?
                      ALESSANDRO – Não. A mãe dela está doente e ela preferiu que eu viesse sozinho com a Tayla. Ela não quer que a menina a veja abatida e preocupada.
                       GUILHERME   – Ela está certa.
                      ALESSANDRO  – E a Tayla se deixa levar muito pela situação, é muito emotiva desde pequena.
                      GUILHERME     – Hum...
                      ALESSANDRO  – E sua esposa?
                      GUILHERME     – A verdade é que eu nem sei por que a Sophia não apareceu até agora.
                      ALESSANDRO    – Você está feliz, Guilherme?
                      GUILHERME      – Por que está me fazendo essa pergunta?
                      ALESSANDRO   – Por nada.
                      GUILHERME      – Eu estou muito feliz.
                      ALESSANDRO   – É que eu fiquei sabendo que você já não fala seu pai há anos, a não ser mesmo quando se trata de coisas relacionadas aos negócios. E, mesmo assim, eu também fiquei sabendo que você tenta evitá-lo de qualquer forma.
                      GUILHERME     – Eu tenho meus motivos para ter me afastado do meu pai.
                       ALESSANDRO – E você se sente feliz. No seu lugar, eu não iria conseguir viver assim. Se meu pai ainda fosse vivo, eu não iria querer me afastar dele de jeito nenhum, você sabe o quanto eu e ele éramos grudados.
                       GUILHERME    – Eu sei disso.
                        ALESSANDRO – Eu aconselho que você procure o seu antes que seja tarde demais.
                         SOPHIA APARECE NESSE MOMENTO. GUILHERME E ALESSANDRO SE LEVANTAM.
                         GUILHERME   – Alessandro, essa é a Sophia, minha esposa. E, Sophia, esse é aquele primo de quem eu tanto te falei. Nós éramos melhores amigos em nossa adolescência.
                       SOPHIA E ALESSANDRO SE CUMPRIMENTAM COM UM APERTO DE MÃOS.
                       SOPHIA          – É um prazer conhecê-lo, Alessandro.
                       ALESSANDRO (SORRIDENTE) – O prazer é todo meu, Sophia... É, Guilherme, nós tivemos sorte: conseguimos nos casar com belas mulheres.
                     GUILHERME DÁ UM SORRISO E OLHA PARA ESPOSA E VOLTA A OLHAR O PRIMO.
                    GUILHERME        Você tem razão, meu primo.  
CENA 39. STOCK SHOTS. UM MÊS DEPOIS.

CENA 40. MANSÃO DE GUILHERME. EXT. DIA.
ALESSANDRO SE DESPEDE DE GUILHERME E SOPHIA. DO TÁXI, TAYLA ABANA PARA MARINA, QUE FAZ O MESMO. O HOMEM DÁ PARTIDA E VAI EMBORA. 
CENA 41. FACHADA DA MANSÃO. EXT. NOITE.
 UM FORTE TEMPORAL ATINGE A CIDADE. RAIOS E TROVÕES.
CENA 42. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.
 MARINA CORRE PARA O QUARTO DOS PAIS.
                GUILHERME    – O que houve filha?

                MARINA              Pai, eu estou com medo dos raios.

                GUILHERME      Meu anjo, não precisa ter medo. São apenas efeitos da natureza.

                 MARINA (RECEOSA) –  Não, mas eu tenho medo. Posso dormir aqui?

                 GUILHERME     Pode vir meu amor.

SOPHIA SE VIRA PARA O LADO E NÃO Dá ATENÇÃO A FILHA. MARINA ABRAÇA O PAI, QUE BEIJA SUA TESTA COM AFETO.

CENA 43. NO DIA SEGUINTE. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
GUILHERME E SOPHIA TOMAM CAFÉ.
                   GUILHERME   – Nós temos que ter uma conversa, Sophia.

                   SOPHIA            – Que conversa?

                   GUILHERME   – Sobre o seu comportamento com a nossa filha.

                    SOPHIA           – O que você quer Guilherme? Quer que eu a mime como você vive fazendo?

                    GUILHERME   – Você poderia ser um pouco mais amorosa com a menina.

                    SOPHIA            – Infelizmente, eu não tenho a paciência que você tem. A Marina está se tornando cada vez mais mimada, cada vez mais insuportável.

                    GUILHERME   – Insuportável? Como você pode falar isso de sua própria filha?

                     SOPHIA           – Eu não vou discutir com você.

SOPHIA SE RETIRA. GUILHERME SE LEVANTA E VAI ATRÁS DA ESPOSA. A PEGA PELO BRAÇO E FICA A OLHA SERIAMENTE.

                      GUILHERME – Você jamais demonstrou um gesto de amor a aquela menina. Uma vez, você me disse que sua mãe jamais teve amor por você, só que você está fazendo a mesma coisa agora com a nossa filha.

                      SOPHIA        – Não me compare a minha mãe.

                      GUILHERME  – Você está transferindo todo o seu rancor para nossa filha, mas eu não vou deixar que isso continue ocorrendo.

 SOPHIA SOLTA SEU BRAÇO DA MÃO DO MARIDO E O OLHA SERIAMENTE.

                      SOPHIA         – Pode ficar tranquilo, Guilherme, tudo isso já vai acabar!

                      GUILHERME – O que você está querendo dizer com isso?

                      SOPHIA          – Você verá com seus próprios olhos. Aguarde!

CENA 44. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.SOPHIA DEITA EM SUA CAMA E COMEÇA A CHORAR. MARINA APARECE E A MULHER SECA AS LÁGRIMAS RAPIDAMENTE.

                           MARINA  – Mamãe. Olha o que eu fiz pra senhora. (ENTREGA O DESENHO PARA SOPHIA) É um monte de estrelas e a senhora é a mais brilhante de todas.
SOPHIA SE LEMBRA DO PRIMEIRO DESENHO QUE MIGUEL LHE DERA NA INFÂNCIA.
FLASHBACK:
                     SOPHIA (CURIOSA)    – O que é isso?
                     MIGUEL (SORRINDO) – Abra!
                     SOPHIA DESDOBROU O PAPEL E FICOU ENCANTADA AO VER O DESENHO.
                     MIGUEL (CURIOSO)  – O que você achou?
                     SOPHIA (ENCANTADA) É simplesmente lindo! Foi você quem fez?
                      MIGUEL                     – É claro, Sophia. É o seu rosto refletido no céu. Ali é a lua e as estrelas...
Corta para: 
                      SOPHIA ENCARA A FILHA E A ÚLTIMAS PALAVRAS DE GABRIELA SE PASSAM PELA SUA MENTE: “Vai, sim! E você vai passar tudo pra sua filha, a tratando da mesma forma que eu te tratei e a ferindo cada vez mais até desejar que ela seja infeliz pro resto de sua vida... Você jamais irá amar essa criança... assim como eu nunca te amei...

                       MARINA (SORRINDO)   E então, mamãe, o que achou do meu desenho?
                     EM UM ATO DE FRIEZA, SOPHIA RASGA O DESENHO EM VÁRIAS PARTES E DEPOIS JOGA NO CHÃO. A PEQUENA MARINA FICA HORRIZADA E NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS. RETIRA-SE CORRENDO DO QUARTO.
CENA 45. ESCRITÓRIO DA MANSÃO. INT. NOITE.
                 A ESCURIDÃO DO ESCRITÓRIO É ILUMINADA PELA LUZ DOS RAIOS QUE REFLETEM NAS JANELAS. MAIS UMA NOITE DE TEMPORAL. SOPHIA ADENTRA A SALA, LIGA O RECEPTOR. ELA TIRA O QUADRO DE UMA PAREDE E SE DEPARA COM UM COFRE. SOPHIA OLHA POR ALGUNS INSTANTES E DECIDE ABRI-LO, AFINAL TEM A SENHA.

CENA 46. NO DIA SEGUINTE. FACHADA DA MANSÃO. EXT. DIA.
CENA 47. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
                   GUILHERME SE ACORDA E VÊ QUE A ESPOSA NÃO ESTÁ AO SEU LADO. ELE SE LEVANTA. VAI AO BANHEIRO E SE DEPARA COM O QUE ESTÁ ESCRITO NO ESPELHO: “Não quero destruir a vida de Marina”. EM UM ATO DE DESESPERO, GUILHERME SE RETIRA DO QUARTO CORRENDO... ELE DESCE A ESCADA.
                   GUILHERME        Lisa.
                   A EMPREGADA APARECE.
                  LISA                       Sim, doutor Guilherme?
                  GUILHERME        A Sophia... Onde está a Sophia?
                  LISA                      Eu ainda não a vi, doutor Guilherme.
                   DESESPERADO, GUILHERME CORRE PARA O QUARTO. ABRE O ROUPEIRO E TEM UMA DESAGRADÁVEL SURPRESA: AS ROUPAS DA ESPOSA SUMIRAM.
                  GUILHERME (GRITA REVOLTADO) Não! Não!
CENA 48. ESCRITÓRIO DA MANSÃO. INT. DIA.
               GUILHERME ABRE O COFRE E VÊ QUE A PEQUENA FORTUNA QUE MANTINHA EM CASA SUMIRA. MARINA APARECE E FICA OLHANDO O PAI. GUILHERME NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS, SE VIRA PARA A FILHA E BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. EM PLENO DESESPERO, GUILHERME CAI NO CHÃO AOS PRANTOS. MARINA CORRE, SE AGACHA E ABRAÇA O PAI FORTEMENTE. ELE CHORA NOS BRAÇOS DA FILHA.
                            
FIM DO CAPÍTULO 25

Nenhum comentário:

Postar um comentário