Memória DNA | Com Amor | Capítulo 27 (3ª Fase)



COM AMOR
- TERCEIRA FASE –

de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

direção
MIGUEL RODRIGUES

direção geral
MIGUEL RODRIGUES
HENZO VITURINO

núcleo
DNA – DRAMATURGIA NOVOS AUTORES

Personagens deste capítulo
WILLIAM
LÍVIA
AUGUSTO
ARTHUR
TAYLA
PATRÍCIA
RICARDO
WESLEY
DAVI
ANGELINA
MARINA

CENA 01. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. INTERIOR. NOITE.
Continuação da última cena do capítulo anterior. Todos os convidados observam WILLIAM.

WILLIAM       - Parece que resolveram unir toda a família. Que legal!

LÍVIA            - Meu filho, por favor, vamos lá pra cima?

WILLIAM       - (grita) Não, eu não quero. Eu quero ficar aqui, olhando pra cara dessa gentalha.

LÍVIA            - Filho, você está passando vergonha...

WILLIAM       - Vergonha? Por que, mãe? A senhora é que tem vergonha de mim.

LÍVIA            - (não contém as lágrimas) Não, meu filho, eu não tenho vergonha de você.

AUGUSTO se contém. Fita WILLIAM seriamente.

WILLIAM       - (ri) Oi, pai! (t)  Sabia que eu fiquei pensando no senhor o dia todo? É o senhor que tem vergonha de mim, não é? Sempre me pondo pra baixo, sempre pisando em mim.

AUGUSTO não controla a sua revolta. Dirige-se à WILLIAM. O pega pelos cabelos e o leva a força. O rapaz grita.

LÍVIA            - (implora) Não bata nele, Augusto!

TAYLA           - (interfere) Lívia, venha comigo!

LÍVIA            - Não... Eu preciso defender o meu filho.

TAYLA retira-se rapidamente.

ARTHUR       - Não se intrometa, Tayla!

TAYLA           - Você viu o estado dela?

ARTHUR       - Esse é um problema que tem ser resolvido entre os três. Que vexame!

ARTHUR e TAYLA retiram-se. Os convidados comentam o acontecido. Burburinhos.
CORTA PARA:

CENA 02. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO DE WILLIAM. INTERIOR. NOITE.
AUGUSTO dá uma cintada em WILLIAM, que está pelado em cima da cama. WILLIAM dá um grito. Não contém as lágrimas.

LÍVIA - Não, Augusto!

 LÍVIA tenta defender WILLIAM. AUGUSTO empurra LÍVIA  contra a porta. AUGUSTO se dá conta da atitude agressiva que tivera com LÍVIA. A olha preocupado.

AUGUSTO - Me desculpe, Lívia! Eu não queria ter te...

LÍVIA o olha. Balança a cabeça negativamente.

LÍVIA - Saia daqui, Augusto!

AUGUSTO - Por favor, me desculpe, eu não queria ter agido de forma agressiva com você.

LÍVIA - (grita revoltada) Eu já pedi pra você sair daqui. Saia!

AUGUSTO olha com raiva para WILLIAM. Retira-se batendo a porta.

WILLIAM - Mãe, ele me bateu...

LÍVIA balança a cabeça negativamente.

LÍVIA - Vamos pro banheiro, eu vou te dar um banho gelado.

WILLIAM - Não, eu não quero tomar banho gelado.
LÍVIA - (firme) William, vamos!

LÍVIA pega a mão de WILLIAM. O leva até o banheiro. Lá, ela liga o chuveiro e o obriga a entrar debaixo.
CORTA PARA:

CENA 03. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO DO CASAL. INTERIOR. NOITE.
ARTHUR entra no quarto do casal Villary. Vê AUGUSTO sentado na cama. Senta numa cadeira de frente para AUGUSTO.

ARTHUR       - Uma das empregadas me avisou que você tinha mandado me chamar.

AUGUSTO     - Sim, eu mandei te chamar.

ARTHUR       - O que você quer, Augusto?

AUGUSTO     - Quero alguém do meu lado, alguém que possa me confortar nesse momento.

ARTHUR       - Eu não sou a melhor pessoa.

AUGUSTO     - Você está se renegando a ficar aqui, comigo?

ARTHUR       - Os seus problemas tem que ser resolvidos com a sua esposa e com o seu filho.

AUGUSTO     - Você não viu aquele escândalo, lá embaixo?

ARTHUR       - Todos viram e estão todos falando.

AUGUSTO     - Esse é pior de tudo. O que essa gentinha, quando for embora, vai sair falando? Essa reunião foi um verdadeiro...

ARTHUR       - Vexame.

AUGUSTO     - (não contém as lágrimas) O William não podia ter feito isso comigo. Ele acabou com a minha noite de glória, ele sujou a minha imagem.

ARTHUR       - Se ele estivesse apenas bêbado.

AUGUSTO     - Já seria um grande escândalo do mesmo jeito, mas não... Ele precisou ter aparecido pelado, só pra me envergonhar, só pra me deixar desconcertado.

ARTHUR       - Não adianta ficar lamentando, Augusto, você e a Lívia não souberam “colocar arredias” no garoto e ele acabou crescendo com esse comportamento.

AUGUSTO     - Ele estava bêbado.

ARTHUR       - Mas mesmo assim, Augusto, ele bebe porque não teve controle na adolescência, não foi colocado um freio nele. Agora você e a Lívia que aguentem as consequências ou tomem a atitude de internar ele em uma clínica, mesmo que seja à força. E deixem-no lá por um bom tempo.

AUGUSTO     - Ele não quer ser internado e também já é maior de idade.

ARTHUR       - É muito fácil se provar na justiça que ele não tem condições nem mentalidade de levar sua própria vida.

AUGUSTO     - Então você acha que eu tenho que obrigá-lo?

ARTHUR       - Acho. E você deve fazer isso antes que ele apronte outro vexame, só que bem pior do que esse.

AUGUSTO     - Ele não iria conseguir se superar tanto.

ARTHUR       - Se eu fosse você, não pagaria pra ver. Agora nós temos que ir, porque o jantar já está sendo servido.

AUGUSTO     - Quem mandou servir o jantar?

ARTHUR       - Eu pedi para que suas empregadas continuassem com tudo, como se nada tivesse acontecido. Vamos!

AUGUSTO     - Com que cara eu descerei agora?

ARTHUR       - Com a mesma que você sempre teve. Vamos, Augusto!

ARTHUR caminha na frente. AUGUSTO levanta-se da cama e acompanha o irmão.
CORTA PARA:

CENA 04. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO DE WILLIAM. INTERIOR. NOITE.
WILLIAM sai do banho acompanhado de LÍVIA que o conduz. Está enrolado em um roupão. WILLIAM se atira na cama e acaba adormecendo. LÍVIA tira o roupão do filho. Põe uma cueca nele e em seguida coloca uma manta por cima dele.  Emociona-se ao ficar o olhando para WILLIAM dormindo.
CORTA PARA:

CENA 05. MANSÃO DOS VILLARY. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE.
Chegando à sala de jantar, AUGUSTO vê todos os seus convidados jantando sobre a imensa mesa.

ARTHUR       - Um minuto de atenção, por favor?

AUGUSTO     - Quero me desculpar pelo ocorrido há alguns instantes atrás. Não queria ter causado todo esse constrangimento de hoje à noite. Se sintam à vontade e tenham um bom jantar.

AUGUSTO senta-se à mesa ao lado de ARTHUR.

ARTHUR       - Será que a Lívia não irá descer?

AUGUSTO     - Ela terá que descer.

TAYLA           - Eu vou lá falar com ela. Com licença!

TAYLA retira-se. Caminha até a escadaria. Vai de encontro com LÍVIA.
CORTA PARA:

CENA 06. MANSÃO DOS VILLARY. CORREDORES. INTERIOR. NOITE.
TAYLA caminha pelos corredores que dão acesso aos quartos. Vê LÍVIA sair do quarto de WILLIAM. Fica a olhando.

LÍVIA            - Tayla...

TAYLA           - Você vai descer para o jantar?

LÍVIA            - Não há clima para jantar nenhum depois do que ocorreu. Eu garanto que o Augusto está lá.

TAYLA           - Ele está mesmo.

LÍVIA            - Bem que eu estava certa. Ele não se importa nenhum um pouco o nosso filho.

TAYLA           - Ele e o Arthur devem ter conversado... Talvez o Augusto já tenha aberto a mente.

LÍVIA            - Duvido muito.

TAYLA           - Então você não vai descer mesmo?

LÍVIA            - Não. Eu não quero ter que fingir que nada aconteceu, enquanto as pessoas ficam falando mal do meu filho pelas costas. Eu vou ler um livro, tentar dormir nem que seja um pouco.

TAYLA           - Não quer a minha companhia?

LÍVIA            - Não. Muito obrigada!

TAYLA           - Está bem. Você deve estar precisando ficar sozinha, eu entendo.

LÍVIA            - É, eu preciso ficar sozinha, preciso pensar sobre tudo que tem ocorrido e tomar uma decisão definitiva.

TAYLA dá um leve sorriso. Abraça a cunhada.

TAYLA           - Boa noite!

LÍVIA            - (dá um leve sorriso também) Boa noite, Tayla! Obrigada!

TAYLA volta para o jantar. LÍVIA entra em seu quarto. Fecha a porta.
CORTA PARA:

CENA 07. MANSÃO DOS VILLARY. SALA DE JANTAR. INTERIOR. NOITE.
AUGUSTO vê TAYLA sentar-se à mesa. A fita.

AUGUSTO     - E a Lívia?

TAYLA           - A Lívia preferiu ficar descansando.

AUGUSTO     - E eu vou ter que segurar tudo aqui.

TAYLA           - Se você quiser, eu posso te ajudar.

AUGUSTO     - Não. Esse era um compromisso da Lívia. Ela tinha a obrigação de descer e pedir desculpas, como eu também fiz, vir jantar conosco e continuar fazendo recepção aos convidados.

TAYLA           - Infelizmente, Augusto, a Lívia não tem a sua cara-de-pau. Eu a admiro muito porque ela não se prende a certas convenções.

AUGUSTO     - Não estou te entendendo, Tayla.

TAYLA           - Você me entendeu muito bem.

ARTHUR       - (interfere) Vocês não irão discutir, não é?

TAYLA           - Eu não estou discutindo, Arthur.

AUGUSTO fica quieto. Janta. Tenta disfarçar a sua irritação.
CORTA PARA:

1° INTERVALO COMERCIAL

CENA 08. CASA DOS BOAVENTURA. PSCINA. EXTERNA. NOITE.
RICARDO está deitado com alguns amigos à beira da piscina. PATRÍCIA levanta-se.

PATRÍCIA      - Tenho que ir embora.

WESLEY       - (levanta-se também)Espera, Patrícia, eu vou te levar pra casa.

RICARDO      - Está muito cedo ainda.

PATRÍCIA      - Cedo pra você, Ricardo. A festa estava maravilhosa, nos divertimos bastante. Mas já temos que ir.

PATRÍCIA toca o rosto de RICARDO. Eles se abraçam.

WESLEY       - Vem com a gente, Davi?

DAVI             - Não, Wesley, eu vou ligar pro meu irmão vir me buscar.

WESLEY       - Mas ele ainda está acordado?

DAVI             - Sim.

PATRÍCIA      - (brinca) Ah, como eu queria ter um irmão desses.

Eles se despedem. Vão embora. DAVI olha para RICARDO.

DAVI             - Eu percebi o modo como a Patrícia tocou o seu rosto.

RICARDO      - O que tem de mais?

DAVI             - Acho que ela gosta de você.

RICARDO      - Hum...

DAVI             - Ricardo, eu tenho que te fazer uma pergunta.

RICARDO      - Aquela mesma que você me fez há alguns dias atrás e eu não estava a fim de te responder?

DAVI             - Exatamente.

RICARDO      - Pois então, eu vou lhe responder: eu gosto de curtir a vida, gosto de viver os momentos; não interessando com quem seja, desde que eu goste da pessoa. E agora eu estou gostando de você. (DAVI dá um leve sorriso. RICARDO toca com os dedos na testa do rapaz) Tire os rótulos de sua mente. (Eles sorriem. Ficam se olhando) Não vai ligar pro seu irmão?

DAVI             - Aquilo foi algo que eu inventei pros dois.

RICARDO      - Ah... E até já sei o porquê. Vamos beber mais um pouco?

DAVI             - Eu não fiquei pra beber mais um pouco com você.

RICARDO      - Ah, tá... Já estava me esquecendo.

DAVI             - Você é muito bobo, sabia?

RICARDO      - Não posso levar tudo a sério. Se não houvesse a “bobice”, o que seria desse mundo tão sem graça?

DAVI             - É verdade.

Os dois se abraçam. Ficam assim por alguns segundos.
CORTA PARA:

CENA 09. RIO DE JANEIRO. GERAIS. EXTERIOR. DIA SEGUINTE.
Amanhece.

CENA 10. MANSÃO DOS VILLARY. SALA DE JANTAR. INTERIOR. DIA.
WILLIAM desce a escada. Vai à sala de jantar onde AUGUSTO está tomando café. AUGUSTO viu o filho e logo se levanta com a intenção de retirar-se.

WILLIAM       - Eu não tenho nenhuma doença contagiosa.

AUGUSTO     - Você tem noção do que fez ontem à noite, garoto?

WILLIAM       - Eu não me lembro de nada.

AUGUSTO     - É claro que você não se lembra de nada, com todos os bebuns é assim: bebem como se fossem bezerros, aprontam tudo e mais um pouco, e, no dia seguinte, não se lembram de exatamente nada.

WILLIAM       - Agora o senhor irá me crucificar por isso?

AUGUSTO     - É a minha vontade. É uma pena que nós não estamos há dois mil anos atrás, porque eu já teria feito isso com você.

WILLIAM       - O senhor é maluco!

AUGUSTO     - E você é a vergonha da minha cara. Eu jamais imaginei que fosse ter um filho como você que, além de vagabundo, vive enchendo a cara.

WILLIAM       - Eu estou morrendo com essa dor de cabeça, não vou discutir com o senhor agora.

AUGUSTO     - E eu não quero mais você na minha casa.

WILLIAM       - O quê?

AUGUSTO     - (repete revoltado) Eu não quero mais você na minha casa. (t) Você me detonou, ontem à noite. Eu estava preste a oferecer o jantar aos meus convidados, quando você apareceu totalmente embriagado e, além disso, estava pelado. Como você acha que eu me senti? Eu não sabia onde enfiar a minha cara. A minha vontade, naquele momento, era de abrir um buraco e me enterrar vivo.

WILLIAM       - (grita) E por que o senhor não fez isso?

AUGUSTO     - (grita) Porque eu não iria me matar por um miserável como você, um verdadeiro coitado que irá acabar sem nada, na lama.

WILLIAM       - É isso que o senhor me deseja então? O senhor quer eu acabe na lama, sem nada.

AUGUSTO     - É o que te resta, William. Você nunca fez nada da vida, desistiu dos estudos... É um verdadeiro playboy, só que da pior espécie. E, além de tudo, você bebe. Mas você não bebe cordialmente, você bebe a qualquer momento e em doses pra lá de exageradas. É um bebum sem rumo, sem destino.

WILLIAM não contém as lágrimas. Retira-se correndo. AUGUSTO senta-se à mesa. Coloca a cabeça entre os braços.
CORTA PARA:

CENA 11. RIO DE JANEIRO. CARAMANCHÃO. PARQUE. EXTERIOR. DIA.
WILLIAM senta-se no caramanchão. Volta a chorar. ANGELINA aparece. Fica o olhando comovida. WILLIAM percebe a presença de alguém e a olha.

WILLIAM       - Angelina...

ANGELINA    - Por que está chorando, William?

WILLIAM       - (enxuga as lágrimas) Eu não estava chorando.

ANGELINA    - Não tem nem sentido você mentir pra mim que não estava.

WILLIAM       - O que você está fazendo aqui? Veio rir da minha cara?

ANGELINA    - Você sabe que eu jamais faria isso.

WILLIAM       - Eu devo ter virado motivo de piada.

ANGELINA    - A maioria daquelas pessoas era seus familiares e alguns colegas de trabalho do seu pai.

WILLIAM       - Tem gente que vira motivo de piada dentro da própria família, achei que você já soubesse desse fato.

ANGELINA    - Você está passando por um problema muito grave e isso não tem graça.

WILLIAM       - Que problema?

ANGELINA    - Você é um dependente químico, precisa de tratamento.

WILLIAM       - Você também irá me importunar com essa história?

ANGELINA    - William, eu estou apenas querendo abrir a sua mente, afinal sou sua amiga.

WILLIAM       - Até pouco você era minha namorada, mas me deixou porque tinha vergonha de mim. Nem minha amiga você queria ser.

ANGELINA    - Eu não tinha vergonha de você.

WILLIAM       - Tinha, sim!

ANGELINA    - Quando eu presenciei aquela situação toda em que você estava, eu pensei melhor e resolvi que quero te ajudar... William, eu sou muito jovem. Quando terminei com você, eu não sabia que decisão tomar, eu já não estava mais aguentando te ver daquele jeito. E confesso: eu não queria um namorado assim, eu não queria nem mesmo mais te ver. Eu queria me afastar de você.

WILLIAM       - E por que você quer me ajudar agora?

ANGELINA    - Porque eu te vi daquele jeito ontem. E também porque, acima de tudo, eu refleti.

WILLIAM       - Você já tinha me visto daquele jeito.

ANGELINA    - Mas não me fez refletir tanto como aquela cena.

WILLIAM       - (sorri) Você refletiu porque eu estava pelado?

ANGELINA    - Não, William, até porque eu já me cansei de te ver pelado.

WILLIAM       - Então qual foi o motivo?

ANGELINA    - Foi por causa do escândalo todo, foi por causa do modo comovedor como sua mãe ficou... A revolta que o seu pai teve naquele momento.

WILLIAM       - (sorri ironicamente) O meu pai...

ANGELINA    - Você tem que se tratar, William, antes que seja tarde demais.

WILLIAM       - A bebida é a minha única amiga.

ANGELINA    - Ela não é sua amiga. Através de uma ilusão criada em sua mente, ela até pode ser sua amiga, mas na verdade, ela quer acabar com a sua vida.

WILLIAM       - Ninguém entende que eu não posso viver sem ela.

ANGELINA    - Quando a pessoa é forte, ela se livra de todos os maus.

WILLIAM       - Nenhum tratamento adiantaria.

ANGELINA    - William, quantos dependentes químicos não conseguiram se tratar? É uma fase difícil por qual cada um passa, mas se eles forem fortes e tiverem apoio, eles conseguem e acabam se recuperando uma alegria imensa. Eles veem motivo para continuar vivendo sem vícios, sem ter que depender de uma droga.

WILLIAM       - Não é uma droga.

ANGELINA    - A bebida é uma droga, sim! E ela está acabando com a sua vida. (William fica pensativo por alguns instantes. Angelina pergunta) E então? Você vai querer se internar em uma clínica e iniciar seu tratamento? (WILLIAM olha para ANGELINA. Não contém as lágrimas novamente. ANGELINA derrama algumas lágrimas) William, você quer mudar de vida?

WILLIAM       - Eu tenho medo.

ANGELINA    - Não precisa ter medo, vai ser para o seu bem. Você já não é mais um adolescente, é um marmanjo velho.

WILLIAM       - Também não é pra tanto.

ANGELINA    - Vai querer fazer o tratamento ou não?

WILLIAM       - Eu não gosto de ser pressionado.

ANGELINA    - Se você não me responder agora, eu vou embora e nunca mais olho na sua cara.

WILLIAM       - Você já está exagerando!

ANGELINA    - Então me responda.

WILLIAM       - (em tom baixo) Eu aceito.

ANGELINA    - (sorri) Me desculpe, mas eu não ouvi direito. Dá pra você repetir, por favor?

WILLIAM       - Eu aceito.

ANGELINA    - Ainda não ouvi.

WILLIAM       - (grita irritado) Eu aceito.

ANGELINA começa a rir e, em um ataque de euforia, pula no colo de WILLIAM. Eles ficam se olhando fixamente.

WILLIAM       - Acho melhor você... Acho melhor você sair do meu colo.

ANGELINA    - Me desculpe!

ANGELINA levanta-se. Parece ter ficado encabulada.

WILLIAM       - Não que eu não tenha gostado, mas você sabe como nós, homens, ficamos “alegrinhos” rapidamente.

ANGELINA    - Acho melhor você me respeitar, William.

WILLIAM       - Você foi a minha namorada, se esqueceu?

ANGELINA    - (muda de assunto) Já que você vai aceitar o tratamento, eu vou falar com a sua mãe agora.

WILLIAM       - Agora? Por que você não espera mais um pouco?

ANGELINA    - Nós não temos nada pra esperar, William.

WILLIAM       - Você está indo rápido demais.

ANGELINA    - (retira-se) Quanto mais rápido, melhor pra você.

WILLIAM       - A minha mãe deve estar dormindo.

ANGELINA    - Eu espero ela acordar.

WILLIAM       - Você não tem nenhum compromisso?

ANGELINA    - Hoje é sábado, se esqueceu?

WILLIAM       - (insatisfeito) Que pena!
ANGELINA corre em direção à mansão. WILLIAM senta-se novamente no caramanchão. Enterra a cabeça entre os braços.
CORTA PARA:

CENA 12. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA.
MARINA e TAYLA revisam algumas fotos.

TAYLA           - Essas fotos fazem parte que tipo de que projeto?

MARINA        - É uma campanha publicitária.

TAYLA           - Ah... Eu já estava estranhando você ter me chamado aqui hoje.

MARINA        - E como foi o jantar ontem?

TAYLA           - Um verdadeiro vexame.

MARINA        - Por quê?

TAYLA           - Porque o William apareceu embriagado.

MARINA        - Então deve ter sido um vexame mesmo.

TAYLA           - Só que você não imagina o resto.

MARINA        - E ainda tem mais?

TAYLA           - Ele estava completamente como veio à Terra.

MARINA        - Como assim?

TAYLA           - Ele estava pelado.

MARINA        - Não acredito!

TAYLA           - Acredite se quiser! Eu fiquei tão apreensiva por causa da Lívia.

MARINA        - O Augusto é que deve ter ido à loucura.

TAYLA           - Ele pegou o filho pelos cabelos e levou pro quarto. O Augusto é um homem muito rude!

ARTHUR aparece neste momento.

MARINA        - (surpresa) Arthur?

ARTHUR       - Oi, Marina!

TAYLA           - Que surpresa!

ARTHUR       - Vim te buscar pra darmos uma volta.

TAYLA e MARINA entrelaçam os olhares.

TAYLA           - Só vou terminar de revisar essas fotos e já vamos.

ARTHUR       - Você nunca trabalhou no sábado.

TAYLA           - Hoje, ocorreu uma exceção.

ARTHUR       - Espero que não ocorra mais.

MARINA        - Eu chamei a Tayla aqui. Eu estava precisando de uma ajuda na revisão e na escolha de algumas fotos para uma campanha publicitária.

ARTHUR fica quieto. Desvia o olhar. TAYLA encontra as fotos. As põe em cima da mesa. Mostra para MARINA.

TAYLA           - (para Marina) São essas aqui.

MARINA        - Ótimo! Bom passeio!

TAYLA           - Obrigada! Até segunda-feira!

Elas se despedem com dois beijinhos.
CORTA PARA:

CENA 13. RIO DE JANEIRO. COPACABANA. EXTERIOR. DIA.
ARTHUR compra duas águas-de-coco. Entrega uma delas à TAYLA. O casal caminha pela areia da praia à beira do mar.

TAYLA           - Você nunca gosta de sair nem mesmo dar uma volta. Que bicho te mordeu hoje?

ARTHUR       - Eu não queria ficar em casa hoje, o dia está muito bonito.

TAYLA           - Que bom que você percebeu que o dia está bonito. Se fizéssemos um passeio ou qualquer outra coisa relacionada ao nosso lazer, nosso casamento não teria caído na rotina.

ARTHUR       - Já vai começar, Tayla?

TAYLA           - Mas eu estou falando a verdade, Arthur, eu garanto que as coisas estariam bem melhor entre nós.

ARTHUR       - Você vive reclamando.

TAYLA           - Eu estou apenas tentando abrir a sua mente em relação a algo que se tornou uma barreira em nossa relação. Eu estou surpreendida por você ter saído de casa e ter me buscado no estúdio pra darmos uma volta na praia.

ARTHUR       - De que barreira você está falando?

TAYLA           - A barreira que você colocou entre nós dois. Nós já não temos feito mais nada, não temos saído; não nos divertimos em um nenhum momento.

ARTHUR       - Você acha que o casamento é uma diversão.

TAYLA           - Nenhum casamento é uma diversão, mas só dura aquele que é contemplado de alguma forma, mesmo que haja os problemas, as controvérsias.

ARTHUR       - O que você quer que eu faça, Tayla?

TAYLA           - Quero que você viva mais.

ARTHUR       - E largue o meu trabalho?

TAYLA           - Você já está pondo palavras na minha boca. Ninguém precisa largar o trabalho pra viver a vida de uma forma menos pesada, de uma forma um pouco mais feliz.

ARTHUR       - Aquele escritório é a minha vida. Ele fazia parte de um sonho que eu queria realizar e acabei realizando. Ele é a sua forma de sustento.

TAYLA           - A minha forma de sustento? Arthur, eu não dependo do seu escritório, eu tenho o meu próprio trabalho.

ARTHUR       - Aquele estúdio fotográfico que está indo de mal à pior?

TAYLA para. Fica olhando para ARTHUR seriamente.
CORTA PARA:

CENA 14. RIO DE JANEIRO. CARAMANCHÃO. PARQUE. EXTERIOR. DIA.
LÍVIA aproxima-se de WILLIAM. WILLIAM está com a cabeça enterrada entre os braços. O olha com afeto.

LÍVIA            - William...

WILLIAM levanta a cabeça. Fica olhando para LÍVIA. Alternamos os olhares de WILLIAM e LÍVIA. Congela em “WILLIAM”.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 27

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