COM AMOR
- TERCEIRA FASE –
de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES
direção
MIGUEL RODRIGUES
direção geral
MIGUEL RODRIGUES
HENZO VITURINO
núcleo
DNA – DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
Personagens deste capítulo
DAVI
RICARDO
CRISTINA
ARTHUR
TAYLA
LÍVIA
WILLIAM
ANGELINA
AUGUSTO
GREGÓRIO
MARINA
DR. BISMARCK (participação)
CENA
01. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DE RICARDO. INTERIOR. DIA.
DAVI está sentado em cima da cama enquanto Ricardo se veste.
DAVI - Eu
te admiro você ter orgulho de sua família. Por incrível que pareça, existem
pessoas que tem vergonha de serem filhas de pais adotivos.
RICARDO - É, mas
essas pessoas não sabem o significado de uma família adotiva, ainda mais quando
existe o amor por parte dela.
DAVI - E
quem teve a ideia de adoção?
RICARDO - A
minha mãe foi quem me adotou. Na época, ela fazia serviços comunitários, tudo
por hobby...
DAVI - A
sua mãe fazia serviços comunitários por hobby?
RICARDO - Sim. A
minha mãe não é uma dondoca da classe média alta.
DAVI -
Está bem. Continue.
RICARDO - Em um
desses serviços, ela e um grupo de mulheres foram a um orfanato. Lá, estava eu,
um bebê lindo esperando ser adotado por uma família bondosa. (Davi ri. Ricardo fica sem entender) Do
que você está rindo?
DAVI - Do
modo como você fala. Ninguém falaria de sua própria história comovente, usando
tons irônicos e dando a impressão de que está querendo fazer graça.
RICARDO - De que
modo você queria que eu falasse? Queria que eu fizesse um drama de novela
mexicana?
DAVI -
Está bem. Continue, por favor?
RICARDO - Eu já
não tenho mais nada pra falar.
DAVI -
Como assim?
RICARDO - O
final da história é que eu fui adotado pela Cristina e pelo Fernando, que hoje
são meus pais e os amo muito.
DAVI - E
quando seu pai se separou da Cristina?
RICARDO - Quando
eu tinha nove anos. Um ano mais tarde, ela se apaixonou pelo Gregório, eles já
se conheciam desde a adolescência, mas a vida resolveu os afastar para que se
reencontrassem anos mais tarde. Eles se casaram em seguida e estão juntos até
hoje. Eu tenho uma mãe e dois pais. Posso reclamar de alguma coisa? A resposta
é não.
DAVI - E
você nunca teve curiosidade em conhecer sua história verdadeira?
RICARDO - Essa é
a minha história verdadeira.
DAVI -
Estou falando de seus pais legítimos.
RICARDO suspira fundo e fica pensativo por alguns
segundos.
RICARDO -
Curiosidade em conhecer seus pais legítimos qualquer filho, sendo e que saiba
que é adotado, acaba tendo de uma forma... Mas eu prefiro não ficar pensando
nisso, nem mesmo acreditar que um dia possa ocorrer.
DAVI - Eu
te entendo.
RICARDO - E
também, eu tive uma vida maravilhosa. Meus pais se separaram após muitas
brigas, mas logo tudo voltou ao normal e assim está. Eu até ganhei outro pai,
que é o Gregório. De alguma forma, eu sou muito feliz.
DAVI - Se
percebe isso na forma como você leva a sua vida, nunca se deixa abalar e nem
mesmo fica de mau humor por qualquer coisa.
RICARDO - Não
tem porque eu ficar de mau humor. Eu acredito que os problemas da vida devem
ser levados com calma e leveza... E esperança acima de tudo. Agora se você se
deixar levar, os problemas só aumentaram e sua vida perderá a graça. Eu só vou
me deixar abalar quando acontecer algo que realmente seja sério, porque
enquanto isso não ocorrer, eu vou continuar sorrindo e levando a vida de uma
forma irônica.
DAVI - A
vida é irônica.
RICARDO - É
assim que se tem que levá-la.
RICARDO e DAVI se olham. Sorriem.
CORTA PARA:
CENA
02. CASA DOS BOAVENTURA. ESCADARIA. INTERIOR. DIA.
CRISTINA vê DAVI
descer a escada. Fica o fitando.
CRISTINA - Bem
que eu ouvi uma voz diferente no quarto do Ricardo.
DAVI - Eu
dormi aqui, Dona Cristina, espero que a senhora não veja nenhum problema nisso.
CRISTINA - Você
é amigo do meu filho, por que eu veria algum problema? Quer tomar café?
DAVI -
Não, muito obrigado! Eu já tenho que ir pra casa.
CRISTINA - Está
bem. Até qualquer momento!
DAVI -
Até!
DAVI retira-se. CRISTINA fica pensativa. RICARDO aparece.
CRISTINA - Se
sentindo um ano mais velho, meu filho?
RICARDO - Menos
um ano para o reumatismo me pegar.
RICARDO beija o rosto de CRISTINA. Lhe dá um forte abraço.
CRISTINA - Achei
que o Davi fosse ficar pro café.
RICARDO - Ele já
estava ansioso para ir pra casa por causa do irmão dele que é muito “durão”.
CRISTINA - Ele
mora com o irmão?
RICARDO - Sim.
Os pais dele vivem em São Paulo.
CRISTINA -
Hum...
RICARDO - Vamos
tomar café?
CRISTINA - Eu já
tomei.
RICARDO - Por
que não me esperou?
CRISTINA -
Porque você iria se acordar tarde demais e o seu pai sempre se acorda cedo.
RICARDO - Ah,
mas a senhora irá me fazer companhia.
CRISTINA - Tenho
que falar com o seu pai.
RICARDO - Nada é
mais importante do que acompanhar o seu bebê no café. Vamos!
RICARDO leva CRISTINA
até a copa.
CRISTINA - Você
já é um marmanjo!
RICARDO - Quem é
que sempre vai ao meu quarto me dar “boa noite” quando já estou deitado?
CRISTINA - Eu já
me acostumei a fazer isso.
RICARDO - Então
já que eu sou um marmanjo, trate de se desacostumar a fazer isso.
CRISTINA - Será
difícil.
RICARDO - Mas
não é impossível, Dona Cristina.
RICARDO dá um beijo na testa de CRISTINA. Começa a
preparar seu café. CRISTINA dá um sorriso, balança a cabeça negativamente e fica
o olhando.
CORTA PARA:
CENA
03. AP DOS FONTINELLY VILLARY. SALA. INTERIOR. DIA.
TAYLA entra no apartamento. Deixa a porta entreaberta. ARTHUR
entra. Fecha a porta revoltado. Vira-se. Fica olhando para TAYLA.
ARTHUR - Você
não devia ter me dado às costas e ter saído daquele jeito lá, na praia. Algumas
pessoas ficaram me olhando.
TAYLA -
Acontece, Arthur, que você havia me ofendido.
ARTHUR - Eu não
te ofendi.
TAYLA – (altera
a voz) Você praticamente jogou na minha cara que eu sou sustentada por você,
quando isso não é verdade. E, além de tudo, falou mal do meu estúdio. O que
você está pensando, Arthur?
ARTHUR - Acho
melhor você baixar o seu tom de voz comigo.
TAYLA - Eu
grito e falo em alto e bom som com quem eu quiser, até mesmo com o Papa.
ARTHUR - Eu sou
o seu marido e você me deve respeito.
TAYLA - Por
acaso, você me respeita? Não me faça rir, Arthur!
ARTHUR - Você é
quem começou toda essa discussão. Eu estava muito bem até que você começou a
falar do meu trabalho.
TAYLA - Eu
estava tentando te alertar.
ARTHUR -
Alertar do quê?
TAYLA - Que
se o nosso casamento continuar como está, eu me separo de você. (Arthur fica a olhando com surpresa e
seriamente. Tayla continua) Eu não casei pra viver um casamento assim. Eu
esperava que fosse um pouco mais amável, que você fosse dar mais tempo para a
nossa relação. Eu estava enganada. Ultimamente, são raros os momentos em que
estamos bem, conversando de boa. Quando discutimos, você consegue atingir o seu
nível de arrogância.
ARTHUR - E você
não é arrogante?
TAYLA - Não, eu não sou tão arrogante quanto você. Eu
tento ao máximo usar as palavras certas para não te ferir, não te magoar... Mas
você não age dessa forma comigo, você age ao contrário.
ARTHUR respira fundo. Solta o ar com nervosismo.
ARTHUR - Eu não
vejo razão para nos separarmos.
TAYLA - (retira-se)
Já eu vejo todas as razões... Mas não vou fazer isso agora.
ARTHUR - Vai
fazer quando?
TAYLA vira-se para ARTHUR e fica o fitando.
TAYLA -
Você quer se separar de mim, Arthur?
ARTHUR - Você é
quem está falando em separação.
TAYLA -
Pois fique sabendo que eu não quero me separar agora, porque eu ainda gosto
muito de você. Agora se não fosse por esse motivo, eu já teria me separado de
você há seis meses.
ARTHUR - Você
não vai falar sobre essa história novamente, vai?
TAYLA -
Não, eu não vou falar, até porque o que eu vi não deu pra provar exatamente
nada. E você usava o seu trabalho como desculpa.
ARTHUR - Então
é por isso que você me quer mais tempo em casa?
TAYLA - É
um dos motivos.
ARTHUR - (pensativo)
Não aconteceu nada, Tayla, mesmo que você não acredite.
TAYLA não responde
nada e vai para o quarto.
CORTA PARA:
CENA
04. RIO DE JANEIRO. CARAMANCHÃO. PARQUE. EXTERIOR. DIA.
Continuação da última cena do capítulo anterior. WILLIAM
fica olhando LÍVIA. LÍVIA senta-se ao seu lado.
LÍVIA - A
Angelina conversou comigo.
WILLIAM - Então
ela deve ter lhe falado tudo.
LÍVIA -
Ela me falou o mais importante: que você está determinado que quer mesmo ser
internado e começar um tratamento para se livrar da dependência química.
WILLIAM - Agora
a senhora está satisfeita?
LÍVIA -
Mais do que satisfeita, eu estou muito feliz porque você tomou essa atitude. É
uma decisão muito importante em sua vida.
WILLIAM - E
quando vai ser?
LÍVIA - Há
algum tempo, eu já estava me informando sobre algumas clínicas. Eu já tenho uma
escolhida e há uma vaga que ainda está de pé para você. É uma clínica muito
conceituada. Lá, você irá ser tratado com os melhores médicos, os melhores
enfermeiros e terá tudo para prosseguir sua vida sem que esse vício maldito
acabe com você.
WILLIAM - A
senhora irá me abandonar lá?
LÍVIA -
Não, meu filho, eu sempre irei te visitar quando estiver liberado para visitas.
Eu nunca vou deixar de estar ao seu lado e pensando em você.
LÍVIA não contém suas lágrimas de emoção. WILLIAM a olha
fixamente.
WILLIAM - Eu te
amo, mãe!
LÍVIA - Eu
também te amo, meu filho! (eles se
abraçam fortemente. Lívia continua) Que você consiga ser forte para passar
pelo tratamento, que você consiga ser forte para escrever um novo destino pra
sua vida, uma vida mais feliz.
ANGELINA aparece e acaba ficando emocionada ao ver os dois
abraçados.
CORTA PARA:
CENA 05. RIO DE JANEIRO. GERAIS. EXTERIOR. DIA.
Planos gerais da cidade do Rio
de Janeiro, são mostrados em ritmo frenético acompanhados por uma música
ambiente. As imagens devem dar impressão de mudança de tempo.
CORTA IMEDIATO PARA:
CEN
06. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. FRENTE. EXTERIOR. MAIS TARDE.
O carro dos Villary para em frente à Clínica de
Reabilitação. WILLIAM desce do carro acompanhado por LÍVIA.
LÍVIA - É
um lugar lindo, não acha?
WILLIAM - (um
pouco triste) É.
LÍVIA -
Aqui será o seu segundo lar, onde você irá trilhar um novo caminho.
WILLIAM - A senhora
vai entrar comigo?
LÍVIA -
Sim. Fique tranquilo, meu filho, eu não vou te deixar sozinho até que seja
encaminhado pelos enfermeiros.
WILLIAM - Que
tipo de tratamento irão me aplicar?
LÍVIA - Já
estou percebendo que você está muito receoso.
WILLIAM - A
verdade é que eu não queria ter vindo.
LÍVIA -
Agora você não pode desistir. Você jurou que iria fazer esse tratamento. Eu mal
dormi essas duas últimas noites, porque eu tinha medo que você fugisse de casa.
WILLIAM - Isso
significa que a senhora não confia em mim.
LÍVIA -
Você é quem não confia em si mesmo. Você tem que ser forte nesse momento,
porque eu e a Angelina estamos lhe dando nosso apoio, ou seja, você não está
sozinho nessa caminhada.
WILLIAM - E se
tiverem verdadeiros malucos nessa clínica?
LÍVIA - Eu
não iria te internar em uma clínica qualquer, onde não tivessem pessoas
realmente confiáveis. Já podemos ir?
WILLIAM fica inquieto e pensativo.
WILLIAM -
Vamos!
LÍVIA e WILLIAM entram na clínica. WILLIAM parece meio inseguro.
CORTA PARA:
CENA
07. RESTAURANTE. SALÃO. INTERIOR. DIA.
ARTHUR e AUGUSTO tomam um uísque. Conversam. ARTHUR fala
de WILLIAM.
ARTHUR - Você
devia ter acompanhado a sua esposa e o seu filho.
AUGUSTO - Por
quê?
ARTHUR - Porque
o seu filho decidiu que irá fazer o tratamento e está se internando uma clínica
por vontade própria. Comemore. Você nem moveu esforços para interná-lo.
AUGUSTO - Quero
ver até quando ele vai ficar lá.
ARTHUR - Você
devia acreditar mais no seu filho.
AUGUSTO - Ele não
me deu o mínimo de confiança para que eu acredite nele. Nem dou nem uma hora
pra ele ficar lá, acabar se enjoando e pedir pra sair ou tentar fuga.
ARTHUR - Você é
muito pessimista.
AUGUSTO -
Realismo não condiz pessimismo.
AUGUSTO toma um gole de uísque. ARTHUR desvia o olhar.
Balança a cabeça negativamente.
CORTA PARA:
CENA
08. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. SALA DO MÉDICO. INTERIOR. DIA.
WILLIAM e LÍVIA sentam-se em uma confortável poltrona à
mesa do médico que comandava a clínica de reabilitação. Um homem aparece, se
apresentA como o DR. OTAVIANO BISMARCK, os cumprimenta com um aperto de mãos e
depois senta-se.
DR. BISMARCK - Seja bem vindo, William!
WILLIAM -
Obrigado!
DR. BISMARCK - Já conversei com sua mãe e sei o quanto
deve estar sendo difícil essa decisão que você resolveu tomar em sua vida. Mas
tudo é para o seu bem.
WILLIAM - Eu
espero...
DR. BISMARCK - Você não está muito confiante, não é? Mas
aqui, em nossa clínica, nós iremos fazer de tudo para que você jamais perca a
motivação. Nosso trabalho é fazer com que você se livre da dependência química
e possa seguir sua vida sem os grandes problemas que esse vício pode trazer.
WILLIAM -
Quanto tempo ficarei aqui?
DR. BISMARCK - A sua internação e o tratamento podem durar
de alguns dias até seis meses. Depois que você estiver liberado, nós ainda
continuaremos mantendo você em observação para que possamos ter certeza de que
o tratamento está funcionando com êxito, porque a dependência química não tem
cura. É um tratamento contínuo e permanente.
LÍVIA -
(preocupada) Como não há cura?
DR. BISMARCK - Não há cura, mas é uma doença controlável.
Se o William se empenhar no tratamento, ele poderá viver muito bem sem as
bebidas alcoólicas, que também é considerada uma droga mesmo não sendo ilegal.
A dependência química é dos maiores maus sociais. A família do dependente é a
maior atingida, pois acaba se tornando uma co-dependente. O convívio com o
dependente acaba fazendo com que o emocional dos familiares acabe adoecendo,
fazendo assim que, muitas vezes, também tenham que ser obrigados a se tratar e
aprender a como lidar com a situação. Segundo uma pesquisa, ao menos 28 milhões
de pessoas no Brasil têm algum familiar que é dependente químico, o que
corresponde à 5,7% dos brasileiros sejam usuários de alguma droga, índice que
representa 8 milhões destes mesmos.
LÍVIA - (surpresa)
São números surpreendentes.
WILLIAM permanece quieto.
DR. BISMARCK - É um fato mundial que jamais irá ter fim...
Mas sempre haverá aqueles que desejam diminuir esses índices. E nós queremos te
ajudar, William, basta apenas que você queira realmente. A nossa clínica é
muito bem conceituada. De 100% dos pacientes que já passaram por aqui, 72% já
tiveram ótimos desempenhos e conseguem viver uma vida normal, sem o uso dessas
drogas. É um tratamento difícil, mas você terá que ser forte. Nós exigimos
apenas força de nossos pacientes, afinal é o que qualquer dependente químico
tem que ter quando deseja realmente se livrar da dependência. Você quer
realmente se tratar?
WILLIAM se remexe
na poltrona e fica inquieto novamente.
WILLIAM -
Quero.
LÍVIA dá um sorriso de satisfação.
DR. BISMARCK - (sorri) Então seja bem vindo a essa
jornada!
WILLIAM balança a cabeça e permanece-a baixa.
CORTA PARA:
1°
INTERVALO COMERCIAL
CENA
09. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DO CASAL. INTERIOR. DIA.
CRISTINA entra no quarto. Parece inquieta. GREGÓRIO
percebe sua inquietação.
GREGÓRIO - Por que
está desse jeito?
CRISTINA - Nada.
GREGÓRIO - É raro
você ficar assim. O que está acontecendo?
CRISTINA - Eu
estava pensando no nosso filho.
GREGÓRIO - O que
ele tem?
CRISTINA - Ele
nunca teve um relacionamento sério.
GREGÓRIO - E isso é
motivo de preocupação?
CRISTINA - Não,
é que... Eu nem sei como te explicar direito.
GREGÓRIO - O
Ricardo é um rapaz muito jovem, não pensa em se prender a ninguém tão cedo.
CRISTINA - Ele
nunca se abre comigo.
GREGÓRIO - E nem
tem porque ele fazer isso. A vida dele é tão clara.
CRISTINA - Eu
preciso ter uma conversa com ele.
GREGÓRIO - (sorri) Juro
que estou tentando te entender, mas não consigo.
CRISTINA - (determinada)
Você vai me entender mais tarde.
GREGÓRIO fica sem entender o que CRISTINA quis dizer.
CRISTINA caminha até a sacada e fica observando o movimento de sua casa.
CORTA PARA:
CENA
10. RIO DE JANEIRO. GERAIS.
Fim de tarde.
CENA
11. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. SALÃO. INTERIOR. FIM DE TARDE.
MARINA fotografa alguns rapazes seminus. TAYLA observa um
pouco afastada. Não consegue conter o sorriso malicioso. Após o término da
sessão, ela se aproxima da prima.
TAYLA -
Acabou mesmo?
MARINA - E
você deve estar querendo que eu continue.
TAYLA -
Eram belos modelos, eu tenho que admitir.
ARTHUR aparece neste mesmo momento. Fica fitando a esposa.
MARINA - (surpresa)
Arthur, que surpresa!
ARTHUR - Esse
estúdio virou um antro de libertinagens?
TAYLA - (o
olha seriamente) Era apenas uma sessão fotográfica.
ARTHUR - Mas
vocês aproveitam já que são belos rapazes, corpos esculturais...
MARINA - (sorri
ironicamente) Você também percebeu isso?
ARTHUR - Tire
esse sorriso debochado de seu rosto, Marina. Esse estúdio já não dá mais lucro
como antigamente e aí você está se vendo obrigada a fazer sessões
pornográficas.
MARINA -
Repita o que você falou!
TAYLA - Por
favor, Marina... Arthur, vamos embora!
MARINA - Não,
Tayla, agora eu vou dizer algumas coisas pro seu marido.
TAYLA –
Marina... Eu não quero que vocês dois briguem.
ARTHUR - (seriamente)
Deixe, Tayla!
MARINA - O que
você está pensando, Arthur? Eu sou uma fotografa respeitada, assim como a sua
esposa. E tem mais: a nudez faz parte do meu trabalho, mas não da forma pornográfica,
mas sim de uma forma artística. A nudez é arte. Eu imagino que você não
soubesse, afinal é um ignorante!
ARTHUR - Você
tem que fazer de tudo, até mesmo apelar para que esse estúdio não vá à ruína.
MARINA - Você
está muito enganado, o estúdio anda muito bem financeiramente.
TAYLA - (puxa
Arthur) Chega! Vamos embora, Arthur!
MARINA -
(grita revoltada) Idiota!
ARTHUR e TAYLA se retiram. MARINA com ódio joga um objeto
contra a parede.
CORTA PARA:
CENA
12. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. FRENTE. EXTERIOR. DIA.
ARTHUR para ao lado do automóvel. TAYLA o olha seriamente.
TAYLA -
Você não me respeita, não respeita a minha prima e nem mesmo o meu trabalho.
ARTHUR - Vai
defender aquela sonsa?
TAYLA - Ela
é a minha prima e, além de tudo, somos sócias e temos um trabalho muito bem
sucedido, ao contrário do que você faz questão de gritar ao mundo.
ARTHUR - Como
você acha que eu me senti vendo aqueles rapazes daquele jeito?
TAYLA - A
Marina tem razão: você é um ignorante!
ARTHUR - Eu não
admito que você me chame de ignorante.
TAYLA -
Você não tem que admitir nada, afinal nem era para estar aqui. Você devia estar
no seu trabalho.
ARTHUR - Para
que você reclame que eu não lhe dou atenção, que eu vivo naquele escritório?
TAYLA - E
qual é a sua intenção com tudo isso? (Arthur
prefere ficar quieto. Tayla continua) Não vai me responder, Arthur, qual é
a sua intenção? (Arthur fica um pouco
inquieto, fez menção de abrir a boca, mas demora mais um pouco. Tayla perde a
paciência) Vá sozinho pra casa, porque o meu está estacionado na garagem.
TAYLA já vai se retira, mas é impedida por ARTHUR ao
falar.
ARTHUR - Salvar
o nosso casamento.
TAYLA vira-se para ARTHUR. O encara novamente.
TAYLA - E é
dessa forma que você pretende salvar o nosso casamento?
ARTHUR - Me dê
ao menos uma chance.
TAYLA - Eu
já te dei todas as chances.
ARTHUR - Eu te
amo, Tayla!
TAYLA -
Nada do que você me fale agora irá cobrir o que você acabou de fazer lá, dentro
do estúdio.
ARTHUR - Aquele
estúdio é meu, se esqueceu?
TAYLA - O
estabelecimento é meu e seu, faz parte de nossos bens. Agora em relação ao
estúdio em si, é meu e da Marina.
ARTHUR - Vamos
ver então.
TAYLA -
Você está me ameaçando, Arthur?
ARTHUR -
Entenda como quiser, Tayla. Hoje à noite, não estarei em casa.
ARTHUR abre a porta do carro. Entra em seguida.
TAYLA - (grita
revoltada) Faça o que você quiser, eu não tenho nada a ver com a sua vida.
ARTHUR liga o automóvel. Acelera revoltado e vai embora.
CORTA PARA:
CENA
13. RIO DE JANEIRO. GERAIS.
Anoitece.
CENA
14. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. INTERIOR. NOITE.
LÍVIA chega a casa. Vê que AUGUSTO já estava em casa. Ele
serve um copo com uísque.
AUGUSTO - Achei
que não fosse mais vir pra casa hoje.
LÍVIA - Se
eu não viesse, com certeza eu estaria com o meu filho.
AUGUSTO - Então
você estava lá até essa hora?
LÍVIA - É
claro. E, além de estar cumprindo o meu papel de mãe, eu também estava fazendo
a sua parte de pai.
AUGUSTO - Eu tive
que ir trabalhar, você sabe muito bem disso.
LÍVIA - E
mesmo se não fosse trabalhar hoje, você não iria me acompanhar ao lado de nosso
filho até a clínica.
AUGUSTO - Por que
eu iria sabendo que nada disso irá dar certo?
LÍVIA -
Você não acredita na capacidade do seu próprio, é isso que me deixa magoada.
AUGUSTO - O
William tem capacidade pra alguma coisa?... Eu juro que não sabia. Achei que
ele só tivesse capacidade pra beber e infernizar as nossas vidas.
LÍVIA -
Você é muito cruel!
AUGUSTO - Eu não
sou cruel, Lívia. Eu apenas estou tentando abrir os seus olhos. O William não
irá ficar lá por muito tempo: ou acabará enjoando por causa da abstinência ou
fugirá.
LÍVIA - A
abstinência é a pior fase do tratamento. Mas eu sei que meu filho irá tirar de
letra, porque ele quer realmente mudar de vida.
AUGUSTO - E você
é tão ingênua, você está tão iludida que acabará se dando mal.
LÍVIA dá um sorriso irônico. Balança a cabeça. Encara
AUGUSTO.
LÍVIA - Eu
errei, Augusto, eu errei em ter te escolhido pra ser meu marido. Eu errei em
ter me deixando levar pela paixão. Eu errei em ter deixado você ser o pai dos
meus filhos.
AUGUSTO - Apenas
um filho.
LÍVIA -
Não, eu tive dois filhos. Só que o primeiro foi tirado de meus braços. E o
segundo estava quase se entregando pra morte prematura, mas eu não deixei
porque não quero perder mais um filho.
AUGUSTO - (dá um
gole no uísque) A dor do fim de uma ilusão é a pior que existe.
LÍVIA -
Não é uma ilusão, o William vai conseguir superar tudo e terá uma vida feliz.
LÍVIA retira-se. AUGUSTO dá um sorriso irônico. Balança a
cabeça negativamente. Dá mais um gole no uísque.
CORTA PARA:
CENA
15. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DE RICARDO. INTERIOR. NOITE.
RICARDO chega em casa. Dirige-se ao seu quarto. Ao abrir a
porta, ele se depara com CRISTINA.
RICARDO - Mãe...
CRISTINA - Já
chegou, meu filho?
RICARDO - Sim.
Eu estou aqui. Veio ver se algo está desarrumado? Faz tempo que eu não deixo
minhas cuecas e meias sujas dentro do roupeiro.
CRISTINA - Pare
de falar besteiras!
RICARDO - É
normal que um adolescente faça isso.
CRISTINA - Só
pra você é normal. Para mim, isso se chama “relaxamento”.
RICARDO - Ah, eu
tenho que lhe dar uma notícia. Como eu estou de férias, por enquanto, eu vou
viajar com meus amigos.
CRISTINA - E o
Davi vai junto?
RICARDO - Sim.
CRISTINA -
Filho, eu tenho que te fazer uma pergunta: o Davi é homossexual?
RICARDO espantado fica olhando para CRISTINA.
CORTA PARA:
CENA
16. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
WILLIAM tenta abrir a porta, mas ela está
trancada.
WILLIAM –
(grita) Que droga!
WILLIAM fica revoltado. Desarruma a cama e depois atira um
vaso contra a parede. Congela em “WILLIAM” revoltado.
CORTA PARA:
FIM DO
CAPÍTULO 28
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