Episódio 07 - Aconteceu Aos 16



(Velório do S.r Jorge, Residencial Travel, 22:37 hrs)
Um show, isso, só o que poderia resumir o que a minha mente estava pensando, e quando digo um show me refiro a todos os espetáculos possíveis, de encenação, equilibrismo, e agora terror.
Eu e Beth conseguimos fugir daquele escândalo que se iniciou lá em cima, mas agora estávamos prestes a entrarmos em outro maior aqui embaixo, um carro preto que parou quase em nossa frente já próximo a saída da Mansão Travel, nos fez tirar o fôlego depois de termos visto uma espécie de Drácula saindo de dentro dele.
– Menteu? Eu esqueci uma coisa lá dentro.
Disse Beth baixinho
Eu fiquei perplexo com aquele cara saindo de dentro do carro, e minha imaginação começou a me levar a mil e uma especulação sobre aquele sujeito, e em menos de  um minuto ela me levou a Três conclusões precipitadas.
Conclusão 1:  Ali estava o corpo do senhor Jorge na nossa frente
Conclusão 2:  Os Vampiros e toda aquela historia de bruxos era real.
Conclusão 3: Alguém tinha o ressuscitado dos anos 30, por que aquele estilo de roupa não se usa há décadas.
 Retomei o controle ao ouvir Beth gritar
-Menteu, tá mouco?
– Oi, desculpa.
– Eu esqueci o meu anel lá dentro, e não sei onde deixei ele cair, ele tem valor simbólico, não posso perdê-lo, vou voltar para buscar.
Nesse momento, o cara de sobretudo preto, já tinha se deslocado com um buquê de rosas pretas em direção a sala onde o corpo estar a ser velado.
– Não Beth, não podemos voltar lá, podem nos reconhecer ou sei lá esse maluco que entrou agora, quem pode nos garantir que ele não seja da NASA, e tenha vindo nos pegar?
– Tchau, Menteu.
Beth saiu após fazer uma cara de negação.
Eu não queria entrar lá de novo, estava um clima pesado e tinha medo de alguém descobrir que na verdade o tal ladrão era eu.
Mas se tratava de Beth, e eu sentia que precisava dela, e precisava protege-la, eu renunciava os meus medos, minhas perturbações, e ate a eu mesmo, para poder protege-la. Então voltei novamente a sala.
Toda aquela confusão estava sendo discutido do lado de fora, próximo ao corpo do senhor Jorge,  gritaria, choros, cheiro de alho e de velas, era o que agora estava a predominar naquele lugar.
Tentei localizar Beth, e entre empurrões no meio daquela multidão, eu não conseguir ver ela, mas localizei o maluco Vampiro sem nome, estava posicionado ao lado do caixão, com suas rosas pretas e todo o seu LUTO. Tentei passar correndo para não dar de cara com ele, mas algo me fez parar uns 5 metros atrás do tal moço.
Era o anel da Beth.
Estava largado por trás de uma cortina do lado da frente do caixão.
Então me agachei e fui rastejando por debaixo do caixão em um espaço de quase meio metro, entre o chão e o corpo do senhor Jorge.
Quando cheguei para pegar o anel, outra mão o pegou antes de mim, era a Beth, que também abaixada, já estava com o anel em mão.
– Beth?
Falei baixo sem chamar  a atenção
– Menteu, meu anel.
Disse ela apontando para o objeto que estava em sua mão.
– É eu sei
Falei sorrindo.
Juntei-me a ela, pois era o meio mas fácil de ficar de pé.
Me levantei, e ela logo em seguida, fomos surpreendidos por algumas pessoas que estavam falando do ocorrido próximo ao único acesso no qual não seriamos vistos, que seria o da cozinha, ambos estava a relatar o ocorrido no quarto do Thed.
Estávamos presos.
Ficamos parados um próximo ao outro por trás daquelas cortinas que trazia algumas mensagens da bíblia e a imagem de Jesus, eu há pouco menos de 30 cm dela, uma distancia de uma régua escolar usado frequentemente, eu estava sentindo o seu cheiro, estava vendo o seu rosto, e ela também me olhava, o clima tenso tinha ido embora, o cheiro de vela e alho foi filtrado pelo doce perfume que saia de seus cabelos, me aproximei mais dela, e agora não estava mas distante, o que separava eu dela eram míseros milímetros, ela tocou em meu ombro, eu coloquei a mão na cintura dela, tudo estava em silencio naquele momento, até que todo esse som neutro foi cortado pelo homem do buque preto, e algumas palavras que saiu da sua boca fez Beth me largar e se concentrar no que ele estava falando.
– Jorge, Jorge, amou mais a vaidade do que a você mesmo, e te ver aqui me trás diversas lembranças de nós dois, você era soro positivo meu caro, eu não, você nunca soube disso, já eu, bom, eu sempre soube, e fiz questão de acelerar esse turbilhão de vírus que possui dentro de você.
Beth fez sinal que iria falar, então tampei a boca dela, e com os ouvidos atentos continuamos a escutar.
– Nunca te quis, sempre amei o seu dinheiro, seu padrão social, a sua fortuna, te trago aqui algumas tulipas pretas, isso, e trago elas como deboche do seu texto fúnebre que eu tive o prazer de roubar do cofre na qual você me passou a senha naquela noite.
Maldito.
Escreveu palavras soltas e ao vento, falou dos vales do sul, das plantas do norte, da hora nona, bobagem, é o que resume a sua trajetória de vida e o final dela, deixou algo que escondia de todos, e preferi-o continuar a esconder de mim, sei que é algo de muito valor, e não vou descansar até encontrar.
Ele continuou a falar com um olhar de ódio e nojo no rosto.
– E assim me despeço de você, da mesma forma que se despediu de mim naquele inútil papel, “o símbolo do amor, de uma forma neutra, de uma cor sem vida, e com tom escuro” seu buquê imprestável.
 Por trás das cortinas percebemos ele  jogando o buque na cara do pobre defunto.
– Entrei hoje aqui para cortejar o seu velório, e saio comemorando a minha vitória.
Ao terminar essas palavras o moço partiu.
Olho para Beth e ela olha para mim ambos com olhar de medo, juntos notamos que o local já não estar mais obstruído e saímos juntos para a cozinha na tentativa de sair pela porta dos fundos.
– Vamos ficar?
Disse Beh.
– Você que ficar?
Perguntei.
– Sim, ainda não terminei o que vim fazer aqui.
– Certo.
Voltamos para o funeral, e um comunicado de um cara de terno, fez todos que estava a conversar voltar o foco para ele.
– A pedido do senhor Jorge, eu como seu advogado vou ler o seu testamento.
Gritou o homem do alto da escada que dava quase 6 metros de altura.
Todos do cortejo ficam com cara de surpresos, e esse semblante dava para ser percebido por todos, por enquanto.
Em um piscar de olhos toda a iluminação da casa é apagada, alguns gritos e gemidos são escutados, uma correria e pisadas, e o alvoroço de gente, junto a um breve barulho como de impacto.
– Viraram o Caixão
Gritou Beth segura em minha mão.

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