Memória DNA | Com Amor | Capítulo 11




COM AMOR

Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
MIGUEL RODRIGUES

Direção de Núcleo
#DNA – DRAMATURGIA NOVOS AUTORES

Personagens deste capítulo

MIGUEL
SOPHIA
JULIANA
CAROLINA
ÂNGELO
RAUL
GABRIELA
LEONARDO

Participação Especial:

PEDRINHO
MARIA
CECÍLIA
REGINA
VIZINHA
OTTO
















CENA 01. CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. TARDE.

MIGUEL ENTRA NO QUARTO. VÊ PEDRINHO SENTADO NA CAMA. APROXIMA-SE DO AMIGO. SENTA AO SEU LADO.

MIGUEL               — Não se machucou?

PEDRINHO          — Não. Só foi um tombo.

MIGUEL               — Ainda bem que você não se machucou e não está sentindo nada.

MIGUEL E PEDRINHO SE OLHAM. SORRIEM UM PARA O OUTRO.
CORTA PARA:

CENA 02. CASA DE ELVIRA. COZINHA. INT. TARDE.

SOPHIA ESTÁ NA COZINHA. PARECE IMPACIENTE. JULIANA APARECE. OLHA SOPHIA DOS PÉS À CABEÇA.

SOPHIA                — E aquele menino, ele está bem?

JULIANA             — O que você está fazendo aqui ainda?

SOPHIA                — Eu estou esperando o Miguel.

JULIANA             — Então espere ele lá fora.

SOPHIA                — Eu queria saber notícias daquele menino.

JULIANA             — (OLHA SERIAMENTE PARA SOPHIA) O Pedrinho não se machucou e está se sentindo muito bem. Agora você já pode ir.

SOPHIA RETIRA-SE. MIGUEL APARECE. OLHA PARA OS LADOS A PROCURA DE SOPHIA.

MIGUEL               — Cadê a Sophia?

JULIANA             — Ela já voltou pra fazenda.

MIGUEL TAMBÉM SE RETIRA. VAI ATRÁS DE SOPHIA. JULIANA FAZ CARA DE NOJO.
CORTA PARA:





CENA 03. CASA DE ELVIRA. FRENTE. GRAMADO. EXT. TARDE.

MIGUEL AVISTA SOPHIA CAMINHANDO. CORRE ATRÁS DELA. GRITA.

MIGUEL               — Sophia.

SOPHIA VIRA-SE PARA MIGUEL. FICA PARADA. MIGUEL VAI EM DIREÇÃO A ELA.

MIGUEL               — Eu disse pra você me esperar.

SOPHIA                — A sua prima praticamente me expulsou de lá... Ela não gosta nem um pouco de mim.

MIGUEL               — (IRRITADO) Mas a Juliana me paga!

SOPHIA                — Não vá brigar, Miguel.

MIGUEL               — Eu não vou deixar isso “barato”. A Juliana não tinha o direito de fazer isso com você.

SOPHIA                — Deixe assim, Miguel.

MIGUEL               — Não, Sophia, isso não vai ficar assim.

SOPHIA                — Faça o que você quiser, Miguel, agora eu tenho que voltar pra fazenda.

MIGUEL               — Eu vou te levar até lá.

SOPHIA                — Não precisa, eu vou sozinha. O seu amigo quase se machucou e deve estar precisando de você.

MIGUEL               — Ele não se machucou.

SOPHIA                — Mas pode estar querendo falar com você. Eu vou sozinha.

MIGUEL               — (COM UMA EXPRESSÃO TRISTE NO ROSTO) Está bem... Mais tarde eu vou lá.

SOPHIA                — Então, ta...

SOPHIA VIRA-SE DE COSTAS PARA MIGUEL E VOLTA PARA A FAZENDA SOZINHA. MIGUEL TAMBÉM DÁ AS COSTAS PARA SOPHIA. TRISTE VOLTA PARA CASA. LOGO ELE MUDA A EXPRESSÃO DE TRISTEZA PARA RAIVA E VAI EM DIREÇÃO DO CELEIRO.
CORTA PARA:

CENA 04. CASA DE ELVIRA. PEQUENO CELEIRO. INT. TARDE.

JULIANA ESTÁ SENTADA DE COSTAS PARA A PORTA DO CELEIRO. OBSERVA OS CAVALOS. ESTÁ DISTRAÍDA. NÃO PERCEBE QUANDO MIGUEL APARECE. MIGUEL PEGA UM PUNHADO DE RAÇÃO DE GALINHA E JOGA EM CIMA DE JULIANA QUE VIRA-SE PARA O PRIMO.

JULIANA             — (GRITA) Você está louco?

MIGUEL               — Isso é pra você aprender, sua nojenta!

JULIANA             — O que eu fiz pra você?

MIGUEL               — Expulsou a Sophia lá de casa.

JULIANA             — (PROVOCATIVA) Ah, a “dondoquinha” fez fofoca?

MIGUEL               — Você não tinha o direito de fazer isso.

JULIANA             — E aí resolveu se vingar jogando ração em mim? Eu vou contar pro meu pai.

MIGUEL               — Pode contar, sua nojenta!

JULIANA             — (OLHA SERIAMENTE PARA MIGUEL) O tio Evandro tinha que te proibir de ver aquela boboca.

MIGUEL               — Mas ele não vai me proibir... Você tem inveja da Sophia, porque ela é mais linda do que você, porque ela usa roupas que você jamais vai colocar nesse corpo.

JULIANA             — (GRITA) Cale a boca!

MIGUEL               — (GRITA) Você é quem tem que calar a boca.

CAROLINA APARECE PARA VER O QUE ESTÁ ACONTECENDO.

CAROLINA          — (ASSUSTADA) O que está acontecendo aqui?

JULIANA             — Tia, o Miguel está brigando comigo.

MIGUEL               — Essa pirralha expulsou a Sophia lá de casa.

CAROLINA          — (OLHA PARA JULIANA) Isso é verdade, Juliana?

JULIANA             — (MENTE) Ela inventou isso pro Miguel.

MIGUEL               — A Sophia não mente, ela não é igual a você.

CAROLINA          — Chega! (OLHA PARA JULIANA.CONTINUA) Juliana, a Sophia é amiga do Miguel e eu gosto muito dela. Ela é uma menina muito boa. Da próxima vez, não é pra fazer o que você fez.

JULIANA             — (MENTE) Eu não fiz nada, tia.

MIGUEL               — (GRITA) Mentirosa!

CAROLINA          — (ALTERA A VOZ) Miguel, chega! (t) Vocês dois são primos e eu não quero mais saber de brigas, está entendido? Agora tratem de fazer as pazes.

MIGUEL               — Eu não vou fazer as pazes com essa garota.

CAROLINA          — Ela é a sua prima.

MIGUEL FICA OLHANDO SERIAMENTE PARA JULIANA.

JULIANA             — Você me desculpa, Miguel?

MIGUEL               — Não.

MIGUEL SE RETIRA DO CELEIRO. CAROLINA TENTA FAZÊ-LO VOLTAR.

CAROLINA          — Miguel, volte aqui!

JULIANA             — Deixe, tia.

CAROLINA OLHA PARA JULIANA.
CORTA PARA:

CENA 05. FAZENDA DE ÂNGELO. CASARÃO. SALA. INT. TARDE.

ÂNGELO ESPERA POR SOPHIA. PARECE PREOCUPADO. SOPHIA ENTRA NO CASARÃO. DEPARA-SE COM ÂNGELO SENTADO NA POLTRONA.

ÂNGELO              — (OLHA PARA SOPHIA) Onde você estava, minha neta? Eu fui ao jardim e não te vi lá.

SOPHIA                — Não vou mentir, vovô, eu fui na casa do Miguel.

ÂNGELO              — Mas eu disse que era pra vocês ficarem por essas redondezas.

SOPHIA                — Me desculpe, vovô!

ÂNGELO              — Não precisa se desculpar, minha neta... Por que o Miguel te levou lá?

SOPHIA                — Ele queria me mostrar um cavalinho que o tio dele ganhou do patrão.

ÂNGELO              — Um cavalinho? Um cavalo recém-nascido?

SOPHIA                — (SORRI) Ele é muito fofo, muito lindo!

Ângelo fica olhando admirado para Sophia. Sophia estranha.

SOPHIA                — O que foi, vovô?

ÂNGELO              — Você me lembrar o seu pai quando ele era criança.

SOPHIA MUDA DE EXPRESSÃO. ABAIXA A CABEÇA.

SOPHIA                — Eu sinto muita falta dele... Eu queria tanto que ele estivesse aqui comigo.

ÂNGELO              — Eu também queria que ele estivesse aqui... Eu também queria.

SOPHIA                — (PENSATIVA) Se ele estivesse aqui comigo, nada do que está acontecendo iria acontecer.

ÂNGELO              — E o que está acontecendo?

SOPHIA                — (MENTE) Nada.

ÂNGELO              — Eu percebi que você está muito diferente, Sophia, então não minta pra mim. É algo a ver com sua mãe?

SOPHIA                — Não tem nada a ver com minha mãe... Eu só estou sentindo a falta que o meu pai faz.

ÂNGELO              — Tem algo me dizendo que não é apenas isso.

SOPHIA                — E o que mais poderia ser, vovô?

ÂNGELO              — Como eu vou saber, Sophia? Isso só você pode me responder. Se estiver acontecendo algo, você não pode me esconder, entendeu?

SOPHIA                — Está bem, vovô.

ÂNGELO              — Eu não vou ficar insistindo pra você me falar, mas saiba que eu sou muito mais do que seu avô, eu também sou seu amigo.

SOPHIA                — Eu sei disso, vovô.

ÂNGELO FICA OLHANDO PARA SOPHIA POR ALGUNS INSTANTES. MIGUEL ENTRA.

ÂNGELO              — (SORRI) Miguel.

MIGUEL               — Seu Ângelo.

MIGUEL E ÂNGELO SE ABRAÇAM.

ÂNGELO              — E como você está, meu menino?

MIGUEL               — Eu estou bem.

ÂNGELO              — Que bom! Veio levar minha neta novamente?

MIGUEL               — Sim.

ÂNGELO              — (BRINCA) Eu já sabia. Vou ter minha neta “roubada” novamente.

MIGUEL PEGA NA MÃO DE SOPHIA.

MIGUEL               — Vamos lá pra fora?

SOPHIA                — Quero ficar aqui dentro.

MIGUEL               — Aqui dentro? Por que, Sophia?

ÂNGELO              — (SORRI) Vá, Sophia!

MIGUEL PUXA SOPHIA E A LEVA PARA A VARANDA.
FUSÃO PARA:

CENA 06. CASARÃO. VARANDA. EXT. TARDE.

MIGUEL E SOPHIA CHEGAM À VARANDA. SOPHIA SE SOLTA DE MIGUEL.

SOPHIA                — Eu não queria vir aqui pra fora.

MIGUEL               — Por que, Sophia?

SOPHIA                — Porque eu não estava afim.

MIGUEL               — Você está muito chata, sabia?

SOPHIA                — Eu tenho meus motivos, Miguel.

MIGUEL               — Que motivos? Você está chata sem motivo nenhum.

SOPHIA                — Eu não vou brigar com você, Miguel.

MIGUEL               — É você quem está querendo brigar, Sophia.

SOPHIA                — (INDIGNADA) Eu?

MIGUEL               — Sim, você!

SOPHIA                — É que você não gosta de ser contrariado, eu não queria vir pra cá.

MIGUEL               — (GRITA) Então volte lá pra dentro se esse é o seu problema.

SOPHIA                — (GRITA) É o que eu vou fazer, seu estúpido! (SOPHIA RETIRA-SE, MAS MIGUEL A PUXA PELA CINTURA. SOPHIA FICA IRRITADA) Eu não gosto quando você me puxa pela cintura.

MIGUEL               — (TAMBÉM IRRITADO) Quer que eu te pegue pelo braço como sua mãe faz?

SOPHIA                — (GRITA) Chega, Miguel!

MIGUEL               — Sophia, não vamos brigar... Nós prometemos uma vez que não iríamos mais brigar, se lembra?

SOPHIA                — Eu nem sei porque a gente ta brigando.

MIGUEL               — Por mais um motivo bobo.

SOPHIA                — (CONCORDA) É, por mais um motivo bobo.

MIGUEL               — É, mas você parece estar diferente comigo. O que houve?

SOPHIA                — Eu fiquei triste.

MIGUEL               — (SURPRESO) Comigo?

SOPHIA                — Não. Eu fiquei triste por causa de sua prima.

MIGUEL               — Eu já disse umas boas pra Juliana... Até minha mãe falou que ela estava errada. Não tem porque você ficar triste, Sophia.

SOPHIA                — Já que é assim...

MIGUEL TOCA O ROSTO DE SOPHIA E FICA A ADMIRANDO.

MIGUEL               — Fico só imaginando quando a gente for grande. Será que a gente vai brigar por motivos bobos?

SOPHIA                — Os adultos também brigam por motivos bobos, Miguel.

MIGUEL               — E o que você sabe sobre os adultos, Sophia?

SOPHIA                — A verdade é que eu não sei nada. Mas nós convivemos com os adultos e eles parecem ser mais confusos do que nós que somos crianças.

MIGUEL               — Eu já não sou mais criança.

SOPHIA                — (SORRI) Então você é o que, Miguel?

MIGUEL               — Eu já sou quase um... Como se diz mesmo?

SOPHIA                — Um pré-adolescente.

MIGUEL               — Isso. Eu já sou quase um pré-adolescente. Só faltam três anos.

SOPHIA                — Três anos? Mesmo assim, Miguel, você continua sendo uma criança.

MIGUEL               — Mais velho do que você, moleca!

MIGUEL SAI CORRENDO E SOPHIA CORRE ATRÁS DELE. OS DOIS CORREM POR UM CAMPO VERDEJADO. SE DIVERTEM MUITO DURANTE AQUELA TARDE, ATÉ QUASE O SOL SE PÔR. MIGUEL E SOPHIA RESOLVEM SE DEITAR NO CAMPO E ACOMPANHAR O PÔR DO SOL.

SOPHIA                — Nós só vimos o pôr-do-sol uma vez juntos.

MIGUEL               — Eu me lembro até hoje, foi no início do ano.

SOPHIA                — Foi lindo!

MIGUEL               — Esse vai ser o segundo de muitos que ainda vamos ver juntos. (SOPHIA ESTENDEU SUA MÃO. MIGUEL A PEGA E A APERTA) Vamos ficar juntos pra sempre, Sophia.

SOPHIA                — Pra sempre.

MIGUEL E SOPHIA SENTAM-SE. APROXIMAM-SE. MIGUEL PASSA O BRAÇO PELO OMBRO DE SOPHIA E ABRAÇA. SOPHIA ENCOSTA SUA CABEÇA NA CABEÇA DE MIGUEL E OS DOIS FICAM OBSERVANDO O PÔR-DO-SOL.
CORTA PARA:

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 07. STOCK-SHOT.

INSERIR LETREIRO: CURITIBA. DIA SEGUINTE.

CENA 08. ESCRITÓRIO DE LEONARDO. FACHADA. EXT. DIA.

LEONARDO CHEGA AO ESCRITÓRIO. ESTACIONA O CARRO EM FRENTE AO PRÉDIO. ELA NÃO PERCEBERA QUE UM CARRO VELHO HAVIA O SEGUIDO. NA LATARIA, ESTÃO: GABRIELA E RAUL.

RAUL                    — Aquele é o advogado?

GABRIELA          — Eu achei que você já tivesse o visto quando ele estava saindo de casa.

RAUL                    — Eu não tinha visto direito... Você está insuportável hoje, sabia?

GABRIELA          — (RECLAMA) E como você quer que eu esteja, sendo que estou dentro dessa lata velha que você chama de carro? Eu tenho passado por cada humilhação ultimamente. Isso não é justo comigo.

RAUL                    — (IRÔNICO) Ah, que vida injusta!

GABRIELA          — Eu já estou perdendo a paciência com você, Raul.

RAUL                    — Eu é quem estou perdendo a paciência, Gabriela. E já vou te avisar que esse teu plano é muito arriscado.

GABRIELA          — Vai desistir de me ajudar, Raul?

RAUL                    — (INSEGURO) Não sei.

GABRIELA          —Não sabe ou não quer me ajudar? Você mesmo me disse que ganha a vida lidando de forma ilícita. Isso que iremos fazer não é nada perto das coisas que você fazer.

RAUL                    — Só que eu não me arrisco dessa forma. É diferente.

GABRIELA          — Não é diferente. Você é um frouxo.

RAUL                    — (IRRITADO) Eu não admito que você me chame de frouxo.

GABRIELA          — (O OLHA SERIAMENTE) Então me ajude e me prove o contrário.

RAUL FICA OLHANDO PARA GABRIELA POR UNS INSTANTES. LIGA O MOTOR DO CARRO E ACELERA.
CORTA PARA:

CENA 09. ESCOLA. PÁTIO. INT. DIA(HORA DO RECREIO).

SOPHIA AVISTA SUAS COLEGAS CONVERSANDO EM UMA RODINHA. APROXIMA-SE. SENTA-SE PERTO DELAS. AS MENINAS MUDAM DE ASSUNTO REPENTINAMENTE.

SOPHIA                — Por que mudaram de assunto quando eu cheguei?

MARIA                 — (MENTE) Nada.

CECÍLIA               — (CONFESSA) Nós estávamos falando sobre meninos.

REGINA               — Cecília, não era pra dizer.

SOPHIA                — E o que tem de errado falar de meninos na minha frente?

CECÍLIA               — É que a Regina viu aquele desenho que caiu de seu caderno, Sophia. Tinha o nome de um menino, não tinha?

SOPHIA                — Foi o Miguel que fez aquele desenho.

REGINA               — (CURIOSA) Quem é Miguel?

SOPHIA                — É o meu amigo. Ele mora na fazenda do meu avô, em Campo Bonito.

MARIA                 — A minha mãe não deixa eu me aproximar de meninos.

CECÍLIA               — (ESTRANHA) Mas na nossa sala também tem meninos. Como ela não deixa você se aproximar dos meninos?

MARIA                 — (TÍMIDA) Só na sala mesmo... Mas mesmo assim, eu tento manter certa distância.

CECÍLIA               — (SORRI) Fale mais sobre o Miguel, Sophia.

SOPHIA                — O Miguel é muito legal. Ele é o meu melhor amigo... (FALA POR ALGUMAS HORAS SOBRE MIGUEL. EM SEU ROSTO HAVIA UM LINDO SORRISO SÓ DE FALAR DO MENINO A QUEM AMA TANTO. POR FIM, AFIRMA) Eu amo o Miguel.

MARIA                 — (ESPANTADA) Ama?

SOPHIA                — (CONFIRMA) Sim, amo.

CECÍLIA               — (SORRI) Eles se amam como amigos.

SOPHIA OLHA PARA AS COLEGAS. BALANÇA A CABEÇA POSITIVAMENTE.
CORTA PARA:

CENA 10. CONDOMÍNO ONDE GABRIELA MORA. ELEVADOR. INT. DIA.

O ELEVADOR PARA E A PORTA SE ABRE. UMA MULHER ENTRA E FICA OLHANDO PARA GABRIELA.

VIZINHA              — Oi, Gabriela!

GABRIELA          — (DE MÁ VONTADE) Oi!

VIZINHA              — O que estava acontecendo na sua casa? Eu ouvi uns gritos.

GABRIELA          — (A OLHA SERIAMENTE) Isso já faz alguns dias, não faz?

VIZINHA              — Mas do mesmo jeito, eu estava ficando preocupada.

GABRIELA          — (RESPIRA FUNDO. SEM PACIÊNCIA) A minha filha é uma menina muito mal criada... Qualquer coisinha, ela já começa a gritar como uma louca.

VIZINHA              — Eu ouvia os gritos de sua filha mesmo.

GABRIELA          — Mas isso ocorreu já faz alguns dias. Não tem porque você ficar preocupada, se é que estava mesmo preocupada ou só queria mesmo excogitar a minha vida.

VIZINHA              — Não, Gabriela...

A PORTA DO ELEVADOR SE ABRE E GABRIELA SAI. DEIXA A VIZINHA FALANDO SOZINHA.
CORTA PARA:

CENA 11. STOCK-SHOTS.

HORA DO ALMOÇO. ENTARDECE.

CENA 12. AP DOS MEIRELLES. COZINHA. INT. HORA DO ALMOÇO.

SOPHIA CHEGA EM CASA. VÊ GABRIELA PREPARANDO O ALMOÇO.

GABRIELA          — Você chegou ontem à noite, se trancou no quarto e nem falou comigo.

SOPHIA                — Não tem porque eu falar com você.

GABRIELA          — E como foi seu final de semana?

SOPHIA                — Eu já disse que não tem porque eu falar com você.

GABRIELA          — Vai se trancar no quarto como sempre?

SOPHIA                — (SE RETIRANDO) Vou.

GABRIELA          — Menina insuportável! (ELA SE DISTRAI POR ALGUNS INSTANTES E SÓ SE DÁ CONTA QUANDO SENTE UM CHEIRO DE QUEIMADO) O arroz... Que droga! (ELA CORRE. DESLIGA O FOGO DO ARROZ. IRRITADA) Eu odeio cozinha, odeio!

GABRIELA BUFA DE ÓDIO. PASSA A MÃO NOS CABELOS E EM SEGUIDA CRUZA OS BRAÇOS.
CORTA PARA:

2º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 13.STOCK-SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LEGENDA: CAMPO BONITO. ALGUNS DIAS DEPOIS...


CENA 14. CASA DE ELVIRA. TERREIRO. EXT. DIA.

MIGUEL DÁ RAÇÃO ÀS GALINHAS. NÃO VÊ QUANDO SUA MÃE APARECE.

CAROLINA          — Filho...

MIGUEL               — Mãe. Nem vi a senhora.

CAROLINA          — Eu percebi que você não tinha me visto. Devia estar com os pensamentos no mundo da lua.

MIGUEL               — Esse mundo se chama Sophia, mãe.

CAROLINA          — Ah, pois é... O seu pai veio falar comigo hoje de manhã... Que história é essa de que você pediu trabalho na fazenda do Seu Aurélio?

MIGUEL               — Eu quero juntar dinheiro.

CAROLINA          — Juntar dinheiro? Pra que, meu filho?

MIGUEL               — Quando eu completar dezoito anos, vou pra Curitiba. Eu tenho que ter uma grana.

CAROLINA          — Você vai pra Curitiba? Por quê?

MIGUEL               — Pra ficar perto de Sophia.

CAROLINA          — E você já pensa em ir morar lá, pra ficar perto dela?

MIGUEL               — É claro, mãe. Quando eu for pra Curitiba, a Sophia não se sentirá mais triste. Ela vai me ter ao lado dela.

CAROLINA          — Mas, meu filho, você não tem idade pra trabalhar em uma fazenda.

MIGUEL               — Mãe, eu vou fazer as mesmas coisas que eu fazia na fazenda do Seu Ângelo.

CAROLINA          — (TRISTE) Se é assim, eu não vou ficar contra.

MIGUEL               — Mãe, por que ficou com essa cara?

CAROLINA          — Porque eu não queria que você fosse embora daqui, meu anjo.

MIGUEL               — Mãe, ainda faltam mais oito anos. Eu tenho bastante tempo pra ficar aqui com a minha mãezinha.
CAROLINA          — (SORRI. ABAIXA-SE E ABRAÇA MIGUEL) Se é o seu destino ir embora pra ficar ao lado de Sophia, eu não vou poder fazer nada. Eu só quero que você seja feliz, meu anjo.

CAROLINA E MIGUEL FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES.
CORTA PARA:

CENA 15. STOCK-SHOT.

INSERIR LEGENDA: CURITIBA.

CENA 16. CONFEITARIA. INT. DIA.

LEONARDO ESTÁ CONVERSANDO COM UM COLEGA DE TRABALHO. EM UMA MESA PRÓXIMA, VEMOS RAUL OS OBSERVANDO SEM QUE OS MESMOS PERCEBAM. LEONARDO CONVERSA SOBRE A HERANÇA DE ÂNGELO.

LEONARDO        — O Seu Ângelo quer deixar a fazenda e as terras dele para a neta e para um menino, filho de um casal que trabalhou na fazenda.

OTTO                    — Esse mesmo menino que é amigo de Sophia?

LEONARDO        — Sim.

OTTO                    — Mas por que ele quer deixar o patrimônio também pro menino?

LEONARDO        — Eu fiz essa pergunta a ele e ele me respondeu que tem um certo apreço pelo menino, um certo carinho.

OTTO                    — Hum... Você já preparou a papelada?

LEONARDO        — Já. Vou levar tudo no próximo final de semana.

OTTO                    — Ah, tá... (PENSATIVO) Continuo achando estranho o fato dele querer deixar tudo pro menino também.

LEONARDO        — Não é um patrimônio de muito valor, mas dá um bom dinheiro. É uma fazenda grande e em enorme terreno.

OS DOIS CONTINUAM A CONVERSAR E NÃO PERCEBEM QUE RAUL OS OBSERVAVA.
CORTA PARA:



CENA 17. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE GABRIELA. INT. DIA.

GABRIELA ARRUMA O GUARDA-ROUPA. PERCEBE QUE HAVIA UM COMPARTIMENTO DISFARÇADO. PUXA UMA PORTA QUE SE MOVE PARA O LADO. ESTRANHA.

GABRIELA          — (ESTRANHANDO) O que é isso? (VÊ QUE HÁ DUAS CAIXAS E AS PEGA. COLOCA EM CIMA DA CAMA. AS ABRE RAPIDAMENTE E PEGA ALGUNS ENVELOPES) Papéis, documento da empresa... Coisas que o Marcelo não me mostrou.

UM ENVELOPE ESVERDEADO A CHAMA A ATENÇÃO. GABRIELA O PEGA E O ABRE. DESDOBRA O PAPEL QUE HAVIA DENTRO DO ENVELOPE. LÊ O CONTEÚDO. GABRIELA FICA BOQUIABERTA COMO SE TIVESSE LEVADO UM CHOQUE, MAS LOGO MUDA A EXPRESSÃO RAPIDAMENTE. DÁ UM SORRISO. A CAMPAINHA TOCA. GABRIELA CORRE PARA ATENDER.
CORTA PARA:

CENA 18. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. DIA.

GABRIELA CHEGA À SALA. CAMINHA ATÉ A PORTA E A ABRE. RAUL APARECE. ENTRA SEM PEDIR LICENÇA. GABRIELA FECHA A PORTA E VAI A SUA DIREÇÃO, AO MESMO TEMPO EM QUE FALA.

GABRIELA          — Raul? O que você quer?

RAUL                    — Eu vim ter uma conversa séria com você.

GABRIELA          — É sobre o nosso plano?

RAUL                    — Não, Gabriela, é sobre aquele tal de Leonardo. Como você pediu, eu estou o seguindo. Hoje, ele se encontrou em uma confeitaria com um amigo que parece ser advogado também.

GABRIELA          — (O FITA) E o que eu tenho a ver com isso?

RAUL                    — Eles estavam falando sobre a fazenda de um tal de Seu Ângelo... Eu sei quem é esse fulano, mas não me lembro...

GABRIELA          — (O INTERROMPE) É o meu sogro, quer dizer, ex-sogro.

RAUL                    — Eu ouvi uma conversa dos dois...

GABRIELA          — Raul, fale de uma vez e pare de enrolar, eu já estou ficando nervosa.

RAUL                    — Está bem, Gabriela... O Leonardo estava falando que esse tal de Seu Ângelo, ele vai deixar em um testamento a fazenda pra Sophia e pro menino, aquele tal de Miguel.

GABRIELA SE DEIXA CAIR NO SOFÁ, BOQUIABERTA.

GABRIELA          — Aquele velho vai deixar a fazenda pra Sophia, até aí tudo bem... Mas também vai deixar para aquele moleque?

RAUL                    — (CONFIRMA) É isso mesmo.

GABRIELA          — (DESCRENTE) Você tem certeza que não se enganou, Raul?

RAUL                    — Não, Gabriela, eu não me enganei. Eu ouvi o Leonardo falando exatamente isso. O velho vai deixar a fazenda pra Sophia e pra esse tal de Miguel.

GABRIELA          — Aquele velho só pode estar louco.

RAUL                    — Mas ele só vai deixar depois de morto, não é?

GABRIELA          — (GRITA IRRITADA) Mas é claro, seu palerma!

RAUL                    — Ainda pode demorar um bom tempo pra isso acontecer. Lá se sabe quando o velho vai pra “terra dos pés juntos”.

GABRIELA          — E antes que isso aconteça, eu preciso impedir que isso ocorra.

RAUL                    — Você não quer que a fazenda vá pras mãozinhas de sua filhinha?

GABRIELA          — É claro que eu quero, seu idiota! Eu não quero que minha filha divida o patrimônio com aquele moleque imundo. Eu tenho que impedir que isso ocorra.

RAUL                    — E como você vai impedir? A fazenda é do velho, é ele quem decide isso. Ele é que vai escrever e assinar o testamento.

GABRIELA          — É aí que você se engana, Raul. O Leonardo é quem deve estar cuidando de tudo isso para aquele velho, insuportável. Se eu conseguir com que o Leonardo fique nas minhas mãos, eu vou mudar o destino desse testamento.

RAUL                    — (SEM ENTENDER NADA) E como você vai fazer isso?

GABRIELA          — (CAMINHA DE UM LADO PARA O OUTRO) Digamos, meu caro, que eu tenha uma carta na manga. Eu acabei de encontrar um documento precioso que vai me servir e muito. O Leonardo vai ficar nas minhas mãos.

GABRIELA VIRA-SE PARA RAUL. ESTENDE O PALMO DA MÃO DIREITA. DÁ UM SORRISO MALICIOSO. CONGELA EM “GABRIELA” SORRINDO.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 11



















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