Memória DNA | Com Amor | Capítulo 6



Com Amor
Novela de Marcus Vinick

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
Miguel Rodrigues

Direção Geral
Miguel Rodrigues

Núcleo
#DNA - Dramaturgia Novos Autores

Personagens deste capítulo

GABRIELA
LEONARDO
MARCELO
SOPHIA
RAUL
CAROLINA
MIGUEL

Participação Especial

LÍDIA/DIRETORA/OPERÁRIO I/OPERÁRIO II














CENA 01. CASA DE MARCELO E GABRIELA. BIBLIOTECA. INT. DIA.

CONTINUAÇÃO DA CENA 26 DO CAPÍTULO ANTERIOR. MARCELO E GABRIELA CONTINUAM SE OLHANDO. GABRIELA LOGO REAGE.

GABRIELA          - (REVOLTADA) Eu não vou me desfazer dessa casa.

LEONARDO        - Gabriela, seja compreensiva.

GABRIELA          - É claro que você tem que dizer pra eu ser compreensiva, não é você que está passando por essa situação.

LEONARDO        - Acontece que não há outra alternativa a não ser fazer isso mesmo. O Marcelo já está cheio de dívidas e, se o pagamento dos funcionários não for efetivado, ele poderá ser processado.

GABRIELA          - Que os funcionários fiquem sem o pagamento, mas eu não fico sem a minha casa.

MARCELO           - Não seja incoerente, Gabriela. Chega! Se precisarmos vender essa casa, nós iremos fazer isso.

GABRIELA          - Você só pode estar louco, Marcelo.

MARCELO           - Quem está louca aqui é você. Além de louca, está agindo de uma forma infantil, mimada.

GABRIELA          - Eu não admito que você fale comigo desse jeito.

MARCELO           - Então pare de se comportar dessa forma e entenda que precisaremos tomar atitudes drásticas daqui pra frente.

GABRIELA          - (GRITA) Tudo porque você...

GABRIELA SE CONTÊM E RETIRA-SE. LEONARDO FICA OLHANDO PARA MARCELO.

LEONARDO        - Marcelo, podemos continuar ou você não está se sentindo bem para isso?

MARCELO           - (NERVOSO) Vamos continuar... Eu tenho que ficar por dentro de tudo.

LEONARDO PROSSEGUE E MARCELO FICA ATENTO AO QUE AMIGO FALAM. OS CONVERSAM FORA DE ÁUDIO POR ALGUNS MINUTOS.

CORTA PARA:


CENA 02. CASA DOS MEIRELLES. QUARTO DELES. INT. DIA.

GABRIELA ENTRA NO QUARTO DESCONTROLADA. BATE A PORTA. PEGA UM VASO E ATIRA CONTRA A PAREDE.

GABRIELA          - (OFEGANTE) Fracassado! Infeliz!

GABRIELA OLHA FIXAMENTE PARA O NADA. CONTINUA OFEGANTE.

CORTA PARA:

CENA 03. CURITIBA. STOCK-SHOTS.

DIA/NOITE.

CENA 04. CASA DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. NOITE.

MARCELO ENTRA NO QUARTO DE SOPHIA, QUE ESTÁ DEITADA LENDO UM LIVRO INFANTIL. A MENINA OLHA PARA O PAI. LARGA O LIVRO.

SOPHIA                - Pai.

MARCELO           - Minha filha amada.

SOPHIA                - Por que o senhor e a mamãe têm discutido freqüentemente?

MARCELO           - É sobre isso que vim falar com você, meu anjo. Na verdade, não é só sobre isso, mas se estamos brigando muito é porque está ligado de alguma forma.

SOPHIA                - (SENTA-SE) Me diga.

MARCELO SENTA-SE DE FRENTE PARA SOPHIA. TOCA O ROSTO DA MENINA.

MARCELO           - Nós vamos passar por algumas dificuldades. Teremos que mudar de casa.

SOPHIA                - (SEM ENTENDER) Mudar de casa? Por quê?

MARCELO           - Porque o papai não conseguiu se manter bem nos negócios. Ele está cheio de dívidas e precisa pagá-las. Você está me entendendo?

SOPHIA                - Sim... E daí o senhor vai precisar vender essa casa?

MARCELO           - Sim. (t) Eu sei, filha, que você gosta muito dessa casa, mas eu não posso fazer exatamente nada.

SOPHIA                - E para onde iremos? Iremos para Campo Bonito?

MARCELO           - Não, nós vamos morar em um pequeno apartamento, até que o papai consiga se reerguer novamente.

SOPHIA                - Entendo. Vou sentir saudades dessa casa. Eu gosto tanto daqui.

MARCELO           - (COM OS OLHOS CHEIOS D’ÁGUA CONCORDA COM SOPHIA) Eu também, minha filha. (t) Eu não queria que isso estivesse acontecendo.

SOPHIA PERCEBE QUE O PAI ESTÁ PRESTE A CHORAR. PASSA A MÃO EM SEU ROSTO E O CONSOLA.

SOPHIA                - (AMÁVEL) Não chore, pai... O senhor vai conseguir se reerguer nos negócios... É só uma fase.

MARCELO           - Eu queria poder acreditar nisso, filha... Eu queria.

SOPHIA                - (DÁ UM LEVE SORRISO) Pensamento positivo, sempre.

MARCELO           - (TAMBÉM DÁ UM LEVE SORRISO) Você nem parece ter apenas oito anos. É tão compreensiva pra sua idade.

SOPHIA                - (AINDA SORRINDO) Eu não vou me desesperar e nem começar a gritar, pai.

MARCELO DÁ OUTRO LEVE SORRISO E TOCA NOVAMENTE O ROSTO DE SOPHIA.

MARCELO           - Obrigado, filha! Muito obrigado!

MARCELO E SOPHIA SE ABRAÇAM. FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES. MARCELO DEIXA DERRAMAR ALGUMAS LÁGRIMAS. VALORIZAR O MOMENTO DOS DOIS, EM SEGUIDA...

CORTA PARA:

CENA 05. CURITIBA. STOCK-SHOTS.

AMANHECE.

CENA 06. CASA DOS MEIRELLES. SALA. INT. DIA.

MARCELO ENTREGA A LÍDIA O ENVELOPE COM O PAGAMENTO. AMBOS ESTÃO BASTANTE EMOCIONADOS.

MARCELO           - Obrigado, Lídia, por esses cinco anos que você serviu a mim e a minha família.

LÍDIA                    - (EMOCIONADA) Não precisa me agradecer, Dr. Marcelo!

MARCELO           - Eu já dei suas referências na agência, e em pouco tempo, você consegue um novo emprego.

LÍDIA                    - Obrigada! Adeus!

MARCELO           - Adeus!

SOPHIA DESCE ÀS ESCADAS CORRENDO. VAI DE ENCONTRO À LÍDIA E A ABRAÇA. LÍDIA CORRESPONDE AO ABRAÇO DE SOPHIA.

SOPHIA                - Vá com Deus, Lídia!

LÍDIA                    - Que Ele esteja sempre com você, Sophia! Adeus!

LÍDIA SE RETIRA DA CASA. FECHA A PORTA. GABRIELA EM SEGUIDA DESCE ÀS ESCADAS.

MARCELO           - Por que não veio se despedir da Lídia?

GABRIELA          - Eu não vou ficar bajulando empregada.

SOPHIA                - A Lídia vai fazer falta.

MARCELO           - É filha, ela irá fazer muita falta, sim.

GABRIELA SE RETIRA POR ALGUNS SEGUNDOS E EM SEGUIDA VOLTA COM A BOLSA.

MARCELO           - Aonde você vai?

GABRIELA          - (FRIA) Eu não te devo satisfações da minha vida.

MARCELO           - Você é minha esposa.

GABRIELA          - Marcelo, eu tenho que sair e não vou perder meu tempo discutindo com você.

GABRIELA ABRE A PORTA E SAI. MARCELO RESPIRA FUNDO, SOLTA O AR COM NERVOSISMO, MAS SE CONTÊM PARA NÃO IR ATRÁS DA ESPOSA.
CORTA PARA:


CENA 07. CURITIBA. CORTIÇO. AP DE RAUL. SALA. INT. DIA.

RAUL ABRE A PORTA E GABRIELA SURGE, LOGO ENTRANDO SEM SER CONVIDADA. JOGA A BOLSA NUM MÓVEL PRÓXIMO.

RAUL                    - Já tava demorando pra vir... Eu já tava quase indo atrás de você.

GABRIELA          - (CAMINHA DE UM LADO PARA O OUTRO) Eu estou passando por alguns problemas com meu marido.

RAUL                    - É, eu fiquei sabendo.

GABRIELA          - Sabendo como?

RAUL                    - As notícias correm meu bem.

GABRIELA          - Está tudo sendo tão difícil. Eu estou com tanta raiva do Marcelo, uma raiva que já está me consumindo por dentro.

RAUL TOCA NOS OMBROS DE GABRIELA E BEIJA SEU PESCOÇO.

RAUL                    - Agora eu vou fazer com que você fique menos e um pouco mais relaxada.

GABRIELA VIRA-SE PARA RAUL E SORRI PARA ELE.

GABRIELA          - Então eu acertei em cheio por ter voltado aqui.

RAUL                    - (SEDUTOR) Comigo não tem erros, meu bem.

GABRIELA E RAUL SE BEIJAM LONGAMENTE. VALORIZAR O BEIJO DOS DOIS.

CORTA PARA:

1° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 08. CURITIBA. STOCK-SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LEGENDA: ALGUNS DIAS DEPOIS...

CORTA PARA:






CENA 09. CASA DOS MEIRELLES. QUARTO DELES. INT. DIA.

A MUDANÇA JÁ ESTÁ SENDO FEITA. MARECELO EMPACOTA OS ÚLTIMOS PERTENCES. MARCELO CONVERSA COM GABRIELA.

MARCELO           - Não iremos poder levar tudo... Não tem espaço no apartamento pra onde iremos.

GABRIELA          - Como assim?

MARCELO           - Não tem espaço, Gabriela, teremos que nos desfazer de algumas coisas. Nem tudo que está empacotado iremos precisar no apartamento.

GABRIELA          - (IRRITADA) Eu não estou acreditando nisso.

MARCELO           - (SUGERE) Podemos vender algumas coisas.

GABRIELA          - (IRÔNICA) Ah, sim, claro, podemos vender algumas coisas. Quem sabe esse dinheiro também não irá servir pra ajudar a quitar as suas dívidas?

MARCELO           - Não seja irônica, Gabriela.

GABRIELA          - As suas dívidas devem ser tão enormes que até o valor pago por um vaso vendido poderia ajudar a pagá-las. Me poupe, Marcelo!

MARCELO           - Você ainda não se deu conta de nossa situação.

GABRIELA          - Eu me dei conta, sim.

MARCELO           - Não parece.

GABRIELA          - Não parece porque você queria que eu estivesse me fazendo de forte.

MARCELO           - Eu não quero que você seja forte porque eu também não estou conseguindo ser, mas eu estou tentando me segurar pra não desabar de vez. Eu estou tentando ser forte pela nossa filha. Só que você, Gabriela, você não me ajuda de forma nenhuma. Você só sabe reclamar, gritar, xingar... Você parece não ter pena de mim.

GABRIELA          - Eu não tenho que ter pena, Marcelo... Sabe por quê?... Porque você não sofreu nenhum golpe financeiro, você se afundou porque quis.

MARCELO BALAÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE E SEUS OLHOS SE ENCHEM D’ÁGUA.

MARCELO           - Você não me entende, Gabriela... Não me entende e nunca vai entender.

GABRIELA          - (GRITA) A culpa é sua, Marcelo... A culpa é toda sua!

GABRIELA INDIGNADA SE RETIRA. SOPHIA APARECE NO QUARTO.

SOPHIA                - Pai... Quando iremos visitar o vovô de novo?

MARCELO           - (CHORA) Eu não sei, minha filha... Eu não sei.

SOPHIA                - O senhor está bem?

MARCELO           - Não, minha filha, eu não estou bem. Mas se você me der um abraço bem forte, talvez eu fique melhor.

MARCELO AGACHA-SE E SOPHIA O ABRAÇA. OS DOIS FICAM ABRAÇADOS POR ALGUNS INSTANTES. VALORIZAMOS O CARINHO DOS DOIS.

CORTA PARA:

CENA 10. CURITIBA. STOCK-SHOTS.

ANOITECE.

CENA 11. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. NOITE.

VEMOS MARCELO, GABRIELA E SOPHIA JÁ NO PEQUENO APARTAMENTO. GABRIELA OLHA EM VOLTA.

GABRIELA          - Achei que fosse pior do que eu imaginava.

MARCELO           - Não é bom, mas também não é ruim.

SOPHIA DÁ ALGUNS PASSOS E FICA OLHANDO TUDO A SUA VOLTA. MARCELO A OBSERVA.

MARCELO           - (PARA SOPHIA) Gostou, filha?

GABRIELA          - (SE METE) É claro que ela vai dizer que gostou... A Sophia é muito conformista.

MARCELO           - (A OLHA SERIAMENTE) Eu não perguntei nada a você, Gabriela.

GABRIELA ENCARA MARCELO, MAS PREFERE FICAR QUIETA.

SOPHIA                - É bem menor do que a nossa antiga casa, mas eu gostei pai... Quero conhecer o meu quarto.

MARCELO           - Então vamos lá, filha.

MARCELO E SOPHIA DIRIGEM-SE AO QUARTO DE SOPHIA. GABRIELA CONTINUA NA SALA. SEUS OLHOS PARECEM INCENDIAR DE TANTO ÓDIO.

GABRIELA          - Que ódio!

GABRIELA ESTÁ COM UM OLHAR PERDIDO, MAS TOMADO PELO ÓDIO.

CORTA PARA:

CENA 12. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. NOITE.

SOPHIA E MARCELO ENTRAM NO QUARTO. SOPHIA SENTA-SE EM SUA CAMA. MARCELO SENTA-SE AO LADO.

MARCELO           - Não é tão grande quanto o seu antigo quarto, mas espero que tenha gostado. E também, nós iremos ficar aqui por muito tempo.

SOPHIA                - O meu antigo quarto era duas vezes maior... Mas não me importo... Isso foi o que o senhor pode dar pra mim e não posso reclamar.

MARCELO           - Obrigado, filha... Obrigado, por ter entendido a nossa situação.

SOPHIA                - O senhor logo, logo vai arranjar um emprego e iremos melhorar as coisas com o tempo.

MARCELO           - Assim eu espero, meu anjo.

MARCELO ABRAÇA A FILHA E LHE DÁ UM BEIJO NO ROSTO.

CORTA PARA:

CENA 13. STOCK-SHOTS. FUSÃO CURITIBA/CAMPO BONITO.

SUCESSÃO DE IMAGENS FAZENDO UMA FUSÃO ENTRE A CIDADE DE CURITIBA E A CIDADE DE CAMPO BONITO.

CORTA PARA:

CENA 14. CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. VARANDA. EXT. NOITE.

MIGUEL ESTÁ DISTRAÍDO. OLHA AS ESTRELAS. CAROLINA APARECE. SENTA-SE AO LADO DO FILHO. PEGA NAS MÃOS DO MENINO.

CAROLINA          - Vem jantar, filho!

MIGUEL               - Eu não vou jantar, mãe.

CAROLINA          - Por quê?

MIGUEL               - Porque a Sophia não tem vindo mais nos finais de semana.

CAROLINA          - Deve ter acontecido alguma coisa, meu filho.

MIGUEL               - Será que ela está doente?

CAROLINA          - Não sei, meu filho, mas acredito que deve ter acontecido algo. Não se preocupe. Eu aposto que no próximo sábado ela virá.

MIGUEL               - (TRISTE) Eu espero.

MIGUEL BAIXA A CABEÇA. CAROLINA O ABRAÇA.

CORTA PARA:

2° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 15. STOCK-SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.

SUCESSÃO DE IMAGENS INDICANDO PASSAGEM DE TEMPO. VEMOS ALGUNS ACONTECIMENTOS COM OS NOSSOS PERSONAGENS: SOPHIA JÁ NÃO AGUENTA MAIS A SAUDADE QUE SENTE DO AVÔ E DE MIGUEL.
MARCELO PROCURA EMPREGO, MAS NUNCA CONSEGUE NADA. AS PORTAS PARECEM SE FECHAR CADA VEZ MAIS.
         GABRIELA CONTINUA MANTENDO SEU RELACIONAMENTO COM RAUL.
          EM UM DETERMINADO DIA, MARCELO CHEGA BÊBADO EM CASA PARA A INFELICIDADE DE GABRIELA QUE TÊM QUE LEVÁ-LO PARA UM BANHO GELADO.

CORTA PARA:


CENA 16. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.

MARCELO E GABRIELA JÁ ESTÃO DEITADOS. MARCELO TENTA ENCOSTAR-SE EM GABRIELA, QUE O REIJEITA.

GABRIELA          - (SE AFASTA UM POUCO) Nem pensar, Marcelo!

MARCELO           - Eu não estava com essa intenção... Eu só queria te dar um abraço.

GABRIELA FICA QUIETA. MARCELO VIRA-SE PARA O LADO.

CORTA PARA:

CENA 17. CURITIBA. STOCK-SHOTS. PASSAGEM DE TEMPO.

INSERIR LETREIRO: ALGUM TEMPO DEPOIS...

CORTA PARA:

CENA 18. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. DIA.

SOPHIA PEGA OS DOIS DESENHOS QUE MIGUEL LHE DERA E COLOCA CONTRA O PEITO.

SOPHIA                - Eu queria tanto poder te ver novamente.

SOPHIA EXPRESSA A TRISTEZA QUE SENTE POR DENTRO. DEIXA CAIR ALGUMAS LÁGRIMAS.

CORTA PARA:

CENA 19. AP. DOS MEIRELLES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.

MARCELO ESTÁ DEITADO DORMINDO. GABRIELA O OBSERVA. ELA ABRE UMA DAS GAVETAS DA CÔMODA E PEGA UM FRASCO QUE CONTÊM COMPRIMIDOS. ELA LÊ O RÓTULO, ONDE DIZ: “ANTIDEPRESSIVOS”. O HOMEM SE REVIRA NA CAMA E ACABA SE ACORDANDO.

MARCELO           - Gabriela...

GABRIELA          - (SÉRIA) Você continua tomando esses comprimidos?

MARCELO           - (REVOLTADO) Quem mandou você mexer aí?

GABRIELA          - Você está se entupindo com esses remédios, eu nem acredito.

MARCELO           - Isso é problema meu!
GABRIELA          - É por isso que você tem dormido tanto... É por isso que você tem engordado desse jeito.

MARCELO           - Esses remédios não causam sono.

GABRIELA          - Mas engordam, o que é pior!

MARCELO           - Você está ligando pro fato de que eu estou engordando ou de que estou doente?

GABRIELA          - Doente? Você tem que se levantar dessa cama e ir procurar um emprego.

MARCELO           - (GRITA) Eu estou desiludido da vida... Você ainda não percebeu? (t) Já faz alguns meses que eu tenho procurado emprego, nenhuma vaga surge. Eu já estou ficando cansado de sempre receber um “não” ou de nem receber resposta nenhuma. É frustrante. É frustrante pra alguém que tinha um negócio próprio, que tinha uma empresa.

GABRIELA          - E aí você está se entupindo dessas drogas?... Legal.

GABRIELA, REVOLTADA, JOGA O FRASCO NA CAMA.

MARCELO           - Gabriela, você não me entende.

GABRIELA          - Eu nunca vou te entender, Marcelo... Se conforme com isso!

MARCELO           - Mas devia. Devia porque eu não estou me sentindo bem, eu já não tenho mais forças para prosseguir.

GABRIELA          - Se você está se sentindo assim... A culpa é sua... A culpa é toda sua.

MARCELO           - Não, eu não sou o culpado. Eu não queria que tudo isso estivesse acontecendo, eu não queria estar passando por toda essa situação. Você não sabe o quanto estou sofrendo.

GABRIELA          - (FRIA) O seu sofrimento não me comove nem um pouco, Marcelo.

MARCELO           - Você apenas sabe me ferir, me dizer coisas que me colocam cada vez mais pra baixo. Você é uma pessoa fria. É por isso que eu tinha medo de te dizer o que estava acontecendo. Eu tinha medo de ouvir essas palavras duras que saem de sua boca hoje. Sabe por que eu tinha medo, Gabriela? Porque eu te amo. Só por esse simples motivo. Eu te amo. E eu esperava que, nesse momento tão difícil, você me apoiasse, me ajudasse a ter forças, me ajudasse a não ser desistir e continuar lutando. O meu amor por você é tão grande que eu não consigo ter raiva quando você me diz essas coisas.

GABRIELA          - Eu nunca vou te apoiar, porque você é o culpado de tudo isso que está acontecendo. Você agiu de uma forma irresponsável e nem pensou em mim e na sua filha. Não venha fazer drama, dizendo que me ama e que queria meu apoio, porque eu nunca vou te apoiar, eu nunca vou te dar uma palavra de conforto. Eu tenho nojo de você. Eu tenho raiva de você. (MARCELO BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE E GABRIELA CONTINUA). E se você quiser continuar se entupindo com esses antidepressivos, eu não vou fazer nada. Logo, logo a reserva irá acabar e você não terá mais dinheiro nem pra comprar isso. Eu espero que você se deixe levar por essa depressão e morra.

GABRIELA RETIRA-SE. MARCELO CONTINUA CHORANDO. SOPHIA APARECE. SOBE NA CAMA.

SOPHIA                - Pai... Por que o senhor está chorando?

MARCELO           - Me abrace, filha... Apenas me abrace!

SOPHIA DÁ UM ABRAÇO EM MARCELO QUE CHORA AINDA MAIS.

SOPHIA                - Eu não gosto de ver o senhor chorando.

MARCELO           - Às vezes, é preciso chorar, meu anjo... Chorar, limpa a alma.

SOPHIA E MARCELO CONTINUAM ABRAÇADOS.

CORTA PARA:

CENA 20. STOCK-SHOTS.

ANOITECE/AMANHECE.

CENA 21. CURITIBA. ESCOLA. DIRETORIA. INT. DIA.

GABRIELA VAI À ESCOLA ONDE SOPHIA ESTUDA. ELA SENTA-SE NA POLTRONA EM FRENTE À MESA DA DIRETORA.

DIRETORA          - Dona Gabriela, eu te chamei aqui pra termos uma conversa séria. É sobre a matrícula de sua filha aqui, na escola.

GABRIELA          - (CONCLUI) É sobre os pagamentos mensais... Eu já imaginava.

DIRETORA          - Sim, é sobre isso. É chato se falar nisso, mas os pagamentos mensais são essenciais para que a criança continue estudando em nossa escola. Se os pagamentos não forem efetivados, a criança perde a vaga. Aqui é uma escola particular, como a senhora já sabe.

GABRIELA          - Sim. Mas a senhora já deve saber que eu e meu marido estamos passando por problemas financeiros gravíssimos.

DIRETORA          - Sim... E eu sinto muito.

GABRIELA          - Ninguém sente mais do que eu... Pode ter certeza! (t) Eu e meu marido não temos como efetivar os pagamentos.

DIRETORA          - Eu entendo. Mas também sinto informar que sua filha não poderá continuar sendo lecionada aqui, em nossa escola. Não são regras minhas, nem mesmo de qualquer outra pessoa que trabalhe aqui dentro, mas são regras feitas...

GABRIELA          - (INTERROMPE A DIRETORA) Eu sei de quem são as regras.

DIRETORA          - Já que a senhora parece estar ciente de que sua filha não poderá mais estudar aqui, espero que a Sophia consiga uma vaga em uma outra escola, o que está difícil nesse ano, e continue tendo os ótimos rendimentos que ela estava tendo aqui. Ela é uma ótima aluna.

GABRIELA LEVANTA. PEGA A BOLSA E VAI EMBORA SEM SE DESPEDIR DA DIRETORA.

CORTA PARA:

3º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 22. CURITIBA. FACHADA DA ESCOLA. EXT. DIA.

UM CARRO ESTÁ PARADO EM FRENTE À ESCOLA. OBSERVA O MOVIMENTO. VÊ GABRIELA SAINDO DA ESCOLA. GABRIELA ACENA PARA UM TÁXI. O TÁXI PARA E GABRIELA ENTRA. O TÁXI DÁ A PARTIDA E O TAL CARRO SEGUE O TÁXI.

FUSÃO PARA:

CENA 23. CURITIBA. OUTRO BAIRRO. FACHADA DO PRÉDIO DE RAUL. EXT. DIA.

GABRIELA SALTA DO TÁXI E PAGA O TAXISTA. O TAL CARRO PARA EM FRENTE AO PRÉDIO VELHO, ONDE PODE OBSERVAR QUE GABRIELA ENTRA.

CORTA PARA:

CENA 24. PRÉDIO VELHO. AP DE RAUL. INT. DIA.

RAUL ABRE A PORTA, AGARRA GABRIELA E LHE DÁ UM BEIJO.

RAUL                    - Ainda bem que você me telefonou avisando que viria... Porque hoje eu ia sair.

GABRIELA          - Você ia aonde?

RAUL                    - Por que quer saber?

GABRIELA          - Só por curiosidade.

RAUL                    - (BRINCA) Eu ia me encontrar com outra.

GABRIELA          - Você não é nem doido.

GABRIELA PUXA OS CABELOS DE RAUL. ELES SE BEIJAM NOVAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 25. PRÉDIO VELHO. FACHADA. EXT. DIA.

DE DENTRO DO MISTERIOSO CARRO UMA PESSOA PERCEBE QUE A JANELA DO APARTAMENTO DE RAUL ESTÁ APENAS ENCOSTADA E ACABA VENDO A CENA QUE OCORRE LÁ DENTRO.

FUSÃO PARA:

CENA 26. AP DOS MEIRELLES. SALA. INT. MAIS TARDE.

GABRIELA CHEGA EM CASA. PERCEBE MARCELO SENTADO NO SOFÁ. MARCELO CARREGA UMA EXPRESSÃO SÉRIA NO ROSTO. GABRIELA PUXA ASSUNTO.

GABRIELA          - Fui à escola e conversei com a diretora. Não adiantou muito eu ter ido lá. Os pagamentos mensais não foram efetivados e a Sophia acabou perdendo a vaga. (GABRIELA ACHA ESTRANHO O MARIDO NÃO TER FALADO NADA E CONTINUA) Teremos que colocar a Sophia em uma escola pública. Que vergonha! A minha filha terá que estudar numa escola pública. Coitada!

MARCELO           - (SÉRIO) Você foi só à escola?

GABRIELA          - (MENTE) Sim.

MARCELO           - (FITA SERIAMENTE GABRIELA) Tem certeza?

GABRIELA          - (IRRITADA) Que pergunta idiota é essa, Marcelo?

MARCELO           - Não acha que demorou muito pra quem foi só à escola?

GABRIELA          - O que você está querendo insinuar, Marcelo?

MARCELO LEVANTA-SE. CAMINHA EM VOLTA DE GABRIELA E A FITA SERIAMENTE.

MARCELO           - Eu não estou insinuando nada, Gabriela, eu só estou tentando fazer com que você me fale a verdade.

GABRIELA          - Que verdade? Eu só fui à escola, eu não fui a nenhum outro lugar... Já sei: você está achando que eu estou te traindo. (SORRI IRONICAMENTE) Me poupe, Marcelo!

MARCELO           - Eu ainda não cheguei a esse ponto, você que é rápida demais. Você acha que é esperta demais.

GABRIELA          - (REVOLTADA) Olha aqui, Marcelo, você não me venha com os seus chiliques porque eu já estou cansada disso.

MARCELO           - (GRITA) Eu é que estou cansado de ser enganado. (GABRIELA O OLHA ASSUSTADA. MARCELO CONTINUA) Você achou que podia me trair pro resto da vida, Gabriela? Você acha que pode se aproveitar da minha fraqueza para me fazer de idiota? Eu não sou idiota, eu não sou tão bobo quanto pareço.

GABRIELA          - (DISFARÇA) Você só pode estar enlouquecendo.

MARCELO           - Não, eu não estou enlouquecendo. Eu vi você na cama com outro. Eu te segui da escola até aquele edifício imundo. Eu vi você entrando num daqueles apartamentos, eu vi você sendo agarrada por outro homem.

GABRIELA          - Você está louco, Marcelo, isso tudo foi algo inventado por essa sua mente perturbada.

MARCELO           - (GRITA) Pare de ser falsa! (t) Diga a verdade. Jogue a verdade na minha cara. Não tente disfarçar agora. Eu já sei de tudo, Gabriela, você estava me traindo. O pior é que eu sempre te amei, eu perdi várias oportunidades de me envolver com outras mulheres porque eu fui um homem fiel, um homem apaixonado que não queria jamais ferir a esposa. Eu te amava tanto, Gabriela, eu te amava tanto. Eu estou passando por tudo isso e você não tem um pingo de consideração por mim, e ainda me apunhala desse jeito. (GABRIELA FICA COM OS OLHOS MAREJADOS. MARCELO PASSA AS MÃOS PELOS CABELOS, DÁ ALGUNS PASSOS. CONTINUA) A minha vontade é de te esganar, de te agredir... Mas eu não vou fazer isso. Eu jamais te agrediria, porque eu não sou um covarde.

GABRIELA          - Você é um covarde... É tão covarde que está sem rumo na vida.

MARCELO           - Vai, Gabriela... Mostre o que você tem por dentro.

GABRIELA          - Você está se sentindo traído, mas a culpa disso também é sua.

MARCELO           - (SORRI IRONICAMENTE) A culpa disso também é minha?

GABRIELA          - Se você não tivesse me colocado nessas condições, eu não teria te traído. Se você não tivesse perdido tudo, talvez eu ainda tivesse um pingo de consideração por você. Eu também te amei, Marcelo... Eu te amei enquanto você tinha o que me oferecer. Depois disso, acabou.

MARCELO           - Você não sabe é o que amor... Você não tem amor nem mesmo pela sua própria filha.

GABRIELA          - (GRITA) Não coloque a minha filha no meio disso.

MARCELO           - Você não ama ninguém, você não sabe o que é um sentimento verdadeiro. Você afasta as pessoas. A prova disso é que a própria Sophia está se afastando de você. Vai chegar um dia que ela não irá mais querer olhar na sua cara.

GABRIELA PERDE A PACIÊNCIA E TENTA DAR UMA BOFETADA NELE, MAS MARCELO A IMPEDE E A EMPURRA. ELA ACABA CAINDO NO SOFÁ E FICA OLHANDO PARA ELE COM RAIVA.

MARCELO           - (CONTINUA) Você vai acabar sozinha, Gabriela. A Sophia não irá querer cuidar de você, quando você estiver doente em uma cama. O que é resta para uma pessoa tão fria, uma pessoa tão má como você.

GABRIELA          - (SORRI MALICIOSAMENTE) Eu vou acabar com a sua vida, Marcelo.

MARCELO           - Eu não tenho medo de você, Gabriela... Eu vou fazer as malas e vou embora.

MARCELO SE RETIRA E VAI ATÉ O QUARTO. GABRIELA SE LEVANTA DO SOFÁ RAPIDAMENTE, VAI ATÉ A COZINHA E PEGA UMA FACA DE CORTAR CARNE. GABRIELA DIRIGE-SE AO QUARTO.

CORTA PARA:

CENA 27. AP DOS MEIRELLES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.

MARCELO TIRA SUAS ROUPAS DO ARMÁRIO E NÃO PERCEBE QUANDO GABRIELA ENTRA NO QUARTO COM UMA FACA NAS MÃOS.

GABRIELA          - (AVANÇA EM MARCELO) Morra, desgraçado!

MARCELO VIRA-SE E QUASE É PERFURADO PELA FACA. NA MESMA HORA, MARCELO TIRA A FACA DAS MÃOS DE GABRIELA E JOGA A FACA LONGE.

GABRIELA          - (GRITA) Desgraçado! (MARCELO DÁ UMA BOFETADA EM GABRIELA E A JOGA CONTRA A CAMA. GABRIELA CHORA DE RAIVA) Fracassado! Você não passa disso: um fracassado!

MARCELO           - Eu só não te processo por tentativa de assassinato porque não quero prejudicar a minha filha, que aliás irá comigo.

GABRIELA          - (SÉRIA) Você pode até ir embora, mas não irá levar a Sophia. Ela fica.

MARCELO           - (AMEAÇA) Isso nós iremos ver na justiça!

GABRIELA          - Você nem tem dinheiro pra pagar um advogado. Se enxerga, Marcelo! A Sophia fica.

MARCELO           - Isso é o que nós veremos Gabriela. Eu não vou levá-la hoje, porque ainda tenho que arranjar um lugar para ficar, mas em uma semana estarei de volta pra buscá-la.

GABRIELA          - (RI) Coitado!

MARCELO FECHA A MALA E VAI EMBORA. GABRIELA SE LEVANTA E SECA AS LÁGRIMAS.

CORTA PARA:


CENA 28. CONDOMÍNIO. FACHADA. CARRO DE MARCELO. EXT. DIA.

MARCELO ENTRA EM SEU CARRO E FECHA A PORTA. DEPOIS, TOCA O VOLANTE E ACABA NÃO CONTENDO AS LÁGRIMAS. CHORA POR ALGUNS INSTANTES. DEPOIS, LIGA O CARRO, APERTA O ACELERADOR E SE VAI. DURANTE O TRAJETO, MILHÕES DE COISAS SE PASSAM PELA SUA CABEÇA, COMO: A VEZ EM QUE SAÍRA DE CAMPO BONITO PARA TER CARREIRA PROFISSIONAL EM CURITIBA, A PAIXÃO POR UMA LINDA MULHER QUE O ARREBATOU DE UMA FORMA AVASSALADORA, O CASAMENTO QUE VEIO LOGO EM SEGUIDA. O NASCIMENTO DE SOPHIA. O DESMORONAMENTO DE SEUS PLANOS E A SUA FALÊNCIA. AS LÁGRIMAS QUE PERCORREM NAQUELE EXATO MOMENTO EM QUE TODAS AS LEMBRANÇAS BOAS E RUINS SE MISTURAM EM SUA MENTE.

FUSÃO PARA:

CENA 29. ESTRADA. ACESSO BLOQUEADO. EXT. DIA.

MARCELO VEM A TODA VELOCIDADE DE ENCONTRO A UM ACESSO BLOQUEADO. HOMENS UNIFORMIZADOS TRABALHAM EM UMA OBRA. UM DOS OPERÁRIOS PERCEBE QUE O CARRO DE MARCELO VEM A TODA VELOCIDADE E QUE ESTÁ PERTO DE INVADIR O ACESSO BLOQUEADO. O HOMEM ASSUSTA-SE.

HOMEM               - (DESESPERADO/GRITA) Meu Deus!

O COMPANHEIRO DELE OLHA E VÊ QUE O CARRO INVADE O BLOQUEIO FORMADO COM CONES. O AUTOMÓVEL SOBE A PONTE EM CONSTRUÇÃO, ACABA INDO PELOS ARES E SOFRE UMA BATIDA TERRÍVEL AO CAIR NO CHÃO.
HOMEM 2           - (APAVORADO) Senhor Jesus!
O OPERÁRIO CORRE E SE APROXIMA DO CARRO. O AUTOMÓVEL ACABA EXPLODINDO E A PRESSÃO DA EXPLOSÃO FAZ O HOMEM SER EMPURRADO CONTRA O CHÃO.
CONGELA NO “OPERÁRIO CAÍDO”.
CORTA PARA:
FIM DO CAPÍTULO 6






















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