Escrita com
Miguel Rodrigues
Direção
Amora Mautner, Vinícius Coimbra
Direção Geral
Marcos Schechtman
Ricardo Waddington
Núcleo
Ricardo Waddington
Personagens deste capítulo
GABRIELA
LEONARDO
JULIANA
SOPHIA
RAUL
EVANDRO
EVANDRO
CAROLINA
MIGUEL
ÂNGELO
Participação
Especial
AMÉLIA/GARIMPEIRO
CENA 01. CAMPO BONITO.
FAZENDA DE ÂNGELO. CASARÃO. SALA. TARDE.
ÂNGELO MEIRELLES DESCE A ESCADARIA COM UMA
CERTA TONTURA. ELE VAI DIRETO À SUA POLTRONA ONDE SENTA-SE E NO MESMO INSTANTE
COLOCA A MÃO NO PEITO. AMÉLIA APARECE À SALA E DESESPERA-SE AO VER ÂNGELO
NAQUELE ESTADO.
AMÉLIA - Seu Ângelo, o senhor está se
sentindo bem?
ÂNGELO - Não.
AMÉLIA - E agora, meu Deus? Como irei
levar o senhor pro hospital na cidade?
ÂNGELO - É só uma dor no peito.
AMÉLIA - (PREOCUPADA) Uma dor no peito
que pode ser início de um infarto.
ÂNGELO - Não se preocupe Amélia... Eu não
vou morrer tão cedo.
AMÉLIA - Seu Ângelo quer que eu chame um
dos homens que trabalha na lavoura?
ÂNGELO - Não, Amélia, muito obrigado! Não
fique preocupada, eu já estou bem. Foi apenas uma dor no peito. Um aperto. Faz
tempo que não vejo o meu filho.
AMÉLIA - Essa dor no peito deve ser
preocupação com o seu filho.
ÂNGELO - Eu acho que sim, Amélia... Eu
sinto tanta falta dele.
ÂNGELO OLHA PARA AMÉLIA. SUA EXPRESSÃO É
DE TRISTEZA.
CORTA PARA:
CENA 02.CURITIBA.
STOCK-SHOTS.
ANOITECE.
CENA 03. AP
DOS MEIRELLES. COZINHA. INT. NOITE.
VEMOS GABRIELA E SOPHIA À DO JANTAR.
GABRIELA JANTA, ENQUANTO SOPHIA REVIRA A COMIDA NO PRATO. INCOMODADA, GABRIELA
FALA COM A MENINA.
GABRIELA - Nós não temos dinheiro pra você
ficar desperdiçando comida.
SOPHIA - Eu quero saber onde está o meu
pai.
GABRIELA - (FRIA) Eu já disse que o seu pai foi
embora... Ele não vai voltar.
SOPHIA - (ALTERA A VOZ) Ele vai voltar
sim... Ele vai voltar e vai me levar.
GABRIELA DÁ UMA RISADA DEBOCHADA.
GABRIELA - Eu não vou permitir que o seu pai te
leve.
SOPHIA - Eu quero ir morar com ele.
GABRIELA - (GRITA IMPACIENTE) Mas você não tem
querer, garota! (t) Agora cale essa matraca e coma essa comida de boca calada.
SOPHIA OLHA PARA GABRIELA E RETIRA-SE. A
CAMPAINHA TOCA.
GABRIELA - (IRRITADA/GRITA) Só pode ser o
fracassado!
GABRIELA LEVANTA-SE E CAMINHA EM DIREÇÃO À
SALA.
CORTA PARA:
CENA 03. AP
DOS MEIRELLES. SALA. INT. NOITE.
GABRIELA CHEGA A SALA. ABRE A PORTA.
DEPARA-SE COM LEONARDO.
GABRIELA - (SURPRESA) Leonardo?
LEONARDO - Posso entrar, Gabriela?
GABRIELA - Pode.
GABRIELA DEIXA LEONARDO ENTRAR E EM
SEGUIDA FECHA A PORTA. VIRA-SE. CAMINHA ATÉ LEONARDO, QUE FICA QUIETO POR
ALGUNS SEGUNDOS.
GABRIELA - Se você veio conversar com o
Marcelo, saiba que ele saiu hoje de tarde feito um doido. Não faço ideia de
onde ele possa estar nesse momento.
LEONARDO - (COM UMA EXPRESSÃO TRISTE NO ROSTO)
Gabriela, eu vim te dar uma notícia terrível.
GABRIELA - Uma notícia terrível? Já não chega a
minha vida estar essa droga e aí você vem me dar uma notícia terrível. O que
teremos que vender dessa vez pra quitar as dívidas do Marcelo? Saiba que nós já
não temos mais nada.
LEONARDO - Gabriela, deixe-me falar, por favor?
Eu não sei como dar essa notícia, estou tentando achar as palavras certas, mas
acho que não vou conseguir. Eu fico pensando em como a Sophia irá ficar
arrasada... E você também.
LEONARDO FICA COM OS OLHOS MAREJADOS.
GABRIELA AO VER LEONARDO COM OS MAREJADOS, FICA PENSATIVA POR ALGUNS SEGUNDOS,
E COMO SE TIVESSE PERCEBIDO O QUE HAVIA OCORRIDO, BALBUCIA FALAR ALGO, MAS SE
CALA.
LEONARDO - (CONTINUA) O Marcelo sofreu um grave
acidente de carro!
GABRIELA DÁ ALGUNS PASSOS PARA TRÁS.
AMEAÇA CAIR, MAS LEONARDO A AMPARA. GABRIELA OLHA PARA LEONARDO.
GABRIELA - E como ele está Leonardo?
LEONARDO - (TENTA RESPONDER) Ele... O Marcelo...
LEONARDO NÃO CONSEGUE TERMINAR A FRASE,
SUA VOZ FICA EMBARGADA. SOPHIA APARECE NESSE EXATO MOMENTO. NOS OLHOS DA MENINA
JÁ PODEMOS NOTAR QUE LÁGRIMAS COMEÇAM A BROTAR POR ELES.
SOPHIA - O meu pai... Morreu?
GABRIELA - (AFIRMA FRIAMENTE) O Marcelo morreu.
SOPHIA - (GRITA) Não!
SOPHIA FICA DESESPERADA. LEONARDO DÁ UM
FORTE ABRAÇO EM SOPHIA. NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS.
GABRIELA - (REPETE) O Marcelo morreu.
SOPHIA - (INCONFORMADA) Isso não é
verdade. Leonardo, diga que meu pai está vivo, que ele está em algum hospital.
O meu pai não pode ter morrido. Não!
SOPHIA VÊ ATRAVÉS DOS OLHOS DE LEONARDO
QUE É VERDADE. SOPHIA SE DESPRENDE DOS BRAÇOS DE LEONARDO. SOPHIA COMEÇA A
GRITAR E A CHORAR DESESPERADAMENTE. ELA ANDA PELA SALA. COLOCA AS MÃOS NA
CABEÇA. SENTE O MUNDO DESMORONAR. GABRIELA, DE FORMA FRIA, SENTA-SE NO SOFÁ.
NÃO ABRAÇA SOPHIA. SOPHIA POR SUA VEZ, CAI NO CHÃO AOS PRANTOS. LEONARDO
ABAIXA-SE PARA AMPARÁ-LA.
CORTA PARA:
CENA 04.
STOCK-SHOTS.
SUCESSÃO DE IMAGENS FAZENDO UM PARALELO
ENTRE CURITIBA E CAMPO BONITO. VAMOS DE ENCONTRO À FACHADA DA CASA DE ELVIRA,
PARENTE DO PEQUENO MIGUEL. AMANHECE.
FUSÃO PARA:
CENA 05.
CAMPO BONITO. CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.
PERCORREMOS O QUARTO DE MIGUEL, ONDE VEMOS
O MENINO DORMINDO. ELE PARECE AGITADO, OFEGANTE. VEMOS ALGUMAS GOTAS DE SUOR
PELO ROSTO DE MIGUEL QUE ACORDA DESESPERADO.
MIGUEL - (OFEGANTE) Não! Não! Eu preciso
ver a Sophia... Eu preciso ver como a Sophia está! (AINDA MAIS OFEGANTE. GRITA)
Mãe!
CAROLINA APARECE CORRENDO NO QUARTO DE
MIGUEL. PARECE PREOCUPADA.
CAROLINA - O que houve, meu filho?
MIGUEL - Mãe... A Sophia não está bem...
Eu preciso ver ela.
CAROLINA - Meu filho, fique calmo!
MIGUEL - Não... Eu preciso... Eu preciso
ver a Sophia!
CAROLINA - Meu filho, você mal consegue
respirar e está todo suado. Você deve ter tido um pesadelo. Eu vou pegar um
copo d’água.
JULIANA, PRIMA DE MIGUEL, APARECE NO
QUARTO. FICA OLHANDO PARA MIGUEL.
CAROLINA - Juliana... Pegue um copo d’água pro
Miguel.
JULIANA RETIRA-SE CALADA.
MIGUEL - (NERVOSO) A Sophia...
CAROLINA PEGA UMA TOALHA E PASSA NO ROSTO
DE MIGUEL. JULIANA VOLTA COM O COPO D’ÁGUA. ENTREGA PARA A TIA E RETIRA-SE.
CAROLINA - (ENTREGA O COPO PARA MIGUEL) Tome
meu filho.
MIGUEL PEGA O COPO D’ÁGUA. BEBE TODA A ÁGUA,
MAS ACABA SE AFOGANDO. TOSSE. CAROLINA VAI AMPARÁ-LO.
CAROLINA - Ô, meu filho!
MIGUEL COLOCA O COPO EM CIMA DA CÔMODA.
MIGUEL - Foi um pesadelo.
CAROLINA - Eu não disse? Agora fique calmo.
MIGUEL - É que eu sinto tanta falta de
Sophia.
CAROLINA - Eu sei disso, meu filho.
MIGUEL - Eu tenho medo que tenha
acontecido algo com ela.
CAROLINA - Não deve ter acontecido nada, meu
filho. E só pra te provar, eu vou dar um jeito de falar com a Amélia. Ela deve
saber de alguma coisa.
MIGUEL - Se a senhora fizer isso, eu vou
te agradecer pelo resto da vida, minha mãe.
CAROLINA - (DÁ UM SORRISO) Está bem, meu filho.
Já vai se levantar? Não quer ficar deitado mais um pouco pra se acalmar?
MIGUEL - Não, mãe... Eu vou me levantar
daqui a pouco.
CAROLINA - Então, tá...
CAROLINA RETIRA-SE. MIGUEL FICA UM POUCO
MAIS NA CAMA.
CORTA PARA:
CENA 06.
FAZENDA DE ÂNGELO. SALA. INT. DIA.
O TELEFONE TOCA. AMÉLIA VAI ATENDER.
ÂNGELO APARECE NA SALA ESPERANÇOSO. INTERROMPE AMÉLIA.
ÂNGELO - Deixa que eu atendo... Pode ser
meu filho.
AMÉLIA - Tudo bem.
ÂNGELO PEGA O TELEFONE. ATENDE.
ÂNGELO - Alô!
AMÉLIA FICA
OLHANDO O PATRÃO. ÂNGELO MUDA A EXPRESSÃO FACIAL REPENTINAMENTE, DEIXA O
TELEFONE CAIR E ACABA DESMAIANDO.
AMÉLIA -
(GRITA APAVORADA) Seu Ângelo! (ELA SE ABAIXA, TOCA ÂNGELO E O SACODE) Seu
Ângelo, acorde, pelo amor de Deus!
UM DOS
GARIMPEIROS ENTRA NO CASARÃO E AO VER O PATRÃO DESMAIADO CORRE PARA AMPARÁ-LO.
GARIMPEIRO -
O que houve com ele?
AMÉLIA -
(EXPLICA) Ele estava falando pelo telefone. De repente, ficou pasmo, deixou o
telefone cair e desabou no chão.
GARIMPEIRO - Nós
temos que levá-lo para o hospital da cidade. Eu vou chamar os outros homens.
O
GARIMPEIRO RETIRA-SE PARA CHAMAR OS DEMAIS EMPREGADOS. AMÉLIA COLOCA A MÃO EM FRENTE
AO NARIZ DE ÂNGELO PARA SENTIR SUA RESPIRAÇÃO.
AMÉLIA -
Ainda está vivo... Graças a Deus! (AMÉLIA LEVANTA-SE. PEGA O TELEFONE E COLOCA
NO OUVIDO) Alô! Que estranho! Desligaram!
AMÉLIA
COLOCA O TELEFONE NO GANCHO E LOGO EM SEGUIDA, O APARELHO TOCA NOVAMENTE.
AMÉLIA ATENDE. A PARTIR DAQUI DIVIDIMOS A TELA EM DUAS, ONDE VEMOS QUEM ESTÁ DO
OUTRO LADO DA LINHA.
AMÉLIA -
Alô!
LEONARDO -
(NA OUTRA LINHA) Alô! O Seu Ângelo está aí? Ele está bem?
AMÉLIA -
Ele está desmaiado no chão, mas já vamos levar ele pro hospital. O que o senhor
disse pra ele? Quem é o senhor?
LEONARDO -
Eu era amigo e advogado do Marcelo, filho do Seu Ângelo. Eu liguei pra dar a
triste notícia de que o Marcelo sofreu um grave acidente de carro e acabou nos
deixando.
AMÉLIA -
(CHOCADA) Meu Deus!
AMÉLIA FICA
PARALISADA POR ALGUNS SEGUNDOS.
CORTA PARA:
CENA 07. HOSPITAL DA CIDADE. SALA DE ESPERA. INT. FINAL DE TARDE.
CAROLINA E
EVANDRO CHEGAM AO HOSPITAL DA CIDADE. VÊEM AMÉLIA.
CAROLINA -
Amélia!
AS DUAS SE
ABRAÇAM.
AMÉLIA -
Graças a Deus vocês vieram.
EVANDRO -
O José foi lá em casa e avisou a gente.
CAROLINA -
(PREOCUPADA) Como seu Ângelo está?
AMÉLIA -
Ele teve um infarto... Mas já está bem.
EVANDRO -
Nós podemos ver ele?
AMÉLIA -
O médico vai vir daqui a pouco, daí eu pergunto.
CAROLINA -
(TRISTE) Pobre do seu Ângelo!
EVANDRO -
Perdeu o filho de uma forma trágica!
CAROLINA -
Os filhos não deviam partir primeiro que os pais.
EVANDRO -
(CONCORDA) Não deviam mesmo!
CAROLINA
ABRAÇA EVANDRO. AMÉLIA SENTA-SE.
CORTA PARA:
CENA 08. HOSPITAL. QUARTO DE ÂNGELO. INT. FINAL DE TARDE.
ÂNGELO
CHORA DESESPERADAMENTE. CAROLINA, EVANDRO E AMÉLIA ENTRAM.
CAROLINA -
(COM OS OLHOS MAREJADOS) Seu Ângelo, eu sinto muito!
ÂNGELO -
Carolina... Por que isso foi acontecer com meu filho? Por quê?
CAROLINA -
A gente nunca sabe o que Deus quer da gente com essas coisas que ocorrem.
ÂNGELO -
Isso não é justo, não é justo!
EVANDRO -
Eu sinto muito, seu Ângelo!
CAROLINA DÁ
UM FORTE ABRAÇO EM ÂNGELO QUE CORRESPONDE.
CORTA PARA:
1º INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 09. CAMPO
BONITO. CASA DE ELVIRA. SALA. INT. NOITE.
CAROLINA E EVANDRO CHEGAM EM CASA. MIGUEL
OS VÊ CHEGANDO.
MIGUEL - Mãe, ninguém me falou por que o
seu Ângelo foi parar no hospital... Eu estou preocupado.
CAROLINA - Meu filho, aconteceu algo muito
ruim.
MIGUEL - (PREOCUPADO) É com a Sophia?
CAROLINA - Não, meu filho... O doutor Marcelo
morreu em um acidente de carro.
MIGUEL - (CHOCADO) O pai da Sophia
morreu?
CAROLINA - Sim, meu filho... Infelizmente.
MIGUEL - A Sophia deve estar sofrendo
muito... Ela deve estar precisando de mim.
EVANDRO - (INTERFERE) Não... Ela não está
precisando de você.
MIGUEL - (TEIMA) Deve estar, sim.
EVANDRO - Você não vê essa menina já faz um
bom tempo. Já se esqueceu o que fez vocês se afastar e o que causou a nossa
saída da fazenda?
MIGUEL - A Sophia acredita em mim... Ela
sabe que eu não peguei aquele colar da mãe dela.
EVANDRO - Mas a mãe dela não acreditou em
você naquele dia. E, desde então, vocês nunca mais se viram.
MIGUEL - (CONFESSA) Eu via a Sophia
depois de tudo aquilo.
EVANDRO - (SURPRESO) O quê?
CAROLINA - Não é hora para brigar, Evandro... A
Sophia e o Miguel têm uma amizade verdadeira.
EVANDRO - (BRAVO) Amizade verdadeira? Eu não acredito
em amizade de gente rica com gente pobre. Agora eu quero jantar e depois vou
dormir.
MIGUEL - Eu quero ver o seu Ângelo
amanhã.
CAROLINA - Por quê?
MIGUEL - (PENSATIVO) Porque eu quero
falar com ele... Eu preciso dar um abraço nele.
CAROLINA - Amanhã ele terá alta... Eu te levo
amanhã no hospital.
MIGUEL - Obrigado, mãe!
MIGUEL E CAROLINA SE ABRAÇAM. EVANDRO OLHA
PARA OS DOIS.
CORTA PARA:
CENA 10.
STOCK-SHOTS. CAMPO BONITO/CURITIBA. NOITE.
SUCESSÃO DE IMAGENS FAZENDO UMA FUSÃO
ENTRE CAMPO BONITO E CURITIBA. MOSTRAMOS ALGUNS PONTOS DE CURITIBA À NOITE, ATÉ
CHEGARMOS AO PRÉDIO ONDE SE LOCALIZA O APARTAMENTO DOS MEIRELLES.
CORTA PARA:
CENA 11. AP
DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. NOITE.
SOPHIA CHORA A MORTE DO PAI EM CIMA DA
CAMA. GABRIELA ENTRA.
GABRIELA - Me ligaram da fazenda de seu avô.
Ele irá ter alta amanhã e virá pro velório e sepultamento dos restos mortais do
corpo de seu pai. Ainda temos que agradecer ao Leonardo, porque ele irá bancar
tudo. Se não fosse ele, o sepultamento de seu pai iria ser um verdadeiro
fiasco. Isso se eu não tivesse que ser obrigada a enterrá-lo como indigente.
SOPHIA - Indigente?
GABRIELA - Você é uma menina tão esperta, deve
saber o significado dessa palavra. O seu pai se encheu de divididas, vendeu
todos os nossos patrimônios e agora morreu. Ele não tinha dinheiro nem pra
“bater as botas” e ser enterrado de uma forma decente. Não sei por que ele
inventou de se matar agora.
SOPHIA - (INDIGNADA) Se matar?
GABRIELA - (FRIA) Sim. Segundo os homens que
estavam trabalhando, o seu pai invadiu o canteiro de obras e subiu a ponte em
construção, o que causou a queda e a explosão do carro.
SOPHIA - (CHORA) E você me diz isso com
tanta frieza nesse coração, nessa voz.
GABRIELA - O que você queria, Sophia? Queria
que eu estivesse desesperada porque fiquei viúva? O seu pai estava ficando
louco. Ele se matou.
SOPHIA - (REVOLTADA) O meu pai não se
matou.
GABRIELA - (MENTE) Se matou, sim! Matou-se
porque já não estava “batendo” muito bem da cachola. Antes de sair feito um
doido, ele tentou me matar com uma faca.
SOPHIA - Mentira! O meu pai jamais se
mataria, o meu jamais tentaria matar alguém, muito menos tentaria matar você.
GABRIELA - Ele tentou me matar, Sophia! A faca
está atirada lá, no quarto. Se eu não tivesse me virado, ele teria enfiado a
faca nas minhas costas. Nesse momento, eu estaria morta. E você ficaria sem
mim.
SOPHIA - (GRITA) Eu preferia ficar sem
você do que ficar sem o meu pai.
GABRIELA - (GRITA) Mas agora você está sem
ele... Bem feito!
SOPHIA - (GRITA) Cala a boca!
SOPHIA PEGA SEUS TRAVESSEIROS E OS ATIRA
CONTRA A MÃE. GABRIELA COMEÇA A RIR.
GABRIELA - Você não vai me machucar me atirando
travesseiros, garota ingênua! Boba! Ridícula!
GABRIELA RETIRA-SE DO QUARTO DANDO
GARGALHADAS. SOPHIA VOLTA A CHORAR. PEGA UM DOS TRAVESSEIROS E AGARRA
FORTEMENTE.
CORTA PARA:
CENA 12.
STOCK-SHOTS.
AMANHECE.
CENA 13.
HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INT. DIA.
MIGUEL E CAROLINA ESPERAM ÂNGELO NA
PEQUENA E SIMPLES RECEPÇÃO DO HOSPITAL. ELE APARECE E O MENINO LHE DÁ UM FORTE
ABRAÇO.
MIGUEL - Seu Ângelo... Eu sinto muito.
ÂNGELO - Eu estava com saudade de você,
Miguel. Obrigado por ter vindo me ver e dar suas condolências.
MIGUEL - Eu preciso conversar com o
senhor.
CAROLINA - Filho, o Seu Ângelo precisa voltar
pra fazenda e depois ir pra Curitiba.
ÂNGELO - Nós vamos conversar Miguel, mas
outro dia.
MIGUEL - Seu Ângelo, a Sophia deve estar
precisando de mim. (ÂNGELO FICA OLHANDO PARA MIGUEL) Ela deve estar numa
tristeza profunda, eu preciso vê-la. Eu preciso dar um abraço nela. Me leve com
o senhor pra Curitiba.
CAROLINA - (INDIGNADA) Que ideia é essa,
Miguel? (t) Respeite o seu Ângelo neste momento tão difícil, tão triste.
MIGUEL - (INSISTE) Eu apenas estou
fazendo um pedido, mãe.
ÂNGELO FICA PENSATIVO POR ALGUNS SEGUNDOS.
ÂNGELO - Se seus pais permitirem, eu levo
você comigo.
FUSÃO PARA:
CENA 14.
CASA DE ELVIRA. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.
EVANDRO OLHA SERIAMENTE PARA MIGUEL.
EVANDRO - Você acha realmente que eu vou
deixar que você vá à Curitiba com o Seu Ângelo?
MIGUEL - (IMPLORA) Pai, por favor, não
me proíba... A Sophia precisa de mim.
EVANDRO - Esqueça essa menina, Miguel, pelo
amor de Deus!
MIGUEL - Eu amo a Sophia.
EVANDRO - Ama? Você é apenas um menino de dez
anos, não tem idade pra saber dessas coisas.
MIGUEL - O meu amor pela Sophia é como
amigo. Ela é como uma irmã pra mim. Eu a amo. Se eu não estiver lá, ela vai
sofrer mais.
EVANDRO - E você acha que, com a morte do pai
dela, ela vai estar pensando em você? Miguel, você é um menino maluco.
MIGUEL - O senhor vai me deixar ir pra
Curitiba com o Seu Ângelo ou não?
EVANDRO - (SÉRIO) Não.
CAROLINA - (INTERFERE) Evandro, por favor,
permita que o Miguel vá. Ele não vai fazer nada de errado, você sabe disso.
EVANDRO - Carolina, eu não vou deixar meu
filho correr o risco de ser humilhado novamente por aquela jararaca da dona
Gabriela.
CAROLINA - Ela não vai se importar, porque o
marido dela morreu e o sepultamento dele é hoje.
EVANDRO APROXIMA-SE DE CAROLINA E A FITA
SERIAMENTE.
EVANDRO - Se acontecer qualquer coisa,
Carolina, a culpa é sua. A responsabilidade está em suas mãos, eu não digo mais
nada.
EVANDRO RETIRA-SE.
MIGUEL - Eu vou ver a Sophia.
CAROLINA - (SORRI) Sim, meu filho, você vai ver
a Sophia... Cuide bem dela.
MIGUEL - (DÁ UM LEVE SORRISO, ABRAÇA A
MÃE) Obrigado, mãe! Eu te amo muito!
CAROLINA - (CORRESPONDE. PASSA A MÃO NOS
CABELOS DE MIGUEL) Eu também te amo muito, meu anjo!
CAROLINA LEVANTA-SE E RETIRA-SE. MIGUEL
COLOCA UMA MUDA DE ROUPA NA SUA PEQUENA MOCHILA. JULIANA APARECE.
JULIANA - Não sei como o tio Evandro
permitiu que você vá pra capital.
MIGUEL - Ele sabe que a Sophia precisa
de mim.
JULIANA - Quem disse que ela precisa?
MIGUEL - (SÉRIO) Eu estou dizendo. (t)
Eu amo a Sophia.
JULIANA - Você nem sabe o que é o amor. É
apenas um moleque.
MIGUEL - E você é uma fedelha, muito
nojentinha!
MIGUEL COLOCA A MOCHILA NAS COSTAS E
RETIRA-SE. JULIANA CONTINUA NO QUARTO.
JULIANA - (COM CARA DE NOJO) Sophia...
JULIANA FICA ALI POR ALGUNS SEGUNDOS E EM
SEGUIDA RETIRA-SE.
CORTA PARA:
CENA 15.
FAZENDA DE ÂNGELO. VARANDA. EXT. DIA.
UM RAPAZ ABRE A PORTA DO CARRO PARA ÂNGELO
E ELE ENTRA NO AUTOMÓVEL. MIGUEL BEIJA O ROSTO DA MÃE, PEGA SUA PEQUENA MOCHILA
E TAMBÉM ENTRA NO AUTOMÓVEL. O RAPAZ LIGA O MOTOR DO CARRO E APERTA O
ACELERADOR. CAROLINA ACENA PARA O FILHO E ELE ABANA. O AUTOMÓVEL PARTE. EVANDRO
APARECE E FICA OLHANDO.
EVANDRO - Isso não vai dar certo.
CAROLINA - O que importa é que o nosso filho
está feliz... Ele ama a Sophia.
EVANDRO - (OLHA SERIAMENTE PARA CAROLINA)
Você está dizendo isso em que sentido, Carolina?
CAROLINA - (ENCARA EVANDRO) Uma vez me disseram
que o amor nasce e que ele não tem idade pra começar. A Sophia e o Miguel se
amam de verdade, eles só não têm ideia que esse amor é muito mais do que uma
amizade. Eles vão descobrir isso com o tempo.
EVANDRO - Você está querendo dizer que nosso
filho e aquela menina podem acabar se envolvendo mais tarde?
CAROLINA - É isso que irá acontecer, Evandro,
já está mais do que claro.
EVANDRO - (IRRITADO) Eu não vou permitir.
CAROLINA - Você não poderá fazer nada, Evandro.
Até lá, o Miguel já estará grande. E, hoje em dia, pais não proíbem os filhos
de se envolverem com quem quiser. O Miguel ama aquela menina e eu vou ser a
primeira a apoiá-lo o dia que ele chegar em mim e dizer que está namorando com
ela.
EVANDRO - Você está falando asneiras,
Carolina. Ela mora em Curitiba, ele mora aqui. Ela tem grana, ele não tem nada.
Esse amor não irá vingar.
CAROLINA - Para a vida, nada é impossível. E
quando um amor é verdadeiro, não há nenhuma barreira que se mantenha em pé pra
destruir aquilo que a vida e Deus decidiram.
EVANDRO E CAROLINA FICAM SE OLHANDO POR
ALGUNS INSTANTES.
CORTA PARA:
CENA 16.
CURITIBA. FACHADA DO PRÉDIO DOS MEIRELLES. EXT. DIA.
O AUTOMÓVEL PARA EM FRENTE AO PRÉDIO ONDE
GABRIELA E SOPHIA MORAM. ÂNGELO E MIGUEL DESCEM DO CARRO. GABRIELA DESCE E FICA
BOQUIABERTA AO VER O GAROTO.
GABRIELA - (INDIGNADA) O que esse moleque está
fazendo aqui? O que significa isso, Seu Ângelo?
ÂNGELO - Gabriela, não é hora pra
discutirmos. Eu vim para o sepultamento de meu filho, respeite esse meu
momento. Você não devia se importar com o Miguel.
GABRIELA - Eu só não imaginava que depois de
tudo o senhor ainda fosse trazer esse moleque junto.
ÂNGELO - Ele veio porque me pediu.
MIGUEL FICA OLHANDO PARA GABRIELA.
GABRIELA - E o senhor o trouxe junto.
ÂNGELO - Ele veio porque é um bom menino
e quer dar um abraço na Sophia. Eles são amigos.
GABRIELA - Me desculpe, Seu Ângelo, mas eu não
vou permitir que esse menino entre no meu apartamento pra ver a minha filha.
ÂNGELO - Gabriela, você não está em
condições de proibir nada... O meu filho morreu e você parece não estar
abalada.
GABRIELA - (MENTE) Eu apenas estou tentando me
manter em pé pra não desabar na frente do senhor.
ÂNGELO - Vamos subir.
GABRIELA - (DISFARÇA) Vamos!
GABRIELA SOBE NA FRENTE E ÂNGELO E MIGUEL
A SEGUEM. PODEMOS NOTAR A RAIVA QUE GABRIELA ESTÁ SENTINDO DIANTE DAQUELA
SITUAÇÃO.
CORTA PARA:
2° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 17. AP
DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. DIA.
SOPHIA TERMINA DE VESTIR UM VESTIDO PRETO,
PARA O SEPULTAMENTO DE MARCELO. ELA NÃO VER QUE MIGUEL, O SEU GRANDE AMIGO
ENTRA EM SEU QUARTO.
MIGUEL - (ATRÁS DE SOPHIA) Sophia!
SOPHIA AO OUVIR A VOZ DE MIGUEL, PARA POR
ALGUNS SEGUNDOS. SUA SENSAÇÃO É DE QUE COMO SE A ESPERANÇA ESTIVESSE PRESENTE.
SOPHIA EMOCIONA-SE. VIRA-SE PARA A PORTA. NÃO CONTÊM AS LÁGRIMAS AO VER MIGUEL.
SOPHIA CORRE PARA OS BRAÇOS DE MIGUEL. OS DOIS FICAM ABRAÇADOS POR UM LONGO
TEMPO. SOPHIA SOLUÇA AO CHORO.
CORTA PARA:
CENA 18.
CURITIBA. CEMITÉRIO. INT./EXT. DIA/TARDE.
·
NA
CAPELA DO CEMITÉRIO, ÂNGELO ACABA SE EMOCIONANDO E CHORA AO TOCAR NO CAIXÃO
ONDE ESTÁ OS RESTOS MORTAIS DE MARCELO.
·
NO
FINAL DA CERIMONIA FÚNEBRE, SOPHIA JOGA A ÚLTIMA ROSA BRANCA NA COVA QUE ACABA
SENDO FECHADA COM ARGAMASSA APÓS COLOCAREM O CAIXÃO DENTRO.
·
AO
FINAL DO SEPULTAMENTO, OS CONVIDADOS VÃO EMBORA. GABRIELA FICA OLHANDO PARA A
LÁPIDE DA SEPULTURA. RAUL APARECE E SE APROXIMA DELA.
·
LEONARDO
APROXIMA-SE DE ÂNGELO.
LEONARDO - Vamos embora, Seu Ângelo?
ÂNGELO - Vamos.
LEONARDO - O senhor e o menino irão ficar em meu
apartamento.
ÂNGELO - (CONCORDA) Tudo bem.
ÂNGELO OLHA PARA O LADO E VÊ RAUL CONVERSANDO
COM GABRIELA. ÂNGELO OS OBSERVA DESCONFIADO.
RAUL - Eu sinto muito, Gabriela.
GABRIELA - Eu não preciso de seus sentimentos.
RAUL - (SORRI) Pra que tanta
frieza?
GABRIELA RETIRA-SE. RAUL OLHA PARA A
LÁPIDE DA SEPULTURA E DÁ UM SORRISO.
CORTA PARA:
CENA 19.
CEMITÉRIO. FRENTE. EXT. TARDE.
ÂNGELO ESPERA POR GABRIELA ANTES DE ENTRAR
NO CARRO. GABRIELA APARECE E ÂNGELO A OLHA SERIAMENTE.
ÂNGELO - Quem era aquele homem?
GABRIELA - (OLHA PARA ÂNGELO. MENTE) Era um
amigo.
ÂNGELO - (DESCONFIADO) Amigo do Marcelo?
GABRIELA - (RESPIRA FUNDO. MENTE) Amigo da
família.
GABRIELA ENTRA NO CARRO. ÂNGELO FICA POR
ALGUNS SEGUNDOS DESCONFIADO E PENSATIVO, EM SEGUIDA ENTRA NO CARRO. CORTA IMEDIATO PARA: CARRO DE LEONARDO.
INT. TARDE. SOPHIA OLHA PARA GABRIELA.
SOPHIA - Eu vou para a casa do
Leonardo.
GABRIELA - Você vai ficar comigo.
SOPHIA - (SÉRIA) Não, eu vou ficar com
o vovô e com o Miguel.
ÂNGELO - A Sophia irá ficar comigo essa
noite, Gabriela.
GABRIELA - O que você acha disso, Leonardo?
LEONARDO - O meu apartamento tem bastante
espaço... E também a minha esposa não se importaria.
GABRIELA - Já que você quer ficar com seu avô
essa noite, Sophia... Eu não vou ser contra.
MIGUEL PEGA NA MÃO DE SOPHIA, QUE O OLHA
COM AFETO. GABRIELA OLHA PARA OS DOIS DE RABO DE OLHO. RESPIRA FUNDO E DISFARÇA
A RAIVA.
CORTA PARA:
CENA 20.
CONDOMÍNIO. FRENTE. EXT. TARDE.
GABRIELA É LARGADA EM CASA. SOPHIA DESCE
DO CARRO.
SOPHIA - Vou pegar uma muda de roupa.
SOPHIA RETIRA-SE. ÂNGELO DESCE DO CARRO.
DIRIGE-SE À GABRIELA.
ÂNGELO - Amanhã eu vou vir ter uma
conversa com você, Gabriela.
GABRIELA - Eu também quero conversar com o
senhor... Até amanhã.
GABRIELA RETIRA-SE. ÂNGELO A OBSERVA E
FICA A ESPERA DA NETA.
CORTA PARA:
CENA 21. AP
DOS MEIRELLES. QUARTO DE SOPHIA. INT. TARDE.
SOPHIA COLOCA UMA MUDA DE ROUPA EM UMA
BOLSA. GABRIELA APARECE E PEGA SOPHIA PELO BRAÇO, A MACHUCANDO.
GABRIELA - Você conseguiu o que queria, não é,
garota? Aproveite bastante essa noite que você irá passar ao lado do seu
vovozinho e daquele seu amiguinho, porque você nunca mais irá revê-los.
SOPHIA - Você não pode me proibir de
ver meu avô.
GABRIELA - E quem irá te levar pra ver ele em
Campo Bonito? Eu é que não irei fazer isso.
SOPHIA - Eu vou morar com meu avô.
GABRIELA - Pra quê? Pra ficar perto do seu
amiguinho molambento? Você está muito enganada, Sophia, muito enganada!
SOPHIA - (ENCARA GABRIELA) Você é quem
está enganada.
GABRIELA - (APERTA O BRAÇO DE SOPHIA) Baixe
esse nariz, garota! Se amanhã você chegar aqui e me fazer perder a paciência,
eu vou fazer você pedir pra voltar pro inferno de onde você deve ter saído
antes de vir a Terra.
SOPHIA - (SE SOLTA. GRITA) Eu te odeio!
GABRIELA - Que bom que você me odeia, sabe por
quê? Porque eu não preciso do seu amor, sua insuportável. Saia da minha frente
antes que eu me arrependa de ter deixado você ir passar essa noite com aquele
velho idiota do seu avô. Ele é outro insuportável, assim como você.
SOPHIA RETIRA-SE. BATE A PORTA AO SAIR.
GABRIELA REVOLTADA, PASSA A MÃO PELOS CABELOS.
GABRIELA - (GRITA) Que ódio!
CONGELA EM “GABRIELA” REVOLTADA.
FIM DO
CAPÍTULO 7
Nenhum comentário:
Postar um comentário