Memória DNA | Com Amor | Capítulo 16 (2ª fase - 1º Ciclo)


COM AMOR
SEGUNDA FASE
PRIMEIRO CICLO

Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

Escrita com
Miguel Rodrigues

Direção
MIGUEL RODRIGUES

Direção de Núcleo
DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES

Personagens deste capítulo

JULIANA
PAULO
NÁDIA
GUSTAVO
SOPHIA
CECÍLIA
MIGUEL
GABRIELA
SUZANA

Participação especial

-

CENA 01. STOCK-SHOTS. TAKES DA CIDADE DE CAMPO BONITO.

SUCESSÃO DE IMAGENS MOSTRANDO AS BELEZAS DA CIDADE DE CAMPO BONITO AMANHECENDO.

INSERIR LETREIRO: DOIS DIAS DEPOIS...
CORTA PARA:

CENA 02. CASA DE PAULO. QUARTO DE JULIANA. INT. DIA.

JULIANA TERMINA DE ARRUMAR SUAS COISAS NA SUA MOCHLA. FECHA-A. PAULO APARECE NA PORTA E FICA OLHANDO PARA A FILHA.

PAULO                 — Onde você está indo com essa mochila?

JULIANA LEVA UM SUSTO. FICA SURPRESA AO VER PAULO NA PORTA DE SEU QUARTO.

JULIANA             — Eu estou indo embora, pai.

PAULO                 — Indo embora? Pra onde?

JULIANA             — Eu vou atrás dos meus sonhos.

PAULO                 — Que sonhos, Juliana? Que sonhos você tem, menina?

JULIANA             — Eu não sou mais uma menina, pai.

PAULO                 — Mas pra mim, é como se fosse.

JULIANA             — Só pro senhor mesmo... Eu vou embora e nunca mais vou voltar.

PAULO                 — Eu não vou deixar você ir embora dessa casa.

JULIANA             — O senhor não pode me impedir, eu não sou mais uma adolescente.

PAULO                 — Você só sai dessa casa quando tiver seus vinte e um anos de idade.

JULIANA             — (GRITA) Saia da minha frente!

NÁDIA APARECE NO QUARTO DE JULIANA, ASSUSTADA.

NÁDIA                  — O que está acontecendo aqui?

PAULO                 — A Juliana quer ir embora... Nádia, por favor, não deixe!

JULIANA             — Mãe, vocês não podem me impedir de ir embora.

NÁDIA                  — (PREOCUPADA) Pra onde você vai, minha filha?

JULIANA             — Eu não posso dizer pra onde vou... Mas prometo que mando notícias.

PAULO                 — (GRITA REVOLTADO) Você está indo embora com aquele vagabundo que você arranjou pra chamar de namorado, não é? Ele está colocando “minhocas” na sua cabeça, não é, Juliana? Eu mato aquele desgraçado.

JULIANA             — O Gustavo apenas abriu os meus olhos. Ele me apóia de verdade.

PAULO                 — Aquele sujeitinho não vale nada. Que tipo de vida ele vai te dar?

JULIANA             — (GRITA) O tipo de vida que o senhor jamais me daria.

PAULO                 — Eu sou um homem honesto e sempre trabalhei duro pra te sustentar... Você não pode reclamar de nada, Juliana.

JULIANA             — O senhor sempre trabalhou duro pra nada. Eu odeio viver nesse lugar, eu odeio essa casa... Eu odeio o senhor!

PAULO DÁ UMA BOFETADA EM JULIANA QUE A FAZ CAIR SOBRE A CAMA.

NÁDIA                  — (CHORA) Paulo, não bata nela!

PAULO FICA OLHANDO SERIAMENTE PARA JULIANA. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.

PAULO                 — Pode ir embora, Juliana. Pegue sua mochila e vá embora. Eu só espero que você não volte com “uma mão na frente e outra atrás”.

JULIANA             — (O OLHA COM RAIVA) Eu não vou voltar.

PAULO                 — Eu espero que você não volte mesmo... E se você voltar, eu vou te expulsar daqui lhe dando relhadas.

JULIANA SE LEVANTA. PEGA SUA MOCHILA E VAI EMBORA. PAULO NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS E NÁDIA O ABRAÇA FORTEMENTE.
CORTA PARA:

CENA 03. RODOVIÁRIA. SALÃO DE ESPERA. INT. DIA.

GUSTAVO ESPERA POR JULIANA. JULIANA APARECE CHORANDO. GUSTAVO FICA OLHANDO PARA A MOÇA.

GUSTAVO           — Você está chorando, Juliana?

JULIANA             — Eu briguei com meu pai.

GUSTAVO           — Ele viu você sair de casa?

JULIANA             — Não... Eu estava fechando a mochila e ele apareceu no quarto. Eu nunca mais vou voltar naquela casa.

GUSTAVO           — E não vai mesmo, porque nós vamos atrás de nossos objetivos. Talvez, algum dia você volte... Mas irá voltar bem de vida e poderá esfregar isso na cara do teu pai.

JULIANA             — Não... Eu não quero nunca mais voltar pra essa cidade.

GUSTAVO           — E que o seu desejo se cumpra. O nosso ônibus vai partir em alguns minutos. (LEVANTA-SE DO BANCO) Vamos?!

JULIANA             — (DETERMINADA) Vamos!

OS DOIS SEGUEM ATÉ O ÔNIBUS.
CORTA PARA:

CENA 04. STOCK-SHOT. TAKES DA CIDADE DE CURITIBA. DIA.

TAKES DE CURITIBA MOSTRANDO UMA GERAL DA CIDADE ATÉ CHEGARMOS À FACHADA DA ESCOLA ONDE SOPHIA E CECÍLIA ESTUDAM. OUVIMOS BURBURINHOS DE ALUNOS, INDICANDO A HORA DO INTERVALO DA ESCOLA.
CORTA IMEDIATO PARA:
CENA 05. ESCOLA. PÁTIO. INT. HORA DO INTERVALO.

CECÍLIA E SOPHIA ESTÃO SENTADA NUM BANCO DO PÁTIO DA ESCOLA. COMEM ALGUMA COISA. CECÍLIA TIRA UM PAPEL DO BOLSO E O ENTREGA PARA SOPHIA, QUE ESTRANHA.

SOPHIA                — O que é isso?

CECÍLIA               — É o endereço do albergue em que o Miguel está hospedado.

SOPHIA                — Eu não tenho nada pra fazer lá.

CECÍLIA               — Como não tem, Sophia?

SOPHIA                — Cecília... Você está querendo fazer de tudo para me empurrar pra cima do Miguel... Eu e ele somos apenas amigos.

CECÍLIA               — (INDIGNADA) Eu realmente não te entendo, Sophia.

SOPHIA                — Ninguém me entende.

CECÍLIA               — Você não deixa que as pessoas te entendam... Até quando você vai mentir pra si mesma?

SOPHIA                — E por que eu estou mentindo pra mim mesma?

CECÍLIA               — Porque a vida está te dando a chance de viver esse amor com o Miguel, mas você não quer admitir isso de forma alguma.

SOPHIA                — Eu já disse que o meu sentimento pelo Miguel é fraternal.

CECÍLIA               — E quantas vezes eu vou ter que lhe dizer que esse sentimento era fraternal quando vocês dois eram apenas duas criancinhas inocentes?... Sophia, você não quer admitir pra si mesma que está apaixonada pelo Miguel e ele também está por você.

SOPHIA                — (INDIGNADA) Quem disse isso?

CECÍLIA               — (A OLHA SERIAMENTE) Eu estou dizendo.

SOPHIA                — Você está completamente enganada.
CECÍLIA               — Ah, sim... Estou completamente enganada... Me poupe, Sophia! (SOPHIA RETIRA-SE. CECÍLIA ESTRANHA) Onde você vai, Sophia?

SOPHIA                — Eu vou na cantina.

CECÍLIA               — Eu já sei porque você não quer admitir seus sentimentos.

SOPHIA                — Vamos acabar com essa conversa, Cecília?

CECÍLIA               — Você tem medo, receio... É a sua mãe... A sua mãe é o motivo de você não ter coragem pra admitir que ama o Miguel e que quer viver esse amor.

SOPHIA                — O que eu me admiro, Cecília, é que você fala de amor, mas nunca se apaixonou por nenhum garoto... Nunca correspondeu ao sentimento de nenhum que se interessou por você... Apesar de que a maioria nunca quis nada sério mesmo.

CECÍLIA               — Acontece, Sophia, é que eu sou a sua amiga e quero te ver feliz. Eu não preciso me apaixonar pra falar de amor, pra falar de sentimentos.

SOPHIA FICA OLHANDO PARA CECÍLIA POR ALGUNS INSTANTES. RETIRA-SE. CECÍLIA FICA PENSATIVA E BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
CORTA PARA:

CENA 06. STOCK-SHOT.

ANOITECE.

CENA 07. ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. NOITE.

MIGUEL ESTÁ EM SEU QUARTO. DESENHA EM UMA TELA BRANCA. TERMINA OS ÚLTIMOS TRAÇOS DA OBRA. FICA ADMIRANDO POR ALGUNS INSTANTES. MIGUEL COMEÇA PENSAR EM SOPHIA. DÁ UM LINDO SORRISO AO LEMBRAR DA MOÇA.
CORTA PARA:

1° INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 08. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA

MANHÃ/TARDE.

CENA 09. ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. TARDE.

MIGUEL ESTÁ DEITADO NA CAMA. ESTÁ COM PENSAMENTOS DISTANTES. ALGUÉM BATE À PORTA. MIGUEL SE LEVANTA PRONTAMENTE. DÁ UM SORRISO.

MIGUEL               — (SORRI. PERGUNTA PARA SI) Será que é a Sophia?

MIGUEL ABRE A PORTA EMPOLGADO. LOGO MUDA A EXPRESSÃO FACIAL AO VER DE QUEM SE TRATA.

MIGUEL               — Juliana?

JULIANA SORRI ALEGRE. FICA OLHANDO PARA MIGUEL.

JULIANA             — Miguel.

MIGUEL               — Como você veio parar aqui em Curitiba? Como me achou?

JULIANA             — Eu copiei o endereço que você tinha deixado com a tua mãe. Não vai me convidar pra entrar?

MIGUEL               — (EMBURRADO) Entre!

JULIANA ENTRA. OLHA A SUA VOLTA.

JULIANA             — Então é aqui que você está vivendo?

MIGUEL               — Apenas por algum tempo.

JULIANA             — Que lindo desenho! Você nasceu com um dom pra desenhar tão bem.

MIGUEL               — Não chamo de dom... Chamo de talento.

JULIANA             — Por que você está tão sério? Devia estar feliz comigo, por minha vinda.

MIGUEL               — Você fugiu de casa, Juliana?

JULIANA             — Não... Eu fui expulsa.

MIGUEL               — O meu tio não te expulsaria de casa.

JULIANA             — Ele me pegou quando eu estava preparando a minha fuga. Eu já tinha planos de vir pra cá.

MIGUEL               — E eu garanto que você veio com aquele seu namoradinho.

JULIANA             — O Gustavo é um sonhador, assim como eu... Nós temos um objetivo.

MIGUEL               — Que objetivo, Juliana? O objetivo de saírem feito dois perdidos pelo mundo.

JULIANA             — (FITA-O) Assim como você fez também, Miguel?

MIGUEL               — Eu vim por causa da Sophia... E também porque eu quero expor os meus desenhos na rua. Eu sonho em ser descoberto por alguém que possa me dar oportunidade de entrar pro mercado das artes.

JULIANA             — Mas veio mais por causa da Sophia... Você nunca tirou aquela menina da cabeça.

MIGUEL               — Ela está uma moça agora.

JULIANA             — Então você já se reencontraram?

MIGUEL               — Já.

JULIANA             — (TENTA DISFARÇAR A MÁGOA) Ah... Que bom!

MIGUEL               — (SORRI) Eu pretendo cuidar da Sophia... Quando eu me tornar um grande artista, eu vou levá-la comigo. Nós vamos ficar juntos, como sempre dissemos quando éramos apenas duas crianças.

JULIANA             — (CHORA) E eu, Miguel?

MIGUEL               — O que tem você, Juliana?

JULIANA             — Em nenhum momento percebeu que eu sempre fui apaixonada por você?

MIGUEL               — Isso é bobagem, Juliana! Uma vez, lá em Campo Bonito, você já tinha tocado nesse assunto. Você até mesmo tentou me agarrar no celeiro.

JULIANA             — Porque eu sou apaixonada por você.

MIGUEL               — Só que eu nunca vou corresponder aos seus sentimentos... Isso é impossível, Juliana, eu sou o teu primo.

JULIANA             — O fato de sermos primos não impede nada entre nós dois.

MIGUEL               — Pra mim, impede... E também eu... Eu amo a Sophia! Até os meus quinze anos, eu imaginava que esse amor era algo mais forte, não era apenas um amor de amigos ou um sentimento fraternal. Era amor de verdade. É um amor de verdade... Eu amo a Sophia.

JULIANA             — O que ela tem que eu não tenho? Sou uma mulher bonita, eu sou atraente. Os peões da fazenda do Seu Aurélio me olhavam e me desejavam. Por que você nunca me olhou da mesma forma?

MIGUEL               — A Sophia também é uma moça muito bonita, mas não é apenas isso que me atrai nela... A alma dela é linda, brilha...  O meu amor pela Sophia é mais forte do que qualquer coisa.

JULIANA             — Eu vim pra Curitiba com a esperança de ter você pra mim... Eu não vim por causa dos meus sonhos, eu não vim porque quero sair pelo mundo ao lado do Gustavo. Eu vim porque eu tinha a esperança de que você me olhasse de outra forma, me desejasse, me tomasse em seus braços...

JULIANA NÃO SE CONTÉM E AGARRA MIGUEL AOS BEIJOS.

MIGUEL               — (GRITA) Me solte, Juliana!

JULIANA FICA OLHANDO PARA MIGUEL.

JULIANA             — Miguel, me dê uma chance.

MIGUEL               — Eu não vou te dar chance nenhuma... Tire essa ilusão da cabeça... Volte pra Campo Bonito, porque com aquele tal de Gustavo, você irá acabar se quebrando... Ele não vale nada... Eu já te avisei sobre isso.

JULIANA             — Ele gosta de mim de verdade... Ele não é como você que me despreza.

MIGUEL               — Ele apenas está te iludindo, essa é a verdade. Agora vá embora!

JULIANA FICA OLHANDO COM RAIVA PARA MIGUEL.

JULIANA             — Se você não for meu, Miguel, você não vai ser de mais ninguém... Se você está achando que vai ser feliz com aquela infeliz da Sophia... Você está muito enganado. Eu vou destruir a sua felicidade.

MIGUEL               — (GRITA) Vá embora, Juliana!

JULIANA ABRE A PORTA. SOPHIA APARECE E FICA OLHANDO PARA JULIANA.

MIGUEL               — (SORRI) Sophia.

SOPHIA                — Miguel, quem é essa garota?

JULIANA             — (DÁ UM SORRISO IRÔNICO) Sophia.

MIGUEL               — Vá embora, Juliana!

JULIANA FICA ENCARANDO SOPHIA POR ALGUNS SEGUNDOS E EM SEGUIDA RETIRA-SE.

SOPHIA                — Miguel, quem era aquela garota? O que ela estava fazendo aqui?

MIGUEL               — Não se lembra da minha prima Juliana?

SOPHIA                — Ela veio com você?

MIGUEL               — Não... Nem mesmo eu sabia que ela tinha vindo também.

SOPHIA                — Ela ficou me encarando... Ela continua não gostando de mim.

MIGUEL               — E você acha que deve se importar com isso?
SOPHIA                — Não, eu não devo me importar, você tem razão.

MIGUEL               — Eu achei que você não fosse vir aqui... Eu já estava perdendo as esperanças.

SOPHIA                — Eu não devia ter vindo, afinal nós iríamos nos ver amanhã a noite.

MIGUEL               — Eu estou feliz porque você veio e trouxe uma mochila.

SOPHIA                — Eu estou carregando algumas mudas de roupa... Eu vou pra casa da Cecília daqui a pouco.

MIGUEL               — (SORRI) Não vai mais.

SOPHIA                — (ESTRANHA) Como assim?

MIGUEL               — Nós vamos passar esse final de semana juntos.

SOPHIA                — A Cecília me falou a mesma coisa... Eu não acredito que vocês estão armando de novo pra cima de mim.

MIGUEL               — É por um bom motivo... A sua amiga quer apenas nos ajudar, só isso.

SOPHIA BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.

SOPHIA                — Nós vamos passar o final de semana aqui?

MIGUEL               — Não, Sophia... Nós vamos passar o final de semana em Campo Bonito.

SOPHIA                — Você só pode estar brincando comigo.

MIGUEL               — Não... Eu não estou brincando com você... Cecília e eu armamos isso para que você e eu pudéssemos ir pra Campo Bonito sem preocupações.

SOPHIA                — (BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE) Eu não vou pra Campo Bonito com você.

MIGUEL               — Por que não, Sophia? Essa é a única oportunidade que você tem de voltar lá, de matar as saudades.

SOPHIA                — Eu sinto saudades de Campo Bonito, mas eu não posso cometer essa loucura.

MIGUEL               — Já pensou, Sophia, se estivermos juntos em Campo Bonito? Nós vamos relembrar a nossa infância... Podemos até mesmo fazer as mesmas coisas que fazíamos.

SOPHIA                — (SORRI) Você quer que eu aja feito uma criança?

MIGUEL               — Não... Eu quero é correr por aqueles campos, me deitar naqueles gramados... Olhar o pôr-do-sol ao seu lado novamente. Eu sinto saudades daquela época.

SOPHIA                — Eu também sinto, Miguel.

MIGUEL               — (COM OS OLHOS MAREJADOS) Não parece... Porque você não quer ir comigo. Você já não é mais a mesma Sophia.

SOPHIA                — Por que você acha isso?

MIGUEL               — Porque você está fria. Eu perdi aquela Sophia de oito anos atrás.

SOPHIA                — Eu não me tornei uma pessoa fria, Miguel.

MIGUEL               — Se tornou, sim... Você já não é mais a mesma.

SOPHIA                — O que você não quer entender é que não tem fundamento nós dois irmos pra Campo Bonito. Isso é loucura!

MIGUEL               — Só pra você é loucura.

MIGUEL SENTA-SE NA CAMA. ENTERRA A CABEÇA ENTER OS BRAÇOS.

SOPHIA                — Não fique triste comigo, Miguel. Você tem que me entender.

MIGUEL               — Você não deixa que eu entenda, Sophia.

SOPHIA LEMBRA QUE CECÍLIA HAVIA LHE FALADO A MESMA COISA. RESPIRA FUNDO.

SOPHIA                — Está bem, Miguel.

MIGUEL               — (DÁ UM SORRISO. FICA OLHANDO SOPHIA) Você vai comigo?

SOPHIA                — (IRRITADA) Vou.

MIGUEL SE LEVANTA. DÁ UM FORTE ABRAÇO EM SOPHIA.

MIGUEL               — Eu devia ter imaginado que você não iria negar meu pedido.

SOPHIA                — Eu estou brava com você.

MIGUEL               — Por quê?

SOPHIA                — Porque você acha que eu me tornei uma pessoa fria. Você está totalmente enganado, Miguel.  Se eu mudei, é porque a vida não foi muito legal comigo.

MIGUEL               — Eu estou aqui agora, você não precisa temer mais nada. (MIGUEL ABRAÇA SOPHIA NOVAMENTE) Me perdoe por eu ter dito que você se tornou uma pessoa fria. Eu só queria que tudo ficasse bem.

SOPHIA                — (O APERTA CONTRA SEU CORPO) Eu te perdôo.

MIGUEL               — Eu te amo, Sophia!

SOPHIA                — Eu também te amo, Miguel.

MIGUEL               — Nós nunca vamos cansar de dizer isso.

SOPHIA                — Não, nunca.

MIGUEL E SOPHIA CONTINUAM ABRAÇADOS. VALORIZAR ESSE MOMENTO DOS DOIS.
CORTA PARA:

CENA 10. ALBERGUE. QUARTO DE JULIANA E GUSTAVO. INT. TARDE.

EM OUTRO ALBERGUE, JULIANA CHEGA. ENTRA NO QUARTO. GUSTAVO ESTÁ A SUA ESPERA.

GUSTAVO           — (DESCONFIADO) Onde você foi, Juliana?

JULIANA             — Fui conhecer os arredores.

GUSTAVO           — Mentira! Você deve ter ido atrás daquele teu priminho.

JULIANO             — Eu não sei onde o Miguel está.

GUSTAVO           — Você não conhece nada aqui... Não iria sair pra conhecer os arredores.

JULIANA             — Gustavo, eu não sou uma ignorante, um bicho do mato como você deve estar pensando.

GUSTAVO           — (IRRITADO) E eu não sou idiota como você deve pensar.

JULIANA             — Eu não vou brigar com você... Está tudo bem entre nós e eu não quero estragar isso.

GUSTAVO           — Eu só espero, Juliana, que você tenha vindo pra Curitiba pelos mesmos propósitos que eu tenho.

JULIANA             — E por que eu viria pra cá se não fosse por isso?

GUSTAVO           — Pra ficar atrás daquele teu priminho idiota.

JULIANA             — (MENTE) Eu já me conformei que o Miguel não quer nada comigo.

GUSTAVO           — (A FITANDO) Será mesmo?

JULIANA FICA OLHANDO PARA GUSTAVO E RETIRA-SE IRRITADA.
CORTA PARA:

CENA 11. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.

ANOITECE/AMANHECE.

CENA 12. ALBERGUE. FRENTE. EXT. DIA SEGUINTE.

MIGUEL ABRE A PORTA DO CARRO. SOPHIA FICA OLHANDO PARA O CARRO. ESTRANHA.

SOPHIA                — Como você conseguiu esse carro?

MIGUEL               — Eu consegui conquistar a amizade do Seu Aurélio e ele me deu esse carro... Já é velho, mas corre feito um bicho.

SOPHIA                — Muitas coisas aconteceram durante esses anos.

MIGUEL               — É, muitas coisas aconteceram. (SOPHIA DÁ UM SORRISO. ENTRA NO AUTOMÓVEL. MIGUEL TAMBÉM ENTRA NO CARRO. OLHA PARA SOPHIA) Está ansiosa?

SOPHIA                — Muito ansiosa... Campo Bonito só me trouxe alegrias.

MIGUEL               — Eu sinto saudades daqueles tempos.

SOPHIA                — Por um lado, eu também sinto saudades... Mas por outro, eu prefiro nem me lembrar.

MIGUEL               — Depois que voltarmos, nós vamos começar a planejar nossas vidas.

SOPHIA                — Planejar nossas vidas? Como assim, Miguel?

MIGUEL               — Eu quero te levar para morar comigo.

SOPHIA                — Isso não vai ser possível... Eu ainda sou menor de idade.

MIGUEL               — Mas não vai ser agora. Eu ainda tenho que me estabilizar aqui em Curitiba... Vou ter que arranjar um emprego, também vou começar a expor meus quadros nas ruas.

SOPHIA                — Você ainda sonha em ser desenhista?

MIGUEL               — Esse sonho nunca morreu, Sophia... Assim como nunca morreu o sonho de te reencontrar... E hoje estamos juntos novamente. Eu nunca perdi a esperança.

SOPHIA PEGA A MÃO DE MIGUEL. FICA OLHANDO FIXAMENTE PARA O RAPAZ.

SOPHIA                — Você vai realizar todos os seus sonhos.

MIGUEL               — Nós vamos realizar todos os nossos sonhos.

SOPHIA                — Eu não tenho sonhos, Miguel.

MIGUEL               — Como você não tem sonhos?

SOPHIA                — Parece que todos desapareceram... Foram morrendo aos poucos.

MIGUEL               — (SORRI) Quando um sonho é verdadeiro... Ele jamais morre.

SOPHIA                — Eu juro que queria acreditar nisso.

MIGUEL               — E você tem que acreditar... Você perdeu a fé, Sophia, mas terá que recuperá-la... Só assim você vai seguir em frente.

SOPHIA                — Se você sempre estiver ao meu lado, talvez...

MIGUEL               — Eu sempre vou estar ao seu lado. Agora já não há mais nada que possa nos separar, mais nada.

SOPHIA                — Você é tudo pra mim, sabia?

MIGUEL               — Eu sei disso. Você também é tudo pra mim. Você é a minha vida, Sophia.

MIGUEL E SOPHIA FICAM SE OLHANDO FIXAMENTE POR ALGUNS INSTANTES. LOGO NOTAMOS UM CLIMA ENTRE OS DOIS. MIGUEL E SOPHIA SE APROXIMAM MAIS UM DO OUTRO. DELIRAM. MIGUEL OLHA PARA OS LÁBIOS DE SOPHIA E SOPHIA OLHA PARA OS LÁBIOS DE MIGUEL. A VONTADE DE SE BEIJAR É IMENSA. SOPHIA ENTÃO QUEBRA O CLIMA.

SOPHIA                — (QUEBRANDO O CLIMA) Não vai ligar esse carro?

MIGUEL               — (VOLTANDO DO DELÍRIO) Mas é claro... Campo Bonito, aí vamos nós!

MIGUEL LIGA O CARRO. ACELERA. DÁ A PARTIDA.
CORTA PARA:

CENA 13. AP DE SUZANA. SALA. INT. DIA.

A CAMPAINHA TOCA. CECÍLIA ATRAVESSA A SALA E VAI ATÉ A PORTA. OLHA QUEM É PELO OLHO MÁGICO. LEVA UM SUSTO AO VER QUE É GABRIELA.

CECÍLIA               — (ESPANTADA) Meu Deus!

SUZANA APARECE. FICA OLHANDO PARA CECÍLIA.

SUZANA              — Não vai abrir a porta?

CECÍLIA               — Mãe, é a Dona Gabriela, mãe da Sophia.

SUZANA              — A mãe da Sophia? O que será que ela veio fazer aqui?

SUZANA ESTENDE A MÃO PARA ABRIR A PORTA, MAS É IMPEDIDA POR CECÍLIA.

CECÍLIA               — Mãe... Antes de abrir essa porta, me ouça: a senhora irá dizer que a Sophia e eu saímos, fomos dar uma volta.

SUZANA              — Mas por que isso, Cecília?

CECÍLIA               — Mãe, eu te imploro... Diga o que eu acabei de lhe pedir, é um caso de vida ou morte.

CECÍLIA RETIRA-SE CORRENDO. SUZANA ABRE A PORTA. PERCEBE QUE GABRIELA JÁ ESTÁ IMPACIENTE.

SUZANA              — Gabriela...

GABRIELA          — Você deve ser a mãe da Cecília.

SUZANA              — (UM POUCO TENSA) Sim... Você é a mãe da Sophia, se não me engano.

GABRIELA          — Sim... Eu quero falar com a minha filha.

SUZANA              — Falar com a sua filha, mas... A Cecília e a Sophia saíram, só voltam mais tarde.

GABRIELA          — Ah, que pena! Muito obrigada! Até mais!

SUZANA              — Até mais! (GABRIELA RETIRA-SE. SUZANA FECHA A PORTA. CECÍLIA APARECE. SUZANA FICA OLHANDO SERIAMENTE PARA CECÍLIA) Cecília, você está acobertando alguma coisa que a Sophia está aprontando?

CECÍLIA               — Mãe, eu não vou poder te explicar direito, mas eu fico grata. Nem sei como te agradecer, meu amor!

CECÍLIA ABRAÇA SUZANA E BEIJA SEU ROSTO EM SEGUIDA.

SUZANA              — Eu só espero, Cecília, que você não esteja aprontando.

CECÍLIA               — Não estou aprontando nada... Só estou ajudando a minha amiga a se livrar um pouco dessa megera que é a mãe dela.

SUZANA              — Mas é a mãe dela.

CECÍLIA               — Mas não passa de uma megera.

CECÍLIA RETIRA-SE. SUZANA BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
CORTA PARA:

CENA 14. CONDOMÍNIO. FRENTE. EXT. DIA.

GABRIELA SAI DO CONDOMÍNIO. COLOCA OS ÓCULOS ESCUROS. OLHA PARA O PRÉDIO.

GABRIELA          — (RESPIRA FUNDO. PARA SI) A Sophia não me mentiu... Acho bom mesmo.

GABRIELA VIRA-SE E RETIRA-SE.
CORTA PARA:

CENA 15. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA E CAMPO BONITO.

ENTARDECE.

CENA 16. CAMPO BONITO. ESTRADA. EXT. TARDE.

SOPHIA E MIGUEL CHEGAM À CAMPO BONITO. SOPHIA OLHA ADMIRADA AS PAISAGENS FORMADAS PELOS CAMPOS PELA JANELA DO AUTOMÓVEL.

SOPHIA                — Isso tudo é tão lindo! Eu já estava morrendo de saudades dessa cidade.

MIGUEL APENAS OLHA PARA SOPHIA E DÁ UM SORRISO. O CARRO PERCORRE A ESTRADA FORMADA E DEPOIS DE ALGUNS MINUTOS, MIGUEL PARA O CARRO.

SOPHIA                — Por que parou?

MIGUEL               — Vamos descer.

SOPHIA                — Descer... Por quê?

MIGUEL               — Não se lembra desse lugar, Sophia?

SOPHIA                — Não.

MIGUEL               — Nós estamos perto daquela cachoeira que costumávamos ir... Se lembra agora?

SOPHIA                — (SORRI) Eu não acredito... Então quer dizer que estamos perto da fazenda do meu avô... Quero dizer... Da fazenda que foi do meu avô? (MIGUEL DÁ UM SORRISO. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. SOPHIA TAMBÉM SORRI) Então vamos descer logo.

MIGUEL               — Vamos!

MIGUEL E SOPHIA DESCEM DO CARRO. CAMINHAM PELO MATAGAL ATÉ A CACHOEIRA.

SOPHIA                — (ADMIRADA) Essa cachoeira...

MIGUEL               — Quando estávamos longe um do outro, eu costumava vir aqui e acabava chorando muitas vezes. E agora, eu não consigo acreditar que estamos aqui novamente, juntos.

SOPHIA                — Eu achei que nunca mais fosse voltar aqui.

SOPHIA DESCE O PEQUENO BARRANCO. ABAIXA-SE E TOCA A ÁGUA. SOPHIA NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS.

MIGUEL               — Está chorando, Sophia? (ELA OLHA PARA MIGUEL. LEVANTA-SE E LHE DÁ UM FORTE ABRAÇO) Não chore, Sophia, não chore.

SOPHIA                — Obrigada, Miguel! Obrigada!

MIGUEL               — Não precisa me agradecer... Eu só insisti para que você viesse porque eu te amo.

SOPHIA                — Você não sabe o quanto está me fazendo feliz.

MIGUEL               — Te fazer feliz é a minha missão.

MIGUEL E SOPHIA FICAM SE OLHANDO FIXAMENTE POR ALGUNS INSTANTES. APROXIMAM SEUS LÁBIOS.

SOPHIA                — (TOCA O ROSTO DE MIGUEL) Eu jamais deixei de te amar, jamais.

MIGUEL               — (ALISA OS CABELOS DE SOPHIA) Eu também nunca deixei de te amar, nunca.

SOPHIA E MIGUEL NÃO SE CONTÉM. SE BEIJAM PELA PRIMEIRA VEZ. VALORIZAR O BEIJO DOS DOIS. CONGELA EM “MIGUEL E SOPHIA” SE BEIJANDO.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 16

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