“COM AMOR”
SEGUNDA FASE
PRIMEIRO CICLO
Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES
Escrita com
Miguel Rodrigues
Direção
MIGUEL RODRIGUES
Direção de Núcleo
DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
Personagens deste capítulo
SOPHIA
MIGUEL
CAROLINA
GABRIELA
CECÍLIA
GUSTAVO
JULIANA
Participação especial
FIGURANTES HOTEL-FAZENDA/ FIGURANTES ALUNOS/ REGINA/ESTUDANTES/MARLENE
(COORDENADORA)/VERA (RECAPCIONISTA DO ALBERGUE)/MONTENEGRO/GAROTAS DE PROGRAMA
(FIGURANTES)/CAPANGAS DE MONTENEGRO.
CENA 01. CAMPO BONITO.
CACHOEIRA. EXT. TARDE.
CONTINUAÇÃO DA CENA 16 DO CAPÍTULO
ANTERIOR. SOPHIA E MIGUEL CONTINUAM SE BEIJANDO. SOPHIA SE AFASTA.
SOPHIA — Eu não devia ter feito isso.
MIGUEL — Eu também quis, Sophia.
SOPHIA — Não, Miguel, nós não podemos
mais fazer isso. Nós somos apenas grandes amigos.
MIGUEL — Sophia, eu não quero ser apenas
o seu amigo.
SOPHIA — Isso pode acabar com a nossa
amizade.
MIGUEL — Não, ao contrário, isso só irá
fortalecer mais o que sentimos um pelo outro. Eu estou esperando há muito tempo
por esse beijo. Eu fui perceber que o nosso amor não era fraternal quando eu
tinha quinze anos. Nós apenas trocávamos correspondências, mas eu estava
apaixonado por você. Sophia, eu sonhei com esse momento.
SOPHIA — Eu estou confusa.
MIGUEL — (OLHA SOPHIA COM AFETO) É
normal que esteja se sentindo assim, mas eu posso sentir que você também
queria. Eu posso sentir que você também quer viver esse amor.
SOPHIA FICA OLHANDO PARA MIGUEL. DÁ UM
SORRISO. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
SOPHIA — Esse momento não poderia ter
ocorrido em outro lugar.
MIGUEL — Não, não poderia... Eu te
trouxe pra cá porque eu estava sentindo isso. Nós temos é que aproveitar cada
instante.
SOPHIA — Eu ainda não consigo acreditar
que isso está ocorrendo.
MIGUEL — Não precisa acreditar, basta
apenas viver e se deixar levar pela emoção. (SE APROXIMA DE SOPHIA. A PEGA PELA
CINTURA. A OLHA FIXAMENTE) Senti tanto a sua falta durante todos esses anos.
SOPHIA — Eu também. Quando nos
falávamos por cartas, não era o suficiente. Eu precisava te ver novamente, te
tocar, ouvir sua voz.
MIGUEL — Para mim também não era o
suficiente... Mas agora nós estamos juntos novamente. É como um sonho.
SOPHIA — Um sonho que eu não quero que
acabe.
MIGUEL E SOPHIA SE BEIJAM NOVAMENTE. SE
ABRAÇAM.
CORTA PARA:
CENA 02.
STOCK-SHOT. TAKES DE CAMPO BONITO.
SUCESSÃO DE IMAGENS DE CAMPO BONITO MOSTRANDO
TODAS AS BELEZAS DO LOCAL ATÉ CHEGARMOS À FRENTE DA CASA DE EVANDRO E CAROLINA.
CORTA IMEDIATO
PARA:
CENA 03.
CASA DE EVANDRO E CAROLINA. TERREIRO. EXT. TARDE.
CAROLINA ESTENDE A ROUPA NA CORDA. NÃO
PERCEBE QUANDO MIGUEL APARECE. MIGUEL OLHA PARA CAROLINA COM UM SORRISO NO
ROSTO. CAROLINA VIRA-SE. FICA SURPRESA AO VER MIGUEL.
CAROLINA — Filho...
MIGUEL — Mãe.
CAROLINA E MIGUEL SE ABRAÇAM FORTEMENTE.
CAROLINA — Meu filho, você voltou.
MIGUEL — Mas não voltei pra ficar.
CAROLINA — O que importa é que estou te vendo
novamente, meu anjo. Mas por que veio me visitar tão cedo?
MIGUEL — (SORRI) Acha muito cedo?
CAROLINA — Por mim, você voltaria pra ficar,
meu filho... Mas achei que você fosse vir me ver bem mais tarde.
MIGUEL — Eu estou aqui por um bom
motivo.
CAROLINA — E qual é esse motivo, meu filho?
Você está diferente, parece estar mais feliz. O que aconteceu lá em Curitiba?
MIGUEL — Eu estou mais feliz porque
estou vendo a minha mãezinha novamente... Mas o motivo da minha felicidade se
chama Sophia.
CAROLINA — (SORRI) Você reencontrou a Sophia?
MIGUEL — (SORRI) Ela está comigo aqui,
em Campo Bonito.
CAROLINA — Eu não acredito. Você está falando
sério, filho?
MIGUEL — Mas é claro que estou falando
sério, mãe... Só que ninguém pode saber disso.
CAROLINA — Tudo bem, meu filho, mas... Onde
está a Sophia?
MIGUEL — Ela está no carro.
CAROLINA — Eu quero ver ela.
MIGUEL — Só se a senhora for comigo até
o carro.
CAROLINA — Por que você não quer que ninguém
saiba que a Sophia está aqui?
MIGUEL — Porque não, mãe... E também não
fale nada pro pai sobre a minha vinda.
CAROLINA — Mas ele está com saudades de você.
MIGUEL — Mesmo assim, mãe... Eu não
quero que ele saiba.
CAROLINA — Já que você quer assim, filho... Eu
não vou te contrariar, mesmo achando que você está errado. Agora vamos ao
carro, eu quero ver a Sophia.
CAROLINA E MIGUEL CAMINHAM ATÉ O CARRO DE
MIGUEL.
CORTA PARA:
CENA 04.
CAMPO BONITO. JARDIM. EXT. TARDE.
SOPHIA VÊ MIGUEL SE APROXIMANDO COM
CAROLINA AO SEU LADO. DESCE DO CARRO. CAROLINA FICA EMOCIONADA AO VER SOPHIA.
CAROLINA — Meu Deus!
SOPHIA — Carolina.
CAROLINA E SOPHIA SE ABRAÇAM FORTEMENTE.
ACABAM NÃO CONTENDO AS LÁGRIMAS.
CAROLINA — Como você está enorme... Está linda!
SOPHIA — Eu senti tantas saudades de
você, Carolina, nem estou acreditando que estamos nos vendo novamente depois de
todos esses anos.
CAROLINA — Eu também não estou acreditando...
Você se tornou uma linda moça.
SOPHIA — (DÁ UM SORRISO) Obrigada,
Carolina!
CAROLINA — O seu avô iria ficar muito feliz te
ver assim.
SOPHIA — O meu avô... Eu sinto tanta
falta dele.
CAROLINA — Por que você não veio ao enterro
dele?
SOPHIA — A, Carolina, aconteceu tanta
coisa na minha vida... Eu não gosto nem de me lembrar disso... Eu soube da
morte do meu avô na noite em que minha mãe voltou pra Curitiba, após ter
vendido à fazenda.
CAROLINA — Então você ficou sabendo depois de
quase duas semanas?
SOPHIA — É... Eu sofri tanto, tanto.
CAROLINA — A sua mãe foi cruel em não ter deixado
você vir ao enterro do próprio avô.
SOPHIA — Essa não foi a única crueldade
que minha mãe cometeu... Eu tenho uma mágoa muito grande dela.
CAROLINA — Seus olhos trazem uma tristeza
mesmo.
SOPHIA — É, eu tenho uma tristeza muito
grande dentro de mim.
MIGUEL — (SORRI) Essa tristeza irá ser
substituída por felicidade.
SOPHIA — (SORRI) Com você ao meu lado,
eu não duvido disso.
CAROLINA PERCEBE UM CLIMA ENTRE OS DOIS,
MAS PREFERE NÃO TOCAR NO ASSUNTO.
CAROLINA — Onde vocês vão dormir essa noite?
MIGUEL — Abriu um pequeno hotel-fazenda
aqui perto, eu já fiquei sabendo.
CAROLINA — Mas deve ser caro, filho... Por que
vocês não ficam aqui em casa?
MIGUEL — Não, mãe.
SOPHIA — Por que não, Miguel?
MIGUEL — O meu pai não iria gostar,
Sophia... Ele nunca me apoiou quando eu dizia que iria te reencontrar.
CAROLINA — O seu pai mudou, Miguel.
MIGUEL — Não, mãe, ele não mudou... Ele
nunca ficou ao meu lado, ele nunca acreditou nos meus sonhos.
CAROLINA — (TRISTE) Já que você prefere
assim...
SOPHIA — Nós temos que ir, Miguel.
CAROLINA — Onde vocês vão?
MIGUEL — Nós vamos na fazenda.
CAROLINA — Na fazenda do Mister... Nem sei como
se diz direito o nome dele.
SOPHIA — Sim, nós vamos lá, Carolina.
CAROLINA — Mas como vocês vão entrar lá?
MIGUEL — Nós não vamos entrar na
fazenda... Apenas iremos ficar olhando de longe.
SOPHIA — Eu sinto falta daquela
fazenda. Nem que seja pra ficar apenas olhando de longe, mas eu preciso ir lá.
CAROLINA — Vão com Deus!
MIGUEL — Adeus, mãe!
CAROLINA — Adeus, meu filho! (ELES SE ABRAÇAM
FORTEMENTE) Quando você volta?
MIGUEL — Eu não seio quando irei voltar,
mas espero que não demore muito.
SOPHIA — Adeus, Carolina! Foi muito bom
te rever.
CAROLINA — Adeus, Sophia!
CAROLINA E SOPHIA SE ABRAÇAM.
SOPHIA — Vou ficar com saudades.
CAROLINA — Eu também, menina. Que Deus sempre
guie seus passos e que Ele sempre te ilumine.
SOPHIA — (SORRI) Amém.
MIGUEL ABRE A PORTA E SOPHIA ENTRA NO
AUTOMÓVEL. MIGUEL OLHA PARA CAROLINA.
CAROLINA — Vá com Deus, meu filho!
MIGUEL — Que Ele sempre esteja com a
senhora, minha mãe... Eu te amo!
CAROLINA — Eu também te amo, meu filho... E
espero que você realize todos os seus sonhos.
MIGUEL — Eu vou realizar... E vou
realizar pela senhora e pela Sophia... As duas mulheres da minha vida.
CAROLINA ACABA NÃO CONTENDO AS LÁGRIMAS.
DÁ UM SORRISO. MIGUEL ENTRA NO CARRO. LIGA O MOTOR E DÁ A PARTIDA.
CAROLINA — Que Deus te acompanhe, meu anjo.
CAROLINA OS OBSERVA PARTIR POR ALGUNS
INSTANTES. ACENA PARA O CARRO DE MIGUEL, QUE JÁ ESTÁ UM POUCO LONGE.
CORTA PARA:
CENA 05.
FAZENDA DE MR. SMITH. GRAMADO. EXT. TARDE.
SOPHIA E MIGUEL SE APROXIMAM DA CERCA QUE
SEPARA A FAZENDA DO GRANDE GRAMADO. SOPHIA FICA ADMIRADA COM AS MUDANÇAS QUE
HAVIAM OCORRIDO. SE EMOCIONA AO LEMBRAR DO AVÔ, AS FLORES DO JARDIM, OS BONS
MOMENTOS COM MIGUEL QUANDO ERA CRIANÇA, OS FINAIS DE SEMANA QUE PASSOU NO
CASARÃO E ACABA LEMBRANDO DO PAI TAMBÉM.
SOPHIA — Está tudo tão diferente, mas
na minha mente nada parece ter mudado. Eu me lembro de tudo como se fosse
hoje. Sempre que eu chegava com os meus
pais, o meu avô estava na varanda... Ele sempre abria os braços e me chamava de
“minha neta querida”... Ele amava essa fazenda... Ele amava poder ter eu e meu
pai ao lado dele nos finais de semana... O meu pai... Eu amava tanto o meu
pai... Ele faz tanta falta, assim como o meu avô também faz.
MIGUEL TAMBÉM SE EMOCIONA. ABRAÇA SOPHIA.
MIGUEL — Eu também sinto falta do Seu
Ângelo.
SOPHIA — Eu queria tanto poder entrar
no casarão novamente.
MIGUEL — Eu sinto muito, mas não
podemos.
SOPHIA — Se tivéssemos uma
oportunidade...
MIGUEL — Eu sinto muito, meu amor!
SOPHIA ABRAÇA FORTEMENTE MIGUEL. FICA
OLHANDO PARA A FAZENDA.
CORTA PARA:
CENA 06.
STOCK-SHOT.
ANOITECE.
CENA 07.
HOTEL-FAZENDA. QUARTO. INT. NOITE.
MIGUEL E SOPHIA ENTRAM NO QUARTO DO
HOTEL-FAZENDA. PÕEM SUAS MOCHILAS EM CIMA DE DUAS POLTRONAS. MIGUEL E SOPHIA SE
OLHAM. RIEM.
MIGUEL — Hoje foi um dia cheio de
emoções, nada mais do que descansarmos um pouco.
SOPHIA — Nós vamos dormir na mesma
cama?
MIGUEL — (SORRI) É claro, Sophia.
SOPHIA — Não é uma boa ideia.
MIGUEL — Por quê? Nós somos um casal de
namorados agora.
SOPHIA — Você não está me entendendo,
Miguel.
MIGUEL — Sophia, pode ficar tranqüila,
eu não vou fazer nada que você não queira.
SOPHIA — Eu fico mais aliviada.
MIGUEL — Você devia confiar em mim até
mesmo nesse sentido.
SOPHIA — Eu confio em você.
MIGUEL — Eu sei disso, mas você parecia
receosa... Eu jamais te forçaria a fazer algo que você não quisesse.
SOPHIA — Você é homem, Miguel.
MIGUEL — E só porque eu sou homem, acha
que eu iria tentar algo? Eu não sou como alguns homens, porque nem todos agem
dessa forma. (SOPHIA DÁ UM LEVE SORRISO) Vai tomar banho primeiro?
SOPHIA — Sim.
MIGUEL — A recepcionista me falou que
tem toalha no banheiro.
SOPHIA — Está bem.
SOPHIA RETIRA-SE. VAI TOMAR BANHO. DEPOIS
DE ALGUNS MINUTOS, ELA VOLTA. MIGUEL FICA OLHANDO PARA SOPHIA.
SOPHIA — (SORRI) Por que está me
olhando assim?
MIGUEL — Eu achei que você não fosse
mais sair de dentro daquele banheiro... Vocês mulheres, são muito demoradas no
banho.
SOPHIA — Isso é normal.
MIGUEL — Normal pra você que é mulher...
Eu acho que nós, homens, nunca iremos entender isso.
SOPHIA — (CONCORDA. SORRI) Eu tenho
certeza que não.
MIGUEL — Vou tomar banho agora.
MIGUEL RETIRA-SE. ENTRA NO BANHEIRO. APÓS
ALGUNS MINUTOS ELE VOLTA VESTINDO APENAS UMA BERMUDA, SEM CAMISETA. SOPHIA OLHA
PARA MIGUEL UM POUCO TÍMIDA. MIGUEL PERCEBE.
MIGUEL — O que foi, Sophia?
SOPHIA — Nada.
MIGUEL DEITA-SE AO LADO DE SOPHIA. OLHA PARA
A MOÇA.
MIGUEL — Você está muito estranha,
Sophia.
SOPHIA — Eu não estou estranha.
MIGUEL — Já seu porque você está assim.
SOPHIA — Sabe?
MIGUEL — Você nunca deitou com um
homem... Deve estar sendo estranho mesmo.
SOPHIA — Na verdade... Não é estranho...
Porque eu não estou deitada ao lado de qualquer homem, eu estou deitada ao lado
do homem que eu amo... Essa é a diferença.
MIGUEL SORRI. TOCA O ROSTO DE SOPHIA.
MIGUEL — E eu estou deitado ao lado da
mulher que eu amo e que vou amar pelo resto da minha vida.
MIGUEL E SOPHIA SE BEIJAM. MIGUEL COMEÇA A
BEIJAR O PESCOÇO DE SOPHIA. SOPHIA SE AFASTA UM POUCO.
MIGUEL — O que houve, Sophia?
SOPHIA — Acho melhor dormirmos agora...
Eu estou muito cansada.
MIGUEL — Está bem. (ELE BEIJA SOPHIA
NOVAMENTE E APAGA O ABAJUR) Boa noite!
SOPHIA — Boa noite, Miguel!
SOPHIA VIRA-SE PARA O LADO. ADORMECE.
CORTA PARA:
1° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 08.
STOCK-SHOT.
AMANHECE.
CENA 09.
HOTEL-FAZENDA. QUARTO. INT. DIA.
O SOL DESPONTA SOBRE A FRESTA DA JANELA DO
QUARTO ONDE MIGUEL E SOPHIA ESTÃO. OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL ILUMINAM O ROSTO
DE MIGUEL, QUE ACORDA. OLHA PARA O LADO E VÊ SOPHIA DORMINDO FEITO UMA
PRINCESA. MIGUEL SAI. PEGA A BANDEJA DE CAFÉ-DA-MANHÃ QUE ESTAVA NUM CARRINHO
NA PORTA DO QUARTO. COME UM PEDAÇO DE PÃO. VOLTA E DÁ UM BEIJO NA MOÇA QUE ABRE
OS OLHOS. OLHA PARA MIGUEL.
MIGUEL — Bom dia!
SOPHIA — (SORRI) Bom dia!
MIGUEL — Eu trouxe café na cama pra
você.
SOPHIA — Eu não estou acreditando. Você
é amor, sabia?
MIGUEL — Eu sei disso. Eu sou um amor de
pessoa, eu sou tudo de bom.
SOPHIA — E além de tudo, é convencido.
MIGUEL — Eu não sou convencido.
SOPHIA — Você é convencido, sim. E não
adianta teimar comigo, eu sempre tenho a razão.
MIGUEL — Você sempre quis ter a razão,
Sophia, desde que você era aquela pirralha.
SOPHIA — Eu era uma pirralha?
MIGUEL — Sim, você era uma pirralha... E
continua sendo.
SOPHIA — Eu não admito que você fale
comigo desse jeito.
MIGUEL — E ficava bravinha por qualquer
motivo.
SOPHIA — Você é muito provocativo
mesmo, Miguel.
MIGUEL — Eu amo te provocar, eu amo te
ver irritada, eu amo colocar um sorriso nesse teu rosto lindo.
MIGUEL BEIJA SOPHIA. FICA A OLHANDO.
SOPHIA — Você é tão lindo, sabia?
MIGUEL — Eu também sei disso. (OS DOIS
RIEM. CONTINUA) A verdade é que eu não me acho nem um pouco bonito.
SOPHIA — Mas é... Você é muito bonito.
MIGUEL — Quando se está apaixonado, o pior
diabo pode lhe parecer um deus.
SOPHIA E MIGUEL RIEM NOVAMENTE.
SOPHIA — Eu não estou apaixonada por
você... Eu amo você.
MIGUEL — Eu também te amo, pirralha!
SOPHIA — Pare de me chamar de pirralha!
MIGUEL — (DÁ UM SORRISO PROVOCATIVO)
Está bem, eu vou parar antes que você fique irritada.
SOPHIA — Já estou vendo que você vai
tirar o dia pra ficar me incomodando.
MIGUEL — É a minha especialidade.
SOPHIA DÁ UM SORRISO. BALANÇA A CABEÇA
NEGATIVAMENTE. PEGA UM PEDAÇO DO PÃO. DÁ UMA MORDIDA.
SOPHIA — Hum... Esse pão está muito
bom!
MIGUEL — Eu já experimentei e está
mesmo.
MIGUEL FICA OLHANDO PARA SOPHIA. DÁ UM
SORRISO.
CORTA PARA:
CENA 10.
STOCK-SHOT.
TARDE.
CENA 11.
CAMPO BONITO. CAMPO. EXT. TARDE.
MIGUEL E SOPHIA ANDAM PELO CAMPO.
DEITAM-SE NO GRAMADO.
SOPHIA — É um sonho estar aqui em Campo
Bonito novamente.
MIGUEL — Eu sonho que poderia durar pra
sempre.
SOPHIA — É, poderia sim.
MIGUEL — E pode.
SOPHIA — Como assim, Miguel?
MIGUEL — Nós podemos ficar aqui pra
sempre.
SOPHIA — Eu não estou te entendendo.
MIGUEL — Podemos vir morar aqui e nunca
mais voltarmos pra Curitiba.
SOPHIA — (SORRI) Você está louco,
Miguel?
MIGUEL — Eu estou falando sério... Tão
sério quanto nunca falei em toda minha vida.
SOPHIA — Eu não cometeria essa loucura.
MIGUEL — Só assim você irá se livrar de
sua mãe... Só assim poderemos ser felizes.
SOPHIA — Você desistiria de seus sonhos
por mim?
MIGUEL — Desistiria... (A OLHA COM
AFETO) Eu desistiria de tudo só por você, Sophia.
SOPHIA — Nós não podemos fazer isso...
Eu não posso abandonar a minha mãe.
MIGUEL — Uma mãe que não te ama.
SOPHIA — Ela iria atrás de mim em
qualquer lugar... Ela iria atrás da Cecília e isso causaria muitos problemas à
minha amiga.
MIGUEL — E a sua felicidade, Sophia?
SOPHIA — A minha felicidade está ao seu
lado, Miguel... Mas não aqui, em Campo Bonito... Eu sinto muito ter que te
dizer isso e até mesmo admitir. É algo que dói muito em mim.
MIGUEL LEVANTA-SE TRISTE. SOPHIA TAMBÉM
LEVANTA-SE. FICA OLHANDO PARA MIGUEL.
MIGUEL — Nós nunca seremos felizes em
Curitiba.
SOPHIA — Miguel, você está se
esquecendo de seus sonhos... Em Curitiba, você irá conseguir se tornar um
grande artista. Vai aparecer alguém que se interesse pelo seu talento e te dê
oportunidade. Você sempre diz que eu não posso perder a esperança, se lembra?
MIGUEL VIRA-SE. FICA OLHANDO PARA SOPHIA.
ELA DÁ UM LEVE SORRISO. MIGUEL E SOPHIA SE ABRAÇA FORTEMENTE E FICAM ASSIM POR
ALGUNS INSTANTES.
MIGUEL — Eu te amo, Sophia!
SOPHIA — Eu também te amo, Miguel!
MIGUEL E SOPHIA SE OLHAM FIXAMENTE.
BEIJAM-SE. VALORIZAR O MOMENTO DOS DOIS.
CORTA PARA:
CENA 12.
STOCK-SHOTS. TAKES DE CAMPO BONITO.
FINAL DE TARDE.
CENA 13.
FAZENDA DE MR. SMITH. GRAMADO. EXT. FINAL DE TARDE.
SOPHIA E MIGUEL ESTÃO NOVAMENTE EM FRENTE
À FAZENDA. SOPHIA OLHA PELA ÚLTIMA VEZ.
SOPHIA — Vou sentir tanta falta.
MIGUEL — Nós temos que ir embora agora.
SOPHIA — Infelizmente.
MIGUEL — Todas as lembranças boas irão
ficar em seu coração.
SOPHIA — Eu queria tanto poder reviver
essas lembranças;
MIGUEL — Nós vamos reviver tudo isso
algum dia... Mas de forma diferente.
SOPHIA — É tudo o que eu mais desejo.
MIGUEL PEGA A MÃO DE SOPHIA. SOPHIA O
ACOMPANHA. OS DOIS SE DISTANCIAM. DEIXAM A FAZENDA E AS LEMBRANÇAS PARA TRÁS.
CORTA PARA:
2° INTERVALO
PARA COMERCIAIS
CENA 14.
STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
INSERIR
LEGENDA: Curitiba.
CENA 15. AP
DE GABRIELA E SOPHIA. SALA. INT. NOITE.
GABRIELA ESTÁ NA SALA TOMANDO UM UÍSQUE.
ESPERA POR SOPHIA. OLHA A HORA. ESTÁ IRRITADA. SOPHIA ENTRA. GABRIELA A OLHA
SERIAMENTE.
GABRIELA — (IRRTADA) Você já sabe que horas
são?
SOPHIA — Já são quase 23h... Por quê?
GABRIELA — Porque você chegou tarde demais em
casa.
SOPHIA — Achei que você não se
preocupasse comigo.
GABRIELA — E não me preocupo mesmo... Você sabe
muito bem disso. Só não quero mais que você chegue a esse horário em casa.
(SOPHIA RETIRA-SE. GABRIELA CONTINUA) Ontem, eu fui na casa de sua amiga.
(SOPHIA PARECE TER LEVADO UM CHOQUE. VOLTA. FICA OLHANDO PARA GABRIELA) A mãe
de Cecília disse que vocês tinham saído... Ela te avisou que eu havia ido lá?
SOPHIA — (MENTE) Sim, claro.
GABRIELA — E como foi seu final de semana?...
Garanto que não queria voltar ao inferno.
SOPHIA — E não queria mesmo... Foi um
dos meus melhores finais de semana.
GABRIELA — Comparado aos que você vivia na
fazenda de seu avô?
SOPHIA — Digamos que sim...
Inesquecível!
GABRIELA — (APROXIMA-SE DE SOPHIA) Você está
diferente... Está corada.
SOPHIA — Nem percebi.
GABRIELA — É que você se faz de idiota, Sophia.
Mas eu não me faço... Aliás, eu não sou idiota... E, por incrível que pareça,
tem algo me incomodando.
SOPHIA — O que está te incomodando?
GABRIELA — Eu estou desconfiada... Tem algo
desconhecido atazanando a minha mente.
SOPHIA — Você deve estar acompanhada
por algum tipo de entidade.
GABRIELA — Eu não acredito nessas coisas,
Sophia... Eu acredito na intuição de uma mulher esperta.
SOPHIA RETIRA-SE. GABRIELA VAI ATRÁS DELA.
CORTA IMEDIATO
PARA:
CENA 16. AP
DE GABRIELA E SOPHIA. CORREDOR. INT. NOITE.
GABRIELA SEGURA O BRAÇO DE SOPHIA QUE TENTA
SE SOLTAR.
SOPHIA — Me solte!
GABRIELA — Se você estiver aprontando algo, eu
vou descobrir... Você sabe o quanto eu sou esperta.
SOPHIA OLHA SERIAMENTE PARA GABRIELA.
VIRA-SE. ABRE A PORTA DO QUARTO E ENTRA.
CORTA IMEDIATO
PARA:
CENA 17. AP
DE GABRIELA E SOPHIA. QUARTO DE SOPHIA. INT. NOITE.
SOPHIA TRANCA A PORTA DO QUARTO. VIRA-SE.
ENCOSTA-SE NA PORTA. ABRE UM SORRISO. PENSA EM MIGUEL.
FLASHBACK
MIGUEL —
Você nunca deitou com um homem... Deve estar sendo estranho mesmo.
SOPHIA —
Na verdade... Não é estranho... Porque eu não estou deitada ao lado de qualquer
homem, eu estou deitada ao lado do homem que eu amo... Essa é a diferença.
MIGUEL
SORRI. TOCA O ROSTO DE SOPHIA.
MIGUEL —
E eu estou deitado ao lado da mulher que eu amo e que vou amar pelo resto da
minha vida.
MIGUEL
E SOPHIA SE BEIJAM. MIGUEL COMEÇA A BEIJAR O PESCOÇO DE SOPHIA...
VOLTAMOS PARA SOPHIA QUE JÁ ESTÁ DEITADA
EM SUA CAMA. DELIRA.
CORTA PARA:
CENA 18.
ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. NOITE.
MIGUEL ENTRA NO QUARTO FELIZ. JOGA A
MOCHILA NUMA POLTRONA. ATIRA-SE NA CAMA. DÁ UM SORRISO AO PENSAR EM SOPHIA.
FLASHBACK
SOPHIA — (TOCA O ROSTO DE MIGUEL) Eu
jamais deixei de te amar, jamais.
MIGUEL — (ALISA OS CABELOS DE SOPHIA) Eu
também nunca deixei de te amar, nunca.
SOPHIA
E MIGUEL NÃO SE CONTÉM. SE BEIJAM PELA PRIMEIRA VEZ...
VOLTAMOS PARA MIGUEL. MIGUEL ADORMECE APÓS
FICAR ALGUNS MINUTOS PENSANDO NA GAROTA.
CORTA PARA:
CENA 19.
STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
AMANHECE.
CENA 20.
ESCOLA. PÁTIO. INT. DIA.
CECÍLIA ESTÁ PARADA. ESPERA DAR À HORA DA
AULA. SOPHIA CHEGA. CECÍLIA A VÊ. DÁ UM SORRISO.
CECÍLIA — (ANSIOSA) Eu quero saber de
tudo, de todos os detalhes...
SOPHIA — Meu Deus! Eu mal cheguei e
você já vem me fazendo perguntas... Você devia me cumprimentar primeiro.
CECÍLIA — Eu estou muito ansiosa para
saber de tudo, ou seja, dispendo cumprimentos. Agora me fale!
SOPHIA — Foi maravilhoso!
CECÍLIA — Vocês...
SOPHIA — Não, Cecília... Não é nada
disso que você está pensando.
CECÍLIA — Está bem... Continue.
SOPHIA E CECÍLIA SENTAM-SE EM UM BANCO.
SOPHIA — (SORRI) Foi inesquecível! Esse
foi um dos meus finais de semana mais lindos, o mais emocionante também... Eu
revi a fazenda que foi do meu avô, os momentos bons que passei naquele lugar
vieram em rápidos flashes, mas foi algo incrível. Eu nem sei como definir essa
mistura de sentimentos e lembranças.
CECÍLIA — Você deve ter ficado muito
emocionada, deve ter sofrido também um pouco.
SOPHIA — É, eu sofri um pouco... Eu
queria entrar no casarão novamente, mas como reside lá um novo proprietário,
foi algo impossível.
CECÍLIA — (SORRI) Agora eu quero saber
como foram as coisas em relação a você e Miguel... É o que estou mais ansiosa para
saber.
SOPHIA — Nós estamos juntos.
CECÍLIA — Juntos? Quer dizer que...
SOPHIA — Nós nos beijamos... Foi o meu
primeiro beijo.
CECÍLIA — O seu primeiro beijo? Como
assim, Sophia?
SOPHIA — Foi o meu primeiro beijo,
Cecília.
CECÍLIA — Você jamais me falou que nunca
tinha beijado... E aqueles garotos que viviam correndo atrás de você?
SOPHIA — Nunca dei chance a nenhum
deles.
CECÍLIA — Eu não estou acreditando nisso.
SOPHIA — Mas é claro que você não
acredita nisso... O seu primeiro beijo foi aos 12 anos.
CECÍLIA — Ah, Sophia, eu não perco
tempo quando o negócio é garoto.
UM RAPAZ PASSA NESSE MOMENTO. FICA OLHANDO
PARA SOPHIA E CECÍLIA.
SOPHIA — Ele ouviu o que você falou.
CECÍLIA — Eu não me importo... Agora me
responde: o que você sentiu?
SOPHIA — Eu não sei como te explicar
direito. Foi algo diferente... É como se alguma coisa boa em minha vida tivesse
que acontecer e está acontecendo.
CECÍLIA — (SORRI) E é algo muito bom...
Bom até demais.
SOPHIA TAMBÉM DÁ UM SORRISO. BALANÇA A
CABEÇA NEGATIVAMENTE.
SOPHIA — Eu não sei como te explicar,
Cecília... Só sei que foi lindo.
CECÍLIA — E onde vocês dormiram?
SOPHIA — Em um quarto num hotel-fazenda.
CECÍLIA — Na mesma cama?
SOPHIA — É claro, Cecília... Mas não
aconteceu nada de mais. E também, eu não estava preparada... A virgindade para
mim é algo muito importante. Só se deve ser perdida quando se está realmente
preparada e sabendo o que está realmente fazendo. (CECÍLIA FICA QUIETA) O que
houve, Cecília?
CECÍLIA — Nada... Você aí, falando de
virgindade.
SOPHIA — Eu já sei porque você ficou
quieta.
CECÍLIA — Se sabe, é melhor não comentar.
SOPHIA — Está bem.
CECÍLIA — Então você e o Miguel estão
juntos?
SOPHIA — Estamos... Eu estou tão feliz.
Parece que uma luz de esperança se abriu novamente.
CECÍLIA — E eu fico feliz por você, minha
amiga.
CECÍLIA E SOPHIA SE ABRAÇAM FORTEMENTE.
SOPHIA — Obrigada, Cecília!
CECÍLIA — Por qual motivo está me
agradecendo?
SOPHIA — Você ajudou o Miguel a me
proporcionar esse momento, esse final de semana que foi tão especial, tão
significativo.
CECÍLIA — Eu faço tudo pra te ver feliz,
Sophia... Sou capaz de usar os métodos mais loucos para isso.
SOPHIA — Eu já percebi isso. (ELAS SE
ABRAÇAM NOVAMENTE) Você é uma grande amiga.
CECÍLIA — Você também, Sophia, é uma
grande amiga... Eu te adoro muito.
SOPHIA — Eu também te adoro.
SOPHIA E CECÍLIA FICAM SE OLHANDO. SORRIEM
UMA PARA A OUTRA. EM “SOPHIA” SORRINDO.
3º INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 21.
STOCK-SHOT. CURITIBA.
TAKES DA CIDADE DE CURITIBA ATÉ CHEGARMOS À FRENTE DO
ALBERGUE ONDE GUSTAVO E JULIANA ESTÃO HOSPEDADOS.
CORTA PARA:
CENA 22.
ALBERGUE. QUARTO DE JULIANA E GUSTAVO. INT. DIA.
GUSTAVO ENTRA NO QUARTO.
JULIANA LEVANTA-SE RAPIDAMENTE.
GUSTAVO — Já consegui as nossas passagens pra
São Paulo.
JULIANA — Com que dinheiro?
GUSTAVO — Isso não interessa.
JULIANA — E como vamos nos sustentar lá?
GUSTAVO — Juliana, você está querendo “dar
pra trás”?
JULIANA — Não, Gustavo, não é isso.
GUSTAVO — Mas é o que tá parecendo... Você
está muito estranha, Juliana, e eu não estou gostando disso.
JULIANA — Eu estou pensando em nós dois...
Será que você não entende?... Eu não quero passar fome.
GUSTAVO — Pelos nossos objetivos, eu passo
até fome.
JULIANA — Eu nunca passei fome na minha
vida.
GUSTAVO — Mesmo vivendo naquele fim de mundo?
JULIANA — Nunca.
GUSTAVO — Então volte pra lá.
JULIANA — Você sabe muito bem que eu não
vou voltar pra lá.
GUSTAVO — (A OLHA SERIAMENTE) Então trate de
se preocupar com os nossos objetivos... Entendeu, Juliana?
JULIANA — Está bem, Gustavo.
GUSTAVO — Acho bom mesmo... Nós vamos essa
semana pra São Paulo.
JULIANA APENAS BALANÇA A
CABEÇA POSITIVAMENTE. FICA QUIETA.
CORTA
PARA:
CENA 23. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
INICIO DE TARDE.
CENA 24. ESCOLA. ENTRADA. EXT. HORA DA SAÍDA.
O SINAL TOCA ANUNCIANDO O
FIM DA AULA. OS PORTÕES SÃO ABERTOS PARA A SAÍDA DOS ALUNOS. SOPHIA SAI. DÁ UM
SORRISO AO VER MIGUEL A ESPERANDO. ALGUMAS COLEGAS FICAM OLHANDO. SOPHIA CORRE
PARA OS BRAÇOS DE MIGUEL. O ABRAÇA FORTE.
MIGUEL — Isso tudo é saudade?
SOPHIA — É... Muita saudade.
MIGUEL E SOPHIA SE
BEIJAM. AS COLEGAS FICAM OBSERVANDO. CECÍLIA APARECE. FICA OLHANDO PARA AS
MENINAS.
CECÍLIA — Nunca viram um casal aos
beijos?
REGINA — Quem é aquele, Cecília?
CECÍLIA — Cuide de sua vida... Aliás... É
o que todas deviam fazer, não acham?
AS GAROTAS ENCARAM
CECÍLIA. RETIRAM-SE. MIGUEL PEGA SOPHIA PELA CINTURA. A OLHA COM AFETO.
MIGUEL — Eu não sei se vou suportar
ficar longe de você por muito tempo.
SOPHIA — Mas nós não vamos mais ficar
longe um do outro.
MIGUEL — Estou querendo dizer que não
queria sair de perto de você por nem mesmo um minuto.
SOPHIA — Mas isso é impossível...
Infelizmente.
MIGUEL — Mas vai chegar um dia que isso
não será mais impossível. Vai chegar um dia em que iremos ficar juntos.
SOPHIA — Que esse dia não demore.
MIGUEL — Não vai demorar... O tempo
passa muito rápido.
SOPHIA — Você está me fazendo muito
feliz, sabia?
MIGUEL — (SORRI) Eu sei disso... Eu sou
capaz de fazer qualquer uma feliz.
SOPHIA — (SORRI) Você é muito
convencido.
MIGUEL — Eu só estou falando a verdade.
SOPHIA — Não... Você não era desse
jeito. Você se tornou um homem muito convencido.
MIGUEL — Eu estava brincando com você...
Sophia, não leve as coisas tão a sério.
SOPHIA — (RI) Eu também estou brincando
com você, seu bobo! (MIGUEL FICA A ADMIRANDO) Por que está me olhando assim?
MIGUEL — Eu estava lembrando dos nossos
tempos de infância.
SOPHIA — Quando eu olho pra você,
também lembro daqueles tempos.
MIGUEL DÁ UM LEVE
SORRISO. BEIJA NOVAMENTE SOPHIA. UMA MULHER APARECE. BALANÇA A CABEÇA
NEGATIVAMENTE.
MARLENE — Sophia! (SOPHIA OLHA ESPANTADA)
Aqui na frente da escola, não é lugar para agarramentos com o namorado... Eu
achei que você soubesse disso, Sophia.
SOPHIA — Me desculpe, coordenadora.
MIGUEL — Eu também peço desculpas, minha
senhora.
MARLENE — Quantos anos você tem rapaz?
MIGUEL — (MENTE) Dezessete.
SOPHIA — Vamos embora, Miguel!
MARLENE — Antes de ir embora, Sophia... Quero
lhe dizer uma coisa.
SOPHIA — O quê?
MARLENE — Você é uma menina muito jovem...
Não tem idade pra namorar, muito menos pra se expor tanto, como estava aqui em
frente à escola em que você estuda.
SOPHIA — Eu admito que eu errei em ter
beijado o meu namorado aqui, na frente da escola... Mas eu não estava dentro
dela, o que significa que a senhora não tem o direito de dizer se eu tenho idade
pra namorar ou não.
MARLENE — Já que você pensa assim, Sophia.
SOPHIA — Com licença! Eu tenho que ir
embora.
SOPHIA RETIRA-SE. MIGUEL
A ACOMPANHA. MARLENE OS OBSERVA. OS DOIS AFASTAMS-SE MAIS UM POUCO.
MIGUEL — Não gostei nem um pouco dessa
mulher... Eu tive que mentir a minha idade pra não dar nenhum problema.
SOPHIA — Eu não a suporto nem um
pouco... Ela é uma velha rabugenta!
MIGUEL — Você não tem medo que ela se
comunique com sua mãe? E se ela fizer isso mesmo?
SOPHIA — Não, meu amor, pode ficar
tranqüilo... Ela não vai avisar nada pra minha mãe.
MIGUEL — Como você pode estar segura
disso?
SOPHIA — Se a minha mãe receber alguma
ligação da escola, ela vai desligar no mesmo momento... A minha mãe não quer
saber da minha escola, ela nunca se importou realmente com isso.
MIGUEL — Ah, fico mais aliviado.
SOPHIA DÁ UM SORRISO.
MIGUEL A PUXA E A ENCOSTA EM UMA ÁRVORE.
SOPHIA — O que é isso, Miguel?
MIGUEL — Eu quero um beijo.
SOPHIA — Já não ganhou?
MIGUEL — Não estou satisfeito.
MIGUEL BEIJA NOVAMENTE
SOPHIA QUE CORRESPONDE AO BEIJO.
CORTA
PARA:
CENA 25. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
MAIS TARDE.
CENA 26. ALBERGUE. RECEPÇÃO. INT. TARDE.
MIGUEL CHEGA AO ALBERGUE.
DEPARA-SE COM JULIANA.
MIGUEL — Você de novo, Juliana?
JULIANA — Miguel, eu preciso conversar com
você.
MIGUEL — Nós não temos nada pra
conversar, está entendido? Vá embora!
JULIANA — Por que você vive me desprezando?
MIGUEL — Porque você me dá todos os
motivos para que eu a despreze.
JULIANA — Eu juro que não vou fazer nada
que deixe você bravo.
MIGUEL — Eu já estou bravo só em te ver
na minha frente.
JULIANA — Você tem que me escutar,
Miguel... Por favor, me escute!
MIGUEL OLHA POR ALGUNS
SEGUNDOS PARA JULIANA.
MIGUEL — Vamos pro meu quarto, Juliana.
OS DOIS RETIRAM-SE PARA O
QUARTO.
CORTA
PARA:
CENA 27. ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. TARDE.
JULIANA ENTRA NO QUARTO.
MIGUEL ENTRA EM SEGUIDA. FECHA A PORTA.
MIGUEL — (CAMINHA EM DIREÇÃO À JULIANA)
Diga de uma vez: o que você quer falar comigo?
JULIANA — Eu vou partir pra São Paulo essa
semana.
MIGUEL — É? Que bom! Assim eu fico em
paz com a Sophia, sem que você esteja aqui para tentar atrapalhar o nosso
romance.
JULIANA — Romance? Vocês estão namorando?
MIGUEL — Mas é claro, Juliana... E
estamos muito felizes.
JULIANA — E você faz questão de “jogar”
isso na minha cara?
MIGUEL — Faço. Sabe por quê? Porque você
não deseja a minha felicidade, você quer me ver mal, mas não conseguiu e nem
vai conseguir. Já é tarde demais.
JULIANA — Eu nunca quis te ver mal.
MIGUEL — (IRÔNICO) Então eu estou
enganado?
JULIANA — Eu queria te ver feliz ao meu
lado.
MIGUEL — Só em seus sonhos... Agora que
você já me falou que vai partir pra São Paulo, já pode ir embora.
JULIANA — Eu vou sentir a sua falta.
MIGUEL — Já eu não vou sentir a sua
falta nem um pouco.
JULIANA — Eu já esperava que você me
dissesse isso mesmo.
MIGUEL — Que bom, Juliana! (DIRIGE-SE À
PORTA. ABRE) Agora vá embora, eu quero ficar sozinho.
JULIANA — Eu te amo, Miguel! Eu jamais vou
te tirar da cabeça. Eu espero que algum dia você reconheça o mal que me fez.
MIGUEL — Eu não te fiz mal nenhum,
Juliana, você é muito dissimulada mesmo... Vá embora, eu estou te pedindo.
JULIANA FICA OLHANDO PARA
MIGUEL POR ALGUNS SEGUNDOS. VAI EMBORA. MIGUEL BATE A PORTA. RESPIRA FUNDO.
PASSA AS MÃOS PELOS CABELOS. SOLTA O AR COM NERVOSISMO.
CORTA
PARA:
4°
INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 28. AP DE GABRIELA E SOPHIA. QUARTO DE SOPHIA. INT. TARDE.
SOPHIA OLHAS AS CARTAS
QUE HAVIA RECEBIDO DE MIGUEL. ELA RELÊ ALGUMAS. AS COLOCA DENTRO DE UMA CAIXA E
AS GUARDA NUM COMPORTIMENTO FALSO DO ROUPEIRO. SOPHIA ABRE A PORTA DO QUARTO E
SAI.
CORTA
PARA:
CENA 29. AP DE GABRIELA E SOPHIA. SALA. INT. TARDE.
SOPHIA CHEGA À SALA.
GABRIELA APARECE TONTA. FICA OLHANDO PARA SOPHIA.
GABRIELA — Já está em casa, garota?
SOPHIA — Você sabe muito bem que eu não
chego mais tarde.
GABRIELA — Por que não arranja um trabalho?
Assim você chegará mais tarde e eu não vou precisar olhar pra sua cara tão
cedo.
SOPHIA — Por que você nunca arranjou um
trabalho? Talvez sua vida não estivesse assim.
GABRIELA — O que você está querendo dizer,
garota?
SOPHIA — Que se talvez você tivesse
arranjado um trabalho, eu não iria precisar chegar da escola e acabar
presenciando essa cena lamentável que se repete desde os meus oito anos de
idade: ver você bêbada. Se você fosse uma pessoa diferente, nada disso estaria
acontecendo. Você tem uma considerável parcela de culpa em tudo isso.
GABRIELA — Vai começar a fazer o seu drama,
Sophia?
SOPHIA — Eu não estou fazendo drama.
GABRIELA — Você vive fazendo drama. Fique
sabendo que eu não me arrependo de nada. Eu nunca vou me arrepender do inferno
que eu fiz de sua vida.
SOPHIA — (COM OS OLHOS MAREJADOS) Você
não vai se arrepender, eu sei disso... Eu já tinha perdido a esperança de ver a
vida lhe dando o troco, mas essa esperança voltou. Eu ainda vou te ver
derrotada, pagando por tudo o que você me fez.
GABRIELA — E você, Sophia? O que será de você?
SOPHIA — Eu vou ser feliz.
GABRIELA DÁ UMA
GARGALHADA. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
GABRIELA — Eu achei que você já tivesse deixado
de acreditar na felicidade... Eu achei que aquela menina sonhadora tivesse
morrido e dado lugar a uma garota infeliz, cheia de rancor e magoas.
SOPHIA — Você me fez assim, mas eu
voltei a acreditar que eu vou ser feliz. Eu estou viva novamente.
GABRIELA — Tem certeza, Sophia? Eu não acredito
que você vai ser feliz. E também não desejo isso. Você vai se tornar uma pessoa
tão fria e tão cruel quanto eu... Porque a sua esperança terá morrido
novamente.
SOPHIA — (OLHA PARA GABRIELA COM RAIVA)
A minha esperança não irá morrer, ela está mais viva e mais perto do que você
imagina.
GABRIELA — Isso é o que nós veremos. Você vai
acabar caindo novamente, Sophia, e não vai demorar muito tempo. Você não será
feliz enquanto eu estiver viva.
SOPHIA — Se for assim...
GABRIELA — Se for assim, o quê? Está tentando
insinuar que pode acabar me matando? Não, Sophia, você não teria coragem. Você
só pode desejar a minha morte, apenas isso. (SOPHIA CONTINUA A OLHANDO COM
RAIVA. CONTINUA) Agora eu vou deitar... Ah, não tem comida... Se quiser, faça
você mesma.
GABRIELA RETIRA-SE. ENTRA
NO QUARTO. SOPHIA FICA PARADA POR ALGUNS INSTANTES. NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS.
CORTA
PARA:
CENA 30. ALBERGUE. RECEPÇÃO. INT. TARDE.
GUSTAVO APARECE NA
RECEPÇÃO DO ALBERGUE ONDE ESTÁ HOSPEDADO COM JULIANA. FICA OLHANDO A
RECEPCIONISTA.
GUSTAVO — Posso usar o telefone?
VERA — Sim, claro.
GUSTAVO PEGA O TELEFONE.
FICA OLHANDO PARA A RECEPCIONISTA.
GUSTAVO — Eu gostaria que a senhora me desse
licença... É uma ligação particular.
VERA — Ah, claro.
A RECEPCIONISTA PARECE
NÃO TER GOSTADO. RETIRA-SE. GUSTAVO TIRA O TELEFONE DO GANCHO. DISCA UM NÚMERO.
ESPERA ATENDEREM.
GUSTAVO — Alô!... É ele mesmo que está
falando... A garota e eu já estamos indo essa semana para São Paulo... Se ela é
isso, você verá com seus próprios olhos... Eu não vou ficar te dando detalhes
da “mercadoria” por telefone... Até!
GUSTAVO DESLIGA O
TELEFONE. FICA PENSATIVO.
CORTA
PARA:
CENA
31. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
INSERIR
LETREIRO: Três dias
depois…
CENA
32. ALBERGUE. QUARTO DE GUSTAVO E JULIANA. INT. DIA.
JULIANA AJEITA SUAS
ROUPAS NA MOCHILA. GUSTAVO APARECE. FICA PARADO NA PORTA. A OLHA.
JULIANA — Por que está parado? Já arrumou
as suas coisas? Não podemos perder esse ônibus.
GUSTAVO — Estou vendo que você já voltou ao
normal.
JULIANA — Como assim?
GUSTAVO — Que você não está “dando pra trás”
e não desistindo de nossos sonhos.
JULIANA — Eu jamais desistiria de nossos
sonhos, Gustavo, você sabe muito bem disso.
GUSTAVO — Eu confesso que já estava perdendo
a confiança, mas você provou que eu estava me enganando... São Paulo nos
aguarda.
JULIANA APROXIMA-SE DE
GUSTAVO. TOCA NO ROSTO DELE.
JULIANA — Eu nunca vou desistir.
GUSTAVO — Que bom!
GUSTAVO E JULIANA SE
BEIJAM E EM SEGUIDA ABRAÇAM-SE.
CORTA
PARA:
CENA 33. ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.
NO ALBERGUE ONDE MIGUEL
ESTÁ HOSPEDADO. MIGUEL ESTÁ EM SEU QUARTO. PARECE CONCENTRADO. PINTA UMA TELA
POR ALGUNS INSTANTES. FINALIZA A OBRA. FICA APRECIANDO POR ALGUNS SEGUNDOS. DÁ
UM LEVE SORRISO. VALORIZAR O ROSTO DE MIGUEL SORRINDO PARA A TELA QUE ACABARA
DE PINTAR.
CORTA
PARA:
5°
INTERVALO PARA COMERCIAIS
CENA 34. STOCK-SHOT. TAKES DE SÃO PAULO.
AMANHECE.
CENA 35. RUAS DE SÃO PAULO. EXT. DIA.
JULIANA E GUSTAVO
CAMINHAM POR UMA RUA ESTRANHA QUE NÃO TEM SAÍDA. JULIANA ESTRANHA.
JULIANA — Pra onde estamos indo, Gustavo?
Achei que fôssemos conhecer um pouco a cidade... Eu estou encantada com tudo
isso.
GUSTAVO — Nós estamos indo pro albergue onde
iremos ficar.
JULIANA — E precisava ser nessa rua tão
estranha?
GUSTAVO — Não encontrei outro endereço,
Juliana.
JULIANA — Não encontrou ou não estava com
vontade?
GUSTAVO PERDE A
PACIÊNCIA. PARA. A PEGA PELO BRAÇO.
GUSTAVO — (GRITA REVOLTADO) Pare de encher o
meu saco!
JULIANA — O que é isso, Gustavo? Pra que
gritar comigo? Você está me machucando. Solte o meu braço!
GUSTAVO — Você está reclamando muito pro meu
gosto.
JULIANA — Eu só estou achando tudo isso
meio estranho, aliás, você está estranho.
GUSTAVO — E como você queria que eu
estivesse, sendo que você não para de reclamar, Juliana? Cale a boca!
JULIANA FICA ESPANTADA.
OLHA PARA GUSTAVO.
JULIANA — Eu não admito que você grite
comigo e mande eu calar a boca... O que você está pensando, Gustavo? (GUSTAVO
FICA MAIS REVOLTADO. A LEVA PELO BRAÇO. JULIANA GRITA) Me solte!
GUSTAVO ABRE UM PORTÃO.
ENTRA SEGURANDO JULIANA PELO BRAÇO. ABRE UMA PORTA E A EMPURRA PARA DENTRO DA
CASA.
FUSÃO
PARA:
CENA 36. PROSTÍBULO. SALA. INT. DIA.
JULIANA CAI NO CHÃO.
GUSTAVO ENTRA. UM HOMEM APARECE SORRINDO.
MONTENEGRO — Ora, ora! O Gustavinho trouxe a nossa
convidada.
JULIANA — (SEM ENTENDER NADA) O que é isso?
MONTENEGRO — É o seu novo lar, meu bem!
JULIANA — Gustavo, quem é esse homem? O que
está acontecendo aqui?
GUSTAVO — (NERVOSO) Aqui é onde você vai
morar e trabalhar.
JULIANA — Como assim? Mas o que eu vou
fazer aqui? Isso não estava em nossos planos, você não me avisou nada.
GUSTAVO — (OLHA SERIAMENTE PARA JULIANA.
GRITA) Não tem planos, não tem sonhos, não tem mais nada!
NESTE MESMO INSTANTE
APARECE UM OUTRO HOMEM ACOMPANHADO POR DUAS GAROTAS. SE VESTEM COM ROUPAS MUITO
CURTAS: DECOTE EXAGERADO E PERNAS À MOSTRA. JULIANA OS OLHA COM NERVOSISMO.
ESPANTADA.
MONTENEGRO — Você está muito nervosa, garota... Nem
deixou eu me apresentar direito. Meu nome é Osvaldo Montenegro, mas pode me
chamar apenas pelo sobrenome mesmo, não gosto nem um pouco do meu nome.
JULIANA — (GRITA) Você pode me explicar o
que está acontecendo, Gustavo?
MONTENEGRO — Deixa que eu falo, Gustavo! (PIGARREIA) O
Gustavo te trouxe aqui pra trabalhar no meu ramo. Essas lindas garotas aqui são
as minhas “modelos”... Lindas elas, não?... Esse modelito provocante que elas
estão vestindo é o “uniforme” que você irá usar durante o seu... O seu serviço.
JULIANA — Eu jamais usaria uma roupa assim.
MONTENEGRO — Mas vai usar, nem que para isso eu precise
lhe forçar!
JULIANA — Eu não sou obrigada a ficar aqui.
MONTENEGRO — A partir de hoje e agora, você é obrigada
sim! E você vai fazer o seu serviço bem direitinho, assim como os meus clientes
desejam.
JULIANA OLHA PARA
GUSTAVO. PERCEBE QUE ELE ESTÁ QUASE CHORANDO.
JULIANA — Você me trouxe para um... Um
prostíbulo, Gustavo?
MONTENEGRO — (SORRI) É isso mesmo.
JULIANA — Eu não acredito, Gustavo. (COMEÇA
A CHORAR) Você me enganou... Você me fez acreditar que nós viríamos para São
Paulo pelos nossos sonhos, os nossos objetivos.
GUSTAVO SE ENCOSTA NA
PAREDE. PÕE AS MÃOS NO ROSTO. EM SEGUIDA, RECOMPÕE-SE. OLHA PARA JULIANA.
GUSTAVO — Tudo começou quando eu estava
devendo para o Montenegro. Eu precisava pagar essa dívida, era algo muito
urgente. E então ele me propôs que eu procurasse uma moça jovem para trabalhar
aqui, seria uma forma de atrair mais clientes. No primeiro instante, eu não
aceitei e acabei fugindo pra Campo Bonito, já que eu tinha uma tia que morava
lá. Mas o Montenegro mandou seus capangas irem atrás de mim e acabou
descobrindo onde eu estava. Foi aí que eu conheci você, Juliana.
JULIANA — (GRITA REVOLTADA) E me viu como
uma dessas moças que você poderia trazer pra esse lugar tenebroso?
GUSTAVO — Eu não tinha saída, você tem que
entender isso.
JULIANA — Você me enganou, me iludiu, me
fez acreditar que queria sair pelo mundo atrás de nossos sonhos.
GUSTAVO COMEÇA A CHORAR.
MONTENEGRO INTERFERE.
MONTENEGRO — Vamos acabar com essa discussão ridícula de
casalzinho.
MONTENEGRO FAZ UM GESTO
COM OS DEDOS. DOIS HOMENS APARECEM. PEGAM JULIANA PELO BRAÇO. JULIANA
DESESPERA-SE.
JULIANA — (GRITA) Me soltem!
MONTENEGRO — Levem a nossa nova garota e a tranquem
naquele quarto que foi preparado... Ela precisa conhecer os novos aposentos.
OS HOMENS AGEM CONFORME A
ORDEM DE MONTENEGRO. LEVAM JULIANA COM CERTA DIFICULDADE. JULIANA GRITA
DESESPERADAMENTE. TENTA SE SOLTAR A TODO CUSTO. MONTENEGRO ENCARA GUSTAVO.
MONTENEGRO — A sua dívida já tá paga, Gustavo.
GUSTAVO — Você vai me deixar em paz agora?
MONTENEGRO — Desde que você suma e nunca mais apareça na
minha frente.
GUSTAVO — Você promete que não vai machucar a
Juliana?
MONTENEGRO — Eu não tenho que te prometer nada, rapaz. Eu
sei como devo tratar as garotas que trabalham pra mim. Já fique sabendo que se
essa Juliana não souber se comportar direito, ela passará pelas conseqüências.
Agora vá embora! Vamos!
GUSTAVO FICA OLHANDO PARA
MONTENEGRO POR ALGUNS INSTANTES. VAI EMBORA. MONTENEGRO SORRI. RETIRA-SE.
CORTA
PARA:
CENA 37. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
MESMA HORA.
CENA 38. ALBERGUE. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.
MIGUEL ENTRA COM SOPHIA.
ELE TAPA OS OLHOS DA NAMORADA. ELE DESTAPA OS OLHOS DE SOPHIA. SOPHIA DÁ UM
SORRISO AO VER A LINDA IMAGEM DESENHADA NO QUADRO. MIGUEL FECHA A PORTA DO
QUARTO. SOPHIA ADMIRA A PINTURA.
SOPHIA — Miguel... É lindo!
MIGUEL — É pra você.
SOPHIA — Pra mim?
MIGUEL — Sim, é pra você. Eu o desenhei
me inspirando em você.
SOPHIA — Você é um desenhista muito
talentoso. (MIGUEL DÁ UM SORRISO) Mas eu não posso ficar com ele.
MIGUEL — Por quê?
SOPHIA — Eu não vou poder levar esse
quadro pra casa.
MIGUEL — Por enquanto ele pode ficar
comigo, então.
SOPHIA — Ele é muito lindo! Os traços
são tão precisos, tão profundos...
MIGUEL — É como eu imagino que seja a
sua alma.
SOPHIA — (OLHA PARA MIGUEL) A minha
alma?
MIGUEL — A sua alma... Ela deve ter
tantos traços, tanta profundeza.
SOPHIA — Como todas as almas.
MIGUEL — Não, Sophia, eu quis exatamente
representar a sua alma. Só Deus sabe como ela deve ser, mas eu tentei imaginar
como será através do olhar Dele.
SOPHIA FICA OLHANDO
ATENTAMENTE PARA A IMAGEM. BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
SOPHIA — A sua imaginação está
errada... Fugiu totalmente da realidade e se perdeu em uma ilusão causada pela
fantasia.
MIGUEL — Como assim?
SOPHIA — A minha alma não é assim.
MIGUEL — Você não gostou do desenho?
SOPHIA — A minha alma não é assim,
Miguel... Se existe mesmo uma alma dentro de cada um de nós, a minha não
poderia ser representada dessa forma.
MIGUEL — Eu não estou te entendendo,
Sophia.
SOPHIA — (QUASE CHORANDO) A minha alma
é obscura, é cheia de feridas, cicatrizes que fecham. Eu sinto isso dentro de
mim.
MIGUEL — Me perdoe, Sophia, eu não
queria te deixar assim.
MIGUEL ABRAÇA SOPHIA
FORTEMENTE.
SOPHIA — Não precisa me pedir perdão.
MIGUEL — Eu não queria causar isso, eu
não queria que você ficasse assim... Eu sinto muito. Eu posso me desfazer desse
desenho.
SOPHIA — Jamais faça isso... Se você me
vê assim, por um lado eu fico feliz. Isso significa que você ainda vê algo bom
dentro de mim.
MIGUEL — Você diz isso como se não
tivesse nada de bom, como se fosse uma pessoa ruim. Não, Sophia, você não é
assim, você só tem beleza por dentro, contanto com os defeitos de qualquer
outro ser humano.
SOPHIA — Você acredita em mim.
MIGUEL — E sempre vou acreditar...
Jamais vou deixar de acreditar em você, porque eu te amo... Eu te amo, Sophia!
MIGUEL TOCA O ROSTO DE
SOPHIA. A BEIJA. SOPHIA CORRESPONDE AO BEIJO. FICAM ASSIM POR ALGUNS INSTANTES.
VALORIZAR O BEIJO DOS DOIS.
CORTA
PARA:
CENA
39. STOCK-SHOT. TAKES DE CURITIBA.
INSERIR
LEGENDA: Alguns
dias depois…
CENA
40. ESCOLA. BANHEIRO. INT. HORA DO INTERVALO.
CECÍLIA ENTRA CORRENDO NO
BANHEIRO. VOMITA NO VASO SANITÁRIO. CECÍLIA VAI LAVAR A BOCA NA PIA. SOPHIA
ENTRA RAPIDAMENTE. FICA OLHANDO PARA CECÍLIA.
SOPHIA — Cecília, você já foi no
médico? Você está tendo esses sintomas há dias. (CECÍLIA OLHA PARA SOPHIA. NÃO
CONTÉM AS LÁGRIMAS. SOPHIA CONTINUA) Minha amiga, por que você está chorando? O
que está acontecendo? Por que você não me fala, afinal?
CECÍLIA — Sophia, eu acho que... Eu não
consigo nem mesmo falar isso.
SOPHIA — Espera um pouco, Cecília...
Como eu não percebi isso? Você está... Não acredito!
CECÍLIA — Eu juro que eu não queria que
isso acontecesse.
SOPHIA — Você não pode ficar nervosa agora.
Eu estou tentando assimilar toda essa situação. Na hora da saída, nós vamos em
uma farmácia aqui perto.
CECÍLIA — O que nós vamos fazer na
farmácia?
SOPHIA — Nós vamos comprar um teste de
gravidez, aqueles que podem ser feitos em casa.
CECÍLIA — Eu não sei como fazer esse
teste.
SOPHIA — Eu já ouvi falar, e se você
não souber como fazer, eu vou te ajudar.
CECÍLIA — Você vai me ajudar?
SOPHIA — Eu sou sua amiga, Cecília...
Esqueceu?
CECÍLIA DA UM LEVE
SORRISO. NÃO CONTÉM AS LÁGRIMAS NOVAMENTE. CECÍLIA E SOPHIA SE ABRAÇAM
FORTEMENTE. CONGELA EM “CECÍLIA E SOPHIA” ABRAÇADAS.
CORTA
PARA:
FIM
DO CAPÍTULO 17
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