COM
AMOR
Novela
de
Marcus Vinick
Miguel Rodrigues
Escrita
com
Marcus Vinick, Miguel
Rodrigues
Direção
Miguel Rodrigues
Direção
Geral
Miguel Rodrigues
Núcleo
DNA - Dramaturgia Novos Autores
Personagens
deste capítulo
SOPHIA
GUILHERME
GABRIELA
CARLOS ALBERTO
MIGUEL
JULIANA
TAXISTA (participação)
FIGURANTES CLUBE
FIGURANTES UNIVERSIDADE
CENA 01 / CLUBE /
LANCHERIA / INTERIOR / FIM DE TARDE
Continuação da cena 30 B do capítulo
anterior. Fica olhando para Guilherme por alguns instantes. Desvia o olhar. O
olha novamente. Guilherme olha para ela. Espera uma resposta da moça.
SOPHIA — Veio me pedir
desculpas?
GUILHERME —
Sim... Eu não consegui tirar da cabeça aquelas coisas que você tinha me falado,
após aquele meu comportamento ridículo.
SOPHIA —
Ainda bem que você reconhece que foi um comportamento ridículo.
GUILHERME — E
reconheço também que refleti sobre as minhas atitudes. Eu não vou mais me
comportar daquela forma nem mesmo com você e com nenhuma outra garota.
SOPHIA —
Então
quer dizer que já tinha tomado aquela atitude com outras garotas? Eu estava
certa, certíssima.
GUILHERME — Há algo que eu
possa fazer pra me redimir?
SOPHIA —
Você já se redimiu.
GUILHERME — Mas
não tem nada que eu possa fazer mesmo? Não quer jantar comigo?
SOPHIA —
Você não me conhece direito... Por que quer jantar comigo?
GUILHERME —
Porque eu achei que pudesse te convidar... Assim nos conheceríamos melhor.
SOPHIA —
(o olha seriamente) Você quer
convidar o meu namorado pra jantar também?
Guilherme fica
embasbacado. Não consegue dar uma resposta.
GUILHERME —
Hã...
SOPHIA —
Se enrolou todo, não é?... Se você quer se redimir como você mesmo acabou de
falar, pegue esse pano e me ajude a limpar essas mesas.
GUILHERME — Você
quer que eu te ajude a limpar as mesas?
SOPHIA —
Sim... Agora se você não quiser...
GUILHERME — (interrompe) Está bem... Eu te ajudo.
Guilherme pega o
pano das mãos de Sophia. Começa a esfregar nas mesas. Sophia cruza os braços.
Dá um sorriso e balança a cabeça negativamente.
CENA 02 / CLUBE / FACHADA / EXTERIOR / FIM DE TARDE
Sophia fecha o portão do clube. Vira-se
para Guilherme e o cumprimenta.
SOPHIA — (já se retirando) Obrigada pela ajuda.
GUILHERME — (a interrompe) Espera.
SOPHIA —
O que você quer?
GUILHERME — Eu
posso te levar pra casa?
SOPHIA —
Não, muito obrigada!
GUILHERME — Você
está me devendo.
SOPHIA —
Eu estou te devendo? Dá onde?
GUILHERME — Eu
te ajudei a limpar as mesas, algo que eu nunca fiz na minha vida.
SOPHIA —
(ironicamente) Ah, eu tinha me
esquecido que as suas mãos são de porcelana. (t) Eu
não estou te devendo nada. Você é quem disse que queria se redimir e eu apenas
propus que você me ajudasse a limpar as mesas, assim seria uma forma que eu
arranjaria de te desculpar.
GUILHERME — Você se
aproveitou de mim, porque não queria fazer o seu trabalho, sozinha.
SOPHIA —
Eu não vou mentir... Eu me aproveitei e você caiu feito um bobo.
GUILHERME — Vai
ter que me pagar deixando eu te levar em casa.
SOPHIA —
Eu não estou afim.
GUILHERME — É
por causa do seu namorado?
SOPHIA —
É
porque eu não quero entrar no mesmo carro que você, mas digamos que também seja
por esse motivo. Quer saber? Acho que já te dei “corda” demais, eu tenho que ir
embora.
Sophia vai embora. Guilherme a olha
fixamente. Está pensativo.
GUILHERME — (de si para si) Se você pensa que vai se
livrar de mim assim tão fácil... Está muito enganada.
Guilherme
respira fundo e vai ao estacionamento pegar seu carro.
CENA 03/ UNIVERSIDADE
/ FRENTE / EXTERIOR / FIM DE TARDE
Miguel sai da
universidade. Para. Lembra-se de que Sophia não está lá para lhe acompanhar.
Mostra-se triste com a situação. Baixa a cabeça. Continua a caminhar. Não
percebe Gabriela o vigiando dentro de um táxi. Miguel entra em um carro e
Gabriela vê. Miguel dá a partida.
GABRIELA — (ordena) Motorista, siga aquele carro!
O taxista dá a
partida e segue o carro de Miguel.
CENA 04 / RUAS
DE CURITIBA / SEQÜÊNCIA / EXTERIOR / FIM DE TARDE
Em ritmo frenético mesclado a uma música
ambiente, acompanhamos o taxista seguindo o carro de Miguel. Gabriela observa o
trajeto atentamente. Miguel olha pelo espelho do carro, o táxi o seguindo, mas
não dá tanta importância. Liga o toca-fitas do carro e põe uma fita da banda
“The Cranberries”. Continuamos acompanhando essa perseguição, até chegarmos a
um bairro simples de Curitiba. Miguel estaciona seu carro em um terreno ao lado
do prédio onde mora. Desliga o toca-fitas. Desce do carro.
CORTA
PARA:
Gabriela observa Miguel pela janela do
carro. O fulmina com o olhar.
GABRIELA — (de si para si) Então é aqui que aquele
moleque imundo está vivendo?
TAXISTA —
Falou comigo, senhora?
GABRIELA — Não, eu não estou
falando com você. Eu estou falando comigo mesma, que sou uma pessoa mais
inteligente. Vamos embora!
O taxista dá a partida e segue.
CENA 05 / STOCK-SHOTS / TAKES DE CURITIBA
Anoitece.
CENA 06 / AP DE GABRIELA E SOPHIA /
COZINHA / INTERIOR / NOITE
Sophia está sentada à mesa de frente ao
prato de jantar que ela havia preparado. Revira a comida. Pensa em Miguel.
FLASHBACK
MIGUEL —
Eu te amo, Sophia... Achei que você
acreditasse nisso.
CORTA PARA: SALA
Gabriela chega
em casa. Larga a bolsa no sofá. Percebe que a luz da cozinha está acesa. Caminha
em direção à cozinha.
CORTA PARA: COZINHA
Gabriela vê que
Sophia está jantando. Encosta-se na parede. Fica observando a filha. Sophia
percebe Gabriela a olhando. Respira fundo. Larga os talheres no prato.
SOPHIA —
Eu odeio quando você fica me olhando.
GABRIELA — Eu
estou te fitando, Sophia.
SOPHIA —
(altera a voz) Você gosta de me
incomodar... Esse é o seu problema.
GABRIELA — Não precisa
alterar o seu tom de voz, garota! O que houve? Já está mal humorada? Eu já vou
sair daqui, mas antes quero deixar duas perguntas no ar.
SOPHIA — Que perguntas?
GABRIELA — Até quando o seu
castelinho de areia vai ficar em pé, Sophia? Quando uma onda vai passar e
derrubar tudo?
Gabriela retira-se. Sophia estranha as
perguntas de Gabriela. Não entende nada. Fica pensativa.
CENA
07 / HOTEL / BAR DO HOTEL / INTERIOR / NOITE
Carlos Alberto toma uísque com Guilherme.
Conversam sobre Sophia. Conversa já iniciada.
ALBERTO — Eu não
acredito que você foi atrás dessa tal moça novamente.
GUILHERME — (sorri; confiante) Eu disse para o
senhor que eu não iria desistir dela... Esse foi apenas o primeiro passo. (t) Ela se acha muito esperta, mas
acabará caindo.
ALBERTO —
Será mesmo? Se ela não caiu dessa vez, não irá cair também na próxima.
GUILHERME — O
senhor aposta quanto?
ALBERTO —
Eu não aposto nada, até porque sei que eu iria ganhar e você não teria dinheiro
pra me pagar.
GUILHERME — Quem
disse que eu não tenho dinheiro?
ALBERTO — O
seu dinheiro é o meu dinheiro.
GUILHERME — Pai,
assim o senhor me ofende.
ALBERTO —
Eu estou sendo realista com você, meu filho... Não me julgue.
GUILHERME — Perdi até a
vontade de beber agora. Estou me sentindo como um vagabundo que usa e abusa do
dinheiro do próprio pai.
ALBERTO — Também não é
pra tanto, Guilherme... Você me ajuda e muito nos meus negócios.
GUILHERME —
Ainda bem que o senhor adimite.
ALBERTO — (T: brinca; sorri) Mas é claro... Você
está esperando a minha morte pra poder colocar as garras na minha grana...
Seria um despautério você não me ajudar em nada.
GUILHERME —
Agora eu estou me sentindo humilhado.
Guilherme
levanta-se e retira-se. Carlos Alberto tenta impedi-lo.
ALBERTO — (grita) Filho, eu estou brincando com
você.
Guilherme volta.
Põe as mãos sobre a mesa. Olha nos olhos de Alberto.
GUILHERME —
Sabia que em toda brincadeira, há um pouco de verdade?
Guilherme
retira-se novamente. Carlos Alberto faz menção de impedi-lo. Sorri novamente.
Balança a cabeça negativamente. Toma mais um gole de uísque.
CENA 08 / AP
DE GABRIELA E SOPHIA / QUARTO DE SOPHIA / INTERIOR / NOITE
Sophia pega uma
foto de seu pai, Marcelo. Coloca contra o peito. Deixa escorrer algumas
lágrimas.
SOPHIA —
Já faz tanto tempo.
FLASHBACK
LEONARDO -
(TENTA RESPONDER) Ele... O Marcelo...
LEONARDO
NÃO CONSEGUE TERMINAR A FRASE, SUA VOZ FICA EMBARGADA. SOPHIA APARECE NESSE
EXATO MOMENTO. NOS OLHOS DA MENINA JÁ PODEMOS NOTAR QUE LÁGRIMAS COMEÇAM A
BROTAR POR ELES.
SOPHIA -
O meu pai... Morreu?
GABRIELA -
(AFIRMA FRIAMENTE) O Marcelo morreu.
Voltamos para Sophia em seu quarto. Deita
a cabeça no travesseiro. Coloca a foto de Marcelo ao seu lado.
SOPHIA — Teria sido
tudo diferente se o senhor estivesse aqui comigo.
Deixa cair
algumas lágrimas. Olha para a foto de Marcelo e toca a foto com os dedos.
1° INTERVALO COMERCIAL
CENA 09 / AP
DE GABRIELA E SOPHIA / QUARTO DE GABRIELA / INTERIOR/ NOITE.
Gabriela deita-se. Não consegue tirar da
cabeça o fato de Sophia está namorando Miguel, o seu maior desafeto.
FLASHBACK
MIGUEL — A
Juliana passou por muitos problemas, ela está sem nada agora e nem mesmo pode
voltar pra Campo Bonito porque tem medo de ser rejeitada pelo meu tio.
SOPHIA — Ah, pobrezinha! Quer saber,
Miguel?... Pouco me importa os problemas da sua prima...
Gabriela
levanta-se. Dá alguns passos pelo quarto. Caminha até a janela. Debruça-se
sobre ela. Fica pensativa.
GABRIELA — (T:
para si) Amanhã eu vou naquele apartamento onde aquele moleque imundo está
vivendo.
Gabriela
fica pensativa por alguns instantes. Vai até a gaveta do criado mudo. Tira um
cigarro, o acende. Volta para a janela e fuma, pensativa.
CENA 10 / STOCK-SHOTS/ TAKES DE CURITIBA
Sucessão de imagens mostrando as belas
paisagens da cidade de Curitiba como cartões postais. O ritmo deve ser
frenético. Uma música também frenética acompanha essa sucessão de imagens, até
chegarmos à fachada do clube onde Sophia trabalha.
CENA 11 / CLUBE / CAIXA / INTERIOR /
HORA DO INTERVALO
Sophia prepara-se para ir almoçar. Está
fechando o caixa. Guilherme aparece. Sorri para Sophia.
GUILHERME — Quer uma companhia para o almoço?
Sophia vira-se para Guilherme. Faz uma
expressão de desgosto, de quem está de saco cheio.
SOPHIA — Você não desiste nunca, não é?
GUILHERME — Eu apenas quero ser o seu amigo.
SOPHIA — Eu não acredito que você veio aqui
só pra me amolar.
GUILHERME — Eu gosto de vir a esse clube. É bem
interessante! Hoje, eu vim encontrar alguns amigos.
SOPHIA — Ah... E provavelmente eles já devem
estar te esperando.
GUILHERME — Não, eles ainda não chegaram... Mas enquanto
não chegam, você pode me fazer companhia. O que custa?
SOPHIA — Você é muito insistente.
GUILHERME — A insistência é uma das minhas qualidades.
Eu nunca desisto do que quero e, nesse momento, eu quero a sua amizade.
SOPHIA — Você terá que desistir... Até
porque, você não pode me forçar a ser sua amiga.
GUILHERME — O que você tem contra mim?
SOPHIA — Eu não tenho nada contra você...
Apenas quero distância.
GUILHERME — Você não sabe o quanto está me machucando
com essas duras palavras.
SOPHIA — Desculpe, mas essa é a única forma
que eu vejo para te afastar de vez.
GUILHERME — Você não confia em mim, esse é o problema.
SOPHIA — Eu não te conheço direito... Como
eu poderia confiar em você?
GUILHERME — Eu estou te dando a oportunidade de poder me
conhecer, assim como eu quero a mesma coisa de você.
SOPHIA — Me desculpe, mas eu tenho que ir
almoçar e o meu intervalo dura pouco.
GUILHERME — (surpreso)
Quarenta e cinco minutos dura pouco pra você?
SOPHIA — (encabulada)
Como sabe o horário do meu intervalo?
GUILHERME — (sorri)
Eu andei me informando. (T: Sophia
também sorri. Guilherme continua) Eu vou te deixar em paz, mas pense no que
eu acabei de te falar. E fique sabendo que eu sou uma pessoa muito legal, não
um conquistador barato como ainda deve se passar por essa sua mente.
Guilherme fica olhando para Sophia por
alguns instantes e em seguida retira-se. Miguel chega ao clube. Vê Sophia e
Guilherme e os observa de longe. Sophia termina de fechar o caixa e retira-se.
Miguel aparece impedindo-a de ir ao almoço.
MIGUEL — (irônico)
Você me pediu um tempo pra ficar de conversinha com outros caras?
Sophia para de
caminhar. Vira-se para Miguel. Miguel fica olhando para Sophia.
SOPHIA — Miguel...
MIGUEL — Não vai responder a minha pergunta,
Sophia?
SOPHIA — Eu não fico conversando com
ninguém, aquele homem é apenas um conhecido. Na verdade, eu nem o conheço
direito, ele é quem tem puxado conversa comigo.
MIGUEL — Você nem sabe o que me dizer.
SOPHIA — Miguel, eu não admito que você
pense isso de mim.
MIGUEL — (altera
a voz) O que você quer eu pense, Sophia? Eu cheguei aqui, preste a fazer as
pazes com você, e te vejo de conversinha e de sorrisinhos com outro cara. Você
ainda quer eu esteja tranqüilo, é isso?
SOPHIA — Baixe o seu tom de voz! Eu estou no
meu horário de intervalo, mas continuo no meu ambiente de trabalho.
MIGUEL — Vamos almoçar juntos.
SOPHIA — Não... Eu não quero almoçar com
você!
MIGUEL — Como assim?
SOPHIA — Eu não quero almoçar com você. Eu
estou irritada e magoada por você ter chegado aqui e falado comigo desse jeito,
como se eu estivesse fazendo algo errado. Dá licença!
Sophia
retira-se rapidamente. Miguel contém seu nervosismo. Vai embora.
CENA 12 / AP DE MIGUEL
/ SALA / INTERIOR / TARDE
Juliana
arruma o apartamento de Miguel. Ouvimos batidas na porta. Juliana caminha até a
porta e atende.
JULIANA — Oi.
GABRIELA — Você deve ser a... Prima do Miguel, não
é?
JULIANA — Sim, mas da onde a senhora me conhece?
GABRIELA — Por favor, não me chame de senhora...
Posso entrar?
JULIANA — (dá
passagem para Gabriela) Sim.
Gabriela entra. Observa todo ambiente. Faz
cara de nojo.
GABRIELA — (T:
em tom médio) Então é aqui, nesse muquifo, que aquele desgraçado mora!
JULIANA — (que
havia escutado) O que você falou?
GABRIELA — Nada.
JULIANA — Não, eu ouvi exatamente... A quem você
estava se referindo?
GABRIELA — (respira
fundo) Ao seu priminho.
JULIANA — Quem é você? Como me conhece e como
conhece o meu primo?
GABRIELA — Eu sou a mãe da Sophia.
JULIANA — Mãe da Sophia? (espantada) Você é a mãe da Sophia?
GABRIELA — Sim... Eu vim porque eu preciso ter uma
conversa com você.
JULIANA — Acho que você está enganada. A sua
conversa é com o Miguel, não comigo.
GABRIELA — É com você mesma, garota!
JULIANA — Mas o que eu tenho a ver com você?
GABRIELA — Eu ouvi uma discussão da minha filha com
aquele moleque, que agora está um verdadeiro homem. Eles estavam discutindo
sobre você e, então, eu tive a curiosidade de te conhecer.
JULIAANA — (tenta
disfarçar o sorriso) Eles discutiram por minha causa?
GABRIELA — Não adianta tentar disfarçar o seu
sorriso de satisfação... Você gosta do Miguel, não gosta?
JULIANA — Eu gosto dele como meu primo, mas
confesso que sou contra esse romance do meu primo com a sua filha.
GABRIELA — Eu não sabia de nada, fiquei sabendo por
conta própria. Eu não estou gostando dessa história. Não quero ver a minha
filha com aquele rapaz. Eu sou capaz de tudo para separá-los e sei que você
pode me ajudar.
JULIANA — E por que você acha que eu faria isso?
GABRIELA — Porque você deve ser apaixonada pelo seu
primo, eu já pude perceber isso quando notei a revolta de Sophia, ela não quer
que você continue morando aqui de jeito nenhum.
JULIANA — Eu não sou apaixonada pelo Miguel.
GABRIELA — É, sim! Eu sei que não nos conhecemos
direito, mas a recém é o começo.
JULIANA — E o que você quer de mim?
GABRIELA — Eu quero uma aliada... Eu quero alguém
que possa me ajudar a acabar com esse romance de uma vez por todas.
Juliana dá um leve sorriso. Tenta
disfarçar sua satisfação.
JULIANA — E o que eu ganho em troca?
GABRIELA — Você irá ganhar o seu primo.
JULIANA — O Miguel não gosta de mim, ele não me
vê como uma mulher a que ele possa tocar, beijar e sentir como sua. Ele ama a
Sophia, ele sempre a amou!
GABRIELA — (seriamente)
Só que eu não desisto do que eu quero e você também não deveria. Eu já consegui
afastar esses dois uma vez e vou conseguir novamente.
Juliana sorri. Olha para Gabriela com
admiração. Gabriela faz um ar superior. Ajeita os cabelos. Olha para Juliana e
em seguida desvia o olhar.
CENA
13 / CLUBE / PISCINA / EXTERIOR / TARDE
Guilherme está em uma das mesas próximo à
piscina. Lê um jornal. Sophia aproxima-se. Guilherme percebe. Para de ler o
jornal. Sorri ao ver Sophia.
SOPHIA — Posso me sentar com você?
GUILHERME — Não precisa nem pedir.
Guilherme se levanta prontamente. Puxa a
cadeira para Sophia sentar.
SOPHIA — Obrigada.
GUILHERME — O que fez você mudar de ideia?
SOPHIA — O fato de que eu não quero mais te
ignorar.
GUILHERME — Já estamos dando um belo passo.
SOPHIA — Um passo para uma amizade... Nada
mais do que isso.
GUILHERME — Foi isso que eu quis dizer, Sophia.
SOPHIA — Você se lembra do meu nome, achei
que tivesse que me apresentar novamente.
GUILHERME — E você lembra o meu?
SOPHIA — Por incrível pareça, não... Me
desculpe!
GUILHERME — Não há nenhum problema... Meu nome é
Guilherme.
SOPHIA — Hum...
Guilherme fica olhando o jeito que Sophia
se porta com os talheres, enquanto almoça.
GUILHERME — Você sabe se portar bem a uma mesa.
SOPHIA — Como percebeu?
GUILHERME — Não há como não perceber, é algo óbvio.
SOPHIA — E está surpreso?
GUILHERME — Confesso que sim. Para uma simples atendente
de caixa, que parece “trabalhar de dia para comer à noite”, você se porta até
bem demais.
SOPHIA — É que... Deixa pra lá.
GUILHERME — O que você ia me dizer? Você teve aulas de
etiqueta?
SOPHIA — Não... Eu não quero falar sobre
isso agora.
GUILHERME — Tudo bem... Você é muito bonita.
SOPHIA — Já vai começar?
GUILHERME — Não. Eu apenas estou te fazendo um elogio.
Você é muito bonita mesmo: sorte do seu namorado. (Sophia fica um pouco pensativa. Guilherme estranha) O que houve?
Eu falei algo de errado?
SOPHIA — Eu acabei de pensar no meu
namorado.
GUILHERME — Você não fez uma expressão feliz quando
falei nele.
SOPHIA — É que nós acabamos de ter uma
discussão.
GUILHERME — Ele veio aqui agora há pouco?
SOPHIA — Sim, inclusive, ele me viu falando
com você e não gostou muito.
GUILHERME — Então eu fui o motivo pela discussão?
SOPHIA — Não, não pense dessa forma.
GUILHERME — Claro que é o que eu estou pensando. Eu
espero que vocês se reconciliem.
SOPHIA — Nós vamos nos reconciliar hoje.
Quando eu for embora, vou direto pro trabalho dele.
GUILHERME — (disfarça
sua insatisfação) Que bom!
SOPHIA — Vamos mudar de assunto... Onde você
mora?
GUILHERME — Eu estou hospedado em um hotel com meu pai.
SOPHIA — Então você não mora aqui, em
Curitiba?
GUILHERME — Não, na verdade, eu moro em Amsterdã.
SOPHIA — (surpresa)
Amsterdã?
GUILHERME — (sorri)
É...
Sophia olha para o relógio. Espanta-se.
SOPHIA — O meu intervalo já está acabando...
Eu tenho que ir.
Sophia levanta-se rapidamente. Pega o
prato e vai se retirar. Guilherme a impede.
GUILHERME — Quando iremos continuar nossa conversa?
SOPHIA — Talvez amanhã ou depois. Foi um
prazer ter te conhecido mais um pouco, apesar de que você não me falou nada
sobre você e nem sua vida.
GUILHERME — E nem você me falou da sua, vou ficar
curioso.
SOPHIA — (sorri)
Até mais, Guilherme!
GUILHERME — Até mais, Sophia!
Sophia retira-se. Guilherme fica olhando
pra ela e sorri.
CENA 14 / STOCK – SHOTS / TAKES DE CURITIBA
Final de tarde.
CENA 15 / UNIVERSIDADE / SALA DE ED ARTÍSTICA
/ INTERIOR / FIM DE TARDE
Miguel arruma-se para ir embora. Está
distraído. Sophia aparece na porta da sala. Cruza os braços. Encosta-se na
porta. Fica olhando para Miguel. Sorri. Miguel percebe a presença de Sophia.
MIGUEL — Sophia...
SOPHIA — Como você sabia que eu estava aqui?
MIGUEL — Eu sinto a sua presença sem mesmo te
ver com meus próprios olhos.
SOPHIA — É por causa do amor que sentimos um
pelo outro, nós não precisamos nos ver para sentir nossas presenças. (Miguel fica quieto. Fecha a mochila. Sophia
continua) Por que você não olha pra mim?
MIGUEL — (a
olha seriamente) Pronto.
SOPHIA — Miguel, você está bravo comigo?
MIGUEL — É você quem está brava comigo.
SOPHIA — Eu vim fazer as pazes.
MIGUEL — Hoje, eu fui ao seu trabalho porque
eu queria fazer as pazes com você também. E como eu fui tratado por você? Você
se recusou a almoçar comigo, só não me mandou embora porque já estaria passando
do ponto.
SOPHIA — Você tinha desconfiado de mim...
Como queria que eu reagisse?
MIGUEL — Você também desconfiou de mim quando
soube que a minha prima está morando comigo, e eu não te tratei da mesma forma
que você me tratou hoje, ao contrário, eu queria que tudo ficasse bem como já
estava antes.
SOPHIA — Eu não desconfiei de você.
MIGUEL — Você não tem total confiança em mim,
essa é a verdade.
SOPHIA — Você já está falando o que não é
verdade.
MIGUEL — Então por que pediu um tempo para o
nosso relacionamento?
SOPHIA — Porque eu precisava pensar um
pouco... Aliás, Miguel, não me venha com essa história de sua prima estar
morando com você, porque eu não quero mais saber disso. Eu vim aqui para fazer
as pazes, mas já que você acha que deve agir dessa maneira, eu não poderei
fazer nada e nem vou ficar correndo atrás de você.
Sophia retira-se.
Miguel desespera-se ao ver Sophia saindo da sala.
MIGUEL — Sophia, volte aqui!
Miguel corre atrás
de Sophia.
PÁTIO
Miguel consegue
alcançá-la. Pega Sophia pela cintura e a aperta contra seu corpo. Miguel e
Sophia olham-se fixamente.
MIGUEL — Nós prometemos que não iríamos ficar
longe um do outro.
SOPHIA — Nós também prometemos que nunca
mais iríamos brigar.
MIGUEL — Uma briga é normal entre um casal.
SOPHIA — Mas eu não quero mais brigar com
você e ficar afastada.
MIGUEL — Foi você quem quis assim... Foi você
quem me pediu um tempo.
SOPHIA — Eu juro que não vou mais fazer
isso.
MIGUEL — (sorri)
Acho bom mesmo, até porque eu não quero mais ter que sair do meu trabalho e
acabar não te encontrando lá fora, me esperando.
SOPHIA — Eu te amo.
MIGUEL — Eu também te amo, pirralha!
SOPHIA — Eu poderia dizer pra você não me
chamar mais disso, mas não vou perder saliva à toa.
MIGUEL — Gaste saliva me beijando então.
Miguel a beija.
Sophia corresponde ao beijo. Valorizamos o momento dos dois.
CENA 16 / AP DE MIGUEL
/ QUARTO DELE / INTERIOR / FIM DE TARDE
Juliana caminha
pelo quarto, pensativa. Deita-se na cama. Agarra fortemente o travesseiro.
Começa a lembrar de momentos seus com Miguel, quando eram crianças.
FLASHBACK
MIGUEL — “Essa menina aí” tem nome, o nome
dela é Sophia... É um nome lindo você não acha?
JULIANA — Eu não gosto nem um pouco dela... É
uma “dondoquinha”!
MIGUEL — Você tem inveja da Sophia...
Voltamos para
Juliana deita na cama e agarrada no travesseiro. Deixa escorrer algumas
lágrimas de raiva. Volta a lembrar-se dos fatos ocorridos na infância.
FLASHBACK
MIGUEL —...você tem inveja da Sophia, porque
ela é mais linda do que você, porque ela usa roupas que você jamais vai colocar
nesse corpo...
Voltamos novamente
para Juliana que já não se contém mais de raiva. Chora copiosamente.
FLASHBACK
JULIANA — O fato de sermos primos não impede nada entre nós dois.
MIGUEL —
Pra mim, impede. E também eu... Eu amo a Sophia!
Voltamos para
Juliana já tomada pelo ódio. Pega o travesseiro e o atira contra a parede.
Esbraveja. Chora de ódio.
CENA 17 / STOCK-SHOTS /
TAKES DE CURITIBA
Anoitece em
Curitiba. Percorremos toda a cidade. Vemos todo o movimento de Curitiba à
noite. Chegamos à fachada do prédio onde Miguel mora.
CENA 18 / AP DE MIGUEL / SALA / INTERIOR /
NOITE
Miguel chega em
casa contente. Juliana aparece. Fica olhando para Miguel. Miguel olha para a
prima. Sorri. A cumprimenta.
MIGUEL — Oi, Juliana!
JULIANA — Chegou mais tarde hoje... O que houve?
MIGUEL — (T:
contente) Eu estava recuperando a minha felicidade novamente, que tinha ido
embora por um momento, mas não demorou muito a voltar.
JULIANA — Você e Sophia, se reconciliaram?
MIGUEL — Como você sabe que nós estávamos
brigados?
JULIANA — Eu havia percebido... Você não estava
muito bem.
MIGUEL — Sim... Nós nos reconciliamos.
JULIANA — (dá
um sorriso irônico) Ah... Que bom!
MIGUEL — Eu vou tomar um banho e depois vou
encomendar uma pizza para nós dois. Ou você prefere comer outra coisa?
JULIANA — Pode ser uma pizza mesmo.
MIGUEL — Então, ta... Eu já volto!
Miguel caminha
contente em direção ao banheiro. Juliana fica com os olhos marejados.
Contém-se.
JULIANA — Você irá ser meu, Miguel... Irá ser
meu!
Congela em
“Juliana”.
FIM DO CAPÍTULO 21
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