Pai de Carnaval - Episódio 10: Um Novo Filho (Final da Temporada)




JÚLIO NARRANDO:
E estava lá... na minha frente a mulher que eu amava segurando uma faca ensanguentada de sangue, que minutos atrás ela mesma teria enfiado no corpo do marido. Do jeito que ela olhava para o marido no chão, ao redor de uma poça de sangue, percebia que em nenhum momento ela estava arrependida do que fez. Eu ainda percebia a raiva nos olhos dela. Jamais acreditaria que ela chegaria a este ponto, não a minha “anja”. Agora eu precisava escolher um lado! Precisava tomar a difícil decisão de protegê-la ou de entregá-la.

[CENA 01 – CASA DE RODRIGO/ Q. DE SAMUEL/ NOITE]
JÚLIO – (perplexo) O que você fez, Bruna? (se aproxima do corpo de Samuel)
BRUNA – (fria) Precisamos esconder o corpo dele.
JÚLIO – Esconder? Não, devemos chamar ambulância, isso sim.
BRUNA – (caminha até a cama, colocando a faca lá) O corpo desse verme não tem mais vida. Fiz questão de parar somente quando dele desse o último suspiro.
JÚLIO – Eu não te reconheço! Não essa Bruna na minha frente.
BRUNA – (pegando as cobertas da cama) Se você não vai me ajudar a esconder o corpo, é melhor você ir embora.
JÚLIO – (caminha até ela, impedindo de tirar as cobertas) Eu não vou deixar que você faça isso. Não vou deixar que estrague mais a sua vida.
BRUNA – Me larga. (solta as cobertas, se afasta dele, começa a chorar) Esse monstro merecia. Ele matou meu filho. Ele merecia pagar com a vida dele por isso.
JÚLIO – Não. Ele merecia ir para cadeia. Lá ele iria receber a devida punição. Agora isso?
BRUNA – Ele iria para cadeia e alguns anos depois estaria livre por aí. Pronto para agredir uma próxima criança.
JÚLIO – Não temos como ter certeza.
BRUNA – (se aproxima da cama novamente) Já disse, se você não vai me ajudar a esconder o corpo, melhor ir embora.
JÚLIO – (se aproxima dela novamente, impedindo-a de pegar as cobertas) Eu já disse que não vou deixar você fazer isso. (Bruna luta contra ele, querendo puxar as cobertas, Júlio a abraça) Eu te amo! E não vou deixar que você estrague sua vida. (Bruna começa a chorar. Os dois ficam abraçados por alguns segundos)
BRUNA – Ele merecia. Ele merecia pagar com a vida, por ter tirado meu menino de mim. (se afasta de Júlio)
JÚLIO – Infelizmente terei que chamar a polícia. (pega seu celular, Bruna limpa as lágrimas, fica séria)
BRUNA – Tudo bem! Não me importo em passar meus últimos dias na cadeia. Já fiz o que tinha que ser feito. (olha para o corpo do marido morto no chão)
JÚLIO – (disca para a polícia, porém não coloca para chamar. Olha para o corpo de Samuel, em seguida olha para Bruna) Vai!
BRUNA – O que?
JÚLIO – Vai embora. Vai antes que eu chame a polícia.
BRUNA – O que você tá falando? Eu já disse, eu não me importo de ir para cadeia.
JÚLIO – Mas eu sim. (se aproxima dela) Essa seria a noite em que daríamos uma chance para nós dois. Ela não pode ser a noite em que verei você sendo presa.
BRUNA – Júlio...
JÚLIO – Por favor, vai embora! Deixa que eu me viro com o resto.
BRUNA – Não queria te envolver nisso. (se aproxima dele, o abraça)
JÚLIO – Eu já estou envolvido. Agora vai. (Bruna olha uma última vez para Júlio, o beija e em seguida sai do quarto. Júlio dar alguns segundos para Bruna fugir o mais longe possível dali. Volta a olhar para o corpo de Samuel, olha para o relógio do braço, pega seu celular, disca para polícia novamente e coloca para chamar)

[CENA 02 – RODOVIÁRIA/ NOITE]
(Bruna vai parar em uma rodoviária. Ela tem algum dinheiro em sua bolsa, então pensa pegar o primeiro ônibus que estivesse saindo da cidade. Ela compra a passagem, entra no ônibus, que parte da rodoviária)

[CENA 03 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Roberto continua vendo o filme com Lívia, que está dormindo ao lado dele)
ROBERTO – (repara em Lívia dormindo, solta um leve sorriso, levanta-se do sofá, vai até o quarto de Júlio, trás uma coberta e coloca sobre Lívia. Seu celular toca logo em seguida) Oi, Júlio! Não vai me dizer que acabou esquecendo algo para sua noite especial com a Bruna. (sério) Você está onde? Como foi isso? Sim, claro. Estou indo para aí. Tá, beleza. Tchau, irmão. (desliga e corre apressado para o quarto de Júlio novamente. Minutos depois, retorna para a sala, direto para a porta da rua. Lívia continua dormindo)

[CENA 04 – DELEGACIA/ SALA DO DELEGADO/ NOITE]
(Júlio está sendo interrogado pelo o que aconteceu, aparentemente está tranquilo)
JÚLIO – Eu não sei para onde ela pode ter ido.
DELEGADO – Pelo o que você contou, você foi até a casa dela, porque ela havia ligado para você?!
JÚLIO – Sim, mas isso foi no final da tarde. Não sei o que houve em seguida.
DELEGADO – Deixa ver então se eu entendi. Você chegou até a casa dela, encontrou a porta aberta, decidiu entrar, a procurou pelos cômodos e acabou encontrando o corpo do marido dela deitado no chão esfaqueado.
JÚLIO – Sim. É isso. Como eu disse não sei o que aconteceu. E até onde eu sei, o marido dela parecia ser agressivo com ela. Batia até no filho deles.
DELEGADO – Bem, a perícia está investigando a cena do crime, assim como as digitais que foram encontradas na faca que estava na cama. Você por acaso não pegou nessa faca, pegou?
JÚLIO – Não. Quando vi o corpo no chão, chamei automaticamente a polícia.
DELEGADO – Bem. Então, você tá liberado. Assim que o resultado da perícia chegar, você pode ser chamado a depor novamente.
JÚLIO – Tranquilo. Boa sorte nas investigações. (levanta-se e sai da sala)

[CENA 05 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Lívia acorda e repara que Roberto não está mais ao seu lado. Ver que o filme já havia acabado. Repara na coberta, sorri ao imaginar que tenha sido Roberto)

[CENA 06 – DELEGACIA/ EXTERNO/ NOITE]
(Júlio está em frente à delegacia aguardando Roberto chegar. Lembra novamente do momento que ver Bruna em pé ao lado do corpo de Samuel, com a faca ensanguentada de sangue. Roberto chega, desce do carro, caminha até ele, que o faz voltar a realidade)
ROBERTO – Que história é essa, cara? Como você veio parar nessa delegacia?!
JÚLIO – É uma longa. Só quero ir para o meu apartamento, se não for pedir muito. (sai na frente em direção ao carro, Roberto só o segue. Os dois entram e partem para o apartamento)

[CENA 07 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Júlio entra primeiro no apartamento, caminha até o sofá, senta-se nele preocupado. Roberto fecha a porta, se aproxima do amigo e procura por Lívia que estava dormindo ali)
ROBERTO – Acho que sua filha foi dormir no quarto. Podemos conversar tranquilos aqui. (senta-se ao lado dele, preocupado por ver o amigo naquele estado) O que está acontecendo, Júlio?
JÚLIO – (começa a chorar) Por que ela tinha que ter feito isso!
ROBERTO – Feito o que? Do que você está falando?
JÚLIO – Tínhamos uma segunda chance para aproveitar, e ela estragou tudo.
ROBERTO – A Bruna? O que ela fez?
JÚLIO – (levanta-se, limpa o rosto) Eu fui até a casa dela, para falar o que eu sentia. Mas, chegando lá... eu vi o corpo do Samuel morto no chão.
ROBERTO – (levanta-se surpreso) Morto? A Bruna quem o matou?
JÚLIO – (confirma com a cabeça) Ela queria vingar a morte do filho.
ROBERTO – Matando o marido?! Estou surpreso, cara. Não esperava isso dela. Imagino o que você está sentindo.
JÚLIO – Eu também não esperava que minha “anja” fosse chegar a isso.
ROBERTO – E onde ela está? Você sabe?
JÚLIO – (pensa em contar a verdade para o amigo, mas acaba contando a mesma versão que contou para a polícia) Não. Quando cheguei lá, a porta estava aberta, fui entrando e dê de cara com o corpo de Samuel todo perfurado.
ROBERTO – Onde será que ela está agora?
JÚLIO – Isso é algo que eu também gostaria de saber.

[CENA 08 – ÔNIBUS/ NOITE]
(Bruna está sentada quase no final do ônibus, com a cabeça encostada na janela, chorando baixinho. Sua viagem continua em direção à uma nova cidade)

JÚLIO NARRANDO
Eu a perdi mais uma vez... Sei que o certo era ter a entregado para a polícia, mas não sei se gostaria de vê-la presa. Agora não sei para onde ela foi, não sei se está bem ou se ela mesma se entregou. As investigações continuaram, os dados da perícia realmente mostraram que as digitais encontradas na faca que estava em cima da cama são da Bruna. A polícia agora está investigando, procurando algum parente para onde ela possa ter ido.
Mesmo Roberto sendo o meu melhor amigo, dessa vez eu não poderia contar para ele que ajudei Bruna fugir. Dessa vez esse segredo seria apenas meu e dela. Sete meses se passaram e o caso da morte de Samuel logo foi perdendo importância. Já que a polícia não conseguia nenhuma pista de onde a Bruna esteja. Por um lado, estou feliz que eles não a encontraram ainda. Por outro, estou preocupado querendo acreditar que esteja tudo bem com ela.
Ao menos uma notícia boa estava a caminha, meu neto finalmente vai nascer...

Meses Depois...

[CENA 09 – C.E. RICARDO ALVEZ/ SALA DE AULA/ DIA]
(Júlio está na sala dando aula, quando Roberto aparece na porta ansioso)
ROBERTO – Júlio! Desculpa está atrapalhando sua aula.
JÚLIO – O que foi?
ROBERTO – Cadê o seu celular?
JÚLIO – Tá na minha mochila. Por quê?
ROBERTO – A Lívia te enviou várias mensagens de texto, avisando que ela acabou de entrar em trabalho de parto. (Júlio sorri)
JÚLIO – Sério?
ROBERTO – Sim. Ela mandou o endereço do hospital para o seu celular. (Júlio automaticamente pega seu celular e ler as mensagens de Lívia)
JÚLIO – Eu sei onde fica. Turma, desculpem mas eu tenho que ir. Vocês estão liberados, e não esquecem de responderem a atividade das páginas 256 e 257. (arruma suas coisas apressado e sai da sala com Roberto) Cara, preciso que você me faça um favorzão. Preciso que você pegue algo para mim lá no meu apartamento.
ROBERTO – Pego sim. O que você quiser.

[CENA 10 – HOSPITAL/ SALA DE PARTO/ DIA]
(Lívia está em trabalho de parto, sentindo contrações constantemente. O médico ainda não havia entrado na sala e ela também não quer que seu filho nasça, sem que Júlio esteja com ao seu lado)
LÍVIA – (gemendo, suada) Aguenta mais um pouco filho, vovô está a caminho. (contrações voltam, que a faz gemer mais)

[CENA 11 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ CORREDOR/ DIA]
(Roberto chega ao apartamento, sai do elevador em direção ao de Júlio. No entanto, ele encontra um garoto parado em frente a porta)
ROBERTO – Ei, garoto. Procurando alguém? (o garoto não responde, vira-se para ele e lhe entrega um bilhete. De frente para Roberto, ele percebe que o garoto é autista, pega o bilhete da mão dele e começa a ler)
ISABEL – “Talvez você não se lembre de mim. Tem algum tempo já que eu não ando mais em carnavais. Mas, eu finalmente consegui te encontrar. Eu queria está aí pessoalmente para apresentar vocês, mas não posso. O garoto que está agora na sua frente é seu filho, Roberto! Infelizmente tenho que deixá-lo com você. Não tenho mais condições de cuidar do menino, por se tratar de um garoto especial. Eu fiquei te acompanhando por alguns dias, acredito que atualmente sua condição seja melhor que a minha, então creio que você conseguirá cuidar do seu filho. Ele se chama Lucas, tem 8 anos e gosta de desenhos animados! Aos poucos vocês irão criar laços, e vão se dar bem. Ele é um garoto adorável, educado, gentil. Espero que você cuide bem do nosso filho. O único parente que ele tem agora é você! Um beijo e adeus.” (ao terminar de ler a carta, Roberto olha para Lucas surpreso)

[CENA 12 – RUA/ DIA]
(Júlio está no meio da rua com um trânsito enorme, e olhando frequentemente para o celular. Essa demora toda o deixa nervoso, com receio de que talvez não chegue a tempo para o parto de seu neto)
JÚLIO – (buzina) Anda! Que lerdeza, meu Deus! (olha para o celular novamente) Aguenta mais um pouco, filha. Logo eu chego aí.

[CENA 13 – HOSPITAL/ SALA DE PARTO/ DIA]
(o médico chegou e já iniciou os procedimentos de parto. Lívia estava tentando segurar mais um tempo até seu pai chegar, porém seu filho realmente queria vim para o mundo)
MÉDICO – Vamos lá, Lívia. Seu menino está a caminho! (Lívia começa a gemer mais, sentindo seu filho sair. Uma enfermeira está ao lado dela, segurando sua mão. De acordo que ela gemia mais, ela apertava a mão da enfermeira) Mais um pouco de força, eu já estou vendo ele! (Lívia coloca mais força, seu rosto logo começa a ficar pálido. Com muito esforço, consegue trazer seu filho ao mundo. O médico verifica se o bebê está bem, o faz chorar e depois entrega para um grupo de enfermeira que o limpa. Lívia olha para o grupo de enfermeira, um pouco cansada) Seu menino nasceu. As enfermeiras irão limpá-lo e trarão para você. (Lívia continua olhando para as enfermeiras, seu cansaço quase não a permite permanecer de olhos abertos)
LÍVIA – (sonolenta) Quero ver meu filho... quero meu filho comigo... (Lívia ver uma das enfermeiras trazendo seu filho, e algo peculiar nela chama sua atenção)
BRUNA – Olha seu menino! (exibe a criança para Lívia) Ele é lindo, não é? É a cara do pai!
LÍVIA – (não olhando muito para o filho) Bruna? É você? (ainda meio zonza)
BRUNA – Não se preocupa querida... (se afasta da cama com o garoto) ... eu vou cuidar muito bem do seu filho! (sai da sala com as outras enfermeiras, ainda com a criança no colo)
LÍVIA – Não, espera. Meu filho... Trás meu filho. (Lívia desmaia de tão cansada, que a última coisa que ver, é Bruna saindo da sala com seu filho nos braços)

FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA...

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