JÚLIO NARRANDO:
E estava lá... na minha frente a mulher que eu amava
segurando uma faca ensanguentada de sangue, que minutos atrás ela mesma teria
enfiado no corpo do marido. Do jeito que ela olhava para o marido no chão, ao
redor de uma poça de sangue, percebia que em nenhum momento ela estava
arrependida do que fez. Eu ainda percebia a raiva nos olhos dela. Jamais
acreditaria que ela chegaria a este ponto, não a minha “anja”. Agora eu
precisava escolher um lado! Precisava tomar a difícil decisão de protegê-la ou
de entregá-la.
[CENA 01 – CASA DE RODRIGO/ Q. DE SAMUEL/ NOITE]
JÚLIO – (perplexo) O que você fez, Bruna? (se
aproxima do corpo de Samuel)
BRUNA – (fria) Precisamos esconder o corpo dele.
JÚLIO – Esconder? Não, devemos chamar ambulância,
isso sim.
BRUNA – (caminha até a cama, colocando a faca lá) O
corpo desse verme não tem mais vida. Fiz questão de parar somente quando dele
desse o último suspiro.
JÚLIO – Eu não te reconheço! Não essa Bruna na minha
frente.
BRUNA – (pegando as cobertas da cama) Se você não vai
me ajudar a esconder o corpo, é melhor você ir embora.
JÚLIO – (caminha até ela, impedindo de tirar as
cobertas) Eu não vou deixar que você faça isso. Não vou deixar que estrague
mais a sua vida.
BRUNA – Me larga. (solta as cobertas, se afasta dele,
começa a chorar) Esse monstro merecia. Ele matou meu filho. Ele merecia pagar
com a vida dele por isso.
JÚLIO – Não. Ele merecia ir para cadeia. Lá ele iria
receber a devida punição. Agora isso?
BRUNA – Ele iria para cadeia e alguns anos depois
estaria livre por aí. Pronto para agredir uma próxima criança.
JÚLIO – Não temos como ter certeza.
BRUNA – (se aproxima da cama novamente) Já disse, se
você não vai me ajudar a esconder o corpo, melhor ir embora.
JÚLIO – (se aproxima dela novamente, impedindo-a de
pegar as cobertas) Eu já disse que não vou deixar você fazer isso. (Bruna luta
contra ele, querendo puxar as cobertas, Júlio a abraça) Eu te amo! E não vou
deixar que você estrague sua vida. (Bruna começa a chorar. Os dois ficam
abraçados por alguns segundos)
BRUNA – Ele merecia. Ele merecia pagar com a vida,
por ter tirado meu menino de mim. (se afasta de Júlio)
JÚLIO – Infelizmente terei que chamar a polícia.
(pega seu celular, Bruna limpa as lágrimas, fica séria)
BRUNA – Tudo bem! Não me importo em passar meus
últimos dias na cadeia. Já fiz o que tinha que ser feito. (olha para o corpo do
marido morto no chão)
JÚLIO – (disca para a polícia, porém não coloca para
chamar. Olha para o corpo de Samuel, em seguida olha para Bruna) Vai!
BRUNA – O que?
JÚLIO – Vai embora. Vai antes que eu chame a polícia.
BRUNA – O que você tá falando? Eu já disse, eu não me
importo de ir para cadeia.
JÚLIO – Mas eu sim. (se aproxima dela) Essa seria a
noite em que daríamos uma chance para nós dois. Ela não pode ser a noite em que
verei você sendo presa.
BRUNA – Júlio...
JÚLIO – Por favor, vai embora! Deixa que eu me viro
com o resto.
BRUNA – Não queria te envolver nisso. (se aproxima
dele, o abraça)
JÚLIO – Eu já estou envolvido. Agora vai. (Bruna olha
uma última vez para Júlio, o beija e em seguida sai do quarto. Júlio dar alguns
segundos para Bruna fugir o mais longe possível dali. Volta a olhar para o
corpo de Samuel, olha para o relógio do braço, pega seu celular, disca para
polícia novamente e coloca para chamar)
[CENA 02 – RODOVIÁRIA/ NOITE]
(Bruna vai parar em uma rodoviária. Ela tem algum dinheiro
em sua bolsa, então pensa pegar o primeiro ônibus que estivesse saindo da
cidade. Ela compra a passagem, entra no ônibus, que parte da rodoviária)
[CENA 03 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Roberto continua vendo o filme com Lívia, que está dormindo
ao lado dele)
ROBERTO – (repara em Lívia dormindo, solta um leve
sorriso, levanta-se do sofá, vai até o quarto de Júlio, trás uma coberta e
coloca sobre Lívia. Seu celular toca logo em seguida) Oi, Júlio! Não vai me
dizer que acabou esquecendo algo para sua noite especial com a Bruna. (sério) Você
está onde? Como foi isso? Sim, claro. Estou indo para aí. Tá, beleza. Tchau,
irmão. (desliga e corre apressado para o quarto de Júlio novamente. Minutos
depois, retorna para a sala, direto para a porta da rua. Lívia continua
dormindo)
[CENA 04 – DELEGACIA/ SALA DO DELEGADO/ NOITE]
(Júlio está sendo interrogado pelo o que aconteceu,
aparentemente está tranquilo)
JÚLIO – Eu não sei para onde ela pode ter ido.
DELEGADO – Pelo o que você contou, você foi até a
casa dela, porque ela havia ligado para você?!
JÚLIO – Sim, mas isso foi no final da tarde. Não sei
o que houve em seguida.
DELEGADO – Deixa ver então se eu entendi. Você chegou
até a casa dela, encontrou a porta aberta, decidiu entrar, a procurou pelos
cômodos e acabou encontrando o corpo do marido dela deitado no chão esfaqueado.
JÚLIO – Sim. É isso. Como eu disse não sei o que
aconteceu. E até onde eu sei, o marido dela parecia ser agressivo com ela. Batia
até no filho deles.
DELEGADO – Bem, a perícia está investigando a cena do
crime, assim como as digitais que foram encontradas na faca que estava na cama.
Você por acaso não pegou nessa faca, pegou?
JÚLIO – Não. Quando vi o corpo no chão, chamei
automaticamente a polícia.
DELEGADO – Bem. Então, você tá liberado. Assim que o
resultado da perícia chegar, você pode ser chamado a depor novamente.
JÚLIO – Tranquilo. Boa sorte nas investigações.
(levanta-se e sai da sala)
[CENA 05 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Lívia acorda e repara que Roberto não está mais ao seu
lado. Ver que o filme já havia acabado. Repara na coberta, sorri ao imaginar
que tenha sido Roberto)
[CENA 06 – DELEGACIA/ EXTERNO/ NOITE]
(Júlio está em frente à delegacia aguardando Roberto chegar.
Lembra novamente do momento que ver Bruna em pé ao lado do corpo de Samuel, com
a faca ensanguentada de sangue. Roberto chega, desce do carro, caminha até ele,
que o faz voltar a realidade)
ROBERTO – Que história é essa, cara? Como você veio
parar nessa delegacia?!
JÚLIO – É uma longa. Só quero ir para o meu
apartamento, se não for pedir muito. (sai na frente em direção ao carro,
Roberto só o segue. Os dois entram e partem para o apartamento)
[CENA 07 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Júlio entra primeiro no apartamento, caminha até o sofá,
senta-se nele preocupado. Roberto fecha a porta, se aproxima do amigo e procura
por Lívia que estava dormindo ali)
ROBERTO – Acho que sua filha foi dormir no quarto.
Podemos conversar tranquilos aqui. (senta-se ao lado dele, preocupado por ver o
amigo naquele estado) O que está acontecendo, Júlio?
JÚLIO – (começa a chorar) Por que ela tinha que ter
feito isso!
ROBERTO – Feito o que? Do que você está falando?
JÚLIO – Tínhamos uma segunda chance para aproveitar,
e ela estragou tudo.
ROBERTO – A Bruna? O que ela fez?
JÚLIO – (levanta-se, limpa o rosto) Eu fui até a casa
dela, para falar o que eu sentia. Mas, chegando lá... eu vi o corpo do Samuel
morto no chão.
ROBERTO – (levanta-se surpreso) Morto? A Bruna quem o
matou?
JÚLIO – (confirma com a cabeça) Ela queria vingar a
morte do filho.
ROBERTO – Matando o marido?! Estou surpreso, cara.
Não esperava isso dela. Imagino o que você está sentindo.
JÚLIO – Eu também não esperava que minha “anja” fosse
chegar a isso.
ROBERTO – E onde ela está? Você sabe?
JÚLIO – (pensa em contar a verdade para o amigo, mas
acaba contando a mesma versão que contou para a polícia) Não. Quando cheguei
lá, a porta estava aberta, fui entrando e dê de cara com o corpo de Samuel todo
perfurado.
ROBERTO – Onde será que ela está agora?
JÚLIO – Isso é algo que eu também gostaria de saber.
[CENA 08 – ÔNIBUS/ NOITE]
(Bruna está sentada quase no final do ônibus, com a cabeça
encostada na janela, chorando baixinho. Sua viagem continua em direção à uma
nova cidade)
JÚLIO NARRANDO
Eu a perdi mais uma vez... Sei que o certo era ter a
entregado para a polícia, mas não sei se gostaria de vê-la presa. Agora não sei
para onde ela foi, não sei se está bem ou se ela mesma se entregou. As
investigações continuaram, os dados da perícia realmente mostraram que as
digitais encontradas na faca que estava em cima da cama são da Bruna. A polícia
agora está investigando, procurando algum parente para onde ela possa ter ido.
Mesmo Roberto sendo o meu melhor amigo, dessa vez eu não
poderia contar para ele que ajudei Bruna fugir. Dessa vez esse segredo seria
apenas meu e dela. Sete meses se passaram e o caso da morte de Samuel logo foi
perdendo importância. Já que a polícia não conseguia nenhuma pista de onde a
Bruna esteja. Por um lado, estou feliz que eles não a encontraram ainda. Por
outro, estou preocupado querendo acreditar que esteja tudo bem com ela.
Ao menos uma notícia boa estava a caminha, meu neto
finalmente vai nascer...
Meses Depois...
[CENA 09 – C.E. RICARDO ALVEZ/ SALA DE AULA/ DIA]
(Júlio está na sala dando aula, quando Roberto aparece na
porta ansioso)
ROBERTO – Júlio! Desculpa está atrapalhando sua aula.
JÚLIO – O que foi?
ROBERTO – Cadê o seu celular?
JÚLIO – Tá na minha mochila. Por quê?
ROBERTO – A Lívia te enviou várias mensagens de
texto, avisando que ela acabou de entrar em trabalho de parto. (Júlio sorri)
JÚLIO – Sério?
ROBERTO – Sim. Ela mandou o endereço do hospital para
o seu celular. (Júlio automaticamente pega seu celular e ler as mensagens de
Lívia)
JÚLIO – Eu sei onde fica. Turma, desculpem mas eu
tenho que ir. Vocês estão liberados, e não esquecem de responderem a atividade
das páginas 256 e 257. (arruma suas coisas apressado e sai da sala com Roberto)
Cara, preciso que você me faça um favorzão. Preciso que você pegue algo para
mim lá no meu apartamento.
ROBERTO – Pego sim. O que você quiser.
[CENA 10 – HOSPITAL/ SALA DE PARTO/ DIA]
(Lívia está em trabalho de parto, sentindo contrações
constantemente. O médico ainda não havia entrado na sala e ela também não quer
que seu filho nasça, sem que Júlio esteja com ao seu lado)
LÍVIA – (gemendo, suada) Aguenta mais um pouco filho,
vovô está a caminho. (contrações voltam, que a faz gemer mais)
[CENA 11 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ CORREDOR/ DIA]
(Roberto chega ao apartamento, sai do elevador em direção ao
de Júlio. No entanto, ele encontra um garoto parado em frente a porta)
ROBERTO – Ei, garoto. Procurando alguém? (o garoto
não responde, vira-se para ele e lhe entrega um bilhete. De frente para
Roberto, ele percebe que o garoto é autista, pega o bilhete da mão dele e
começa a ler)
ISABEL – “Talvez você não se lembre de mim. Tem algum
tempo já que eu não ando mais em carnavais. Mas, eu finalmente consegui te
encontrar. Eu queria está aí pessoalmente para apresentar vocês, mas não posso.
O garoto que está agora na sua frente é seu filho, Roberto! Infelizmente tenho
que deixá-lo com você. Não tenho mais condições de cuidar do menino, por se
tratar de um garoto especial. Eu fiquei te acompanhando por alguns dias,
acredito que atualmente sua condição seja melhor que a minha, então creio que
você conseguirá cuidar do seu filho. Ele se chama Lucas, tem 8 anos e gosta de
desenhos animados! Aos poucos vocês irão criar laços, e vão se dar bem. Ele é
um garoto adorável, educado, gentil. Espero que você cuide bem do nosso filho. O
único parente que ele tem agora é você! Um beijo e adeus.” (ao terminar de ler
a carta, Roberto olha para Lucas surpreso)
[CENA 12 – RUA/ DIA]
(Júlio está no meio da rua com um trânsito enorme, e olhando
frequentemente para o celular. Essa demora toda o deixa nervoso, com receio de
que talvez não chegue a tempo para o parto de seu neto)
JÚLIO – (buzina) Anda! Que lerdeza, meu Deus! (olha
para o celular novamente) Aguenta mais um pouco, filha. Logo eu chego aí.
[CENA 13 – HOSPITAL/ SALA DE PARTO/ DIA]
(o médico chegou e já iniciou os procedimentos de parto.
Lívia estava tentando segurar mais um tempo até seu pai chegar, porém seu filho
realmente queria vim para o mundo)
MÉDICO – Vamos lá, Lívia. Seu menino está a caminho!
(Lívia começa a gemer mais, sentindo seu filho sair. Uma enfermeira está ao
lado dela, segurando sua mão. De acordo que ela gemia mais, ela apertava a mão
da enfermeira) Mais um pouco de força, eu já estou vendo ele! (Lívia coloca
mais força, seu rosto logo começa a ficar pálido. Com muito esforço, consegue
trazer seu filho ao mundo. O médico verifica se o bebê está bem, o faz chorar e
depois entrega para um grupo de enfermeira que o limpa. Lívia olha para o grupo
de enfermeira, um pouco cansada) Seu menino nasceu. As enfermeiras irão
limpá-lo e trarão para você. (Lívia continua olhando para as enfermeiras, seu
cansaço quase não a permite permanecer de olhos abertos)
LÍVIA – (sonolenta) Quero ver meu filho... quero meu
filho comigo... (Lívia ver uma das enfermeiras trazendo seu filho, e algo
peculiar nela chama sua atenção)
BRUNA – Olha seu menino! (exibe a criança para Lívia)
Ele é lindo, não é? É a cara do pai!
LÍVIA – (não olhando muito para o filho) Bruna? É
você? (ainda meio zonza)
BRUNA – Não se preocupa querida... (se afasta da cama
com o garoto) ... eu vou cuidar muito bem do seu filho! (sai da sala com as
outras enfermeiras, ainda com a criança no colo)
LÍVIA – Não, espera. Meu filho... Trás meu filho.
(Lívia desmaia de tão cansada, que a última coisa que ver, é Bruna saindo da
sala com seu filho nos braços)
FIM DA PRIMEIRA
TEMPORADA...
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