- COM AMOR –
novela de:
Marcus Vinick e Miguel Rodrigues
escrito com:
Miguel
Rodrigues
Direção
de:
Miguel Rodrigues, Henzo Viturino
Direção
geral de:
Miguel
Rodrigues
-
CAPÍTULO - 29
Personagens
deste capítulo
RICARDO
CRISTINA
ARTHUR
TAYLA
MARINA
AUGUSTO
LÍVIA
WILLIAM
HILDA
(enfermeira part. especial)
KÁTIA
(enfermeira part. especial)
DALILA
(mãe de um paciente part. especial)
GERALDO
(pai de um paciente part. especial)
GAEL (paciente
filho de Dalila e Geraldo part. especial)
ARIEL
MIGUEL
WESLEY
PATRÍCIA
DAVI
GREGÓRIO
EULÁLIA
(empregada de Lívia Villary part. especial)
CENA 01. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DE RICARDO.
INTERIOR. NOITE.
Continuação da penúltima cena do capítulo
anterior. RICARDO tira seu tênis e depois olha para CRISTINA.
RICARDO
- Por que a senhora acha isso?
CRISTINA
- Porque eu notei que ele tem um
jeito meio diferente.
RICARDO
- Ou a senhora está preocupada com
outra coisa?
CRISTINA
- Com o que eu estaria preocupada?
RICARDO
- Comigo. A senhora deve estar
estranhando a minha amizade com ele.
CRISTINA
- Não, eu não estou estranhando nada.
Você sabe que eu não sou preconceituosa. É que você não fala sobre seus amigos,
não me fala sobre a sua vida... A sua vida pessoal.
RICARDO
- E eu achava que a senhora tivesse
ideia da minha vida pessoal, ou melhor, da minha vida sexual.
CRISTINA fica quieta por alguns segundos.
CRISTINA
– (T: prossegue) Eu já imaginava. Só que você nunca tinha me falado
nada.
RICARDO
- Porque eu achei que não fosse
preciso. O meu pai já sabia.
CRISTINA
- Qual deles?
RICARDO
- O Fernando.
CRISTINA
- O Fernando já sabe? Mas como ele
reagiu?
RICARDO
- Na época, eu era adolescente... Mas
nossa relação nunca mudou. Ao contrário, ficou até bem melhor porque ele me
respeita e o amor que ele sente por mim é o mesmo.
CRISTINA
- A nossa relação também não vai
mudar em nada. E você gosta mesmo do Davi?
RICARDO
- O pior é que eu estou gostando
dele.
CRISTINA
- Mas isso é bom, não é?
RICARDO
- É muito bom. Ele é um garoto
especial. Apesar de que ele sente inseguro comigo.
CRISTINA
- Eu até já imagino o porquê. Eu
tenho que confessar que também não me sentiria segura no lugar dele. Mas ele
tem que confiar, afinal você é muito especial também e jamais o magoaria.
RICARDO
- É, ele tem que confiar em mim.
CRISTINA
- Mas agora voltando ao que você
estava falando anteriormente...
RICARDO
- A viagem?
CRISTINA
- Sim. Pra onde vocês vão?
RICARDO
- Vamos pra Búzios.
CRISTINA
- Já faz um bom tempo que não vou pra
Búzios. Que saudade! E quando vocês irão mesmo?
RICARDO
- Amanhã à noite. Só que eu vou
sozinho.
CRISTINA
- Sozinho?
RICARDO
- É que já devíamos viajar há alguns
dias atrás e aí alugamos dois quartos em um hotel. Só que como não fomos, há um
prazo e podemos acabar perdendo as vagas.
CRISTINA
- E por que você não vai durante o
dia com seus amigos?
RICARDO
- Porque eu tenho um compromisso
amanhã e não posso faltar de jeito nenhum.
CRISTINA
- Viajar à noite, por essas
estradas...
RICARDO
- Búzios é ali, praticamente.
CRISTINA - Mas mesmo assim, Ricardo...
RICARDO
- Mãe, não fique preocupada. Não vai acontecer
nada comigo. E se tiver que acontecer, vai acontecer!
CRISTINA
- Vire essa boca pra lá!
RICARDO
- Vai dizer que eu não tenho razão?
Quando eu já tiver chegado lá, eu te ligo, mando mensagem, faço qualquer coisa
para que a senhora fique tranquila. Já estou percebendo o seu nervosismo desde
agora.
CRISTINA
- Não acho certo você ir viajar à
noite.
RICARDO
- Juro que se eu sofrer um acidente e
morrer, o meu espírito sempre estará com a senhora.
CRISTINA
- Não fale besteiras!
RICARDO
- Então não fique preocupada.
CRISTINA
- Não tem como eu não ficar
preocupada.
RICARDO
- Então arranje um jeito. Agora eu
vou tomar um banho, mãe.
RICARDO beija
o rosto de CRISTINA. CRISTINA fica o olhando por alguns segundos e, logo em
seguida, se retira do quarto.
CORTA
PARA:
CENA 02. AP DOS FONTINELLY VILLARY. QUARTO DO
CASAL. INTERIOR. NOITE.
ARTHUR está deitado. Lê um livro. TAYLA aparece. Fica
o fitando por uma questão de segundos, depois pega o travesseiro de ARTHUR.
ARTHUR
- O que está fazendo com o meu
travesseiro, Tayla?
TAYLA - Você não vai dormir aqui, comigo.
ARTHUR - Como assim? Eu só posso estar sonhando.
TAYLA - Não há clima para eu me deitar ao
seu lado.
ARTHUR - Você está querendo brigar comigo
novamente.
TAYLA - Só não quero dormir ao seu lado.
ARTHUR - (revoltado) E onde eu vou dormir?
TAYLA - No quarto de hóspedes, que nunca foi
usado.
ARTHUR - Já que nunca foi usado, eu faço questão
que você o estreie.
TAYLA - Você está me mandando ir pro quarto
de hóspedes?
ARTHUR - Você é quem me mandou ir pra lá, mas
acontece que eu não estou a fim. Vá, você!
TAYLA - Eu vou mesmo. Será bem melhor do que
ficar ao seu lado pelo resto da noite.
TAYLA pega seu travesseiro. Retira-se revoltada.
CORTA
PARA:
CENA 03. AP DE MARINA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Sentada no sofá, Marina lê um livro. Degusta uma
taça de vinho. Após alguns minutos, ela perde a atenção na leitura e fecha o
livro com um pouco de inquietação. Ela se lembra-se de algumas palavras de seu
pai.
FLASH BACK
GUILHERME - A
solidão sempre foi o meu pior medo. E é assim que eu me sinto hoje: solitário.
Entregue ao medo.
Voltamos para MARINA.
Ela deita-se no sofá e fica pensativa por alguns segundos.
CORTA
PARA:
CENA 04. AP DOS FONTINELLY VILLARY. QUARTO DE
HÓSPEDES. INTERIOR. NOITE.
Durante o sono, TAYLA não para nenhum instante de
se remexer na cama. ARTHUR abre a porta do quarto e percebe que a esposa está
passando por um pesadelo.
ARTHUR - (sacode a esposa) Tayla!
TAYLA acorda sobressaltada e abraça fortemente ARTHUR.
TAYLA
- (ofegante) Arthur...
ARTHUR
- (alisa os cabelos de Tayla) Calma!
Foi apenas um pesadelo.
TAYLA - Ainda bem que você me acordou. Foi
terrível!
ARTHUR - Fique calma! Você deve ter tido esse
pesadelo porque não está acostumada a dormir aqui. Vamos pro nosso quarto.
TAYLA - Você mesmo me mandou vir pra cá.
ARTHUR - Não vamos discutir novamente, por
favor, Tayla?
Eles ficam se olhando fixamente por alguns
segundos.
TAYLA - Vamos!
ARTHUR - Espere.
TAYLA - Esperar o quê?
ARTHUR toca o rosto de TAYLA. Fica a fitando
admirado.
ARTHUR - Você é tão linda!
TAYLA - Vamos pro nosso quarto, Arthur, eu
quero dormir descansada.
ARTHUR - Vamos fazer as pazes?
TAYLA - Do que adianta se amanhã ou depois
voltaremos a discutir novamente? O nosso casamento está virado apenas disso:
brigas e mais brigas.
ARTHUR
- Só que eu te amo muito.
TAYLA - Eu também ainda gosto muito de você.
ARTHUR - Por que não diz que me ama também?
TAYLA - Quantas vezes eu já não lhe disse
isso?
ARTHUR - Só que eu quero que você a dizer.
TAYLA - Você só pode estar maluco. (Tayla levanta-se. Arthur também se levanta,
a pegou pela cintura e começa a beijá-la no pescoço. Ela continua) Me
solte, Arthur!
ARTHUR - Vamos ficar em paz e passar uma noite
juntos como não já não passamos há um bom tempo. Eu estou com tantas saudades
do seu corpo.
TAYLA - Não há clima.
ARTHUR - Por favor, Tayla, dê uma chance pra nós
dois?
ARTHUR a beija longamente e, em seguida, a deita na
cama e TAYLA se entrega mesmo sem sentir nada.
CORTA
PARA:
CENA 05. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO DO CASAL.
INTERIOR. NOITE.
AUGUSTO está deitado. LÍVIA está sentada em frente
a pequena bancada. Mantém seu olhar ao
reflexo no espelho.
AUGUSTO - Não vai se deitar?
LÍVIA - Não.
AUGUSTO - Ainda está brava comigo?
LÍVIA - Não é isso, Augusto.
AUGUSTO - Então venha deitar, Lívia, já está muito
tarde.
LÍVIA - Eu estou preocupada com o meu
filho.
AUGUSTO - (irritado) Ele já não está internado?
LÍVIA - (vira-se para Augusto) Eu fico
pensando em como ele irá reagir ao tratamento.
AUGUSTO - Você diz isso como se ele tivesse uma
doença muito grave.
LÍVIA - É uma doença grave.
AUGUSTO - Para você que gosta de um drama.
LÍVIA - Você não está nenhum um pouco se
importando com o nosso filho. Ele está começando uma fase nova na vida dele e
você não está nem aí, não quer dar nenhum apoio a ele.
AUGUSTO - Depois daquele escândalo que ele fez
naquela noite, você ainda acha que eu tenho que apoiá-lo?
LÍVIA - Ele é o seu filho também.
AUGUSTO - Só que eu tenho vergonha na minha cara.
LÍVIA - Você está querendo dizer que eu
não tenho vergonha por estar ajudando o meu próprio filho?
AUGUSTO - Entenda como quiser, Lívia. Tenho que
dormir agora, eu estou muito cansado. Trabalhei muito hoje, ao contrário de
você que vive em casa e só sabe se render ao William.
LÍVIA - Você diz isso como se ele não
fosse o nosso filho.
AUGUSTO - Você queria engravidar novamente, eu não
queria outro filho. A verdade é que o William nasceu para substituir um lugar
que não era dele.
LÍVIA - Isso não é verdade.
AUGUSTO - É verdade, sim! Você engravidou pensando
que ele fosse substituir o Nícolas.
LÍVIA - O Nícolas foi tirado de mim.
AUGUSTO - A sua obsessão era tanta que as primeiras
roupinhas de bebê do William foram as do Nícolas.
LÍVIA - O meu filho foi tirado de mim.
AUGUSTO - Tudo por causa da sua irresponsabilidade.
LÍVIA - Não...
AUGUSTO - Vai dizer que eu estou mentindo? Você
contratou aquela babá para cuidar de nosso filho e, mesmo sabendo que ela agia
de forma estranha, você deixou que ela continuasse trabalhando conosco e
cuidando do nosso filho. Você foi tão idiota de ter confiado nela.
LÍVIA - (não contém as lágrimas) Eu jamais
pude imaginar...
AUGUSTO - Se eu fiquei sem o meu filho, a culpa é
sua! Eu tanto desejei a vinda dele... E aí ele desapareceu. Logo depois, você
ficou doente. Você já estava ficando maluca. E então, de uma hora para outra,
decidiu que tinha que engravidar... E eu aceitei... O William nasceu, cresceu
rebelde e se tornou esse vagabundo, bêbado.
LÍVIA - Não fale assim dele.
AUGUSTO - (continua) Ele só nos deu problemas até
agora. E vai continuar dando. Mas eu garanto que o Nícolas jamais teria me dado
todo esse tormento, ao contrário, ele iria ser o meu orgulho.
LÍVIA levanta-se. Abre a porta e retira-se. AUGUSTO
não contém as lágrimas, mas logo as enxuga rapidamente.
CORTA
PARA:
CENA 06. STOCK-SHOTS. TAKES DO RIO DE JANEIRO. DIA
SEGUINTE.
Amanhece.
CENA 07. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. QUARTO. INTERIOR.
DIA.
A porta se abre. WILLIAM vê que é uma enfermeira.
Ela traz uma bandeja farta com o café.
HILDA - Você deve estar com fome. Fiquei
sabendo que você não quis jantar, ontem à noite.
WILLIAM
- E continuo sem fome.
HILDA - Você é um jovem e bonito, não pode
ficar sem se alimentar corretamente.
WILLIAM - Tire essa bandeja daqui.
HILDA - Faça um esforço, por favor?
WILLIAM - (girta revoltado) Tire essa bandeja
daqui! (Ele pegou a bandeja e atirou no
chão) Vá embora!
A enfermeira fica o olhando espantada. Outra
apareceu rapidamente, olha a sujeira que o paciente havia causado e o fita.
KÁTIA - Daqui a pouco, você terá sua
primeira sessão de psicoterapia.
WILLIAM - Psico, o quê? Eu não vou ter sessão
nenhuma, eu quero ir embora.
KÁTIA - Você não pode ir embora agora.
WILLIAM - Eu já sou maior idade há muito tempo,
vocês não podem me prender aqui.
KÁTIA - Ninguém está te prendendo.
WILLIAM - Então por que a porta estava trancada?
KÁTIA - Tudo que fizemos é para o bem de
nossos pacientes.
WILLIAM - Eu já estou enjoado dessas palavras
confortadoras de vocês. A minha vontade é de vomitar na cara de cada um de
vocês.
KÁTIA - Você tem que colaborar e ser forte.
WILLIAM - Eu tenho que ser forte, sim. Eu tenho
que ser forte pra aguentar essas caras.
WILLIAM afasta-se. Fica virado para a janela que
está fechada.
CORTA
PARA:
1°
INTERVALO COMERCIAL
CENA 08. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. CORREDORES.
INTERIOR. DIA.
Quando já está sendo encaminhado pela enfermeira à
psicoterapia, WILLIAM parou ao ver um casal abraçando e conversando com um
jovem paciente.
DALILA
- (emocionada) Já podemos ir pra
casa, meu filho.
GERALDO
- Você não sabe o quanto estou alegre
em ter ver bem, meu filho.
GAEL
- O tratamento me ajudou e
muito. Quero agradecer por vocês jamais terem me abandonado. E também quero
dizer que sou muito mais feliz sem as drogas.
DALILA
- (toca o rosto do filho) Você
poderá viver em paz.
O casal
abraça o filho novamente e assim ficaram por alguns instantes.
KÁTIA
- (para William) Vamos?
WILLIAM a acompanha, mas não consegue tirar os
olhos daquela família.
CORTA
PARA:
CENA 09. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ESCRITÓRIO. INTERIOR.
DIA.
TAYLA dá alguns goles no café enquanto olha para
MARINA.
TAYLA - Marina, você está tão quieta hoje?
MARINA - Por incrível que pareça, nem mesmo eu
tinha notado.
TAYLA - É por causa do Arthur?
MARINA - Tayla, você acha mesmo que eu iria
ficar assim por causa do Arthur? Só se eu estivesse ficando louca. Nem você
deve ficar assim por ele.
TAYLA - O pior é que eu fico, às vezes. Mas
por que você está assim?
MARINA - Eu estava pesando na minha vida.
TAYLA - Hum...
MARINA - Eu tenho medo de ficar sozinha.
TAYLA
- Medo de ficar sozinha?
MARINA - É, é isso mesmo que você acabou de
ouvir.
TAYLA - Mas em que sentido?
MARINA - (a fita seriamente) Você ainda
pergunta?
TAYLA - Mas você está sozinha porque quer.
MARINA - Não, não é por causa disso.
TAYLA - Marina, o que nunca lhe faltou são
pretendentes. Você é uma mulher bonita, inteligente...
MARINA - Ainda não apareceu alguém que me
complete, esse é o problema.
TAYLA - O problema é que você nunca se
deixou levar por ninguém.
MARINA - E nem devo.
TAYLA - Eu estou falando em relação aos
sentimentos. Você nunca se entregou por inteiro em uma relação. Você nunca se
deixou levar pela emoção do momento, entende?
MARINA - Deixe esse assunto para outro momento.
Agora vamos voltar ao o que eu estava falando anteriormente. Como eu estava te
dizendo, eu tenho medo de ficar sozinha. Acho que isso ocorre porque o meu pai
se sentia solitário. Depois que... que aquela mulher o abandonou...
TAYLA - A sua mãe.
MARINA - Eu não a considero como minha mãe,
você sabe muito bem disso. Depois que ela abandonou o meu pai, ele nunca mais
se deixou levar por nenhuma mulher, nunca teve um relacionamento firme. Uma
vez, ele me disse que o pior medo dele era a solidão e que ele havia se
entregado ao medo.
TAYLA - E você tem medo que a mesma coisa
ocorra com você?
MARINA - Deve ser isso.
TAYLA - Marina, você foi abandonada pela sua
própria mãe. Você tinha apenas quatro anos e é algo que te deixou traumatizada.
Eu acredito que você esteja refletindo esse seu trauma quando se envolve com
algum homem e acaba não dando certo.
MARINA - Como assim?
TAYLA - Acredito que você tenha medo de amar
alguém, como o seu pai deve ter amado a sua mãe, e aí você acaba criando o
receio de ser abandonada também, de passar por algo que você viu seu pai passar
e que você passou junto. Você sofreu mais do que ele, isso eu posso garantir.
MARINA - Você tem razão.
TAYLA - Por que não procura um psicólogo?
MARINA - Eu não preciso de um psicólogo, eu
tenho você.
TAYLA dá um sorriso e MARINA também.
TAYLA - Eu sou sua prima e, acima de tudo,
sou sua melhor amiga...
MARINA - A única que eu tenho, inclusive.
TAYLA - Mas acho que você precisa superar
tudo isso. É claro que a dor de ter sido abandonada pela sua mãe jamais irá
passar, mas pelo menos irá aliviar e você poderá seguir sua vida sem esses
receios. Então eu recomendo que você procure um psicólogo. É essencial.
MARINA - Eu vou pensar nisso.
TAYLA - Pense com bastante atenção e
compreensão.
MARINA - (sorri novamente) Está certo. (t) E
você, como está?
TAYLA - Eu e o Arthur transamos.
MARINA - Então vocês já fizeram as pazes?
TAYLA - Já não digo mais que está tudo bem,
digo que está tudo tranquilo por enquanto.
MARINA - E como foi?
TAYLA - Não foi como as outras vezes.
MARINA - Acho que estou te entendendo.
TAYLA - Eu não senti exatamente nada. Ao
contrário: eu torcia para que acabasse de uma vez.
MARINA - Quando chega a essa situação é porque
nada mais é como antes e não tem mais volta.
TAYLA - É isso que está me incomodando de
certa forma. Ontem à noite, eu tive a prova concreta de que eu não amo mais o
Arthur.
MARINA - Não é melhor acabar com esse casamento
de uma vez?
TAYLA - Eu já dei a entender ao Arthur que
eu quero isso, mas... Eu nem sei como te explicar. Às vezes, eu acho que tenho
que repensar um pouco.
MARINA - E eu confesso que estou tentando te
entender, afinal não há motivo para você repensar algo que já devia ter
acontecido há uns bons meses. Nem filhos vocês tiveram, ou seja, não há o que
repensar mesmo.
TAYLA - Uma vez, a Lívia me disse que toda
separação é difícil, até mesmo quando não envolve filhos. E, de certa forma, eu
concordo com o que ela me disse.
MARINA - Eu já não penso dessa forma. Acho que
quando uma relação não está bem e as coisas parecem que não vão melhorar, o
melhor é a separação, mesmo que o casal tenha filhos ou não. Aliás, isso já
ocorre e não é de hoje.
TAYLA - Você não está me entendendo, Marina.
MARINA - Eu estou tentando, mas confesso que
não estou conseguindo. Se eu fosse você, me separava do Arthur hoje mesmo e
iria viver minha vida.
TAYLA - Você diz isso como se as coisas
fossem tão fáceis assim.
MARINA - A maioria das coisas são fáceis, as
pessoas é que as tornam complicadas.
TAYLA - É uma pena que eu não tenho a sua
mente.
MARINA - É uma pena mesmo.
TAYLA toma mais um gole de café e MARINA a
acompanha.
CORTA
PARA:
CENA 10. STOCK-SHOTS. TAKES DE NOVA YORK.
Sucessão de imagens das belas paisagens da cidade
de Nova York como um cartão postal. As imagens são mostradas ao som de uma
musica ambiente. Câmera percorre toda Nova York até chegarmos a um prédio, o
qual percebemos que é um cartório.
CORTA
IMEDIATO PARA:
CENA 11. NOVA YORK. CARTÓRIO. INTERIOR. DIA.
Um grande artista internacional das artes assina o
seu segundo divórcio. A imprensa nova-iorquina acompanhou todo o processo.
Muitos flashes dos fotógrafos, registram o acontecimento.
CORTA
IMEDIATO PARA:
CENA 12. AP DE MIGUEL. SALA. INTERIOR. DIA.
Ao chegar a seu imenso e luxuoso apartamento, MIGUEL
tira o cachecol e se joga no sofá. Ariel aparece e fica observando o amigo.
Quebra o silêncio.
ARIEL - Eu estou há tantos anos ao seu
lado. Já perdi as contas de com quantas mulheres você já se relacionou. Mas
tenho certeza de algo: hoje, você assinou o seu segundo divórcio. Mais um
casamento que não deu certo. Terá o terceiro para formar um trilogia?
MIGUEL - (sorri) Você é muito irônico.
ARIEL - Você está se sentindo bem?
MIGUEL - Como sempre. Agora nós temos outra
coisa pra tratar, meu caro.
ARIEL - A sua volta ao Brasil, eu já estava
imaginando.
MIGUEL - Será a primeira exposição que irei
levar pra lá e a última de minha carreira.
ARIEL - A última?
MIGUEL - Sim. A última.
ARIEL - (chateado) Você não tinha me falado
sobre isso, Miguel.
MIGUEL - Mas estou te falando agora. Eu sei que
você deve estar surpreso, afinal passamos mais de vinte anos vivendo todo esse
deslumbre, dando exposições, viajando pelo mundo em turnê... Mas isso tudo está
chegando ao fim.
ARIEL - Você é muito jovem pra se
aposentar.
MIGUEL - Eu já estou cansado. A pintura passara
de “minha vida” para um hobby.
ARIEL - Os grandes artistas mortos devem
estar se remexendo debaixo da terra. Eles jamais concordariam com esse seu
pensamento. Tiveram artistas que pintaram até a morte.
MIGUEL - Só que eu decidi não viver apenas pra
arte, eu quero viver minha vida de outra forma. Eu já disse que não vou
abandonar a pintura, apenas não irei mais trabalhar oficialmente com isso. (Ariel balançou a cabeça negativamente e se
retirou. Miguel continua) Você pode até ficar emburrado agora, mas não por
muito tempo. O Brasil nos espera e temos que acertar alguns detalhes.
MIGUEL balança a cabeça. Dá um sorriso.
CORTA
PARA:
CENA 13. STOCK-SHOTS. TAKES DO RIO DE JANEIRO.
Sucessão de imagens em
ritmo frenético acompanhado por uma música ambiente. Damos um giro pela cidade
do Rio de Janeiro, até chegarmos ao bairro do Leblon, onde nos aproximamos da
fachada da casa de WESLEY.
CORTA IMEDIATO PARA:
CENA 14. LEBLON. CASA DE WESLEY. FACHADA. EXTERIOR.
DIA.
PATRÍCIA coloca sua mochila no porta-bagagens do
carro de WESLEY.
WESLEY - Coloca aí pra mim também.
PATRÍCIA - Eu não sou sua empregada.
WESLEY - Você estará apenas me fazendo um favor,
gatinha.
PATRÍCIA pega a mochila de WESLEY e coloca ao lado
da sua.
PATRÍCIA - E o Davi?
WESLEY - Ele já está chegando.
DAVI aparece com um leve sorriso no rosto.
DAVI - E aí?
WESLEY - (brinca) Ainda bem que você já chegou.
A Patrícia falou que já não aguentava mais te esperar e que já estava com
vontade de ir pra Búzios sem você junto.
PATRÍCIA - (séria) Esse palhaço está mentindo,
Davi.
DAVI - Eu sei disso. Não briguem, por
favor?
DAVI coloca sua mochila no porta-bagagens.
WESLEY - (olhando para Patrícia) Ansiosa pela
viagem, Patrícia?
PATRÍCIA - Muito ansiosa.
WESLEY - Até já imagino o motivo.
PATRÍCIA - Se você já imagina, trate de ficar na
sua!
WESLEY - Eu queria que você estivesse ansiosa
por minha causa.
PATRÍCIA - Você sabe muito que eu pretendo ficar com
o Ricardo lá, em Búzios.
Ao ouvir PATRÍCIA falar aquilo, DAVI fica enciumado
e disfarça ao perceber que tinha que se conter já que ninguém precisava saber
de seu envolvimento com Ricardo.
WESLEY - (indignado) Aí você fica com o Ricardo,
enquanto eu e o Davi ficamos “chupando dedo” e “segurando vela” pro casalzinho.
PATRÍCIA - (brinca) Por que vocês não formam um par
também?
WESLEY - Está me estranhando, Patrícia?
PATRÍCIA - (sorri) Não se sinta ofendido.
Os três entram no automóvel.
WESLEY - (sorri) Partiu, Búzios!
WESLEY liga o motor e acelera. PATRÍCIA deita a
cabeça na janela e da um sorriso ao se passar alguns pensamentos por sua mente.
DAVI se mantém calado e pensativo.
CORTA
PARA:
CENA 15. STOCK-SHOTS. TAKES DO RIO DE JANEIRO.
Anoitece.
CENA 16. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. QUARTO. INTERIOR.
NOITE.
WILLIAM tenta levantar o vidro da janela, mas está
emperrado. Com um pouco mais de esforço, ele acaba conseguindo. Em seguida, abre
janela e fica olhando para baixo. Parece ser um pouco alto para o que estava
pensando em fazer.
WILLIAM
- (para si) Vale a pena arriscar.
WILLIAM se dependura na janela. Senta-se. Fica
olhando mais um pouco para baixo. Após alguns segundos, atira-se. Cai no chão. Sente
uma dor na perna. Levanta-se com um pouco de dificuldade. Caminha. Vê que um
carro está preste a sair pelo portão. Tenta correr para conseguir a fuga
através do portão que está aberto. WILLIAM quase é atropelado. O motorista para
e buzina. WILLIAM não dá atenção e consegue a fuga.
CORTA
PARA:
CENA 17. CASA DOS BOAVENTURA. ENTRADA. EXTERIOR.
NOITE.
RICARDO termina de arrumar suas coisas no
porta-bagagens de seu carro. GREGÓRIO e CRISTINA se despedem de RICARDO.
CRISTINA - Vá com Deus, meu filho!
RICARDO - Obrigado, mãe!
GREGÓRIO - (sério) Ligue quando chegar, por favor?!
RICARDO - Pode ficar tranquilo, pai... Até domingo
à tarde!
GREGÓRIO - Tchau!
RICARDO entra em seu carro. Liga o motor. Acelera e
dá a partida. GREGÓRIO e CRISTINA entram. Atravessam o jardim da casa. Entram
em casa.
CORTA
PARA: SALA
GREGÓRIO fecha a porta. Fita a esposa.
GREGÓRIO
- Ainda está nervosa, Cristina?
CRISTINA - Muito. Não estou com uma boa intuição.
GREGÓRIO - Pare!
CRISTINA - Mas o que eu posso fazer, Gregório? É
preocupação de mãe.
GREGÓRIO abraça fortemente CRISTINA.
CORTA
PARA:
CENA 18. MANSÃO DOS VILLARY. COPA. INTERIOR. NOITE.
LÍVIA entra na copa. Parece estar preocupada,
pensativa. EULÁLIA a observa.
EULÁLIA - Dona Lívia, a senhora não está se
sentindo bem, já pude perceber.
LÍVIA - Já não era pra você ter ido pra
casa, Eulália?
EULÁLIA - Ainda não está na hora... Mas a senhora
não está preocupada com isso. A senhora está preocupada com o William.
LÍVIA - Preocupação de mãe.
EULÁLIA - Eu entendo a senhora.
LÍVIA - Os seus filhos tem que idade?
EULÁLIA - A minha menina tem vinte anos e meu
menino tem dezessete. Ele é quem me dá mais preocupação: não gosta de estudar.
Já a minha menina está lutando pra ser alguém na vida.
LÍVIA dá um leve sorriso. Continua preocupada com WILLIAM.
CORTA
PARA:
CENA 19. RIO DE JANEIRO. AVENIDA. EXTERIOR. NOITE.
WILLIAM caminha pela calçada de uma avenida. Ele
carrega uma garrafa de cachaça. A ergue toda vez que cantarola o verso de uma
música. Está totalmente embriagado. O rapaz desceu da calçada...
CORTA
IMEDIATO PARA:
CENA 20. RIO DE JANEIRO. AVENIDA. EXTERIOR. NOITE.
RICARDO dirige por uma avenida. Está pouco
movimentada, pois a hora do pique já havia passado. Ao ver uma pessoa no meio
do trânsito, ele freia o carro bruscamente, mas a atitude é inútil. A pessoa é
atropelada sendo jogada há alguns metros. Congela no rosto de “RICARDO”
assustado.
CORTA
PARA:
FIM
DO CAPÍTULO 29
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