Memória DNA | Com Amor | Capítulo 30 (3ª Fase)



COM AMOR

Novela de
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

CAPÍTULO 30

Direção
Miguel Rodrigues

Direção geral
Miguel Rodrigues
Henzo Viturino

Núcleo
DNA – Dramaturgia Novos Autores

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO


RICARDO
CRISTINA
GREGÓRIO
AUGUSTO
ARTHUR
TAYLA
MARINA
FERNANDO
LÍVIA
PATRÍCIA
WESLEY
DAVI
ALMIR ALBUQUERQUE (participação especial)
MARIDO DE ALMIR (participação especial)
EXECUTIVOS (figuração jantar)
POLICIAL (participação especial)
GARÇONS (figuração jantar)

CENA 01. RIO DE JANEIRO. AVENIDA. EXTERIOR. NOITE.
Continuação da última cena do capítulo anterior. Apavorado com o que acabara de ocorrer, RICARDO fica segurando o volante enquanto respira ofegante. Após um minuto, ele toma coragem. Sai do carro com as pernas bambas e tremendo de nervosismo. De longe, ele fica olhando o corpo que está atirado no meio da pista. O rapaz pega seu celular e comunicou a polícia.

RICARDO      – (nervoso) Por favor, eu preciso de ajuda! Eu acabei de atropelar uma pessoa. Eu acho que ela está morta...

RICARDO desliga o celular. Está desesperado. Deixa escorrer algumas lágrimas.
CORTA PARA:

CENA 02. STOCK-SHOTS. RIO DE JANEIRO.
Sucessão de imagens da cidade do Rio de Janeiro à noite. Acompanhamos as imagens em ritmo frenético embalada por uma música ambiente. O ritmo em vemos as imagens tem que dá impressão de horas passando. Alguns minutos depois. Percorremos toda a cidade até irmos ao Recreio dos Bandeirantes, onde mostramos a fachada da casa da família Boaventura. Vemos que as luzes ainda estão acesas.
CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 03. CASA DOS BOAVENTURA. SALA. INTERIOR. NOITE.
GREGÓRIO está ao telefone. CRISTINA está ao seu lado. Parece preocupada. GREGÓRIO desliga o telefone. Respira fundo.

CRISTINA     - (desesperada) O que aconteceu com o meu filho?

GREGÓRIO   - O Ricardo está em uma delegacia.

CRISTINA     - Em uma delegacia? Mas o que aconteceu? Diga, Gregório!

GREGÓRIO   - Você tem que ficar calma, Cristina.

CRISTINA     - Não tem como eu ficar calma, eu estou preocupada com o meu filho.

GREGÓRIO   - Ele atropelou um homem.

CRISTINA     - O quê?

GREGÓRIO   - Nós temos que ir pra delegacia.

CRISTINA     - Como aconteceu?

GREGÓRIO   - O Ricardo não me explicou direito, ele estava muito nervoso pelo telefone. Está chorando, desesperado.

CRISTINA     - Eu só vou pegar a minha bolsa.

GREGÓRIO   - Quer que eu ligue pro Fernando?

CRISTINA     - Faça isso por mim, por favor? Eu estou muito nervosa.

CRISTINA caminha de um lado para o outro na sala. GREGÓRIO disca o número de FERNANDO.
CORTA PARA:

CENA 04. RESTAURANTE HOTEL CIPRIANI. COPACABANA PALACE. INTERIOR. NOITE.
No Copacabana Palace. AUGUSTO participa de um jantar especial que estava sendo oferecido para os executivos de sua empresa e para empresário da multinacional com quem havia fechado acordo.

AUGUSTO    - Que bom que você já chegou!

ARTHUR       - Desculpe o atraso.

AUGUSTO    - Teria problema se você tivesse chegado depois que Almir Albuquerque.

ARTHUR       - Ele não suporta atrasos?

AUGUSTO    - Não. Só ele pode chegar atrasado, mas não admite que ninguém cometa o mesmo.

ARTHUR       - Não teria problema se eu chegasse atrasado, afinal não faço parte de nada disso aqui.

AUGUSTO    - Você é meu irmão e, além disso, é meu advogado.

ARTHUR       - Por que não trouxe sua esposa?

AUGUSTO    - Eu e a Lívia nos desentendemos.

ARTHUR       - Ah, normal!

AUGUSTO    - Não tão normal quanto você e sua esposa que vivem de desentendimentos.

ARTHUR       - Eu e a Tayla fizemos as pazes novamente. O que uma noite de amor não faz?

AUGUSTO    - Não é uma noite de sexo que irá fazer com que vocês fiquem em paz pra sempre.

ARTHUR       - Uma noite de amor, eu digo novamente.

AUGUSTO    - Uma noite de sexo, eu corrijo. Ora, uma noite de amor... Nem sei porque tem gente que ainda usa esse termo.

ARTHUR balança a cabeça negativamente, mas prefere não prolongar o assunto.

ARTHUR       - O Almir Albuquerque chegou.

AUGUSTO olha o grande empresário.  Dá um sorriso.

AUGUSTO    - Quem será aquele o acompanhando?

ARTHUR       - Achei que você soubesse tudo sobre a vida do mais novo parceiro de negócios.

AUGUSTO    - O que você está querendo me dizer, Arthur?

ARTHUR       - Que aquele homem ao lado do grandioso Almir Albuquerque é marido dele.

AUGUSTO    - (espantado) Marido?

ARTHUR       - Por que o espanto? Hoje em dia, é muito normal se ver casais homoafetivos.

AUGUSTO    - Mas eu jamais pude imaginar que...

ARTHUR       - É algo tão normal. Não vai cumprimentar o “destaque” da noite?

AUGUSTO    - Vou ter que ir.

ARTHUR       - (sorri) Engula o seu preconceito, coloque um sorriso nesse rosto e vá em frente.

AUGUSTO o fita seriamente, depois sorri. Vai em direção ao renomado empresário.
CORTA PARA:

CENA 05. AP DE MARINA. SALA. INTERIOR. NOITE.
A campainha toca. MARINA atravessa a sala em direção à porta. MARINA abre a porta. Dá um sorriso ao TAYLA segurando uma garrafa de vinho e uma pizza encomendada.

TAYLA          - (já entrando) Vim fazer companhia a você.

MARINA        - Você não disse que viria.

TAYLA          - Vai receber alguma visita?

MARINA        - Não.

TAYLA          - Então eu não devia ter avisado.

MARINA        - E o Arthur?

TAYLA          - O Arthur foi acompanhar o irmão em um jantar importante com o dono da multinacional.

MARINA        - Mas esse não é papel da esposa?

TAYLA          - A Lívia não gosta desse tipo de coisa.

MARINA        - E nem você.

TAYLA          - Muito menos eu... Vamos comer?

MARINA        - Vamos! Eu estou morrendo de fome e não tenho nada na geladeira.

TAYLA          - Se esqueceu de fazer as compras do mês?

MARINA        - Eu moro sozinha. Eu já estava acostumada a encomendar uma pizza ou fazer um lanche.

TAYLA          - Você tem que se alimentar direito.

MARINA pega duas taças. As coloca em uma mesinha que ficava entre os sofás. Depois, ela se senta no tapete ao lado de TAYLA.

TAYLA          - (continua) Eu adoro esse apartamento.

MARINA        - É mesmo?

TAYLA          - (brinca) Sim. Vamos trocar?

MARINA        - Nem pensar! Aquele onde você mora é grande demais.

TAYLA          - Você é quem acha. E também, quando você se casar e tiver filhos, não poderá continuar vivendo aqui ou terá que fazer uma reforma.

MARINA        - Eu não vou me casar nem mesmo ter filhos.

TAYLA          - Eu também dizia a mesma coisa, se lembra? Só não tive filhos até agora.

MARINA        - E levante suas mãos pro céu por isso. (Tayla dá um leve sorriso e fica pensativa. Marina continua) Você quer ser mãe, por acaso?

TAYLA          - Confesso que já pensei nessa hipótese... Mas na situação em que está meu casamento, é melhor eu descartar de uma vez por todas.

MARINA        - Ah, é verdade! Mas é estranho você não ter engravidado.

TAYLA          - O Arthur nunca tocou nesse assunto. Acredito que ele não queira ser pai. Quando tínhamos uma vida sexual mais ativa, ele sempre se preservava. E quando não o fazia, exigia que eu tomasse anticoncepcionais. Sempre perguntava, no dia seguinte, se eu havia tomado.

MARINA        - Então ele não quer ser pai mesmo.

TAYLA          - Acho que ele tem receio de alguma coisa.

MARINA        - Receio do quê?

TAYLA          - Não faço ideia, mas eu sinto.

TAYLA come um pedaço da pizza e toma um gole de vinho. Está pensativa. MARINA faz o mesmo. A observa.
CORTA PARA:

CENA 06. DELEGACIA. SALA DO DELEGADO. INTERIOR. NOITE.
CRISTINA e GREGÓRIO chegam à delegacia. Ao verem Ricardo, o dá um forte abraço. O jovem rapaz não contém as lágrimas novamente.

CRISTINA     - (preocupada) Meu filho, como você está?

RICARDO     - Eu já conversei com o delegado. Ele irá me chamar mais tarde.

CRISTINA     - Mas eles não vão te prender, não é?

GREGÓRIO   - Temos que ficar calmos. Eu vou conversar com o delegado. Eu tenho que ficar por dentro de tudo que está acontecendo.

GREGÓRIO retira-se.

CRISTINA     - E a pessoa que você atropelou, meu filho?

RICARDO     - Era um rapaz mais novo do que eu... Ele está morto. Mãe, eu tirei a vida de uma pessoa.

CRISTINA     - Não, meu filho, você não tirou a vida de ninguém.

RICARDO- Foi terrível!

Eles se abraçam fortemente.

CRISTINA     - Meu filho, você tem que ser forte. Encare tudo isso como uma fase escura, mas que já irá passar. Você não teve culpa de nada.

 FERNANDO aparece.

FERNANDO  - Filho...

 O rapaz se atira nos braços do pai, que lhe dá um forte abraço alisando seus cabelos.

RICARDO     - Ainda bem que o senhor veio.

FERNANDO  - Eu jamais deixaria de vir, meu filho. Você tem que ficar calmo. Já falou com o delegado? O que está acontecendo agora?

CRISTINA     - O Gregório foi conversar com o delegado.

RICARDO     - Eu estou com medo de ser preso.

FERNANDO  - Você não irá ser preso. Tente manter a calma. Nada é resolvido com nervosismo.

GREGÓRIO aparece.

CRISTINA     - E então?

GREGÓRIO   - Eles irão analisar as imagens fornecidas pelas câmeras da avenida em que tudo ocorreu. O delegado quer ter certeza de que o sinal estava mesmo aberto. Parece que o rapaz atropelado estava alcoolizado.

CRISTINA     - (reforça; sorri) Você não teve culpa de nada, meu filho.

RICARDO     - Eu tentei frear, mas minha atitude não valeu de nada. Eu não vou conseguir viver em paz.

FERNANDO  - Você não pode pensar dessa forma.

GREGÓRIO   - O rapaz estava embriagado e no meio de uma avenida: só podia estar pedindo a morte mesmo.

Os quatro se entreolham. CRISTINA, GREGÓRIO e FERNANDO abraçam RICARDO.
CORTA PARA:
CENA 07. RESTAURANTE HOTEL CIPRIANI. COPACABANA PALACE. INTERIOR. NOITE.
 No meio do jantar, o celular de AUGUSTO vibra e ele fala no ouvido de ARTHUR.

AUGUSTO     - Meu celular está tocando.

ARTHUR       - Deixe que eu atendo.

AUGUSTO entrega o celular ao irmão.

ARTHUR       - (levanta-se) Com licença! (Ele se afastou e atendeu o celular) Alô!

ARHTUR muda a expressão facial radicalmente.
CORTA PARA:

1° INTERVALO COMERCIAL

CENA 08. AP DE MARINA. SALA. INTERIOR. NOITE.
TAYLA e MARINA não conseguem conter as gargalhadas com uma comédia que estão assistindo. Um celular toca.

MARINA        - Tayla, não vai atender?

TAYLA          - O Arthur tinha que me ligar logo no melhor do filme. (Marina abaixa o volume da televisão. Tayla atende o telefonema) Oi, Arthur! Por que você está com essa voz estranha? (Ela muda a expressão facial e fica de olhos marejados) Está bem. Eu vou pra casa dela agora. Você já avisou o Augusto? (Marina acha estranho e fita a prima. Tayla continua) Arthur, me ouça: você tem que falar pro Augusto agora, mesmo que seja difícil. Você tem que tomar coragem... Está bem. Até logo!

TAYLA desliga o telefone e balança a cabeça negativamente.

MARINA        - O que houve, Tayla?

TAYLA          - O William...

MARINA        - O que houve com o William?

TAYLA          - Ele está morto.

MARINA        - Morto? Como aconteceu?

TAYLA          - Parece que ele foi atropelado em uma avenida, estava totalmente embriagado.

MARINA        - Mas ele não estava em uma clínica de reabilitação?

TAYLA          - Ele deve ter fugido de lá.

MARINA        - E pra onde você irá agora?

TAYLA          - Eu tenho que ir pra casa da Lívia. Provavelmente, ela ainda não sabe de nada.

MARINA        - Você não vai sozinha a essa hora da noite. Eu vou com você.

TAYLA          - Não precisa.

MARINA        - Não adianta nem teimar, Tayla, eu já disse que vou com você.

TAYLA          - Eu não estou me sentindo bem.

MARINA        - Você não sabe como irá dar essa notícia trágica, eu te entendo. Só vou colocar uma calça e já iremos.

MARINA retira-se rapidamente. TAYLA fica emocionada e deixa uma lágrima percorrer seu rosto.
CORTA PARA:



CENA 09. RESTAURANTE HOTEL CIPRIANI. COPACABANA PALACE. INTERIOR. NOITE.
ARTHUR aproxima-se do irmão. Fala algo em seu ouvido. AUGUSTO se levanta. Disfarça a irritação e se afasta da mesa em que estava com alguns executivos e o grande empresário.

AUGUSTO    - O que você quer, Arthur?

ARTHUR       - Eu preciso conversar com você.

AUGUSTO    - Se a Lívia ligou reclamando algo, fique sabendo que não irei lhe dar atenção.

ARTHUR       - Não é nada disso. Na verdade, eu nem sei como lhe dar essa notícia. Eu estou muito nervoso.

AUGUSTO    - Você está quase chorando. O que aconteceu, Arthur?

ARTHUR       - O William...

AUGUSTO    - (sorri ironicamente) O William? (t) Ele só pode ter fugido da clínica. Eu ainda avisei a Lívia, mas ela não quis acreditar em mim. Bem feito!

ARTHUR       - (não contém as lágrimas) Augusto, o William está morto.

Neste instante, AUGUSTO leva um verdadeiro baque. Ele começa a respirar ofegantemente.

ARTHUR       - Augusto...

O homem sente uma tontura e é amparado pelo irmão.

AUGUSTO    - (grita; chora) Não... Não!

Alguns executivos se levantam e outros ficam sentados.

ALMIR          - (preocupado) O que está acontecendo?

AUGUSTO    - O meu filho... William!

AUGUSTO não contém mais as lágrimas. ARTHUR ampara o irmão.
CORTA PARA:

CENA 11. MANSÃO DOS VILLARY. FRENTE. EXTERIOR. NOITE.
TAYLA e MARINA chegam. Estacionam o carro na frente da mansão dos Villary.

TAYLA          - O que eu faço, meu Deus?

MARINA        - Você terá que entrar e falar tudo.

TAYLA          - Você não virá comigo?

MARINA        - É claro que eu vou.

TAYLA          - É capaz dela acabar tendo um colapso ou passar mal gravemente.

MARINA        - Qualquer coisa, eu chamo uma ambulância. Agora nós temos que ir.

As duas saem do carro e se dirigem à porta...
CORTA IMEDIATAMENTE PARA:

CENA 12. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. INTERIOR. NOITE.
LÍVIA abre a porta e fica surpresa ao ver a cunhada acompanhada pela prima.

LÍVIA            - (com os olhos cheios d’água) Tayla...

TAYLA          - Eu sei que não é mais hora de ir à casa de alguém, mas eu precisava vir. É algo urgente! Você está chorando?

LÍVIA            - O William...

TAYLA          - Você já sabe?

LÍVIA            - Ele fugiu da clínica. Eu estou muito preocupada. Acabaram de me ligar.

TAYLA          - (T: angustiada) Lívia, eu peço que você se sente.

LÍVIA            - Por quê? Você sabe onde o William está? Ele aprontou algum outro escândalo?

TAYLA          - Não é isso.

LÍVIA            - Você está me assustando.

TAYLA          - É porque eu não sei como lhe dar essa notícia.

LÍVIA fica fitando a cunhada por alguns segundos.

LÍVIA            - É com o Augusto... Aconteceu alguma coisa com ele? Me diga, Tayla!

TAYLA          - (T: não contém as lágrimas) Não é com o seu marido.

LÍVIA            - Tayla... não me diga que...

TAYLA apenas balança a cabeça positivamente. LÍVIA fica desesperada.

LÍVIA            - (desesperada) Cadê o meu filho? O que aconteceu com o meu filho?

TAYLA          - Ele...

TAYLA não consegue terminar a frase. Ela dá um forte abraço em LÍVIA, que chora copiosamente. MARINA acaba se emocionando, mas contém as lágrimas.
CORTA PARA:


CENA 13. STOCK-SHOT. TAKES DE BÚZIOS. NOITE.
Sucessão de imagens de Búzios à noite até chegarmos à fachada de um hotel.
CORTA IMEDIATAMENTE PARA:

CENA 14. HOTEL ATLÂNTICO BÚZIOS. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Patrícia abre a janela e olha para a rua que dá acesso ao hotel.

PATRÍCIA      - Já ligou novamente?

WESLEY       - O Ricardo não está me atendendo.

DAVI             -(comenta) Ele ainda me mandou uma mensagem dizendo que já estava saindo de casa. É estranho ele não ter chegado até agora.

PATRÍCIA      - Eu já estou ficando preocupada. E se aconteceu alguma coisa?

WESLEY       - Não aconteceu nada, Patrícia.

PATRÍCIA      - Pode ter acontecido. Eu vou voltar pro Rio de Janeiro.

WESLEY       - Voltar? Há essa hora?

PATRÍCIA      - O que você acha, Wesley?

PATRÍCIA arruma suas coisas de volta na mochila.

WESLEY - Eu não vou voltar pro Rio agora. Se quiser, espere amanhecer.

PATRÍCIA - O quê? Você não pode fazer isso comigo, você não pode fazer isso com o Ricardo.

WESLEY - Garanto que se fosse comigo, você não iria agir dessa forma: como uma desesperada. Mas como é o Ricardo, você acha que eu tenho que me submeter aos seus caprichos. Eu não vou voltar pro Rio até o amanhecer.

DAVI - Por favor, não briguem!

WESLEY - Essa maluca acha que todos tem que fazer o que ela deseja.

PATRÍCIA - Já que é assim, Wesley... Eu vou sozinha.

WESLEY dá uma risada irônica.

WESLEY       - Aquele carro é meu, sua retardada! Como você irá voltar?

PATRÍCIA      - Pego um ônibus, faço qualquer coisa.

WESLEY       - Vá a pé também, assim já aparece um maluco na estrada e te leva.

PATRÍCIA      - Você tem inveja do Ricardo.

WESLEY       - Inveja?

PATRÍCIA      - Inveja, sim!

DAVI             - (interfere) Não quero saber de brigas na minha frente.

WESLEY       - Você é uma recalcada, Patrícia, porque lá, bem no fundinho, você sabe que o Ricardo nunca esteve a fim de você e nem cairá nas suas garras felinas.

PATRÍCIA      - É isso que nós veremos.

WESLEY       - Vou ver, sim. Eu vou ver você “quebrando a cara”. Dá licença!

WESLEY retira-se revoltado do quarto.

PATRÍCIA -    (irritada) Invejoso!

DAVI             - O que você vai fazer agora?

PATRÍCIA      - Eu devia pegar um ônibus e voltar pro Rio. Eu estou preocupada com o Ricardo.

DAVI             - Deve ter acontecido algum imprevisto.

PATRÍCIA      - Ligue pra casa dos pais dele.

DAVI             - E se já estiverem dormindo?

PATRÍCIA      - Não interessa!

DAVI             - Acho que não é uma boa ideia.

PATRÍCIA      - Então deixa que eu mesma faça isso.

  Ela pega o celular e liga para o número residencial da casa dos pais do amigo.

DAVI             - E então?

PATRÍCIA      - Ninguém atende.

DAVI             - Devem estar dormindo.

PATRÍCIA      - Vou tentar mais vezes até que me atendam.

PATRÍCIA tenta mais uma vez telefonar para a casa de RICARDO. DAVI fica observando PATRÍCIA.
CORTA PARA:

CENA 15. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. INTERIOR. NOITE.
AUGUSTO aparece. Vê LÍVIA aos prantos no sofá. Ela o encara, fica revoltada.

LÍVIA            - (grita) Você é o culpado de tudo! Você matou o meu filho!

AUGUSTO    - Não, eu não tive culpa de nada.

LÍVIA            - Está satisfeito agora? Você conseguiu o que sempre desejou.

AUGUSTO    - Eu jamais desejei a morte do nosso filho.

LÍVIA            - Por que você não o chamava de filho, enquanto ele estava vivo?

AUGUSTO - Você sabe que nós sempre vivemos em conflito.

LÍVIA            - Um conflito que foi causado por você. Se o meu filho está morto, a culpa é sua! Você jamais o amou, jamais... Ele só queria ser amado.

LÍVIA começa a chorar desesperadamente novamente.

AUGUSTO    - Lívia, não me culpe por tudo isso. Você não sabe o quanto estou sofrendo. Você não imagina o tamanho da dor que eu estou sentindo.

LÍVIA            - Que dor? O que você está sentindo? Você nunca teve coração, Augusto. Você é um homem frio.

ARTHUR       - (interfere) Ele está sofrendo tanto quanto você, Lívia.

LÍVIA            - (fita Arthur seriamente) Eu não estou falando com você. (olha novamente para Augusto. Continua) Nenhuma dor é tão maior quanto a perda de um filho. Nenhuma dor é tão maior quanto à dor que uma mãe sente quando perde o seu filho. Eu já passei por isso há anos atrás, eu já vivi tudo isso... Mas agora, eu tenho a certeza de que meu filho está morto. Ele não foi tirado de mim por uma pessoa cruel, ele foi tirado de mim pela vida. É isso que mais dói dentro de mim. Eu não vou poder criar a esperança de ver meu filho novamente, porque ele está morto.

 AUGUSTO passa as mãos pelos cabelos e acaba chorando também. Ele é consolado por ARTHUR, que lhe dá um forte abraço.

LÍVIA            - Nós temos que ir pra delegacia.

TAYLA          - Lívia, você não está em condições de ir pra delegacia. Eu vou ajeitar a sua cama e você irá deitar.

LÍVIA            - Eu não quero deitar. Eu quero ir pra delegacia.

TAYLA          - Mas você não está bem.

LÍVIA            - Eu quero ver a cara do desgraçado que matou o meu filho.

AUGUSTO    - O William estava embriagado. Ele foi para o meio da avenida.

LÍVIA            - Você já vai começar a julgar meu filho novamente, Augusto?

AUGUSTO    - Eu apenas estou te falando o que realmente aconteceu. O rapaz que atropelou o William não teve culpa de nada.

LÍVIA            - Só que eu quero a prisão dele.
AUGUSTO    - A justiça não irá ficar ao seu lado. O delegado já me ligou novamente e me deixou a par de toda a situação.

LÍVIA            - Então a justiça não irá ficar do meu lado. Vamos pra essa delegacia!

AUGUSTO    - Você não vai fazer escarcéu nenhum.

LÍVIA            - Quem é você pra me impedir alguma coisa, seu infeliz?

AUGUSTO    - Só não levo em consideração o que você acabou de me chamar, porque eu não estou bem. Essa noite está sendo a pior de minha vida, por mais que você não acredite que eu esteja realmente sofrendo.

LÍVIA            - Você é um falso!

ARTHUR       - (interfere) Você não pode tratar o Augusto dessa forma. É um momento tão triste.

TAYLA          - Arthur, por favor...

LÍVIA            - Eu sei o quanto esse momento é triste. E está sendo mais para mim. Eu não preciso de suas lições de moral, Arthur. Em nenhum momento, eu mencionei o seu nome.

ARTHUR       - Eu apenas estou tentando amenizar o clima pesado que está aqui dentro.

LÍVIA            - Você se faz de santo, assim como o seu irmão... Vamos, Tayla! Nós temos que ir pra delegacia.

TAYLA          - Vamos, Marina?

MARINA        - Vamos!

As três mulheres se retiram.

AUGUSTO    - O meu mundo caiu, mas a Lívia não entende.

ARTHUR       - Vamos pra delegacia?

AUGUSTO    - Vamos, Arthur!

AUGUSTO e ARTHUR retiram-se.
CORTA PARA:

CENA 16. DELEGACIA. FRENTE. EXTERIOR. NOITE.
LÍVIA desce revoltada do automóvel. Entra no local sem esperar TAYLA e MARINA.

TAYLA          - Lívia, me espere?

MARINA        - Não vai adiantar, Tayla. Você não vai poder impedir que ela cause um escândalo... E com toda a razão.

TAYLA          - Que situação! E eu estou te metendo em tudo isso, quando você poderia estar descansando.

MARINA        - Não há problema. Amanhã, o estúdio não abre, vou avisar o pessoal.

TAYLA          - Obrigada!

MARINA        - Nós temos que descer agora.

TAYLA          - É, eu até já estava me esquecendo.

TAYLA e MARINA descem. Entram na delegacia.
CORTA PARA:

CENA 17. DELEGACIA. RECEPÇÃO. INTERIOR. NOITE.
LÍVIA grita algo inaudível. Um policial tenta acalmar LÍVIA, mas ela continua gritando. A voz de LÍVIA fica mais próxima de modo em que podemos ouvi-la.

LÍVIA            - Cadê o assassino do meu filho?
CORTA PARA: SALA DE ESPERA
CRISTINA, GREGÓRIO, FERNANDO e RICARDO escutam os gritos de LÍVIA. Assustam-se. RICARDO parece nervoso.

CRISTINA      - O que é isso?

GREGÓRIO   - É a mãe do rapaz morto.

LÍVIA entra na sala de espera. Depara-se com RICARDO. RICARDO a olha espantado. Não contém as lágrimas. Alternamos entre os olhares de LÍVIA e RICARDO. Congela em “RICARDO” chorando.
CORTA PARA:

FIM DO CAPÍTULO 30

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