COM AMOR
Novela de
Marcus Vinick
Miguel Rodrigues
Escrita por
Marcus Vinick
Miguel Rodrigues
Supervisão de Texto
-
Colaboração de
-
Direção
MIGUEL RODRIGUES
Direção Geral
MIGUEL RODRIGUES
Núcleo
DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
Personagens deste
capítulo
TAYLA
LÍVIA
ARTHUR
RICARDO
CRISTINA
GREGÓRIO
AUGUSTO
FERNANDO
REJANE
MARINA
CECÍLIA
SÉRGIO
PATRÍCIA
DAVI
WESLEY
ANGELINA
DR.
RAMOS
RAPAZ
SOPHIA
Participação Especial:
CININHA
NANÁ
CENA 01. ESTÚDIO
FOTOGRÁFICO. ESCRITÓRIO. Interior. Dia.
Cont. da última cena do capítulo anterior. MARINA larga o
tablet em cima da bancada. Permanece olhando seriamente para TAYLA.
MARINA —
Tayla, você não vai retornar essa ligação.
TAYLA — Como
assim, Marina?
MARINA — Esse
estúdio também é meu e você não pode tomar uma decisão sem a minha opinião ou
meu veredicto.
TAYLA — Sei
disso... Mas eu fiz o que achei melhor... Não é por causa do título de uma
coletânea de obras de arte que devemos desistir de uma grande oportunidade.
MARINA — Você
diz como se estivéssemos passando por uma crise... Como se esse estúdio não
estivesse rendendo o bastante...
TAYLA — As
questões não são apenas financeiras... Falo de visibilidade... Miguel Nunes de
Castro é um dos maiores artistas da atualidade, o talento dele foi aclamado na
Europa.
MARINA — Ele
teve todo esse reconhecimento por causa do meu avô.
TAYLA — Não,
Marina... Ele teve reconhecimento por causa do seu talento de pintar e
desenhar... O patrocínio dado pelo tio Carlos Alberto, foi apenas uma porta
para o sucesso... Mais tarde, irei retornar a ligação para Ariel Avellar e
acertar tudo ainda hoje.
MARINA — Ok!
TAYLA —
Então você está de acordo?
MARINA — Não
estou totalmente de acordo, mas vi que você está certa... Retorne a ligação
para esse tal de...
TAYLA —
Ariel Avellar.
MARINA — E
tente acertar tudo ainda hoje.
TAYLA —
(sorri) Obrigada, Marina!
MARINA balança a cabeça negativamente. Dá um leve sorriso.
Retira-se. REJANE aparece. Encosta-se na porta. Sorri para TAYLA, que
corresponde o sorriso.
CENA 02. MANSÃO DOS VILLARY. COPA. Interior. Dia.
EULÁLIA serve um copo com água. Entrega a LÍVIA, que está
sentada à bancada da copa. LÍVIA abre uma cartela de comprimidos. Ingere um
deles.
EULÁLIA —
(preocupada) A senhor não quer comer nada, dona Lívia?
LÍVIA —
Não, Eulália... Eu não quero comer nada.
EULÁLIA — Tudo
bem.
LÍVIA —
Eulália, eu quero que você me faça um favor.
EULÁLIA —
(atenciosa) Sim.
LÍVIA —
Vá até meu quarto e coloque as roupas de Augusto em uma mala.
EULÁLIA, surpresa, fica boquiaberta.
EULÁLIA —
(desconcertada) Desculpa perguntar, dona Lívia... O doutor Augusto irá viajar?
LÍVIA —
Ele irá embora.
EULÁLIA —
Embora? Eu não consigo acreditar que depois de tantos anos... Bom... Eu não
tenho nada a ver com isso, dona Lívia, mas trabalho aqui há tantos anos... Sei
que as coisas não estão bem entre vocês... Mas... Se separar não é uma atitude
precipitada?
LÍVIA —
Quando eu era jovem, Eulália, eu achava que jamais fosse me arrepender de nada
nessa vida... E hoje... Eu me arrependo amargamente de ter me casado com
Augusto.
EULÁLIA — Mas a
senhora não pode ficar sozinha... Ainda mais nesse momento de tanto sofrimento.
LÍVIA —
Quando a polícia fechou o caso e encerrou as buscas de Nicolas, o Augusto
simplesmente não fez nada... Ele já não tinha mais esperanças, mas eu tinha.
EULÁLIA — Ele
também sofreu muito.
LÍVIA —
Mas não tanto quanto eu... (derrama algumas lágrimas) Logo depois, William
nasceu e o Augusto simplesmente o ignorou de todas as formas... Apenas
dirigia-se ao menino para lhe xingar e dizer barbáries... Tudo o que o William
queria era ser amado pelo pai, como ele via os pais de seus colegas quando ocorria
um torneio de futebol na escola, uma comemoração de dia dos pais ou algo do
tipo... Quando ele se entregou ao alcoolismo, eu fui a única a lhe estender a
mão e tentar ajudá-lo... Já o Augusto só sabia pisar em cima dele.
EULÁLIA —
(emocionada) Talvez porque o doutor Augusto visse em William uma forma de
descontar o ressentimento por não ter reencontrado Nicolas.
LÍVIA — O
William não tinha culpa de nada... O Augusto é cruel demais e não quero mais
vê-lo nessa casa... Faça o que eu pedi e deixe as malas no quarto mesmo.
EULÁLIA — Sim,
senhora.
EULÁLIA retira-se. LÍVIA fica pensativa.
CENA 03. NOVA YORK. PLANOS GERAIS. Exterior. Dia.
Sucessão de imagens de Nova York em ritmo frenético,
acompanhada de uma música ambiente. Percorremos por toda a cidade, mostrando
vários pontos importantes de Nova York como se fossem cartões postais, até
chegarmos à fachada de um hotel muito luxuoso na região.
CENA 04. THE
PARK CENTRAL HOTEL. QUARTO DE MIGUEL E ARIEL. Interior. Dia.
Percorremos todo o quarto do hotel onde MIGUEL e ARIEL estão
hospedados. MIGUEL está sentado à frente de seu notebook. A porta do quarto
abre-se. ARIEL aparece.
ARIEL — O
que está fazendo?
MIGUEL —
Comprando as passagens pela internet.
ARIEL —
Mas eu iria fazer isso pra você.
MIGUEL — Não,
eu fiz questão de fazer isso pessoalmente... Meu passaporte está em dia mesmo.
ARIEL —
Quando pretende voltar?
MIGUEL — O
mais breve possível.
ARIEL — Me
ligaram do Brasil.
MIGUEL —
(curioso) Quem?
ARIEL — De
um estúdio fotográfico.
MIGUEL — Ah,
até já imagino para que seja: uma sessão de fotos e, após, uma exposição.
ARIEL —
Você já está acostumado mesmo.
MIGUEL — De
fato... De quem é o estúdio?
ARIEL — A
mulher se identificou como Tayla Fontinelly Villary.
MIGUEL —
Fontinelly?
ARIEL —
Sim... Mas acredito que não tenha nenhuma relação com a família do falecido
Carlos Alberto.
MIGUEL —
Sim... Saudades de Carlos Aleberto.
ARIEL —
Também sinto saudades dele... Era uma pessoa incrível.
MIGUEL — Eu
devo tudo a ele.
ARIEL —
Jamais vou me esquecer daquela surpresa que ele fez para você.
MIGUEL —
Jamais irei me esquecer também... Foi uma das maiores emoções de minha vida:
ver a minha mãe naquela exposição, toda tímida... E depois, quando fomos para o
hotel, ela falou que quase teve um infarto dentro do avião, pois sentiu muito
medo e não parava de rezar... Só que ela percebeu que eu não era o mesmo... E
depois que ela voltou ao Brasil, apenas nos comunicávamos por cartas... (T:
emocionado já com os olhos marejados) Só de pensar que irei voltar ao Brasil
e... E não irei reencontrá-la.
ARIEL —
Ela partiu cedo, não é?
MIGUEL —
Sim... E o meu pai não deve ter agüentado e acabou falecendo anos mais tarde.
ARIEL —
Pelo menos você e ele já estavam bem.
MIGUEL — Mesmo
assim... Naquele dia, ele poderia muito bem estar com minha mãe... Bom, eu não
quero ficar relembrando esses fatos... Estou voltando para o Brasil
definitivamente e quero ser feliz de alguma forma.
ARIEL —
Com a Sophia sempre em mente, você não irá conseguir ser feliz.
MIGUEL —
Sophia e eu vamos nos reencontrar, eu sinto isso... E quando isso ocorrer, eu
vou mostrar a ela as obras originais de “A Alma de Sophia”.
ARIEL —
Miguel, você já não é mais um jovem para ficar se iludindo dessa forma.
MIGUEL — Eu
sei muito bem disso, Ariel... Contudo, eu jamais perdi as esperanças. Se em
algum momento de sua vida, você tivesse tido um amor como o meu e de Sophia,
você não me julgaria como um iludido.
ARIEL — Me
desculpe, Miguel. Eu só queria que...
MIGUEL — Que
eu fizesse de conta que esqueci a Sophia?
ARIEL —
Não é isso.
MIGUEL — Você
é o meu único amigo, Ariel, é uma das coisas mais importantes de minha vida. Se
eu converso com você e me abro, é porque confio e sei que você vai me ouvir...
Você sempre soube que eu jamais esqueci a Sophia e nunca vou esquecer. É algo
que carrego comigo desde aquele dia que brigamos e selamos nossos destinos,
para que nunca mais nos falássemos... E a última vez que a vi foi naquele
museu, em Amsterdã... Mas eu nunca perdi as esperanças e jamais vou deixar de
sonhar.
ARIEL fica quieto. Disfarça a expressão triste. O celular dele
toca. ARIEL visualiza a chamada.
ARIEL — É
do estúdio fotográfico, no Rio de Janeiro... O que eu digo?
MIGUEL — Diga
que irei aceitar.
ARIEL atende o celular. MIGUEL fica pensativo.
CENA 05. RIO DE JANEIRO. PLANOS GERAIS. Exterior. NOITE.
Sucessão de imagens do Rio de Janeiro são mostradas em ritmo
frenético e embaladas por uma música ambiente. As imagens são mostradas em
formas de cartões postais até chegarmos à fachada do condomínio onde TAYLA e
ARTHUR moram. ANOITECE.
CENA 06. AP DOS FONTINELLY VILLARY. SALA. Interior. NOITE.
TAYLA está na sala ao telefone com ARIEL. Acertam a sessão
fotográfica de MIGUEL. Ao final da ligação, ela agradece. Despede-se. Desliga o
celular. Depara-se com ARTHUR sentado no sofá assistindo televisão.
ARTHUR — (sem
olhar para Tayla) Falando ao telefone com quem?
TAYLA —
Negócios do estúdio... Veio mais cedo pra casa...
ARTHUR — Hoje,
eu não tinha muito trabalho... Resolvi vir mais cedo... Eu estava muito
cansado.
TAYLA —
Entendo... Eu vou tomar banho.
TAYLA retira-se. ARTHUR faz um comentário e ela para.
ARTHUR — Você
parece estar contente.
TAYLA — Por
que acha isso?
ARTHUR — Pelo
seu tom de voz.
TAYLA —
Negócios do estúdio... Eu já disse.
ARTHUR — Pelo
jeito terá um novo evento.
TAYLA — E
desde quando você se interessa por isso?... Eu vou tomar banho e venho para
fazer algo para comer.
ARTHUR — Tudo
bem.
TAYLA retira-se. ARTHUR continua assistindo televisão. Parece sério.
CENA 07. AP DOS VIDAL FERRAZ. SALA DE JANTAR. Interior. Noite.
Estão reunidos à mesa do jantar: CECÍLIA, HENRIQUE, PATRÍCIA e
SÉRGIO. Conversam alegremente.
CECÍLIA — É
muito bom ter a minha família reunida novamente... Já faz um bom tempo que não
jantávamos todos juntos.
HENRIQUE —
(brinca) Claro... Sérgio nos abandonou.
SÉRGIO — Eu
não abandonei vocês, papai.
HENRIQUE — Foi uma
grande surpresa você ter voltado. Achei que fosse demorar mais tempo.
SÉRGIO —
Também achei... Há essa hora eu estaria viajando para a Europa, rumo a final do
mundial de Mountain Bike.
HENRIQUE —
Certamente esse não era seu destino, filho.
SÉRGIO — Eu
não me conformo, papai.
CECÍLIA — Mas
não há nada para ser feito agora, Sérgio.
SÉRGIO —
(magoado) Eu sei, mãe, eu sei...
PATRÍCIA —
(interfere sorrindo ironicamente) Tem que se conformar mesmo... Caiu na
rasteira de um gringo.
SÉRGIO —
(irritado) Mas ele não vai levar essa.
PATRÍCIA — (olha
seriamente para Sérgio) Se eu fosse você, não contava com isso... Se ele te
derrotou agindo de forma trapaceira e desonesta, imagina o que ele pode fazer
contra o restante dos competidores.
SÉRGIO prefere ficar quieto. CECÍLIA olha para PATRÍCIA.
CECÍLIA — E
como está aquele seu amigo?
PATRÍCIA — O
Ricardo não está nada bem. É inacreditável que ele ficou traumatizado pelo
ocorrido.
HENRIQUE — Também
não é pra menos.
PATRÍCIA — (fria)
Era um bêbado... Estava no meio do trânsito.
CECÍLIA —
(repreende) Não fale assim, Patrícia, pois o rapaz atropelado está morto.
PATRÍCIA — Mas
mesmo assim, não vejo fundamento nisso... E o pior foi o modo como ele me
tratou, quando eu estava apenas tentando ajudar.
SÉRGIO —
(impaciente) Você é uma garota impertinente... Acha que pode ajudar alguém,
agindo assim?
PATRÍCIA —
(altera a voz) Não se intrometa onde você não é chamado, garoto!
HENRIQUE —
(repreende) Ô, sem discussões! (T: para Cecília) E Sophia?
SÉRGIO — Quem
é Sophia?
CECÍLIA —
Aquela minha amiga que ficará hospedada conosco, meu filho... Não vai demorar
muito e ela já estará de volta ao Brasil. Depois de tantos anos, eu jamais pude
imaginar que fosse reencontrar Sophia novamente... Somos amigas de infância.
PATRÍCIA —
(indgnada) Ficará hospedada aqui? Vocês irão permitir que uma estranha fique em
nossa companhia?
CECÍLIA — Não
é uma estranha, Patrícia... É uma grande
amiga a quem devo muito por ter ficado ao meu lado nos momentos difíceis
de minha vida.
PATRÍCIA — Pouco
me importa! A senhora não vê essa mulher há anos... De repente ela ressurge do
nada e ficará hospedada em nosso apartamento... Era só o que me faltava!
HENRIQUE — Quem
manda aqui, Patrícia? Já que você não está em sua própria casa...
PATRÍCIA —
(interfere) Como assim? Eu estou na minha casa.
HENRIQUE — (ordena
impaciente) Me deixe terminar de falar: enquanto você não estiver em sua
própria casa, você “baixa essa bola” e tenha mais respeito comigo e com sua
mãe... Agora, cale a boca e jante quieta!
PATRÍCIA levanta-se revoltada. Retira-se resmungando palavras
inaudíveis.
1º INTERVALO COMERCIAL
CENA 08. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO. Interior. NOITE.
AUGUSTO chega à mansão. Vê que a casa está em pleno silêncio.
Sobe as escadas. Dirige-se ao quarto. Entra. Depara-se com uma mala e uma
maleta.
AUGUSTO — O que é
isso? (Lívia aparece. Olha o marido, que a olha seriamente) De quem são essas
malas, Lívia? Você não está pensando em... Em me deixar, não é?
LÍVIA —
Sim, Augusto... Eu estou deixando você.
AUGUSTO — Lívia,
por favor, não faça isso comigo! Você está agindo de forma precipitada... Leve
em consideração todos esses anos que temos de casados... Para onde você vai?
LÍVIA —
Essa é a pergunta que eu devia lhe fazer, Augusto... Mas como pouco me importa
saber...
AUGUSTO — Do que
está falando? Como assim?
LÍVIA —
Eu estou falando que não te quero mais nessa casa... A partir de hoje, nosso
casamento está acabado!
AUGUSTO —
(incrédulo) Você está... Você está me expulsando de minha própria casa? É isso
mesmo?
LÍVIA fica encarando AUGUSTO seriamente.
CENA 09. CASA DOS BOAVENTURA. PISCINA. Interior. Noite.
Damos um giro por todo o jardim da casa da família Boaventura
até chegarmos à piscina. RICARDO aproxima-se. Senta-se na borda da piscina.
Fica com os pés na água. Está pensativo.
CENA 10. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DE RICARDO. Interior. Noite.
CRISTINA entra no quarto de RICARDO. Percebe que RICARDO não
está na cama. Toma um susto. Vai procurá-lo.
CRISTINA — (grita
preocupada) Ricardo, Ricardo... (Gregório aparece e toca seu ombro. Cristina o
olha) Onde está o Ricardo?
GREGÓRIO — Fique
tranqüila!... Ele está na piscina.
CRISTINA — Na
piscina? Gregório, e se ele...
GREGÓRIO — Ele está
apenas pensando, Cristina... Não se preocupe, ele não cometerá nenhuma loucura!
CRISTINA — Eu só
quero que tudo volte ao normal... Eu já não agüento mais ver o nosso filho
assim.
GREGÓRIO — Eu
também não, meu amor, mas vamos deixar que ele pense... Vamos deixar que ele se
recupere do baque... Chegará um dia que não o restará mais nada a não ser
apenas levantar a cabeça e seguir em frente.
CRISTINA e GREGÓRIO se abraçam fortemente. Ficam assim por
alguns segundos.
CENA 11. AP DE MARINA. SALA. Interior. Noite.
Damos um giro pelo apartamento de MARINA. MARINA liga o som.
Serve uma taça de vinho. Recosta-se no sofá. Fica pensativa.
FLASHBACK
MARINA – Eu fiquei
sabendo quando era adolescente... Ele é um ótimo pintor e desenhista, tem um
grande talento. No início da década de 90, fico conhecido como o “artista
revolucionário”.
REJANE – Sim... Tanto
que a exposição “A Alma de Sophia” foi bastante aclamada pela crítica.
MARINA volta a si. Dá um gole na bebida. Continua pensativa.
MARINA —
Miguel Nunes de Castro.
Dá outro gole na bebida e mantêm-se pensativa.
CENA 12. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO DO CASAL. Interior. Noite.
AUGUSTO pega LÍVIA pelo braço. Respira ofegantemente. LÍVIA
tenta se soltar.
AUGUSTO — Lívia,
você não tem o direito de me expulsar de minha própria casa.
LÍVIA —
(revoltada) Me solte! (encara Augusto) Eu quero que você pegue suas malas e
suma da minha frente! Acabou!
AUGUSTO — Você
está revoltada, não está raciocinando direito.
LÍVIA —
Sim, Augusto, eu estou revoltada!... Eu estou destruída por dentro. Eu perdi
tudo que eu tinha na minha vida, porque os meus dois filhos eram tudo pra mim.
AUGUSTO — Eles
também eram tudo pra mim.
LÍVIA —
(grita) Mentira! Você só soube menosprezar o William... Nunca foi um pai de
verdade. Só que eu quero me reerguer, porque eu já não agüento mais sofrer... E
eu vou me reerguer, eu vou levantar a minha cabeça e seguirei em frente, mas...
Mas eu não quero você ao meu lado... Eu não devia ter me casado com você, foi o
meu maior erro... O nosso casamento está acabando aqui, Augusto,
AUGUSTO — Lívia,
por favor...
LÍVIA —
Eu não quero ouvir mais nenhuma palavra... Apenas vá embora.
AUGUSTO balança a cabeça negativamente. Não contém as
lágrimas. Pega as malas. Retira-se do quarto. LÍVIA chora. Após alguns
segundos, ouve-se um barulho. LÍVIA acha estranho. Retira-se do quarto. Vê
AUGUSTO no chão, perto da escada.
LÍVIA —
(desesperada) Augusto! (desce as escadas. Agacha-se. Tenta reanimá-lo) Augusto,
por favor?! Acorde! Augusto!
LÍVIA continua tentando reanimar AUGUSTO.
CENA 13. RIO DE JANEIRO. PLANOS GERAIS. Interior. Noite.
Sucessão de imagens do Rio de Janeiro em ritmo frenético até
chegarmos a facha do Hospital Samaritano.
CENA 14. HOSPITAL SAMARITANO. SALA DE ESPERA. Interior. Noite.
LÍVIA nervosa, caminha de um lado para o outro. Está
preocupada com AUGUSTO. TAYLA aparece.
TAYLA —
Lívia...
As duas se abraçam. ARTHUR vem logo atrás. Chega com rompante.
ARTHUR — Onde
está meu irmão?
LÍVIA —
Ele foi submetido a alguns exames médicos e...
ARTHUR —
(ríspido) Tudo por sua culpa.
TAYLA —
(indignada) Arthur, o que é isso?
LÍVIA fica sem reação.
ARTHUR —
(irritado) Não se intrometa, Tayla! (T: continua) Se o meu irmão passou mal é
por sua culpa, Lívia. Qual é a sua intenção? Matar o meu irmão?
LÍVIA —
Você não sabe o que está falando, Arthur... E eu não lhe dei o direito de
gritar comigo! E também, você está em um ambiente hospitalar... Trate de se
controlar!
ARTHUR — O meu
irmão pode ter tido um infarto e você acha que devo me controlar?
TAYLA —
(nervosa) Chega, Arthur!
ARTHUR aponta o dedo para LÍVIA.
ARTHUR — Se
alguma coisa acontecer com o Augusto, você me paga!... Você está calma por que
quer matá-lo.
LÍVIA revoltada dá uma bofetada em ARTHUR. ARTHUR toca seu
rosto. Olha com raiva para LÍVIA. TAYLA fica boquiaberta.
2º INTERVALO COMERCIAL
Continuação
da cena 14. HOSPITAL SAMARITANO. SALA DE ESPERA. Interior. Noite.
ARTHUR
continua a encarar LÍVIA com raiva. Revoltado, ele se retira.
TAYLA (nervosa)
—
Quero me desculpar por esse comportamento do Arthur. Eu não sei o que aconteceu
com ele.
LÍVIA — Fique tranqüila, Tayla. Eu quero
me desculpar por ter perdido a paciência com o seu marido e ter o dado uma
bofetada.
TAYLA —Você apenas agiu assim porque deve
ter se sentido muito ofendida. O Arthur não tinha o direito de lhe atacar dessa
forma, te falar essas coisas terríveis e ainda te ameaçar.
LÍVIA — Vamos esquecer isso. Vá atrás
dele.
TAYLA se retira. DOUTOR
RAMOS, o médico, aparece e se dirige a LÍVIA.
LÍVIA — Doutor Ramos...
RAMOS —Pode ficar tranqüila, dona Lívia, o senhor
Villary apenas teve uma queda de pressão.
LÍVIA
(aliviada) — Graças a Deus!
RAMOS — Eu já lhe repassei alguns
medicamentos que, inclusive, já foram feitos e recomendo que ele fique em um
repouso. Ele está com o estado emocional abalado e é mais do que provável que
isso tenha causado a queda da pressão.
LÍVIA
(apreensiva) — Entendo.
CENA 15. HOSPITAL
SAMARITANO. SAGUÃO. INT. NOITE.
TAYLA caminha pelo saguão
e tenta avistar o marido. Ela o vê e caminha na direção dele.
TAYLA
(irritada) — O que deu em você,
hein?
ARTHUR
(enfurecido) — Me deixe em paz!
TAYLA — Você não devia ter agido daquela forma. O
que você esperava Arthur, a não ser acabar levando uma bofetada?
ARTHUR —
O meu irmão passou mal por culpa dela. Alguma coisa deve ter acontecido.
TAYLA —
Se o Augusto passou mal por causa da Lívia ou não, você não tem nada a ver com
isso. Eles são casados, devem ter brigado e seu irmão passou mal. Muito
simples. Não há motivo para você ter chegado daquela forma como chegou a sua
própria cunhada, agindo como um grosseiro e a atacando com suas palavras.
Atitude desnecessária e covarde. Eu não devia esperar outra coisa de você
mesmo.
TAYLA se retira
completamente magoada e não contém as lágrimas. ARTHUR, ainda transtornado, faz
de tudo para se segurar e conter a raiva.
CENA 16. TAKES DO RIO DE JANEIRO.
Mostrar imagens do Sol
nascendo e se erguendo por completo no céu em movimento rápido.
CENA 17. CASA DOS BOAVENTURA. COPA. INT. DIA.
Cristina e Gregório estão
a tomar café. Ficam surpresos ao ver Ricardo, que se senta à mesa. O casal
entreolha-se.
RICARDO
— Bom dia.
CRISTINA
(com um leve sorriso) — Bom dia, filho.
GREGÓRIO
— Está se sentindo melhor?
RICARDO
(confuso) — Vai ser difícil tirar aquela imagem da
mente. Vai ser difícil, mas... Logo, eu irei começar a trabalhar novamente. Eu
me formei em arquitetura e vou começar uma nova vida, eu não posso...
CRISTINA
(emocionada) — Nós te entendemos, meu anjo.
RICARDO —
E também, eu tenho vocês ao meu lado. Eu estou começando a me sentir um pouco
aliviado, porque eu sei que não estou sozinho.
GREGÓRIO —
Nunca esteve.
RICARDO —
Pois é.
CRISTINA
colocou sua mão sobre a mão do filho e deu um sorriso.
CRISTINA
— Estou muito feliz que você esteja
se recuperando aos poucos desse baque. Não sabe o quanto o meu coração está se
aliviando por isso.
RICARDO
— Eu só queria que tudo voltasse ao
normal.
CRISTINA
— E vai voltar. Você verá.
A
mulher pega a mão do marido, dá um sorriso para ele e depois volta a olhar o
filho.
CENA 18. HOSPITAL SAMARITANO. QUARTO. INT. DIA.
AUGUSTO coloca o sapato.
ARTHUR adentra o quarto e fica o fitando.
AUGUSTO
— Cadê a Lívia?
ARTHUR —
Deve ter ido para casa e te deixou sozinho aqui.
AUGUSTO —
Não acredito que ela fez isso comigo.
ARTHUR —
E o que esperar de sua esposa, Augusto? Isso prova que ela não está nem aí para
você, tanto que voltou para casa e deixou você ao “Deus dará”.
AUGUSTO
—Aconteceu alguma coisa para você
estar revoltado desse jeito?
ARTHUR —
Eu fui te defender e acabei levando uma bofetada.
AUGUSTO
— Uma bofetada? Você levou uma
bofetada de Lívia?
ARTHUR
(irônico) — De quem mais?
AUGUSTO —
Meu Deus!
ARTHUR —
Garanto que você passou mal por causa dela. E que, certamente, ela deve estar
te crucificando pela morte de William.
AUGUSTO
— Sim, ela está me crucificando por
isso. Ela acha que eu não sinto nada, que eu também não estou sofrendo (Arthur balança a cabeça negativamente)
Ontem, ela me colocou para fora de casa. Falou que nosso casamento está
acabado.
ARTHUR dá um sorriso
irônico, mas disfarça.
ARTHUR
— A Lívia te expulsou de sua
própria casa? Com que direito ela faz uma coisa dessas?
AUGUSTO
— Eu também pensei a mesma coisa
naquele momento, mas eu estava me sentindo tão mal. Eu ainda estou me sentindo
mal. É uma dor que vem de dentro, você entende?
ARTHUR
— Acho que entendo.
CENA 19. PRAIA DE COPACABANA. EXT. DIA.
LÍVIA caminha na beirada
do mar e deixa as ondas baterem em seus pés.
CENA 20. PRAIA DE COPACANA. QUIOSQUE. EXT. DIA.
FERNANDO está sentado a
uma mesa. Toma uma água de coco. Pega o celular e vê a mensagem de CRISTINA,
dizendo que RICARDO já está se recuperando. Ele responde dizendo que irá para
lá em alguns instantes. Em seguida, ele coloca o celular no bolso e olha em
direção ao mar. Fica observando uma mulher, que está sentada à beira do mar, e a
reconhece. O homem se levanta e vai à direção dela. LÍVIA nota uma sombra e
olha para cima. Ela se levanta rapidamente e fica fitando FERNANDO.
LÍVIA
— Você?
FERNANDO
— Me desculpe! Eu estava no quiosque, a
vi e a acabei a reconhecendo.
LÍVIA
— Ficasse no quiosque ou
fosse para qualquer outro lugar, mas não viesse até mim.
LÍVIA se retirou e
FERNANDO viu que ela havia esquecido a sandália.
FERNANDO
—Hei! (A mulher se virou para ele e ficou o encarando) Vai embora com os
pés descalços?
Ele pegou a sandália e
entregou a ela.
LÍVIA
— Obrigada!
FERNANDO
— Posso lhe tirar apenas alguns
instantes?
LÍVIA
— O que você tenha a me
falar, eu não quero...
FERNANDO
— Por favor... (Lívia respirou fundo e acenou a cabeça positivamente) O Ricardo,
meu filho... Ele ficou muito mal com tudo que aconteceu. Foi um baque na vida
dele, algo que ele jamais pode imaginar. Ele está sofrendo muito e, a recém,
está tentando se recuperar e ver que terá que continuar sua vida. Ele queria ir
ao sepultamento de seu filho, mas foi impedido pela Cristina e pelo Gregório. Eu
fui no lugar dele, porque me senti na obrigação de fazer isso e de também
prestar condolências. Sei que a dor do meu filho não é maior que a sua, pois
você é mãe e perdeu alguém que, para uma mulher, é o maior presente de Deus: um
filho!
LÍVIA
(com os olhos marejados) — O
William era tudo para mim. Há instantes em que não consigo acreditar que ele
partiu. Quando eu estava caminhando à beira do mar, por um instante, eu cheguei
a delirar que eu iria chegar em casa e iria encontrá-lo no quarto, atirado sobre
a cama.
FERNANDO
(emocionado) — Entendo.
LÍVIA
— Eu tenho que ir embora.
FERNANDO
— Não quer que eu te leve para casa?
LÍVIA
— Não, muito obrigada! Eu
pego um táxi.
FERNANDO
— Ah... Achei que tivesse vindo de
carro e não é bom dirigir com o estado emocional abalado.
LÍVIA
— Fico grata pela sua
preocupação. Adeus!
Ele fica a olhando
fixamente.
FERNANDO
— Até.
A mulher se retira e
Fernando fica a olhando.
CENA 21. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. INT. DIA.
TAYLA fotografa um casal.
A fotografada está grávida e faz “caras e bocas” para a câmera, estando ao lado
do marido que parece estar muito feliz. Ao final da sessão, TAYLA faz um sinal
de “OK” e o casal se retira. Ela olha as fotos na câmera. Rejane aparece.
REJANE
— E então, como ficou?
TAYLA
— Eu não gostei.
REJANE
— Por quê? Um casal tão bonito.
Acho lindo mulheres grávidas.
TAYLA
— Não foi o casal. A culpa é
minha. Eu não gostei dessas fotos, não ficaram como eu esperava.
REJANE
— Você não deve estar se
sentindo bem.
TAYLA
— De fato.
CENA 22. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
TAYLA serve um café
expresso e coloca bastante açúcar. Ao ver, MARINA balança a cabeça
negativamente.
MARINA
— Cuidado com o excesso de açúcar.
TAYLA
— Eu preciso me acalmar.
MARINA
— Quer ficar calma? Se separe de
Arthur.
TAYLA fez menção de
responder, mas o telefone toca. Ela atende.
CENA 23. TAKES DO RIO DE JANEIRO.
Cam percorre pelo Bairro
do Leblon.
CENA 24. SALÃO DE FESTA. EXT. DIA.
O salão de festa está
sendo decorado por uma equipe. CECÍLIA auxilia os decoradores e dá as ordenadas
para que tudo fique a gosto do dono da festa. SÉRGIO aparece. CECÍLIA vê o
filho e caminha na direção dele. Eles se abraçam.
CECÍLIA
— Veio ver sua mãe trabalhando?
SÉRGIO
— Sim. Interessante isso aqui.
CECÍLIA
— Estamos preparando tudo para
que seja uma festa grandiosa. O dono do evento é muito exigente, mas já é a
segunda vez que me contrata.
SÉRGIO
—Porque ele sabe que a senhora é
a melhor promotora de eventos do Rio de Janeiro. (CECÍLIA dá um sorriso) Fui convidado por uma revista de esportes
para participar de uma sessão autográfica e uma entrevista.
CECÍLIA
— Que bom! Isso significa que,
por mais que você tenha perdido o mundial de mountain bike, você tem
reconhecimento.
SÉRGIO
— Sim, isso é bom.
CENA 25. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
MARINA olha para TAYLA,
que coloca o telefone no gancho.
MARINA
— Quem era?
TAYLA
— É da revista Sport Brasil.
MARINA
— O que queriam?
TAYLA
— Ocorrerá uma sessão
autográfica com alguns atletas e eles querem que façamos esse trabalho, já que
temos um estúdio renomado...
MARINA
— Pelo visto, as coisas estão
voltando a ficar boas novamente.
TAYLA
— Sim. O ensaio ocorrerá na
praia de Ipanema, daqui a uma semana. Inclusive, é daqui a uma semana que
Miguel Nunes está de volta.
MARINA
— Hum...
TAYLA
(entusiasmada) — Não vejo a
hora de ocorrer essa exposição.
MARINA
(dando um sorriso) — Só o trabalho
para lhe deixar alegre novamente.
TAYLA
— É. Você está certa.
CENA 26. CASA DOS BOAVENTURA. EXT. DIA.
FERNANDO abraça RICARDO
fortemente.
FERNANDO
— Fico feliz que esteja se recuperando.
RICARDO
— Logo, logo irei começar a
trabalhar naquele escritório de arquitetura. Eu tenho que estar com a mente
limpa para começar essa nova fase em minha vida. Com a mente limpa, não! Eu
tenho que estar...
FERNANDO
— Tranqüilo?
RICARDO
— Sim, essa é a palavra.
FERNANDO
— Por um acaso, hoje tive um encontro
com a mãe do rapaz. Eu não iria te falar nada sobre isso.
RICARDO
— Como ela está?
FERNANDO
— Foi uma perca recente. Ela está muito
abalada ainda.
RICARDO
— O senhor falou sobre mim?
FERNANDO
— Sim, falei. Falei sobre o quanto você
sofre também pelo ocorrido.
RICARDO
— E ela?
FERNANDO
— Ela apenas falou sobre o filho.
RICARDO
— Um milagre ela ter parado para
ouvir o senhor.
FERNANDO
— Nos encontramos, por acaso, na praia.
Eu estava no quiosque e a reconheci. Ela só parou para conversar comigo, porque
a chamei de volta, ela havia esquecido a sandália e estava indo embora com os
pés descalços.
RICARDO
— Entendo. Eu queria muito ir a
casa dela, dar uma palavra de conforto e...
FERNANDO
— É melhor não, filho. Por enquanto,
deixemos as coisas como estão mesmo.
RICARDO
— Está bem.
CENA 27. TAKES DO RIO DE JANEIRO.
Sucessão de imagens da
cidade carioca em movimento frenético até chegar à fachada de um shopping.
CENA 28. SHOPPING. PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO. INT. DIA.
PATRÍCIA larga suas
sacolas em cima da cadeira ao lado a que se senta em seguida. DAVI senta-se na
outra e pega o cardápio em cima da mesa.
PATRÍCIA
— Ainda bem que Wesley não veio
conosco.
DAVI
— Ele é nosso amigo também.
PATRÍCIA
— Vive me importunando.
DAVI
— Mas é um cara muito legal.
PATRÍCIA
— Não é você quem vive levando
“piadinhas” dele. É claro que tem achá-lo um cara legal.
DAVI
— Ele só age assim com você,
Patrícia. Certamente, por que deve...
PATRÍCIA
— Mas eu não quero nada com ele, se
é isso que você iria dizer. Meu interesse é outro.
DAVI
(disfarçando) Hum...
PATRÍCIA
— E você sabe muito bem de quem
estou falando, tanto que quero a sua ajuda.
DAVI
(fitando a amiga) — A minha
ajuda? A minha ajuda pra quê?
PATRÍCIA — Para conquistar o Ricardo.
DAVI
(disfarçando a indignação) —
Você está falando sério, Patrícia?
PATRÍCIA
— Sim. Você é mais íntimo do Ricardo
do que o próprio Wesley. Bom, eu nunca pediria a ajuda de Wesley para isso. Só
você pode fazer isso por mim.
DAVI
— O que você quer com o
Ricardo não passa de uma noite.
PATRÍCIA
(dá uma risada irônica) — Querido, o
que eu quero é muito mais do que uma noite. São várias. (Ela ri novamente) Por mais que você não acredite Davi, eu gosto do
Ricardo. Gosto muito. E eu tenho que agir antes que apareça alguém para
atrapalhar o meu caminho.
DAVI
(ironicamente) — Se já não surgiu...
PATRÍCIA
(seriamente) — Como assim? Você está sabendo
de algo?
DAVI
— Sim, eu...
WESLEY aparece.
WESLEY
— Vocês vêm ao shopping e nem me
convidam?
DAVI se levanta e olha o
celular.
DAVI
— Desculpe Wesley, mas eu já
tenho que ir embora. Acabei de receber uma mensagem do meu irmão.
WESLEY
— Esse teu irmão é um “pé no saco”
mesmo.
DAVI
— Ele está precisando de
mim. Tchau, pessoas!
DAVI se retira. PATRÍCIA
encara WESLEY, que senta-se à mesa.
WESLEY
— Já fez o pedido?
PATRÍCIA
— Ainda não e nem vou fazer, porque
já estou indo embora.
WESLEY
— Por que você é desse jeito,
Patrícia? Ah, acho que já sei.
PATRÍCIA
— Do que está falando, paspalho?
WESLEY
— Começa com R e termina com O. Acontece
que ele te vê apenas como amiga e você não se conforma.
PATRÍCIA
(sorrindo ironicamente) — Logo quem está
falando isso, logo quem! (Ela fica séria)
O paspalho que vive correndo atrás de mim como um cachorrinho faminto. Se põe
no teu lugar, Wesley, depois fale de mim!
PATRÍCIA se levanta, pega
suas sacolas e vai embora. WESLEY balança a cabeça negativamente e dá um
sorriso de satisfação.
CENA 29. MANSÃO DOS VILARRY. SALA. INT. DIA.
Ao abrir a porta, LÍVIA
se depara com ANGELINA que está sentada no sofá. A moça se levanta e dá um leve
sorriso.
LÍVIA
— Angelina. Que surpresa!
ANGELINA
— Vim fazer companhia a senhora por
algumas horas.
LÍVIA
— Mas e a sua vida, as suas
coisas?
ANGELINA
— Eu ainda não estou trabalhando
novamente. Mas logo, logo irei começar.
LÍVIA
— Ok!
CENA 30. MANSÃO DOS VILLARY. QUARTO CASAL. INT. DIA.
ANGELINA via as fotos de
um álbum. Nas imagens, aparece WILLIAM quando bebê e criança. ANGELINA sorri
encantada. LÍVIA se emociona ao rever as fotos do filho.
LÍVIA
— Já fazia um bom tempo que
eu não revia essas fotos.
ANGELINA
(sorrindo) — Ele era muito fofo quando
bebê... (Ela muda a expressão para triste)
Aliás, ele sempre foi muito fofo.
LÍVIA
— Eu queria tanto que
tivesse dado certo entre vocês dois. Você é uma moça especial. Eu tenho que te
agradecer, Angelina.
ANGELINA
— Agradecer pelo o que, dona Lívia?
LÍVIA — Por mais que William tenha
fugido da clínica, foi você quem o convenceu a se internar por vontade própria.
E é algo que eu vou lhe ser grata para o resto dos meus dias.
ANGELINA
— Eu apenas queria o bem do William,
dona Lívia. E também porque, lá no fundo... Bem lá no fundo, eu ainda tinha
esperanças de que fosse dar certo entre nós dois.
LÍVIA pegou as mãos de
ANGELINA e deu um leve sorriso.
LÍVIA
— Você vai encontrar alguém
tão especial quanto o meu filho e será muito feliz.
ANGELINA
— Mas eu sempre estarei com ele em
meus pensamentos.
LÍVIA
— Sim. Sempre.
ANGELINA dá um leve
sorriso e pega uma das fotos.
ANGELINA
— Esse bebê não é o William.
LÍVIA
— É o Nicolas. Meu primeiro
filho.
ANGELINA
— Ah, sim... A senhora não sente
vontade de reencontrá-lo hoje em dia?
LÍVIA
— Sim. Mas parece ser algo
tão improvável. E também, não há como se ter certeza de que ele está vivo.
ANGELINA
— Mas o que a polícia fez na época?
LÍVIA
—Foram até a casa da seqüestradora
e não encontraram ninguém. Parece que ela estava separada do marido há algum
tempo. E então a polícia juntou todas as pistas que podia e não encontraram meu
filho de jeito nenhum. Depois de um tempo, as buscas foram interrompidas e o
caso foi encerrado. Nós contratamos aquela infeliz antes mesmo de Nicolas
nascer e ela ficou conosco durante quatro meses. Ganhou a nossa confiança e
acabou nos apunhalando.
ANGELINA
— E a polícia não foi atrás do marido
dela?
LÍVIA
— Não. E a casa onde eles
moravam era da tia dela. E essa tia morava em outra cidade, se eu não me
engano. É uma história confusa. Essa tia disse que não conhecia o marido da
sobrinha, por isso ele nunca foi encontrado pela polícia. Aquela bandida
simplesmente sumiu com o meu filho e eu fico imaginando que, se ele estiver
vivo, ela deve esconder a verdade dele. Ela deve ter inventado uma mentira
sobre a vida dele.
ANGELINA
— Se essa mulher ainda estiver viva, é
claro.
LÍVIA
— É. De fato. (Ela se levanta) Já está na hora do
almoço e, hoje de manhã, liguei do hospital avisando Eulália para não fazer
nada. Você quer comer alguma coisa?
ANGELINA
— Ligou do hospital?
LÍVIA
— Sim. O Augusto teve uma
queda de pressão.
ANGELINA
— E como ele está?
LÍVIA
— Já deve estar vindo
acompanhado pelo Arthur.
ANGELINA
— Ah...
LÍVIA
— Você deve estar
estranhando o fato de eu não estar vindo com ele, não é?
ANGELINA
— Sim, é um pouco estranho.
LÍVIA
— O meu casamento com
Augusto acabou, Angelina.
ANGELINA
— Eu sinto muito.
LÍVIA
— Não, não há o que sentir
por isso. Fui eu quem tomou essa decisão e estou me sentindo melhor por isso.
ANGELINA
— Eu jamais imaginei que um dia a
senhora e o doutor Augusto fossem se separar. Mas ele vai continuar aqui?
LÍVIA
— Só até se recuperar, como
o médico recomendou.
CENA 30. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. INT. DIA.
LÍVIA e ANGELINA descem a
escada. ARTHUR e AUGUSTO chegam.
ANGELINA
— Olá, doutor Augusto! Como se sente?
Eles se cumprimentaram
com dois beijinhos no rosto.
AUGUSTO
— Então Lívia lhe contou que eu
passei mal e tive que ser levado para o hospital? Me sinto melhor, Angelina.
ANGELINA
— Que bom! (Ela olha para Arthur) Olá!
ARTHUR
— Olá! (Ele olha seriamente para Lívia) O meu irmão precisa descansar e não
pode ser incomodado de jeito nenhum.
LÍVIA
— Você é o porta-voz do
Augusto?
ARTHUR — Apenas estou te alertando sobre o
estado de saúde do Augusto e espero que você não comece a falar de assuntos que
podem prejudicá-lo ainda mais.
LÍVIA
—Até onde eu sei o estado de
saúde do Augusto está muito bom. Ele apenas teve uma queda de pressão. Agora
que você já o acompanhou até aqui, faça o favor de dar meia volta e ir embora.
ARTHUR
— Vai deixar que sua esposa fale
assim com seu próprio irmão, Augusto?
AUGUSTO
— Por favor, Arthur, vá! Com a
Lívia, eu me resolvo mais tarde. Me faça mais um favor, vá à empresa e informe
Almir sobre o meu mal estar.
AUGUSTO se retira. ARTHUR
dá um sorriso irônico e encara LÍVIA.
ARTHUR
— O Augusto me falou sobre o que
aconteceu ontem e eu espero que ele não vá embora, até porque você não tem
direito nenhum para expulsá-lo de algo que é dele. Aliás, essa mansão faz parte
da herança que nos foi deixada pelos nossos pais. Se o Augusto for embora, eu
vou reivindicar meus direitos e darei um jeito de te colocar para fora.
LÍVIA
— Arthur, eu não estou em
condições de discutir com você...
ARTHUR
— Nem deve. Você já perdeu sua
razão.
LÍVIA
— Eu perdi o meu filho e
você não sabe o que é isso. E espero que você jamais sinta essa dor... Mas já
que você faz questão de levar as dores pelo seu irmão, eu digo que tenho o
pleno direito sobre essa casa. Eu me casei com seu irmão e tive dois filhos com
ele... Dois filhos que, infelizmente...
LÍVIA sente uma tontura e
é amparada por ANGELINA. ARTHUR não dá a mínima e vai embora.
ANGELINA
(preocupada) — Eulália, Eulália! (A empregada aparece) Por favor, traga um
copo d’água!
CENA 31. TAKES DO RIO DE JANEIRO.
Mostrar movimento
frenético na cidade carioca, representando passagem de tempo.
ALGUNS
DIAS DEPOIS...
CENA 32. PRAIA DE IPANEMA. EXT. DIA.
Uma barraca da revista
Sport Brasil está montada na praia. Há uma correria em relação ao ensaio
fotográfico com alguns atletas, que estão sendo produzidos para as fotos.
TAYLA ajeita a câmera e o
suporte. MARINA aparece.
MARINA
— Já está tudo preparado?
TAYLA
— Estão retocando a maquiagem
dos atletas.
MARINA
— Isso não é preciso. Não é um
ensaio fotográfico com modelos.
TAYLA
— Também acho.
CORTA,
PARA;
Afastado, SÉRGIO olha
para TAYLA. Um rapaz se aproxima.
RAPAZ
— Gatas, né?
SÉRGIO
— Sim.
RAPAZ
— São as fotografas, são donas
do estúdio que está em parceria com a nossa revista.
SÉRGIO
— Hum... Interessante.
CORTA;
PARA;
A sessão fotográfica
começa. Algumas pessoas que passam ficam olhando. Durante o ensaio, TAYLA e
SÉRGIO trocam olhares. Ela disfarça um sorriso tímido e balança a cabeça
negativamente. A sessão é finalizada. MARINA recolhe os equipamentos do
estúdio. TAYLA fica a ver as fotos e já exclui algumas que não gosta. SÉRGIO se
aproxima.
SÉRGIO
— E então, como ficaram as
fotos?
TAYLA se vira para ele e
fica o olhando fixamente.
CENA 33. AEROPORTO INTERNACIONAL TOM JOBIM. EXT. DIA.
Sucessão de imagens
mostrando aviões partindo e outros pousando na pista do aeroporto. Movimento
das pessoas. Táxis saindo e outros chegando.
CENA 34. AEROPORTO INTERNACIONAL TOM JOBIM. INT. DIA.
A porta de uma sala de
desembarque é aberta e os passageiros saem. Vemos CECÍLIA que está nervosa e
parece não conter a emoção que está preste a tomar conta. Ela dá um sorriso e
não contém as lágrimas ao ver quem estava esperando aflita.
CORTA,
PARA;
3º INTERVALO COMERCIAL
CENA 35. PRAIA DE IPANEMA. BARRACA SPORT BRASIL. Exterior. Dia.
Damos um giro pela praia de Ipanema até chegarmos à Barraca da
Sport Brasil. TAYLA continua olhando para SÉRGIO.
TAYLA —
Ficaram ótimas.
SÉRGIO —
(sorrindo) Que bom! Eu achei que, pela minha parte, houvesse ficado péssimo...
Eu não sou nada fotogênico.
TAYLA — Mas
até que você parece ser bem desinibido.
SÉRGIO —
Talvez porque eu já esteja acostumado.
TAYLA —
(sorri) Hum...
TAYLA vira-se para trás para pegar alguns equipamentos. SÉRGIO
tenta ajudá-la.
SÉRGIO — Não
quer ajuda?
TAYLA — Não,
muito obrigada! Já estou acostumada.
SÉRGIO — Você
é dona do estúdio?
TAYLA — Sim.
Eu e minha prima, na verdade.
SÉRGIO —
Legal.
TAYLA retira-se. SÉRGIO a olha. Dá um sorriso. TAYLA olha para
trás. SÉRGIO acena sorrindo. TAYLA faz o mesmo, só que com uma expressão séria.
MARINA aproxima-se de TAYLA.
MARINA —
(brinca) Eu percebi.
TAYLA —
Percebeu? Percebeu o quê?
MARINA — Um
dos atletas dando em cima de você.
TAYLA — Ele
não estava dando em cima de mim.
MARINA — Ele
estava apenas “pescando”.
TAYLA — Pura
perca de tempo.
MARINA — Vai
dizer que não gostou?
TAYLA — É um
moleque.
MARINA — Você
diz isso como se fosse uma mulher mais velha... Ele deve ter uns dois, três
anos a menos que você.
TAYLA — É
algo que não me interessa nem um pouco.
MARINA — Tudo
bem.
TAYLA e MARINA dirigem-se ao carro. TAYLA abre o
porta-bagagens do carro e põe os equipamentos dentro. MARINA a ajuda.
CENA 36. AEROPORTO INTERNACIONAL TOM JOBIM. SALA DE ESPERA.
Interior. Dia.
CECÍLIA corre para dar um abraço em SOPHIA. Abraçam-se
fortemente. Não contém as lágrimas.
CECÍLIA — Meu
Deus! Eu nem estou acreditando.
SOPHIA tira os óculos escuros. Olha fixamente para CECÍLIA.
SOPHIA — Eu
também não estou acreditando... Eu jamais pude imaginar que depois de tantos
anos fossemos nos reencontrar... É inacreditável como a vida prepara surpresas
assim.
CECÍLIA —
Sim... Você não mudou nada, Sophia.
SOPHIA dá uma risada. Toca o rosto da amiga.
SOPHIA — O
tempo passou e eu sinto a mesma sensação que sentia quando estava ao seu lado
quando éramos adolescentes.
CECÍLIA —
Também sinto o mesmo.
CECÍLIA pega um lenço. Seca suas lágrimas. SOPHIA ri
novamente.
SOPHIA — Não
acredito que já veio com um lenço.
CECÍLIA — Eu
sabia que iria acabar me emocionando... É sempre bom prevenir.
Repentinamente, uma aglomeração de repórteres e fotógrafos se
forma em frente a uma das salas de desembarque. Em meio ao tumulto, estão
MIGUEL e ARIEL que tentam fugir da aglomeração e dos flashes vindos das
câmeras.
PATRÍCIA —
(pergunta-se) O que será que está acontecendo?
SOPHIA — Deve
ser algum famoso internacional, provavelmente.
CECÍLIA — Bem
provável... Vamos?
SOPHIA — Sim,
vamos.
SOPHIA empurra as bagagens. CECÍLIA a ajuda. Ao saírem do
aeroporto, as duas colocam as bagagens no porta-malas. Uma mulher aproxima-se
com uma amiga. Mostra o celular.
NANÁ —
Conseguiu tirar a foto dele.
CININHA — Você
já viu a coletânea de obras mais famosas dele?
NANÁ —
Está falando de “A Alma de Sophia”?
Ao ouvir essas palavras, o coração de SOPHIA bate mais forte.
Fica atenta.
CININHA — Essa
coletânea é tão linda quanto o artista.
As duas amigas caem na risada. Vão embora. SOPHIA olha
espantada para CECÍLIA.
SOPHIA — Você
ouviu?
CECÍLIA — O
quê?
SOPHIA —
Nada... Eu devo estar ouvindo demais.
SOPHIA volta a arrumar as bagagens dentro do porta-malas.
CECÍLIA a ajuda. SOPHIA mostra-se pensativa.
CENA 37. TAKES DO RIO DE JANEIRO. GERAIS. Exterior. Dia.
Mostramos o movimento da cidade do Rio de Janeiro em ritmo
frenético, acompanhado por uma música ambiente, até chegarmos à fachada de uma
confeitaria.
CENA 38. CONFEITARIA COLOMBO. RESTAURANTE CABRAL. Interior. Dia.
Damos um giro pela confeitaria, até irmos de encontro à mesa
em que CECÍLIA e SOPHIA estão. Conversam.
SOPHIA —
(sorri) Lembra-se de que você dizia que não iria ter que se casar e nem mesmo
ter filhos?
CECÍLIA —
Lembro... E hoje, estou casada e com dois filhos.
SOPHIA — E
foi merecido depois de tudo que você passou.
CECÍLIA —
Sim... Quando Henrique e eu nos casamos, eu pensava que jamais poderia ter um
filho novamente depois do aborto... Quando descobri que estava grávida, eu nem
acreditei. Foi a maior felicidade da minha vida... Quero dizer, as duas maiores
felicidades da minha vida foi ter engravidado de Sérgio e Patrícia. Apesar de
que hoje, ela é uma garota muito rebelde.
SOPHIA —
Assim como você era.
CECÍLIA — De
fato... Contudo, há vezes em que ela passa dos limites.
SOPHIA — E o
Sérgio?
CECÍLIA — O
Sérgio é atleta, ele pratica várias modalidades e estava viajando pelo mundo em
uma competição mundial de mountain bike... Ele voltou recentemente porque
acabou sofrendo um acidente e foi eliminado da competição.
SOPHIA — Um
acidente? Mas ele não se machucou?
CECÍLIA — Não,
ele não se machucou... Pelo menos, ele chegou até a semifinal.
SOPHIA — O
que já é algo muito importante.
CECÍLIA — Sim.
Ainda mais pelo fato de que ele foi o único brasileiro até agora a chegar a
semifinal dessa competição... Eu fiquei orgulhosa até.
SOPHIA — Eu
também ficaria.
CECÍLIA — Mas
agora me fale de você, minha amiga... O que você fez depois que foi embora de
Amsterdã?
SOPHIA —
Depois disso, eu fiquei totalmente sem rumo... Foram dias e noites terríveis.
CECÍLIA — Você
ficou sem dinheiro?
SOPHIA —
(fita Cecília) Na verdade, não... Eu estava sem rumo, não sabia exatamente para
onde ir e não queria voltar ao Brasil... Então, eu fui para a Espanha e em
Bracelona, acabei conhecendo o Pietro.
CECÍLIA — Você
não me falou desse tal de Pietro, aliás, você não me falou de quase nada em
relação a como viveu depois que saiu de Amsterdã.
SOPHIA —
Porque eu queria chegar aqui e te falar pessoalmente... Não gosto de falar
sobre muitas coisas pela internet.
CECÍLIA —
Entendo.
SOPHIA — O
Pietro sabia que eu era uma estranha, mas mesmo assim me acolheu... É como se
não tivesse nenhum motivo para termos receio um do outro e não tivemos mesmo.
CECÍLIA —
Vocês tiveram um caso?
SOPHIA —
Sim... Acabamos nos apaixonando.
CECÍLIA —
(surpresa) Hã?
SOPHIA —
Confesso que a maioria dos momentos em que tivemos juntos, eu fui alegre e
sorridente... Ele era dançarino e adorava festas, se divertia muito e enxergava
a vida como algo belo... Ele ficou viúvo muito cedo, mas não deixou de
acreditar na felicidade... Nossa paixão não durou muito, acabamos nos tornando
grandes amigos e vivíamos juntos. Ele sabia que eu jamais esqueceria Miguel e
não iria conseguir amar ninguém de verdade. O Miguel sempre esteve em meus
pensamentos e está até hoje.
CECÍLIA — E
por que você não foi atrás do Miguel?
SOPHIA —
Porque eu tive medo.
CECÍLIA — Medo?
SOPHIA — Sim,
medo... Medo de que ele não me perdoasse, medo de que Guilherme viesse atrás de
nós e acabasse cometendo uma loucura... Eu não queria ferir Miguel.
CECÍLIA — E o
Pietro?
SOPHIA —
Pietro já partiu... Há cinco anos atrás, ele descobriu que estava com um tumor
cerebral raro e acabou falecendo... Ele só me contou isso quando acabou indo
parar no hospital e ficou internado por uma semana. Foi mais um dos baques da
minha vida, mas... Eu já superei. Ele era um homem afortunado e me deixou tudo
em um testamento, que eu também nem sabia da existência... Mas a maior fortuna
que ele me deixou foi de eu posso ver a vida com outros olhos. Quando nos
conhecemos, eu estava desnorteada. Eu não sabia que rumo ou caminho seguir, eu
não sabia de exatamente nada.
CECÍLIA — E
agora, o que você pretende fazer?
SOPHIA —
Procurar a minha filha.
CECÍLIA — Será
difícil essa reaproximação e...
SOPHIA —
(interfere) Eu sei disso, Cecília, eu sei... Contudo, eu preciso me reaproximar
dela e pedir perdão... Eu jurei para mim mesma e jurei para Pietro, antes dele
morrer, que eu iria onde minha filha estivesse para lhe pedir perdão por tê-la
abandonado. Eu tive medo de acabar não sendo uma mãe de verdade, eu tive medo
de feri-la assim como a minha mãe me feriu.
CECÍLIA —
Entendo, Sophia, mas você terá que estar preparada emocionalmente para qualquer
reação que possa vir de sua filha... As coisas não serão tão fáceis.
SOPHIA —
Sim... E eu estou preparada.
CECÍLIA — E em
relação ao Miguel? Você sempre o amou e ele também nunca deve ter te esquecido.
SOPHIA — Por
um lado, eu ainda tenho esperanças de reencontrá-lo, mas por outro... É como se
sempre fosse existir uma barreira entre nós dois.
CECÍLIA —
Acredito que essa barreira não exista mais... O amor de vocês é verdadeiro.
SOPHIA fica pensativa.
CENA 39. TAKES DO RIO DE JANEIRO. GERAIS. Exterior. Noite.
Sucessão de imagens do Rio de Janeiro em ritmo frenético,
acompanhado por uma música ambiente, mostra o movimento do Rio de Janeiro até
chegarmos à fachada do condomínio onde TAYLA e ARTHUR moram.
CENA 40. AP DOS FONTINELLY VILLARY. BANHEIRO. Interior. NOITE.
TAYLA sai do banho. Enrola-se em um roupão. Liga o secador.
Seca os cabelos, olha para o espelho. Lembra-se de SÉRGIO.
FLASHBACK
TAYLA – Mas até que você
parece ser bem desinibido.
SÉRGIO – Talvez porque
eu já esteja acostumado.
TAYLA – (sorri) Hum...
TAYLA vira-se para trás
para pegar alguns equipamentos. SÉRGIO tenta ajudá-la.
SÉRGIO – Não quer ajuda?
TAYLA – Não, muito
obrigada! Já estou acostumanda.
CORTA PARA: QUARTO
DO CASAL
ARTHUR entra no quarto. Coloca sua maleta em cima da cama.
Tira gravata e a camisa. Depois fica só de cueca. Dirige-se ao banheiro.
CORTA PARA: BANHEIRO.
ARTHUR entra sério. Depara-se com TAYLA secando os cabelos.
Não dirige uma palavra sequer à esposa. Entra no Box. Tira a cueca. Liga o
chuveiro e mete-se embaixo.
CENA 07. AP DOS VIDAL FERRAZ. QUARTO DE SÉRGIO. Interior. Noite.
SÉRGIO tenta fazer algumas notas no violão. Pensa em TAYLA. Dá
um sorriso.
FLASHBACK
SÉRGIO – Não quer ajuda?
TAYLA – Não, muito
obrigada! Já estou acostumada.
SÉRGIO sorri novamente. Volta a tentar as notas. PATRÍCIA
aparece. Encosta-se à porta. Olha seriamente para o irmão,
PATRÍCIA — Qual é
a moral de ficar tocando essa merda sem saber?
SÉRGIO —
Antes eu sabia... Agora estou tentando aprender novamente.
PATRÍCIA — Então
faça aulas para isso, mas bem longe daqui.
PATRÍCIA retira-se. SÉRGIO balança a cabeça negativamente.
SÉRGIO —
(sorri) Irmãzinha, irmãzinha... Nem você tira meu bom humor hoje.
SÉRGIO tenta mais algumas notas no violão. Sorri.
4º INTERVALO COMERCIAL
CENA 41. MANSÃO DOS VILLARY. SALA DE JANTAR. Interior. Noite.
Damos um giro por toda a mansão Villary até chegarmos à sala
de jantar. AUGUSTO e LÍVIA jantam.
LÍVIA —
Agora que você já se sente melhor, você pode ir embora e falar com seu advogado
para dar início no processo de divórcio.
AUGUSTO — Até
posso me divorciar, Lívia, mas não sairei da minha casa... Agora se você não
está satisfeita, a porta está aberta!
LÍVIA —
Eu também não irei embora.
AUGUSTO — Você
não tem nada mesmo... Tem que ficar aqui.
LÍVIA —
Quem disse que eu não tenho nada? Só porque eu não vim de uma família
afortunada como a sua? Augusto, você é muito prepotente... Às vezes, eu me
pergunto o que me levou a casar com um homem feito você... Eu realmente errei.
AUGUSTO — Não é
hora para arrependimento, Lívia.
LÍVIA —
Você não gosta de ouvir a verdade, esse é o seu problema... O mais irônico
disso tudo é que seu irmão é exatamente igual a você: dois prepotentes, dois machistas!
Não negam que são irmãos. (levanta-se; encara Augusto) Eu não vou embora... E
dê um jeito de falar logo com seu advogado para dar início ao processo de
divórcio.
AUGUSTO — Acho
que você está agindo de forma precipitada... Se nós nos divorciarmos, não é pra
se arrepender depois.
LÍVIA —
(dá uma risada irônica) Eu não vou me arrepender, Augusto, pode acreditar!
LÍVIA retira-se. AUGUSTO fica pensativo. Dá um gole no vinho.
CENA 42. CASA DOS BOAVENTURA. PISCINA. Exterior. Noite.
RICARDO dá um mergulho na piscina. Ao voltar, depara-se com
DAVI. Dá um leve sorriso,
DAVI —
Se já está mergulhando é porque está ficando bem realmente.
RICARDO — Vem.
DAVI — É
melhor não.
RICARDO — Por
quê?
DAVI —
Fique aí você.
RICARDO sai da piscina. Vai em direção a DAVI.
DAVI —
(cont.) O que você vai fazer, Ricardo?
RICARDO pega DAVI pelo braço. O empurra na piscina. Atira-se
na piscina em seguida. Pega DAVI pelas costas.
DAVI —
(cont.) Você não devia ter feito isso... Como eu vou voltar para casa?
RICARDO — Eu te
empresto uma roupa... Ou melhor, fique comigo essa noite.
DAVI —
Eu estou tão feliz... Você está se recuperando. Até já brincou comigo me
empurrando na água.
RICARDO — Eu
apenas quero descontrair um pouco. Como eu disse para meus pais... Vai ser
difícil tirar aquela cena da minha cabeça, mas eu preciso viver.
DAVI —
Sim.
RICARDO faz menção de beijar DAVI, que esquiva-se.
RICARDO — O que
houve?
DAVI — E
se seus pais virem?
RICARDO — Eles
sabem que estamos ficando.
DAVI —
Ficando?
RICARDO — Sim.
DAVI —
Nós temos um relacionamento, Ricardo.
RICARDO — Sim,
um relacionamento.
DAVI —
Eu gosto muito de você.
RICARDO —
(aproxima-se da boca de Davi) Também gosto muito de você, Davi.
RICARDO e DAVI ficam alguns instantes sentindo a respiração um
do outro. Tomam coragem, se beijam por alguns instantes. Em seguida, DAVI atira
água em RICARDO que revida fazendo o mesmo, depois afunda DAVI. Os dois
mergulham. Da vidraça, CRISTINA observa RICARDO e DAVI se divertindo. Dá um
sorriso.
CENA 43. BELMOND COPACABANA PALACE HOTEL. QUARTO DE MIGUEL E
ARIEL. Interior. Noite.
MIGUEL vai até a sacada. Fica admirando a vista para a praia
de Copacabana. ARIEL aparece. Fica olhando a vista.
MIGUEL —
(comenta) Nem acredito que estou de volta.
ARIEL —
Também não acredito... Eu fui embora para a Europa e era muito adolescente
ainda... Jamais imaginei que fosse voltar para o Brasil e para morar ainda.
MIGUEL sai da sacada. Entra no apartamento. ARIEL o acompanha.
MIGUEL —
Ariel, você não é obrigado a ficar aqui comigo.
ARIEL —
Vim porque eu não podia te deixar.
MIGUEL — Você
terá que fazer sua vida... Você precisa encontrar um amor.
ARIEL — Já
encontrei.
MIGUEL — (dá
um sorriso) Você não me falou nada sobre isso...
Quem é? Você deixou essa pessoa na Europa pra vir comigo? Trate de voltar já!
ARIEL —
Não... Eu estou confuso... Eu já nem sei mais o que falo.
MIGUEL — Quem
é essa pessoa, Ariel? Deve ser uma mulher de sorte.
ARIEL —
Não é ninguém, Miguel... Vou dormir.
MIGUEL — Já?
ARIEL —
Sim. Estou exausto da viagem. Não esqueça que amanhã temos que ir à aquele
estúdio fotográfico, para acertar algumas coisas e saber como será o ensaio e a
exposição.
MIGUEL — Ok!
ARIEL retira-se. MIGUEL fica pensativo.
CENA 44. AP DOS VIDAL FERRAZ. QUARTO DE HÓSPEDES. Interior.
Noite.
SOPHIA pega uma caixa, a mesma que guardava as cartas de
MIGUEL que recebera quando jovem. CECÍLIA e HENRIQUE entram no quarto,
CECÍLIA — Quer
alguma coisa?
SOPHIA —
Não... Eu estou muito bem hospedada. Nem sei como agradecê-los.
HENRIQUE — (sorri)
Não precisa agradecer, Sophia, você é a melhor amiga da minha esposa e é minha
amiga também.
CECÍLIA —
Estamos felizes que esteja conosco... Sinta-se em casa.
SOPHIA sorri.
HENRIQUE — Bom, já
vou me recolher... Boa noite, Sophia!
SOPHIA — Boa
noite, Henrique!
HENRIQUE retira-se. CECÍLIA senta-se na cama ao lado de
SOPHIA.
SOPHIA — Está
vendo essa caixa? Aqui eu guardo todas as cartas que recebi de Miguel e os dois
desenhos que ele me deu quando éramos crianças.
CECÍLIA — É
impressionante! Está tudo conservado.
SOPHIA — Eu
sempre cuidei disso com muito afeto... É como se fosse uma lembrança concreta,
a única lembrança boa de um passado turbulento.
CECÍLIA —
Entendo o que você quer dizer.
SOPHIA pega um dos desenhos. Fica olhando admirada.
CENA 45. TAKES DO RIO DE JANEIRO. GERAIS. Exterior. Dia.
O sol se ergue pelo céu. Damos um giro na cidade do Rio de
Janeiro e mostramos o movimento da cidade, até chegarmos ao Recreio dos
Bandeirantes, onde mostramos a fachada da casa dos Boaventura.
CENA 46. CASA DOS BOAVENTURA. SALA. Interior. Dia.
A campainha toca. GREGÓRIO aparece. Atravessa a sala e vai
abrir a porta. Abre-a. Depara-se com PATRÍCIA.
GREGÓRIO — Oi,
Patrícia!
PATRÍCIA —
Desculpe-me vir tão cedo, Gregório, mas eu precisava ver Ricardo.
GREGÓRIO — Ah,
sim... Entre! (fecha a porta) Eu vou chamar o Ricardo.
PATRÍCIA — Eu
posso ir até o quarto dele, Gregório... Eu trouxe uma caixa de chocolate que
ele gosta e quero fazê-lo uma surpresa.
GREGÓRIO — Mesmo
assim, Patrícia, eu vou chamá-lo.
PATRÍCIA — Está
bem.
GREGÓRIO vai se retirar, mas é impedido, ao ver RICARDO e DAVI
surgindo à escada.
PATRÍCIA —
(estranha) Davi? O que está fazendo aqui, há essa hora?
DAVI fica olhando para PATRÍCIA sem reação.
CENA 47. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. GALERIA FOTOGRÁFICA. Interior. Dia.
MIGUEL e ARIEL chegam ao estúdio. Olham para os lados. MIGUEL
observa as fotos que estão expostas.
MIGUEL — Pelo
visto, são ótimas fotografias.
TAYLA —
(aparece; sorri) E você é um excelente artista... É um prazer tê-lo em nosso
estúdio fotográfico.
MIGUEL vira-se. Sorri ao ver TAYLA. MARINA aparece. MIGUEL a
olha. Parece ter ficado encantado.
MARINA —
(cumprimenta) Seja bem-vindo, Miguel Nunes de Castro!
MIGUEL olha MARINA fixamente. Alternamos os olhares de MIGUEL
e MARINA. Congela em “MIGUEL”.
FIM DO CAPÍTULO 32
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