Memória DNA | Com Amor | Capítulo 34



CAPÍTULO 34

NOVELA DE
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

DIREÇÃO
HENZO VITURINO
MIGUEL RODRIGUES

DIREÇÃO GERAL
MIGUEL RODRIGUES

NÚCLEO
DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
CENA 01. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. INT. DIA.
REJANE chega ao estúdio e TAYLA vem a sua direção. Está muito nervosa.
TAYLA          — Eu desmarquei o ensaio de hoje à tarde.
REJANE         — Por quê?
TAYLA          — Porque aconteceu uma coisa e precisaremos sair.
REJANE         — Mas o que aconteceu? Você está nervosa, Tayla.
TAYLA          — Eu te falo mais tarde. Vá para casa, descanse. Eu vou fazer o mesmo.
REJANE         — Quer que eu avise a Marina?
TAYLA          — Não. Ela já deve estar chegando e iremos fechar o estúdio.
REJANE         — Ok! Tchau!
TAYLA          — Tchau! (TAYLA se encosta e uma cômoda e passa as mãos pelos cabelos. MARINA chega) Marina.
MARINA       — Vi a Rejane saindo. Ela foi embora?
TAYLA          — Eu disse para ela ir pra casa.
MARINA       (estranhando) — Por qual motivo?
TAYLA          — Porque... Eu...
MARINA       — Aconteceu alguma coisa?
TAYLA          — Marina, eu só peço que você fique calma.
MARINA       — Mas como posso ficar calma? É algo a ver com as finanças do estúdio?
TAYLA          — Não. Há alguém a sua espera no escritório.
MARINA       — Quem?
TAYLA          — Eu não posso te falar.
MARINA       (sorrindo) — Acho que já sei quem é. É o meu pai e ele pediu para você fazer esse suspense todo.
TAYLA          — Acho melhor você ir lá. Eu vou embora. A chave está ao lado do notebook.
MARINA       — Vai me deixar sozinha?
TAYLA          — Você não está sozinha.
MARINA       — Mas quem será essa pessoa, meu Deus?
TAYLA vai embora e fecha a porta. MARINA ouve um barulho de salto-alto e se vira para trás.
SOPHIA         — Então você pensou que fosse seu pai.
MARINA       (um pouco nervosa) — Quem é você?
SOPHIA (respira fundo e solta o ar com nervosismo) — Eu sou a sua mãe.
MARINA       (descrente) — Espera um pouco. O que você falou?
SOPHIA         — Sou eu, Marina, a sua mãe. (MARINA fica olhando para SOPHIA, depois se acômoda e fica ofegante. Não contém as lágrimas) Eu sei que não deveria ter vindo assim, mas... Mas eu precisava te ver novamente após tantos anos. Eu sei que será difícil no início. Sei que você não deve estar conseguindo assimilar direito, deve estar confusa e sofrendo ao mesmo tempo...
MARINA       (revoltada) — Cale a boca! Você volta após tantos anos, chega do nada e ainda se sente no direito de dizer que sabe o que estou sentindo. (Ela se afasta um pouco e passa as mãos pelos cabelos) Isso não pode ser verdade. Meu Deus!
SOPHIA         — Marina, eu só quero você me ouça.
MARINA       — Eu não tenho nada para ouvir que venha de sua boca. Você tem noção do que me fez passar? Você sabe como é a dor de uma criança que é abandonada pela própria mãe?
SOPHIA         — Eu já passei por coisas piores.
MARINA       — E diz isso com a maior naturalidade? Você não sabe o que eu passei. Eu era apenas uma criança de cinco anos quando você abandonou a mim e ao meu pai sem o mínimo de sentimento.
SOPHIA         — Eu tive os meus motivos.
MARINA       — Que motivos? Você não amava o meu pai e também não me amava. Você não passa de uma golpista.
SOPHIA         — Eu não admito que você fale assim comigo.
MARINA       — Você não tem o direito de admitir ou deixar de admitir algo. Se ponha no seu lugar! Você me abandonou quando eu era apenas uma criança e teve a falta de escrúpulos e caráter de roubar o meu pai. Golpista! Ladra! Voltou pra quê? Para eu ter que relembrar de sua presença, para eu ter a certeza de que a mulher que arruinou a minha vida e a de meu pai ainda está viva?
SOPHIA         — Eu voltei pelo seu perdão.
MARINA       — Perdão? (Ela se aproxima de SOPHIA e a encara com desprezo) Eu jamais irei te perdoar.
SOPHIA         — Eu sei o que está sendo difícil, Marina. Eu sei que não mereço carregar o título de “mãe” quando eu não fui uma para você. Eu estou arrependida por ter te abandonado. Voltei pelo seu perdão, pois só assim irei conseguir viver em paz. Por mais que você não acredite, eu sei sim o que você está sentindo. Você só precisa entender que eu tive os meus motivos para abandonar tudo. Eu não devia ter tirado aquela pequena fortuna do cofre, mas eu não tinha nada e precisa ir embora o mais rápido possível. Eu só queria te poupar.
MARINA       — Me poupar? Poupar-me do quê? Quais são as razões para você ter me abandonado? Quando uma mãe é uma mãe de verdade, ela não tem nenhuma razão para abandonar um filho. Você não é mãe, você nem mesmo conseguir ser humana!
SOPHIA         (chorando) — Você está me tratando assim porque está em um momento de raiva, de mágoa... Mas você terá que parar para me ouvir algum dia e teremos que conversar sobre o que aconteceu realmente.
MARINA       — Eu não faço questão de ouvir suas explicações esfarrapadas. Você já passou vinte anos longe de mim e o meu único desejo é que continue assim. Nunca mais me procure.
SOPHIA         — Marina, por favor, não faça isso comigo!
MARINA       — Eu não quero mais ouvir nenhuma palavra. Você já assinou a sua sentença. Fique longe de mim. Agora, me faça o favor de se retirar e nunca mais pisar seus pés aqui. Mantenha distância de mim.
SOPHIA         — Eu não vou sair enquanto você não me ouvir.
MARINA       (revoltada) — Eu já pedi para que você saia.
SOPHIA         — Eu sabia que não iria ser uma boa mãe, por isso eu cometi o erro de te abandonar, minha filha.
MARINA — Do que você me chamou? Limpe a sua boca!
SOPHIA         — Eu não queria te fazer sofrer.
MARINA       — Chega! (MARINA perde a paciência e pega sua mãe pelo braço e a leva até a porta aos empurrões) Saia da minha vida!
SOPHIA         (se defende e pega a filha pelo braço) — Você não pode fazer isso comigo. Eu sei que errei e estou arrependido, mas eu continuo sendo sua mãe.
MARINA       — Me solte!
Descontrolada, MARINA tenta dar uma bofetada em SOPHIA, mas esta pega seu braço com força e a empurra contra o chão. MARINA cai no chão e fica olhando SOPHIA respirando ofegante.
SOPHIA         — Você nunca mais levante a mão para mim. Eu sou sua mãe e sou um ser humano acima de tudo. Você tem todo o direito de se sentir magoada, de sentir com raiva e eu entendo que tenha me falado barbáries, mas eu não vou permitir que você me agrida! E eu não vou sair de sua vida tão facilmente. Eu não pretendo cometer o mesmo erro novamente.
MARINA       (com raiva) — Eu te odeio! Eu quero que você morra! Eu vou acabar com sua vida!
SOPHIA         — A minha vida já foi acabada de várias formas e eu estou tentando recuperar o que ainda resta.
MARINA       — Você diz isso como se fosse a vítima da história.
SOPHIA         — Eu não sou a vítima, mas também não sou a culpada.
MARINA       — Puro drama. Está tentando me enganar passando essa imagem de mulher arrependida. Você é fria e cruel. Acha que eu ainda me esqueci do que você quando eu lhe dei aquele desenho? Eu fazia de tudo para te agradar e você me tratava com frieza. E o que você fez com aquele desenho é algo que carrego até hoje. Toda vez que eu lembro, eu sofro por dentro. Aquela sua atitude foi a prova de que você não sente nada, de que você não tem coração.
SOPHIA         (balançando a cabeça negativamente) — Quando você souber de tudo que tenho para lhe contar, você entenderá. Na verdade, eu espero que entenda. (Ela tira um cartão da bolsa e coloca em cima de uma cômoda) Nesse cartão está o endereço de onde estou hospedada. Eu vou te dar um prazo para me procurar.
MARINA       (dá uma risada irônica em meio as lágrimas) — Eu não vou fazer isso. Eu quero distância de você.
SOPHIA         — Mas eu voltarei. Posso até não ter o seu perdão, Marina, mas você terá que ouvir tudo que tenho para lhe falar.
MARINA       (se levantando do chão) — Eu vou acabar com você.
SOPHIA         — Se você soubesse da metade...
Ela abre a porta, mas para ao ouvir a filha falar:
MARINA       — O seu drama não me comove.
SOPHIA sente um arrepio ao lembrar-se de quem dizia essa frase, mas disfarça.
SOPHIA         — Eu estarei te esperando, Marina.
ELA vai embora. Revoltada, MARINA bate a porta e começa a quebrar alguns objetos decorativos.
MARINA       (grita) — Desgraçada!
Ela sai do estúdio e vê SOPHIA já do outro lado da rua. SOPHIA pega seu celular e manda uma mensagem para CECÍLIA. MARINA olha para o lado e vê que um carro está vindo. Quando o automóvel se aproxima, propositalmente, MARINA atravessa a rua e acaba sendo atropelada. SOPHIA se vira para trás e toma um susto ao ver sua filha caída no chão.
SOPHIA     (grita desesperada) — Marina!

CENA O2. RESTAURANTE. INT. DIA.
LÍVIA e FERNANDO estão almoçando. Conversam. Ele está atento a conversa.
FERNANDO — Então, você teve um filho sequestrado?
LÍVIA             — Sim.
FERNANDO — Eu nem sei o que dizer.
LÍVIA             — Não há o que dizer mesmo.
FERNANDO — É que se passa pela minha cabeça o fato de você ter perdido um filho recentemente. Isso é tão triste.
LÍVIA             — Sim. Só uma mãe sabe que dor é essa.
FERNANDO  — Você não tem vontade de reencontrar seu filho que fora sequestrado, saber se ele está vivo, se está bem...
LÍVIA             (fica um pouco pensativa antes de responder) — É o que eu estava indo fazer antes de acabar batendo em seu carro.
FERNANDO — Mas você tem pistas? A polícia reabriu o caso?
LÍVIA             — Na primeira vez, a polícia não conseguiu fazer nada por mim e, então, desta vez, nem chegaria a se mover. Eulália, empregada fixa de minha casa e também uma grande amiga, me falou que um motorista que trabalhou há anos na mansão era amigo do marido da bandida que trabalhou como babá de Nicolas. Na época, a polícia não conseguiu encontrar o marido dela e também parece que eles estavam separados já há algum tempo.
FERNANDO — E por essa separação, a polícia descartou o fato de se poder vincular o marido ao sequestro?
LÍVIA             — Bem provável.
FERNANDO — E como era o nome dessa babá?
LÍVIA             — Ruth. O nome da desgraçada era Ruth! Lembro-me até hoje da primeira vez em que essa infeliz pisou os pés na mansão. De todas as moças que havíamos entrevistado, ela foi a que mais nos passou a imagem de responsável e confiável. Ela era meiga, simpática demais e nunca iriamos desconfiar que um dia ela pudesse levar Nicolas para um passeio e fosse desaparecer com ele.
FERNANDO — Provavelmente, ela tinha um desvio de comportamento e fazia de tudo para que vocês não percebessem.
LÍVIA             — Eulália também me falou que essa criatura não conseguia segurar uma gravidez até o final e já tinha passado por abortos.
FERNANDO — Então está explicado. Devia ser uma mulher traumatizada por nunca conseguir aguentar uma gestação até o final e devia ter sérios problemas mentais. Bom, isso só um médico pode explicar direito.
LÍVIA             — Entendo.
FERNANDO — E quando você pretende procurar esse homem que trabalhou como motorista para vocês?
LÍVIA             — Amanhã mesmo.
FERNANDO — Podemos fazer isso hoje.
LÍVIA             — Não, eu não quero te meter nessa história. Ter me escutado já foi uma bela forma de me servir como amigo.
FERNANDO — Só que eu sinto que posso fazer muito mais por você. Eu acredito em destino, Lívia, e se nos reencontramos não foi por acaso. Eu quero te ajudar a encontrar seu filho.
LÍVIA             (emocionada) — Eu nem sei o que dizer.
FERNANDO (sorrindo) — Não precisa dizer nada. Como é o nome do motorista?
LÍVIA             — Genésio.
FERNANDO — Podemos ir agora à casa dele.
LÍVIA             — Não, é melhor não.
FERNANDO — Por quê?
LÍVIA             — Façamos isso amanhã.
FERNANDO — Está bem.
LÍVIA             — Eu já tenho que ir para casa.
FERNANDO — Só vou pagar a conta e já podemos ir. Não se preocupe em levar até em casa, eu pego um táxi.
LÍVIA             — Não, eu faço questão de te levar em casa.
FERNANDO (sorrindo) — Acho que estamos fazendo papéis inversos.
LÍVIA             — Sim, estamos.
FERNANDO sorri novamente e fica olhando fixamente para LÍVIA.
FERNANDO — Com licença!
Ele se levanta e se dirige ao caixa. LÍVIA dá um leve sorriso e fica pensativa.

CENA 03. FACHADA DE UM CONDOMÍNIO. EXT. DIA.
Vemos o carro de LÍVIA chegando em frente ao condomínio onde FERNANDO mora.
FERNANDO — Chegamos!
LÍVIA             (observando o lugar) — Parece ser bem agradável aqui.
FERNANDO — Sim, de fato.
LÍVIA             — Sua esposa deve estar preocupada já.
FERNANDO — Eu não tenho esposa.
LÍVIA (surpresa)    — Ah...
FERNANDO — Desde que me separei de Cristina, nunca mais pensei em me casar novamente. Não que meu casamento tenha sido ruim a ponto de eu não desejar me casar novamente, ao contrário, tive momentos maravilhoso com ela.
LÍVIA             — E por que acabou que eu mal lhe pergunte?
FERNANDO — Não tínhamos a mesma visão do mundo. Na verdade, eu não sei por que não deu certo. E também, eu não nasci para casar. Contudo, confesso que sinto falta de uma relação séria. Logo depois do divórcio, Cristina veio a se casar com Gregório. Acho que ela já estava apaixonada por ele há um bom tempo.
LÍVIA             — Hum...
FERNANDO — Nem sei por que estou te falando isso, nunca falei sobre essa minha desconfiança para ninguém.
LÍVIA             — Eu confiei em você e você pode confiar em mim.
FERNANDO — Sim, eu confio. Ela e o Gregório já eram amigos desde a adolescência.
LÍVIA             — Mas você se sente alguma coisa por isso?
FERNANDO — Não. Porque eu sei que Cristina foi fiel a mim durante os anos que ficamos casados, assim como fui fiel a ela. E também eu só tenho a agradecer ao Gregório, porque ele é como um pai para o Ricardo e é assim que meu filho o vê, tanto que ele diz a qualquer um que tem dois pais.
LÍVIA             (apreensiva) — Sei.
FERNANDO —O Ricardo é o meu maior presente. É como se não tivéssemos o escolhido, mas ele é quem tivesse feito a escolha.
LÍVIA             — Como assim?
FERNANDO — Ele não é nosso filho legitimo, mas é de coração e alma.
LÍVIA             — Ah, então ele é adotado.
FERNANDO — Sim.
LÍVIA             — Que idade ele tinha?
FERNANDO — Ele era um bebê ainda.
LÍVIA             — Adotar é um dos atos que considero mais humanos.
FERNANDO — Também acho. Agora o Ricardo já está grande, se formou como arquiteto e já começou hoje a trabalhar em um escritório de arquitetura.
LÍVIA             — Que bom!
FERNANDO — Ele se interessou pela arquitetura quando me via trabalhando como designer de interiores. (LÍVIA desvia o olhar. Ele percebe) Você ainda sente raiva do meu filho, não é?
LÍVIA             — Não é raiva, Fernando.  Aquela noite foi terrível, eu estava desesperada e não sabia o que fazer. Eu não fazia ideia de que William estava embriagado e que estava no meio do trânsito. O seu filho não teve culpa de nada, mas mesmo assim... Eu não me sinto bem em ouvir falar nele. E é por isso que acredito que devemos terminar nossa amizade aqui.
FERNANDO (pegando a mão dela) — Por favor, Lívia, não vamos acabar o que recém está começando. Deixe-me ajudar a encontrar seu filho. Depois que conseguirmos, eu saio de sua vida!
LÍVIA ficou o olhando.

CENA 04. HOSPITAL SAMARITANO. SALA DE ESPERA. INT. DIA.
CECÍLIA chega e vê SOPHIA sentada em uma poltrona. SOPHIA se levanta e abraça a amiga fortemente.
CECÍLIA        — Como ela está?
SOPHIA         — Ela não se feriu gravemente. Apenas ralou o joelho e teve uma pequena fratura no braço.
CECÍLIA        — Como aconteceu? Vocês chegaram a conversar?
SOPHIA         — Sim, Cecília. Foi doloroso demais. A Marina estava com muita raiva e me falou coisas terríveis. Ela me pegou pelo braço, tentou me expulsar do estúdio à força e, se eu não tivesse sido mais rápida, eu até mesmo teria levado uma bofetada. Você acredita nisso?
CECÍLIA        (indignada e surpresa) — Meu Deus! Ela teve a pior reação possível.
SOPHIA         — Sim. E foi por essa reação que eu já não sei se tenho mais esperanças de que ela vá me perdoar. Eu apenas desejo que ela me ouça e entenda as minhas razões por tê-la abandonado.
CECÍLIA        — Tudo vai dar certo, Sophia.
SOPHIA         — Eu espero.
CECÍLIA        — E o motorista do carro ajudou pelo menos?
SOPHIA         — Sim. Ficou desesperado. De certa forma, eu estou me sentindo culpada por esse atropelamento.
TAYLA aparece. Está nervosa.
TAYLA          — E a Marina, como ela está?
SOPHIA         — Ela está bem. Não se feriu gravemente.
TAYLA          — E como foi a conversa entre vocês duas?
SOPHIA         — Ela irá te contar. Já que ela não quer me ver de jeito nenhum, eu vou embora. Vamos, Cecília!
TAYLA          — Sophia... Espere.
SOPHIA         (se vira para TAYLA) — Fale.
TAYLA          — Eu já imaginava que um dia você fosse voltar e sempre aconselhei a Marina em relação a te perdoar, a não deixar que essa mágoa tomasse conta dela. Eu apenas espero que ela te perdoe e veja que você errou, mas está arrependida.
SOPHIA         — Muito obrigado, Tayla. É bom saber que Marina tem uma amiga como você. Até!
TAYLA          — Até.

CENA 05. HOSPITAL SAMARITANO. QUARTO. INT.
TAYLA conversa com MARINA, enquanto esta se encontra deitada na maca.
TAYLA          — Quando eu cheguei aqui, eu a ouvi dizendo que estava se sentindo culpada pelo seu atropelamento.
MARINA       — E ela teve culpa mesmo.
TAYLA          — Como foi a conversa entre vocês duas?
MARINA       — Eu não quero falar sobre isso.
TAYLA          — Mas teremos que falar.
MARINA       (não contendo as lágrimas) — Foi terrível. Não é possível que ela tenha voltado após tantos anos, dizendo que está arrependida e que espera o meu perdão.
TAYLA          — Entendo.
MARINA       (mente) — Eu fiquei tão desnorteada que acabei indo atrás dela e não vi quando aquele carro estava vindo.
TAYLA          — Você não devia ter saído desnorteada na rua.
MARINA       — Eu fiquei com raiva. Imagina só que ela tentou me agredir, ela me pegou pelos braços, me sacudiu e me empurrou contra o chão.
TAYLA          (acha estranho) — Por que ela fez isso?
MARINA       — Porque ela não aguentou ouvir a verdade.
TAYLA          — Para ela ter feito isso, você deve ter pegado pesado!
MARINA       — Eu apenas falei o que se passava dentro de mim, o que está entalado na minha garganta desde que eu tinha cinco anos de idade. Eu poderia ter morrido por culpa dela.
TAYLA          — Você estava nervosa e atravessou a rua sem olhar para os lados.
MARINA       — Por culpa dela.
TAYLA          — E o que você irá fazer agora? A sua mãe está de volta.
MARINA       — Eu quero distância dela. Ela me deu um prazo para procurá-la, caso eu não faça isso ela vem atrás de mim. Eu não vou permitir isso, nem que eu tenha que tomar uma atitude drástica.
TAYLA          — Você ainda está nervosa, Marina.
MARINA       — Eu não estou nervosa, eu já decidi que não quero mais nenhum tipo de aproximação dela.
TAYLA balança a cabeça negativamente.

CENA 06. TAKES DA CIDADE.
ANOITECE.

CENA 07. CASA DOS BOAVENTURA. INT. NOITE.
RICARDO acaba de sair do banho. Está sentado em sua cama, vestido por da cintura para baixo com uma toalha. Ouve-se uma batida na porta.
RICARDO      — Entre!
CRISTINA entra e sorri ao ver o filho.
CRISTINA     — E como foi o primeiro dia no seu mais novo trabalho?
RICARDO      — Foi legal.
CRISTINA     — Legal? Jurei que fosse te encontrar um pouco mais eufórico. Aconteceu alguma coisa?
RICARDO      — Sim. Uma das minhas colegas foi namorada do rapaz que eu atropelei.
CRISTINA     (balançando a cabeça negativamente) — Senhor, não é possível! Você já estava conseguindo conviver com isso, você já estava ficando melhor.
RICARDO      — Eu sei mãe.
CRISTINA     — Garanto que você nem conseguiu trabalhar direito.
RICARDO      — Como foi meu primeiro dia, eu apenas conheci o trabalho que fazem no escritório e pude associar com a maioria das coisas que aprendi na faculdade.
CRISTINA     — Não é melhor você quebrar o contrato e ir trabalhar em outro lugar?
RICARDO      — Não vou fazer isso, mãe.
CRISTINA     — E como você sabe que essa colega foi namorada do rapaz?
RICARDO      — Ela própria chegou em mim e falou.
CRISTINA     — Garanto que ela quis te culpar, não é?
RICARDO      — Não. Ela apenas comentou comigo.
CRISTINA     — Tudo bem. Se vista e desça para jantar!
Ela se retira. RICARDO fica pensativo e a cena do atropelamento se passa pela sua mente.

CENA 08. EDIFÍCIO. CORREDOR. INT. NOITE.
TAYLA abre a porta do apartamento de MARINA, que está com o braço enfaixado. Neste momento, ARTHUR aparece e dá um sorriso malicioso.
ARTHUR       — É como diz aquele velho ditado: “vaso ruim não quebra”.
TAYLA          — Ninguém te chamou aqui, Arthur.
MARINA       — Não foi você quem foi atropelado, Arthur, mas eu desejo com todo o meu coração que isso um dia aconteça com você. Só espero que não seja um carro, que seja um trator mesmo a passar por cima!
ARTHUR sorri novamente. TAYLA fecha a porta na cara dele.

CENA 09. TAKES DA CIDADE.
AMANHECE.

CENA 10. FACHADA DA MANSÃO DOS VILLARY. EXT. DIA.

CENA 11. MANSÃO DOS VILLARY. INT. DIA.
EULÁLIA entra no quarto de LÍVIA.
EULÁLIA       — Dona Lívia, o doutor Fernando já está lá embaixo.
LÍVIA pega sua bolsa e se retira acompanhada por EULÁLIA.
CORTA, PARA;
Ao descer a escada, LÍVIA se depara com FERNANDO e dá um sorriso.
FERNANDO — Vamos?
LÍVIA             — Vamos!

CENA 12. COPACABANA PALACE. RECEPÇÃO. INT. DIA.
Vemos SOPHIA no restaurante do hotel. Ela senta-se à uma das mesas e fica a observar MIGUEL que está tomando café acompanhado por ARIEL. ARIEL percebe que ela está olhando, contudo não a conhece. Apenas acha estranho, pois parece já ter a visto uma vez na vida.
MIGUEL        — O que tanto olha Ariel? (MIGUEL olha para trás e SOPHIA coloca seus óculos rapidamente) O que houve?
ARIEL            (mente) — Nada. Apenas observando o movimento de hoje no hotel.
MIGUEL        — É, está bem movimentado.
SOPHIA continua a observar MIGUEL. E ARIEL, a fitá-la disfarçadamente.

CENA 13. MORRO DA MANGUEIRA. EXT. DIA.
Damos um giro pelo Morro da Mangueira. E mais a seguir, vemos FERNANDO e LÍVIA vindo por uma rua. Ele está dirigindo. O carro para em frente uma casa mal rebocada.
FERNANDO — Fazia tanto tempo que eu não voltava a esse lugar.
LÍVIA             — Você já veio aqui?
FERNANDO — Eu me criei aqui, por incrível que pareça.
LÍVIA             — Não consigo acreditar mesmo.
FERNANDO — Pois é... Mais tarde, te conto minha história. Agora vamos descer.
LÍVIA             — É seguro deixar seu carro aqui será?
FERNANDO — Fique calma!
CORTA, PARA;
LÍVIA bate palmas no portão. Uma mulher aparece na porta e estranha a presença daquelas pessoas.
PAULINA      — Quem são vocês?
LÍVIA             — Meu nome é Lívia Villary e seu marido trabalhou há muitos anos como motorista de meu marido.

CENA 14. CASA. SALA. INT. DIA.
LÍVIA e FERNANDO estão sentados ao sofá.
PAULINA      — Por favor, não reparem na simplicidade! Vocês são tão bem arrumados, principalmente a senhora.
LÍVIA             — Eu não me importo com essas coisas.
PAULINA      — A recém estou fazendo o almoço, não tenho nada pra oferecer.
FERNANDO (sorrindo) — Não se preocupe!
GENÉSIO chega em casa.
GENÉSIO      — A comida já tá pronta, mulher?
PAULINA      — Quase.
GENÉSIO vê LÍVIA e AUGUSTO. LÍVIA se levanta e fica o fitando.
GENÉSIO      — Dona Lívia?
LÍVIA             — Então você está lembrado de mim, Genésio.
EM GENÉSIO.

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 15. CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. CASA DE GENÉSIO. Interior. Dia.

GENÉSIO continua olhando para LÍVIA e FERNANDO. Parece um pouco apreensivo. Quebra o silêncio.
GENÉSIO        — Sim, estou lembrado.
LÍVIA              — Você prestou serviços ao meu marido trabalhando para ele como motorista.
GENÉSIO        — (olha para Fernando) Mas isso já faz um bom tempo. Não estou entendendo o porquê de a senhora estar aqui... E quem é esse?
LÍVIA              — É um amigo... Genésio, eu vim aqui porque preciso que você me responda algumas perguntas.
GENÉSIO        — Perguntas?
LÍVIA              — Perguntas relacionadas ao seqüestro de meu filho.
GENÉSIO        — Não estou entendendo, dona Lívia... Eu não tenho nada a ver com essa história. Lamento muito que a polícia não tenha encontrado seu filho.
LÍVIA              — Você não tem nada a ver com o envolvimento no seqüestro, mas conhecia o marido da Ruth, a babá que seqüestrou meu filho.
GENÉSIO        — (sério) Da onde?
LÍVIA              — Eu sei que vocês foram amigos.
GENÉSIO        — Eu não sei do que a senhora está falando. E acho que foi uma verdadeira perca de tempo ter vindo aqui, falar sobre algo que aconteceu há mais de vinte anos.
LÍVIA              — (levanta-se) Pode ter passado quanto tempo for, mas em nenhum momento deixei de pensar em meu filho. E se eu vim atrás de você é porque sei que você pode saber de alguma coisa, afinal você era amigo do marido daquela bandida.
PAULINA       — (interfere) Genésio, se você sabe de algo é melhor você falar logo... Ela é mãe acima de tudo.
FERNANDO   — (encara Genésio) Colabore, por favor, não custa nada.
GENÉSIO senta-se no sofá. Fita LÍVIA que o encara.
GENÉSIO        — O que a senhora quer saber?
LÍVIA              — (senta-se novamente) Tudo que você sabe sobre o marido de Ruth.
GENÉSIO fica encarando LÍVIA que espera uma resposta do homem.
CORTA PARA:

CENA 16. COPACABANA PALACE HOTEL. RESTAURANTE CIPRIANI. Interior. Dia.
MIGUEL levanta-se da mesa. Está preste a se retirar. SOPHIA o observa. ARIEL percebe.
MIGUEL         — Vou dar uma saída.
ARIEL             — Está bem.
MIGUEL retira-se. SOPHIA também levanta-se da mesa. ARIEL observa e vai atrás dela. SOPHIA deixa uma ponta do seu casaco (de tecido fino) que está usando, preso à maçaneta da porta. ARIEL ajuda a desprender o casaco.
SOPHIA          — Muito obrigada!
ARIEL             — Não precisa agradecer. Nunca te vi por aqui.
SOPHIA          — (já se retirando) Também nunca lhe vi.
ARIEL             — Percebi que não parava de olhar para a mesa onde eu estava com Miguel.
SOPHIA vira-se para ARIEL. O encara.
SOPHIA          — Observador você.
ARIEL             — Qualquer coisa, pode falar comigo mesmo... Eu sou assessor dele.
SOPHIA          — Não, muito obrigada! Se eu tiver que falar com ele, falarei pessoalmente.  (retira-se. Sai do restaurante do hotel. Olha para os lados) Droga!
ARIEL retira-se do restaurante do hotel. Observa SOPHIA de longe.
ARIEL             — Estranho! Muito estranho!
ARIEL continua a observar SOPHIA de longe. Está pensativo.
CORTA PARA:

CENA 17. MORRO DA MANGUEIRA. CASA DE GENÉSIO. Interior. Dia.
Conversa já iniciada. GENÉSIO fala e LÍVIA, FERNANDO e PAULINA o observam.
GENÉSIO        — Eu conheci o Hugo ainda quando trabalhava como vigilante, exatamente uns três anos antes de começar a trabalhar como motorista para o doutor Augusto... Eu ainda não morava aqui e nós íamos à casa um do outro, saíamos para beber juntos, jogar futebol. Ele me falava que vivia um casamento conturbado, tendo uma esposa que desejava muito ter um filho, mas não conseguia segurar a gravidez até o final e acabava sofrendo abortos espontâneos.
FERNANDO   — (curioso) Você acabou de falar que freqüentava a casa dele... Nunca percebeu nem um comportamento estranho vindo da esposa dele?
GENÉSIO        — Nunca percebi nada... Ela só era uma mulher fechada, não gostava muito de conversar... E quando Hugo e eu saíamos, ele me falava sobre o quanto estava sendo infernal viver com ela, pois ela queria a todo custo engravidar e o culpava por não apoiá-la.
LÍVIA              — E como ela ficou sabendo que, na época, Augusto e eu estávamos contratando uma babá?
GENÉSIO        — (nervoso, desvia o olhar) Porque fui eu quem indicou... Quando me lembro disso, eu me sinto um pouco culpado.
LÍVIA              — Você não teve culpa de nada, Genésio... Agora eu quero saber o que aconteceu com Hugo.
GENÉSIO        — O Hugo havia me falado que iria embora para uma cidade, no interior do estado. Ele disse que já não podia suportar a obsessão de Ruth em ter um bebê e acabou indo embora, pois essa era a única forma de se livrar dela.
LÍVIA              — (curiosa) E que cidade é essa?
GENÉSIO        — Não me lembro, dona Lívia... Juro que não lembro.
LÍVIA              — Por favor, faça um esforço para lembrar-se.
GENÉSIO        — Não lembro mesmo... Só sei que é uma cidade do interior do estado.
LÍVIA              — Genésio, eu não quero lhe importunar nem te meter nessa história, mas até agora você é a única pessoa que pode abrir uma nova porta para que eu possa continuar a busca pelo meu filho. Peço que faça um esforço para lembrar a cidade em que Hugo foi morar.
GENÉSIO        — Entendo, dona Lívia... Mas... E se ele não estiver mais lá? A senhora nem sabe se ele continua vivo.
LÍVIA              — Acredito que ainda esteja vivo e morando lá, mesmo eu não o conhecendo.
PAULINA       — Ele não deixou nenhum endereço com você, Genésio?
GENÉSIO        — Não... Ele apenas me falou o nome da cidade, mas não me deixou nenhum endereço.
LÍVIA              — Caso você se lembre do endereço, é só entrar em contato comigo.
LÍVIA levanta-se. Entrega um cartão à GENÉSIO. FERNANDO também levanta-se.
LÍVIA              — (cont.) Tchau, Paulina! Muito obrigada!
PAULINA       — Tchau, dona Lívia!
LÍVIA retira-se. FERNANDO despede-se de PAULINA acenando a cabeça. Encara GENÉSIO. Acena também. Retira-se acompanhado por LÍVIA. Entram no carro. JÁ CORTOU IMEDIATO PARA LÍVIA e FERNANDO no carro. FERNANDO comenta.
FERNANDO   — Tem alguma coisa errada, Lívia.
LÍVIA              — O quê?
FERNANDO   — Não gostei desse cara... Ele parecia estar escondendo algo.
LÍVIA              — O que ele poderia estar escondendo?
FERNANDO   — Ele pode estar se fazendo de desentendido ao dizer não saber o endereço de onde se encontra Hugo.
LÍVIA              — Mas com que propósito ele faria isso?
FERNANDO   — Mesmo que Hugo e Ruth tivessem um casamento conturbado e tivessem se separado um tempo antes do seqüestro, ele pode estar envolvido no crime que a esposa dele cometeu e Genésio pode estar acobertando isso.
LÍVIA              — Você tem razão, Fernando... E como faremos para arrancar a verdade dele?
FERNANDO   — Não faço ideia... Vamos embora!
FERNANDO liga o carro. Ativa o acelerador e dá a partida.
CORTA PARA:

CENA 18. CASA DE GENÉSIO. BANHEIRO/QUARTO. Interior. Dia.
GENÉSIO lava o rosto. Olha-se no espelho. Pega uma toalha. Seca-se. No QUARTO GENÉSIO abre uma gaveta, tira uma caderneta de dentro. Coloca o cartão que LÍVIA lhe dera dentro. PAULINA entra. Encosta-se na porta e fica observando GENÉSIO.
PAULINA       — Eu te conheço, Genésio.
GENÉSIO        — Do que está falando?
PAULINA       — Você não contou toda a verdade... Por que você fez isso?
GENÉSIO        — Não quero me envolver em confusão.
PAULINA       — Quem não deve, não teme!
GENÉSIO        — O que está insinuando, mulher?
PAULINA       — Não estou insinuando nada, homem! Só que você não contou toda a verdade.
GENÉSIO        — Teve uma vez que Hugo me ligou, dizendo que se qualquer um perguntasse sobre seu paradeiro, não era para eu revelar nada! Era para fingir que não sabia. Eu não sei por que ele me pediu isso.
PAULINA       — Sabe, sim! Não sabe por ele ter contado, mas sabe que se ele te pediu isso é porque ele está envolvido no seqüestro do filho daquela mulher.
GENÉSIO        — Hugo e eu éramos muito amigos, ele era um homem de caráter.
PAULINA       — E quando ele te ligou pedindo isso?
GENÉSIO        — Alguns dias depois do seqüestro.
PAULINA       — Está aí a resposta: ele está envolvido e, mesmo depois desse tempo todo, você ainda o acoberta!
GENÉSIO        — Ele pode também não querer se envolver em confusão por causa de um ato que a mulher dele cometeu sozinha.
PAULINA       — Ah é? Pois fique sabendo que eu acho que ela não deve ter feito isso sozinha... Garanto que os dois se criaram o menino como se fosse deles.
GENÉSIO        — (impaciente, levanta-se) Eu já não sei de mais nada.
PAULINA       — E para onde ele foi?
GENÉSIO        — Itaperuna.

PAULINA desvia o olhar. Fica pensativa.
CORTA PARA:

CENA 19. RUA CARIOCA. ambiente. Exterior. Dia.
Damos um giro em uma rua qualquer da cidade carioca. Daqui a pouco o carro de MIGUEL vai passar em direção ao apartamento de MARINA. A rua está bastante movimentada. Mostrar diversas situações da população carioca. De longe vemos o carro de MIGUEL. Deste ponto acompanhamos o seu carro que para em frente ao condomínio onde MARINA mora.
FUNDE PARA:

CENA 20. AP DE MARINA. SALA. Interior. Dia.
A campainha toca. MARINA vem do seu quarto. Atravessa a sala até a porta. Abre. Depara-se com MIGUEL.
MARINA         — O que você quer?
MIGUEL         — Vim te pedir desculpas... O que houve com seu braço?
MARINA         — Entre!
MIGUEL entra. MARINA fecha a porta. Vira-se para MIGUEL.
MIGUEL         — O que houve com você?
MARINA         — Eu fui atropelada.
MIGUEL         — (preocupado) Meu Deus! E por que não me avisou nada?
MARINA         — Avisar você? Nós não temos nem um tipo de relação.
MIGUEL         — Mas mesmo assim, Marina.
MARINA         — O que veio fazer aqui?
MIGUEL         — Vim te pedir desculpas por aquela noite. Eu não devia ter agido daquela forma, eu agi de forma incoerente e precipitada.
MARINA         — Ainda bem que você reconhece.
MIGUEL         — Você me desculpa?
MARINA         — Sim.
MIGUEL         — Mas como você foi atropelada?
MARINA         — É uma história muito longa.
MIGUEL         — O motorista do carro prestou socorro, pelo menos?
MARINA         — Sim, não foi nada grave... Só ralei o joelho e acabei quebrando o braço. Logo, irei estar recuperada e com o braço desenfaixado, porque já não agüento mais isso.
MIGUEL         — Imagino. (Marina fica quieta por alguns instantes. Miguel a olha fixamente) Bom, eu já vou embora.
MARINA         — (olha para Miguel) Está bem.
MIGUEL aproxima-se de MARINA. Dá um beijo em seu rosto.
MIGUEL         — (olha Marina) Melhoras.
MARINA         — Obrigada!
MARINA e MIGUEL ficam se olhando. MIGUEL não se contém e beija MARINA.
MARINA         — (se solta) Me solte!
MIGUEL pega MARINA pela cintura. A beija novamente. MARINA hesita. Tenta empurrá-lo. Não resiste e corresponde, o beijando. Após alguns segundos, MARINA se solta revoltada.
MARINA         — (grita) Chega! Você não tinha o direito, Miguel... Vá embora!
MIGUEL         — Eu estou gostando de você... Estarei te esperando.
MIGUEL retira-se. Fecha a porta ao sair. MARINA fica pensativa. Dá um leve sorriso.
MARINA         — (para si; abobalhada) Isso é loucura!
MARINA senta-se no sofá. Recosta sua cabeça no sofá pensativa. Sorri.
CORTA PARA:

CENA 21. CONFEITARIA COLOMBO. ambiente. Interior. Dia.
Damos um giro pela confeitaria, até irmos de encontro à mesa onde CECÍLIA e SOPHIA estão. Tomam um cappuccino e comem uma torta de chocolate trufada. Conversam.
SOPHIA          — Eu fui ao Copacabana Palace.
CECÍLIA         — Viu ele?
SOPHIA          — Sim. Ele estava tomando café com o assessor.
CECÍLIA         — Ariel Avellar, se eu não me engano.
SOPHIA          — O Miguel saiu e eu fui atrás dele, mas esse tal aí de Ariel veio falar comigo, disse que percebeu que eu estava olhando para Miguel...
CECÍLIA         — Certamente, ele falará para Miguel.
SOPHIA          — Melhor para mim. Não gostei dele. Só sei que Miguel não mudou em nada, até o jeito de caminhar é o mesmo.
CECÍLIA         — E quando você voltará lá para falar com ele?
SOPHIA          — Antes, eu quero resolver minhas pendências com Marina.
CECÍLIA         — Você acha mesmo que ela virá te procurar?
SOPHIA          — Não, ela não virá... Mas eu vou atrás dela. Não vou desistir tão facilmente.
SOPHIA olha fixamente para um lugar. CECÍLIA a observa.
CORTA PARA:

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 22. PRAIA DE COPACABANA. ambiente. Exterior. Dia.
LÍVIA e FERNANDO caminham. LÍVIA está pensativa. Mantém-se calada. FERNANDO respeita seu silêncio por alguns segundos. Quebra o silêncio.
FERNANDO   — Eu fui criado no Morro da Mangueira até uma determinada idade. Minha mãe trabalhava como faxineira e meu pai era policial, mas mal aparecia em casa para me ver e nem ligava para saber como eu estava. Quando me tornei adolescente, eu e minha mãe fomos morar na casa da minha dinda, no Leme.
LÍVIA              — É inimaginável pensar que um dia você já morou em comunidade.
FERNANDO   — Sim. Depois, eu comecei a estudar, a me interessar por decoração, vi que esta seria a minha profissão e consegui me elevar socialmente. E você?
Eles param de caminhar. LÍVIA fica pensativa.
LÍVIA              — Não quero falar sobre minha história.
FERNANDO   — Como preferir.
LÍVIA volta a caminhar. FERNANDO a acompanha.
CORTA PARA:

CENA 23. ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA. ambiente. Interior. Dia.
RICARDO desenha um projeto. Está concentrado. ANGELINA aparece. Fica o olhando.
ANGELINA    — Não vai almoçar?
RICARDO       — Não.
ANGELINA    — Ok! Eu e o pessoal já estamos indo... Qualquer coisa, ligue!
RICARDO       — Está bem.
ANGELINA o olha por alguns segundos. Retira-se. RICARDO a olha. Volta a desenhar o projeto.
CORTA PARA:

CENA 24. TAKES DO RIO DE JANEIRO. ambiente. Exterior. Dia.
Sucessão de imagens do Rio de Janeiro. Damos uma geral pela cidade até chegarmos à fachada do condomínio onde MARINA mora.
FUNDE PARA:

CENA 25. AP DE MARINA. SALA. Interior. Dia.
MARINA está sentada no tapete. Olha televisão. Em poucos instantes ela lembra-se do beijo que MIGUEL lhe dera. Dá um sorriso. Balança a cabeça negativamente.
CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 26. COPACABANA PALACE HOTEL/QUARTO DE MIGUEL E ARIEL. SACADA. Interior. Dia.
MIGUEL está distraído. Observa a paisagem da praia pela sacada. Fica assim por alguns instantes. Retira-se. Volta para o QUARTO. ARIEL chega e MIGUEL o observa.
MIGUEL         — Foi passear?
ARIEL             — Sim. E você?
MIGUEL         — Fui ao apartamento de Marina.
ARIEL fica indignado, mas disfarça. Vira-se para MIGUEL.
ARIEL             — Fazer o que lá?
MIGUEL         — Fui pedir desculpas.
ARIEL             — Pelo quê?
MIGUEL         — Acontece que me apaixonei à primeira vista pela Marina... Naquela noite, após a exposição, eu fui ao apartamento dela e... E falei o que eu estava sentindo.
ARIEL             — Se apaixonou? Miguel, você mal a conhece.
MIGUEL         — Ariel, eu estou falando de paixão... Não é amor.
ARIEL             — Por que amor sempre foi pela Sophia.
MIGUEL         — Não envolva Sophia nisso! Eu me senti atraído pela Marina desde o primeiro dia em que a vi naquele estúdio. Ela desperta o meu interesse, desperta a vontade de conhecê-la mais, de tê-la em meus braços. Na verdade, eu não sei se isso é paixão ou é apenas uma atração. Só sei que quero viver isso e vou conquistá-la.
ARIEL             — Mais uma de suas conquistas, você quer dizer, não é?
MIGUEL         — Não... A Marina é diferente.
ARIEL             — (revoltado) Diferente como as suas duas ex-esposas? Você pretende se casar com Marina também? Quer formar uma trilogia de casamentos?
MIGUEL         — Eu estou falando que quero viver esse momento.
ARIEL balança a cabeça negativamente e se retira rapidamente. MIGUEL fica sem entender nada. Senta-se numa poltrona e fica pensativo.
CORTA PARA:

CENA 27. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. Interior. Dia.
LÍVIA chega. Coloca a bolsa no sofá. Está pensativa. AUGUSTO aparece. A olha seriamente.
AUGUSTO      — Onde você esteve o dia todo, Lívia?
LÍVIA              — Fui dar uma volta, aproveitei para ir ao shopping... Aliás, Augusto, eu não lhe devo mais satisfações. Já não estamos mais casados.
AUGUSTO      — Eu não estou levando esse divórcio a sério, não sei se você ainda não percebeu.
LÍVIA              — Eu vou resolver algumas coisas e começarei a levar a sério. Não quero continuar casada com você. Quero legitimar a nossa separação.
AUGUSTO      — Enquanto isso não ocorre, você não pode sumir sem me dar satisfações... Eu não vou aceitar que você esteja se envolvendo com outro homem.
LÍVIA              — Eu não acredito, Augusto... Eu não acredito que você está me falando uma coisa dessas.
AUGUSTO      — E de quem era o carro que te largou aqui na frente?
LÍVIA              — Eu não vou mentir... Era um amigo.
AUGUSTO      — (grita revoltado) Um amigo? Eu não vou admitir que você se relacione com outros homens, enquanto continuarmos casados pela justiça.
LÍVIA              — (grita irritada) Se eu estivesse me relacionando com alguém, eu não iria inventar que era um amigo... Eu iria jogar a verdade na sua cara.
AUGUSTO      — Então, me diga... Diga o que está acontecendo? Eu sei que você está escondendo alguma coisa.
LÍVIA              — Eu não vou falar... Sabe por quê? Porque eu não confio mais em você, porque você nunca me apoiou em nenhuma decisão e por que... Porque o que tínhamos já acabou... Nosso divórcio ainda não está legitimado, podemos estar vivendo na mesma casa, mas estamos separados. Tenha uma boa noite!
LÍVIA retira-se. AUGUSTO serve um copo com um pouco de uísque. Senta-se no sofá. Bebe um gole de uísque e fica pensativo.
AUGUSTO      — Preciso descobrir quem é esse amigo e o que ela está escondendo.
AUGUSTO dá mais um gole em seu uísque, impaciente.
CORTA PARA:

CENA 28. COPACABANA PALACE HOTEL. QUARTO DE MIGUEL E ARIEL. Interior. Dia.
ARIEL está deitado na cama. Pesquisa sobre GUILHERME em seu notebook. Vê fotos do casamento de GUILHERME e SOPHIA. Lembra-se da mulher que vira no Cipriani.
FLASHBACK
SOPHIA           — Não, muito obrigada! Se eu tiver que falar com ele, falarei pessoalmente.  (retira-se).
Voltamos para ARIEL deitado na cama. Volta a olhar as fotos do casamento de SOPHIA e GUILHERME.
ARIEL             — (para si) Sophia, o grande amor da vida dele... E agora ele está apaixonado pela filha dela. Isso pode ser favorável... Isso não pode ser favorável... E se aquela mulher era mesmo a Sophia, como eu desconfio?... Ela não pode ter voltado... Não pode.
Na reação de nervosismo de ARIEL. 
CORTA PARA:

3º INTERVALO COMERCIAL

CENA 29. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. Exterior. Dia.
Damos um giro por toda a cidade do Rio de Janeiro em ritmo frenético, acompanhado por uma música ambiente. Câmera percorre a cidade até chegarmos à fachada do condomínio onde CECÍLIA e família moram, no Leblon.
CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 30. AP DOS VIDAL FERRAZ. QUARTO DE HÓSPEDES. Interior. Dia.
Damos um giro pelo quarto de hóspedes onde os primeiros sinais da manhã apontam em cima da cama onde encontra-se SOPHIA que acorda-se. Senta-se. Lembra-se do encontro que tivera com MARINA.
FLASHBACK
MARINA          - Me poupar? Poupar-me do quê? Quais são as razões para você ter me abandonado? Quando uma mãe é uma mãe de verdade, ela não tem nenhuma razão para abandonar um filho. Você não é mãe, você nem mesmo consegue ser humana!
Voltamos à SOPHIA que está pensativa. Volta a si. Respira fundo. Solta o ar um pouco apreensiva.
SOPHIA          — Você terá que me ouvir, Marina, terá que me ouvir e me compreender.
Fechamos no rosto de SOPHIA que está com uma expressão determinada.
CORTA PARA:

CENA 31. AP DOS VIDAL FERRAZ. SALA DE JANTAR. Interior. Dia.
Café-da-manhã já iniciado. CECÍLIA e HENRIQUE já estão à mesa tomando café. PATRÍCIA entra e senta-se à mesa. Daqui a pouco SOPHIA aparece.
HENRIQUE     — Não dá mais “bom dia”?
PATRÍCIA      — (sorri forçadamente) Bom dia, papai!
CECÍLIA         — (sorri) As férias estão acabando.
PATRÍCIA      — E a senhora se sentindo feliz porque vai se livrar de mim por algumas horas.
CECÍLIA         — Sim, porque eu terei a certeza de que você estará com sua mente antenada em alguma coisa.
Agora SOPHIA entra. Linda. Simpática. Cumprimenta a todos os presentes à mesa.
SOPHIA          — Bom dia!
CECÍLIA         — Bom dia!
HENRIQUE     — Bom dia!
PATRÍCIA fica quieta. Apenas olha para SOPHIA.
HENRIQUE     — (cont.) Bom, já vou indo.
Levanta-se. Beija CECÍLIA.
SOPHIA          — Bom trabalho, Henrique.
HENRIQUE     — Obrigado, Sophia! Um bom dia para você.
HENRIQUE retira-se. PATRÍCIA permanece quieta. Toma seu café.
SOPHIA          — Eu acho que já vou começar a procurar um apartamento.
CECÍLIA         — O quê? Mas você já está aqui conosco. Não precisa se preocupar com isso agora.
SOPHIA          — Mas é algo preciso.
PATRÍCIA      — Concordo.
CECÍLIA olha seriamente para PATRÍCIA. SOPHIA dá um sorriso.
SOPHIA          — Eu não quero atrapalhar vocês em nada e, muito menos, invadir a privacidade da família.
CECÍLIA         — Mas você é da família... Você é como se fosse uma irmã pra mim, Sophia. Não vou aceitar que você vá embora. Se quiser, faça isso mais tarde. Ainda é muito cedo e também é demorado esse processo todo de conseguir um apartamento, fazer uma compra. Primeiro, resolva os seus problemas e depois pense nisso.
SOPHIA          — (sorri) Está bem, ficarei mais algum tempo. (olha para Patrícia) Isso não é ótimo, Patrícia?
PATRÍCIA encara SOPHIA. Dá um sorriso forçado e desvia o olhar. SOPHIA e CECÍLIA se olham. Sorriem.
CORTA PARA:

CENA 32. COPACABANA PALACE HOTEL. QUARTO DE MIGUEL E ARIEL. Interior. Dia.
Damos um giro por todo quarto onde MIGUEL e ARIEL estão hospedados. ARIEL está dormindo quase em cima do notebook, que está preste a cair da cama. MIGUEL entra. Vê a cena. Balança a cabeça negativamente. Dirige-se até a cama e pega o aparelho. O leva até a cômoda que encontra-se ali próximo. Aperta um botão e o aparelho reinicia. A tela de um site abre. MIGUEL acaba vendo as fotos do casamento de SOPHIA e GUILHERME. MIGUEL estranha inicialmente. Desliga o notebook e sai.
CORTA PARA:

CENA 33. COPACABANA PALACE HOTEL. RESTAURANTE CIPRIANI. Interior. Dia.
MIGUEL toma o seu café-da-manhã. Parece pensativo. ARIEL aproxima-se. Senta-se à mesa.
ARIEL             — Bom dia! (Miguel não responde. Ariel estranha) Bom dia, Miguel!
MIGUEL         — Por que você andou vendo fotos do casamento de Guilherme e Sophia?
ARIEL             — Como você sabe disso?
MIGUEL         — Vi em seu notebook.
ARIEL             — Você anda espionando o que eu faço agora?
MIGUEL         — Eu entrei no seu quarto para ver se já se encontrava acordado... O seu notebook estava quase caindo de cima da cama e acabei reiniciando sem querer... O que te interessa naquelas fotos ou em saber alguma coisa sobre o casamento deles?
ARIEL             — Eu estava em um blog e repentinamente, as fotos apareceram. É normal que estejam em um site mesmo depois de anos, pois o Guilherme é um homem influente na Holanda.
MIGUEL         — Vou fingir que acredito.
ARIEL             — (o olha seriamente) E com que propósito eu mentiria, Miguel?
MIGUEL         — Não sei, Ariel... Eu realmente não sei, mas desconfio.
ARIEL             — Desconfia de que, Miguel?
MIGUEL         — Não quero mais falar sobre isso, Ariel.
ARIEL             — Acho bom mesmo, até porque nem tem fundamento discutirmos a essa hora da manhã e aqui ainda.
MIGUEL         — Não estou discutindo, Ariel. Eu só queria saber qual é o seu grande problema com a Sophia... Afinal, você não tem exatamente nada a ver com isso.
ARIEL             — Como não tenho nada a ver? Lembra-se de que fui eu quem salvou sua vida? Se eu não tivesse surgido daquela vez, aquele maluco teria tirado a sua vida por causa de uma mulher que teve escolha própria para fazer o que bem entender e a escolha dela foi se casar com Guilherme.
MIGUEL se revolta. Quase levanta-se da mesa.
MIGUEL         — (grita) Você não tem o direito de falar isso. (ele percebe os olhares vindos de alguns. Senta-se. Recompõe-se) A Sophia errou em ter se casado com Guilherme, mas ela o abandonou porque nunca o amou de verdade.
ARIEL             — Se tivesse abandonado o marido ainda não seria muito, mas abandonou a filha também e sumiu pelo mundo... Ela foi te procurar em algum momento? Diga-me, Miguel!... Ah, não precisa nem mesmo responder a minha pergunta, porque eu já sei a resposta.
ARIEL levanta-se e retira-se rapidamente. MIGUEL não contém o nervosismo e uma lágrima percorre seu rosto.
CORTA PARA:

CENA 34. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ambiente. Interior. Dia.
MARINA chega ao estúdio. Vê TAYLA auxiliando dois rapazes a colocar um quadro na parede (o mesmo que MIGUEL dera de presente na exposição fotográfica).
TAYLA           — Pronto! (olha para Marina) Você não deveria estar em casa? Ainda está com o braço enfaixado.
MARINA         — Eu não agüento mais ficar naquele apartamento trancada o dia todo.
TAYLA           — Acontece que você não tem condições de trabalhar com o braço assim.
MARINA         — (olhando para o quadro) Só vou ficar por aqui.
TAYLA           — (sorri) Ficou lindo, não?
MARINA         — (também sorri) Sim, ficou lindo.
TAYLA           — Que sorriso diferente é esse em seu rosto?
MARINA         — Miguel foi me pedir desculpas por aquela noite após a exposição em ele foi até meu apartamento e falou aquelas coisas.
TAYLA           — E você?
MARINA         — Eu aceitei as desculpas, mas então... Ele acabou me beijando. (Tayla fica boquiaberta. Dá um sorriso. Marina continua) No início, eu hesitei. Depois eu acabei correspondendo ao beijo.
TAYLA           — Então, você admite que está gostando dele também?
MARINA         — Eu não sei exatamente o que estou sentindo, Tayla.
TAYLA           — Então deixe rolar, como dizem.
MARINA         — Sim, você tem razão.
As duas sorriem uma para outra.
CORTA PARA:

CENA 35. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. Interior. Dia.
EULÁLIA abre a porta e se depara com PAULINA. EULÁLIA estranha a presença de PAULINA. A olha dos pés a cabeça. PAULINA é simpática, humilde. Cumprimenta EULÁLIA.
PAULINA       — Oi! Meu nome é Paulina... Eu gostaria de falar com a dona Lívia.
EULÁLIA        — Sim, eu vou...
LÍVIA aparece. Interfere EULÁLIA que não termina de falar.
LÍVIA              — Pode deixar comigo, Eulália... Muito obrigada! O guarda me informou a presença de Paulina. (Eulália vai se retirar, mas é impedida por Lívia) Fique, Eulália! Acredito que Paulina tenha algo importante para falar. Fique à vontade, Paulina. (Paulina senta-se no sofá. Repara o imenso conforto. Fica calada em relação a isso. Lívia continua) Não quer um café, uma água?
PAULINA       — Não, dona Lívia, muito obrigada!
LÍVIA senta-se ao sofá. Faz menção para EULÁLIA também se sentar. EULÁLIA senta-se.
LÍVIA              — E então, Paulina... O que a trouxe aqui?
PAULINA tira um papel de sua bolsa e entrega para LÍVIA.
PAULINA       — Itaperuna: esse é o nome da cidade em que Hugo foi morar, dona Lívia.
LÍVIA              — Como descobriu isso?
PAULINA       — Eu encontrei no meio das coisas do meu marido.
LÍVIA              — O Fernando bem que me avisou que Genésio havia mentido.
PAULINA       — Mas ele não fez isso por mal ou por estar envolvido no seqüestro de seu filho, mas sim porque o próprio Hugo pediu para que ele não revelasse a ninguém sobre seu paradeiro.
LÍVIA              — E quando ele pediu isso?
PAULINA       — Algum tempo depois após o seqüestro do seu filho.
LÍVIA              — (nervosa) Esse fulano só pode estar envolvido com o seqüestro do meu filho, o meu Nicolas.
PAULINA       — O Genésio acredita de “olhos fechados” que o Hugo não está envolvido.
LÍVIA              — Então por que o pedido de ninguém poder saber onde ele havia ido morar?
PAULINA       — É isso que também desconfio dona Lívia... Acho que Hugo possa sim, estar envolvido com o seqüestro de seu filho. (levanta-se) Bom, já fiz minha parte... Vou embora, hoje tenho uma faxina. Ainda bem que não é muito longe daqui.
LÍVIA levanta-se. Cumprimenta PAULINA.
LÍVIA              — Muito obrigada, Paulina!
PAULINA       — A senhora é mãe, assim como eu.
LÍVIA emociona-se. Abraça PAULINA fortemente.
LÍVIA              — Muito obrigada, muito obrigada mesmo! Nem sei como lhe agradecer.
PAULINA       — Me agradeça me chamando para conhecer seu filho quando ele já estiver em seus braços novamente.
LÍVIA não contém as lágrimas com as palavras de PAULINA. Balança a cabeça positivamente. PAULINA vai embora. EULÁLIA fecha a porta.
LÍVIA              — Eu tenho que ligar para Fernando.
EULÁLIA        — Sim.
LÍVIA              — Nem estou acreditando nisso, Eulália, nem estou acreditando.
EULÁLIA        — É só a prova que Deus fecha uma porta, mas abre uma janela!
LÍVIA              — E eu só tenho a agradecer a Ele, por mais que William tenha partido e que essa seja uma dor que irei carregar para o resto da vida.
EULÁLIA        — Mas a senhora irá reencontrar o Nicolas e um pouco dessa dor será amenizada.
LÍVIA              — Sim.
EULÁLIA abraça LÍVIA. Alisa seus cabelos.
CORTA PARA:

4º INTERVALO COMERCIAL

CENA 36. CASA DOS BOAVENTURA. SALA. Interior. Dia.
FERNANDO está na casa dos Boaventura. Está ao celular. Faça com LÍVIA.
FERNANDO   — Fico muito feliz, Lívia. Podemos ir até Itaperuna amanhã mesmo, se esse for o seu desejo... Claro... Está bem... Até. Beijo.
CRISTINA aparece. Fica olhando para FERNANDO.
CRISTINA      — Itaperuna? Vai fazer o que lá? Desculpe, mas não teve como eu não ouvir.
FERNANDO   — Eu estou ajudando uma amiga em um negócio aí.
CRISTINA      — Ah, sim... Uma amiga...
FERNANDO   — Sim, uma amiga.
CRISTINA      — Está na hora de você se casar novamente.
FERNANDO   — Não pretendo fazer isso.
CRISTINA      — Por quê? Não precisa ser algo de papel passado... O tempo passa rápido, Fernando, e ficar sozinho não é uma preferência muito aconselhável.
FERNANDO   — Ainda não surgiu uma mulher com quem eu queira assumir uma relação séria.
CRISTINA      — Entendo.
FERNANDO   — Ricardo já foi trabalhar?
CRISTINA      — Sim... É sobre ele que quero falar com você.
FERNANDO   — Pois diga.
CRISTINA      — Uma das colegas de trabalho dele foi namorada do rapaz que morreu atropelado.
FERNANDO   — Como Ricardo sabe disso?
LÍVIA              — Porque a própria chegou nele e falou. Eu realmente fiquei preocupada, porque Ricardo já parecia estar bem e agora parece estar tendo uma leve recaída. Ele a recém está começando sua carreira profissional e não quero vê-lo como estava há algumas semanas atrás.
FERNANDO   — Entendo.
CRISTINA      — Nem é pelo fato dele a recém estar começando a carreira, mas não quero vê-lo daquele jeito novamente.
FERNANDO   — Eu também não quero, Cristina. Só que isso foi um baque na vida dele.
CRISTINA      — Às vezes, eu me pego pensando: talvez o Ricardo não teria ficado tão traumatizado, se a mãe do rapaz morto não tivesse tentado o agredir, não tivesse o chamado de assassino. Às vezes, eu penso que ela tem uma boa parcela de culpa pelo Ricardo estar desse jeito.
FERNANDO   — Cristina, ela agiu daquela forma porque havia acabado de receber a notícia que, certamente, marcou a vida dela e irá marcar pelo resto dos seus dias. Você é mãe, assim como ela, e deveria saber o quão deve ser a dor de uma mãe que perde um filho. Claro que você não sabe, graças a Deus, mas deveria entender.
CRISTINA      — Eu lamento pela dor dela, mas não consigo admitir até hoje que ela tenha chamado meu filho de assassino. O atropelamento não foi intencional, ele mesmo disse que tentou frear, mas a atitude foi falha e tarde demais.
FERNANDO   — O importante é que tudo isso já passou e estamos seguindo nossas vidas, assim como Ricardo irá seguir a dele e em paz.
CRISTINA      — Eu espero. Quando Ricardo sofre, eu também sofro.
FERNANDO   — Gregório e eu, também.
CRISTINA fica pensativa. FERNANDO a observa.
CORTA PARA:

CENA 37. ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA. ambiente. Interior. Dia.
RICARDO caminha pelo corredor. Carrega uma papelada. Ouvimos de fora, um barulho de carro freando, seguido de uma batida. As luzes apagam-se. Ele se assusta. Derruba os papéis no chão. Abaixa-se para apanhá-los. Olha para frente. Depara-se com ANGELINA que também se abaixa para apanhar os papéis.
ANGELINA    — Se assustou com a batida do carro?
RICARDO       — Eu jurei que tivesse...
ANGELINA    — Tivesse?
RICARDO       — Delirando.
HOMERO aparece. Despertando a atenção dos funcionários.
HOMERO       — Aconteceu um acidente na avenida... O motorista bateu com o carro no poste e estamos sem luz agora.
Alguns funcionários reclamam. HOMERO retira-se também reclamando. RICARDO e ANGELINA levantam-se se olhando.
ANGELINA    — Está quase na hora do almoço. Vai vir conosco?
RICARDO       — Ainda não sei.
ANGELINA    — Você precisa se enturmar... Muitos de nós aqui nos conhecemos já há um bom tempo.
RICARDO       — Está bem... Eu vou com vocês.
ANGELINA    — Então, vamos!
RICARDO       — (surpreso) Já é meio-dia?
ANGELINA    — Sim... Nem eu tinha me dado conta disso.
RICARDO termina de apanhar os papéis. Os põe em cima de uma mesa e em seguida acompanha ANGELINA e alguns funcionários.
CORTA PARA:

CENA 38. ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA. FRENTE. Exterior. Dia.
O pessoal já está saindo. ANGELINA se dá conta que esqueceu o celular.
ANGELINA    — Vou ter que voltar... Esqueci meu celular.
GAROTAS      — Tá, a gente te espera lá.
RICARDO       — Eu te espero aqui.
ANGELINA    — Valeu!
ANGELINA retira-se correndo. RICARDO fica a esperando. Passados alguns minutos. ANGELINA volta. Entrega seu celular para RICARDO.
ANGELINA    — Eu não tenho bolso... Pode guardar para mim?
RICARDO       — Sim, eu guardo.
RICARDO coloca o celular de ANGELINA no bolso. DAVI aparece. Fica olhando para RICARDO, depois fita ANGELINA.
RICARDO       — (sorri) Oi, Davi!
DAVI               — Vim almoçar com você.
RICARDO       — Ah, sim...
ANGELINA    — (já se retirando) Bom, eu vou indo. Até mais.
RICARDO       — Até.
DAVI               — Eu iria te mandar uma mensagem, mas quis fazer uma surpresa... Quem é ela?
RICARDO       — Minha colega.
DAVI               — Você estava indo almoçar com ela?
RICARDO       — Com ela e o resto do pessoal.
DAVI               — Ah... Desculpe-me, então.
RICARDO       — Não, não precisa pedir desculpas. Aonde vamos?
DAVI               — Não sei. Você é quem sabe.
RICARDO coloca seu braço envolto do pescoço de DAVI e o leva.
CORTA PARA:

CENA 39. COPACABANA PALACE HOTEL. QUARTO DE MIGUEL. Interior. Dia.
MIGUEL está na cama. Desenha o rosto de uma mulher. Certamente, é o rosto de SOPHIA na imagem. O interfone toca.
MIGUEL         — (atende) Alô... (surpreso) Sim, pode deixá-la subir. Muito obrigado!
DOIS MINUTOS DEPOIS. A campainha toca. MIGUEL levanta-se. Vai atender a porta. Depara-se com MARINA. Dá um sorriso.
MARINA         — Posso entrar?
MIGUEL         — Claro.
MARINA entra e fica olhando a sua volta. MIGUEL fecha a porta. Vira-se para MARINA.
MIGUEL         — (cont.) Gostou?
MARINA         — Sim. É um hotel realmente luxuoso.
MIGUEL         — Confesso que meu desejo não era ficar aqui... Não ligo para o luxo. Ariel sempre ajeita tudo para mim e quando vi já estava aqui com minhas malas e tudo.
MARINA         — É percebível que você é um homem simples.
MIGUEL         — (sorri brilhantemente) Eu fui criado na simplicidade. Vivi até meus dez anos em uma pequena casa que ficava dentro de uma fazenda. Minha mãe trabalhava no casarão e meu pai lidava na lavoura.
MARINA         — Parece ter sido um tempo de felicidade.
MIGUEL         — Por que acha isso?
MARINA         — Pelo seu sorriso. É como se seu rosto tivesse iluminado.
MIGUEL         — Realmente... Foi um tempo de felicidade. A melhor fase da minha vida foi a infância, por mais que tenham ocorrido alguns problemas e coisas que me deixaram triste.  A minha infância foi mágica.
MARINA         — Imagino. Você fala com tanto sentimento que imagino mesmo que tenha sido mágica.
MIGUEL         — Já falei um pouco de minha história. Agora é a sua vez.
MARINA         — Não é preciso.
MIGUEL         — Por que não? Para que possamos começar a nos envolver, temos que saber um pouco da história um do outro.
MARINA         — O que você falou?
MIGUEL         — Falei algo errado?
MARINA         — Para que possamos começar a nos envolver?
MIGUEL         — (fita Marina) E não é verdade? (aproxima-se dela) Se você veio até aqui, é porque alguma coisa quer.
MARINA         — (um pouco nervosa) Eu... Eu...
MIGUEL pega a mão de MARINA. A olha fixamente.
MIGUEL         — Está tremendo por quê? Sou tão feio assim? (Marina da um sorriso. Miguel toca os lábios dela) Seu sorriso... O seu sorriso.
MIGUEL lembra-se do sorriso de SOPHIA. Afasta-se de MARINA.
MARINA         — (estranhando) O que houve?
MIGUEL         — (mente; apreensivo) Nada.
MARINA         — Quem é essa pessoa que você disse ter lembrado através de mim?
MIGUEL         — Achei que você tivesse esquecido isso.
MARINA         — Se formos ter algo, Miguel, eu não quero que você fique vendo essa pessoa em mim.
MIGUEL vira-se para MARINA. Fica a olhando. Ele balança a cabeça negativamente. Dá um leve sorriso. Aproxima-se de MARINA. A pega pela cintura. Fica a fitando. Eles se beijam longamente.
CORTA PARA:

CENA 40. RUAS CARIOCAS. PRAIA DE COPACABANA. Exterior. Dia.
TAYLA dá um giro pelo Rio de Janeiro. Passa pela praia. Ela para à beirada do calçadão de Copacabana. Vê alguns meninos (vestidos de branco), mais algumas pessoas ao redor. Era uma luta representativa de capoeira. TAYLA pega a sua câmera. Vai em direção a roda formada por pessoas. Fotografa os meninos que estão na capoeira. Olha para o lado. Vê SÉRGIO se divertindo. Ele a olha e muda de expressão. TAYLA acena com a cabeça. SÉRGIO a corresponde. Ficam se olhando. TAYLA desvia o olhar e volta a fotografar. TAYLA e SÉRGIO olham-se novamente.
CORTA PARA:

CENA 41. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. Interior. Dia.
EULÁLIA serve um café para FERNANDO. Retira-se. LÍVIA está junto.
FERNANDO   — O café de Eulália é ótimo... Pena que não posso abusar muito da cafeína.
LÍVIA              — Sim, o café dela é ótimo! Mas cafeína demais nunca é saudável.
FERNANDO   — Mas continuemos nosso assunto.
LÍVIA              — O que você acha de irmos amanhã para Itaperuna?
FERNANDO   — Como você desejar, Lívia.
A porta abre-se. AUGUSTO entra. Fica perplexo ao ver FERNANDO.
AUGUSTO      — Quem é esse homem, Lívia?
LÍVIA levanta-se. FERNANDO também. Revoltado, AUGUSTO encara os dois seriamente.
CORTA PARA:

CENA 42. COPACABANA PALACE HOTEL. QUARTO DE MIGUEL. Interior. Dia.
MIGUEL e MARINA estão aos beijos em cima do sofá. MIGUEL toca na perna de MARINA. Sobe o seu vestido. Ele a olha fixamente. Beija seu pescoço. A porta se abre. ARIEL fica boquiaberto. MIGUEL sai de cima de MARINA. MARINA fica encabulada.
ARIEL             — (revoltado) Vocês não tem vergonha na cara?
Alternamos os olhares entre MIGUEL, MARINA e ARIEL. MIGUEL olha seriamente para ARIEL. Congela em MIGUEL.

FIM DO CAPÍTULO 34

Um comentário:

  1. Uau, é bom estar de volta com meu ex novamente, obrigado Dr. Ekpen pela ajuda, eu só quero que você saiba que está lendo este post, caso você esteja tendo problemas com seu amante e esteja levando ao divórcio e você não quer o divórcio, o Dr. Ekpen é a resposta para o seu problema. Ou você já está divorciado e ainda deseja que ele entre em contato com o Dr. Ekpen, o lançador de feitiços agora (ekpentemple@gmail.com) e ficará feliz por ter feito isso

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