Dezembro Brilha - 05: O Presente - de Hugo Martins



O Presente

Esse é o tipo de história que você precisa ler em um estado contemplativo. De forma relaxada, respirando pausadamente e mantendo a mente consciente. Tudo isso por que o que vou lhe contar não é nada muito extravagante. Mas, uma história cadenciada que vai sendo bebida aos poucos, como uma boa sopa em uma noite gelada.
Dizem que o número três tem um significado de completude. Também dizem isso do número sete, mas o três tem uma marca própria. Percebeu que somos corpo, alma e espírito? Então, ai já tem três partes! Mas, tem mais: manhã, tarde e noite. E o que dizer do passado, presente e futuro?!
Tudo que termina em três completa um ciclo, e assim aconteceu com os três filhos de Maria. Nicolau, Kevin e Túlio eram trigêmeos idênticos. Criados com o mesmo estilo de roupa, a mesma rotina e a mesma disciplina. Eram crianças normais até o ano passado, quando os pais deles morreram em um acidente de carro.
Eles tinham apenas dezessete anos quando o trágico dia fatídico aconteceu. Era 31 de dezembro e a família viajava para o interior do estado. Iriam passar a virada do ano com os avós. Tudo ocorria bem, até que pararam em um posto na beira da estrada, e enquanto os meninos correram até o banheiro, o casal aguardava-os no carro.
Nicolau foi o primeiro a sair do banheiro e presenciar o acidente. Um caminhão desgovernado saiu da estrada, e invadiu o posto esmagando o carro em que seus pais estavam. No mesmo instante, Nicolau caiu em prantos desmaiando em seguida. Ele somente acordou um ano depois no dia 31 de dezembro. Pois durante todo esse ano, ele ficou em estado de choque sem compreender o que havia ocorrido. Aquele caminhão não esmagou somente seus pais, mas também o seu espírito.
Kevin era o mais equilibrado. Ele tocou a vida, apesar da dor constante que lhe tirava o fôlego. Seus mentores foram arrancados de forma brusca. Aqueles que lhe proviam proteção foram massacrados por um caminhoneiro imprudente. Nada seria como antes, Kevin sabia disso. Era um momento arriscado em que ele deveria saltar. Ele precisava ir além, precisava ser corajoso, determinado e firme. Alguém tinha que cuidar da casa e auxiliar seus irmãos, então ele assumiu essa responsabilidade.
Enquanto que Túlio abrigou rotas de fuga dentro de si. Começou a ter sonhos constantes. E seus sonhos começaram a se materializar. Certo dia, ele acordou contando que sonhara com um pássaro quebrando a vidraça da cozinha. Foi somente fechar a boca e o pássaro colidiu contra a janela dando um baita susto em todos. Aquilo era tudo muito estranho e o eco da perda ainda ressoava na vida dos trigêmeos.
Porém, Kevin estava determinado a estabelecer a vida novamente. Ele sabia que tinha que levantar seus dois irmãos daquela situação depressiva. E a forma mais lógica que lhe veio à mente era comemorando novamente a passagem do ano. Ele queria superar a dor e viver com uma nova perspectiva do futuro.
No dia 31 de dezembro Kevin acordou cedo. Era cinco da manhã quando ele puxou a cadeira da cozinha e sentou-se no quintal. Com uma xícara de café nas mãos, sentou-se ereto e fechou os olhos. Inspirou e expirou pausadamente. Sentiu os primeiros raios de sol afagarem sua face. Sentiu o cheiro da erva verde e do eucalipto. Uma brisa delicada soprou-lhe os cabelos causando-lhe arrepios.
Ainda de olhos fechados, mergulhou dentro de si. Gostava de chocolate, iria fazer um bolo de chocolate. Um peru explodiu diante dele lhe lembrando da ceia. Precisava arrumar a casa, varrer o assoalho e lavar a louça. Uma emoção surgiu diante dele. Uma onda de angústia quis tirar-lhe a paz, essa onda era agitada e afirmava que ele não conseguiria. Mas Kevin não atentou para a onda e lembrou-se do lago que ficava ao sul da sua casa. Um lago sereno e límpido que lhe trazia paz. Sua mente sentou-se diante do lago e inspirou a quietude.
Kevin estava ali. Sentado no quintal da casa. Não havia monstros de fato. Tudo estava dentro. E ele ao abrir os olhos percebeu isso.
Seu irmão Nicolau sentou-se ao seu lado.
- Tá fazendo o quê aí parado?
- Estou aqui!
- Isso eu sei. Mas o que você tá fazendo parado? – insistiu Nicolau.
- Percebendo!
- Você tá estranho.
Kevin deu uma pequena risada para o irmão.
- E você está aonde? – perguntou Kevin.
- Aqui!
- Ótimo!
- Hoje é dia de virada – disse Kevin, analisando a expressão do irmão.
- Não gosto mais dessa data.
- É só mais um dia como qualquer outro. O que muda é o que está dentro da mente – Kevin disse apontando o indicador pra cabeça.
- Ano passado estávamos em paz com o papai e a mamãe. E hoje? Não é só mais um dia comum. Faz um ano exatamente que eles se foram.
- Se passaram 365 dias desde aquela data. Quanto tempo é preciso pra sair daquele dia?
- Você não viu o que eu vi – disse Nicolau, esfregando o canto dos olhos.
- Mas, eu senti tanto quanto você sentiu. Eu também estava lá Nicolau. Agora estou aqui – disse Kevin, fechando os olhos novamente.
Ao fechar os olhos uma nuvem escura apareceu diante dele. Kevin saiu de dentro da nuvem e pairou acima dela. Ele flutuava como uma pena bailando no espaço. Seus olhos contemplaram um caminhão se aproximando e como num flash ele viu o carro dos seus pais em chamas. Aquelas chamas se tornavam em cobras flamejantes que se aproximavam dele. As serpentes picavam o seu peito e o veneno ardia seu coração. Mas, Kevin sabia o que fazer. Ele enfiou sua mão dentro do peito e arrancou seu próprio coração. O órgão pulsava lentamente como se estivesse morrendo aos poucos, e uma mancha negra se espalhava por todas as veias. Ele sugou o veneno para cuspi-lo em seguida. E devolveu o coração ao lugar. Depois disso não havia mais acidente. Seus pais estavam ali diante dele, lhe dando um abraço apertado e sorrindo. Enfim sumiram com um brilho fulgurante.
- Você não conseguiu sair de lá – disse Kevin.
- Talvez eu nunca saia.
Enquanto conversavam, Túlio sentou-se do outro lado de Kevin. Os três ficaram em silêncio, ouvindo o canto dos pássaros.
- Tive outro sonho – disse Túlio, quebrando o silêncio.
- Com o que você sonhou? – perguntou Kevin.
- Sonhei que nós estávamos sentados à mesa comendo a ceia, quando um tremor chacoalhava tudo, e uma bola de gelo enorme, caia sobre a nossa casa afundando tudo no chão. Todos nós morríamos na mesma hora. E, fazia muito frio na morte – ele disse, abraçando as pernas.
- Foi só mais um sonho. Nada disso aconteceu ou vai acontecer – Kevin disse para acalmá-lo.
- Mas, eu fiquei com muito frio. Como isso pode acontecer? – ele falou tremendo o queixo de frio.
- Isso é coisa da sua cabeça Túlio. Só relaxa – Kevin levantou-se e encarou os irmãos – Hoje é um dia especial. Vamos saltar todos juntos?
- Que é isso, saltar? – perguntou Nicolau.
- Vamos além do que estamos vivendo. Mudar nosso status quo. Ou seja: vamos mudar, reinventar. Já chega de ficar na bad chorando pela perda dos nossos pais. Hoje é dia de superação.
- E o que você planeja? – perguntou Túlio.
- Vamos arrumar a casa, preparar a ceia, decorar tudo e convidar todo mundo pra ceiar com a gente! – disse Kevin animado.
- Não viaja! – rebateu Nicolau.
- Bem! Se vocês não vão me ajudar, por favor não me atrapalhem.
Então, Kevin fez o que planejara. Limpou tudo, fez a ceia e decorou a casa. Tudo estava pronto.
No fim do dia uma vizinha que fora convidada para a ceia bateu em sua porta. Kevin atendeu animado, e disposto a mudar. A vizinha lhe deu um presente e disse que retornava na hora do jantar. Ele ficou curioso e abriu o presente. Ao ver o que tinha dentro seu rosto se iluminou.
Enquanto Kevin corria para mostrar o que havia ganhado, Nicolau foi ao banheiro querendo fugir do irmão. Tudo estava escuro lá dentro e ele não conseguia achar o interruptor. Mas, quando seus dedos tocaram no botão, e a luz foi acesa, ele se assustou com o que viu. Nas paredes várias fotos estavam pregadas. As imagens mostravam o carro esmagado de seus pais. O fogo consumindo tudo. Seus irmãos chorando em desespero. O caixão sendo levado pelos familiares. Os dias de insônia e desespero que ele viveu depois disso. E, Nicolau simplesmente despencou no chão do banheiro. Na queda, a chave caiu dentro do ralo.
Ele começou a debater-se contra a porta, tentando sair dali. Sem conseguir olhar para as paredes, ele arrancou o porta toalhas e martelava os ladrilhos quebrando tudo. Conseguiu acertar a lâmpada ficando totalmente no escuro. Seus berros eram ouvidos à distância.
Enquanto isso, Túlio arrancou toda sua roupa do guarda-a-roupa e pôs se a vestir-se. Uma calça, duas calças, três calças e quanto mais ele conseguisse vestir. Pôs uma camisa, outro casaco, e mais outras camisetas por cima. Um gorro, um protetor auricular e várias meias. Uma bota de couro e várias luvas. Ele se jogou debaixo de várias cobertas tentando fugir do frio. Um frio que atingira sua mente.
Kevin correu para tentar destrancar a porta do banheiro, mas tudo foi inútil. Já era noite, e os vizinhos iriam começar a chegar. Ele precisava deixar tudo em ordem. Então, correu para pedir ajuda de Túlio, para encontrá-lo debaixo das cobertas.
- Que você tá fazendo cara? – perguntou Kevin, preocupado.
- Estou com muito frio!
- Estamos com vinte e nove graus celsius, e você tá enrolado desse jeito. Não tá tão frio assim Túlio, isso é coisa da sua cabeça.
- Tem uma bola de gelo vindo em nossa direção. Se eu estiver protegido talvez não faça tanto frio assim.
- Mas, isso não aconteceu meu irmão! Você precisa sair dai e me ajudar!
- Eu não posso! O frio está vindo!
- Eu sei que a morte do papai e da mam...
- Não fala disso, por favor – disse Túlio interrompendo o irmão.
- Nós precisamos encarar essa realidade.
- Não quero ouvir. Por favor não fala – Túlio gritava, entrando em profunda angústia.
- Eles se foram e isso é a realidade. Nós estamos aqui e agora! Esse é o nosso presente Túlio, você precisa entender.
- Não!!! Por favor para. Estou debaixo da bola de gelo e está muito frio.
- Não irmão! Você está aqui comigo! – Kevin dizia, enquanto arrancava toda a roupa que cobria o irmão.
Em gritos profundos de angústia Túlio ficou despido. Kevin arrancara toda sua roupa e lhe levara até o seu banheiro, enchendo a banheira e empurrando o irmão dentro.
Túlio estava em choque. Kevin se aproximou do irmão.
- Olha pra mim Túlio.
Kevin segurou o rosto do irmão.
- Isso é o que nós temos. Temos um ao outro. Eles se foram e a nossa realidade é essa. Precisamos trabalhar, estudar, cuidar das coisas. Todos os dias precisamos vencer um dia de cada vez. O agora é a única coisa que nos resta. Estamos aqui e agora. Você me entende? Não dá pra viver de sonhos, de um futuro sombrio e sem vida. Você precisa estar presente. Viver no agora, tá entendendo?
Túlio balançava a cabeça concordando.
- Eu só não queria aceitar que eles se foram. Queria sufocar essa realidade com planos e projetos futuros. Não queria pensar nisso – confessou Túlio.
- Você não é esse trauma! Você não é essa perda! Você não é essa ansiedade do futuro. Você precisa sair disso e encontrar quem você é de fato. Mas, toda essa dor, simplesmente não te define.
- Eu vou ficar bem. Se você me ajudar eu sei que vou ficar lúcido.
- Estou aqui irmão. Conta comigo – disse Kevin dando um abraço apertado em Túlio.
Enquanto Túlio se recompunha, Kevin desceu até o banheiro social e tentou falar com Nicolau, que ainda estava preso.
- Irmão, tá tudo bem? – perguntou Kevin.
- Eu não consigo respirar Kevin. Tá tudo escuro aqui dentro. Tem fotos do acidente aqui cara. Por que você fez isso? – disse Nicolau, ofegante.
- Eu não fiz nada irmão. Você só precisa relaxar e respirar ok!
- Eu não consigo, eu não consigo Kevin!
- Tá! Só para de falar e me escuta tá?!
- Tá!
- Deita no chão.
- Tá! Deitei! – disse Nicolau.
- Imagina que você está deitado em uma nuvem. Ela é fofa e refrigera todo o teu corpo. Daí, essa nuvem começa a te envolver e seu corpo inteiro vai se misturando à nuvem. Enquanto você vai se transformando na nuvem, o ar entra lentamente pelo seu nariz. Ele para um pouco dentro do seu peito, e vai saindo lentamente da mesma forma como entrou. Mas, esse ar fica pairando sobre sua cabeça por alguns segundos, para de novo entrar no seu pulmão bem devagar e parar mais alguns segundos lá.
Kevin parou e ficou escutando através da porta.
- E aí, como se sente?
- Tô mais calmo – Nicolau respondeu.
- Ok, continua respirando assim tá!
- Como faço pra sair daqui?
- Irmãozão, você tá preso nisso tudo. Não consegue sair dessa situação, desses flashes do passado. Tá na hora de se libertar.
- Eu sei! Só não consigo.
- Tá me ouvindo?
- Tô!
- Essa é a minha voz. A minha voz agora! E você consegue ouvir não é?
- Sim!
- Então, porque eu estou aqui, você também está!
- Sim, eu sei que estou aqui! – respondeu Nicolau.
- Mas a sua mente está no passado. Você precisa entender que a resposta e a solução já estão aqui. Está com você!
- Não entendi.
- Só você pode sair daí, Nicos!
- A chave caiu pelo ralo.
- Você escondeu uma chave ai dentro lembra? Você me disse isso!
- É verdade!
- Então, você só precisa encontrar essa chave e sair dai irmão!
- Tá, vou procurar.
Alguns segundo de silêncio e a porta é destrancada por dentro. Nicolaus abraça seu irmão.
- Me perdoa por tudo. Eu estava iludido vivendo no passado e preso a essas lembranças.
- Você não precisa me pedir perdão. É hora de viver o presente! Vamos?!
Os três sentaram à mesa e cearam com os vizinhos convidados. Juntos celebraram mais um ano, mais um dia que se havia levantado.
Dessa forma, recomeçaram a viver no presente. No fim das contas Kevin mostrou o presente que ganhara da vizinha para os seus irmãos. Eles ficaram impactados quando abriram a caixa e notaram seus reflexos em um espelho no interior.
Entenderam que para viver basta estar no presente, sarando as feridas do passado e tirando lições das experiências. E, planejando o futuro dando um passo após o outro dentro do presente.
Assim, 31 de dezembro tornou-se um símbolo de consciência. Uma data de voltar-se para si e se enxergar no presente. Afinal de contas o único momento que realmente temos é o agora.

FIM

Um comentário:

  1. Eu fiz pesquisas para a cura espiritual através do feitiço do amor, pelo que li é muito possível para um feiticeiro lançar um feitiço do amor e trazer de volta o amante perdido, não importa a distância. Também li que qualquer problema espiritual pode ser resolvido por um verdadeiro feiticeiro, mas nem todos podem ser ajudados. Tive a sorte de entrar em contato com o Dr. ODION através de seu e-mail (drodion60@yandex.com) ou do WhatsApp para ele +2349060503921. depois de algumas pesquisas. Meu marido me fez passar um inferno depois que me deixou com nossa filha de 18 meses para morar com sua amante. Um de seus motivos é que ainda não está pronto para cuidar de nosso filho. A situação me deixou frustrado, eu ficava confuso o tempo todo e aos poucos estava tendo uma lesão cerebral porque estava desamparado e sem esperança. Implorei a DR ODION que me ajudasse mentalmente e de fato trouxesse a ele sua aliança de casamento atual e tornasse nossos sentimentos um pelo outro mais fortes. Depois que o feitiço foi lançado, embora eu tivesse um pouco de fé que iria funcionar, fiquei surpreso com o fim do dia que o Dr. ODION me deu, meu marido voltou para nós. Não só isso, nossos sentimentos um pelo outro mudaram, o feitiço limpou as dúvidas que ele tinha sobre cuidar de nosso filho. Estou tão animado agora. Por favor, se você precisar de ajuda de qualquer tipo, entre em contato com o DR ODION para obter ajuda. Seu e-mail é (drodion60@yandex.com) ou WhatsApp ele +2349060503921.

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