O Vidente - Capítulo 22




UMA NOVELA DE NATHAN FREITAS
ESCRITA POR WLÁDIA BARBOSA
CAPÍTULO 22
“EU ODEIO ELE”
DIREÇÃO #DNA DE DRAMATURGIA
HENZO VITURINO

CENA 1. INTERNA – CASA DE CÁSSIO – SALA – MANHÃ.
NA CONTINUIDADE...
CÁSSIO VEM ENTRANDO QUANDO SE SURPREENDE AO VER MURILO, ALI PARADO A SUA FRENTE, COM UMA ARMA APONTADA PRA ELE.
MURILO: COMECE A REZAR, DR. CÁSSIO. SUA HORA CHEGOU!
CÁSSIO NÃO ESBOÇA REAÇÃO, APENAS SURPRESO.
CÁSSIO: LARGA ISSO, RAPAZ. VOCÊ VAI COMETER UMA LOUCURA!
MURILO: AH É? TA COM MEDINHO, DOUTOR CÁSSIO?
CÁSSIO: EU NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ.
MURILO: POIS DEVIA TER.
MURILO ATIRA E ACERTA UM QUADRO NA PAREDE. CÁSSIO SE ASSUSTA.
MURILO: EU NÃO ESTOU BRINCANDO.
CÁSSIO: EU VOU CHAMAR A POLÍCIA.
MURILO: CHAMA! CHAMA O BAMBEIRO, O EXERCITO, O ESCAMBAU, SEU VELHO MISERÁVEL.
CÁSSIO: AFINAL DE CONTAS, O QUE VOCÊ QUER AQUI? O QUE FOI QUE EU TE FIZ?
MURILO: CÍNICO! DESGRAÇADO.
CÁSSIO: SE É POR CAUSA DAQUELE PRESENTE QUE EU DEI A SORAIA... EU NÃO TIVE A INTENÇÃO DE OFENDÊ-LO.
MURILO: NÃO SEJA CÍNICO! EU SEI MUITO BEM QUE VOCÊ SEMPRE TEVE INTERESSE NA SORAIA. HÁ MUITO TEMPO QUE EU VENHO PERCEBENDO ISSO. POR QUE VOCÊ DEU AQUELE PRESENTE A SORAIA?
CÁSSIO: ISSO NÃO TEM IMPORTÂNCIA.
MURILO: (GRITA) TEM SIM. SÓ PORQUE O SENHOR É O PATRÃO, O CHEFÃO, EU VOU TER QUE ABAIXAR A CABEÇA?
CÁSSIO: OLHA AQUI RAPAZ... VÁ PRA CASA, ESFRIA A CABEÇA...
MURILO: EU NÃO QUERO ESFRIAR CABEÇA COISA NENHUMA. EU VIM AQUI PRA ACABAR COM VOCÊ.
CÁSSIO: ENTÃO ATIRA! VAI! NÃO É TÃO VALENTE? CONCRETIZA SUA VONTADE.
MURILO APONTA A ARMA PARA CÁSSIO. LUANA APARECE, E SE DESESPERA AO VER A CENA.
LUANA: PAPAI?
CÁSSIO: LUANA, VAI PRO QUARTO!
LUANA: (P/MURILO, JÁ CHORANDO) MOÇO, NÃO FAZ ISSO COM MEU PAI.
CÁSSIO: SAI DAQUI LUANA!
MURILO: É, SAI DAQUI! MEU NEGÓCIO É COM O TEU PAI.
CÁSSIO: ABAIXA ESSA ARMA, RAPAZ. NÃO VÁ COMETER ALGO QUE SE ARREPENDA DEPOIS.
MURILO: EU NÃO FAÇO NADA PRA ME ARREPENDER. PELO CONTRÁRIO, ME ARREPENDO DE NÃO FAZER.
LUANA: LARGA, MOÇO! POR FAVOR? NÃO FAZ MAL AO MEU PAI.
MURILO: CALA A BOCA PIRRALHA. OBEDEÇA SEU PAI, VÁ PRO QUARTO.
CÁSSIO: VÊ LÁ COMO FALA COM MINHA FILHA.
LUANA: EU VOU CHAMAR A POLÍCIA.
LUANA VAI SAINDO, MURILO MIRA A ARMA PRA ELA. EDGAR CHEGA NO EXATO MOMENTO, SE ASSUSTA COM A CENA. VENDO CÁSSIO E LUANA SEM SAÍDA, AVANÇA SOBRE MURILO. OS DOIS BRIGAM, CAI AO CHÃO... POR FIM EDGAR CONSEGUE DÁ UM GOLPE EM MURILO, E RETIRA A ARMA DELE.
EDGAR: VAI EMBORA DAQUI, RAPAZ!
MURILO SE LEVANTA, COM A MÃO NO ROSTO, ATORDOADO.
MURILO: ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM! VAI TER VOLTA.
CÁSSIO: CHISPA DAQUI.
MURILO SAI.
CÁSSIO, EDGAR E LUANA MAIS ALIVIADOS.
CÁSSIO: ESSA FOI POR POUCO. VOCÊ ESTÁ BEM?
EDGAR RI.
LUANA: VOCÊ AINDA RI?
EDGAR: (MOSTRANDO A ARMA) COM ESSA ARMA ELE NÃO MATAVA UMA MOSCA.
CÁSSIO: PORQUE?
EDGAR: É UMA ARMA COM BALAS DE FESTIM.
CASSIO: MAS ELE ATIROU NO QUADRO.
EDGAR: PRA DAR A IMPRESSÃO QUE HAVIA BALA. MAS ERA DE FESTIM.
CÁSSIO: DESGRAÇADO.
EDGAR: AINDA ERA POR CAUSA DO TAL PRESENTE?
LUANA: QUE PRESENTE?
CÁSSIO: FOI UMA LEMBRANCINHA QUE EU DEI A SORAIA. ELE FICOU ENCIUMADO.
LUANA: E POR QUE O SENHOR DEU ESSE PRESENTINHO A ELA, PAPAI?
CÁSSIO: (SEM JEITO) AH MINHA FILHA... EU QUIS SER GENTIL. A SORAIA TEM SIDO UMA SECRETÁRIA MUITO EFICIENTE.
LUANA: É SÓ ISSO MESMO, PAPAI?
CÁSSIO: CLARO. AGORA VÁ TOMAR SEU BANHO E DEPOIS DESÇA PRA ALMOÇAR.
LUANA: TÁ. (P/EDGAR) OBRIGADA EDGAR. VOCÊ FOI MEU HERÓI.
EDGAR: O QUE É ISSO, LUANA! FARIA COM QUALQUER QUE ESTIVESSE NESSA SITUAÇÃO.
LUANA: MESMO ASSIM OBRIGADA.
LUANA SAI.
CÁSSIO: ACEITA UM DRINK?
EDGAR: PRA ACALMAR OS ÂNIMOS.
CENA 2. EXTERNA – TAKES DE FORTALEZA – TARDE.

CENA 3. INTERNA – APARTAMENTO DE LUZIA – SALA – MANHÃ.
NA CONTINUIDADE... TEXTO EM ANDAMENTO.
RAQUEL: OLHA, TECA, O DANIEL NUNCA FEZ NADA PARA PROVOCAR A CARMELA. A MAMÃE TA DE PROVA.
LUZIA: A CARMELA ESTÁ CADA VEZ MAIS DIFICIL DE CONVIVER. É MUITO REBELDE. EU NÃO SEI MAIS O QUE FAZER.
TECA: UM DIA DESSE ELA CHEGOU LÁ NO CONSULTÓRIO TODA PINTADA, CHORANDO... TIVE ATÉ PENA, COITADA!
LUZIA: TECA, VOCÊ VAI CONHECER O DANIEL, ELE SÓ QUIS FAZER BRINCADEIRA COM ELA. É UM RAPAZ SUPER DO BEM.
TECA: ELA ME FALOU QUE SE SENTE REJEITADA. ESTÁ SENDO HOSTILIZADA POR ESSE DANIEL. FICOU COM RAIVA DELE.
RAQUEL: A CARMELA EXAGERA, TECA. ELA TEM RAIVA DE TODO MUNDO. PRA ELA NINGUÉM É BONZINHO. SEMPRE PROCURA UM DEFEITO. TEM RAIVA ATÉ DO COITADO DO EDGAR.
TECA: QUEM É EDGAR?
RAQUEL: É UM AMIGO DA MAMÃE. A CARMELA TEM RAIVA DE TODO HOMEM QUE SE APROXIME DE MIM OU DA MAMÃE.
LUZIA: A CARMELA NÃO É INVEJOSA.
RAQUEL: NÃO É INVEJOSA, MAS IMPLICA COM TODO HOMEM QUE SE APROXIMA DE NÓS.
TECA: ACONTECE QUE A CARMELA TÁ MUITO MACHUCADA. SE SENTE OFENDIDA.
RAQUEL: EU JÁ FALEI PRA ELE NÃO BRINCAR COM ELA, TECA.
LUZIA: TECA, EU NÃO SEI MAIS O QUE FAZER. A CARMELA TA CADA DIA MAIS AGRESSIVA.
TECA: E ESSA DIETA? VOCÊ SABIA QUE TEM CERTAS DIETAS QUE MEXE COM O SISTEMA NERVOSO?
LUZIA: AGORA PRA VOCÊ TUDO É PROBLEMA PRA PSICÓLOGO.
TECA: CLARO. EU TRABALHO COM UM E CONHEÇO O ASSUNTO. VEJO TANTAS HISTÓRIAS! E A CARMELA TALVEZ SE SINTA PRESSIONADA. NÃO PODE COMER ISSO, NÃO PODE COMER AQUILO. ISSO VIOLENTA A PESSOA POR DENTRO. FICA REBELDE, ARREDIA.
CARMELA APARECE DE CARA AMARRADA.
TECA: OI CARMELA?
CARMELA: OI TIA.
LUZIA: QUE CARA É ESSA, CARMELA?
CARMELA: DROGA DE VIDA! AS PESSOAS SÓ QUEREM SABER DE FOFOCA.
CARMELA SAI PRO QUARTO.
CENA 4. EXTERNA - TAKES DE FORTALEZA – TARDE/NOITE.
APENAS O SOL SE PONDO NA ORLA MARÍTIMA.... ANOITECE...

CENA 5. INTERNA – CASA DE CÁSSIO – SALA – NOITE.
CÁSSIO E EDGAR JOGANDO BARALHO. TEXTO EM ANDAMENTO.
EDGAR: EU FALEI PRA VOCÊ. ESSE ASSUNTO IA DAR O QUE FALAR.
CÁSSIO: MAS EU NÃO FIZ NADA DE ERRADO, EDGAR. SERÁ QUE É PROIBIDO DAR UM PRESENTE A ALGUÉM? POXA VIDA! QUE CARETICE DESSE POVO. FOI ATÉ UMA GRATIDÃO.
EDGAR: ESSE PAPO PRA CIMA DE MIM, CÁSSIO? COMO SE EU NÃO TE CONHECESSE. OLHA AQUI, O RAPAZ NÃO É BOBO NÃO.
CÁSSIO: A SORAIA É UMA BOA FUNCIONÁRIA.
EDGAR: A SORAIA É UMA FUNCIONÁRIA MUITO BOA E MUITO BONITA... QUE PRAS FEIAS VOCÊ NÃO DAR PRESENTINHO.
CÁSSIO: VÁ PARA O INFERNO VOCÊ TAMBÉM COM ISSO.
EDGAR: É ISSO QUE DAR VOCÊ FICAR DANDO EM CIMA DESSAS NOVINHAS.
CÁSSIO: EU VOU DEMITIR AQUELE MOLEQUE ASSIM QUE CHEGAR A EMPRESA AMANHÃ.
EDGAR: OLHA AQUI... SE VOCÊ FIZER ISSO, ELA SE DESPEDE E SE DEMITE NA HORA. É CLARO! PENSE BEM. ELA IA FICAR SOLIDÁRIA COM O NAMORADO. E DEPOIS ELE NÃO IA DEIXAR ELA TRABALHANDO SEM ESTÁ POR PERTO, VIGIANDO. PENSE BEM.
CÁSSIO FICA PENSATIVO.
CENA 6. INTERNA – APARTAMENTO DE LUZIA – QUARTO DE CARMELA – NOITE.
CARMELA SENTADA. LENDO UM LIVRO. APARECE TECA.
TECA: VIM ME DESPEDIR DA MINHA SOBRINHA QUERIDA.
TECA: A SENHORA JÁ VAI, TIA? JANTA CONOSCO?
TECA: NÃO POSSO, MEU BEM. JÁ TOMEI O TEMPO DE VOCÊS DEMAIS HOJE.
CARMELA: OUTRO DIA PASSO LÁ PRA GENTE CONVERSAR MAIS A VONTADE.
TECA: VAI MESMO. É TÃO BOM QUANDO VOCÊ APARECE POR LÁ. (SENTA) CARMELA... AQUELA CONVERSA QUE NÓS TIVEMOS OUTRO DIA SOBRE ESSE TAL DANIEL... TUDO QUE VOCÊ ME FALOU SOBRE ELE, SUAS QUEIXAS... VEJA BEM, ERA TUDO VERDADE, TEM CERTEZA QUE VOCÊ NÃO INVENTOU OU AUMENTOU NADA?
CARMELA: CLARO QUE NÃO TIA. A SENHORA ME CONHECE.
TECA: (CARINHOSA) OLHA AQUI, MEU BEM, EU SOU MUITO SINCERA COM VOCÊ. GOSTARIA QUE VOCÊ FOSSE SINCERA COMIGO TAMBÉM?
CARMELA: ELAS FALARAM ALGUMA COISA?
TECA: NÃO.
CARMELA: ENTÃO POR QUE VOCÊ TÁ ME PERGUNTANDO ISSO?
TECA: BOM... PRA PODER SENTIR MELHOR O TEU PROBLEMA, O TEU RESSENTIMENTO.
CARMELA: O DANIEL, ME PROVOCA, ME PERSEGUE. ISSO ME DÁ UMA RAIVA! ME HUMILHA. (ENQUANTO FALA, A CÂMERA VAI SE APROXIMANDO, E ENQUADRA BEM NO ROSTO DELA) EU ODEIO ELE, TIA! É ISSO. EU ODEIO AQUELE CAFAJESTE. (DEIXA CAIR UMA LÁGRIMA).
NESSE SEU GESTO, CORTA PARA...
FIM DO CAPÍTULO 22

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