Memória DNA | Com Amor | Capítulo 35


CAPÍTULO 35

NOVELA DE
MARCUS VINICK
MIGUEL RODRIGUES

DIREÇÃO
HENZO VITURINO
MIGUEL RODRIGUES

DIREÇÃO GERAL
MIGUEL RODRIGUES

NÚCLEO
DNA - DRAMATURGIA NOVOS AUTORES
CENA 01. COPACABANA PALACE HOTEL. QUARTO DE MIGUEL E ARIEL. Interior. Dia.
Continuação da cena 42 do capítulo anterior. ARIEL, MIGUEL e MARINA se entreolham. MARINA ajeita sua roupa e pega sua bolsa.
MARINA         — Quero me desculpar, Ariel, eu não queria causar esse constrangimento todo. Com licença!
MARINA retira-se sem olhar para os dois. Fecha a porta. ARIEL olha revoltado para MIGUEL.
MIGUEL         — Foi mal... Desculpa!
ARIEL             — O que está acontecendo, Miguel? Em todos esses anos que você trocou de mulheres como se troca de cuecas, você nunca trouxe nenhuma para o lugar onde estávamos.
MIGUEL         — Eu quero me desculpar, afinal você também nunca fez isso.
ARIEL             — Porque eu sempre te respeitei... É inacreditável que a sua vinda ao Brasil esteja te transformando nisso.
MIGUEL         — Do que está falando, Ariel? Em primeiro lugar, eu sou homem, sou maior de idade há muito tempo e sei muito bem o que faço... Não estou te entendendo.
ARIEL             — Não parece que você é homem... Você acabou de agir como um adolescente, como um rapaz novinho querendo transar com a garotinha.
MIGUEL         — (revoltado) Meça as suas palavras comigo.
ARIEL             — E você pare de se comportar assim... Já não chega o teu sonho impossível de reencontrar o grande amor de sua vida, agora quer agir como um rapaz novo também?... A Marina tem idade para ser sua filha.
MIGUEL         — Você está exagerando.
ARIEL             — Não, não estou exagerando.
MIGUEL         — Qual é o teu problema, hein? Diga-me! Pode dizer, porque eu já estou começando a desconfiar que... (ARIEL fica apreensivo. MIGUEL continua) Que você sente inveja de mim ou algo assim.
ARIEL dá uma risada debochada. Olha para MIGUEL com uma certa ira.
ARIEL             — Inveja de você? Poupe-me, Miguel! Quem é que vai ter inveja de um homem que vive sonhando com uma mulher que nunca teve e aí vive passando as mãos nas outras para ver se ameniza a dor?
Descontrolado, MIGUEL pega ARIEL pelo colarinho e o joga violentamente contra o sofá. ARIEL bate a cabeça e dá um grito de dor. Ao tocar a cabeça, vê que formara uma ferida com um pequeno sangramento.
ARIEL             — (treme; está com os olhos marejados) Você... Olha o que você fez!
MIGUEL aproxima-se novamente de ARIEL. O pega novamente pelo colarinho.
MIGUEL         — Escute o que eu vou dizer: você vive jogando na minha cara o fato de eu nunca mais ter reencontrado Sophia, você vive jogando isso como se tivesse o direito de falar sobre a minha vida e sobre meus sentimentos.
ARIEL             — E quem disse que eu não tenho direito? Eu sou seu amigo. Eu sou o seu único amigo.
MIGUEL         — Mas está agindo como se fosse meu inimigo. E se for para continuar assim, eu faço questão de te pagar uma passagem de volta para a Europa, porque eu não irei te querer mais ao meu lado.
ARIEL             — O que vai ser de você sem mim?
MIGUEL         — Sou eu quem te faço essa pergunta, Ariel.
ARIEL             — Eu nunca dependi de você, Miguel.
MIGUEL         — Mas tudo o que você conseguiu foi ao meu lado.
MIGUEL afasta-se. Abre a porta. Retira-se. ARIEL não contêm as lágrimas.
ARIEL             — Você irá pagar Miguel! Quando você descobrir que Marina é filha de Sophia, a sua felicidade irá por água abaixo!
ARIEL revoltado, pega um vaso e atira contra a parede.
CORTA PARA:

CENA 02. MANSÃO DOS VILLARY. SALA. Interior. Dia.
Continuação da penúltima cena do capítulo anterior. LÍVIA olha para FERNANDO. Depois encara AUGUSTO.
LÍVIA              — (mente) Esse é o Fernando, um amigo já de longa data.
AUGUSTO      — Amigo de longa data?
FERNANDO   — (estende sua mão para cumprimentar Augusto) Sim, Augusto. Muito prazer!
AUGUSTO olha para a mão de FERNANDO. Não a aperta.
AUGUSTO      — Engraçado! Parece que já te vi em algum lugar, mas não me lembro direito.
FERNANDO   — Não me lembro de termos nos visto em algum lugar.
AUGUSTO      — E a Lívia nunca me falou de você.
FERNANDO   — Lívia e eu nos reencontramos agora, após tantos anos.
AUGUSTO      — Já que é assim, sinta-se à vontade e me tudo sobre a amizade vocês, que até agora eu não sabia da sua existência.
AUGUSTO senta-se no sofá. FERNANDO olha para LÍVIA, dá um leve sorriso. Senta-se ao lado de AUGUSTO. LÍVIA senta-se no outro sofá.
LÍVIA              — Quer que eu peça um café para você, Augusto?
AUGUSTO      — Não... Eu vou tomar uísque. (Levanta-se. Vai até o bar. Serve uísque no copo. Volta e senta-se novamente) Agora, pode começar a falar...
FERNANDO   — Fernando.
AUGUSTO      — Sim, Fernando.
LÍVIA              — Fernando e eu nos conhecemos na adolescência, Augusto... Fomos grandes amigos durante o ensino médio.
AUGUSTO      — Eu não quero saber de você, Lívia. Quero que ele me conte sobre a amizade de vocês, se é que ela realmente existe.
FERNANDO   — (sorri) E por que não existiria, Augusto?
AUGUSTO      — Porque eu não sou idiota e a minha vontade é de te correr daqui abaixo de pauladas.
FERNANDO levanta-se. AUGUSTO também. Os dois ficam se encarando.
LÍVIA              — Augusto, você está sendo mal educado e agressivo... Além do fato de estar tentando insinuar que o Fernando seja muito mais do que meu amigo.
AUGUSTO      — Eu não estou insinuando nada, Lívia, não ponha palavras na minha boca!... Eu não sei o que você está escondendo de mim, mas eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde.
FERNANDO   — Augusto, não há motivos para que você desconfie...
AUGUSTO      — Cale a boca! Você está na minha casa e não tem o direito de dirigir nenhuma palavra.
FERNANDO   — Você tem razão, Augusto: eu estou na sua casa. Contudo, se estivéssemos na rua, eu teria partido a sua cara no meio com um soco, porque eu não levo desaforo para casa.
AUGUSTO      — E por que não faz isso agora?
LÍVIA              — (irritada) Chega! (t) Fernando, eu vou te acompanhar até a porta.
LÍVIA acompanha FERNANDO até a porta.
FERNANDO   — (em tom baixo) E como fica nosso assunto?
LÍVIA              — Vamos amanhã para Itaperuna, caso você não tenha nenhum compromisso de trabalho ou algo assim.
FERNANDO   — Um ou dois dias não irá me atrapalhar em nada.
LÍVIA              — Está bem.
FERNANDO   — (sorri) Tchau!
LÍVIA repara no lindo sorriso de FERNANDO. Corresponde o sorriso.
LÍVIA              — Tchau, Fernando!
FERNANDO retira-se. LÍVIA fecha a porta. Vira-se para AUGUSTO que a fita seriamente.
LÍVIA              — Belo modo de tratar um amigo, Augusto.
AUGUSTO      — Ele faz parte do que você está aprontando, não é?
LÍVIA dá uma risada irônica.
LÍVIA              — Augusto vá tomar um banho! Você a recém chegou do trabalho e dê um jeito de ser um pouco mais simpático. Você já foi mais bonito quando não vivia com essa expressão de prepotência pregada em seu rosto. Com licença!
LÍVIA retira-se. AUGUSTO fica pensativo. Balança a cabeça negativamente.
CORTA PARA:

CENA 03. COPACABANA. ambiente. Exterior. Dia.
TAYLA e SÉRGIO caminham pela praia. SÉRGIO entrega a câmera dela. Ele param próximo a um quiosque.
SÉRGIO          — Você sempre fotografa qualquer coisa?
TAYLA           — Qualquer coisa, não! Coisas que me interessam.
SÉRGIO          — Ah... Está certo.
TAYLA           — Eu já tenho que ir embora.
SÉRGIO          — Já? Mas mal começamos a conversar.
TAYLA           — As horas passam rápido e Arthur já deve estar quase saindo do trabalho.
SÉRGIO          — Arthur... Seu marido?
TAYLA           — Sim.
SÉRGIO          — Há quanto tempo vocês estão juntos?
TAYLA           — Já fazem seis anos.
SÉRGIO          — Meu Deus! Pra que se prender tão cedo a alguém?
TAYLA           — Essa é uma pergunta que não convém logo você me perguntar.
SÉRGIO          — Desculpe! Eu não quis parecer intrometido ou qualquer outro adjetivo que defina o fato de eu ter lhe feito uma pergunta tão pessoal... É que tem coisas que eu não entendo.
TAYLA           — Não entende porque ainda é muito jovem.
SÉRGIO          — Você também é muito jovem... Devo ser uns dois anos mais novo do que você... Não sou mais um menino de dezoito anos, como deve se passar pela sua cabeça.
TAYLA           — Eu sei disso.
SÉRGIO          — Você parece querer passar a imagem de uma mulher séria.
TAYLA           — (estranha) Como assim?
SÉRGIO          — Por favor, não me entenda errado! Eu apenas quis dizer que, por você ter seu próprio negócio e ser uma mulher casada, quer passar a imagem de ser séria, de ser uma mulher amadurecida.
TAYLA           — E sou uma mulher amadurecida.
SÉRGIO          — A vida é muito curta pra gente levar as coisas tão a sério. É muito curta pra gente se prender a certas convenções. Eu também amadureci, mas não é fácil largar esse meu jeitão meio que “largado” digamos assim... Porque eu tenho medo de envelhecer, tenho medo de fazer trinta, quarenta anos e não aproveitar nada da minha vida. É por isso que vivo como um aventureiro.
TAYLA desvia o olhar. Fica um pouco pensativa. Volta a olhar para SÉRGIO.
TAYLA           — Que bom que você vê a vida dessa forma... Eu tenho que ir embora agora. Tchau!
SÉRGIO          — Antes de você ir embora... Posso te fazer um convite?
TAYLA           — Dependendo de que convite seja.
SÉRGIO          — Vamos pular de asa-delta?
TAYLA começa a rir. SÉRGIO fica sério.
SÉRGIO          — Do que está rindo?
TAYLA           — Nada. Só achei engraçado você me fazer um convite desses.
SÉRGIO          — Eu nunca pulei com ninguém e quero saber como é... Já convidei minha mãe e até mesmo a amiga dela, mas nenhuma das duas aceitou. Minha mãe morre de medo de altura.
TAYLA           — Então a sua mãe é das minhas.
SÉRGIO          — Ah, não... Para! Não creio!
TAYLA           — Façamos assim: vou pensar com carinho em seu convite.
SÉRGIO sorri. Balança a cabeça positivamente.
SÉRGIO          — Ok!
SÉRGIO estende a mão. TAYLA aperta. Os dois sorriem um para o outro.
CORTA PARA:

CENA 04. TAKES DO RIO DE JANEIRO. ambiente. Exterior. Noite.
Anoitece.

CENA 05. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DE RICARDO. Interior. Noite.
RICARDO chega em casa. Vai direto ao seu quarto. Tira a camisa e depois a calça. Ao mexer em um dos bolsos da calça, vê que ANGELINA esquecera o celular com ele e que ele também esquecera de devolver. O celular. Ele atende. ATENÇÃO EDIÇÃO:Dividir a tela mostrando RICARDO e ANGELINA ao celular.
RICARDO       — Alô!
ANGELINA    — Ricardo.
RICARDO       — Ah, Angelina, você se esqueceu o seu celular comigo e eu também não lembrei.
ANGELINA    — Eu acabei me esquecendo mesmo. Quando me dei conta, você já tinha ido embora e nem tinha como eu ir atrás de você.
RICARDO       — Amanhã, eu te devolvo então.
ANGELINA    — Não... Eu não posso ficar sem o meu celular... Passe o seu endereço, por favor, eu vou aí de carro com meu pai e já pego. Pode ocorrer de alguém me mandar mensagem ou me ligar.
RICARDO       — Está bem. Vou te passar meu endereço.
CORTA DESCONTÍNUO PARA:

CENA 06. RECREIO DOS BANDEIRANTES. FRENTE DA CASA DOS BOAVENTURA. Exterior. Noite.
O carro do pai de ANGELINA encosta em frente. ANGELINA desce. RICARDO aparece e abre o portão. Entrega o celular e dá um sorriso.
RICARDO       — Pelo visto, você é aquele tipo de pessoa que não pode passar nem mesmo algumas horas sem o celular.
ANGELINA    — Não, não posso. Muito obrigada, Ricardo!
RICARDO       — Não quer entrar?
ANGELINA    — Não, o meu pai está ali me esperando.
DAVI chega. Aproxima-se. Para ao ver a moça em frente ao portão da casa dos Boaventura. Reconhece ANGELINA, colega de trabalho de RICARDO. ANGELINA dá um abraço em RICARDO. Segue até o carro de seu pai. Entra. ANGELINA acena para RICARDO que faz o mesmo. O carro dá a partida. DAVI aparece. RICARDO se surpreende.
RICARDO       — Veio a pé?
DAVI               — Meu irmão me largou na esquina.
RICARDO       — Eu poderia ter ido te buscar, para que seu irmão não se incomodasse.
DAVI               — Agora já foi.
RICARDO       — Então vamos entrar e colocar as pizzas no forno.
DAVI               — Ricardo, eu vi.
RICARDO       — O quê?
DAVI               — Vocês mal se conhecem e ela já veio aqui em sua casa... Amizade rápida essa, não?
RICARDO       — A Angelina deixou o celular dela comigo...
DAVI               — Então esse é o nome dela?
RICARDO       — Sim, Davi.
DAVI               — Ela deixou o celular com você, como assim?
RICARDO       — Foi na hora em estávamos indo almoçar. Ela não tinha bolsos na calça e deixou comigo, acabou se esquecendo e eu também não lembrei, então ela veio buscar já que não pode ficar sem o celular por uma noite.
DAVI               — Ah... Claro! Uma forma que ela arranjou de já ficar sabendo seu endereço.
RICARDO       — Crise de ciúmes, Davi? Você sabe que isso não cola comigo! Nós podemos ficar em paz ou você vai continuar?
DAVI               — O que temos não é sério mesmo... Então, para você, eu não tenho o direito de sentir ciúmes.
RICARDO       — Já percebeu que você vive usando esse argumento de que não temos nada sério, então você não tem direito disso e nem daquilo? Davi, nós estamos curtindo esse momento. E por mais que você não acredite, eu vejo isso como uma relação. Aliás, qualquer proximidade intima de alguma coisa, eu considero uma relação... E somos bem mais que íntimos... Vamos entrar, comer pizza e ver um filme juntos? Podemos?
DAVI entra. Caminha em direção à casa. RICARDO fecha o portão. Acompanha DAVI.
CORTA PARA:

CENA 07. COPACABANA PALACE. QUARTO DE MIGUEL E ARIEL. Interior. Noite.
ARIEL olha-se no espelho. Ajeita seu terno. MIGUEL aparece e fica o olhando.
ARIEL             — O que você quer, Miguel?
MIGUEL         — Vim te pedir desculpas.
ARIEL             — Não vamos falar disso agora... Daqui a pouco , já temos que descer para o jantar.
MIGUEL         — Eu não devia ter te jogado contra o sofá, eu não imaginei que você fosse acabar se machucando. Só que eu fiquei revoltado. Eu nunca te agredi em toda minha vida e sei que errei... Eu estou sentindo um remorso tão grande por dentro.
ARIEL             — Já está tudo bem, Miguel.
MIGUEL parece ter ficado triste. Retira-se.
CORTA PARA:

CENA 08. COPACABANA PALACE. RESTAURANTE CIPRIANI. Interior. Noite.
MIGUEL e ARIEL chegam ao Restaurante Cipriani no Copacabana Palace mesmo. Cumprimentam alguns homens que já estão sentados à mesa há alguns minutos. Entre esses homens está um crítico de arte e dois que trabalham em programações culturais da cidade. Conversam fora áudio.
CORTA PARA:

CENA 09. STOCK-SHOTS. ambiente. Exterior.
Damos um giro pela noite carioca que está um pouco movimentada. Carros vão e vem. Ônibus param para apanhar ou largar um passageiro. As imagens devem ser mostradas em ritmo frenético e acompanhadas por uma música ambiente, até chegarmos à fachada do condomínio onde a família Vidal Ferraz mora.
CORTA DESCONTÍNUO PARA:

CENA 10. AP DOS VIDAL FERRAZ. SALA DE JANTAR. Interior. Noite.
Jantar já iniciado. CECÍLIA e HENRIQUE estão à mesa. Enquanto jantam, conversam.
HENRIQUE     — E a Sophia?
CECÍLIA         — Foi ao Copacabana Palace.
HENRIQUE     — Onde Miguel está hospedado?
CECÍLIA         — Sim.
HENRIQUE     — Você acha que dessa vez ela toma coragem?
CECÍLIA         — Ela está indo apenas para observá-lo. Ela ainda não quer uma aproximação, para ter que falar sobre tudo que aconteceu... Sophia ainda não está preparada.
CECÍLIA toma um gole de vinho. HENRIQUE a acompanha.
CORTA PARA:

CENA 11. COPACABANA PALACE. RESTAURANTE CIPRIANI. Interior. Noite.
SOPHIA entra no Cipriani. De longe, ela vê MIGUEL que está acompanhado. Repentinamente, ARIEL a vê. A reconhece como a mulher que já estivera ali outro dia e que parecia ter desejo em falar com MIGUEL. SOPHIA vai ao toalete. ARIEL pede licença aos senhores. Levanta-se e retira-se.
CORTA PARA:

CENA 12. COPACABANA PALACE. RESTAURANTE CIPRIANI/TOALETE. Interior. Noite.
SOPHIA está nervosa. Encosta-se à bancada. Encara-se no imenso espelho. ARIEL encosta-se na porta do toalete feminino. Encara SOPHIA.
ARIEL             — Sophia. (Sophia olha para Ariel. Fica surpresa) Eu sabia que era você. Eu soube desde aquele dia em que esteve aqui, praticamente espionando Miguel.
SOPHIA          — Como você sabe o meu nome?
ARIEL             — Como não saber seu nome ou não saber sobre você, sendo assessor e amigo de Miguel?
SOPHIA          — Eu... Eu confesso que estou um pouco confusa.
ARIEL             — Não é pra menos. Voltou ao Brasil por causa dele, não é? Deseja falar com ele, mas não sente coragem.
SOPHIA          — E o que você sabe sobre isso?
ARIEL             — O suficiente para dizer que passei todos esses anos ouvindo Miguel falar de você... Sempre com muito afeto e, ao mesmo tempo, uma tristeza por não ter conseguido ser feliz com você. E eu sempre o avisando para deixar de criar ilusões, mas eu estava enganado. Você voltou!
SOPHIA emociona-se, mas contém as lágrimas.
SOPHIA          — Eu jamais pude imaginar que ele ainda pensasse em mim dessa forma.
ARIEL             — Como não pôde imaginar? O que vocês sentem não é amor verdadeiro?
SOPHIA          — Só que eu sempre me senti insegura com relação a isso... Eu tenho medo que ele não me perdoe. Eu não imaginei que ele fosse estar aqui no Brasil.
ARIEL             — Então por que voltou? Por causa de Marina?
SOPHIA          — Como sabe sobre Marina?
ARIEL             — Sei sobre Marina desde o momento em que ela nasceu, em Amsterdã... Eu era amigo do avô dela e a recém estava começando a assessorar a carreira de Miguel.
SOPHIA          — Eu voltei por causa dela. Voltei por causa de minha filha.
ARIEL             — Garanto que deseja o perdão dela, afinal você a abandonou com o marido.
SOPHIA          — Eu tive meus motivos... Só desejo que ela consiga enxergar isso. Eu quero recuperar o amor de minha filha.
ARIEL             — Duvido muito.
SOPHIA estranha a postura de ARIEL ao dizer cada palavra.
SOPHIA          — Por que duvida?
ARIEL             — Além de chegar atrasada na vida de sua filha e na vida de Miguel, você também é muito desinformada... A Marina e o Miguel estão apaixonados um pelo outro. Se eu não tivesse chegado a tempo, eles teriam transado pela primeira vez... E o melhor de tudo: não foi na cama que o ato quase ocorreu, mas sim em cima do sofá!
SOPHIA          — (incrédula) O que você está falando?
ARIEL             — Isso mesmo que você ouviu... Quer que eu repita? Não me custa nada! A Marina e o Miguel estão apaixonados.
SOPHIA fica nervosa. Respira ofegante. Equilibra-se para não desmaiar. Sem poder entrar no toalete feminino, ARIEL fica a encarando. 

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 13. COPACABANA PALACE. RESTAURANTE CIPRIANI/TOALETE. Interior. Noite.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. SOPHIA não contém as lágrimas. ARIEL continua a encarando.
SOPHIA          — Isso não pode ser verdade... O Miguel não pode estar apaixonado logo pela minha própria filha.
ARIEL             — A crueldade do destino.
Completamente transtornada, SOPHIA retira-se. ARIEL dá um sorriso. Retira-se.
CORTA PARA:

CENA 14. COPACABANA PALACE. RESTAURANTE CIPRIANI. Interior. Noite.
ARIEL aproxima-se. Senta-se à mesa. MIGUEL o olha.
MIGUEL         — Por que demorou tanto?
ARIEL             — (mente) Imagina só que acabei encontrando um conhecido.
MIGUEL         — (estranhando) Conhecido? Aqui, no Brasil?
ARIEL             — Que conheci na Europa. Ele já foi embora.
ARIEL toma um gole de vinho. MIGUEL também.
CORTA PARA:

CENA 15. COPACABANA PALACE. FACHADA. Exterior. Noite.
SOPHIA entra no carro. Encosta a cabeça ao volante. Chora copiosamente. Desencosta do volante. Passa as mãos pelos cabelos. Fica pensativa sobre cada palavra que ARIEL lhe revelara sobre MIGUEL e MARINA.
CORTA PARA:

CENA 16. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. Exterior. Noite.
Sucessão de imagens do Rio de Janeiro à noite. Mostramos as imagens em ritmo frenético e acompanhado por uma música ambiente. Damos um giro pela cidade, até chegarmos à frente do condomínio onde moram a família Vidal Ferraz.
CORTA DESCONTÍNUO PARA:

CENA 17. AP DOS VIDAL FERRAZ. SALA. Interior. Noite.
CECÍLIA abre a porta. SOPHIA entra sem falar nada. Ela vai diretamente para o quarto de hóspedes. CECÍLIA vai atrás da amiga. CORTA IMEDIATO PARA: QUARTO DE HÓSPEDES. CECÍLIA aproxima-se de SOPHIA.
CECÍLIA          — O que houve Sophia? Você falou com Miguel?
SOPHIA          — Cecília, você não vai acreditar.
CECÍLIA         — Fale. Já estou preocupada.
SOPHIA          — O Miguel e a Marina estão tendo um caso. (Cecília fica boquiaberta. Sophia continua) Você não imagina a dor que eu estou sentindo por dentro.
CECÍLIA         — Você tem que tentar se acalmar.
SOPHIA          — Não tem como eu ficar calma. Não tem como.
CECÍLIA         — Como você descobriu isso?
SOPHIA          — O assessor do Miguel.
CECÍLIA         — E como ele chegou a você?
SOPHIA          — Ele sabe da minha história com Miguel, porque este certamente deve ter falado... Eles são amigos há um bom tempo.
CECÍLIA         — Então isso significa que Miguel nunca te esqueceu.
SOPHIA          — Isso parece não importar mais.
CECÍLIA         — Como não, Sophia?
SOPHIA          — Ele está envolvido com a Marina.
CECÍLIA         — Mas isto não significa nada.
SOPHIA          — Eu não estou te entendendo, Cecília.
CECÍLIA         — Eu estou dizendo que você deve lutar por esse amor. Eu sei que isso deve estar doendo muito, afinal ela é a sua filha, mas eles não tem noção disso.
SOPHIA          — Eu não creio que o Miguel não tenha noção disso.
CECÍLIA         — Se ele tivesse, ele não se envolveria com a Marina. Agora mais do que nunca você deve ir procurá-la e contar toda sua história.
SOPHIA          — Você está certa.
CECÍLIA abraça SOPHIA fortemente.
CECÍLIA         — Eu sei que deve estar doendo muito.
SOPHIA          — Mais um baque... Mais um baque.
CECÍLIA         — Acredite que irá dar tudo certo.
SOPHIA          — Sim. Agora eu preciso ficar sozinha.
CECÍLIA         — Está bem.
CECÍLIA beija a testa de SOPHIA e retira-se.  A olha por alguns segundos e depois fecha a porta. SOPHIA acaba não agüento e chora novamente. Deita-se na cama. Agarra-se no travesseiro aos prantos.
CORTA PARA:

CENA 18. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. Exterior. Dia.
Amanhece.

CENA 19. MANSÃO VILLARY. QUARTO DO CASAL. Interior. Dia.
LÍVIA acorda. Olha o relógio. Vê que já marca 10:00hs da manhã. EULÁLIA entra no quarto. Abre as cortinas.
EULÁLIA        — Bom dia, dona Lívia!
LÍVIA              — Bom dia, Eulália! Eu não devia ter me acordado tarde.
EULÁLIA        — Se a senhora tivesse me avisado, teria lhe acordado mais cedo.
LÍVIA              — Acabei me esquecendo... Daqui a pouco, o Fernando já está chegando.
EULÁLIA        — Vocês vão hoje para Itaperuna?
LÍVIA              — Sim... (t: nervosa) E eu estou um pouco nervosa.
EULÁLIA        — Até imagino.
LÍVIA              — É que se passa tudo pela minha mente, até o fato de que esse homem já possa não estar mais morando no endereço dado por Paulina.
EULÁLIA        — A senhora tem que pensar apenas positivo... Vai dar tudo certo, se Deus quiser.
LÍVIA              — Assim espero, Eulália... Assim espero.
LÍVIA fica um pouco pensativa, sentada na cama. EULÁLIA a observa.
CORTA PARA:

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 20. CASA DOS BOAVENTURA. QUARTO DO CASAL. Interior. Dia.
GREGÓRIO arruma o quarto. Coloca algumas coisas velhas em uma sacola. CRISTINA aparece.
CRISTINA      — O que está fazendo?
GREGÓRIO    — Me livrando de algumas coisas que só estão juntando poeira e traça no guarda-roupa, já que estou de folga.
GREGÓRIO tira uma caixa. Coloca em cima da cama.
CRISTINA      — (relembra) Essa caixa...
GREGÓRIO    — As roupinhas de Ricardo de quando ele era bebê.
CRISTINA dá um sorriso. Senta-se na cama. Abre a caixa.
CRISTINA      — Lembro até hoje de quando o Ricardo foi largado naquele orfanato, nas mãos daquela jovem moça que a recém estava começando a fazer parte do voluntariado.
GREGÓRIO    — Nada é por acaso mesmo.
CRISTINA      — Eu jamais imaginei que fazendo parte do voluntariado, eu fosse acabar me encantando por um dos bebês e acabasse o adotando.
GREGÓRIO dá um sorriso.
GREGÓRIO    — E hoje está um homem enorme, de barba na cara...
CRISTINA muda a expressão repentinamente. GREGÓRIO estranha.
GREGÓRIO    — O que houve?
CRISTINA      — Nada... Só lembrei-me de algumas coisas.
CRISTINA fica pensativa e à sua mente vem flashes do rosto de um homem, este que está gritando e a imagem de um bebê (no caso, RICARDO).
CORTA PARA:

CENA 21. AP DE MARINA. CORREDOR/SALA. Interior. Dia.
MARINA está preste a sair. Ela abre a porta. Depara-se com SOPHIA na porta.
MARINA         — Saia da minha frente! Eu preciso ir trabalhar, ao contrário de você que não deve fazer nada de sua vida.
SOPHIA          — Me atacando com “quatro pedras” na mão antes mesmo de eu ter aberto minha boca? Antes de você ir para o estúdio, você irá me ouvir.
MARINA         — Você pode me dar licença? Eu não tenho tempo a perder com você.
SOPHIA          — Só que eu tenho todo tempo do mundo e é melhor você entrar.
MARINA         — Eu vou ligar para a recepção e você será tirada daqui a força. Aliás, como você conseguiu subir aqui sem que eu fosse informada pelo interfone?
SOPHIA          — Com dinheiro, Marina, o ser humano consegue qualquer coisa. Agora, faça o favor de entrar para conversarmos.
MARINA         — Eu não vou fazer isso. Eu já disse que quero distância e, se você tivesse um pouco de respeito, faria a minha vontade!
SOPHIA perde a paciência. Toma a chave da mão de MARINA. Entra e tranca a porta.
MARINA         — (grita) O que você está fazendo?
SOPHIA pega MARINA pelo braço e a joga sentada no sofá.
SOPHIA          — Pronto. A porta está trancada, a chave está comigo e agora só falta eu amordaçar a sua boca, porque com você agindo histericamente é que não vou poder falar o que eu tenho para lhe dizer a um bom tempo.
MARINA fica olhando com raiva para SOPHIA. Levanta-se. Pega o telefone.
MARINA         — Eu vou chamar a polícia. Você é extremamente louca!
SOPHIA          — Você ainda não me viu extremamente louca, Marina. Largue esse telefone!
MARINA         — Vou chamar a polícia, eu já disse. (Sophia desliga o telefone da tomada. Marina continua) Eu vou acabar com você!
SOPHIA          — Chega, Marina.
MARINA         — Você não pode fazer isso comigo. O que você está fazendo é crime.
SOPHIA          — Eu não iria deixar que você fizesse o mesmo comigo que fez naquele estúdio naquele dia.
MARINA         — Você volta após vinte anos e queria que eu agisse como?
SOPHIA          — Só que já está na hora de você saber os motivos pelos quais eu cometi o maior erro da minha vida: que foi ter te abandonado.
MARINA não contém as lágrimas. Chora.
MARINA         — Eu só quero que você saia da minha vida de uma vez por todas.
SOPHIA          — Novamente? Nem pensar!
CORTA DESCONTINUO PARA: MARINA preparando um café, após alguns minutos.
SOPHIA          — Não gosto de café puro.
MARINA encara SOPHIA. Mistura leite ao café. Coloca a xícara no microondas. SOPHIA desliga o aparelho. MARINA estranha.
SOPHIA          — (cont.) Onde tem chocolate?
MARINA abre a porta do armário e aponta o pote de chocolate. SOPHIA o pega e o abre em seguida. Coloca duas colheres de chocolate no café com leite. Mexe com a colher e Marina balança a cabeça negativamente.
SOPHIA          — É um simples cappuccino.
MARINA         — Cappuccino?
SOPHIA          — Sim.
MARINA         — Para mim, não passa de chocolate com café ao leite. Apenas.
SOPHIA dá um leve sorriso. Ela coloca a xicara no micro-ondas e liga o aparelho novamente.
Após alguns minutos, MARINA e SOPHIA estão sentadas à mesa. Com suas xicaras em mãos e bebendo, elas desviam seus olhares e, de vez em quando, se olham fixamente.
MARINA         — E então? Você me trancou aqui para tomar um café com sua filha, após ter a abandonado quando ela apenas tinha cinco anos de idade?
SOPHIA          — O café não estava no roteiro. Contudo, esse é o primeiro café de muitos que iremos tomar juntas.
MARINA         — Não acredite nisso.
SOPHIA          — Eu só precisava que você se acalmasse e, pelo visto, consegui.
MARINA         — Não comemore. Eu estou me contorcendo de raiva por dentro.
SOPHIA          — Imagino. É normal que esteja se sentindo assim.
MARINA         — Pode começar, então. Meus ouvidos estão bem abertos. Só não me conte uma história triste, porque eu jamais irei me comover com qualquer coisa que você tenha a me dizer, com qualquer história triste que use como motivo para ter me abandonado.
SOPHIA          — Você me lembra alguém, Marina.
MARINA         — Já me disseram que lembro uma pessoa também.
SOPHIA          — Quem te disse isso?
MARINA         — Não interessa!
SOPHIA          — Você me lembra a sua avó.
MARINA         — A minha avó morreu quando meu pai ainda era uma criança.
SOPHIA          — Eu estou falando da minha mãe. É a partir dela que a minha história começa. É partir de Gabriela Meirelles.
MARINA         — Comece! Eu já perdi meus compromissos por sua causa.
SOPHIA dá mais um gole em seu café e fica olhando para MARINA. Começa a falar e MARINA presta a atenção em cada palavra. Neste momento, as memórias se passam pela mente de SOPHIA enquanto ela fala tudo para a filha: desde os melhores momentos até os mais conturbados.
CORTA PARA:

CENA 22. MANSÃO VILLARY. JARDINS. Exterior. Dia.
EULÁLIA acompanha LÍVIA até o carro de FERNANDO.
EULÁLIA        — Quando o doutor Augusto chegar, o que eu digo?
LÍVIA              — Diga que eu fui para a casa de praia em Paraty.
EULÁLIA        — E se ele ligar pra lá?
LÍVIA              — Pode ficar tranqüila, Eulália, os caseiros já estão bem avisados.
EULÁLIA        — Está bem... Que Deus os acompanhe pela estrada!
LÍVIA dá um sorriso. Abraça EULÁLIA.
LÍVIA              — Obrigada por tudo, Eulália.
EULÁLIA        — (emocionada) Não precisa agradecer, dona Lívia.
LÍVIA passa sua mão no rosto da empregada, enxugando a lágrima que percorrera pelo rosto de EULÁLIA.
LÍVIA              — Eu vou trazer o nosso Nicolas para casa,
EULÁLIA        — Sim, se Deus quiser!
LÍVIA beija seu crucifixo e abraça EULÁLIA novamente. Após isso, ela entra no carro de FERNANDO. Ele dá partida. EULÁLIA olha para cima, respira fundo e solta o ar com nervosismo.
EULÁLIA        — (cont.) Que o Senhor abra os caminhos para que ela possa reencontrar o filho ou pelo menos ter pistas.
Vemos o carro de FERNANDO se afastar. EULÁLIA acena emocionada para LÍVIA.
CORTA PARA:

CENA 23. AP DE MARINA. SALA. Interior. Dia.
Continuação da cena 21. Conversa já avançada.  MARINA larga a xícara em cima da mesa e se levanta. Está indignada e, ao mesmo tempo, incrédula sobre tudo o que acabara de ouvir. Apreensiva, SOPHIA fica a olhando.
MARINA         — Isso não pode ser verdade. Você só está inventando tudo isso.
SOPHIA          — E por que eu inventaria?
MARINA         — Para me comover, para ver se eu aceito o seu pedido de perdão.
SOPHIA          — Eu jamais inventaria isso para ter o seu perdão, Marina.
MARINA         — Só que eu não posso acreditar em um absurdo desses. Que mãe faria isso? Que mãe maltrataria um filho dessa forma?
SOPHIA          — Ela nunca foi mãe de verdade. Ela não merecia carregar esse título.
MARINA         — Você é muito falsa se estiver inventando tudo isso.
SOPHIA          — (quase chorando) Eu jamais inventaria algo assim. (t) Você não imagina o quanto doeu ter passado por cada coisa nas mãos dela; cada palavra para me destruir por dentro, cada bofetada. Ela acabou comigo e conseguiu afastar o amor de minha vida por duas vezes. Ela armou para uma armadilha para que eu não fosse viajar com ele para a Europa e eu acabei caindo. Nós nos separamos e nunca mais nos vimos. E então, eu acabei... Eu acabei me envolvendo com seu pai e não demorou muito para que eu aceitasse o pedido de casamento dele.
MARINA         — Claro! Já devia estar de olho no dinheiro dele!
SOPHIA          — Marina, eu não admito que você fale comigo dessa forma. Eu vim aqui em paz e estou me abrindo com você.
MARINA         — Você roubou o meu pai. Vai dizer que também teve seus motivos para cometer um crime?
SOPHIA          — Quando eu te abandonei, eu já não aguentava mais viver com seu pai, porque eu não o amava de verdade. E sabe por que eu te abandonei? Porque eu estava me tornando uma péssima mãe e não estava te dando o amor que você merecia, ao contrário, eu fazia de tudo para te renegar. Se eu te abandonei, é porque eu não queria fazer de sua vida o que a minha mãe fez da minha. Agora você entende?
MARINA         — Isso não justifica.
SOPHIA          — Não justifica para você que não sentiu o que eu senti durante a vida toda. Eu já sofri muito, Marina, e aprendi que tenho que recuperar o pouco que me restou. O pouco, mas significativo. Eu não vou lutar pelo seu perdão, como eu estava determinada antes de voltar ao Brasil. Eu só quero que você me entenda. E também não quero que você se afaste de mim, porque eu já perdi muitas coisas em minha vida.
MARINA fica olhando seriamente para SOPHIA, que devolve o mesmo olhar só que menos carregado de mágoas. O celular de MARINA toca, ela visualiza a tela e desliga.
SOPHIA          — Quem era?
MARINA         — Tayla. Deve estar preocupada.
SOPHIA          — Imagino. Vocês são irmãs, praticamente, não é?
MARINA         — Sim, temos uma relação de irmãs. Eu e ela já nos falávamos a distância, tínhamos os mesmos sonhos e desejos... Eu esperei completar dezoito anos e vim para o Brasil. Aqui, eu e ela abrimos nosso próprio estúdio fotográfico, com a ajuda de Arthur, o marido dela. Eu não queria depender de meu pai.
SOPHIA          — E como está Guilherme?
MARINA         — Meu pai se tornou um homem infeliz, graças a você e sua falta de sentimentos. (Sophia dá um sorriso irônico. Balança a cabeça negativamente. Marina continua) Ele é um homem sofredor hoje em dia. Quando nos falamos pelo telefone ou pela internet, é notável que ele nunca está bem. Isso é só pra você ver o tamanho da dor que você causou a ele.
SOPHIA          — Engraçado!
MARINA         — (indignada) Engraçado? Como assim?
SOPHIA          — O seu pai nunca foi nenhum santo. Era um homem prepotente.
MARINA         — Um homem desiludido.
SOPHIA          — Desiludido é uma palavra que não convém à personalidade do Guilherme. Ele sabia que eu amava Miguel.
MARINA         — (estranha) Miguel?
SOPHIA          — Sim, Miguel. Eu falei sobre Miguel durante todo esse tempo e não citei o nome dele, justamente para que você não ficasse tão surpresa e nosso assunto acabasse sendo interrompido.
MARINA         — De que Miguel está falando?
SOPHIA          — (fita seriamente Marina) O mesmo que é conhecido como um artista internacional, o mesmo com qual você e sua prima fizeram o ensaio fotográfico e, logo em seguida, a exposição... O mesmo por qual você está apaixonada.
MARINA         — Não pode ser verdade. Não pode ser o mesmo Miguel.
MARINA coloca as mãos pelos cabelos e fica totalmente nervosa. Começa a respirar ofegantemente e uma lágrima percorre seu rosto. Está totalmente transtornada.
SOPHIA          — Eu sei que é inacreditável, mas as coisas mais inacreditáveis costumam ser realidade muitas vezes.
MARINA         — Eu e o Miguel...
SOPHIA          — (interfere) Eu sei que você s estão apaixonados, interessados um pelo outro... Tanto faz como tanto fez. Quando eu fiquei sabendo, foi novamente um baque para mim! Eu senti uma dor tão forte, mas eu vejo que não há porque eu sentir isso. Eu e o Miguel sempre nos amamos, nós nunca nos esquecemos.
MARINA         — Como você pode ter certeza disso? Como você sabe que estamos nos envolvendo?
SOPHIA          — Como eu sei é algo que realmente não interessa agora, Marina. E como eu posso ter certeza de que ele ainda me ama? Pergunte a ele.
SOPHIA se levanta, enquanto MARINA já não contém mais as lágrimas.
MARINA         — Foi por isso que meu pai ficou revoltado quando descobriu que meu avô havia patrocinado a carreira de um artista, chamado Miguel e que este mesmo estava fazendo muito sucesso. Por isso o meu pai ficou bravo daquele jeito, como eu nunca tinha visto em minha vida.
SOPHIA          — Exatamente!
SOPHIA aproxima-se da porta. MARIA vira-se para SOPHIA. Balança a cabeça negativamente.
MARINA         — Você vai procurar o Miguel?
SOPHIA          — Pode ficar tranqüila, Marina, eu não vou me intrometer em nada do que vocês estejam vivendo nesse momento. Eu sei que o Miguel me ama. Contudo, ele tem todo o direito de seguir a vida, assim como eu segui a minha.
MARINA         — Eu não estou te entendendo.
SOPHIA          — O que eu quero dizer, Marina, é que se você tiver consciência, você mesma irá acabar com esse relacionamento. Se é que podemos chamar algo que a recém começou de “relacionamento”. Eu já vou embora. Eu confesso que sinto um desejo enorme de te pedir um abraço, mas isso seria um inútil. Inútil neste momento, é óbvio!
SOPHIA destranca a porta e a abre. Deixa a chave na maçaneta e se retira, deixando a porta entreaberta. MARINA acaba caindo aos prantos.
CORTA PARA:

CENA 24. RUA CARIOCA. CARRO DE CECÍLIA. Exterior. Dia.
SOPHIA entra no carro. Parece tensa. Preocupada, CECÍLIA fica fitando SOPHIA.
CECÍLIA         — E então, Sophia?
SOPHIA          — Vamos embora! Quando chegarmos em casa, eu te conto tudo.
CECÍLIA dá partida. SOPHIA encosta sua cabeça na janela e não contém as lágrimas.
CORTA PARA:

CENA 25. ITAPERUNA. STOCK-SHOT. Exterior. Dia.
Damos um giro por toda a cidade de Itaperuna. Valorizar todos os pontos da cidade. Mostrar as belas paisagens da cidade acompanhado por uma música ambiente.
INSERIR LEGENDA: ITAPERUNA.
CORTA DESCONTINUO PARA:

CENA 26. ITAPERUNA. BAR/CASA DE HUGO. EXTERIOR/Interior. FINAL DE TARDE.
LÍVIA e FERNANDO chegam a Itaperuna. FERNANDO para o automóvel. Ele sai do carro e entra em um bar. Pergunta ao atendente do caixa sobre um endereço (o mesmo dado por PAULINA com relação onde HUGO estaria morando). Minutos depois, FERNANDO e LÍVIA já chegam ao endereço. 
FERNANDO   — Será que tem alguém em casa?
LÍVIA              — Eu não estou me sentindo bem.
FERNANDO   — Você tem que ficar calma.
A respiração de LÍVIA fica ofegante. Ela pega um lenço e seca o suor causado pelo nervosismo. FERNANDO dá uma garrafinha de água e ela bebe com as mãos trêmulas.
FERNANDO   — (cont.) Quer um calmante?
LÍVIA              — Você quer que eu durma, Fernando?
FERNANDO   — Assim você não vai conseguir conversar com esse tal de Hugo.
LÍVIA              — Nós ainda nem sabemos se ele continua morando aí.
FERNANDO   — Mas já vamos confirmar.
FERNANDO abre a porta e se retira do automóvel. LÍVIA tenta impedi-lo, mas é em vão.
LÍVIA              — Fernando, Fernando... Volte aqui!
FERNANDO vê uma mulher recolhendo algumas roupas no pátio vizinho.
FERNANDO   — Senhora... Senhora...
A mulher olha para FERNANDO. Estranha a sua presença.
CIDA               — Sim?
FERNANDO   — Nessa casa ainda mora o Hugo?
CIDA               — Sim, senhor.
FERNANDO   — Sabe se ele se encontra nesse momento?
CIDA               — Ele já deve estar soltando do trabalho.
FERNANDO   — Muito obrigado!
CIDA               — De nada.
FERNANDO volta para o carro. Entra. LÍVIA o encara.
LÍVIA              — E então?
FERNANDO   — Ele já deve estar soltando do trabalho. Só nos resta esperar. Está mais calma?
LÍVIA              — Sim.
FERNANDO   — Então, esperemos.
LÍVIA solta um ar com nervosismo.

3º INTERVALO COMERCIAL

CENA 27. ITAPERUNA. FRENTE DA CASA DE HUGO/CARRO DE FERNANDO. Interior/EXTERIOR. Dia.
Continuação imediata da cena. LÍVIA e FERNANDO continuam na frente da casa de HUGO. Já se passa uma hora em que estão esperando o homem chegar do trabalho.
LÍVIA              — Ele não vai aparecer.
FERNANDO   — Fique calma! Ele irá aparecer. Talvez tenha ido a algum lugar, afinal nunca se sabe.
LÍVIA              — Você tem razão... É que estou muito nervosa.
FERNANDO   — Eu já disse que você tem que se acalmar... Quando ele chegar, você terá que se manter tranqüila. Não podemos jogar as coisas assim, repentinamente.
LÍVIA              — Realmente, eu não sei o que seria de mim sem você, Fernando.
FERNANDO olha afetuosamente para LÍVIA.
FERNANDO   — Capaz, Lívia. Eu apenas estou te ajudando em algo que achei importante “meter a mão”, digamos assim. Quero muito que você reencontre seu filho. Quando isso ocorrer finalmente, sentirei a sensação de “missão cumprida” que deve ser uma das melhores sensações que um ser humano possa sentir após ir atrás de algo e lutar por isso.
LÍVIA coloca sua mão sobre a de FERNANDO.
LÍVIA              — Obrigada, Fernando! Só de você estar aqui, comigo, já é algo que irei lhe dever para o resto de minha vida.
FERNANDO e LÍVIA ficam se olhando. Uma sensação estranha invade LÍVIA e ela sente seu coração bater mais forte. FERNANDO aproxima seu rosto do dela. Faz menção de beijá-la, mas o clima é quebrado.
LÍVIA              — (assustada) Deve ser ele.
FERNANDO olha e vê HUGO abrir o portão de casa.
FERNANDO   — Deve ser ele mesmo... Disfarce... Ele está olhando para nós, deve estar desconfiado certamente.
Pela visão de LÍVIA e FERNANDO vemos que HUGO entra no pátio. Novamente olha para o automóvel. Parece estar desconfiado. Coloca um cadeado no portão. Retira-se. Abre a porta da casa. Entra.
LÍVIA              — O que nós fazemos agora?
FERNANDO   — Esperamos mais um pouco.
LÍVIA              — Está bem.
LÍVIA e FERNANDO continuam olhando para a casa de HUGO.
CORTA PARA:

CENA 28. RIO DE JANEIRO. PLANOS GERAIS. Exterior. Dia/NOITE.
Planos gerais do Rio de Janeiro são mostrados em ritmo frenético, acompanhados por uma música ambiente, até chegarmos à frente ao condomínio onde MARINA mora.
Inserir Legenda: Rio de Janeiro.
CORTA PARA:

CENA 29. AP DE MARINA. SALA. Interior. Dia/NOITE.
TAYLA serve uma xícara com chá. Fita MARINA.
TAYLA           — Você está me dizendo que Sophia e Miguel viveram um romance quando mais jovens?
MARINA         — Eles se conhecem desde criança, na verdade... Ele era filho de um casal de criados que trabalhava na fazenda do avô dela em... Me esqueci o nome da cidade, só sei que se situa no interior do Paraná.
TAYLA           — Mas isso é inacreditável... Você está envolvida com o homem que sua mãe mais amou em toda a vida. É simplesmente chocante o modo como o destino costura as linhas e os caminhos que a vida percorre.
MARINA         — Eu também fiquei chocada.
TAYLA           — Nem sei o que te dizer, Marina. Eu não consigo me pôr no seu lugar, mas eu imagino o quanto deve estar difícil. Você está mesmo gostando do Miguel ou é apenas uma atração?
MARINA         — Eu estou apaixonada pelo Miguel, Tayla.
TAYLA           — Apaixonada?
MARINA         — Sim.
TAYLA           — Mas vocês não poderão ter um caso.
MARINA         — Por que não?
TAYLA           — Marina, ele é o homem da vida de sua mãe... Como você mesma acabou de me falar, Sophia relatou esse amor como um sentimento que nasceu durante a infância e cresceu com o passar do tempo.
MARINA         — Acontece que ele não estão mais juntos há um bom tempo.
TAYLA           — E por que eles viriam a se reencontrar agora se esse amor não fosse verdadeiro? Você tem que contar a verdade para o Miguel, antes que a Sophia faça isso.
MARINA         — Ela não irá fazer isso.
TAYLA           — Porque ela respeita qualquer coisa que vocês estejam tendo... Você já parou pra pensar na dor que ela deve ter sentido ao descobrir que Miguel está se envolvendo logo com você, que é a filha dela?
MARINA         — Não tivemos culpa de nada.
TAYLA           — Eu sei disso, Marina. Pelo que você me contou, você e Miguel a recém estão começando um envolvimento... Acabe com isso e vá seguir sua vida.
MARINA         — (fita Tayla seriamente) Eu não vou fazer isso.
TAYLA           — O quê? Você não pode estar falando sério.
MARINA         — Eu não vou entregar as coisas assim, tão facilmente.
TAYLA           — Juro que não estou te entendendo.
MARINA         — Muito simples, Tayla: não vou deixar que ela saia ilesa, sem pagar por todos esses anos em que sumiu pelo mundo sem me dar notícias, sem mandar nenhuma carta ou fazer uma ligação perguntando como eu estava.
TAYLA           — Acontece que ela já se arrependeu.
MARINA         — Se arrepender é pouco. Eu quero que ela sofra.
TAYLA           — Mais do que ela já sofreu? Marina, você não está bem, eu não estou te reconhecendo.
MARINA         — Ela acha que vou falar a verdade para Miguel e tudo estará acabado entre eu e ele, enquanto o caminho fica livre para ela, para que eles vivam felizes para sempre. Ela está muito enganada. Eu vou ser como uma pedra no caminho dela e ela não poderá fazer exatamente nada.
TAYLA balança a cabeça negativamente. Fica indignada.
TAYLA           — Marina, não é preciso alimentar todo esse rancor, todo esse ressentimento. Olhe pelo lado positivo: a sua mãe está de volta e veio pelo seu perdão. É tempo de vocês duas recuperarem juntas, o tempo que ficou para trás.
MARINA         — Nada do que você me diga, Tayla, irá mudar a minha forma de pensar.
TAYLA           — Só estou tentando abrir seus olhos... Você está errada e não está enxergando.
MARINA         — Ela é quem está errada de pensar que vou desistir de Miguel... Você tinha que ver o modo como ela falou, querendo dizer que ela não precisa falar nada a Miguel, pois se eu tivesse consciência eu mesma iria acabar meu envolvimento com ele... E, além disso, esfregou na minha cara que ele sempre a amou. Ela está muito enganada! Ela não me conhece e nem sabe do que sou capaz.
TAYLA           — É... Realmente não estou te reconhecendo. Só espero, Marina, que você não cometa nenhum erro para que não ocorra o caso de se arrepender.
TAYLA caminha em direção à porta.
MARINA         — Você não vai ficar para jantar comigo?
TAYLA           — Não... Boa noite!
TAYLA abre a porta. Retira-se. MARINA a observa.
CORTA PARA:

CENA 30. MANSÃO VILLARY. QUARTO/ESCADARIA. Interior. Noite.
AUGUSTO chega em casa. Dirige-se ao quarto. Tira a gravata e o terno. Procura por LÍVIA.
AUGUSTO      — Lívia! (espera uma resposta) Lívia!
Não tem nenhuma resposta. Retira-se do quarto. CORTA IMEDIATO PARA: ESCADARIA. AUGUSTO desce. Depara-se com EULÁLIA.
AUGUSTO      — Onde está Lívia?
EULÁLIA        — (mente) Dona Lívia foi para a casa de praia em Paraty.
AUGUSTO parece ter ficado transtornado, mas disfarça.
AUGUSTO      — Ela pegou a estrada a essa hora?
EULÁLIA        — Não, senhor, ela saiu ao meio-dia.
AUGUSTO      — Ok!
AUGUSTO sobe a escadaria. Volta ao seu quarto. Entra. Pega o seu celular. Disca um número.
AUGUSTO      — (ao celular) Olá, Narciso! Sim, tudo ótimo. Quero saber se minha esposa chegou bem aí... Ah, sim. É... Eu não estava conseguindo entrar em contato diretamente com ela. Acredito que o celular dela esteja descarregado... Ela está acompanhada por... Alguma amiga? Ah, sim. Depois, então, eu tento ligar para ela novamente... Muito obrigado, Narciso! Mande um abraço para Celinha... Boa noite!
AUGUSTO desliga o celular. Fica pensativo. Com uma expressão triste, ele senta-se na cama e depois atira-se. Fica deitado.
CORTA PARA:

CENA 31. ITAPERUNA. IMAGENS AÉREAS. Exterior. Noite.
Câmera percorre toda a região vista de cima.
Inserir Legenda: Itaperuna.

CENA 32. ITAPERUNA. FRENTE DA CASA DE HUGO/CARRO DE FERNANDO. Interior/EXTERIOR. Noite.
LÍVIA e FERNANDO continuam no carro. Observam um pouco mais.
FERNANDO   — Está preparada?
LÍVIA              — Sim, estou.
FERNANDO abre a porta. Retira-se. Faz a volta. Abre a porta para LÍVIA. A mulher retira-se do carro. Fica olhando para a casa de HUGO. Ela vira-se para FERNANDO e ele toca o rosto dela.
FERNANDO   — Vai dar tudo certo, acredite.
LÍVIA balança a cabeça positivamente. Dá um leve sorriso.
CORTA PARA:

CENA 33. CASA DE HUGO. SALA. Interior. Noite.
HUGO está sentado no sofá da sala. Assiste televisão. Agora ouvimos umas palmas. HUGO levanta-se. Caminha até a porta. Olha pelo vitral. Estranha a presença do casal ali.
JÁ CORTOU PARA:

CENA 34. RUA DE ITAPERUNA. FRENTE DA CASA DE HUGO. Exterior. Noite.
FERNANDO continua a bater palmas. LÍVIA tenta conter seu nervosismo. De repente HUGO aparece.
HUGO             — Quem são vocês?
LÍVIA encara HUGO seriamente. FERNANDO a olha e depois volta a olhar para HUGO.
CORTA PARA:

4º INTERVALO COMERCIAL

CENA 35. STOCK-SHOTS. ambiente. Exterior. Noite.
Damos um giro em toda a cidade carioca à noite, em ritmo frenético, acompanhados por uma música descontraída. Mostramos vários pontos do Rio de Janeiro, até chegarmos em bar da Zona Sul.
Inserir Legenda: Rio de Janeiro.
CORTA PARA:

CENA 36. BAIRRO DO BOTAFOGO. BAR COLARINHO. Interior. Noite.
RICARDO está reunido com dois de seus colegas e ANGELINA. Estão descontraídos. A conversa está animada.
MAURO          — Não bebe, Ricardo?
RICARDO       — Não bebo em dias de semana. E também não sou muito de cerveja.
MAURO          — Pois fique sabendo, meu caro, que cerveja é vida em qualquer momento.
CÍNTIA           — Cuidado para não virar um alcoólatra.
ANGELINA dá um gole em seu suco. Parece ter ficado estranha. RICARDO percebe e CÍNTIA também.
CÍNTIA           — (cont.) Acho que falei algo que...
ANGELINA    — Não, você não falou nada de mais, Cíntia... Sabe aquele momento em que certas lembranças se passam pela mente?
CÍNTIA           — Sim, sei... Você devia gostar muito, não é?
ANGELINA    — Sim, eu havia descoberto que gostava muito dele... Muito mesmo.
RICARDO desvia o olhar, parece ter ficado tenso.
RICARDO       — Bom, eu... Eu já vou embora.
MAURO          — Já? Mas ainda temos uma balada para ir.
CÍNTIA           — Que balada, Mauro? Esqueceu que hoje é dia de semana? Só quem não tem o que fazer da vida para ir se enfiar em balada fora do final de semana.
MAURO          — Amanhã, pegamos mais tarde no escritório.
RICARDO       — Em outros tempos, eu topava.
MAURO          — (fita seriamente Ricardo) E por que não pode topar agora? (para Angelina) Angelina, diga alguma coisa... Diga que aceita.
ANGELINA    — Desde que não fiquemos até tarde... Mas só aceito pra você parar de ficar enchendo o saco.
CÍNTIA           — (comenta) É sempre assim: o Mauro bebe, nem que seja apenas dói copos de cerveja e já fica chato!
MAURO          — (agarra Cíntia) Mais eu sei que você gosta.
ANGELINA    — (levanta-se) Vamos!
Os demais levantam-se também.
CORTA PARA:

CENA 38. AP DOS VIDAL FERRAZ. BANHEIRO/QUARTO DE HÓSPEDES. Interior. Noite.
SOPHIA toma um banho. Ela agacha-se no chão. Deixa a água cair sobre seu corpo, sem se mover e nem levantar a cabeça. Ao sair, CECÍLIA a ajuda a se secar. Fica a olhando.
CECÍLIA         — E então?
SOPHIA veste um roupão. Senta-se na cama.
SOPHIA          — Contei tudo para Marina... Falei sobre a minha infância, sobre os momentos conturbados... Eu falei sobre a minha vida em geral.
CECÍLIA         — E ela?
SOPHIA          — No início, ela não conseguiu acreditar... Contudo, eu creio que ela não aceite que, por mais que ela tenha sido abandonada por mim, eu sofri muito mais do que ela. Enquanto ela cresceu desejando ter uma mãe, eu cresci desejando me livrar da minha... Ela pode ter sofrido, mas ela tinha o pai dela. O meu pai morreu... E partiu de forma trágica. Depois, eu acabei perdendo meu avô e, em seguida, o Leonardo... Eu sei que errei em ter abandonado minha própria filha e que não mereço ser chamada de “mãe”, mas a Marina não sentiu nem a metade do que eu já senti. Ela não teve que encarar a morte como eu encarei três vezes e de forma consecutiva, sem um espaço de tempo necessário para que as coisas pudessem ocorrer. Ela não teve que ser maltratada fisicamente e nem verbalmente, e nem teve que ver sua própria mãe se prostituindo e levando um homem diferente a cada noite para o apartamento com ela junto.
CECÍLIA         — (com os olhos marejados) Sophia, você... Você nunca me falou isso.
SOPHIA          — Porque eu tinha vergonha... Vergonha de dizer que minha própria mãe se prostituía.
CECÍLIA         — (enxuga a lágrima que percorre seu rosto) Meu Deus! Eu estou chocada.
SOPHIA          — Mas eu não quero mais falar sobre isso hoje, Cecília... Quero dormir um pouco.
CECÍLIA         — Sim... Vou apenas lhe fazer uma pergunta.
SOPHIA          — Já sei o que é.
CECÍLIA         — E como ficou essa situação em relação ao Miguel?
SOPHIA          — Ele não sabe que ela é minha filha, mas ela já sabe que nós temos uma história de amor, porque eu contei a ela e deixei bem claro que não vou interferir nesse envolvimento deles. Como falei para Marina, se ela tiver consciência, ela mesma irá falar a verdade para ele e colocará um ponto final nesse envolvimento.
CECÍLIA         — Se ela contar a verdade, ele virá te procurar.
SOPHIA          — Assim espero.
SOPHIA fica pensativa. CECÍLIA a observa.
CORTA PARA:

CENA 39. ITAPERUNA. STOCK-SHOTS. Exterior. Noite.
Inserir Legenda: Itaperuna.
CORTA PARA:

CENA 40. CASA DE HUGO. SALA. Interior. Noite.
FERNANDO e LÍVIA estão sentados no sofá. HUGO senta-se à frente deles. Fica os encarando.
HUGO             — E então?
LÍVIA              — Hugo, meu nome é Lívia Villary.
HUGO             — Já ouvi falar nesse sobrenome.
LÍVIA              — Porque o Genésio, seu amigo, trabalhou como motorista para meu marido... Isso já faz um bom tempo.
HUGO             — E o que trouxe a senhora até aqui? Até onde eu sei, não nos conhecemos. E se nos conhecemos, não estou lembrado. E o que Genésio tem a ver com isso?
LÍVIA              — O Genésio não tem nada a ver com isso, eu espero... Mas a sua ex-esposa tem.
HUGO fica extremamente abalado.
HUGO             — Vão embora!
FERNANDO   — (estranhando) O que é isso, cara?
HUGO             — Eu não tenho nada a ver com assuntos que envolvam aquela mulher.
LÍVIA              — Ela seqüestrou o meu filho.
HUGO             — Eu não sei do que a senhora está falando.
LÍVIA              — Ela foi trabalhar em minha casa como babá, conquistou a minha confiança e de meu marido e acabou tirando o meu filho de meus braços.
HUGO             — A Ruth e eu já estávamos separados há um bom tempo. Eu não tenho nada a ver com isso.
LÍVIA              — Então por que pediu a Genésio que ele jamais revelasse seu paradeiro para ninguém?
HUGO             — Porque eu não queria me envolver em confusão... E também já se passaram tantos anos... Por que está mexendo nessa história?
LÍVIA              — Porque eu acabei de perder o meu filho mais novo, no caso, o meu segundo filho... E também porque eu precisava fazer o que a polícia não fez há anos atrás, quando as buscas pelo meu filho ainda estavam abertas e o caso não tinha sido encerrado... Todos esses anos, eu passei com um vazio por dentro, com uma dor inexplicável, mas que eu fazia questão de disfarçar porque só uma mãe sabe o que é perder um ser que ela gerou, um ser que ela deu a luz.
HUGO             — Se quer reencontrar seu filho, bateu na porta errada! Eu não sei para onde Ruth foi com seu filho e nem quero saber.
LÍVIA não contém as lágrimas. FERNANDO se irrita e encara HUGO.
FERNANDO   — Você não sabe o que ela está sentindo, então meça as suas palavras e trate de falar a verdade.
HUGO             — Que verdade? Eu já disse que não tenho nada a ver com isso. Eu me separei de Ruth naquela época, porque eu já não agüentava mais a paranóia dela em ter filhos... Nós vivíamos tentando e ela sempre acabava sofrendo um aborto. Nosso casamento ficou desgastado, vivíamos brigando e eu não agüentei mais. Fiz minhas trouxas e vim pra cá... Depois de alguns dias, eu fiquei sabendo do seqüestro e entrei em contato com o Genésio, pedindo para que ele não informasse meu endereço a ninguém. Eu não queria me envolver com a polícia, eu não queria acabar virando suspeito de seqüestro por causa daquela maluca... Se eu ainda tivesse no Rio de Janeiro, eu poderia até mesmo acabar pagando por um crime que não cometi... E sabe como é, né? A corda sempre arrebenta no lado mais fraco e, nesse país, a cadeia foi feita pra gente pobre, que não tem onde cair morta.
LÍVIA              — Ruth não tentou entrar em contato? Você não sabe de nada, nem mesmo de onde ela possa ter ido?
HUGO             — A família dela é de Goiânia, eu só sei disso. A casa que nós morávamos no Rio, era de uma tia dela. Ela foi morar no Rio com essa tia e acabamos nos conhecendo. Nos apaixonamos e não demorou muito pra sair o casamento... Jamais imaginei que aquela moça meiga, prendada e bonitinha fosse acabar transformando a minha vida em um martírio e, ainda por cima, fosse acabar seqüestrando um bebê.
FERNANDO   — Você mora sozinho?
HUGO             — Sim. Sou um homem solteiro.
FERNANDO   — (olha ao redor) Ah...
FERNANDO e LÍVIA se retiram. HUGO fecha a porta e passa as mãos pelos cabelos. Está nervoso. Volta à sala. Olha para uma porta. Fica fixando como se lembrasse de algo. Sente um arrepio. Começa a chorar.
CORTA DESCONTINUO PARA:

CENA 41. FRENTE DA CASA DE HUGO. CARRO DE FERNANDO. Interior/EXTERIOR. Noite.
LÍVIA já está no carro. FERNANDO entra. Fecha a porta.
LÍVIA              — Tem alguma coisa errada, Fernando.
FERNANDO   — Também acho.
LÍVIA              — Ele não falou toda a verdade, eu pude sentir isso.
FERNANDO   — Amanhã, podemos voltar aqui e colocá-lo de vez contra a parede.
LÍVIA              — Teremos que fazer isso. Nem que precisamos usar medidas drásticas.
FERNANDO   — Sim. Concordo.
LÍVIA              — Temos que ver algum hotel ou alguma pousada para ficarmos a noite.
FERNANDO   — Duvido muito que encontremos algum hotel aqui.
LÍVIA              — Nem que seja algo simples, mas acredito que vamos encontrar, sim.
FERNANDO coloca o cinto de segurança. LÍVIA faz o mesmo. Ele dá a partida.
CORTA PARA:

CENA 42. TAKES DO RIO DE JANEIRO. ambiente. Exterior. Noite.
Inserir Legenda: Rio de Janeiro
CORTA PARA:

CENA 43. MANSÃO VILLARY. SALA. Interior. Noite.
Vemos AUGUSTO sentado no sofá. Olha televisão em meio a escuridão. Bebe uísque. Está com os olhos marejados. Parece ter chorado.
CORTA PARA:

5º INTERVALO COMERCIAL

CENA 44. SHOOTERS COCKTAILS BAR. ambiente. Interior. Noite.
RICARDO, ANGELINA, MAURO e CÍNTIA chegam à balada. O local está pouco movimentado, mas a diversão acontece.
PATRÍCIA      — Se esqueceu dos amigos, Ricardo?
RICARDO reconhece a voz. Vira-se. Depara-se com PATRÍCIA.
RICARDO       — Patrícia, o que está fazendo aqui?
PATRÍCIA      — Estou aproveitando o final das férias o máximo que eu posso... E você? Não devia estar em casa após o dia de trabalho?
RICARDO       — Vim porque meu colega insistiu, mas não vou ficar muito.
ANGELINA aproxima-se. PATRÍCIA a olha da cabeça aos pés.
RICARDO       — (cont.) Patrícia, essa é a Angelina, minha colega... E, Angelina, essa é a Patrícia, minha amiga.
ANGELINA    — (sorri) Prazer, Patrícia!
ANGELINA vai cumprimentar PATRÍCIA com dois beijinhos no rosto. PATRÍCIA desvia.
PATRÍCIA      — Eu vou pegar bebida.
PATRÍCIA retira-se. ANGELINA acha estranho, mas fica quieta.
RICARDO       — (sorri) Não dê bola, Angelina, ela é assim mesmo.
PATRÍCIA bebe um coquetel. Fica a observar RICARDO e ANGELINA, que estão conversando. MAURO puxa RICARDO.
MAURO          — Vem cá que eu vou te mostrar uma coisa.
MAURO leva RICARDO pelo braço. PATRÍCIA vai em direção a ANGELINA. Esbarra nela de propósito. Vira seu coquetel na camiseta de ANGELINA.
PATRÍCIA      — Me desculpe! Me desculpe mesmo! Esbarrei em você sem querer.
ANGELINA    — Sem problema... Não foi nada... Eu só preciso tentar limpar isso.
PATRÍCIA      — Quer que eu te acompanhe até o banheiro? Eu posso te ajudar.
ANGELINA    — Não, muito obrigada!
ANGELINA retira-se. PATRÍCIA dá um sorriso malicioso.
CORTA PARA:

CENA 45. SHOOTERS COCKTAIL BAR. BANHEIRO. Interior. Noite.
ANGELINA tenta limpar sua camiseta molhando a mancha que se formara com um pouco d’água. Ela desiste e entra em um dos sanitários. PATRÍCIA aparece. Vê que a porta do sanitário onde ANGELINA está, tem a maçaneta quase caindo. PATRÍCIA aproxima-se devagar e fica de lado para que ANGELINA não veja seus pés. Ela arranca a maçaneta da porta e joga longe. ANGELINA acaba se assustando. Ela tenta abrir a porta, mas não consegue. Fica desesperada e grita por ajuda, mas ninguém responde. PATRÍCIA retira-se. Dá uma risada. RICARDO se aproxima.
RICARDO       — Patrícia, você viu a Angelina?
PATRÍCIA      — A vi indo embora.
RICARDO       — Que estranho! Ela nem me avisou nada... Deve ter acontecido algo.
PATRÍCIA      — Pois é... Eu já tenho que ir, Ricardo.
RICARDO       — Então vamos juntos... Eu te levo até em casa.
PATRÍCIA      — Obrigada!
PATRÍCIA e RICARDO retiram-se.
CORTA PARA:
CENA 19. SHOOTERS COCKTAIL BAR. BANHEIRO. Interior. Noite.
ANGELINA tenta ligar para RICARDO, mas seu celular está sem bateria.
ANGELINA    — Que droga! Ninguém aparece,
CÍNTIA entra no banheiro.
ANGELINA    — (cont.) Alguém aí?
CÍNTIA           — Angelina?
ANGELINA    — Cíntia, eu estou trancada aqui dentro.
CÍNTIA           — Meu Deus! O pior é que não tem como abrir.
ANGELINA    — Pega a maçaneta que está aí embaixo.
CÍNTIA           — Eu não estou vendo maçaneta nenhuma.
ANGELINA    — Como não?
CÍNTIA           — Eu vou chamar o Mauro. Espere aí!
CÍNTIA retira-se. Alguns minutos depois. Vemos MAURO tentando forçar a porta. Tem uma ideia.
MAURO          — Se afaste, Angelina!
ANGELINA fica encolhida no canto. MAURO arromba a porta. ANGELINA sai. Abraça CÍNTIA.
CÍNTIA           — Você está bem?
ANGELINA    — Eu tenho pavor de ficar trancada em qualquer lugar. Eu já estava ficando desesperada... A maçaneta caiu e eu fiquei trancada.
MAURO          — (junta a maçaneta; aproxima-se de Angelina e Cíntia) Se a maçaneta tivesse caído, ela estaria perto da porta e não aqui.
ANGELINA    — Mas como isso aconteceu?
MAURO          — A maçaneta já devia estar caindo... Alguém com a intenção de fazer maldade só arrancou da porta e jogou longe.
ANGELINA    — Mas quem faria isso comigo?
MAURO          — Alguma palhaça, certamente... Um homem não iria entrar em um banheiro feminino para fazer uma brincadeirinha de mal gosto.
CÍNTIA           — Vamos embora!
Eles retiram-se.
CORTA PARA:

CENA 46. LEBLON. FRENTE DO CONDOMÍNIO ONDE MORAM OS VIDAL FERRAZ. Exterior. Noite.
RICARDO encosta seu carro em frente ao prédio onde PATRÍCIA mora. Ele tenta ligar para ANGELINA, mas a ligação acaba caindo na caixa postal.
RICARDO       — (preocupado) Ela não atende... Estou ficando preocupado.
PATRÍCIA      — Não deve ter acontecido nada e você está se preocupando à toa.
RICARDO       — Não sei se realmente não aconteceu nada.
PATRÍCIA      — Ela é alguma coisa sua além de ser sua colega de trabalho?
RICARDO       — Não.
PATRÍCIA      — Pois então...
RICARDO       — Patrícia, eu tenho o direito de me preocupar com quem eu quiser.
PATRÍCIA      — Vamos subir?
RICARDO       — Pra quê?
PATRÍCIA      — Meus pais já devem estar dormindo e meu irmão nem sei se está em casa.
RICARDO       — E o que tem isso?
PATRÍCIA      — Podemos subir e entrar sem fazer barulho, aí você vai embora antes do amanhecer... Se meu pai me pega com um homem dentro de casa, acho que ele mata e me mata junto!
RICARDO       — Patrícia, não seja impertinente! Eu não vou estragar a nossa amizade.
PATRÍCIA      — Estragar a nossa amizade? Eu já ouvi falar que uma amizade pode ficar melhor ainda depois que certas coisas ocorrem.
PATRÍCIA passa a mão na perna de RICARDO.
RICARDO       — Tire a mão de minha perna.
PATRÍCIA      — Qual é o teu problema, Ricardo?
RICARDO       — O problema é que eu não vou para a cama com você... Já vou ser bem curto e direto.
PATRÍCIA      — (triste) Você sabe que eu não quero apenas isso.
RICARDO       — Patrícia, você tem que entender que somos apenas amigos e que não pretendo elevar isso para algo mais íntimo.
PATRÍCIA      — Você está gostando de alguém, não é? É da sua coleguinha, a Angelina? Nome de menina meiga.
RICARDO       — Não é a Angelina, mas poderia ser... Agora eu tenho que ir para casa, já é tarde demais e amanhã recomeça tudo de novo.
Revoltada, PATRÍCIA retira-se do carro. Deixa a porta aberta. RICARDO fecha e balança a cabeça negativamente.
CORTA PARA:

CENA 47. AP DOS FONTINELLY VILLARY. COZINHA/QUARTO DO CASAL. Interior. Noite.
TAYLA toma um copo d’água. Pensa no que SÉRGIO lhe falara. Sorri. Volta ao QUARTO DO CASAL.INTERIOR.NOITE. Vê que ARTHUR já está dormindo por cima da coberta. Revira o olhar. Sobe na cama. Cutuca o marido.
TAYLA           — Arthur! Arthur!
ARTHUR acorda.
ARTHUR        — O que você quer Tayla?
TAYLA           — Se ajeita nessa cama.
ARTHUR se ajeita. Cobre-se.
ARTHUR        — Eu estou morto de cansado... Não me chame mais.
ARTHUR vira-se para o lado. TAYLA revira o olhar novamente. Vira para o lado. Agarra seu travesseiro. Volta a pensar em SÉRGIO.
CORTA PARA:

CENA 48A. RIO DE JANEIRO. STOCK SCHOTS.
Amanhece.

CENA 48B. MANSÃO VILLARY. SALA DE JANTAR. Interior. Dia.
AUGUSTO toma o café da manhã sozinho. EULÁLIA aparece.
AUGUSTO      — Você sabe quando Lívia volta?
EULÁLIA        — Ela não falou nada, doutor Augusto.
AUGUSTO      — Hum...
AUGUSTO dá um suspiro. EULÁLIA percebe que ele não está bem. Fica o observando por alguns instantes.
CORTA PARA:

6º INTERVALO COMERCIAL

CENA 49. ITAPERUNA. POUSADA/QUARTO DE LÍVIA E FERNANDO. Interior. Dia.
LÍVIA acorda. Olha para a cama ao lado. Vê que FERNANDO ainda está dormindo. Fica o observando por alguns segundos. Sorri. Fica pensativa.
CORTA IMEDIATO PARA:

CENA 50. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ambiente. Interior. Dia.
MARINA fotografa uma jovem modelo.
MARINA         — Pronto. Você é uma negra muito bonita e tem altura... Com certeza vai passar no teste final.
MODELO        — Muito obrigada!
MARINA dá um sorriso. A modelo retira-se. Alguém tapa os olhos de MARINA. Ela se vira. Se depara com MIGUEL.
MARINA         — Miguel.
MIGUEL         — Feliz em me ver novamente?
MARINA         — Sim... Muito.
MIGUEL         — Não parece... Aconteceu alguma coisa?
MARINA         — Aconteceu.
MIGUEL         — O quê?
MARINA         — Miguel, posso te fazer uma pergunta?
MIGUEL         — Pode.
MARINA         — Você gosta mesmo de mim?
MIGUEL         — Que pergunta é essa, Marina? Eu já disse que estou apaixonado por você.
MARINA         — Você ficaria comigo se acontecesse qualquer coisa?
MIGUEL         — O que poderia acontecer, Marina?
MARINA         — É que eu quero muito ficar com você e... Tenho receio.
MIGUEL         — Receio do quê?
MARINA         — De que acabe me apaixonando pra valer e você não corresponda como eu posso acabar esperando.
MIGUEL         — Vamos viver esse momento, Marina. Não precisa temer nada, eu só quero que você se entregue totalmente sem ter receio de nada.
MIGUEL beija MARINA e ela corresponde o beijando. TAYLA aparece. Balança a cabeça negativamente. Retira-se.
CORTA DESCONTÍNUO PARA:

CENA 51. ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. ESCRITÓRIO. Interior. Dia.
MARINA entra no escritório. TAYLA a fita seriamente.
TAYLA           — Você gosta mesmo do Miguel, Marina?
MARINA         — Eu já não sei mais, Tayla... Só sei que preciso mantê-lo em minhas mãos.
TAYLA           — Você irá continuar com ele para atingir sua mãe, é isso?
ARIEL aparece nesse momento. TAYLA olha para ele. MARINA vira-se. Fica surpresa ao ver ARIEL, que fica a olhando com um sorriso.
ARIEL             — Olá para as duas... Podemos conversar Marina?
MARINA continua o fitando.
CORTA PARA:

CENA 52. ITAPERUNA. FRENTE DA CASA DE HUGO. Exterior. Dia.
HUGO está saindo de casa. FERNANDO aparece acompanhado por LÍVIA.
HUGO             — Vocês, de novo?
FERNANDO   — (ordena) Entre!
HUGO             — O que você está pensando?
FERNANDO   — Entre... Ou será pior pra você!
JÁ CORTOU PARA:

CENA 53. CASA DE HUGO. SALA. Interior. Dia.
HUGO entra em casa. FERNANDO avança em cima de HUGO. O pega pelo pescoço e o prensa contra a parede.
FERNANDO   — Agora você irá falar a verdade.
HUGO             — (quase sem ar) Eu já contei tudo.
FERNANDO   — Mentira! É melhor você começar a abrir a boca. (Lívia está tensa. Puxa Fernando) Fale!
HUGO             — (ofegante) Está bem... Eu vou falar tudo.
FERNANDO e LÍVIA sentam-se. HUGO senta-se também. Recompõe-se. FERNANDO e LÍVIA olham para HUGO. Esperam ele começar a falar.
CORTA PARA:

CENA 54. SALÃO COM A EXPOSIÇÃO DAS OBRAS DE MIGUEL. ambiente. Interior. Dia.
SOPHIA chega ao salão onde as obras de MIGUEL ainda estão expostas. Ela vai até o corredor onde aparecem as obras da coletânea “A Alma de Sophia”. SOPHIA emociona-se. Toca o telão, quando aparece uma imagem que supostamente é uma releitura do desenho que MIGUEL lhe dera ainda quando criança. Ela lembra-se daquele dia, na fazenda. Volta a si. Percebe alguém atrás dela. SOPHIA vira-se. Depara-se com MIGUEL que a olha fixamente. Parece estar emocionado.
MIGUEL         — Sophia!
SOPHIA coloca seu óculos. Retira-se. MIGUEL a pega pelo braço.
MIGUEL         — (cont.) É você, Sophia.
SOPHIA          — Me solte!
MIGUEL não contém o nervosismo. Chora.
SOPHIA          — (cont.) Me solte, seu maluco!
MIGUEL         — Sophia, você voltou.
SOPHIA          — (grita) Por favor, alguém me ajude?
MIGUEL cai de joelhos em meio aos prantos. SOPHIA o olha emocionada. Congela em SOPHIA.

FIM DO CAPÍTULO 35.

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