JÚLIO NARRANDO:
Estou vendo nos olhos de Bruna que ela realmente está
falando sério! Ela realmente quer se vingar. Eu não imagino qual seja a dor de
perder um filho, ainda mais de uma forma tão trágica como foi a de Rodrigo. Então,
de certa forma eu compreendia esse sentimento de vingança que ela estava
cultivando. Mesmo assim, apesar da vingança passar uma sensação boa, em seguida
ela só deixa um profundo vazio no peito.
Então eu não podia deixar que Bruna estragasse a vida dela,
fazendo uma besteira que ela fosse se arrepender daqui um tempo. Samuel merece
sim uma lição, mas isso quem deve dá é a justiça, assim que o encontrar.
[CENA 01 – CASA DE RODRIGO/ SALA/ NOITE]
(Júlio continua olhando para Bruna, surpreso)
JÚLIO – Você está brincando, não está?
BRUNA – Não estou, Júlio. Esse desgraçado matou o meu
filho. Ele merece pagar com a mesma moeda. (levanta do sofá) Ele merece sofrer
da mesma maneira que meu Rodrigo sofreu.
JÚLIO – (levanta, se aproxima dela) Bruna, me escuta,
por favor... você está com raiva, eu sei. Eu também estou e também quero que o
Samuel pague. Mas dessa forma não irá acabar com esse sentimento em seu peito.
BRUNA – Pode não acabar, mas irá amenizar. Você não
sabe a dor que eu estou sentindo, Júlio?!
JÚLIO – É, eu realmente não sei qual é essa sensação.
Mesmo assim, eu não vou deixar que você estrague sua vida por causa desse cara.
E eu tenho certeza que o Rodrigo não gostaria que fizesse isso.
BRUNA – (chorando) É o meu filho, Júlio! (Júlio a
abraça) Eu preciso vingar a morte dele. É o único jeito do meu filho descansar
em paz. (o abraça mais forte, Júlio apenas a consola)
Amanhecendo...
[CENA 01 – CASA DE RODRIGO/ COZINHA/ DIA]
(Júlio está terminando de arrumar a mesa para o café da
manhã. No momento em que coloca a garrafa de café em cima, Bruna entra na
cozinha)
JÚLIO – Bom dia! Fui até a padaria ao lado e comprei
alguns pães. Estão quentinhos, recomendo comer agora.
BRUNA – Você dormiu aqui?
JÚLIO – Dormi. Mas, fiquei no sofá. Não podia deixar
você sozinha no estado que estava ontem.
BRUNA – (sentando-se) Falei muitas besteiras ontem?
JÚLIO – Para mim não pareceu besteiras. (senta-se
também) Parecia que você estava falando bem séria.
BRUNA – Eu estava com raiva ontem, Júlio. A minha
única vontade era encontrar o Samuel e acabar com a vida dele, só que hoje eu
não estou sentindo mais isso.
JÚLIO – Você tem certeza?
BRUNA – Tenho. O que eu mais quero é que a polícia
consiga encontrar o Samuel, o coloque na cadeia, e que comece a pagar pelo o
que fez com o meu filho.
JÚLIO – (segura na mão dela) Não se preocupa, que os
policiais irão fazer o trabalho deles. Eles conseguiram encontrá-lo e vão
colocá-lo detrás das grades. (Bruna dá um leve sorriso, Júlio solta da mão dela
e os dois começam a comer)
[CENA 03 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ DIA]
(Júlio chega em casa e encontra a filha sentada no sofá,
pensativa)
JÚLIO – Oi, filha. (caminha até ela, mas Lívia não o
percebe) Filha? Você está me ouvindo, filha? (tocando no ombro dela)
LÍVIA – Oi, pai. Não percebi o senhor aí!
JÚLIO – Cheguei, falei com você, mas parece que você
não estava na terra. (senta-se ao lado dela, Lívia se aproxima do pai, colocando
sua cabeça nas pernas dele) O que estava se passando nessa cabecinha?
LÍVIA – Eu estava pensando no Rodrigo. (esfrega a mão
na barriga) Ele queria tanto ser um bom pai, e no final das contas, não vai
poder ver o próprio filho nascer.
JÚLIO – (tenta reconfortá-la) E quem disse que não
vai? Esteja onde ele estiver, ele vai está acompanhando todos os passos dessa
criança sim. E estará orgulhoso, da mãe fantástica que você se tornará. (Lívia
sorrir)
LÍVIA – Obrigada, pai! Obrigada por não ter desistido
de mim.
JÚLIO – Eu jamais desistiria de você, filha. (os dois
ficam silêncio, Júlio começa a fazer carinhos na cabeça de Lívia)
Mais Tarde...
[CENA 04 – C. E. RICARDO ALVEZ/ SALA DOS PROFESSORES/
TARDE]
(Júlio está organizando sua aula, quando Roberto entra na
sala, ficando de frente a ele)
ROBERTO – Como estão as coisas? Com a Lívia, com a
Bruna...
JÚLIO – Elas estão bem, embora ainda sintam a perda
do garoto. Pior que não são as únicas.
ROBERTO – (senta-se) Pois é. Já que ao menos não
conseguimos evitar isso, poderíamos criar algum evento no colégio, uma palestra
não sei, alertando a comunidade, os pais e até os alunos sobre este assunto.
JÚLIO – Pode ser, parece ser uma boa ideia.
ROBERTO – Sei que isso talvez não vá mudar nada do
que aconteceu, mas podemos impedir que mais casos como o do Rodrigo aconteça.
JÚLIO – Sim. É bom alertamos um pouco a sociedade com
assuntos importante igual a este. Embora, algo desse tipo pareça ser incomum
ainda existir.
ROBERTO – Pior que existe. Então tá certo...
(levanta-se) ... então eu vou conversar com a diretora e sugerir a ideia para
ela. Seria bom que você depois fosse lá também, ajudar um pouco.
JÚLIO – Tá, passo lá depois.
ROBERTO – Beleza. Depois eu passo no seu apartamento.
JÚLIO – Ok. (Roberto sai da sala, Júlio continua
organizando sua aula)
[CENA 05 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ TARDE]
(Júlio chega em casa e encontra Lívia deitada no sofá, vendo
TV)
JÚLIO – (colocando sua mochila no sofá) Oi!
LÍVIA – Oi, pai.
JÚLIO – Tudo bem?
LÍVIA – Sim. Passei o dia vendo TV.
JÚLIO – Eu não pretendo apressar nem nada, mas passar
os dias em casa, deitada não fará bem pra você. Principalmente para a criança
também.
LÍVIA – Eu sei. (senta-se, Júlio se senta ao lado
dela) Por isso, que decidi voltar para o colégio semana que vem.
JÚLIO – Fico feliz, filha!
LÍVIA – E, queria conversar com o senhor um assunto.
JÚLIO – (preocupa-se) Que assunto?
LÍVIA – Eu não quero voltar para a casa da mamãe. Ela
me olha estranha, como se eu tivesse cometido algo bárbaro, algo ruim!
JÚLIO – Sua mãe só precisa de tempo. Ela logo irá
aceitar tudo que aconteceu e mudará de ideia.
LÍVIA – Eu não tenho tanta esperança assim. Mas, eu
queria vim morar com o senhor, se possível?!
JÚLIO – Claro que pode, filha! Sem problema algum.
(Lívia sorri, aliviada)
LÍVIA – Obrigada, pai. (o abraça) Obrigada por não me
deixar sozinho.
JÚLIO – De nada! (Júlio sorri com o abraço da filha,
mas em seguida lembra-se de Rodrigo e de como ele talvez precisou de alguém ao
seu lado)
[CENA 06 – LANCHONETE/ TARDE]
(Bruna sai da lanchonete com uma placa de vende-se nas mãos.
Observa alguns segundos a parte da frente, em seguida coloca a placa ao lado da
entrada. Volta a se afastar, observa a entrada mais um tempo, depois volta para
dentro)
[CENA 07 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ COZINHA/ TARDE]
(Roberto e Júlio estão na cozinha tomando café, Lívia estava
no quarto repousando)
ROBERTO – Então a Lívia vai morar aqui?
JÚLIO – Vai. Ela tá com vergonha de morar com a mãe,
e sinceramente, Vivian tem olhado estranho para a garota. Creio que ela não
ajudaria nada durante a gestação dela.
ROBERTO – Cara, você é demais! Tenho muito orgulho de
ser o seu amigo.
JÚLIO – Mas então... como foi a conversa com a
diretora?
ROBERTO – Bem, eu conversei com ela, sugeri a ideia
do evento, né. Ela achou interessante, ainda mais depois do que aconteceu com o
Rodrigo, que era aluno do colégio também. Então, ela disse que iria pensar.
JÚLIO – Pode deixar que amanhã irei conversar com
ela, e também irei sugerir esse evento.
ROBERTO – Beleza. Tava pensando que talvez a gente
deveria chamar o apoio de mais professores, o que acha?
JÚLIO – Pode ser. Posso conversar com alguns e ver o
que eles acham.
ROBERTO – Ótimo! (chega uma mensagem em seu celular)
Opa, tenho que ir agora. (toma seu café de uma vez)
JÚLIO – Ué, vai para onde?
ROBERTO – Tenho um encontro.
JÚLIO – (ri) Sério que você continua com isso?
ROBERTO – Sério! Além do mais, essa garota que eu
conheci no aplicativo, é muito gata! Depois mando o contato dela para você.
(levanta-se)
JÚLIO – Não, obrigado. Não tenho tanto tempo assim
para paqueras, como antigamente.
ROBERTO – Sei, pra mim tá parecendo mais que você
quer investir na sua “anja”. (Júlio sorri)
JÚLIO – É melhor você ir para o seu encontro!
ROBERTO – Para de perder tempo e vai logo atrás dela.
Vocês não acham que perderam tempo demais um longe do outro. (sai da cozinha,
Júlio fica na cozinha, pensativo, com um leve sorriso no rosto. Lá embaixo, enquanto
Rodrigo saia do apartamento, do outro lado da rua há uma mulher observando o
imóvel. Ao ver Roberto saindo, ela se esconde e observa, séria)
Anoitecendo...
JÚLIO NARRANDO:
Acho que Roberto tem razão. Fiquei tempo demais tentando
reencontrar minha “anja” e agora que ela voltou para minha vida, não posso
perder mais tempo longe dela. Sei que ela está passando por um momento difícil,
e preciso ficar ao lado dela. Eu também preciso ser feliz. Nada mais justo que
ser feliz ao lado dela.
É isso Júlio... chegou a hora de aproveitar essa segunda
chance que a vida te deu e ir atrás da mulher que você ama. De ir atrás de sua
“anja”...
[CENA 08 – LANCHONETE – CASA DE RODRIGO/ SALA – Q. DE
SAMUEL/ NOITE]
(Samuel aparece em frente da lanchonete e a encontra
fechada. Imaginando que Bruna não esteja, ele a abre com a sua cópia da chave.
Fecha a grade novamente, e vai para os fundos até sua casa. Entra na casa
calmamente, com receio de encontrar Bruna. Vendo que estava vazia, vai direto
para o seu quarto, chegando nele, começa a pegar algumas roupas do guarda
roupa)
[CENA 09 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ COZINHA/ NOITE]
(Lívia está jantando, quando Júlio entra na cozinha todo
arrumado e cheiroso)
LÍVIA – Ih, olha ele! Para onde o senhor vai assim
todo arrumado?
JÚLIO – Tá exagerado demais?
LÍVIA – Nada. O senhor tá lindo, pai.
JÚLIO – Eu vou até a casa da Bruna. Vou chamá-la para
sair.
LÍVIA – O senhor gosta dela, né?
JÚLIO – Gosto, filha. Espero não ter problema nenhum
com você?
LÍVIA – Não, imagina. Quero mais que o senhor seja
feliz. E eu também gosto da Bruna. Aproveita! (Júlio sorri)
JÚLIO – Então deseja-me sorte.
LÍVIA – Boa sorte, pai.
JÚLIO – Ah, e não se preocupa. Não voltarei tarde,
está bem.
LÍVIA – Não se preocupa comigo. Ficarei bem.
Aproveita sua noite com sua garota.
JÚLIO – (ri) Minha garota?!
LÍVIA – É, ué!
JÚLIO – Qualquer coisa me liga, está bem!
LÍVIA – Tá.
JÚLIO – E se eu não atender, liga para o Roberto.
LÍVIA – Tá, pai... tenho minha agenda de emergência,
não se preocupa.
JÚLIO – Boa noite, filha! (sai da cozinha feliz)
LÍVIA – Boa noite, pai. (Lívia volta a comer, sorri)
[CENA 10 – CASA DE RODRIGO/ SALA – Q. DE SAMUEL –
COZINHA/ NOITE]
(Bruna chega em casa, caminha até o sofá, senta-se. Fica
alguns segundos sentada de olhos fechados até ouvir alguns barulhos vindo do
quarto. Levanta preocupada, achando que seja ladrão. Em passos leves, ela se
aproxima até o corredor que vai para os quartos e os barulhos aumentam.
Assustada ela pega seu celular e digita uma mensagem para Júlio. Em seguida vai
até a cozinha e procura por algo que possa se defender. Pega uma frigideira e
calmamente vai até os quartos. Como a porta do quarto estava encostada, ela ver
pela brecha o possível ladrão. Ao ver que se tratava de Samuel, seu medo logo
dar lugar para uma raiva súbita. Ela volta para sala em passos leves, direto
para a cozinha e troca sua frigideira por uma faca. No meio do caminho da
cozinha para o quarto novamente, lágrimas começam a cair do rosto dela. Ela
abre a porta calmamente, e entra devagar. Samuel estava de costa para a
entrada, não a percebe. Bruna se aproxima cada vez mais, com os olhos cheios de
lágrimas e com uma expressão de ódio no rosto)
BRUNA – (bem próxima dele) Você vai pagar por ter
tirado meu filho de mim! (ao ouvir a voz dela, Samuel vira-se surpreso. Bruna
rapidamente envia a faca em sua barriga, sem dar chance dele se defender) Seu
monstro, você vai para o inferno agora. (começa a dar uma serie de facadas no
corpo de Samuel)
[CENA 11 – APARTAMENTO DE JÚLIO/ SALA/ NOITE]
(Lívia está vendo TV, quando alguém toca a campainha do
apartamento. Ela levanta-se, e imaginando que seja Roberto, já vai abrindo a
porta)
ROBERTO – (entrando) Boa noite, Lívia. Seu pai está?
LÍVIA – Não. Ele saiu para um encontro.
ROBERTO – Um encontro?! Olha só... deixa eu
adivinhar, com a Bruna?
LÍVIA – (fechando a porta, e voltando para o sofá)
Ela mesmo.
ROBERTO – Então o danado decidiu seguir os meus
conselhos, né. Bem, já que ele não está. Vou voltar então. Converso com ele
amanhã no colégio.
LÍVIA – Você não quer assistir esse filme comigo?
Muito ruim assistir filme sozinha.
ROBERTO – Pode ser. (caminha até o sofá, senta-se)
Não tenho nenhum plano para hoje a noite. Que filme é...
LÍVIA – É de suspense, com uma mistura de drama...
[CENA 12 – CASA DE
RODRIGO/ SALA – Q. DE SAMUEL/ NOITE]
(Júlio após ler a
mensagem que Bruna enviou, chega o mais rápido possível na casa dela. Ele abre
a porta, e encontra tudo em silêncio)
JÚLIO – (baixinho)
Bruna?! (caminha até a sala, e todo esse silêncio o preocupa) Bruna, você está
aí?! (vai até a cozinha, não a encontra, decide ir até os quartos, em passos
leves) Bruna! (ao chegar no primeiro quarto, ele encontra a porta aberta, se
encosta na parede, e tenta observar pelo canto se havia alguém. Ele ver Bruna
em pé, aliviado entra no quarto) Que bom que eu te achei... (fica surpreso ao
vê-la segurando uma faca ensanguentada e o corpo de Samuel no mesmo estado,
deitado no chão) O que você fez, Bruna?!
BRUNA – Eu o
matei!
Contínua
no Episódio Dez...
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