“Conto Especial de Natal”
“O Natal dos Gilbert”
Escrito por Eduardo Moretti
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17 de
Dezembro de 1978 – Montana, Estados Unidos
Fazia muito frio naquela época do ano em Montana. – A região era toda
cercada por florestas e montanhas, e em alguns dias perto do natal chegava até
a nevar. E como era bonito! Eu adorava ver a neve caindo através da janela, o
clima da magia do natal e por mim podia nevar o ano todo. Exceto pelo frio
rigoroso que nos fazia ficar a maior parte do tempo trancados dentro de casa
sem poder fazer nada. Não podíamos ir até o lago para dar um mergulho, nem
correr pela mata brincando de pique-esconde ou ir pescar peixes no riacho, ou
até mesmo sair sem rumo para cavalgar. – Isso! – exclamou Dothy em alto e bom
som ao se lembrar do presente de natal que ganharia do Papai Noel naquele ano:
Uma cela novinha para ela poder montar em Amuleto, seu cavalo branco como a neve.
- Dothy o adorava e dera esse nome para o cavalo quando ele ainda era apenas um
potrinho desajeitado, mas que mesmo assim a livrava de levar um coice de sua
mãe ciumenta quando Dothy se aproximou dele na maior inocência para lhe fazer
um carinho, e ela nem percebera que seria atacada, apenas sentiu o empurrão
dado pelo potrinho que a partir daquele momento ela cismou de querer o animal
para si e depois de muito insistir com o seu pai, ele lhe dera o cavalo de
presente e ela o chamou de Amuleto, alegando que ele salvara sua vida e que lhe
traria muita sorte. – Dothy sorriu feliz, já que finalmente teria uma cela só
para ela e não precisaria mais esperar pela cela de seu pai quando ele chegava
em casa e ela aproveitava para pegar a dele emprestada e saia sem rumo para dar
uma volta com Amuleto. – Além de Dorothy ou Dothy como era chamada
carinhosamente por todos que tinha nove anos de idade, os Oleson ainda tinha
mais dois filhos, Henry o mais novo com seis anos de idade que sonhava em ser
Cowboy, era marrento e vivia querendo ajudar o pai nas tarefas do Rancho e
ficava nervoso quando o pai lhe dizia não, já que nem tudo dava para uma garota
na sua idade ajudar. Já Elizabeth a primogênita de Charles e Karen, havia
completado treze anos no último verão, e era uma boa garota, responsável e
inteligente, levava os estudos muito a sério na única escola que ficava há
quilômetros dali no pequeno Vilarejo de Nova Esperança. E diferente de Dothy
que viva no mundo da lua e era mais sonhadora e determinada. Beth tinha os pés
no chão e era bem obstinada e sabia muito bem o que ela queria ser quando
crescesse... Média! Ou simplesmente Doutora, como seus pais diziam. – E foi
perdida em seus devaneios e sorrindo como uma boba com o seu olhar perdido
olhando a neve cair lá fora, que Dothy voltou à realidade depois de ter o ombro
cutucado pela mãe que se aproximara de mansinho e sorriu com ternura para a
filha.
- Sonhando acordada de novo,
Dothy? – perguntou enquanto fazia um carinho no rosto da filha que era ruiva e
tinha algumas sardas em seu rosto.
- Ou estava viajando no mundo da
lua, como sempre não é mesmo Dothy? – perguntou Beth sorrindo e entrando no
quarto com uma pilha de roupas recém recolhidas do varal.
- Nem uma coisa, nem outra. Eu
estava apenas pensando um pouco na vida... Em como eu amo o Natal e essa época
do ano. Tudo fica tão mais bonito e harmonioso, a senhora não acha mamãe?
- Claro com toda certeza minha
filha. Nós só não podemos esquecer o mais importante, que é o nascimento do
menino Jesus, e de ter sempre um bom coração e fazer o bem sem olhar a quem. E
eu me orgulho dos filhos que criei, porque todos os três são excelentes filhos.
– disse sorrindo satisfeita.
- Obrigada mãe. – disse Beth. – A
senhora e o papai são os melhores pais do mundo.
- Eu mal posso esperar para ganhar
o meu presente. O papai disse que se eu pedisse a cela para montar no amuleto e
me comportasse bem, o Papai Noel iria me dar cela com certeza. – disse
entusiasmada.
Karen olhou para a filha mais
velha com o semblante preocupado e ambas tentaram mudar de assunto.
- É mais ainda faltam alguns dias
pra o natal, Dothy. Não dá para diminuir o entusiasmo só um pouquinho? E depois
pode ser que o papai Noel não te traga a cela ainda esse ano. – tentou dizer
Beth escolhendo bem as palavras.
- E porque ele não traria Beth? Eu
me comportei bem esse ano, e estou pedindo a cela para ele tem pelo menos seis
meses já. Sem contar na cartinha que eu escrevi endereçada a ele no pólo norte,
que por falar nisso eu preciso ir até Nova Esperança entregar a carta para o
senhor Ross, o carteiro.
- Eu só quis dizer Dorothy que o
Papai Noel tem muito pedidos de milhares de crianças no mundo todo para atender
e que nem sempre ele consegue realizar o pedido de todos. Você se lembra a dois
anos que eu pedi aquele livro caro de literatura que me ajudaria nos estudos?
Então, ele não me trouxe naquele ano, mas se lembrou de mim e me deu no ano
passado.
- Mas pra mim ele não irá se
atrasar, eu tenho certeza de que o Papai Noel trará a minha cela ainda esse
ano. Eu estou louca para ter uma cela só minha e assim poder sair por ai cavalgando
no Amuleto a hora que eu quiser. – disse de olhos fechados como se já
imaginasse a cena.
- Dothy minha filha, porque você
não vai brinca lá fora um pouco, o seu irmão estava no celeiro cuidando da
palha, vê se ele não quer brincar com você um pouco querida. – sugeriu Karen
apreensiva.
- Eu não. O Henry não sabe
brincar, muito menos perder. Ele não aceita que eu seja melhor e mais
inteligente que ele em muitas coisas, depois fica reclamando feito um bebê
chorão. Eu vou é até a cidade levar a minha carta para o senhor Ross colocar
ainda hoje no correio. È o melhor que eu faço. Tchau mamãe, tchau Beth. Até a
volta.
- Tchau minha filha e que Deus a
abençoe e te proteja sempre. – disse sorrindo com carinho par a filha.
Dothy saiu cantarolando, enquanto
Beth olhando ela sair foi se aproximando da mãe devagar.
- A senhora não acha melhor contar
logo toda a verdade pra ela? Assim ela se acostuma logo com a idéia. A Dothy é
muito sonhadora e quanto mais o natal se aproxima, mais ela irá se decepcionar.
– disse Beth preocupada.
Dothy havia esquecido o seu chapéu
e ao voltar para apanhá-lo, ela ouviu toda conversa da mãe com a irmã. E não
demorou muito para que os seus olhos se enchessem de lágrimas e uma grande
tristeza abatesse o seu coração.
- Acha que eu não penso da mesma
forma que você, Beth? Mas como dizer para seus filhos tão pequenos ainda que
não haverá presentes e nem ceia de natal este ano? – se perguntou angustiada
enquanto colocava a mão em cima do peito. – Deus sabe que eu mal tenho conseguido
dormir direito a noite só de pensar na nossa situação. – disse se sentando na
cama.
- Esta tão ruim assim mamãe? –
perguntou Beth olhando para a mãe com ternura.
- Infelizmente sim Beth. Com a
última nevasca nós perdemos toda a colheita, e sem colheita não há alimentos
para se vender ou consumir, plantar então fica impossível. O seu pai estava tão
animado com a venda da colheita este ano que já estava praticamente toda
negociada. Ele investiu em produtos, sementes, maquinários e o pior de tudo são
os credores que não esperam. – disse entre meio a um soluço. – Eu não sei o que
nós vamos fazer... E ainda tem o senhor Oleson que não perdoa e nós precisamos
pagar o arrendamento do rancho. Eu nunca pensei que pudéssemos passar um natal
tão apertado como esse. Não por mim e nem pelo seu pai, afinal nós somos
adultos e enfrentamos qualquer coisa por nossos filhos, mas privar vocês de
ganhar seus presentes e de ter uma ceia de natal farta, isso é o que mais nos
dói e contraria.
- Eu sinto muito mamãe. Mas temos
que ter fé e confiar em Deus, tudo vai dar certo. Agora quanto aos presentes o
Henry e a Dothy terão que entender, assim como eu entendo. E se eu saísse
procurando faxinas para fazer na casa das madames no Vilarejo? – perguntou toda
sorridente. – Eu sei que elas não pagam muito, mas quem sabe pelo menos eu
poderia salvar a nossa ceia e talvez pagar o empório do mês.
- Eu fico feliz que queira ajudar
Beth, mas não sei se seria uma boa idéia e depois o seu pai pode não gostar. Hoje
mesmo ele disse que vai sair para a caça, eu estou rezando para que ele
encontre um peru, um coelho, enfim, alguma coisa para não passarmos em branco
com a ceia deste ano. O pobre do Henry não para de falar no peru e das
rabanadas todos os dias... Ele diz que o natal é o seu dia preferido do ano,
onde ele pode comer tudo que mais gosta e ganhar presentes. Acho até que ele
anda sonhando com tudo isso, pobrezinho. – disse começando a chorar.
- Não fica assim mamãe, vai dar
tudo certo. A senhora vai ver. – disse Beth consolando a mãe com um abraço.
*****
Lá fora o terreno era grande e
havia muito espaço para a crianças brincarem. O rancho era simples, mas muito
bem feito e cuidado, havia um pequeno estábulo para os três cavalos que os
Gilbert possuíam, havia também um cercado para galinhas, mas com a nevasca
algumas não resistiram e acabaram morrendo. E as duas que sobraram viraram dois
belos ensopados que rendeu aquela família quatro refeições. – Charles tinha
planos de fazer um galinheiro coberto, voltar a criar galinhas, porcos e uns
dois ou três bezerros, para assim terem ovos, leite e carne, além de também
poder vender uma parte dos ovos e do leite no Vilarejo, mas a situação estava
muito difícil sem plantação, sem dinheiro ou alimentos, e com a sua dívida cada
vez maior no empório da cidade. Ele chegava a ficar com vergonha da situação
humilhante que estava vivendo, mas se mantinha firme, forte e de cabeça
erguida, pois tinha uma linda e compressiva esposa que era sua melhor amiga, e
três filhos maravilhosos. Não fosse por eles, ele nem sabe o que já teria
feito. O que mais lhe doía o coração era pensar no natal que se aproximava e o
fato de não poder dar presente aos filhos ou uma bela e farta ceia. Além de
claro, a possibilidade de perder o arrendamento do rancho e ter que deixar o
primeiro lugar onde eles foram felizes e chamaram de lar, sem ter para onde ir.
– E foi terminando de arrumar uma trouxa com suas coisas e pendurando no lombo
de seu cavalo que ele viu Dothy sair correndo de casa e notou-a triste.
- Hei Dothy... Dothy minha filha,
venha cá um instante. – disse sério.
Dorothy relutou um pouco, mas
depois foi até o pai disfarçando e limpando suas lágrimas.
- O que houve minha querida? Por
acaso você andou chorando? – perguntou preocupado.
- Não é nada não, pai. É só um
cisco que caiu no meu olho, logo passa. – disse disfarçando. – O senhor já vai
sair para a caça?
- Vou sim minha filha e se Deus
quiser eu darei sorte e trarei uma boa caçada para o nosso natal. – disse
otimista.
- E ele quer pai, pode acreditar.
Eu vou rezar para Deus que abençoe o senhor e a sua caça. – falou sorrindo.
- Amém! Agora venha cá, da um
abraço no pai. Dentro de uns quatro ou cinco dias, eu estarei de volta.
Os dois se abraçaram bem forte e
se emocionaram. Cada qual com os seus motivos e razões, que só eles conheciam,
mas que Deus sabia de tudo. – Karen e Beth foram se aproximando devagar, cada
uma trazendo um saco com coisas para Charles levar á caçada, roupas, comida,
etc. E voltando de sua pescaria, Henry estava todo orgulhoso por ter pegado
três peixes grandes.
- Olha só como eu tenho a família
mais linda do mundo! Eu sou um homem muito abençoado. – disse Charles feliz.
- Nós também somos muito
abençoados por ter você como chefe dessa linda família meu amor. – disse Karen
emocionada ao abraçar o marido.
- Pai! Olha só quantos peixes eu
peguei? – disse Henry acelerando os passos e depois vindo correndo na direção
do pai com a mão erguida e sacudindo os peixes que estavam presos no anzol.
- Mas que bela pescaria filho,
vejo que você aprendeu como fisgar os peixes. – disse sorridente.
- Também com as suas dicas e as
iscas que me ensinou a fazer fica fácil. Eu aprendi com o melhor pescador do
mundo.
- Obrigado filho. Mas sem o seu
empenho e esforço, eu nada teria conseguido te ensinar. Lembre-se disso, a
prática, o esforço e a fé devem sempre andar juntos para conseguir tudo o que
sonhamos. Eu te ensinei, mas o mérito foi todo seu.
- E graças a sua pescaria nós
teremos peixe por pelo menos dois dias. – comentou Karen sorrindo para o filho
caçula.
- Bom eu preciso ir andando se
quiser começar a caça antes que anoiteça. – disse Charles colocando suas coisas
na carroça. – Vocês três se comportem e obedeçam a sua mãe. Eu amo vocês.
- Nós também te amamos papai. –
disse Dothy com lágrimas nos olhos.
Charles olhou com ternura para os
filhos e depois se aproximou de Karen dando um beijo no seu rosto com muito
carinho.
- Eu amo você, minha linda esposa.
- Eu também te amo, Charles.
- Eu volto na véspera do natal
trazendo uma boa caçada. Eu prometo. – depois olhou para os filhos e disse a
mulher baixinho: Vocês podem não ter o natal que sonharam, mas terão o melhor
natal que eu puder lhes dar, eu prometo. Enquanto eu for o chefe dessa família
e Deus me der forças e saúde, nada há de faltar em nossa mesa.
- Amém! Que assim seja meu querido
esposo. Lembre-se do que o reverendo Jacob disse na missa de domingo: “Toda família que permanecer unida e na fé
do nosso senhor Jesus Cristo, enfrentarão todas as dificuldades e as vencerão”.
Vai tranqüilo, eu cuido de tudo. E não se preocupe que tudo se arranja, o
importante é estarmos todos reunidos, no ano que vem eu tenho certeza de que a
colheita e o natal serão bem mais fartos. – disse sorrindo.
- Obrigado por tudo Karen, eu não
conseguiria sem você, meu amor.
- Deus é bom, Charles. – gritou
Karen com lágrimas nos olhos.
- O tempo todo. O tempo todo,
minha querida. – gritou de volta.
Charles seguiu viagem chorando
igual criança. Ela estava muito preocupado com a sua situação e com o natal. No
mínimo ele teria que dar um natal digno a família com uma bela ceia e uma mesa
farta, e disso ele não abria mão. Era uma questão de honra. – Karen e Henry
depois de verem Charles sumir no meio da estrada, resolveram entrar e começar a
limpar os peixes para temperá-los já para o almoço, enquanto Dothy e Beth
ficaram conversando do lado de fora.
- O que esta acontecendo Dothy que
você esta muda e pensativa desde que saiu de casa? Não é do seu temperamento
ficar muito calada.
- Não é nada Beth, me deixa. Eu só
estou pensando. E você esta atrapalhando a minha concentração.
- Tudo bem então, já não esta mais
aqui quem falou. – disse Beth seguindo caminho rumo ao vilarejo.
- Hei Beth, espera. Aonde você
vai? – perguntou curiosa.
- Até o Vilarejo, mas eu pensei
que estivesse te atrapalhando e que você não quisesse conversa.
- Me desculpa, é que eu estou um
pouco nervosa. Será que eu posso ir até o Vilarejo com você?
- Claro que pode. Vamos então que
nós temos que voltar antes do almoço.
- Me espera só um minuto que eu
vou pegar o Amuleto. – disse saindo correndo em direção ao celeiro.
- Mas pra que você quer levar o
Amuleto? Ele só vai nos atrasar ainda mais. Ai Dothy, eu já estou começando a
me arrepender por ter te convidado.
As duas caminharam caladas até
chegarem ao Vilarejo. Dothy não queria que a irmã soubesse aonde ela iria,
mesmo após Beth ter perguntado quando chegaram no local e Dothy apenas se
separou dela dizendo que seguiria por outro caminho que daria ao seu destino. –
Beth então também seguiu adiante e entrou no Empório local.
- Bom dia senhor Williams, como
vai o senhor? – perguntou toda simpática.
- Bom dia menina Beth. Eu vou bem
obrigado e a senhorita como esta? Em que posso ajudá-la?
- Bem obrigada.
- Eu gostaria de falar com a
senhora Williams, ela esta? Trata-se de um assunto muito importante.
- Ah sim, claro. Me acompanhe
menina, eu vou levá-la até ela.
- Obrigada.
Enquanto isso, Dothy tocava a
campainha do casarão do senhor Oleson, o homem mais rico de toda Montana e ela
estava visivelmente nervosa e cansada depois da luta que tivera com o seu
cavalo para amarrá-lo a árvore na frente do casarão. – Uma senhora já de meia
idade, séria e bem vestida foi quem atendeu a porta.
- Pois não mocinha? Em que posso
ajudá-la? – perguntou com um meio sorriso, forçando simpatia.
- É aqui que mora o senhor Oleson?
– perguntou curiosa olhando tudo dentro do casarão.
- É aqui sim. Mas creio que a
senhorita já sabia disso não é mesmo? Então vamos direto ao ponto, pois eu
tenho esse casarão todo para administrar. O que você deseja?
- É que tenho um assunto
particular para tratar com o senhor Oleson. Ele esta?
- Assunto particular? Sei...
Acontece que o senhor Oleson esta muito doente e repousando no momento, ele
dificilmente recebe visitas, e eu tenho comigo que ele jamais iria receber uma
criança, afinal ele detesta crianças.
- Eu não posso acreditar nisso
senhora, me desculpa. Jamais em toda minha vida eu conheci alguém que não
gostasse de crianças. E depois eu já sou uma mocinha, não sou mais criança.
Então logo o senhor Oleson irá gostar de mim, eu tenho certeza de que nos
daremos muito bem. – disse esperançosa e sorrindo.
- Esta bem, mocinha insistente. Eu
irei chamá-lo e ver se ele pode recebê-la. Espere aqui que eu já volto. – disse
a governanta.
Dothy ficou admirada olhando todo
o inteiro do casarão e ficou pasma com o tamanho da sala. – Com certeza a minha
casa toda caberia aqui dentro. – pensou ela surpresa. De repente o barulho de
passos da governanta e de um senhor tossindo muito ecoaram pelo casarão,
fazendo Dothy voltar a si.
- É essa a menina que quer falar
comigo? – perguntou a medindo de cima a baixo e sério.
- Sim, senhor Oleson.
Dothy também o olhou séria e
tentou disfarçar o seu espanto ao ver que o senhor estava em uma cadeira de
rodas.
- Muito prazer senhor Oleson, eu
sou Dorothy Gilbert. – disse sorrindo e estendendo a mão para ele, que se
recusou a cumprimentar a menina que recuou sem graça.
- Gilbert? Por acaso o seu pai é
Charles Gilbert?
- Sim senhor. É ele mesmo.
O velho Oleson a examinou por mais
alguns segundos querendo entender o que ela queria falar com ele e depois
disse:
- Bom eu sou todos ouvidos. E
tenho pressa. Não posso ficar perdendo o meu tempo, portanto se você puder
dizer logo o que a trouxe até aqui, eu ficaria muito satisfeito.
Dothy olhou para ele e depois para
a governanta e disse baixinho se aproximando do senhor Oleson:
- É um assunto particular. Será
que o senhor poderia me dar cinco minutos do seu tempo?
Depois de pensar um pouco, ele
respondeu:
- Tudo bem. Eu te dou dois minutos
e nem um segundo a mais mocinha. – disse e depois se virou para Ordália, sua governanta.
– Ordália, por favor, nos deixe a sós.
- Sim senhor Oleson. Se precisar é
só chamar. Com licença.
- O senhor tem uma linda casa,
senhor Oleson. – disse sem saber o que dizer.
- Obrigado. Mas eu gostaria que
você fosse direto ao ponto. O que a trouxe até aqui e o que tem de tão
importante para falar comigo?
- Bom se trata de um assunto muito
delicado que eu nem sei por onde começar.
- Pois trate de arranjar logo um
jeito de começar a falar porque o seu tempo esta acabando e eu não tenho tempo
a perder.
- Tudo bem. – disse cabisbaixa. –
É sobre o aluguel do seu rancho onde meu pai e a nossa família moramos. Eu sei
que ele esta atrasado em um mês e com a última nevasca meu pai perdeu toda a
plantação e ficou endividado. Ele é um homem muito honesto e trabalhador, mas
infelizmente esse mês, ele também não irá poder pagar o aluguel do rancho.
- Como é que é? Eu não posso
acreditar no que os meus ouvidos acabaram de ouvir! – disse exaltado. – Escute
aqui garotinha, o seu pai me garantiu que acertaria esse mês o aluguel atrasado
e mais o que vence daqui a três dias. E se ele não cumprir o prazo, vocês é que
terão três dias para deixar o meu rancho e para sempre, ouviu bem? Diga isso a
ele, já que o covarde não foi capaz nem de vir aqui me encarar, mandando a
própria filha como mensageira.
- Hei calma lá senhor Oleson. O
meu pai não é nenhum covarde, e depois ele nem desconfia que eu vim até aqui
falar com o senhor.
- Não me interessa. Você nem devia
ter vindo até aqui me aborrecer com esse tipo de assunto. Negócios eu só trato
com homens adultos e de palavra, o que pelo que eu vejo não é o caso do seu
pai.
- O meu pai é um homem digno,
trabalhador e honesto. Eu não admito que o senhor fale assim dele. Sabe onde
ele esta agora? No meio da floresta caçando para trazer alguma comida para casa
que salve o nosso natal, já que esse ano ele não tem como pagar o empório
também. Mas o senhor não se importa nem um pouco não é mesmo? É rico, terá uma
mesa farta no natal pra sua família, que pro senhor tanto faz.
O Senhor Olseon ficou pensativo
por um momento com as palavras de Dothy que acabaram ferindo o seu velho e
solitário coração.
- Escute aqui mocinha, tente
entender... Eu não posso permitir que o seu pai fique no rancho sem me pagar o
que deve, é meu direto. Afinal as terras são minhas ou não são? – disse mais
sereno.
- Eu entendo perfeitamente senhor
Oleson, mas eu não vim até aqui pedir para o senhor perdoar a dívida ou adiar o
pagamento, nada disso. Eu vim fazer negócios, propor uma troca justa para que
ninguém saia perdendo e a minha família, meu pai, minha mãe e os meus irmão que
eu tanto amo, continuem tendo um teto para morar. Se o senhor nos tirar de lá,
nós não teremos pra onde ir, e nós já recomeçamos e mudamos tantas vezes, que
já estamos cansados. E finalmente aqui nós sentimos que encontramos um lar de
verdade. Eu amo Montana e não gostaria de ter que partir mais uma vez... Mas
acho que o senhor não entende nada disso, nunca precisou de nada, nem passou
por tais dificuldades na vida, tem tudo o que precisa.
- Escute aqui menina, eu já me
aborreci muito com toda essa conversa. – disse visivelmente abalado. – Você
disse que tinha um negócio para me propor, diga logo que negócio é esse?
- O meu pai me deu um cavalo, ele
é um ótimo animal, forte, machador e muito bonito também. Ele se chama Amuleto
porque me trouxe muita sorte nessa vida, mas agora parece que ele não esta mais
me trazendo tanta sorte assim... Eu queria dar ele pro senhor, em troca desses
dois meses de arrendamento atrasados, é o tempo do meu pai se reerguer, a
nevasca passar e ele voltar a trabalhar na lavoura de novo. Ele disse que a
colheita esse ano promete, e eu de verdade rezo todos os dias para que ele
esteja certo, porque eu não agüentaria ver a tristeza nos olhos dele de novo
por não poder oferecer nada, nem mesmo o essencial a sua família. Por favor,
senhor Oleson, por mais que me doa por dentro me desfazer do Amuleto, eu
preciso que o senhor aceite a minha oferta, isso irá salvar a minha família de
um destino cruel e ainda incerto. – disse por fim com lágrimas nos olhos.
- Acho que a sua oferta é inviável
pra mim garota. Entenda... Mesmo que eu quisesse te ajudar e fazer esse negócio
com você, o seu cavalo não me serviria de nada. Eu mais de trinta cavalos na
minha fazenda, todos de raça Manga larga machador e puro sangue inglês, e esses
sim valem uma pequena fortuna, e depois como você mesma pode ver eu não posso
mais montar desde que fiquei preso a essa maldita cadeira de rodas. Eu sinto
muito, mas o dinheiro do arrendamento do rancho pra mim ainda tem mais
serventia. – disse por fim já comovido e com pesar.
- Eu entendo senhor Oleson. O
senhor ai apegado a bens materiais e a dinheiro, e eu querendo me desfazer do
meu pobre cavalo que um dia ainda recém nascido salvou a minha vida. Pro senhor
ele pode até não valer muita coisa, mas pra mim ele tem um valor inestimável e
sentimental. E mesmo que não haja dinheiro nenhum que pague isso no mundo, eu
estou disposta a me desfazer dele para ajudar minha família. Mas não tem
problema senhor Oleson, eu hei de encontrar alguém que queira comprar o Amuleto
e quem sabe assim eu consiga lhe pagar pelo menos o aluguel que esta atrasado.
Me desculpa ter tomado o seu tempo. Eu já vou indo... Boa tarde senhor Oleson.
E eu desejo ao senhor e a sua família que tenham um Feliz Natal. – disse saindo
cabisbaixa e triste.
- Garota espere... Não vá ainda.
Tudo bem, eu aceito fazer negócio com você. Eu fico com o seu cavalo e dou não
dois, mas três meses de aluguel do rancho em troca. Mas o seu pai terá que vir
até aqui assim que chegar para que possamos fechar o negócio formalmente,
combinado? E então o que me diz?
Dothy sorriu esperançosa e
chorando correu até o senhor Oleson e o abraçou bem forte.
- Eu digo que ele virá e acho tudo
muito justo, senhor Oleson. Muito obrigado mesmo de coração. Todo mundo diz que
o senhor não tem um coração, mas não é verdade, o senhor só tem vergonha de
mostrar que tem um. Mas eu lhe digo que não é fraqueza e não há problema nenhum
em demonstrar nossos sentimentos e afetos, principalmente no Natal, pois Deus
ajuda a todos as pessoas de bom coração. E fique sabendo que o senhor ganhou
uma amiga a partir de hoje e eu agradeceria muito se de vez em quando o senhor
permitisse que eu fosse visitar o Amuleto lá na sua fazenda.
- Eu acho justo e você tem a minha
permissão garotinha. – disse sorrindo. – Me diz uma coisa, qual é o seu nome?
- É Dothy. Quer dizer na verdade é
Dorothy, mas todos me chama de Dothy.
- Não poderia ser mais adequado.
Dorothy. Pequena e sonhadora, destemida e determinada como a da história.
- O senhor esta falando de O
Mágico de Oz? Acredita que eu nunca li essa história? Mas morro de curiosidade.
- Não seja por isso, tome. – disse
ele apanhando um livro perto dentro da escrivaninha do seu lado. – Era da minha
filha, mas ela o deixou aqui e nunca mais o levou. Agora ele é seu, pode ficar.
- Eu não acredito. Eu posso mesmo
ficar com ele, senhor Oleson? Muito obrigada. Agora eu já vou indo que esta
ficando tarde, mas eu volto qualquer dia desses. Tenha um bom dia e até mais.
Dothy saiu toda alegre e quando
chegou lá fora viu Amuleto e voltou a ficar triste já que agora, ele não seria
mais seu. Ela então deu um beijo em Amuleto ficando nas pontas dos pés e de
despediu dele com o coração partido, em seguida ela correu o mais rápido que
pode e sem olhar para trás. – E o senhor Oleson viu toda a cena de sua janela.
- Ordália, venha até aqui, por
favor.
- Sim senhor Oleson.
- Peça ao John que recolha o
cavalo que esta lá fora e o leve até o estábulo nos fundos.
- O senhor não prefere que ele o
leve até sua fazenda? Receio que o estábulo daqui esteja um pouco apertado com
os outros dois cavalos da charrete.
- Não será preciso levá-lo para
fazenda. Ele ficará aqui por poucos dias... Eu já tenho planos para ele. –
conclui sorrindo.
*****
Naquela tarde quando voltaram para
casa, Dothy e Beth carregavam um belo sorriso estampado no rosto e tinham a
sensação de dever cumprido por saber que estavam ajudando sua família, e logo
contaram as novidades para sua mãe que ficou um pouco apreensiva.
- Sinceramente eu não sei se apóio
ou condeno a atitude de vocês duas. Vejam bem, não me entendam mal, é claro que
eu estou feliz e orgulhosa de vocês, eu sei que quiseram ajudar, mas Beth você
ainda é muito nova para trabalhar, ainda mais assumindo a responsabilidade dos
afazeres domésticos de uma casa. Eu não sei se o seu pai aprovaria...
- Mas é só por algumas semanas
mamãe, até o término das férias escolares. Eu não estou fazendo nada mesmo,
assim eu ajudo você e o papai. E depois a senhora Mackenzie é muito boa e
justa, prometeu me pagar cinco dólares por dia, não é maravilhoso? – disse
entusiasmada. – E depois eu sei que me sairei muito bem, eu já sei cuidar muito
bem de uma casa, eu aprendi com a senhora lembra?
Karen sorriu satisfeita e sem
palavras se virou para Dothy que estava feliz, porém pensativa e com o olhar
distante.
- E você meu anjo... Como pode ser
capaz de negociar o seu cavalo que tanto ama para quitar uma dívida que é
nossa, minha e de seu pai? Olha só para você, esta tão triste, o Amuleto é a
sua vida... O seu pai não irá aprovar sua atitude. O senhor Oleson é um homem
muito difícil de lidar, o que ele deve estar pensando do seu pai agora? Que ele
não tem coragem nem de ir pessoalmente falar com ele?
- Não mamãe, eu expliquei tudo
direitinho para o senhor Oleson. Eu disse que o papai saiu para caçar por
alguns dias e que assim que ele retornasse iria falar com ele e confirmar que a
venda do cavalo é legítima. O senhor Oleson nos deu três meses de aluguel pelo
Amuleto. – disse tentando conter o choro. – Eu vou ver o que o Henry esta
fazendo. Com licença mamãe.
- Dothy espere... Ô meu Deus! Eu a
conheço e sei que ela esta sofrendo muito com tudo isso. O Charles nunca irá
aceitar isso, ele sabe o quanto o cavalo é importante para ela. Eu só não
entendo como ela ficou sabendo da difícil situação financeira da qual no
encontramos.
- Ela ouviu a nossa conversa de
hoje cedo, mamãe. Ela confessou tudo... Disse inclusive que não era mais um
bebê, que já sabia há muito tempo que Papai Noel não existe e que só gostava de
manter acesa a magia do Natal.
- Pobre Dothy...
*****
Os dias foram passando
lentamente... E cada membro da família Gilbert se mantinha firme em suas
tarefas e propósitos. – A matriarca Karen cuidava da casa com a ajuda das
filhas, além de dar continuidade as suas encomendas de costura e que de tanto
ela pedir Deus, ele a abençoou com mais e mais pedidos. Beth saia todos os dias
bem cedinho de casa com o sol ainda nascendo para trabalhar na casa da senhora
Mackenzie. A mulher estava cada vez mais satisfeita com os seus serviços e
dotes domésticos, que lhe prometera dar um peru e algumas guloseimas para a
ceia de Natal. Dothy ajudava sua mãe com as tarefas do lar, além de sair para
entregar suas encomendas e receber o dinheiro por cada uma delas. E Henry assim
como o pai era um bom caçador, ou melhor, dizendo, um pescador já que ele continuava
a pescar todas as tardes e nunca voltava para a casa sem trazer ao menos um
peixe que fosse.
*****
Nas florestas das redondezas, há
quilômetros dali, Charles também estava tendo sucesso em sua empreitada. Desde
que saira de casa há alguns dias, ele havia enfrentado frio, chuva, fome, mas o
pensamento na esposa e nos filhos o mantinha sempre firme, além de suas orações
e conversas com Deus. – Charles conseguira matar um viado, dois coelhos e ainda
ganhou duas galinhas limpas da última casa que o acolheram e onde ele se
abrigou para se esconder da última nevasca. Mas o que o deixou mais feliz mesmo
foi poder ter ajudado a família que o abrigou a fazer um conserto no telhado da
casa e mesmo sem querer receber o homem foi bastante generoso e insistiu tanto
que ele acabou aceitando o dinheiro e decidiu comprar presentes na volta para
casa para seus filhos. Ele então hoje voltou para casa todo cansado, porém
muito satisfeito e feliz. Agora sim, sua família teria o natal que merecia. –
pensou enquanto sorriu bobo.
*****
24 de Dezembro de 1978 – Véspera
de Natal
Charles chegou no rancho naquela
tarde faltando apenas algumas horas para a ceia de Natal. – Todos correram para
abraçá-lo e depois de matarem um pouco as saudades do pai, Karen pediu às
filhos que lhes esperassem dentro de casa que ela queria ter com o pai deles.
Karen contou ao esposo tudo o que havia acontecido nos últimos dias e Charles
não aprovou a atitude de Dothy ter ido falar com o senhor Oleson, mas disse que
iria relevar para não magoá-la e para não estragar o natal em família. – Mais
tarde depois de tomar um banho e relaxar, Charles foi até sua carroça e pegou o
dois sacos onde ele trouxera os presentes do filhos. A mesa da ceia estava
linda e farta. Karen havia preparado um peru assado com batatas que Mary havia
ganhado de sua patroa, mais arroz com lentilhas, rabanadas para alegria de
Henry, fora a sobremesa que encheu os olhos de todos, uma linda torta de maçã
com caramelo que era a especialidade da matriarca dos Gilbert.
- Parabéns Karen, a mesa está
linda! – exclamou Charles com orgulho.
- Obrigada querido. – disse
sorrindo satisfeito. – Tudo só foi possível graças à união dessa família. Cada
um aqui compreendeu a nossa situação difícil e colaborou para que essa ceia se
realizasse e fosse bastante farta e eu só tenho a agradecer a Deus por isso que
foi muito misericordioso e atendeu o meu pedido. – concluiu emocionada por fim.
- Deus é bom o tempo todo meu
amor, o tempo todo. E eu descobri que eu sou o homem mais afortunado de todo o
mundo por ter uma família como vocês. Bom eu gostaria agora antes de começarmos
a ceiar, de falar algumas coisas sobre os últimos dias... Primeiro eu queria
agradecer ao segundo homem da casa, que foi muito valente pescando os seus
peixes e trazendo para a nossa mesa todos o dias, alimentando suas irmãs e sua
mãe. O pai ficou muito orgulhoso de você Henry, mas eu quero que você me
prometa que de hoje em diante irá tirar um tempinho para se divertir e brincar
como qualquer criança normal da sua idade, e não querer me ajudar o tempo todo
e querer fazer coisas só de um homem adulto. Cada idade tem a sua beleza e
experiência e é preciso vivê-las, antes que elas acabem e nós venhamos a nos
arrepender no futuro. Combinado? Foi pensando nisso que eu tive o prazer de lhe
comprar esse presente. – disse Charles tirando um embrulho redondo de dentro do
saco e entregando para o filho que sorriu e impaciente tratou logo de abrir seu
presente.
Henry ficou muito feliz ao
desembrulhar o seu presente e ver que era uma bola de capotão. E não demorou
muito para que ele logo a saísse chutando pela casa.
- É incrível pai, obrigado.
- Henry cuidado com as vidraças. –
disse Karen rindo atoa.
- Bom continuando... Beth minha
filha, eu queria que você soubesse que eu fiquei muito orgulhoso com o seu
gesto de arrumar um trabalho para nos ajudar, por isso esse aqui é o seu
presente.
- Para mim papai? Obrigada. –
disse toda feliz. – Olha que lindo mamãe, é um vestido com mangas bufantes. Eu
sempre quis ter um! Muito obrigada papai. – disse enquanto o abraçava.
- De nada querida. E para minha
linda esposa... Outro lindo vestido. – disse a olhando com ternura.
- Oh Charles... Não precisava ter
se incomodando comigo querido. – disse abrindo o presente e um belo vestido
florido de mangas se revelou para a sua felicidade. – É muito lindo, Charles.
Obrigada querido. – disse dando-lhe um rápido beijo.
- E finalmente para você Dothy, eu
tenho dois presentes...
- Dois papai? – perguntou
surpresa.
- Sim dois... Aqui esta um vestido
igual o da sua irmã, mas com uma estampa diferente, eu quero as três mulheres
da minha vida estejam lindas na missa de domingo. Ainda bem que eu consegui um
trabalho de dois dias consertando o telhado de uma família abastada que me
ajudou lá para os lados de Forrest Groove e foram muito generosos com o
pagamento. Só assim eu pude comprar todos esses presentes e ainda por cima
acabou sobrando um dinheirinho no bolso, não é ótimo? – perguntou rindo
satisfeito.
- Obrigada papai, eu te amo. –
disse Dothy o abraçando emocionada.
- Por nada minha filha. Agora eu
tenho um assunto chato pra falar com você. É sobre a sua ida até a casa do
senhor Oleson para tentar negociar a nossa dívida com ele e ainda por cima
acabou vendendo o seu cavalo, o Amuleto que você tanto ama. Não era pra você
ter se sacrificado desse jeito minha querida, essa era minha obrigação como pai
e chefe dessa família.
- Eu sei que errei papai, me
desculpe. Mas eu só quis ajudar e no fim deu tudo certo, o senhor Oleson deu
três meses de aluguel do rancho em troca do Amuleto. – disse sem conter as
lágrimas.
- Mas isso não esta certo minha
filha, e amanhã mesmo eu irei desfazer esse negócio e prometo trazer o Amuleto
de volta pra casa.
- Não papai, por favor, eu te peço
que não faça isso. E quanto ao aluguel do rancho, como o senhor vai fazer?
- Eu falarei com o senhor Oleson e
lhe farei uma proposta de divisão de lucros da nossa próxima safra para ir
abatermos no aluguel, agora caso ele não aceite, eu sinto muito por todos...
Mas nós teremos que deixar o rancho e Montana para tentarmos a sorte em outro
lugar. – concluiu triste e com pesar. – E depois eu preciso fazer isso, porque
sem o Amuleto aqui do seu lado, esse outro presente aqui que eu comprei
especialmente para vocês dois não fará o menor sentido. – disse entregando o
saco para Dothy, já que o presente era maior. – Abre querida.
Dothy abriu o presente com receio
e quando viu do que se tratava não se conteve e começou a chorar copiosamente,
deixando todos apreensivos.
- O que foi minha filha? –
perguntou Karen preocupada.
- É a cela que eu tanto queria
para montar no Amuleto e sair cavalgando por ai, já que eu nunca tive uma e
precisava pegar a do papai emprestada.
- Mas agora você tem uma e ela é
toda sua filha.
- Mas eu não tenho mais o Amuleto.
Muito obrigado papai, mas pode ficar para o senhor ou até mesmo vender se
quiser. – disse indo para o quarto chorando.
- Dothy espere minha filha, eu já
disse que vou reaver o Amuleto amanhã... Filha, filha...
- Deixa-a Charles, ela precisa
ficar sozinha agora. Amanhã será outro dia e nós veremos o que fazer. Daqui a
pouco já é natal e nós nem começamos a ceiar ainda. Todos lavando as mãos agora
que eu já irei servir. – disse Karen começando a tirar o peru do forno. –
Naquele mesmo instante eles ouviram um barulho de charrete e foram olhar lá
fora.
- Ué, mas quem será uma hora
dessas?
- Só saindo para ver...
Todos então saíram apressados e
até mesmo Dothy saiu por último e de mansinho. – Uma mulher desceu da carruagem
e logo em seguida um capataz veio para trás montado em um cavalo.
- Boa noite senhor e senhora
Gilbert. Me desculpe atrapalhar a ceia de natal de vocês, mas é urgente e eu
precisava vir pessoalmente. O meu nome é Ordália, e eu sou a governanta do
senhor Oleson, ou pelo menos fui durante quase quarenta anos, já que ele nos
deixou no início dessa tarde.
- Oh meu Deus! Nós sentimos muito
senhora. – disse Karen.
- O senhor Oleson morreu? –
perguntou Dothy chegando correndo perto deles. – Mas por quê? Ele parecia tão
bem.
- Olá Dothy... O senhor Oleson já
estava muito doente e havia sido desenganado pelo médico meses atrás, ele só
estava esperando a morte, o que confesso foi um alívio para ele e para mim quando
ela o buscou hoje à tarde, devido a tamanhas dores e todo o sofrimento dele com
essa doença ingrata. Mas a minha missão aqui é outra, o senhor Oleson esteja
onde estiver eu só peço a Deus que ele descanse em paz. Ele gostou muito de
você Dothy, disse naquele dia que você era a neta que ele queria ter tido e
admirou muito sua postura, inteligência e esperteza. Além disso, ele viu também
o quanto o seu cavalo era importante para você, e por isso ele decidiu mantê-lo
no pequeno estábulo nos fundos da casa antes de mandá-lo para a fazenda, até
que ele pudesse lhe devolvê-lo depois que os papéis estivem prontos.
- Papéis? – perguntou Dothy sem
entender nada.
- Sim. Esses daqui que estão no
envelope e são para o senhor Gilbert. – disse entregando o envelope para
Charles que abriu na mesma hora e começou a ler o seu conteúdo.
- Essa é a escritura dessas terras
que de hoje em diante passam a ser de vocês, da família Gilbert. O senhor
Oleson iria lhe chamar para uma conversa, mas ele não teve tempo, mas deixou
tudo preparado com a escritura lavrada em cartório e assinada por ele, portanto
é tudo legal e seguro. Ele deixou essas terras para a sua família Dothy, de
hoje em diante vocês estão livres do arrendamento e podem fazer o que quiser
com essas terras. E tem mais... O senhor Oleson deixou também alguns animais
como galinhas, porcos, vacas, para vocês criarem aqui e transformar esse lugar,
no Rancho Gilbert, de onde vocês irão tirar todo o seu sustento. Os animais
serão trazidos amanhã. E por último ele lhe deixou essa carta Dothy e lhe
devolveu o Amuleto, pode trazer o cavalo senhor Kent... O Amuleto é seu
novamente Dothy.
- Eu não acredito! Muito obrigada
Ordália e senhor Oleson por tudo. – disse olhando para o céu feliz e
emocionada. – Acho que agora eu vou querer a minha cela de volta papai.
Todos começaram a rir, enquanto
Charles agradeciam Ordália, que foi convidada a participar da ceia junto com a
família.
Dothy estava muito feliz por ter
recuperado o seu cavalo, e perto dele ela começou a ler a carta do senhor
Oleson, em meio a risos e choros:
“Querida
Dothy,
É com imenso prazer e felicidade que eu lhe escrevo esta carta. E em
breves palavras quero lhe dizer que gostei muito de te conhecer por sua
inteligência, amor e bravura. Você é a filha ou a neta que eu sempre quis ter,
mas que ao invés de pensar nisso, eu preferi cultivar uma vida solitária, sem
família ou amigos, pensando cada vez mais em acumular riquezas quando na
verdade aprendi com você naquela tarde em que negociamos o seu cavalo, que a
verdadeira riqueza da vida não esta em posses ou bens materiais, mas sim na
família, no amor, no carinho e respeito que uns temos pelos outros e isso você
e sua família tem de sobra. São ricos de alma, de amor e de felicidade, que
mesmo em tempos ruins continuam unidos e se ajudando e isso é tudo o que uma
pessoa pode querer ter na vida: AMOR! O dinheiro nos ajuda sim, mas não compra
tais riquezas e muitas vezes nos levam até a ruína. E tudo isso eu vivi na pele
e da pior maneira possível, porém fico muito feliz de você ter me aberto os
olhos e ter me dado a oportunidade de fazer o bem enquanto ainda me resta um
pouco de tempo. Fique com o seu cavalo, ele é e sempre será seu. E seja muito
feliz ao lado de sua família, eles são o seu maior tesouro. E vocês terão muito
trabalho daqui pra frente com o rancho. Boa sorte.”
Com todo o meu carinho e admiração...
Do seu velho amigo, Senhor Oleson.
*****
FIM
Como pude me estabelecer com meu marido com a ajuda do Dr. Ajayi, o soletrador, tenho 47 anos e três filhos, uma manhã há cerca de 8 meses, meu marido acabou de acordar da cama e a próxima coisa que ele disse foi que deveríamos nos divorciar de que ele não está mais interessado em nosso casamento, essas palavras eu quase desmaiei, implorei com ele e perguntei o que estava errado, mas ele se recusou a dizer qualquer coisa, naquele mesmo mês ele saiu de casa e me deixou sozinha com as crianças e, para ser sincero, não foi fácil para mim, eu até disse à irmã para me ajudar a implorar que ele me perdoasse, se eu o errei sem saber e todos os pedidos caem em ouvidos surdos. Procurei por ajuda de plataformas diferentes, mas tudo falhou até ler um artigo sobre um homem espiritual, um lançador de feitiços chamado Dr. Ajayi, expliquei meu problema a ele e ele me disse para fornecer algumas informações que eu lhe dei, ele me disse que marido não está em seu estado de espírito certo, que ele está sendo manipulado por outra mulher, é por isso que ele está procurando o divórcio, mas ele me disse para não ficar preocupada com o fato de que em três dias todas as minhas preocupações terminarão e para minha maior surpresa depois o feitiço foi lançado pelo Grande Dr. Ajayi, meu marido ligou que ele estava voltando para casa e até me perguntou há quanto tempo ele está longe de casa, eu estou realmente feliz que meu casamento é salvo pelo grande lançador de feitiços chamado Dr. Ajayi, o divórcio nunca acontece, eu recebi uma promoção no local de trabalho, tudo na minha vida está se transformando em bom, e o grande lançador de feitiços, Dr. Ajayi, deve agradecer por tudo isso. Se você está tendo problemas conjugais, se está procurando o fruto do útero, se deseja recuperar seu ex-amante, se deseja números da sorte para loteria, se precisa de um feitiço de proteção, feitiço para riquezas, etc. Você é livre para entrar em contato com o Dr. Ajayi para qualquer tipo de trabalho de feitiço e sempre será grato por isso, porque todos os seus desejos do coração serão atendidos. Você pode entrar em contato com ele no e-mail: drajayi1990@gmail.com ou Whatsapp: +2347084887094.
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